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ISBN 9788553605767

Leite, Carlos Henrique Bezerra


Curso de direito do trabalho / Carlos Henrique Bezerra Leite. – 11. ed. – São
Paulo : Saraiva Educação, 2019.
1. Direito do trabalho 2. Direito do trabalho - Brasil I. Título.
18-1058
CDU-349.2(81)

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Direito do trabalho 349.2(81)

Diretoria executiva Flávia Alves Bravin

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Gerência editorial Roberto Navarro

Consultoria acadêmica Murilo Angeli Dias dos Santos

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Produção editorial Ana Cristina Garcia (coord.) | Carolina Massanhi | Luciana


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Guilherme H. M. Salvador | Tiago Dela Rosa | Verônica Pivisan Reis

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Fermino | Kelli Priscila Pinto | Marília Cordeiro | Fernando Penteado | Mônica
Gonçalves Dias | Tatiana dos Santos Romão

Novos projetos Fernando Alves

Diagramação (Livro Físico) Microart Design Editorial

Revisão Microart Design Editorial

Capa Casa de Ideias / Daniel Rampazzo

Livro digital (E-pub)

2
CAPÍTULO XIV
Extinção do Contrato de Trabalho

1. NOÇÕES PRELIMINARES
O art. 7º, I, da CF consagra o direito fundamental social dos
trabalhadores à proteção da relação de emprego contra a dispensa arbitrária
ou sem justa causa e, paralelamente, estabelece uma indenização
compensatória, dentre outros direitos, nos termos de lei complementar.
Enquanto não editada a precitada lei complementar, o art. 10 do ADCT
elevou o valor da indenização em caso de dispensa sem justa causa – que
anteriormente era de 10% – para 40% do total dos depósitos realizados na
conta vinculada do FGTS do empregado.
Tirantes as discussões acaloradas sobre a proteção contra a dispensa
arbitrária ou sem justa causa (vide Capítulo XV), o certo é que,
lamentavelmente, tem prevalecido o entendimento segundo o qual, o
empregado não tem direito à garantia no emprego ou à reintegração, e sim,
à indenização prevista no art. 10, I, do ADCT.
Para se saber quais os créditos do empregado derivantes da extinção do
contrato de emprego, é preciso analisar, primeiramente, a espécie de
contrato: se por prazo determinado ou indeterminado.
Depois, aprecia-se o aspecto alusivo à iniciativa e à causa da extinção:
se do empregado, do empregador ou de ambos, ou, ainda, ato ou fato de
terceiro ou motivo de força maior; se por justa causa ou sem justa causa;
por acordo etc.

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É de se destacar, de pronto, que, de acordo com o § 2º do art. 477 da
CLT, o

instrumento de rescisão ou recibo de quitação, qualquer que seja a causa


ou forma de dissolução do contrato, deve ter especificada a natureza de
cada parcela paga ao empregado e discriminado o seu valor, sendo
válida a quitação, apenas, relativamente às mesmas parcelas.

Interpretando o preceptivo em causa, o TST editou a Súmula 330, in


verbis:
Quitação. Validade. A quitação passada pelo empregado, com
assistência de entidade sindical de sua categoria, ao empregador, com
observância dos requisitos exigidos nos parágrafos do art. 477 da CLT,
tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente
consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada
ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas. I – A quitação não
abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e,
consequentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas
constem desse recibo. II – Quanto a direitos que deveriam ter sido
satisfeitos durante a vigência do contrato de trabalho, a quitação é
válida em relação ao período expressamente consignado no recibo de
quitação.

Ocorre que sobreveio a Lei 13.467/2017, que alterou o art. 477 da CLT,
provocando profundas mudanças a respeito dos direitos dos trabalhadores
na extinção do contrato de trabalho, in verbis:

Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá


proceder à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social,
comunicar a dispensa aos órgãos competentes e realizar o pagamento

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das verbas rescisórias no prazo e na forma estabelecidos neste artigo.
§ 1º (Revogado).
[...]
§ 3º (Revogado).
§ 4º O pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado:
I – em dinheiro, depósito bancário ou cheque visado, conforme acordem
as partes; ou
II – em dinheiro ou depósito bancário quando o empregado for
analfabeto.
[...]
§ 6º A entrega ao empregado de documentos que comprovem a
comunicação da extinção contratual aos órgãos competentes bem como
o pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou
recibo de quitação deverão ser efetuados até dez dias contados a partir
do término do contrato.
a) (revogada);
b) (revogada).
§ 7º (Revogado).
[...]
§ 10. A anotação da extinção do contrato na Carteira de Trabalho e
Previdência Social é documento hábil para requerer o benefício do
seguro-desemprego e a movimentação da conta vinculada no Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, nas hipóteses legais, desde que a
comunicação prevista no caput deste artigo tenha sido realizada.

