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Hamilton lucena

rescisão contratual

exame
XXXV

atualizado e revisado
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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RESCISÃO CONTRATUAL
1. DESPEDIDA SEM JUSTA CAUSA
Ocorre quando o empregador é quem decide colocar fim ao contrato de tra-
balho, sem motivação. Assim, o empregador decide pôr fim na relação de emprego.
Trata-se de um direito potestativo do empregador, ou seja, empregado não poderá se
opor. Pode haver restrições, quando o empregado possui algum tipo de estabilidade no
emprego. (Ex: Estabilidade gravídica, Estabilidade do dirigente sindical, Estabilidade do
acidentado e etc.)
Diz o art. 7º, inciso I da CF:
Art. 7º da CF – [...]
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa,
nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre
outros direitos.

1.1. IMPOSSIBILIDADE DE DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA NO PERÍO-


DO DE 30 (TRINTA) DIAS QUE ANTECEDE A DATA-BASE DA CATEGO-
RIA
O empregado dispensado, sem justa causa, no período de 30 (trinta) dias que
antecede a data-base de sua categoria (data para reajuste salarial), terá direito à inde-
nização adicional no valor de um salário mensal. Tal indenização, tem previsão no art.
9º da Lei nº 7.238/1984:
Lei nº 7.238/1984, Art. 9º - O empregado dispensado, sem justa causa, no período
de 30 (trinta) dias que antecede a data de sua correção salarial, terá direito à in-
denização adicional equivalente a um salário mensal, seja ele optante ou não pelo
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.
Essa indenização adicional, tem por finalidade inibir que o empregador dispen-
se o empregado na véspera de obter a correção salarial, decorrente da negociação
coletiva.
A respeito da indenização adicional, o TST possui três súmulas.
A Súmula 182 do TST diz que:
TST, SUM 182 - AVISO PRÉVIO. INDENIZAÇÃO COMPENSATÓRIA. Lei nº 6.708, de
30.10.1979 - O tempo do aviso prévio, mesmo indenizado, conta-se para efeito da
indenização adicional prevista no art. 9º da Lei nº 6.708, de 30.10.1979.
Ainda, a Súmula 242 do TST, diz que:
TST, SUM 242 - INDENIZAÇÃO ADICIONAL. VALOR - A indenização adicional, pre-
vista no art. 9º da Lei nº 6.708, de 30.10.1979 e no art. 9º da Lei nº 7.238 de
28.10.1984, corresponde ao salário mensal, no valor devido na data da comunica-
ção do despedimento, integrado pelos adicionais legais ou convencionados, liga-
dos à unidade de tempo mês, não sendo computável a gratificação natalina.
E, a Súmula 314 que diz que:
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TST, SUM 314 - INDENIZAÇÃO ADICIONAL. VERBAS RESCISÓRIAS. SALÁRIO


CORRIGIDO - Se ocorrer a rescisão contratual no período de 30 (trinta) dias que
antecede à data-base, observado a Súmula 182 do TST, o pagamento das verbas
rescisórias com o salário já corrigido não afasta o direito à indenização adicional
prevista nas Leis nºs 6.708, de 30.10.1979 e 7.238, de 28.10.1984.
O Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, possui o mesmo entendimento, con-
forme podemos observar no Enunciado n. 19 da Secretaria de Relações do Trabalho:
HOMOLOGAÇÃO. ART. 9º DA LEI Nº 7.238, DE 1984. INDENIZAÇÃO ADICIONAL.
CONTAGEM DO PRAZO DO AVISO PRÉVIO. É devida ao empregado, dispensado
sem justa causa, no período de 30 dias que antecede a data-base de sua catego-
ria, indenização equivalente ao seu salário mensal.
I – Será devida a indenização em referência se o término do aviso prévio traba-
lhado ou a projeção do aviso prévio indenizado se verificar em um dos dias do
trintídio;
II – O empregado não terá direito à indenização se o término do aviso prévio ocor-
rer após ou durante a data base e fora do trintídio, no entanto, fará jus aos comple-
mentos rescisórios decorrentes da norma coletiva celebrada. Ref.: art. 9º, da Lei
Nº 7.238, de 1984, e art. 487, § 1º, da CLT.
No mesmo sentido, a jurisprudência trabalhista:
RECURSO DA RECLAMANTE. INDENIZAÇÃO ADICIONAL. ART. 9º DA LEI Nº
7.238/84. Considerando-se que a reclamante foi dispensada em 17.12.2012 e que
a data-base da categoria ocorreu em 01.01.2013, indevido o pagamento da indeni-
zação em epígrafe, haja vista que a projeção do aviso-prévio, mesmo indenizado,
prorroga o contrato de trabalho até 19.01.2012. Recurso ordinário da reclamante
a que se nega provimento, no particular. [..] . Recurso voluntário a que se nega pro-
vimento. (RE nº 00014503420145020445 (20170302711), 3ª Turma do TRT da 2ª
Região/SP, Rel. Margoth Giacomazzi Martins. unânime, DOe 16.05.2017).

1.2. VERBAS DEVIDAS NA DISPENSA SEM JUSTA CAUSA:


Verbas devidas:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 40% do FGTS.
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço.
10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
OBSERVAÇÃO: A dispensa do empregado sem justa causa não dá origem a uma
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indenização por danos morais, porque a faculdade de rescindir motivada ou imotivada-


mente o contrato de trabalho está incluída nos direitos assegurados ao empregador.
DISPENSA SEM JUSTA CAUSA. DIREITO POTESTATIVO DO EMPREGADOR. REIN-
TEGRAÇÃO INDEVIDA. De acordo com o art. 487 da CLT, constitui direito potestati-
vo do empregador a dispensa sem justa causa de seus empregados. Desse modo,
e não havendo provas acerca da alegada dispensa discriminatória, não há falar
em reintegração do autor ao emprego, bem como em pagamento de indenização
por danos morais. (TRT 12ª R.; ROT 0000220-68.2020.5.12.0056; Primeira Câma-
ra; Relª Desª Maria de Lourdes Leiria; DEJTSC 11/03/2022)
A ausência ou o atraso no pagamento das verbas rescisórias não configuram,
por si só, dano moral, sobretudo quando não comprovado dano concreto à honra sub-
jetiva do empregado, porque a lei assegura ao trabalhador a possibilidade de obter o
pagamento devido, com juros e correção monetária, conforme dispõe o artigo 477 da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
“RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI
13.467/2017 E DA IN 40 DO TST. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NÃO PA-
GAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHE-
CIDA. De acordo com a jurisprudência notória e atual desta Superior, a ausência
ou o atraso no pagamento das verbas rescisórias não configuram, por si só, dano
moral, sobretudo quando não comprovado dano concreto à honra subjetiva do
empregado. O Tribunal Regional decidiu no sentido de estar caracterizado o dano
moral em virtude da ausência de pagamento das verbas. Essa circunstância está
apta a demonstrar a presença do indicador de transcendência política, nos termos
do art. 896-A, § 1º, II, da CLT, a possibilitar o exame do apelo no TST. RECURSO
DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.467/2017 E
DA IN 40 DO TST. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NÃO PAGAMENTO DAS
VERBAS RESCISÓRIAS. REQUISITOS DO ART. 896, § 1º-A, DA CLT ATENDIDOS.
A jurisprudência desta Corte distingue os atrasos salariais e a ausência de paga-
mento das verbas rescisórias, considerando cabível o pagamento de indenização
por dano moral no primeiro caso, mas não no segundo, de modo que o atraso ou
o não pagamento das verbas rescisórias, por si só, não configura ofensa ao pa-
trimônio moral do trabalhador, devendo ser comprovados, por meio de elementos
objetivos, os constrangimentos alegados ou a ofensa aos direitos da personalida-
de, o que não ficou demonstrado no caso dos autos. No caso, o Tribunal Regional
manteve a condenação ao pagamento de indenização por danos morais em virtu-
de, exclusivamente, do não adimplemento, por parte da empregadora, das verbas
rescisórias. Assim, na linha dos precedentes desta Corte, e nos termos dos arts.
186 e 927 do Código Civil, observa-se que não ficou caracterizada conduta ilícita
da primeira ré. Recurso de revista conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017 E DA IN 40 DO TST. MULTA CON-
VENCIONAL. Não se analisa tema do recurso de revista interposto na vigência da
IN 40 do TST não admitido pelo TRT de origem quando a parte deixa de interpor
agravo de instrumento” (RR-225-33.2017.5.17.0161, 6ª Turma, Relator Ministro
Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 11/03/2022).
II - RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. ATRASO NO PAGAMENTO DAS VER-
BAS RESCISÓRIAS. O atraso no pagamento das parcelas rescisórias, por si só,
não configura lesão a direito personalíssimo do empregado, a ensejar a indeni-
zação por dano moral. Ressalte-se que a mora na quitação das verbas decor-
rentes da rescisão contratual configura fato gerador para a imputação da multa
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prevista no art. 477 da CLT. Recurso de revista conhecido e provido” (ARR-486-


