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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Ciências Sociais (ICS)


Disciplina:
Docente:
Discente: Valesca Conceição da Paixão Soares

Questão 2

2) A pesquisa em ciências sociais, em especial, em antropologia também possui seus


próprios instrumentos de pesquisa. Com base nos textos de Florence Weber e de
Milton Guran, discorra sobre o caderno de campo e a fotografia enquanto
instrumentos de construção do conhecimento antropológico e o modo como eles
auxiliam nesse processo. Apresente os pontos de semelhança e diferença entre eles e
mostre algumas das dimensões analíticas que ajudam a trazer para a reflexão
sobre o “outro”.

[O caderno de campo enquanto instrumento de construção do conhecimento antropológico]


Apesar de todo o avanço técnico-científico observado nas últimas décadas, o
caderno de campo ainda é fundamental na atividade do antropólogo e da antropóloga. O
caderno de campo possibilita o registro dos acontecimentos diários da atividade de
pesquisa, a escrita de ideias a serem desenvolvidas nas etapas seguintes do trabalho de
pesquisa. Dos inúmeros acontecimentos vivenciados e experenciados ao longo de um
dia, o antropólogo seleciona aqueles considerados mais significativos para os seus
propósitos de investigação acadêmica e os registra no papel, fornecendo algum grau de
organização aos acontecimentos cotidianos.
Conforme Magnani (1997, p. 3, grifo no original), que se baseia nos conceitos de
experience-near e experience-distant de Geertz, a caderneta de campo situa-se na
intersecção entre a experiência próxima e a experiência distante ao “transcrever a
experiência da imersão, corresponde a uma primeira elaboração, ainda vernacular, a ser
retomada no momento da experience-distant.”.
Ainda de acordo com Magnani (1997), o uso do caderno de campo demonstraria
por parte do pesquisador a sua posição de abertura em relação ao outro e ao novo, de
quem está disposto a observar, a ouvir, a colher o que lhe é fornecido pelo meio e pelo
outro. É a postura de um aprendiz, de quem está aberto a aprender com o outro.
[A fotografia enquanto instrumento de construção do conhecimento antropológico]

[Pontos de semelhança entre o caderno de campo e a fotografia]

[Pontos de diferença entre o caderno de campo e a fotografia]

[Dimensões analíticas para a reflexão sobre o “outro” a partir do pensamento dos


autores]
Questão 4
4) Após debatermos ao longo do curso sobre questões relativas à prática de
pesquisa em Antropologia, nos voltamos, especificamente, para duas temáticas
presentes em muitas pesquisas atuais. A partir disso, responda:

a) Segundo Gama, a Autoetnografia pode ser compreendida como gênero de


escrita autobiográfica, como metodologia e, também, como proposta teórico
conceitual. Quais seriam as diferenças e semelhanças entre a abordagem
autoetnográfica e a autobiografia?

[Semelhanças entre a abordagem autoetnográfica e a autobiográfica]

A autoetnografia e a autobiografia são formas de valorização da narração


pessoal, da subjetividade, de pôr em evidência diferentes olhares sobre os fenômenos
sociais.
Ambas partem de um sujeito que narra a partir do seu ponto de vista, da sua
perspectiva, fatos e acontecimentos sobre ele mesmo e sua vida. O sujeito volta-se para
si, torna-se tema de si mesmo. O sujeito volta-se para a sua existência e sua vivência,
seus pensamentos, sentimentos, emoções, desejos e pulsões. É uma reflexão de si. É a
autoconsciência que se exterioriza a partir de um processo de autoanálise.
A presença de um sujeito corporificado no discurso e no texto, expresso na
superfície do texto pelas marcas de pessoalidade, tais como o uso de verbos na 1ª pessoa
do singular.
A não separação de caráter dualista: razão/emoção, dados/análise,
Tanto na autoetnografia como na autobiografia a discursividade é marcada pelo
engajamento do sujeito no seu relato, não há qualquer pretensão de neutralidade.
Além disso, em ambos os gêneros de texto, o sujeito em alguma medida expõe
suas vulnerabilidades.
Ambas compartilham características de um texto narrativo, com a organização
dos eventos dentro de uma ordem temporal, seja linear, seja não linear. O autor assume
simultaneamente o papel de narrador e personagem da história tecida.
Ambas permitem desenvolver olhares múltiplos sobre o mesmo tema,
enriquecendo o processo de construção do conhecimento. Como destaca Gama (2020, p.
206), a abordagem autoetnográfica é “capaz de divulgar conhecimentos mobilizando
emoções nas leitoras a fim de engajá-las de forma afetiva (ou mesmo afetada) no tema
abordado.”.
Ambas têm a memória como um aspecto a ser levado em consideração.