2. CONTRATO POR TEMPO INDETERMINADO


Como os demais contratos em geral, o contrato de trabalho pode ser

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extinto de diversos modos. Analisaremos nesta epígrafe, as principais
formas de extinção do contrato de emprego.
Se o obreiro tivesse mais de um ano de serviço prestado ao mesmo
empregador, o pedido de demissão ou o termo de rescisão contratual
somente seria válido se contasse com a assistência do sindicato da sua
correspondente categoria profissional sindical ou perante autoridade do
Ministério do Trabalho e Emprego. Era o que dispunha o § 1º do art. 477
da CLT, revogado expressamente pela Lei 13.467/2017.
Entretanto, o caput do art. 477 da CLT foi alterado pela mesma lei, e
passou a dispor que, independentemente da modalidade de duração do
contrato de trabalho, na “extinção do contrato de trabalho, o empregador
deverá proceder à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social,
comunicar a dispensa aos órgãos competentes e realizar o pagamento das
verbas rescisórias no prazo e na forma estabelecidos neste artigo”. Vale
dizer, não há mais necessidade de assistência sindical ou homologação da
rescisão como condição de validade do ato de dispensa ou do pedido de
demissão do empregado com mais de um ano de serviço, mas, tão
somente, simples comunicação da dispensa pelo empregador “aos órgãos
competentes”.

2.1. Iniciativa do empregador sem justa causa


a) Empregado Optante pelo FGTS
O empregador que resilir o contrato de trabalho deverá conceder o aviso
prévio ou indenizar o valor correspondente (ao aviso).
Pagará saldo de salários (se existente), 13º proporcional (Lei 4.090/62)
e férias vencidas ou proporcionais (CLT, arts. 146 e 147), além dos valores
relativos aos depósitos do FGTS do mês da rescisão e o do mês
imediatamente anterior (caso este ainda não tenha sido recolhido ao banco

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depositário).
Também deverá indenizar o empregado com o equivalente a 40% do
total dos depósitos do FGTS501 realizado durante a vigência do contrato
(sem descontos dos saques efetuados no período), nos termos do art. 18 da
Lei 8.036/90, e art. 10, I, do ADCT.
Caso a dispensa seja realizada no período de 30 dias, que antecede à
data do reajuste salarial do empregado (data-base), este terá direito, ainda,
a uma indenização adicional, no valor de um salário mensal (reajustado),
com reflexos nas parcelas resilitórias, nos termos da Súmula 314 do TST:

Indenização adicional. Verbas rescisórias. Salário corrigido. Se


ocorrer a rescisão contratual no período de 30 (trinta) dias que antecede
à data-base, observado a Súmula 182 do TST, o pagamento das verbas
rescisórias com o salário já corrigido não afasta o direito à indenização
adicional prevista nas Leis 6.708, de 30.10.1979, e 7.238, de
28.10.1984.

b) Empregado Não Optante


Como é sabido, a partir da Constituição de 1988, o FGTS passou a ser o
regime único de todos os trabalhadores (art. 7º, III), ressalvando-se apenas
aqueles que já haviam adquirido o direito à estabilidade (CLT, art. 492) ou
à indenização de antiguidade na data da promulgação da Constituição,
desde que não fossem optantes (Lei 8.036/90, art. 14).
Não sendo o empregado estável, o empregador poderá dispensá-lo sem
justa causa, pagando-lhe, além do aviso prévio, férias e gratificação
natalina proporcionais.
O empregado terá direito, ainda, a uma indenização de antiguidade
(CLT, arts. 477 e 478) referente ao período anterior a 05.10.88. Quanto ao
período posterior à Constituição de 1988, o empregado terá direito ao

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FGTS acrescido de 40% (Lei 8.036/90, art. 18, § 1º).
c) Empregado Estável
Se o empregado for detentor do direito à estabilidade no emprego502, a
extinção do contrato de emprego, por iniciativa do empregador, só pode
ser efetivada através de inquérito judicial para a apuração de falta grave
(CLT, art. 494).
No caso de extinção da empresa ou fechamento do estabelecimento,
sem a ocorrência de motivo de força maior, ao empregado estável é
assegurada uma indenização correspondente a uma remuneração mensal
por ano de serviço prestado, a ser paga em dobro, nos termos dos arts. 497
e 498 c/c o 478, todos da CLT.

2.2. Iniciativa do empregador com justa causa


Dá-se a justa causa quando o empregado pratica qualquer das faltas
previstas no art. 482 da CLT, in verbis:

Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho


pelo empregador:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do
empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a
qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não
tenha havido suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;

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h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra
qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em
caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas
contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
Parágrafo único. Constitui igualmente justa causa para dispensa de
empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito
administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional. (Incluído pelo
Dec.-lei 3, de 27.01.1966)

A Lei 13.467/2017 acrescentou a alínea “m” ao artigo 482 da CLT,


criando nova modalidade de justa causa autorizadora da resolução do
contrato de trabalho por iniciativa do empregador, a saber: “perda da
habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício da
profissão, em decorrência de conduta dolosa do empregado”.

