Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICA
CIÊNCIAS SOCIAIS – LICENCIATURA
DISCIPLINA: LABORATÓRIO DE ENSINO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

AMADEU MOREIRA FILHO


CÁSSIO LEVI MIRANDA DA SILVEIRA
ERIK MAYKE OLIVEIRA VIEIRA
JONNATAN VITOR DA CUNHA SILVA

1° AVALIAÇÃO; Estudo dirigido

MOSSÓRO/RN
2023
MATTOS, C. L. G. CASTRO, P. A. (Org.). Etnografia e educação: conceitos e usos. [online].
Campina Grande: EDUEPB, 2011. Autores. p. 17-49. Disponível
em: https://static.scielo.org/scielobooks/8fcfr/pdf/mattos-9788578791902.pdf.

1. As autoras fazem um resumo histórico da etnografia na Antropologia e suas implicações para


a educação. Descreva-o.

Inicia-se com a “descoberta”, pelos europeus, de outros povos, tendo, nas culturas,
diferenças se comparadas, entram no ponto do “descobrir o outro” trazer questionamentos,
sendo reconhecido pela ciência; para Gusmão (1997).

“[...] ao final do século XIX e no decorrer do século XX, caracterizam a Antropologia


como sendo uma Ciência na qual os pressupostos que a orientam indicam os caminhos de busca
para as respostas que se pretendem obter”. ( p. 27).

A partir daí, trazem o evolucionismo (início do século XIX) como primeira teoria, esta,
tendo aquele etnocentrismo, onde os europeus são o topo da pirâmide, e as outras culturas estão
abaixo, como se o olhar deles fosse único e mais importante que os outros.

Trazem a perspectiva do Boas (1943) rompendo com o evolucionismo;

“ Para este antropólogo, cada grupo possui uma história singular, dentro de
sua cultura e é preciso entendê-la como parte de um momento específico; a
história da humanidade pode ter seguido por diferentes caminhos, logo, o
pensamento evolucionista e etnocêntrico é desconsiderado. ” ( p. 27).

A pesquisa de campo passa a ter certa importância quando se queria conhecer o “outro”
e sua cultura e dão início ao funcionalismo de Malinowski;

“A Antropologia Social, emerge através do funcionalismo, representado na pessoa de


Malinowski considerado um dos pais da etnografia à medida que sistematiza os caminhos que
se deve percorrer para realizar, no campo, a própria pesquisa. ” ( p. 28)

Então partem da forma como Malinowski via a observação participante e passam para
Geertz (1978) explicitando que uma única visão, que tem alguma autoridade como ciência não
seria o bastante para explicar aquela cultura. Também sendo explicitada a forma dos pós-
modernos, passando a desconstruir a forma da relação pesquisador versus pesquisado, com
enfoque no lado soberano do primeiro.
Finalmente e não menos importante, citam a M. Mead e sua obra “Growing up in New
Guinea” (1931) que; “ [...] buscava entender de que forma valores, gestos, atitudes e crenças
eram inculcados nas crianças pelos adultos com o objetivo de formá-las para viver dentro da
sua sociedade” (p.29). Reforçando essa abordagem com a análise de Dauster (1997); “[...]
relevava as especificidades culturais travando um diálogo com a psicologia e a psicanálise tendo
em vista sustentar a existência de “personalidades culturais” no interior da escola” (p.29).

Além disso, trazem a relação educação/etnografia nas perspectivas de André (1997)


onde, segundo ele, a etnografia ganhou importância para a educação, além de Pierre Bourdieu
(2004) e sua noção de habitus;

“[...] tendo em vista o processor educativo que, por intermédio de sua teoria,
surge de forma dinâmica como inculcação de disposição durável, matriz de
percepções, juízos e ações que configuram uma razão pedagógica, ou seja, a
lógica e a estratégia que uma cultura desenvolve para transmitir seus valores”.
(p. 30)
Complementando com a relação de antropologia/educação para Novaes (1992) “ [...]
possuem uma relação desafiante que se articula pelos projetos singulares que apresentam. A
primeira, pelo ‘projeto antropológico do conhecimento das diferenças’ e a segunda, pelo
‘projeto educacional de intervenção na realidade’. ” (p.30).

Por último com Gusmão (1997) abordando essa relação antropologia/educação e como
elas se rejeitam/atraem;

“[...] parecem constituir um campo de confrontação no qual o


compartilhamento do saber atribui àquela a condição de ciência e a esta
a condição de pratica. Dentro desta divergência primordial, os
profissionais de ambos os lados se acusam e se defendem com base em
pré-noções, práticas reducionistas e muita falta de conhecimento. Se há
muitas coisas que nos separam – antropólogos e educadores –, há
muitas outras que nos unem. O que nos une é anterior ao que nos separa
e nele se inscreve o diálogo do passado, tanto quanto a possibilidade do
diálogo do futuro. ” (p.30-31).

