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Em seu artigo sobre metodologias aplicadas ao estudo de processos criativos, Vinícios Lírio disserta
sobre diferentes metodologias, sejam elas: a crítica genética, e etnografia e a cartografia. É preciso
ressaltar que por vezes os conceitos das três metodologias são mesclados em uma mesma frase ou
parágrafo, o que entendo derivar da forma de trabalho do autor, mais do que de uma vontade dele de
classificar ou esmiuçar cada uma das perspectivas.
A primeira das metodologias que ele aborda é a Crítica Genética, que ele classifica enquanto uma
“etnografia de poéticas”. Nela, ressaltam-se os rastros, os vestígios deixados pelo processo de
criação, e que muito interessarão à pesquisa. Os rastros são:
Portanto, os rastros são o material que fomenta a análise do autor. A partir deles é feita a teorização
sobre o processo de criação e de composição das obras estudadas.
“[A] trama reflexiva desdobrada desses rastros, depois de análise das descrições minuciosas
dos registros feitos por mim em diários, a partir das situações do processo, foram
sinalizados o que chamei de fenômenos da cena, para somente então implementar um
esforço de teorização e sistematização dos estudos num diálogo com teorias e reflexões
externas àquela poética” (P. 160).
Nesse contexto faz-se presente o diário de bordo enquanto ferramenta de trabalho. Citando Versiani,
o autor ressalta que esse método tem caráter etnográfico.
"[Podem] ser lidos como textos com valor de etnografia e vice-versa, havendo entre as duas
formas de escrita (auto e etno–grafias) aspectos intercambiáveis”APUD (Versiani, 2005,
p.69). Daí o seu caráter tão presente nas pesquisas com as poéticas híbridas com as quais
venho lidando.” (P. 160).
A partir desse ponto no texto, o autor parece mesclar conceitos que pertencem a diferentes
metodologias. Crítica genética, cartografia e etnografia são tratadas, ora separadamente, ora em
conjunto, o que pode provocar confusão na leitura. Adiante, o autor argumenta que a sua análise
filia-se também ao método cartográfico por seguir um percurso tateante, de caráter indefinido.
Quanto aos princípios da crítica genética, o autor defende ser necessário um “mergulho nos
esboços” da criação, o que tem a ver com os rastros já mencionados anteriormente. Eles
representam a gênese do ato criativo, e funcionam como índices de um processo criativo.
“Nesse ponto, torna-se importante recuperar alguns princípios da Crítica Genética. Essa
abordagem dos processos de criação no campo das artes seria desenvolvida por uma
espécie de mergulho nos “esboços” – a gênese do ato criativo – para conhecer o
nascimento, os movimentos e as relações que a obra viria a estabelecer” (P. 162).
Em seguida, o autor especifica quais os recursos utiliza para a sua análise cartográfica. Creio faltar
um rigor na escrita da artigo porque no mesmo instante em que ele começa a listar as diferentes
ferramentas utilizadas na cartografia, ele conclui dizendo que tudo isso contribuiu para o
desenvolvimento de sua auto-etnografia. Compreendo o sentido de sua análise: a partir de um
percurso tateante e cartográfico, utilizando as ferramentas listadas abaixo, ele realizou um estudo
sobre a própria obra, daí o caráter auto-etnográfico. Mas repiso a falta de rigor em sua análise
porque as perspectivas metodológicas entre as duas são distintas, e ao longo do artigo fica difícil
compreender se ele se refere à etnografia enquanto metodologia ou enquanto um aspecto da análise
feita utilizando as metodologias da cartografia ou da crítica genética.
Por fim, o autor conceitua de maneira sintética a autoetnografia. Na minha visão, no entanto,
permanece lacunar o entendimento de quais ferramentas ou qual a perspectiva autoetnográfica foi
utilizada em sua perspectiva. Ao final da leitura, a impressão que tenho é que o autor entende que a
sua pesquisa é necessariamente autoetnográfica pelo simples fato de que ele estuda obra de sua
própria autoria, sem se demorar nos princípios e na perspectiva própria dessa metodologia.