2.2.1. A justa causa


A estrutura da justa causa, salienta Amauri Mascaro Nascimento,

importa na presença de alguns elementos que a corporificam e que são


subjetivos e objetivos. O elemento subjetivo é a culpa do empregado
entendida no sentido amplo, já que não será admissível responsabilizá-
lo com os ônus que suporta se não agiu com imprevisão ou dolo. Os
requisitos objetivos são: a gravidade do comportamento do empregado,
porque não há justa causa se a ação ou omissão não representem nada; o

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imediatismo da rescisão, sem o que pode desaparecer a justa causa com-
prometida pelo perdão tácito com a falta de atualidade da dispensa em
relação ao conhecimento do fato pelo empregador; a causalidade que é
o nexo de causa e efeito entre a justa causa e a dispensa, observada com
maior rigor nos sistemas jurídicos em que o empregador é obrigado a
fornecer por escrito ao empregado o motivo da dispensa sem
possibilidade de alegar outro em juízo; e a singularidade, para significar
que é vedada a dupla punição pela mesma justa causa non bis in idem
devendo a justa causa funcionar como ato motivador de uma
penalidade, a advertência, ou a suspensão ou a dispensa. Não se
confunde este último aspecto com outro. Há justa causa decorrente de
ato instantâneo e de ato habitual. Exemplo deste último é a embriaguez
habitual. Exemplo daquele é o ato de insubordinação. Havendo uma
conduta habitual e se o empregado sofreu suspensão numa das etapas
do seu iter, nada impede que na reiteração do comportamento venha a
ser despedido sem que se comprometa a justa causa pela dupla
punição503.

A justa causa é altamente prejudicial ao empregado, não só no aspecto


moral mas, sobretudo, no aspecto patrimonial. Uma vez caracterizada a
justa causa, o empregado terá direito apenas a saldo de salários e férias
vencidas. Quanto às férias proporcionais, sustentamos que o empregado,
ainda que tenha sido dispensado por justa causa, fará jus às férias
proporcionais, pois a Convenção 132 da OIT, in casu, por conter norma
mais favorável à pessoa humana, prevalece sobre o parágrafo único do art.
146 da CLT (vide Título II, Capítulo XII, item 5.1).
O empregado dispensado por justa causa não tem direito à indenização
(se estável), aviso prévio e 13º salário.
Além disso, o empregado não poderá levantar imediatamente o Fundo

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de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS (se optante)504.
Teceremos rápidas palavras sobre as situações que configuram a justa
causa praticada pelo empregado:

2.2.1.1. Improbidade
Para os fins da relação empregatícia, improbidade é o ato desonesto
praticado pelo empregado contra o patrimônio do empregador, ou de
terceiro, relacionado com o trabalho. Ex.: furto, roubo, extorsão,
apropriação indébita etc.
Para a sua caracterização, a Justiça do Trabalho exige prova cabal,
irrefutável, na medida em que implica comprometimento da honra e boa
fama do empregado e, até mesmo, de sua família.

2.2.1.2. Incontinência de conduta


A incontinência de conduta diz respeito ao comportamento irregular do
empregado, incompatível com a moral sexual. Ex.: manter o empregado
relações sexuais com amante dentro do ambiente de trabalho, onde
trabalha também a sua esposa.

2.2.1.3. Mau procedimento


Há ligeira diferença entre incontinência de conduta e mau
procedimento. A primeira, guarda pertinência com a moral sexual. A
segunda, diz respeito a qualquer ato que fira a ética, no sentido lato do
termo. Seria, então, mau procedimento o tráfico de drogas levado a cabo
por empregados dentro da empresa e no horário de trabalho.

2.2.1.4. Negociação habitual


A negociação habitual caracteriza-se pela prática reiterada de atos de
comércio praticados pelo empregado em concorrência com a atividade

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econômica desenvolvida pelo empregador, salvo se houver autorização
deste. Ex.: o empregado vendedor que efetua venda de produtos de outra
empresa concorrente a clientes de seu empregador.

2.2.1.5. Condenação criminal sem sursis


O cumprimento de sentença criminal condenatória em regime de
reclusão impede o cumprimento da principal obrigação do empregado:
prestar serviço.
Não há necessidade de que os fatos que culminaram com a condenação
do empregado tenham correlação com o contrato de trabalho.

2.2.1.6. Desídia
É a negligência do empregado no desempenho de suas funções. Em
regra, só se configura pela reiteração de atos comissivos ou omissivos que
importem em desleixo ou displicência.
A jurisprudência, não raro, exige a aplicação didática de sanções
anteriores (advertência, suspensão) e somente constatada a existência de
tais punições é que o empregador poderá aplicar a pena capital. Ex.: a falta
de zelo do empregado no desempenho de suas tarefas diárias, o atraso
reiterado ao início da jornada laboral. Às vezes, um único ato do
empregado pode caracterizar a desídia, como é o caso do médico que
“esquece” uma tesoura dentro da barriga do paciente que acabara de
operar.