Portanto se tem essa perspectiva em que a etnografia foi sendo modificada ao contexto
em que foi inserida, passando de uma forma mais etnocêntrica, evolucionista, funcionalista, e
começa a se ter esse debate pesquisador e pesquisado, talvez trazendo para educação, professor
e aluno, esse olhar do outro, entender a diferença de cada cultura, não, uma sendo melhor que
a outra, mas diferente, passando a se colocar, ou mesmo se retirar de certas regras, preconceitos,
o “certo”, e olhando realmente para o indivíduo, possibilitando uma educação mais crítica.
2. Quais implicações de trazer a etnografia para a área da educação.

De acordo com Novaes (1992) a Antropologia e a Educação têm entre si uma relação de
desafio, que se articulam pelos projetos singulares de cada um. A primeira por projetos
antropológicos de conhecimento de diferenças, e a segunda por projeto educacional de
intervenção da realidade.
Uma das implicações está na clareza do papel da teoria da pesquisa, pois as tensões
provocadas por isto causam descrédito a utilização do método indutivo de análise próprio da
etnografia dando pouca margem a comprovação de teorias já testadas e comprovadas.
Outra implicação está na maneira inadequada de pesquisadores na área da educação que
se apropria dos instrumentos de pesquisa etnográficos e da própria etnografia mudando seus
significados sem cuidar para isso não se torne um simulacro de uma abordagem técnica-
metodológica etnográfica.
Trazer a etnografia para a área da educação tem várias iniciativas positivas. A etnografia
é uma abordagem de pesquisa qualitativa que busca entender e descrever as culturas e
comportamentos sociais de grupos humanos específicos através da observação participante,
entrevistas e análise de documentos. Quando aplicada à área da educação, a etnografia pode
oferecer diversas contribuições. A etnografia permite ao pesquisador entender a educação
dentro do contexto cultural e social em que ocorre. Ela ajuda a evitar aproximações
universalistas, possibilitando a compreensão das práticas educacionais a partir da perspectiva
dos envolvidos.
"Fazer etnografia, portanto, é dar voz a uma minoria silenciosa; é caminhar em um
mundo desconhecido; é abrir caminhos passando das contingências para a autodeterminação,
para inclusão na escola, na vida social, no mundo da existência solidária e cidadã. Fazer
etnografia é um pouco de doação de ciência, de dedicação e de alegria, de vigor e de mania, de
estudo e de atenção. Fazer etnografia é perceber o mundo estando presente no mundo do outro,
que parece não existir mais." (p.45).
Segundo a autora a dois pontos que devemos tomar cuidado para não fazer uma
etnografia de baixa qualidade, pois estas vão influenciar diretamente no processo educativo.
1."A evidência maior está no processo de análise no qual não é declarada a forma como os
dados foram validados através de processos indutivos e de triangulação" [...] 2."Outra evidência
da banalização do uso de instrumentos etnográficos é a utilização de vídeo para evidenciar
hipóteses preconcebidas sobre as questões socioeducacionais relacionadas à realidade
socioeconômica das comunidades como fator interveniente no processo educacional". (p.43)
"informando que fazer etnografia implica em: 1) preocupar-se com uma análise holística ou
dialética da cultura: 2) introduzir os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica e
modificadora das estruturas sociais; 3) preocupar-se em revelar as relações e interações
significativas de modo a desenvolver a reflexividade sobre a ação de pesquisar, tanto pelo
pesquisador quanto pelo pesquisado."(p.49)
Com tudo a etnografia dentro da educação é de certa forma batalhar para abrir portas
para uma determinada minoria, é dar voz a essas pessoas que estão supostamente invisíveis ou
escondidas por algum motivo.

3. Quais são os princípios básicos da etnografia na Antropologia brasileira e por quê a mesma
não tem credibilidade considerada no campo da educação.

Segundo o texto os princípios da etnografia na antropologia brasileira são; a ênfase na


descrição detalhada e minuciosa das práticas e comportamentos observados em uma
determinada cultura; a busca pela compreensão dos significados e valores inerentes às práticas
culturais; a valorização da imersão no campo de pesquisa, permitindo ao pesquisador vivenciar
de forma direta e participativa a cultura em questão e a adoção de uma perspectiva relativa e
comparativa, evitando-se julgamentos de valor e promovendo o entendimento das práticas
culturais a partir de uma perspectiva interna.

No entanto, a etnografia ainda não é amplamente reconhecida e valorizada no campo da


educação no Brasil. Isso ocorre por alguns motivos, como: a predominância de uma visão
instrumental e pragmática da educação, que prioriza a aplicação de técnicas e modelos pré-
determinados; a resistência à valorização do conhecimento produzido a partir da experiência e
da participação dos sujeitos envolvidos no contexto educacional e a falta de formação adequada
dos profissionais da educação para o uso e compreensão da etnografia como uma ferramenta
válida de pesquisa e intervenção.

Dessa forma, a etnografia ainda tem pouca credibilidade no campo da educação, mas
sua relevância está na possibilidade de trazer uma perspectiva mais rica e contextualizada para
compreensão das práticas educativas e na promoção de uma educação mais reflexiva e crítica.

Você também pode gostar