51.2017.5.17.0014, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, DEJT 22/10/2021).
6. COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE ANOTAÇÃO NA CTPS.
ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. PROVIMENTO. O mero
inadimplemento ou atraso no pagamento das verbas rescisórias ou a ausência de
anotação da CTPS do trabalhador não induzem afronta aos direitos fundamentais
da personalidade do empregado, previstos no artigo 5º, X, da Constituição Fede-
ral. Para o acolhimento do pedido de pagamento de reparação por dano moral,
exige-se comprovação efetiva de algum fato objetivo a partir do qual se possa
deduzir o abalo moral sofrido, o que não ocorreu no caso em análise. Preceden-
tes. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento” (RR-1755-
53.2012.5.09.0005, 4ª Turma, Relator Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos,
DEJT 15/10/2021).

2. PEDIDO DE DEMISSÃO
Ocorre quando o empregado é quem decide colocar fim ao contrato de traba-
lho, sem motivação, exigindo a sua manifestação de vontade e livre de vícios. Assim, o
pedido de demissão consiste em direito potestativo do trabalhador, ou seja, emprega-
dor não poderá se opor.
Pode haver restrições, quando o contrato possuir alguma cláusula de perma-
nência. Passamos a analisar tal cláusula.
2.1. CLÁUSULA DE PERMANÊNCIA
Conceitualmente, pode-se dizer que a cláusula de permanência é o acordo cele-
brado entre trabalhador e o empregador pelo qual aquele se compromete a não por fim
ao contrato de trabalho durante um determinado período de tempo.
Nesse contexto, o art. 422 do Código Civil Brasileiro enuncia que “os contratan-
tes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,
os princípios de probidade e boa-fé”. Não é justo que o empregado, tendo recebido
algum benefício extra além do salário para permanecer na empresa, rompa o acordo
(quebrando legítimas expectativas) e não se submeta às penalidades contratuais acor-
dadas.
Assim, as partes assumem uma vigência mínima para o contrato de trabalho,
mediante a fixação de um “termo estabilizador” do contrato. É uma espécie de com-
promisso de estabilidade assumido pelo empregado perante o empregador, garantido
pela obrigação de restituição dos montantes correspondentes às despesas realizadas
com a formação profissional do empregado1.
Como vimos acima, os empregados possuem total liberdade para se desvin-
cularem do contrato de trabalho. Para tanto, basta exercer seu direito potestativo de
demissão. Ocorre que em determinados contratos de trabalho o empregador tem a
faculdade de investir na capacitação do empregado, como, por exemplo, pagando uma
faculdade. Em contrapartida pelo investimento feito, exige que esse empregado não
1 CARNEIRO, Luís Almeida. Dever de formação e pacto de permanência. Coimbra: Almedina, 2015. p. 126
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exerça seu direito potestativo de demissão por um determinado período de tempo.


Para tanto, as empresas firmam com seus empregados a chamada cláusula de
permanência ou fidelização compulsória, por meio da qual o empregado se compro-
mete a continuar trabalhando para empresa até que seja cumprido um determinado
período de carência.
No Brasil não há regulamentação expressa sobre o tema, devendo a validada do
ajuste ser analisada sempre em cada caso concreto. O C. TST já teve a oportunidade
de enfrentar o tema, conforme se vê nas decisões abaixo:
[..] PARCELAS DECORRENTES DO CONTRATO DE TRABALHO, COM BASE EM
COMPROMISSO DE PERMANÊNCIA PREVISTO EM CONTRATO FIRMADO ENTRE
AS PARTES . O Tribunal Regional manteve a decisão que deferiu o pagamento das
parcelas decorrentes do contrato de trabalho, da data de dispensa até dois anos
após a conclusão de mestrado, e de bolsa de estudos para conclusão de curso
de pós-graduação, tendo em vista o compromisso de permanência previsto no
contrato firmado entre a reclamada e o reclamante. Registrou que, conforme ter-
mo de compromisso firmado entre as partes, o professor não poderia exercer
atividade de coordenação acadêmica em outra instituição de ensino particular,
enquanto estivesse recebendo o benefício de bolsa para a qualificação, sob a
penalidade de rescisão imediata do compromisso e ressarcimento dos inves-
timentos realizados pela acionada. Acrescentou, ainda, que a própria instituição
de ensino estabeleceu que, na hipótese de desligamento antes do prazo de vinte
quatro meses, deveria o professor ressarcir os valores totais investidos para a
realização do curso, incluída as prorrogações, despesas de transporte, bolsas de
estudo e todas as vantagens pecuniárias percebidas durante o período de afas-
tamento, acrescido de correção monetária, sem prejuízo de outras sanções pre-
vistas na legislação vigente, com desconto em folha de pagamento. Consignou,
ainda, que a instituição de compromisso de permanência criou, para o recla-
mante, a obrigação de continuar na acionada pelo prazo de 24 (vinte quatro)
meses, após a conclusão do mestrado, em contrapartida, a expectativa de per-
manecer na empresa pelo mesmo interstício e receber a bolsa de estudos du-
rante todo o curso de pós-graduação, em razão do comportamento da empresa,
ao redigir a cláusula 2ª do “Termo de Compromisso e Responsabilidade para
Qualificação Docente. Concluiu, assim, que cabia a reclamada a comprovação
de que o reclamante teve desempenho insatisfatório, o que impossibilitaria a per-
manência do professor no programa de qualificação docente, ônus do qual não
se desincumbiu. Assim, diante do acima exposto, não houve reconhecimento de
garantia de emprego, mas tão somente, a condenação ao pagamento de parcelas
decorrentes do contrato de trabalho, com base em compromisso de permanência
previsto em contrato firmado entre as partes não há falar em violação dos artigos
3º e 444 da CLT e 112 e 114 do CPC. Recurso de revista não conhecido “ (RR-958-
34.2013.5.20.0006, 3ª Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte,
DEJT 31/05/2019).
[...] AÇÃO MONITÓRIA. CLÁUSULA DE PERMANÊNCIA NÃO CONCORRENCIAL.
DESCUMPRIMENTO PELO EMPREGADO. MULTA CONTRATUAL. VALIDADE. Nos
termos do art. 444 da CLT é válida a pactuação de cláusula de permanência não
concorrencial, que imponha multa em caso de seu descumprimento pelo empre-
gado, desde que não se revele abusiva. No caso dos autos, o réu recebeu um va-
lor substancial do banco-autor a título de incentivo para permanecer trabalhando
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nesta instituição por determinado lapso de tempo. Percebe-se que a previsão de