2.2.1.7. Embriaguez
A embriaguez pode resultar do consumo de álcool ou de tóxicos. A lei
disciplina duas formas: a embriaguez habitual fora do serviço e na vida
privada do empregado, mas desde que repercutam no ambiente de trabalho
os efeitos dessa situação de ebriedade; e a embriaguez no serviço, que se

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consuma em um só ato, mediante a simples apresentação do trabalhador no
local de trabalho em estado de embriaguez ou desde que se ponha em tal
estado durante o serviço.
O alcoolismo vem se constituindo numa doença e, no nosso entender, a
família, a sociedade, o poder público e, principalmente, o empregador
devem procurar adotar medidas que visem à recuperação do empregado,
evitando-se, assim, que a ruptura imediata do contrato possa trazer
consequências ainda mais danosas para o trabalhador e sua família, bem
como para a sociedade.
Em algumas atividades laborativas, contudo, não se admite, em
absoluto, a ingestão de bebidas alcoólicas, como o motorista de uma
ambulância. Nesse caso, a justa causa avulta inevitável, até mesmo para
proteger a própria integridade física do laborista ou de terceiros. Ex.:
motorista de transporte coletivo que ingere bebida alcoólica no intervalo
para refeição e causa acidente de trânsito.

2.2.1.8. Violação de segredo


É a divulgação das patentes de invenção ou de uso ou conhecimento
exclusivo da empresa sem autorização desta.

2.2.1.9. Indisciplina
Caracteriza-se pelo descumprimento de ordens gerais de serviço,
contidas em portarias, instruções gerais da empresa, regulamentos etc. Ex.:
fumar em local expressamente proibido dentro da empresa.

2.2.1.10. Insubordinação
É o descumprimento de ordens legais, pessoais e diretas feitas pelo
empregador. Ex.: recusar-se, sem motivo plausível, o empregado a redigir
um ofício, contrariando determinação direta do superior hierárquico.

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2.2.1.11. Abandono de emprego
A despeito da controvérsia acerca da natureza jurídica do abandono de
emprego, o certo é que o ordenamento positivo brasileiro considera esta
figura como justa causa para extinção do contrato de labor.
Dois pressupostos, cumulativos, avultam imprescindíveis para a sua
caracterização: primeiro, o decurso de um prazo, fixado pela
jurisprudência em trinta dias (salvo comprovação de que o obreiro tenha
conseguido novo emprego), sem que o empregado compareça ao serviço;
segundo, o animus abandonandi, isto é, a intenção manifesta do
empregado de pôr fim à relação de emprego.

2.2.1.12. Ato lesivo à honra e à boa fama


O ato lesivo da honra ou da boa fama pode ter como vítima um colega
de trabalho ou qualquer pessoa, ainda que não vinculada à empresa (v.g.,
cliente), ou, ainda, o empregador ou superiores hierárquicos.
No que tange ao ato praticado contra qualquer pessoa é preciso que o
seja dentro do ambiente do trabalho. Quanto ao ato lesivo à honra e boa
fama do empregador ou superiores hierárquicos, a justa causa pode ocorrer
mesmo fora do ambiente de trabalho.
Em qualquer caso, não haverá justa causa se o empregado praticou o ato
em legítima defesa, própria, como o revide imediato a uma agressão à sua
honra, ou de outrem, no caso de revide à agressão à pessoa de sua família.
Trata-se de lesão a direitos da personalidade do empregador ou de
terceiros. Ex.: expressões chulas ou de baixo calão usadas como resposta a
uma ordem lícita emanada do empregador.

2.2.1.13. Ofensa física


A ofensa física é a agressão contra a pessoa do empregador, superior

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hierárquico, colegas de trabalho ou terceiros, no local do trabalho ou em
estreita relação com o serviço, salvo em caso de legítima defesa.
Admite-se a tentativa da agressão como suficiente à caracterização da
falta. Ex.: um soco desferido pelo empregado no rosto de um colega ou do
superior hierárquico.

2.2.1.14. Prática constante de jogos de azar


Segundo a doutrina, são considerados jogos de azar apenas aqueles
assim descritos pela legislação penal. É imprescindível a habitualidade no
comportamento do empregado. Ex.: jogo do bicho.
A prática de jogos de azar reconhecidos pelo Estado, como sena, loto,
loteria esportiva etc., não caracteriza justa causa para a resolução do
contrato de trabalho.

2.2.1.15. Atos atentatórios à segurança nacional


Tal figura de justa causa é incompatível com o regime democrático
instalado a partir da novel Carta Magna de 1988, máxime considerando o
princípio da inafastabilidade de apreciação, pelo Poder Judiciário, de lesão
ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV).

2.2.1.16. Perda de habilitação


A Lei 13.467/2017 acrescentou a alínea “m” ao art. 482 da CLT,
dispondo que o empregador poderá dispensar o empregado por justa causa
na hipótese de “perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei
para o exercício da profissão, em decorrência de conduta dolosa do
empregado”.
Trata-se de nova hipótese de justa causa decorrente da cassação da
habilitação profissional do empregado, desde que caracterizada a sua
conduta dolosa. Essa regra, ao que nos parece, foi concebida para justificar

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a dispensa por justa causa do motorista profissional que teve a sua carteira
de habilitação cassada por conduta dolosa. Mas essa regra poderá ser
aplicada a outros profissionais, como médicos, advogados, dentistas,
contadores etc. Assim, por exemplo, se um médico empregado de um
hospital que teve seu registro cassado pelo Conselho de Medicina em
decorrência de sua conduta dolosa, o empregador poderá dispensá-lo por
justa causa.
Se a perda da habilitação ocorreu por conduta culposa não poderá o
empregador dispensar o empregado por justa causa. Igualmente, a
suspensão transitória da habilitação profissional não enseja a justa causa
prevista na novel alínea “m” do art. 482 da CLT.

