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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO)

Centro de Ciências Humanas e Sociais


Escola de História
Curso de História
Disciplina: História da América II

Professor: Vanderlei Vazelesk Ribeiro


Estudante: Thaianne de Souza Santos/20192530057

Segunda Avaliação Escrita

Perguntas escolhidas: 1 e 2.

1 – Analise o Populismo como um processo de “Democratização Fundamental” no


continente, levando em conta a industrialização, a legislação trabalhista, a expansão
educacional e as questões agrárias.

Carlos Villas, em sua obra La Democratización Fundamental ó el Populismo


em América Latina (1995), apresenta o populismo como uma estratégia fundamental
para o desenvolvimento das potências do capitalismo na América Latina, para
muitos autores ele é considerado como uma estratégia de acumulação que se
baseia na distribuição de benefícios para amplas camadas da população, como
trabalhadores urbanos e rurais, a fim de conquistar seu apoio à gestão. O populismo
e a necessidade da industrialização culminaram no fortalecimento do estado
enquanto facilitador do desenvolvimento industrial e mediador nas relações entre
diversas classes sociais e grupos de interesse.
Não é possível dizer que o populismo se desenvolveu exatamente por igual
em toda América Latina, entretanto, as peculiaridades do populismo no território
aparecem estreitamente relacionadas à maneira como o capitalismo se integrou nas
sociedades locais e reorganizou todo o modelo de produção. O que está sendo dito
é que à medida que o capitalismo industrial na América Latina foi se expandindo,
promoveu a destruição da pequena propriedade rural pré-capitalista e o
desenvolvimento da pequena propriedade industrial urbana. O resultado foi uma
combinação de concentrações fabris de capital e força de trabalho.
No entanto, é impossível não evidenciar que o populismo foi a estratégia que
garantiu desenvolvimento para a américa latina e direitos para os trabalhadores
urbanos e rurais. O peronismo, que é visto como um exemplo de governo populista
da Argentina, foi um período importante na conquista de direitos trabalhistas, como
férias e representação da classe trabalhadora no governo (RIBEIRO, Vanderlei
Vazelesk, 2019). A estrutura de exportação ainda favorecia as oligarquias, mas com
alguns obstáculos, que, mesmo assim, não tencionaram tanto, a princípio, a relação
com o Estado, então foi possível implementar direitos para os trabalhadores do
campo. Não há aqui uma defesa do peronismo como instrumento da classe
trabalhadora, mas há o reconhecimento histórico que depois do golpe que depôs
Péron, houve a retração dos direitos conquistados pelos trabalhadores rurais e
urbanos.
Cárdenas ao governar o México (1936 a 1940) promoveu reforma agrária,
ampliação das terras comunitárias (RIBEIRO, Vanderlei Vazelesk, 2019), e
nacionalização das estradas de ferro. Em 1938 o petróleo foi nacionalizado. Em
relação à educação, o governo buscava incentivar a participação dos trabalhadores
urbanos e do campo. Buscava-se uma educação laica e a formação de uma
consciência da população que proporcionasse o desenvolvimento de uma nova
nação. Repetindo o caso Argentino, com o fim do governo Cárdenas, houve a
desaceleração das mudanças. Os movimentos agrários estavam retraídos, com
exceções de algumas explosões ocupacionais de terras nos fins dos anos 50. Na
Bolívia, Estenssoro não foi exatamente populista, mas a revolução de 1952 foi
importante para a democratização do país: houve reforma agrária, um forte
movimento sindical e a conquista de voto indígena (RIBEIRO, Vanderlei Vazelesk,
2019).
A era Vargas é ainda hoje, o grande marco do populismo brasileiro. A
primeira legislação trabalhista foi criada em 1934, no governo de Getúlio Vargas,
garantindo aos trabalhadores direitos básicos, como salário mínimo, jornada de
trabalho como conhecemos hoje, de 8 horas diárias, férias e liberdade sindical. O
Brasil avançou no processo de industrialização e investiu no fortalecimento do
mercado inteiro. Lembrando que os oligarcas nem sempre aceitavam de bom grado
as medidas a favor do trabalhador, principalmente rural.
No campo da educação, a primeira atitude do governo Vargas assim que
assumiu a presidência em 1930, foi criar o Ministério da Educação e Saúde Pública,
cargo ocupado por Francisco Campos que realizou a reforma educacional que
recebeu seu nome. Essa reforma teve um importante papel na organização nacional
do ensino, estruturação das Universidades e criação do Conselho Nacional de
Educação.
Respeitando as particularidades é possível entender que o populismo, ao
mesclar suas características progressistas e ao mesmo tempo conservadoras, foi
essencial para o desenvolvimento e industrialização da América Latina. O auge do
populismo foi na fase do capitalismo nacional, caracterizada por uma distribuição
nominal de renda. No entanto, à medida que o capitalismo passa para um estágio
transnacional, o populismo perde sua base econômica. A produção passa a se
concentrar em bens intermediários e de capital, em detrimento dos bens de
consumo pessoal. Sendo assim, o setor burguês do populismo sofre
transformações, incluindo a redução de seu contingente e uma maior integração
com o capital transnacional. Alguns segmentos da burguesia industrial, movimento
sindical e organizações políticas tentam reavivar a estratégia populista, mas
enfrentam desafios devido à fragilidade de sua integração na estrutura existente, ao
crescente nível de autonomia das massas populares e às mudanças nas dinâmicas
econômicas.