cláusula penal, a despeito de servir como desestímulo à quebra do acordo, não im-
possibilitou o réu de obter outra colocação profissional, talvez mais promissora ou
mais rentável, tanto assim que, de fato, ele rescindiu seu contrato de trabalho com
o Banco Itaú S.A. para se empregar em outro estabelecimento empresarial. O réu
está sendo cobrado a devolver apenas parte do que recebeu a título de bonifica-
ção de permanência. Evidencia-se, assim, que a multa prevista no acordo se revela
equitativa e balanceada. O princípio da boa-fé e o dever de lealdade aplicam-se às
relações trabalhistas e permeiam todos os seus aspectos e fases, incluindo as
pré e pós contratual, dirigindo-se a ambos os lados da relação trabalhista. Nesse
contexto, o art. 422 do Código Civil Brasileiro enuncia que “os contratantes são
obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,
os princípios de probidade e boa-fé”. Não é justo que o réu, tendo recebido uma
alta importância em dinheiro para permanecer na empresa - independentemente
de seu salário - rompa o acordo (quebrando legítimas expectativas) e não se sub-
meta às penalidades contratuais acordadas. Agravo de instrumento desprovido.
(AIRR-43800-95.2008.5.02.0041, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Fi-
lho, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/10/2016)
Outros julgados sobre o tema:
CONTRATO DE PATROCÍNIO EDUCACIONAL. CLÁUSULA DE PERMANÊNCIA. VA-
LIDADE. RESSARCIMENTO. Tendo o empregado descumprido cláusula de perma-
nência pactuada em contrato de patrocínio educacional para a realização de MBA,
cabe o ressarcimento ao empregador do valor das despesas realizadas no curso,
na forma avençada. (TRT 21ª R.; RORSum 0000548-85.2020.5.21.0043; Primeira
Turma; Relª Desª Joseane Dantas dos Santos; DEJTRN 29/04/2021; Pág. 1401)
MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRATO DE TRABALHO. CURSO DE ESPECIALI-
ZAÇÃO PROFISSIONAL CUSTEADO PELO EMPREGADOR. CLÁUSULA DE PERMA-
NÊNCIA. Conforme art. 390-C/CLT, As empresas com mais de cem empregados,
de ambos os sexos, deverão manter programas especiais de incentivos e aper-
feiçoamento profissional da mão-deobra. (Incluído pela Lei nº 9.799, de 1999).
Embora pareça um ônus, a qualificação de pessoal constitui um investimento,
pois a mão de obra especializada implementará a produção, otimizará os custos e
agregará benefícios de mercado ao produto ou ao serviço prestado pela empresa.
Para o empregado, sem sombra de dúvidas, a sua especialização importará qua-
lidade e valoração inclusive econômica. No trabalho prestado. Portanto, é razoá-
vel promover a qualificação/especialização dos empregados e, em contrapartida,
estabelecer termo de compromisso com a empresa na utilização e na aplicação
do conhecimento técnico aprendido. Nesta senda, caberá ao magistrado utilizar
o bom senso ao examinar o conteúdo prático e a efetiva qualificação decorrente
da especialização, bem como ter em vista a vinculação imposta ou a abusivida-
de na aplicação de multa pelo descumprimento da cláusula. (TRT 10ª R.; MSCiv
0000258-11.2020.5.10.0000; Primeira Turma; Rel. Des. Dorival Borges de Souza
Neto; DEJTDF 29/07/2020; Pág. 26)
PACTO DE PERMANÊNCIA. CURSO DE CAPACITAÇÃO PAGO PELO EX-EMPREGA-
DOR. VALIDADE. Se o acordo de Cláusula de Permanência estipulado entre empre-
gador e empregado, tiver um tempo razoável de duração; for efetivado no decorrer
do contrato laboral (não no início) e com benefícios mútuos visíveis, não há falar-
-se em vício de consentimento e nem tampouco em ofensa ao artigo 5º, XIII, da
Constituição Federal, uma vez que não há violação a liberdade de trabalho, ofício
ou profissão, e nem vulnerabilidade ou prejuízo da parte obreira, em tese, hipossu-
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ficiente, sendo, portanto, plenamente válido e eficaz, de maneira que a Ação de Co-
brança elaborada pelo ex-empregador em face do ex-empregado que descumpriu
a referida cláusula, deve ser provida. Recurso Ordinário que se nega provimento.
(TRT 14ª R.; RO 0000746-83.2019.5.14.0001; Primeira Turma; Relª Desª Vania Ma-
ria da Rocha Abensur; DJERO 21/08/2020; Pág. 1161)
“Registre-se, de início, que, segundo o princípio do “pacta sunt servanda”, as con-
dições estipuladas em contrato constituem lei entre as partes contratantes, razão
pela qual devem ser respeitadas. Depreende-se dos autos, que o réu, ex-emprega-
do do Banco Bradesco, assinou contrato de patrocínio com o referido Banco para
a realização de curso de MBA em Finanças - Investimento e Risco a ser ministrado
pela instituição de ensino Fundação Getúlio Vargas. A Cláusula 4.9., item b, do
referido contrato de patrocínio prevê que o empregado cuja rescisão do contra-
to de trabalho tenha decorrido de pedido deve restituir ao patrocinador “75% do
valor total do curso, se a rescisão ocorrer no período de até vinte e quatro meses
que sucederem à conclusão do curso”. Acrescente-se que o réu, ex-empregado do
Banco, é pessoa de alta qualificação profissional e tinha pleno conhecimento do
teor do contrato que estava assinando, não podendo, agora, alegar a existência de
vício de consentimento, tampouco a ocorrência de onerosidade excessiva. Assim,
considerando-se que o curso de MBA patrocinado pelo Banco autor fora finalizado
em setembro de 2011 e que a rescisão do contrato de trabalho efetuada a pedido
do empregado ocorreu em 04 de março de 2013, devido o ressarcimento do valor
correspondente a 75% do valor do curso, conforme previsão contida na Cláusula
4.9., item b, do contrato de patrocínio. Recurso ordinário do autor a que se dá pro-
vimento.” (Processo: RO nº 1001099-71.2016.5.02.0381, 3ª Turma do TRT da 2ª
Região/SP, Rel. Margoth Giacomazzi Martins. DJe 10.04.2018)
NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO. INVALIDADE DA CLÁUSULA DE PERMA-
NÊNCIA. Conforme decidido no item acima, não restou caracterizada nenhuma
conduta do Banco reclamado que caracterizasse o assédio moral. Assim, não po-
deria o autor alegar que tais atos culminaram com o pedido de demissão. Nesse
ponto, confirma-se a conclusão do Regional no sentido de que “O fato é que o re-
clamante não estava satisfeito com o emprego e procurou outro”. Assim que arru-
mou, pediu demissão.” Dessa forma, não há que se falar em nulidade do pedido de
demissão, tampouco do contrato de permanência, uma vez que não foi compro-
vada a culpa da reclamada para o pedido de demissão e a consequente quebra do
contrato de permanência. Por outro lado, o Regional deixou claro que o Itaú firmou
“compromisso de celebração de contrato de permanência” com vários emprega-
dos do Banco, em torno de 20 a 30, ocasião em que se comprometeu a pagar
R$75.034,00 ao autor, enquanto este se obrigou a permanecer até 27/10/2008 na
empresa, não havendo que se falar, dessa forma, que o valor teria sido pago em
substituição ao carro que lhe era fornecido. Até porque, neste aspecto, o Regional
manteve a condenação para indenização da supressão do carro a título de salário
utilidade. Intactos os arts. 5º, XIII e XXXVI, da Constituição Federal e 9º e 468 da
CLT. Agravo de instrumento conhecido e desprovido.
Portanto, é necessário que haja proporcionalidade entre o tempo do curso reali-
zado e o período mínimo de permanência ajustado. Do contrário, será violado o direito
fundamental de liberdade no exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, con-
tido no art. 5º, XIII, da CRFB/88, pois o trabalhador, que dificilmente terá condições de
ressarcir os valores investidos em sua capacitação, terá cerceado seu direito de resci-
são contratual por tempo desarrazoado.
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2.2. CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA


O TST, ao julgar o processo número 1934-32.2013.5.03.0065, reconheceu a res-
cisão indireta do contrato de trabalho em decorrência do descumprimento pela empre-
sa das obrigações contratuais, com fulcro na alínea ‘d’ do artigo 483 da CLT, ao deixar
de efetuar o pagamento do adicional de insalubridade e das horas de trajeto durante
a contratualidade, mesmo tendo o empregado pedido de demissão. No julgamento,
foi destacado que o próprio artigo 483, caput e § 3º, da CLT, permite que o empregado
opte, primeiramente, por rescindir o contrato de trabalho - não especificando, contudo,
o procedimento a ser adotado - para depois postular em Juízo as providências cabí-
veis.
Foi destacado ainda, que nas hipóteses em que comprovada a falta grave da
empresa durante o deslinde da relação laboral, o pedido de demissão não impede, por
si só, que seja posteriormente reconhecida a rescisão indireta do contrato de trabalho.
Na verdade, em situações em que reste caracterizado o ato culposo patronal (sob a
ótica justrabalhista), presume-se a não ocorrência de manifestação livre de vontade do
obreiro na formalização da resilição, invertendo-se, desse modo, o ônus da prova quan-
to à idoneidade do ato por ele produzido, que passará a ser da reclamada. Isso porque,
não poderá o empregador ser beneficiado pela má conduta perpetrada, ao suprimir
direitos legalmente previstos e induzir o término do pacto laboral pelo empregado, ante
a impossibilidade psicológica e financeira por aquela criada para manutenção do vín-
culo, sob pena de subversão da lógica protetiva almejada pelo Direito do Trabalho.
Nesse mesmo sentido, os seguintes julgados:
“I - AGRAVO DE INSTRUMENTO . RECURSO DE REVISTA. LEI N° 13.015/2014.
RESCISÃO INDIRETA. CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO. TRANSPORTE DE
VALORES SEM SEGURANÇA. NÃO PAGAMENTO DO ADICIONAL DE INSALUBRI-
DADE. O Tribunal de origem converteu o pedido de demissão em rescisão indire-
ta, sob o fundamento de que o autor transportou altas quantias em espécie sem
segurança , além de ter trabalhado em condições insalubres sem nunca receber
o adicional respectivo . Esta Corte Superior firmou o entendimento de que é pos-
sível a conversão do pedido de demissão em rescisão indireta quando presente
alguma das hipóteses do art. 483 da CLT. No caso, o empregador incorreu em
falta grave do art. 483, “c” e “d”, da CLT, apta a romper o vínculo contratual, pois
não observou o dever de diminuição dos riscos inerentes ao trabalho (transporte
de valores elevados sem escolta), submetendo o autor, sem treinamento, a perigo
contra a sua integridade física. Outrossim, a ausência de pagamento do adicional
de insalubridade caracteriza inadimplemento das obrigações contratuais por par-
te do empregador . Diante do contexto fático-probatório delineado, incólumes os
arts. 5°, XXXVI, da CF, 483 da CLT e 151 do Código Civil. Os arestos colacionados
esbarram no óbice da Súmula nº 296 do TST. Agravo de instrumento a que se nega
provimento. EMPREGADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. ENQUADRAMENTO
COMO FINANCIÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. O Tribunal Regional adotou entendimen-
to de que a reclamada, na condição de cooperativa de crédito, equipara-se a uma
instituição financeira por força da Lei nº 4.595/64. Assim, concluiu pelo enqua-
dramento do reclamante como financiário, deferindo-lhe os direitos previstos nas
normas coletivas correspondentes. Ante a possível contrariedade à OJ nº 379 da
SbDI-1 do TST, deve ser provido o agravo de instrumento. Agravo de instrumento
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a que se dá provimento. II - RECURSO DE REVISTA . LEI N° 13.015/2014. EMPRE-


GADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. ENQUADRAMENTO COMO FINANCIÁRIO.
IMPOSSIBILIDADE. O Tribunal Regional adotou entendimento de que a reclamada,
na condição de cooperativa de crédito, equipara-se a uma instituição financeira.
Por tal razão, e tendo em vista a denominação dos cargos ocupados pelo recla-
mante (“contínuo”, “caixa” e “assistente de negócios”), concluiu pelo enquadramen-
to do reclamante como financiário, deferindo-lhe os direitos previstos nas normas
coletivas correspondentes. Em que pese à similitude entre as cooperativas de
crédito e os estabelecimentos bancários, as normas atinentes aos bancários ou
financiários não se aplicam aos empregados das cooperativas. Nesse sentido,
dispõe a OJ nº 379 da SbDI-1 desta Corte que “Os empregados de cooperativas
de crédito não se equiparam a bancário, para efeito de aplicação do art. 224 da
CLT, em razão da inexistência de expressa previsão legal, considerando, ainda, as
diferenças estruturais e operacionais entre as instituições financeiras e as coo-
perativas de crédito. Inteligência das Leis n.os 4.595, de 31.12.1964, e 5.764, de
16.12.1971”. Ressalte-se que este Tribunal Superior tem aplicado a inteligência
da citada Orientação Jurisprudencial a todas as vantagens relativas à categoria
bancária, não se limitando à jornada especial prevista no art. 224, caput , da CLT.
Assim, forçoso reconhecer que o Tribunal Regional, ao enquadrar o reclamante,
empregado de cooperativa de crédito, na categoria dos financiários, contrariou
a jurisprudência uniforme deste Tribunal Superior. Recurso de revista de que se
conhece e a que se dá provimento . HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DE
ASSISTÊNCIA SINDICAL. Esta Corte já pacificou a controvérsia acerca da matéria
por meio das Súmulas 219, I, e 329 do TST, segundo as quais a condenação ao
pagamento de honorários advocatícios não decorre unicamente da sucumbên-
cia, sendo necessária a ocorrência concomitante de dois requisitos: a assistência
por sindicato da categoria profissional e a comprovação da percepção de salário
inferior ao dobro do mínimo legal ou de situação econômica que não permita ao
empregado demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva famí-
lia. In casu , ausente a credencial sindical, indevida a condenação em honorários
advocatícios. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento “
(RR-1115-40.2013.5.04.0721, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena Mallmann,
DEJT 17/12/2021).
CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA. ATRASO REITE-
RADO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS E IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO
DO FGTS. O atraso reiterado no pagamento dos salários, bem como a irregulari-
dade no recolhimento do FGTS, denota o não cumprimento das obrigações por
parte do empregador e, portanto, enseja a rescisão contratual pelo empregado,
nos termos do art. 483, d , da CLT. Ademais, esta Corte tem reiteradamente deci-
dido pela relativização do requisito da imediatidade no tocante à rescisão indireta,
em observância aos princípios da continuidade da prestação laboral e da proteção
ao hipossuficiente. Por fim, é firme, na jurisprudência, o posicionamento de que
o pedido de demissão do empregado, ainda que homologado pelo sindicato da
categoria profissional, não obsta a configuração da rescisão indireta. O art. 483,
caput e § 3º, da CLT, faculta ao empregado considerar rescindido o contrato de
trabalho antes de pleitear em juízo as verbas decorrentes da rescisão indireta.
Todavia, o referido dispositivo não estabelece o procedimento a ser adotado pelo
empregado quando o empregador incidir em um dos casos de justa causa. Vale
dizer, não há qualquer exigência formal para o exercício da opção de se afastar do
emprego antes do ajuizamento da respectiva ação trabalhista. Assim, no presente
caso concreto, o pedido de demissão da obreira demonstra tão somente a impos-
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sibilidade de manutenção do vínculo empregatício, sem significar qualquer opção