2.2.1.17. Outras figuras especiais de justa causa


Além das figuras de justa causa previstas no art. 482 da CLT, outras há
espalhadas por outros dispositivos celetizados, tais como:

• a do bancário que não pagasse dívidas legalmente exigíveis (art.


508). Este dispositivo, contudo, foi expressamente revogado pela Lei
12.347, de 10.12.2010 (DOU de 13.12.2010).
• a do aprendiz que tem desempenho insuficiente ou não consegue
adaptar-se ao trabalho; que comete falta disciplinar grave; ou que
tenha ausência injustificada à escola que implique perda do ano letivo
(CLT, art. 433, I, II e III);
• a do ferroviário que, nos casos de urgência ou acidente, recusa-se,
sem causa justificada, à execução de serviço extraordinário (CLT, art.
240, parágrafo único);
• a do empregado que se recusa, injustificadamente, a observar as
instruções e procedimentos relativos à segurança do trabalho ou a usar

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os equipamentos de proteção individual fornecidos pelo empregador
(CLT, art. 158, parágrafo único).

2.3. Iniciativa do empregado e rescisão indireta


A terminação do pacto de labor por iniciativa do empregado pode se dar
de duas formas: rescisão indireta ou por pedido de demissão.
Na demissão espontânea cuja iniciativa é do obreiro, devem ser
analisadas três situações, isto é, se o empregado tiver menos de um ano
ou mais de um ano de serviço ou, ainda, se existir adesão ao plano de
demissão incentivada, como veremos nos itens 2.3.2, 2.3.2 e 2.3.4, infra.

2.3.1. Rescisão indireta


Na rescisão indireta, também chamada de despedimento indireto,
ocorre a extinção do contrato de trabalho por iniciativa do empregado, que
tem o ônus de provar a justa causa perpetrada pelo empregador (CLT, art.
483).
Nesse caso, se o empregado se desincumbir do referido ônus, terá os
mesmos direitos como se a extinção fosse por iniciativa do empregador e
sem justa causa, inclusive fazendo jus o empregado ao aviso prévio (CLT,
art. 487, § 4º).
As hipóteses de rescisão indireta estão no art. 483 da CLT, segundo o
qual o empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
a) Forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei,
contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato – é o que ocorre,
por exemplo, quando o empregador viola o disposto nos arts. 198, 390 ou
405, § 5º, da CLT, exigindo remoção de qualquer objeto com peso superior
a: 60 quilogramas, se empregado; 20 quilogramas (trabalho contínuo) ou

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25 quilogramas (trabalho ocasional), se empregada ou empregado(a)
menor.
Também pode incidir na infração da alínea ora focalizada o empregador
que exige serviços intelectuais excessivos às forças psíquicas do
empregado, como nos casos em que o empregador exige o cumprimento de
metas inatingíveis ou que comprometam a incolumidade da saúde física ou
psíquica do trabalhador. Incide, igualmente, na violação à presente alínea o
empregador que dá ordens ou exige serviços ilegais tipificados como crime
ou contravenção penal, ou, ainda, alheios ao contrato de trabalho.
Em todos esses casos, o empregado poderá deixar de cumprir a ordem
manifestamente ilegal, imoral ou contrária aos bons costumes e postular a
rescisão indireta do contrato de trabalho.
b) For tratado pelo empregador ou por seus superiores
hierárquicos com rigor excessivo – é o que ocorre quando o empregador
discrimina determinado empregado, tratando-o de forma bem mais
rigorosa que a adotada com outros empregados, por meio de repreensões
ou punições sem fundamentação razoável ou desproporcional. Em regra, a
intenção do empregador é criar um “clima” que induza o empregado a
pedir a sua demissão.
c) Correr perigo manifesto de mal considerável – o espírito desta
regra é impedir que o empregador submeta o empregado a situações que
coloquem em risco iminente os seus direitos fundamentais à vida, à
segurança ou à saúde, como exigir o serviço sem dar as condições
adequadas ao exercício do labor, como o não fornecimento de EPI
(Equipamentos de Proteção Individual) em perfeito funcionamento ou a
exigência de transportes de valores por empregado não qualificado para tal
função.
d) Não cumprir o empregador as obrigações do contrato – esta

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hipótese é a mais comum nas lides trabalhistas e, paradoxalmente, a mais
controvertida. Segundo entendimento doutrinário dominante, não é
qualquer obrigação contratual inadimplida que enseja a rescisão indireta,
sendo imprescindível que fique caracterizada a “falta grave” do
empregador.
Pensamos, contudo, que o art. 483, d, da CLT deve ser reinterpretado
conforme a Constituição Federal, de modo que, se for comprovada a
violação, ainda que parcial, das obrigações de pagar, de fazer ou de não
fazer relacionadas aos direitos fundamentais sociais do trabalhador, por
exemplo, a falta ou o atraso no pagamento dos salários ou do décimo
terceiro, a não concessão de férias ou a ausência do recolhimento do
FGTS, implicará justa causa perpetrada do empregador, o que autorizará a
rescisão indireta do contrato de trabalho pelo empregado. Afinal, nesses
casos não haverá apenas a violação aos direitos previstos na lei ou no
contrato mas ofensa aos direitos fundamentais insculpidos na própria
Constituição da República.
Há cizânia jurisprudencial a respeito da interpretação da alínea d do art.
483 da CLT:

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA.


IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO
FGTS. O descumprimento de obrigações contratuais pelo empregador,
notadamente no que diz respeito à efetivação dos depósitos de FGTS,
configura falta grave. Tal situação, nos termos do art. 483, “d”, da CLT,
autoriza o rompimento indireto do vínculo empregatício e a
consequente condenação do empregador ao pagamento das verbas
rescisórias. Precedentes. Recurso de revista não conhecido (TST-RR
860-17.2013.5.12.0024 – Rel. Min. Delaíde Miranda Arantes – j.
31.08.2016 – 2ª T. – DEJT 09.09.2016).

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RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO – FALTA
DE ANOTAÇÃO NA CTPS. Não induz à rescisão indireta do contrato
de trabalho a simples falta de anotação na CTPS do empregado, haja
vista a existência de sanções legais para a hipótese de descumprimento
dessa obrigação contratual. Assim, a ausência da referida anotação não
constitui falta grave, na forma do art. 483, “d”, da CLT, sobretudo
quando o empregador não nega o vínculo de emprego, como ocorre na
espécie dos autos. Recurso de revista conhecido e ao qual se nega
provimento (TST-RR 422701-98.1998.5.02.5555 – Rel. Min. Ives
Gandra Martins Filho – 4ª T. – DJ 14.06.2002).
RECURSO DE REVISTA. AUSÊNCIA DE ANOTAÇÃO NA CTPS.
RESCISÃO INDIRETA. ART. 483, “D”, DA CLT. A anotação da
CTPS decorre de obrigação legal do empregador, não implicando, seu
descumprimento, com todas as suas decorrências, mera infração
administrativa, haja vista os significativos prejuízos dele advindos ao
trabalhador, inclusive para fins previdenciários, a autorizar o
reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos
do art. 483, d, da CLT. Recurso de revista de que se conhece e a que se
dá provimento (TST-ED-RR 393197-81.1997. 5.02.5555 – Rel. Min.
Rosa Maria Weber – 5ª T. – DJ 17.03.2006).

Ocorrendo a hipótese prevista na alínea d sob exame, poderá o


empregado, nos termos do § 3º do art. 483 da CLT, “pleitear a rescisão de
seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações,
permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo”.
e) Praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas
de sua família, ato lesivo da honra e boa fama – esta hipótese se dá
quando o empregador (ou seus prepostos) violar direitos da personalidade
de cidadão-trabalhador de pessoas integrantes da sua família. Sobre

941
direitos da personalidade, remetemos o leitor ao Título I, Capítulo I, item
11.
Ocorrendo a hipótese da alínea e do art. 483 da CLT, o empregado
poderá rescindir indiretamente o contrato de trabalho e postular
indenização por danos morais, sem prejuízo das verbas rescisórias
pertinentes como se fosse dispensa sem justa causa.
f) O empregador ou seus prepostos o ofenderem fisicamente, salvo
em caso de legítima defesa, própria ou de outrem – a incolumidade
física do empregado também é um direito da personalidade do cidadão-
trabalhador, devendo o empregador (ou seus propostos) respeitá-lo com a
maior efetividade possível.
É ônus do empregado provar que sofreu a ofensa física em si ou em
membro da sua família. É do empregador o ônus de provar a legítima
defesa, própria ou de outrem.
O descumprimento pelo empregador do dever legal de zelar pela
integridade física do empregado implica a possibilidade de rescisão
indireta com a incidência de indenizações por danos materiais (se for o
caso) e morais, além dos direitos do empregado inerentes à rescisão
contratual como se fosse dispensado sem justa causa.
g) O empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou
tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários – a
presente hipótese caracteriza alteração contratual in pejus para o
empregado quando o trabalho é realizado por peça ou tarefa (salário por
unidade de obra ou por tarefa), mas só ensejará a rescisão indireta se a
diminuição do trabalho “afetar sensivelmente a importância dos salários”.
Essa expressão é um conceito indeterminado que deverá ser interpretado e
aplicado em cada caso concreto, com observância dos princípios da
razoabilidade ou proporcionalidade. Em qualquer caso, parece-nos que ao

