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Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas 1 (código 343455) Curso: Mestrado

Professores: Gilberto Icle e Sulian Vieira


Período: intensivo
Aluno: Rodrigo Ribeiro Bittes
Matrícula: 21/0025212
Fichamento 6
LÍRIO, Vinícius. Rastros Metodológicos para Poéticas Híbridas: da Crítica Genética, entre
provocações (auto) etnográficas, à Cartografia. Revista Aspas. São Paulo, V.07, n.02, (pp. 156-67),
2017.

Em seu artigo sobre metodologias aplicadas ao estudo de processos criativos, Vinícios Lírio disserta
sobre diferentes metodologias, sejam elas: a crítica genética, e etnografia e a cartografia. É preciso
ressaltar que por vezes os conceitos das três metodologias são mesclados em uma mesma frase ou
parágrafo, o que entendo derivar da forma de trabalho do autor, mais do que de uma vontade dele de
classificar ou esmiuçar cada uma das perspectivas.

A primeira das metodologias que ele aborda é a Crítica Genética, que ele classifica enquanto uma
“etnografia de poéticas”. Nela, ressaltam-se os rastros, os vestígios deixados pelo processo de
criação, e que muito interessarão à pesquisa. Os rastros são:

“[M]emórias e registros de situações no processo de criação e na encenação em si”. Além


disso, “[é] importante ressaltar que [no processo de pesquisa do autor] esses rastros foram
recuperados por meio de diversos documentos de processo, pelas vozes dos sujeitos deste,
pelos meus registros em diários de bordo, ao longo do ano de observação direta do
movimento criativo e, ainda, a partir das minhas percepções acerca de situações
referenciadas nesse processo criativo e na encenação em si” (P. 159).

Portanto, os rastros são o material que fomenta a análise do autor. A partir deles é feita a teorização
sobre o processo de criação e de composição das obras estudadas.

“[A] trama reflexiva desdobrada desses rastros, depois de análise das descrições minuciosas
dos registros feitos por mim em diários, a partir das situações do processo, foram
sinalizados o que chamei de fenômenos da cena, para somente então implementar um
esforço de teorização e sistematização dos estudos num diálogo com teorias e reflexões
externas àquela poética” (P. 160).

Nesse contexto faz-se presente o diário de bordo enquanto ferramenta de trabalho. Citando Versiani,
o autor ressalta que esse método tem caráter etnográfico.

"[Podem] ser lidos como textos com valor de etnografia e vice-versa, havendo entre as duas
formas de escrita (auto e etno–grafias) aspectos intercambiáveis”APUD (Versiani, 2005,
p.69). Daí o seu caráter tão presente nas pesquisas com as poéticas híbridas com as quais
venho lidando.” (P. 160).

A partir desse ponto no texto, o autor parece mesclar conceitos que pertencem a diferentes
metodologias. Crítica genética, cartografia e etnografia são tratadas, ora separadamente, ora em
conjunto, o que pode provocar confusão na leitura. Adiante, o autor argumenta que a sua análise
filia-se também ao método cartográfico por seguir um percurso tateante, de caráter indefinido.

“Concentrei-me no fenômeno: em seus processos e procedimentos, no seu espaço-tempo e


em seus sujeitos agentes. De que forma aquele projeto cênico foi criado? De que maneira se
deram as conexões, os agenciamentos e as articulações entre os desejos dos criadores
envolvidos? As respostas estavam no ato criador.” e “Como uma imagem em metamorfose,
que ganhou seus traços móveis a partir de um olhar e de múltiplas vozes. Investi na
compreensão da tessitura que atravessou essa obra e o seu devir criativo” (P. 161).

Quanto aos princípios da crítica genética, o autor defende ser necessário um “mergulho nos
esboços” da criação, o que tem a ver com os rastros já mencionados anteriormente. Eles
representam a gênese do ato criativo, e funcionam como índices de um processo criativo.

“Nesse ponto, torna-se importante recuperar alguns princípios da Crítica Genética. Essa
abordagem dos processos de criação no campo das artes seria desenvolvida por uma
espécie de mergulho nos “esboços” – a gênese do ato criativo – para conhecer o
nascimento, os movimentos e as relações que a obra viria a estabelecer” (P. 162).

Em seguida, o autor especifica quais os recursos utiliza para a sua análise cartográfica. Creio faltar
um rigor na escrita da artigo porque no mesmo instante em que ele começa a listar as diferentes
ferramentas utilizadas na cartografia, ele conclui dizendo que tudo isso contribuiu para o
desenvolvimento de sua auto-etnografia. Compreendo o sentido de sua análise: a partir de um
percurso tateante e cartográfico, utilizando as ferramentas listadas abaixo, ele realizou um estudo
sobre a própria obra, daí o caráter auto-etnográfico. Mas repiso a falta de rigor em sua análise
porque as perspectivas metodológicas entre as duas são distintas, e ao longo do artigo fica difícil
compreender se ele se refere à etnografia enquanto metodologia ou enquanto um aspecto da análise
feita utilizando as metodologias da cartografia ou da crítica genética.

“Nesse sentido [o de utilizar a cartografia enquanto metodologia] retomo, nesses lugares, o


acesso a diários de bordo e a criação de novos destes, bem como outros tipos de registros
possíveis (audiovisual, rascunhos, desenhos, esquemas, relatos etc.), que seriam recursos
para o desenvolvimento de nossas (auto)etnografias” (p. 164)

Por fim, o autor conceitua de maneira sintética a autoetnografia. Na minha visão, no entanto,
permanece lacunar o entendimento de quais ferramentas ou qual a perspectiva autoetnográfica foi
utilizada em sua perspectiva. Ao final da leitura, a impressão que tenho é que o autor entende que a
sua pesquisa é necessariamente autoetnográfica pelo simples fato de que ele estuda obra de sua
própria autoria, sem se demorar nos princípios e na perspectiva própria dessa metodologia.

“Ainda nesse percurso, recorro à autoetnografia. Considerada parte da metodologia


etnográfica, sua abordagem, desde o princípio, fez-se oportuna pela “zona de fronteira”
(REED-DANAHAY, 1997), na qual se localizam os sujeitos dos processos abordados nesse
texto, isto é, entre o contexto deflagrador desse estudo (as disciplinas mediadas pelo autor),
o universo sociocultural estudado e, ainda, os processos criativos implicados em ambos os
casos. Esse lugar fronteiriço surge no próprio ato investigativo e à medida que o
pesquisador, ao investir no registro e na sistematização, realiza suas autonarrativas, analisa
e interpreta os fenômenos reconhecidos no universo em estudo” (p. 165).

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