pela modalidade de extinção contratual. Comprovada em juízo a justa causa do
empregador, presume-se a relação entre a falta patronal e a iniciativa da emprega-
da de rescindir o contrato de trabalho. E não há, no quadro fático delineado pelo
TRT, qualquer indício de que tenha sido outro o motivo do desligamento da recla-
mante. Recurso de revista conhecido e provido. (RR-103100-40.2012.5.17.0005,
6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 09/04/2021).
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA AUTORA. LEI
13.467/2017. CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA.
JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR. IMEDIATIDADE DESNECESSÁRIA. Agravo de
instrumento a que se dá provimento para determinar o processamento do recurso
de revista, em face de haver sido demonstrada possível violação do artigo 483,
“d”, da CLT. RECURSO DE REVISTA DA AUTORA. LEI 13.467/2017. CONVERSÃO
DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA. JUSTA CAUSA DO EMPRE-
GADOR. IMEDIATIDADE DESNECESSÁRIA. No que tange, especificamente, à res-
cisão indireta, o artigo 483 da CLT elenca os tipos de infrações cometidas pelo
empregador que poderão dar ensejo a tal modalidade de extinção contratual. Em
sua alínea “d” prescreve como motivo da rescisão contratual o descumprimen-
to pelo empregador das obrigações contratuais. Aqui, embora exista posiciona-
mento minoritário em sentido contrário, a doutrina e jurisprudência atualmente
vêm entendendo que as obrigações contratuais citadas pela norma se referem
tanto àquelas estipuladas diretamente pelas partes, como também às derivadas
de preceito legal ou normativo. No caso, o Tribunal Regional consignou que: “em
que pese a irregularidade de depósitos de FGTS constitua falta patronal passível
a justificar declaração de rescisão indireta, a teor do artigo 483, “d”, da CLT, o fato
é que a autora, ciente das irregularidades perpetradas ao longo do ano de 2015,
formalizou pedido de demissão (id. 1da9d9e) em 04-01-2016” e “A conduta obreira
não se harmoniza com o princípio da imediatidade, operando-se assim a figura do
perdão tácito” . Assim, a conduta da reclamada revela-se suficientemente grave,
ensejando, pois, a rescisão indireta do contrato de trabalho, diante dos prejuízos
ocasionados à autora, nos moldes do artigo 483, “d”, da CLT. Acrescente-se que
o critério de imediatidade da insurgência da empregada, ante a falta cometida,
merece sérias ponderações, uma vez que a qualidade de hipossuficiente do obrei-
ro na relação e a consequente necessidade de manutenção do vínculo para sua
própria subsistência, principalmente em se tratando de descumprimento de obri-
gações contratuais que se renovam no tempo, dificultam a pronta manifestação
da parte que, na verdade, fica à mercê do mau empregador. Precedentes. Recurso
de revista conhecido e provido” (RR-760-08.2016.5.12.0008, 7ª Turma, Relator Mi-
nistro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 12/03/2021).
“RECURSO DE REVISTA. CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO
INDIRETA. ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS E IRREGULA-
RIDADE NO RECOLHIMENTO DO FGTS. O atraso reiterado no pagamento dos sa-
lários, bem como a irregularidade no recolhimento do FGTS, denota o não cum-
primento das obrigações por parte do empregador e, portanto, enseja a rescisão
contratual pelo empregado, nos termos do art. 483, d , da CLT. Ademais, esta Corte
tem reiteradamente decidido pela relativização do requisito da imediatidade no
tocante à rescisão indireta, em observância aos princípios da continuidade da
prestação laboral e da proteção ao hipossuficiente. Por fim, é firme, na jurispru-
dência, o posicionamento de que o pedido de demissão do empregado, ainda que
homologado pelo sindicato da categoria profissional, não obsta a configuração da
rescisão indireta. O art. 483, caput e § 3º, da CLT, faculta ao empregado considerar
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rescindido o contrato de trabalho antes de pleitear em juízo as verbas decorren-


tes da rescisão indireta. Todavia, o referido dispositivo não estabelece o proce-
dimento a ser adotado pelo empregado quando o empregador incidir em uma
das hipóteses de justa causa. Vale dizer, não há qualquer exigência formal para o
exercício da opção de se afastar do emprego antes do ajuizamento da respecti-
va ação trabalhista. Assim, no presente caso concreto, o pedido de demissão da
obreira demonstra tão somente a impossibilidade de manutenção do vínculo em-
pregatício, sem significar qualquer opção pela modalidade de extinção contratual.
Comprovada em juízo a justa causa do empregador, presume-se a relação entre a
falta patronal e a iniciativa da empregada de rescindir o contrato de trabalho. E não
há, no quadro fático delineado pelo TRT, qualquer indício de que tenha sido outro
o motivo do desligamento da reclamante. Recurso de revista conhecido e pro-
vido. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATRASO NO PAGAMENTO DAS VER-
BAS RESCISÓRIAS. A jurisprudência desta Corte distingue os atrasos salariais e o
atraso no pagamento das verbas rescisórias, considerando cabível o pagamento
de indenização por dano moral nos casos de atrasos reiterados nos pagamentos
salariais mensais, mas não no caso de atraso na quitação de verbas rescisórias.
Logo, não prospera o pedido de indenização por danos morais fundamentado em
atraso no pagamento das verbas rescisórias. Recurso de revista não conhecido
.[..] (RR-10105-51.2014.5.14.0092, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto César Leite
de Carvalho, DEJT 14/06/2019).
“RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. ATRASO REITERADO NO PAGA-
MENTO DOS SALÁRIOS E IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DO FGTS. O
atraso reiterado no pagamento dos salários, bem como a irregularidade no reco-
lhimento do FGTS, denota o não cumprimento das obrigações por parte do em-
pregador e, portanto, enseja a rescisão contratual pelo empregado, nos termos da
letra d do art. 483 da CLT. Por outro lado, esta Corte tem reiteradamente decidido
pela relativização do requisito da imediatidade no tocante à rescisão indireta, em
observância aos princípios da continuidade da prestação laboral e da proteção ao
hipossuficiente. Por fim, embora este relator já tenha decidido de forma diversa,
é firme, na jurisprudência o posicionamento de que o pedido de demissão do em-
pregado, ainda que homologado pelo sindicato da categoria profissional, não obs-
ta a configuração da rescisão indireta. O art. 483, caput e § 3º, da CLT, faculta ao
empregado considerar rescindido o contrato de trabalho antes de pleitear em juí-
zo as verbas decorrentes da rescisão indireta. Todavia, o referido dispositivo não
estabelece o procedimento a ser adotado pelo empregado quando o empregador
incidir em uma das hipóteses de justa causa. Vale dizer, não há qualquer exigência
formal para o exercício da opção de se afastar do emprego antes do ajuizamento
da respectiva ação trabalhista. Assim, no presente caso concreto, o pedido de de-
missão do obreiro demonstra tão somente a impossibilidade de manutenção do
vínculo empregatício, sem significar qualquer opção pela modalidade de extinção
contratual. Comprovada em juízo a justa causa do empregador, presume-se a re-
lação entre a falta patronal e a iniciativa do empregado de rescindir o contrato de
trabalho. E não há, no quadro fático delineado pelo TRT, qualquer indício de que te-
nha sido outro o motivo do desligamento do reclamante. Ressalte-se que em nada
altera esse entendimento o fato de o autor ter obtido novo emprego sete dias após
a rescisão contratual com a ré. Premido pela necessidade de sustento próprio e
de sua família, era natural que o reclamante buscasse nova fonte de renda após
a ruptura do liame empregatício com a reclamada. Recurso de revista conhecido
e não provido.” (RR-134700-55.2007.5.09.0562, Relator Ministro: Augusto César
Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 9/11/2016, 6ª Turma, Data de Publicação:
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DEJT 11/11/2016, sublinhou-se.)