942
empregado será sempre garantido o direito ao salário mínimo, isto é, a
redução terá como limite o salário mínimo, pois este corresponde ao piso
vital mínimo ou mínimo existencial.
Ocorrendo a redução sensível dos salários por tarefa ou unidade de
obra, nos termos do § 3º do art. 483 da CLT, “poderá o empregado pleitear
a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas
indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do
processo”.
h) Desempenho de obrigação legal – na hipótese em que o empregado
tenha de desempenhar obrigação legal, prevê o § 1º do art. 483 da CLT, o
“empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o
contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis
com a continuação do serviço”. É o que se dá, por exemplo, quando o
empregado é convocado para prestar serviço militar obrigatório ou para
atuar no Tribunal do Júri. Para ensejar a rescisão indireta, é ônus do
empregado provar a incompatibilidade do desempenho da atividade legal
com a continuidade da relação empregatícia. Quando a obrigação legal for
por iniciativa do empregado, como no caso de investidura em cargo de
representação eletiva (vereador, deputado, prefeito, governador etc.),
parece-nos que o empregado terá a opção de suspensão do contrato de
trabalho ou rescisão indireta.
i) Morte do empregador – no caso de morte do empregador
constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o
contrato de trabalho (CLT, art. 483, § 2º). Essa regra é aplicável apenas
quando o empregador for pessoa física (v. g., profissional liberal) ou
constituído em empresa unipessoal.
j) Rescisão indireta e danos morais – ocorrendo a rescisão indireta, o
empregado também poderá, em algumas hipóteses, pleitear, além dos

943
direitos trabalhistas devidos como se fosse dispensado sem justa causa
pelo empregador, danos morais por ofensa aos seus direitos da
personalidade ou por ato de discriminação (Lei 9.029/95). Nesse sentido:

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE


REVISTA. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.
RESCISÃO INDIRETA. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO.-
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. 1. A parte agravante não
apresenta argumentos novos capazes de desconstituir a juridicidade da
decisão agravada, no sentido de que o recurso de revista não observou
pressuposto intrínseco previsto no art. 896 da CLT. 2. Na hipótese
vertente, o Tribunal Regional, ao afastar a inépcia da inicial, sob o
fundamento de que o reclamante descreveu os fatos e indicou os
fundamentos da sua pretensão, possibilitando à reclamada defender-se,
asseverou que a informalidade e a simplicidade são princípios
norteadores do Processo do Trabalho, não havendo cogitar de defeito da
petição inicial ou cerceamento de defesa. 3. A Corte Regional,
valorando fatos e provas, concluiu que a reclamada se obrigou, por
norma coletiva, a manter sanitários masculino e feminino para uso dos
empregados, inclusive nos pontos de controle das linhas de ônibus. A
inobservância do pactuado, ainda que parcial, ensejou a rescisão
indireta do contrato de trabalho, na forma do art. 483, d, da CLT. A
Corte de origem ressaltou que o descumprimento das referidas cláusulas
resultou em constrangimentos ao reclamante, inclusive o de ter que
fazer suas necessidades em ambientes com falta de higiene, o que
ensejou a indenização por danos morais. 4. Não há como alterar, nesta
fase, a decisão regional que reconheceu o direito ao adicional de
insalubridade, fundamentada em laudo pericial conclusivo quanto à
existência de agentes físicos danosos à saúde (ruído e vibração), porque

944
não desconstituído ou infirmado por prova em sentido contrário. 5.
Consoante a decisão agravada, não resultou demonstrada a literalidade
dos arts. 5º e 7º, XV e XXVI, da Constituição Federal, 67, 193, 483 e
853-B da CLT, 426 do CPC, 1º da Lei n. 605/49, por incidência da
Súmula 126 do TST. Agravo a que se nega provimento (TST-Ag-AIRR
20439620125030092 – Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa – 1ª T. –
DEJT 31.03.2015).
RESCISÃO INDIRETA. DANOS MORAIS. DISCRIMINAÇÃO
CARACTERIZADA. O contexto probatório revelou que a reclamante
tinha sua senha de acesso ao sistema reiteradamente negada, sendo que
os outros empregados, quando necessitavam, conseguiam a liberação
em no máximo 2 horas. A reclamante, por longo período, teve de
humilhar-se diariamente perante seus supervisores, buscando a
liberação para trabalhar, vendo-se discriminada no ambiente de trabalho
e ferida em sua dignidade humana. Caracterizados, pois, os danos
morais e a rescisão indireta (TRT-18ª R., RO 00888-2011-003-18-00-2
– Rel. Des. Paulo Canagé de Freitas Andrade – DEJT 01.12.2011, p.
56).
DISCRIMINAÇÃO POR IDADE. OCIOSIDADE IMPOSTA.
RESCISÃO INDIRETA. DANOS MORAIS. A ociosidade imposta é
uma das mais graves ofensas ao trabalhador. Ainda mais ao intelectual
que por longos anos contribuiu para o engrandecimento do nome da
empresa. Não bastasse tal situação humilhante, a ela fora levada a
autora por motivos discriminatórios em razão de sua idade. Superaram-
se os limites do poder potestativo da empresa, ferindo-se, não somente a
dignidade da trabalhadora, mas princípios constitucionais, éticos e
sociais. A ociosidade imposta à autora se dera com a finalidade de esta
deixar a empresa e se firmara em bases discriminatórias, infringindo

945
normas expressas na Constituição Federal e na Lei n. 9.029/95. Devida
a indenização por danos morais (TRT-2ª R. – RECORD 03138-2000-
052-02-00-7 – Rel. Des. Lizete Belido Barreto Rocha – 1ª T. – DJ
13.12.2005).

Outra questão controvertida é a incidência ou não das multas previstas


nos arts. 467 e 477, § 8º, da CLT nas rescisões indiretas. Ouçamos a
jurisprudência do TST:

(...) RESCISÃO INDIRETA. MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT.


