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Historiografia Contemporânea (AD1)

Aluno: Jorge Eduardo de Castro Alves


Matrícula: 19216090118
Curso: Licenciatura em História
Polo: Duque de Caxias

FICHAMENTO

REFERÊNCIA: BRANDI, Felipe. “História Intelectual, Historiografia e Teoria da


História. Quando o fazer e o pensar a história se encontram”. In: IEGELSKI, Francine;
SCHITTINO, Renata (org.). Teoria da História hoje: historiografia e sentido histórico.
São Paulo: Usina Editorial, 2023.

1) Tema – o artigo trata do lugar do campo da teoria da história no contexto mais


geral da disciplina, no Brasil, com destaque para seus entrelaçamentos com as
pesquisas em história intelectual e história da historiografia.

2) Tese central – O centro da argumentação do autor está na constatação de que a


teoria da história sofre certa marginalização entre os historiadores, malgrado o
relativo êxito do campo no Brasil – relativamente ao panorama internacional da
disciplina. Frente a essa caracterização, sustentada por uma visão geral das
últimas décadas de debate, Brandi aponta perigos e oportunidades para o
desenvolvimento futuro do campo.

3) Lógica interna – O artigo parte de analisar certas tensões entre os historiadores


da teoria da história e a maioria de seus pares, ocupados nos demais campos. O
autor considera que há uma verdadeira cisão entre os profissionais da disciplina,
dividindo-os entre historiadores ˜teóricos” e “práticos” – o que considera ser
danoso ao conjunto.
A relutância perante a pesquisa teórica, sustenta o artigo, é ainda maior no
estrangeiro e corresponde a certa postura defensiva e conservadora da maioria dos
historiadores precisamente com o fato do campo da teoria da história os tomar, de
alguma forma, como objeto, lançando questionamentos epistemológicos e
apontando os limites de suas elaborações.
O autor, então, busca analisar brevemente as origens da produção em teoria
da história, que julga difícil identificar e datar com nitidez. Considera as
elaborações de vários autores, sobretudo alemães, na segunda metade do século
XIX e nas primeiras décadas do século XX como o primeiro florescer do campo,
a partir de reflexões de cunho mais filosófico sobre a pesquisa histórica. Após a II
Guerra Mundial, no entanto, identifica um refluxo no dinamismo da teoria da
história e seu impacto, ainda que não deixasse de apresentar traços de vitalidade,
consolidando o lugar periférico em que se encontra.
Brandi argumenta que, frente a esse quadro, a história intelectual e a
história da historiografia oferecem as melhores pontes possíveis entre a teoria da
história e os chamados historiadores “práticos”. Apresenta, nesse sentido, o
esforço empreendido em sua própria pesquisa sobre a obra do medievalista
Georges Duby, a título de exemplo de dita articulação.
Em seguida, o autor busca compreender o lugar da teoria da história, hoje.
Entende que a relativa profusão do campo, no Brasil, advém de debates
introduzidos entre os anos 1970 e 1980, em que se questionava o caráter científico
da disciplina. No que define como um momento introspectivo da História, a
emergência de correntes que definiam sua escrita como narrativa, mais afeita às
artes e à literatura que às ciências, exigiu que os historiadores “práticos” se
dedicassem, em resposta, a um maior esforço em pensar sobre sua atividade.
Finalmente, Brandi caracteriza que essa vaga de maior reflexividade está
a retroceder, sobretudo nos EUA e Europa. Considera que, no Brasil, ainda que o
campo tenha prosperado relativamente, está ameaçado de também refluir – dadas
as próprias contradições do universo acadêmico local e a influência das tendências
estrangeiras. Brandi se posiciona quanto a atitude que, ao seu ver, deve ser adotada
pelos profissionais do campo no sentido de seu desenvolvimento. Essa passaria
por evitar o segregar em um espírito hermético e sectário, buscando
conscientemente o aproximar das preocupações dos historiadores ˜práticos˜.
4) Interlocução – Brandi incorpora o questionamento de Henri-Irénée Marrou
acerca da cisão apontada entre os historiadores práticos e teóricos, a qual ambos
de situam criticamente. Posiciona Louis Althusser entre os refratários à reflexão
teórica sobre a História, ao passo que infere simpatia em Pierre Nora e Georges
Duby.
Droysen, Dithey, Windelband, Meyer, Rickert e Croce são citados como
pioneiros do campo, introduzindo a crítica ao positivismo e o pensamento sobre a
particularidade do conhecimento histórico. Por sua vez, Koselleck é apontado pelo
autor como figura de destaque, responsável por manter certa vitalidade do campo,
em um momento em que este refluía, durante o século XX.
Com o propósito de ilustrar a hostilidade que argumenta existir em direção
à teoria da história, o autor mobiliza, ainda, definição de Louis Halphen, segundo
a qual o benefício do campo à disciplina seria bastante questionável, dada sua
natureza, a seu ver, abstrata e desconectada da prática profissional.

5) Trechos em destaque

“(...) precisamos nos curvar ante a evidência: este sucesso do campo da teoria entre
nós é também excepcional. Queremos dizer com isso: circunscrito, inhabitual, num
contraste flagrante com as orientações que, no plano internacional, parecem hoje
prevalecer entre as grandes tradições historiográficas” (p. 166).

“Eis o conteúdo inegavelmente polêmico e desestabilizador das pesquisas de teoria e


de historiografia. Tanto a atração que elas exercem entre muitos de nossos estudantes,
quanto as objeções e o repúdio que elas suscitam entre os historiadores que se
autoproclamam “empíricos” têm a sua origem precisamente no fato de levantarem este
tipo de interrogação de natureza epistemológica” (p. 170).

“Esta divergência na forma mesma de pensar a natureza do conhecimento produzido


pela história é a razão para permanência, ainda em nossos dias, da antiga partição, à qual
já fizemos alusão acima, separando o historiador “teórico” e o historiador tout court – o
historiador empírico, o “artesão”, deliberadamente distanciado da reflexão crítica sobre o
papel social da história e a natureza do conhecimento que ele acredita produzir” (p.172).

“(...) os historiadores passam a fazer a história dos historiadores e se tornam, segundo


os próprios princípios que professam, eles mesmos objeto histórico para os historiadores
de amanhã. É esta circularidade, esta reflexividade vertiginosa que reveste as pesquisas
de historiografia e de teoria de um conteúdo polêmico aos olhos dos historiadores
empíricos, como se essas pesquisas comportassem o risco de um relativismo radical,
ameaçando conduzir as conquistas empíricas e os avanços concretos da ciência histórica
na direção da infinita disputa das interpretações” (p.182).

“O criticismo próprio ao campo da teoria e que lhe é vital só pode existir se


acompanhado de autocriticismo. Teóricos da história e historiadores da historiografia, não
devemos jamais perder de vista que a história empírica e a pesquisa teórica estão, uma e
outra, uma como a outra, movidas por um mesmo impulso (...)” (p. 188).

“Teóricos da história e historiadores da historiografia, é hora de estabelecermos


passarelas com os historiadores empíricos, com os especialistas de outros setores da
disciplina, e não de erguermos muralhas à nossa volta, produzindo discursos herméticos,
recheados de jargão desnecessário, sob pretexto de tecnicidade” (p.190).

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