Reflexões sobre o fazer científico na antropologia urbana
Acho que o fazer antropológico na cidade oferece neste momento – ao
menos para mim – uma série de lacunas quanto aos vários estágios da construção da pesquisa. Especialmente quanto ao trabalho de campo, acredito que as leituras clássicas do Malinowski e dos etnólogos clássicos não dão conta de subsidiar metodologicamente os estudos. Logo, como estabelecermos uma relação dialógica com o interlocutor? Como, estar em campo, observar a realidade, construir e/ou identificar os arranjos relacionais entre os sujeitos (grupos diferentes em contextos de relação em espaços específicos ou de sujeitos com o pesquisador)? Apreender o olhar do outro quanto ao sentido de sua prática social e também o olhar do outro sobre outros sujeitos ou um determinado lugar/coisa/objeto? Como interpretar tudo isso? Como vou saber se aquilo que apreendi é de fato a recorrência/padrão (Magnani)? Sendo que pode ser uma situação extraordinária, de passagem, ritual (Agier)?
Acho que a particularidade do fenômeno (proposta de entendimento da
antropologia) não deixa de estar situado num fenômeno macro (só não sei a medida desse macro: global, transancional/nacional etc.), mas que é de fundamental importância adensar a compreensão do fenômeno em suas particularidades para dar fundamentação sólida para uma inferência macro do mesmo. Ou seja, msm que haja variação de um mesmo fenômeno em diferentes lugares, com certeza deve haver algum elemento em comum nas manifestações desse fenômeno em vários contextos e lugares, e esse elemento em comum que será inferido no macro.
Agora quanto à questão do fazer antropológico fora da metrópole, é
importantíssimo pensarmos uma antropologia descentralizada. Será que a diferença de contexto, como no caso de Campo Grande, que não se apresenta como uma grande metrópole, mas que há uma diversidade sociocultural notável, em termos de fluxos migratórios, diferenças étnico- raciais, e que todos esses elementos aparecem em algum momentos nas dinâmicas sociais da cidade.