NÃO CABIMENTO. I – Compulsando o acórdão recorrido percebe-se
que houve controvérsia acerca da modalidade do rompimento do liame
empregatício (premissa fática intangível de ser modificada nesta Corte a
teor da Súmula 126/TST), situação que alcança a parcela pretendida,
inclusive as verbas rescisórias, sendo suficiente para afastar a incidência
da multa do artigo 467 da CLT. Precedentes. II – Com isso, vem à baila
o óbice da Súmula 333 do TST, em que os precedentes desta Corte
foram erigidos à condição de requisitos negativos de admissibilidade da
revista, por injunção do artigo 896, § 7º, da CLT, e da Súmula 333/TST,
o que descredencia à consideração deste Tribunal os arestos trazidos
para confronto. III – Recurso não conhecido (...) MULTA DO ARTIGO
477 DA CLT. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE
TRABALHO. POSSIBILIDADE. I – O Regional considerou indevida a
condenação à multa do artigo 477, § 8º, da CLT, sob o fundamento de
que havendo controvérsia sobre modalidade de rescisão do liame
empregatício, não se há falar em aplicação de penalidade. II – Da
interpretação teleológica da norma do § 8º do artigo 477 da CLT extrai-
se a conclusão de o legislador ter instituído a multa ali preconizada,
para o caso de as verbas rescisórias devidas ao empregado serem

946
incontroversas, cujo pagamento não seja efetuado nos prazos
contemplados no § 6º daquele artigo, salvo eventual mora que lhe seja
atribuída. III – No caso dos autos, a despeito de a rescisão contratual ter
sido reconhecida apenas em juízo e consequentemente as parcelas
rescisórias, tal condição não obstaculiza a condenação ao pagamento da
multa do artigo 477 da CLT. IV – Isso porque, com o cancelamento da
OJ 351 da SDI-I do TST, não mais prevalece o entendimento de que,
em havendo controvérsia sobre a obrigação cujo inadimplemento gerou
a multa, esta seria descabida. V – Com efeito, a atual iterativa e notória
jurisprudência desta Corte é a de que a multa em questão somente não
seria devida quando o próprio trabalhador tiver dado causa à mora,
hipótese não verificada nos autos. VI – Recurso de revista conhecido e
provido, no particular (TST-ARR 104600-45.2009.5.01.0021 – Rel.
Min. Antonio José de Barros Levenhagen – 5ª T. – DEJT 09.09.2016).
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.
13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO.
MULTA PREVISTA NO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. No caso, o
reclamante pleiteia o pagamento da multa prevista no artigo 477, § 8º,
da CLT. Ante o cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 351 da
SBDI-1, aplica-se a penalidade, ainda que exista controvérsia acerca da
relação empregatícia, conforme o teor do § 8º do artigo 477 da CLT.
Com efeito, nos precisos termos desse preceito de lei, a multa não será
devida apenas quando o trabalhador der causa à mora no pagamento das
verbas rescisórias. Ressalta-se que a ocorrência de rescisão indireta do
contrato de trabalho não exclui o direito do reclamante à multa.
Precedentes de Turmas. Recurso de revista conhecido e provido.
MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. PEDIDO DE
RECONHECIMENTO DA RESCISÃO INDIRETA. VERBAS

947
RESCISÓRIAS CONTROVERSAS. Discute-se a incidência da multa
do artigo 467 da CLT ao caso em questão. O pressuposto fático-jurídico
para a incidência da sanção prevista no artigo 467 da CLT é a
incontrovérsia sobre o montante das verbas rescisórias devidas na data
do comparecimento à Justiça do Trabalho, não se justificando a
aplicação da penalidade se houver controvérsia sobre a existência do
direito às parcelas rescisórias ou sobre o respectivo pagamento. No caso
dos autos, havia controvérsia quanto à modalidade da rescisão
contratual, havendo pedido inicial pelo reconhecimento da rescisão
indireta. Logo, era inexigível o pagamento das parcelas rescisórias
pleiteadas pelo autor à data do comparecimento da reclamada à Justiça
do Trabalho, visto que controversas, razão pela qual não incide a multa
de que trata o artigo 467 da CLT. Precedentes de Turmas. Recurso de
revista não conhecido (TST-RR 1610-97.2014.5.12.0019 – Rel. Min.
José Roberto Freire Pimenta – 2ª T. – DEJT 02.09.2016).

2.3.2. Demissão espontânea do empregado com mais de um ano


de serviço
Em se tratando de empregado com mais de um ano de casa, o seu
pedido de demissão ou recibo de quitação do contrato de trabalho só seria
válido se fosse com a assistência do respectivo sindicato da categoria
profissional a que pertence ou perante a autoridade do Ministério do
Trabalho (CLT, art. 477, § 1º). Nesse caso, o ato demissionário do
empregado sem a chancela sindical ou do Ministério do Trabalho era
considerado nulo e o empregado teria os mesmos direitos como se tivesse
sido dispensado sem justa causa.
O § 1º do art. 477 da CLT foi expressamente revogado pela Lei
13.467/2017, de modo que não é mais exigida a assistência sindical ou a
homologação da autoridade do Ministério do Trabalho como condição de

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