2 – Reflita acerca da perspectiva historiográfica, que nega o conceito de Populismo.

Jorge Ferreira, em sua obra O Populismo e sua História: Debate e Crítica


(2001), coloca uma breve perspectiva historiográfica sobre o conceito. O termo
“populismo” tem passado por um crescente questionamento sobre sua validade
como fenômeno histórico e/ou categoria analítica. Dos significados pejorativos que
adquiriu, como o uso para estigmatizar oponentes políticos, o termo “populismo” tem
sido repensado, justamente por se apresentar como muito genérico.Assim, verifica-
se, em razão do seu caráter genérico e, portanto, vago para abarcar diferentes
fenômenos de realidades históricas distintas (classes, partidos e regimes políticos,
organização e mobilização de “massa”, ideologias e discursos), talvez esta única
categoria não dê conta de explicar o que foi o peronismo e a Era Vargas, por
exemplo.
Maria, Mackinnon e Mario Petrone, apontam que há autores que rejeitam
radicalmente o emprego do conceito, negando-lhe estatuto científico por considerá-
lo inadequado para explicar determinadas realidades, já que as reduz a categorias
reificadas, tais como incorporação e manipulação de massa. Essa visão também
retira das massas, os trabalhadores, a capacidade de atuar enquanto protagonistas
desse processo.
Além da perspectiva historiográfica que nega veemente o uso do conceito,
existe a tocada por autores que entendem que populismo “é um fenômeno histórico
singular que se manifestou
em um tempo e espaço determinado, que representa uma etapa particular de uma
sociedade”. O uso do conceito de forma ampla e indiscriminada, faz com que não
seja possível considerar as diferenças entre realidades que à primeira vista
parecem bem parecidas. A ênfase é colocada nos aspectos singulares de cada
fenômeno histórico por meio de investigações empíricas, espacial e
cronologicamente delimitadas, a partir de múltiplas variáveis.
Por último, vale ressaltar a perspectiva que visa substituir os conceitos de
populismo por estatismo e estadania. Nessa perspectiva, as análises feitas até
então estariam erradas, por não colocar no centro as premissas do individualismo
como valor presente na cultura política da democracia liberal anglo-saxônia. Nessa
visão, a cultura ibérica estaria marcada pelos valores de integração orgânica dos
governados aos governantes, tutela e familismo, predominando o todo sobre o
indivíduo. Essa abordagem, que certamente não é nova, foi criticada como idealista
e etnocêntrica.
O debate sobre os usos do conceito de populismo no Brasil e na América
Latina ainda é muito relevante. O conceito é amplamente usado na academia e
também no senso comum. No entanto, é necessário deixar para trás as análises
simplesmente totalizantes e analisar se de fato o populismo é abrangente como se
tem mostrado, ou se essa imagem foi o que se cristalizou nas ciências humanas no
Brasil. Dessa maneira, coloca Jorge Ferreira, tal imagem “foi apropriada pela teoria,
e esta, por sua vez, reforçou a própria imagem, sedimentando, na dimensão
imaginária de gerações de alunos de cursos de níveis médio e superior na área de
ciências humanas, a idéia de que teria existido um populismo na política brasileira”
(FERREIRA, 2001, p. 10).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ferreira, Jorge – O Populismo e sua História: Debate e Crítica. Rio de Janeiro,
Record, 2001, 59-125.
Ribeiro, Vanderlei Vazelesk – Ribeiro, Vanderlei Vazelesk – La Democratización
Fundamental em el Campo: Populsimo y Cuestion Agraria em América Latina. In:
Carreras, Ximena Mateo, Graciela – Entre Viejos y Nuevos Populismos. Buenos
Aires, Sicus, 2019, 47-71.
Villas, Carlos – La Democratización Fundamental ó el Populismo em América
Latina. México, Siglo XXI, 1995,119-150.

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