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Universidade de Brasília – Instituto de Artes

Departamento de Artes Cênicas


Professor: Pedro Dultra Benevides
Aluno: Rodrigo Ribeiro Bittes Matrícula: 15/0147181

TRABALHO 2 – ELEMENTOS DA ENCENAÇÃO – PEÇA: FÔLEGO

Fôlego é uma peça teatral do grupo brasiliense Teatro e Raia e direção de Rafael
Salmona. Representada nos dias 18 a 27 de março no trato Goldoni, em Brasília, a peça
reúne diversos textos literários, autorais, poesias, e canções que dialogam ou
tangenciam o tema morte.
Desde o início, a peça trabalha com a dualidade atores/personagens (há muita
metalinguagem ao longo do espetáculo), e o seu início se dá fora da sala do teatro, com
os atores interagindo com o público no estacionamento do teatro. Após a entrada do
público, a metalinguagem continua, já que por muito tempo o público é inserido no
espetáculo: há uma grande banheira no centro do cenário, cheia d’água. O público, ao
sentar-se (a plateia é distribuída em três setores, formando um palco de semi-arena),
recebe capas de chuva para vestir, porque há a real possibilidade de molhar-se em
determinadas cenas. Tudo isso faz com que o público desempenhe um papel mais ativo
na peça, já que a ele são atribuídas tarefas para a execução da obra.
Os demais elementos da encenação não são tão inovadores quanto a distribuição
do espaço ou a utilização de espaços não convencionais para a representação de parte da
obra cênica. A ficha técnica não traz especificações sobre o/a figurinista, portanto
presumo que tenha ficado a cargo do diretor Rafael Salmona. Os atores utilizam roupas
informais e que servem tanto para a execução de cenas em que representam personagens
diversos, quanto para os momentos em que eles interpretam a si mesmos. Veem-se,
portanto, calças jeans, tênis de corrida, bermudas, casacos de frio, sandálias havaianas,
etc. Em outros momentos, eles vestem roupas de banho, utensílios e acessórios de
escalada ou rapel, espaguete de natação, elementos outros que contrastam com aquele
vestuário casual apresentado inicialmente. De todo modo, o figurino, durante todo o
espetáculo, serve mais para acompanhar a linha narrativa dos textos que são
trabalhados. Não há um papel essencial do figurino, na estrutura da peça, além de o de
representar fisicamente determinados elementos das histórias narradas.
A cenografia me pareceu um pouco confusa. O palco continha uma grande
banheira, no centro, uma estrutura de madeira no chão, que a sustentava, e cinco
cadeiras ao redor dessa estrutura, aonde os atores se sentavam. Apesar de entender a
analogia entre o título da peça – Fôlego –, a figura da banheira (uma opção para o
suicídio, para o afogamento), e a relação com a morte, não houve uma utilização
orgânica do cenário. Ele parecia mais atrapalhar o trabalho dos atores do que ajudar. A
estrutura de madeira que sustentava a banheira e cobria parte do chão era velha e
quebrou ao longo da peça, quase machucando uma das atrizes. E mesmo as cenas que
utilizavam a banheira por muito tempo pareciam deslocadas; era como se os atores
“precisassem” utilizar a banheira, como que para justificar a presença desse elemento
cênico no meio do palco. Na maior parte do tempo, a estrutura do cenário teria sido
dispensável. Não há cenógrafo relacionado na ficha técnica.
Responsáveis pela Trilha Sonora estão relacionados Helder Mundim e Pedro
Mazzepas, dois dos atores que, munidos de voz e violão, cantavam diversas músicas ao
longo da peça. Não me recordo se houve algum outro trabalho de sonoplastia além
daquele executado ao vivo pelos atores. De maneira geral, as músicas traziam uma
sensação de relaxamento e aumentavam a conexão entre o elenco e o público; já que
muitos textos eram de difícil apreensão. Senti falta de uma maior relação entre o
repertório tocado e o tema central da peça.
A iluminação ficou por conta de João Gott, que trouxe um desenho de luz
condizente com o desenhado da peça. Não me recordo de momentos específicos em que
a luz tenha sido um diferencial no desenvolvimento do espetáculo, a não ser em uma
cena específica em que uma personagem falava a respeito da dificuldade de ser
paraplégica e o palco foi tomado uma luz verde, trazendo uma sensação de algo que
vegeta, que não se move, que está estático. Nos outros momentos, a luz foi utilizada de
maneira bastante tradicional: luz geral para momentos em que todos os atores estão no
palco; foco de luz quando há algum tipo de solilóquio ou monólogo.
De maneira geral a peça tenta inovar em diversos sentidos ao: atribuir um papel
ativo ao público como participante e co-criador da experiência artística; ao trabalhar a
metalinguagem do teatro; ao contrastar os elementos diversos do figurino; etc. Falta,
porém, uma maior conexão entre esses diferentes elementos dentro da narrativa da peça.

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