“RESCISÃO INDIRETA. DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS.
FALTA GRAVE DO EMPREGADOR. A Corte Regional reconheceu a rescisão indireta
do contrato de trabalho em decorrência do descumprimento pela empresa das
obrigações contratuais, com fulcro na alínea ‘d’ do artigo 483 da CLT, ao deixar
de efetuar o pagamento do adicional de insalubridade e das horas de trajeto du-
rante a contratualidade. Outrossim, quanto ao pedido de demissão realizado pelo
autor, cumpre destacar que o próprio artigo 483, caput e § 3º, da CLT, permite
que o empregado opte, primeiramente, por rescindir o contrato de trabalho - não
especificando, contudo, o procedimento a ser adotado - para depois postular em
Juízo as providências cabíveis. Logo, nas hipóteses em que comprovada a falta
grave da empresa durante o deslinde da relação laboral, o pedido de demissão não
impede, por si só, que seja posteriormente reconhecida a rescisão indireta do lia-
me. Na verdade, em situações em que reste caracterizado o ato culposo patronal
(sob a ótica justrabalhista), presume-se a não ocorrência de manifestação livre
de vontade do obreiro na formalização da resilição, invertendo-se, desse modo,
o ônus da prova quanto à idoneidade do ato por ele produzido, que passará a ser
da reclamada. Isso porque, não poderá o empregador ser beneficiado pela má
conduta perpetrada, ao suprimir direitos legalmente previstos e induzir o término
do pacto laboral pelo empregado, ante a impossibilidade psicológica e financeira
por aquele criada para manutenção do vínculo, sob pena de subversão da lógica
protetiva almejada pelo Direito do Trabalho. Agravo de instrumento a que se nega
provimento.” (AIRR-1934-32.2013.5.03.0065, Relator Ministro: Cláudio Mascare-
nhas Brandão, Data de Julgamento: 16/3/2016, 7ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 22/3/2016, sublinhou-se.)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. MORA SALARIAL. PEDIDO DE DEMISSÃO. RESCI-
SÃO INDIRETA. CONFIGURAÇÃO. Demonstrada a violação do artigo 483, d , da
Consolidação das Leis do Trabalho, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento,
a fim de determinar o processamento do Recurso de Revista. RECURSO DE RE-
VISTA. MORA SALARIAL. PEDIDO DE DEMISSÃO. RESCISÃO CONTRATUAL. 1. O
atraso no pagamento dos salários, desde que não seja meramente eventual - o
que, como visto, não é o caso dos autos -, caracteriza inadimplemento das obri-
gações contratuais por parte do empregador, ensejando a resolução do contrato
por ato culposo da reclamada, na forma do artigo 483, d, da CLT. 2. A inércia da
reclamante ante o descumprimento reiterado do empregador no tocante ao paga-
mento dos salários fora do prazo legal não configura, automaticamente, perdão
tácito. Isso porque a resposta dos obreiros diante de prática de condutas ilegais
pelo empregador em muito é contingenciada pela condição de hipossuficiência
- jurídica e econômica - que assumem na relação de emprego. Precedente desta
Corte. 3. Com efeito, na hipótese, independentemente do pedido de demissão da
reclamante, o não cumprimento das obrigações do contrato de trabalho por parte
do empregador, que reiteradamente atrasou o pagamento dos salários da obrei-
ra, enseja a caracterização da rescisão indireta e, por conseguinte, o direito às
verbas rescisórias daí decorrentes . 4. Recurso de Revista conhecido e provido.”
(RR-1778-96.2010.5.04.0202, Relator Desembargador Convocado: Marcelo Lame-
go Pertence, Data de Julgamento: 12/8/2015, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT
18/8/2015, sublinhou-se.)
“RECURSO DE REVISTA - RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE EMPREGO.
MORA SALARIAL. PEDIDO DE DEMISSÃO. Nos termos do art. 483 , ‘d’ , da CLT, o
empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indeniza-
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ção quando o empregador não cumprir as obrigações do contrato. O atraso contu-


maz no pagamento de salários configura falta grave patronal suficiente a ensejar
a rescisão indireta do contrato de trabalho. Recurso de Revista não conhecido.”
(RR-642-32.2010.5.15.0146, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de
Julgamento: 24/6/2015, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 30/6/2015.)
“RECURSO DE REVISTA - NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO - REVERSÃO EM
RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. O Tribunal Regional, sobera-
no na análise do conjunto fático-probatório dos autos, concluiu pela nulidade do
pedido de demissão e declarou a rescisão indireta do contrato de trabalho, tendo
em vista o fato de -restar configurada a hipótese de resolução judicial do contrato
de trabalho, por força da incontroversa mora contumaz da empregadora na satis-
fação dos salários, a caracterizar indiscutível descumprimento de sua obrigação
básica em face do contrato sinalagmático mantido com a trabalhadora, que, não
obstante tenha prestado os seus serviços, deixou de perceber, no prazo legal, os
salários que se constituem no seu meio de subsistência- e que -O habitual atraso
no pagamento de salários, do modo como é possível verificar na tabela junta-
da pela ré às fls. 110/112, constitui-se em motivo suficiente à configuração da
‘rescisão indireta’ do contrato de trabalho-. Assim, para se chegar à conclusão
contrária daquela proferida pela Corte Regional, de que o pedido de demissão da
reclamante não decorreu na mora no pagamento dos salários, seria necessário
o revolvimento dos fatos e da prova, procedimento vedado nesta esfera extraor-
dinária, nos termos da Súmula nº 126 do TST. Assim, não há como perquirir a
alegada ofensa ao art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, uma vez que o pedido
de demissão não pode ser analisado isoladamente, sem um confronto com as
demais provas dos autos. Recurso de revista de que não se conhece.” (RR-1531-
21.2010.5.04.0201, Relator Desembargador Convocado: Valdir Florindo, Data de
Julgamento: 6/11/2013, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/11/2013.)
Porém, caso as violações à legislação trabalhista não sejam tão abrangentes e
referem-se a matérias controvertidas que só foram declaradas como devidas em Juí-
zo, o TST entendeu não ser devido o pedido de conversão da demissão em rescisão
indireta do contrato, veja:
[..] PEDIDO DE CONVERSÃO DA DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA DO CON-
TRATO. CONTROVÉRSIA QUANTO AO PAGAMENTO DAS HORAS EXTRAS E DO
ADICIONAL DE TRANSFERÊNCIA. RECONHECIMENTO APENAS EM JUÍZO. FALTA
GRAVE NÃO CONFIGURADA. No caso dos autos, consignou a Corte a quo que,
“ainda que reconhecido o direito ao pagamento de horas extras, tal ilicitude não
se reveste de gravidade suficiente, a ensejar a rescisão contratual por culpa do
empregador, com base no art. 483, alínea ‘ d’ “, motivo pelo qual entendeu que não
há falar em conversão do pedido de demissão em rescisão indireta do contrato.
O artigo 483, alínea “d”, da CLT deve ser aplicado para autorizar a rescisão indireta
do contrato de trabalho (podendo o empregado, inclusive, cessar a prestação de
serviços nesses casos) quando houver grave descumprimento das obrigações
trabalhistas mais relevantes (por exemplo, não pagamento dos salários como um
todo, não assinatura da CTPS e o consequente não pagamento de férias, 13os sa-
lários, RSRs etc), mas não em casos como este, em que as violações à legislação
trabalhista não são tão abrangentes e referem-se a matérias controvertidas que
só foram declaradas como devidas em Juízo. Recurso de revista não conhecido.
(RR-1017-11.2012.5.09.0411, 2ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pi-
menta, DEJT 01/10/2021).
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2.3. PEDIDO DE DEMISSÃO X ESTABILIDADE NO EMPREGO