[Diferenças entre a abordagem autoetnográfica e autobiográfica]

A abordagem autobiográfica pode ser ficcional ou não ficcional. Ora a


autobiografia aproxima-se de um discurso de caráter historiográfico, de uma história da
própria vida do sujeito, ora aproxima-se de um discurso de caráter literário, de uma
narrativa que ficcionaliza a própria vida do sujeito. Já a abordagem autoetnográfica
tende a ser não ficcional.
b) No que se refere à etnografia digital, como as propostas apresentadas no texto
de Mônaco acrescentam novas problemáticas ao tema da etnografia e da ética em
pesquisa?

[Quais são as problemáticas propostas pela etnografia digital?]

[...] quem tem o direito de consentir ou recusar a participação na


pesquisa antropológica? E, ainda, a quem pertencem os espaços
digitais – aos criadores (sejam eles as empresas como o
Facebook ou os administradores de grupos e páginas) ou às
pessoas que vivenciam e constroem cotidianamente aqueles
espaços? (MÔNACO, 2020, p. 14).

A pesquisa antropológica em meio digital. A necessidade de o antropólogo ou a


antropóloga construir coletivamente o processo de pesquisa com os seus interlocutores.
A negociação torna-se um elemento fundamental na pesquisa etnográfica. A importância
de levar em consideração o discurso do outro.
A questão do consentimento na condução da pesquisa acadêmica. A aceitação ou
recusa dos interlocutores. De que forma obter o consentimento do outro em um
ambiente virtual? A busca pela privacidade no ambiente virtual. A busca pelo
anonimato.

[De que forma estas novas problemáticas impactam o campo da etnografia e da ética em
pesquisa?]
“[...] a forma como a presença da pesquisadora nesses espaços pode afetar e alterar os
próprios espaços, ou a percepção dos espaços por parte dos membros [...]” (MÔNACO,
2020, p. 17).

[...] é necessário levar a sério o direito dos grupos estudados de


se recusar a participar de uma pesquisa antropológica. Por isso,
pesquisas em ambientes digitais, em especial aqueles com
grande fluxo de pessoas, colocam importantes desafios sobre
ética e consentimento na pesquisa antropológica. (MÔNACO,
2020, p. 17-18).

Os meios virtuais possibilitam um alargamento no acesso às fontes e aos interlocutores.


O papel das redes sociais virtuais na construção identitária dos sujeitos.
A construção de comunidades virtuais, que se tornam espaços de acolhimento, de
compartilhamento de saberes e vivências, de circulação de afetos. Enquanto alguns
sujeitos querem visibilidade, outros querem anonimato.
As diferentes intencionalidades dadas as redes virtuais pelos sujeitos.

Referência

GAMA, Fabiene. A autoetnografia a como método criativo: experimentações com a


esclerose múltipla. Anuário Antropológico v. 45, n. 2, pp. 188-208, maio-agosto, 2020.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. O (velho e bom) caderno de campo. São Paulo,
Revista Sexta-feira n. 1, maio, 1997.
MÔNACO, Helena Motta. Quem cala consente? Ambientes digitais e suas
implicações para a pesquisa antropológica. Cadernos de Campo (São Paulo, online) |
vol. 29, n.2 | p.1-19 | USP 2020.

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