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UFRJ - Escola de Belas Artes

Juliana Pinho de Brito


Resenha: Texto - Guia da História da Arte, Giulio Carlo Argan

No texto retirado do livro "Guia da História da Arte" o autor, Giulio Carlo Argan, faz
um panorama sobre a História da Arte como ciência e sobre a Arte como objeto de estudo
científico. E em dezesseis pequenos tópicos aborda suas funções, objetivos e métodos,
justificando suas semelhanças, peculiaridades e concomitâncias quando conjugada com
outras ciências. O autor discorre sobre os métodos utilizados pelos especialistas de arte para
analizar uma obra, como funciona o raciocínio para se atribuir obras a seus períodos e
localizações históricas e suas ferramentas. Enquanto faz isso, ele cita diversos exemplos que
auxiliam na compreensão de seus pontos e que dão embasamento ao seu discurso ao citar
correntes importantes, grandes obras e mestres da arte. Também de forma muito didática,
Argan consegue traduzir algumas terminologias e dar definições à conceitos importantes para
os estudos teóricos da arte.
O autor julga o campo da arte como sendo vasto, muito amplo e difícil de delimitar.
Consedera diversas formas artísticas em diversas dimensões, procurando começar a
estabelecer o que pode vir a definir o que é e o que não é arte. Define "artes maiores" - onde
se valoriza o inventivo - e "artes menores" - onde se valoriza o executivo. A partir daí
estabelece que "o conceito de arte ... define um tipo de valor" e esse valor se dá na relação
entre a "forma" e a atribuição à representação da experiência do real. Sendo assim, o que faz
uma obra de arte ser uma obra de arte é "a consciência de que a julga como tal", e isso é
mutável de acordo com cada época e sua cultura e isso é o que o autor chama de juízo crítico.
Esse juízo crítico é questionado por ele em sua validade científica, uma vez que nele existe a
volatilidade da cultura e das formulações pessoais de quem julga a obra. Ou seja, esse
julgamento seria sempre incerto e refém de cada movimento artístico novo e seus defensores.
Argan diz que para a nossa cultura, "uma obra é vista como uma obra de arte quando [...]
contribuiu para a formação e desenvolvimento de uma cultura artística" e com essa afirmação
ele salienta a importancia da historicidade para o reconhecimento de uma obra de arte.
Argan fala de autenticidade e atribuição artística passando pelo o que define a
qualidade de uma obra e diz que o que define essa qualidade, é a confirmação de sua
autenticidade, esta dada pela contribuição para o avanço da história da arte de forma
processual, fluida e não mecânica. Esses processos, em cada artista, são carregados de falhas e
acertos, estão em constante mutação, são intensos e carregados de motivos. Esse fator
orgânico é o que vai garantir a autenticidade à obra uma vez que o falsário só é capaz de
reproduzir superficialidades de forma artificial. Os "maneirismos" do artista (processos
habituais de desenho, etc.) são os motivos mais imitados. Porém o autor cita que o
desenvolvimento do artista está justamente em sua constate mutação e diálogos com as
tradições e a história, levem esses diálogos ao reconhecimento ou às recusas de seus processos.

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Como um cientista, o artista trabalha no desenvolvimento de uma experiência. E o crítico
deverá estar sensível a esses processos para ser capaz de dar devida autenticidade a obra. A
garantia de qualidade uma obra é atribuída, assim, após uma leitura atenta de críticos com
olhares experientes, que os tornam capazes de sentir a obra de arte.
A atribuição por outro lado é um processo muito mais racional que se utiliza de
diversas ferramentas, tanto teóricas quanto técnicas e tecnológicas, na função de creditar
corretamente uma obra ao seu artista correspondente, sua data e a sua corrente estilística
específica, colocando a obra no âmbito cultural em que foi realizada. A partir disso o autor
fala da periodização das obras e como a isso se aplica o conceito de "escolas". O autor
discorre sobre os acertos e limitações do uso desse conceito e traz um argumento interessante
sobre como ele pouco se aplica a arte não-ocidental. Diz que cabe principalmente ao
historiador, se utilizar das ferramentas corretas e consultas a literatura pertinente para se
realizar esse trabalho de atribuição e periodização, mas entendemos que se trata de uma
junção de forças entre os conhecimentos de história da arte e o olhar perito de um crítico.
O autor fala sobre os setores que se ocupam da literatura sobre arte explicando a
importância dos documentos literários como fonte de pesquisa e estudo da arte. Dentre eles
estão: os historiadores, para quem a literatura é essencial e caracterizada como ferramenta
crucial em suas pesquisas e estudos, como mencionado à cima; autores interessados em
difundir técnicas e processos artísticos, veiculando normas e instruções; filósofos da arte; e por
fim, para críticos, trabalho sobre o qual o autor faz contraponto a todo o momento com o de
historiador da arte e assume que não há grandes distanciamentos entre seus respectivos
trabalhos, ao contrário, em diversos momentos o autor afirma que um diagnóstico depende
do outro. Eles sempre trabalharão em conjunto para obter uma análise completa de uma
obra.
Por último nomeia quatro métodos de análise e os explica de forma sucinta: método
formalista: que parte do princípio da pura-visualidade e se baseia no entendimento das
decisões conscientes do artista; método sociológico: que trata do estudo dos mecanismos de
encomenda, avaliação e remuneração para compreender sua gênese na realidade social,
entendendo a arte como usufruto do mercado; método iconológico: que procura
compreender impulsos inconscientes do artista e suas significancias simbológicas, e suas
mutações; método estruturalista: que se considera "o fator comum entre todas as
manifestações artísticas".

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