A finalidade das estabilidades ou garantias provisórias é garantir proteção ao
emprego contra a dispensa indiscriminada e injusta e impedir que tal estabilidade ou
garantia de emprego, seja causa de discriminação. Em se tratando de empregado de-
tentor de estabilidades ou garantias provisórias no emprego, a validade do pedido de
demissão está condicionada à assistência do respectivo Sindicato ou da autoridade
do Ministério do Trabalho, nos termos do artigo 500 da CLT.
CLT, Art. 500. O pedido de demissão do empregado estável só será válido quando
feito com a assistência do respectivo Sindicato e, se não o houver, perante au-
toridade local competente do Ministério do Trabalho e Previdência Social ou da
Justiça do Trabalho.
Nesse sentido, a jurisprudência:
“DECISÃO REGIONAL PUBLICADA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017 . RECURSO
DE REVISTA INTERPOSTO PELA AUTORA. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. GES-
TANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO.
PEDIDO DE DEMISSÃO NULO. AUSÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SINDICAL. REQUISITO
PREVISTO NO ARTIGO 500 DA CLT. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CONSTATADA
. É perfeitamente aplicável às empregadas contratadas por prazo determinado
a estabilidade provisória, por força de gravidez superveniente, ainda no curso do
vínculo. O artigo 10, inciso II, “b”, do ADCT intenta proteger não apenas a mãe, mas
também o nascituro, e tornar concreto o direito fundamental insculpido no artigo
7º, XVIII, da Constituição Federal, de responsabilidade objetiva do empregador.
Nesse sentido é o entendimento desta Corte, firmado na Súmula nº 244, III. Ainda
, a empregada gestante, detentora de estabilidade provisória, segundo dicção do
artigo 10, II, “b”, do ADCT e da Súmula nº 244 do TST, terá reconhecimento jurídico
do pedido de demissão, desde que efetivado mediante necessária assistência do
respectivo sindicato, independentemente da duração do pacto laboral, nos termos
do artigo 500 da CLT. Tal ilação se justifica por ser a estabilidade provisória direito
indisponível e, portanto, irrenunciável. Nesse passo, impõe-se reformar a decisão
do Tribunal Regional, que afastara a nulidade do pedido de demissão da emprega-
da gestante, por compreender desnecessária a assistência sindical à homologa-
ção. Precedentes. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimen-
to” (RR-1099-47.2019.5.12.0012, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas
Brandao, DEJT 25/06/2021).
“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 E RE-
GIDO PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 39/2016. CONTRATO POR TEMPO DE-
TERMINADO. PEDIDO DE DEMISSÃO. EMPREGADA GESTANTE. ESTABILIDADE
PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SINDICAL OU DE AUTORIDADE COM-
PETENTE. INVALIDADE. Trata-se de pedido de demissão de empregada formula-
do durante o período de estabilidade provisória decorrente da gravidez, sem a as-
sistência do sindicato de sua categoria profissional ou de autoridade competente.
A Corte a quo registrou que, na hipótese, “ não há controvérsias quanto ao fato
de que a reclamante foi admitida em 22/05/2015, pela modalidade de experiên-
cia, havendo pedido demissão em 02/06/2015, ainda no curso dessa modalidade
contratual. Porém, segundo a reclamante, em 29/07/2015 descobriu que estava
grávida de 15 semanas e 05 dias, motivo pelo qual postulou a reintegração ou,
sucessivamente, o pagamento da indenização substitutiva do período estabilitário
“. Contudo, para o Regional, “ o rompimento de contrato de experiência não está
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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sujeito à homologação sindical, dado o seu limite necessariamente ser inferior a


01 ano. In casu , aliás, o pacto durou exíguos doze dias, pois, repita-se, a recla-
mante pediu demissão ainda no início do pacto experimental, segundo admitido
na causa petendi (ID. 582429b, fls. 12). Portanto, a jurisprudência supratranscrita
não se aplica ao caso em exame, na medida em que a regra do artigo 477, § 1º,
da CLT, na redação vigente ao tempo do fato examinado, pressupunha o tempo
de serviço mínimo de um ano para a exigência de homologação válida do pedido
de demissão “. Em primeiro lugar, é condição essencial para que seja assegurada
a estabilidade à reclamante o fato de a gravidez ter ocorrido durante o transcur-
so do contrato de trabalho, como no caso. O artigo 10, inciso II, alínea “b”, do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias veda a dispensa arbitrária ou sem
justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco
meses após o parto. O artigo 500 da CLT, por sua vez, estabelece que o pedido
de demissão de empregado estável só é válido quando efetuado com assistên-
cia sindical ou de autoridade competente. Desse modo, tem-se que, por se tratar
de empregada portadora de estabilidade provisória, o reconhecimento jurídico do
seu pedido de demissão só se completa com a assistência do sindicato profissio-
nal ou de autoridade competente, independentemente da duração do contrato de
trabalho (precedentes). Na hipótese, como o pedido de demissão da reclamante
não foi homologado pelo sindicato ou Ministério do Trabalho e Emprego, deve
ser considerado inválido. Recurso de revista conhecido e provido” (RR-100853-
40.2016.5.01.0022, 2ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT
11/06/2021).
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO ANTES DA
ÉGIDE DA LEI PELA LEI 13.467/2017. GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA.
PEDIDO DE DEMISSÃO. AUSÊNCIA DE HOMOLOGAÇÃO DO SINDICATO . TRANS-
CENDÊNCIA POLÍTICA . O entendimento do Regional no sentido de ser válido o pe-
dido de demissão da empregada gestante sem a assistência sindical apresenta-se
dissonante do desta Corte, configurando a transcendência política, nos termos do
art. 896-A, § 1º, II, da CLT. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA IN-
TERPOSTO ANTES DA ÉGIDE DA LEI PELA LEI 13.467/2017. GESTANTE. ESTABI-
LIDADE PROVISÓRIA. PEDIDO DE DEMISSÃO. AUSÊNCIA DE HOMOLOGAÇÃO DO
SINDICATO . Dá-se provimento o agravo de instrumento, ante a aparente violação
do art. 500 do CLT. RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO ANTES DA ÉGIDE DA
LEI PELA LEI 13.467/2017. GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. PEDIDO DE
DEMISSÃO. AUSÊNCIA DE HOMOLOGAÇÃO DO SINDICATO. O entendimento desta
Corte é de que o requisito previsto no artigo 500 da CLT constitui norma cogente,
encerrando um dever e não uma faculdade. Assim, nos termos do disposto nos ar-
tigos 500 da CLT e 10, II, b , do ADCT, não há como dispensar a assistência sindical,
devido pelo prisma da garantia de emprego à gestante. Precedentes da SBDI-1 e
de todas as Turmas deste Tribunal. Recurso de revista conhecido e provido” (RR-
656-03.2019.5.12.0043, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carva-
lho, DEJT 28/05/2021). RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 13.467/2017.
GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. CONTRATO POR PRAZO DETERMINA-
DO. APRENDIZAGEM. PEDIDO DE DEMISSÃO. AUSÊNCIA DE HOMOLOGAÇÃO DO
SINDICATO. O entendimento desta Corte é de que o requisito previsto no artigo
500 da CLT constitui norma cogente, encerrando um dever e não uma faculdade.
Assim, nos termos do disposto nos artigos 500 da CLT e 10, II, b, do ADCT, não há
como dispensar a assistência sindical, devido pelo prisma da garantia de emprego
à gestante. Precedentes da SbDI-1 e de todas as Turmas deste Tribunal. Recurso
de embargos conhecido e provido. (E-RR nº 130274-70.2015.5.13.0024, SBDI-1 do
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TST, Rel. Augusto César Leite de Carvalho. j. 30.05.2019, Publ. 07.06.2019).


Essa assistência sindical é exigível mesmo na vigência da Lei 13.467/2017 (Re-
forma trabalhista do ano de 2017). Assim, quando houver pedido de demissão de em-
pregado detentor de estabilidades ou garantias provisórias no emprego sem nenhum
vício de consentimento, não se há de falar em estabilidade ou garantia provisória, por-
quanto tal instituto se aplica somente aos casos de dispensa imotivada.
2.4. VERBAS DEVIDAS NO PEDIDO DE DEMISSÃO:
Verbas devidas:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. Depósito do FGTS 8% (Não pode sacar o FGTS).
OBS: O empregado nesse tipo de demissão, deve pré-avisar o empregador nos
termos do Art. 487, § 2º da CLT, pois a falta de viso prévio por parte do empregado dá
ao empregador o direito de descontar os salários correspondentes ao prazo respecti-
vo. Nesse sentido:
RECURSO ORDINÁRIO. PEDIDO DE DEMISSÃO. AVISO PRÉVIO. INDENIZAÇÃO
PELO EMPREGADO. DESCONTO NO VALOR DAS VERBAS RESCISÓRIAS. SÚMULA
N. 276 DO TST. INTERPRETAÇÃO CORRETA DO VERBETE. A expressão “pedido
de dispensa do cumprimento”, que existe na Súmula n. 276 do TST, refere-se ao
aviso prévio concedido pelo empregador. O pedido de demissão pelo trabalhador,
ainda que seja motivado por novo emprego, não o exime do pagamento do aviso
prévio, devido na forma do art. 487 da CLT. No caso de suposta renúncia do direito
ao aviso prévio pelo empregador, deve existir comprovação suficiente, cujo ônus
pertence ao trabalhador (inc. I do art. 818 da CLT c/c inc. I do art. 373 do CPC).
(TRT 14ª R.; RO 0000266-14.2021.5.14.0041; Primeira Turma; Rel. Des. Shikou Sa-
dahiro; DJERO 30/09/2021; Pág. 1898)
AVISO PRÉVIO DO TRABALHADOR. DESCONTO CABÍVEL. Nos termos do art. 487,
§ 2º da CLT, a falta de cumprimento do aviso prévio por parte da empregada dá
ao empregador o direito de descontar os salários relativos ao respectivo período.
(TRT 4ª R.; ROT 0021874-91.2017.5.04.0007; Primeira Turma; Rel. Des. Roger Bal-
lejo Villarinho; Julg. 09/09/2021; DEJTRS 10/09/2021)

3. DISPENSA POR JUSTA CAUSA


3.1. PENALIDADES APLICADAS DURANTE O CONTRATO DE TRABALHO
As penalidades decorrem do poder disciplinar do empregador. Tal poder, permi-
te o empregador aplicar penalidades ao empregado que não observe as ordens e re-
gras impostas à atividade desempenhada. No direito do trabalho, o empregador pode
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aplicar as seguintes penalidades:


3.1.1. MULTA
Em regra, a penalidade de multa, não é admitida no Direito do Trabalho por
contrariar o princípio da intangibilidade salarial previsto no art. 462 da CLT. A exceção
ocorre, ao atleta profissional (art. 48, III da Lei 9.615/98) e ao contrato de trabalho in-
termitente art. 452-A, par. 4º da CLT.
(1) Ao atleta profissional (art. 48, III da Lei 9.615/98).
Lei 9.615/98, Art. 48 - Com o objetivo de manter a ordem desportiva, o respeito aos
atos emanados de seus poderes internos, poderão ser aplicadas, pelas entidades
de administração do desporto e de prática desportiva, as seguintes sanções:
I - advertência;
II - censura escrita;
III - multa;
IV - suspensão;
V - desfiliação ou desvinculação.
(2) Trabalho intermitente (art. 452-A, § 4º, CLT):
CLT, Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito
e deve conter especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser infe-
rior ao valor horário do salário mínimo ou àquele devido aos demais empregados
do estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou
não.
§ 4º Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que descumprir,
sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50% (cin-
quenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a compensação em
igual prazo.

3.1.2. ADVERTÊNCIA
A penalidade de advertência, que pode ser verbal ou escrita e não tem previsão
na CLT, entretanto decorre do costume (Art. 8ª da CLT) sendo na ordem de gravidade,
a penalidade mais branda. Tal penalidade é aplicada quando o empregado praticar ato
de gravidade leve. Exemplo: chegar atrasado ao trabalho, faltar sem justificativa etc.
3.1.3. SUSPENSÃO
A penalidade de suspensão, não pode ultrapassar o prazo máximo de 30 dias
e durante o período da suspensão, o empregado não trabalha e também não recebe a
remuneração correspondente aos dias de suspensão, sendo na ordem de gravidade,
a penalidade moderada. Esta penalidade é aplicada quando o empregado praticar ato
de gravidade média ou quando as penalidades de advertência não surtirem efeitos. Ex:
quando o empregado esta sem usar o EPI – Equipamento de Proteção Individual em
área de risco, quando o empregado já foi punido pelo empregador com advertências
umas 3 vezes por ter faltado ao serviço de forma injustificada, etc. A suspensão está
prevista na CLT em seu art. 474, de seguinte teor:
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CLT, Art. 474 da CLT - A suspensão do empregado por mais de 30 (trinta) dias con-
secutivos importa na rescisão injusta do contrato de trabalho.

3.1.4. JUSTA CAUSA


A justa causa será aplicada pelo empregador ao empregado quando ele come-
ter uma infração grave, sendo essa penalidade, na ordem de gravidade, a penalidade
mais severa, pois ela põe fim ao contrato de trabalho, proporcionando o empregado
receber apenas as verbas já vencidas, tais como, saldo de salários, 13º vencidos e fé-
rias vencidas.
Ela pode ser aplicada ainda, quando o empegado não comete uma infração gra-
ve, como por exemplo, nos casos de falta injustificada | chegar atrasado sem justifica-
tiva, etc., porém, o empregado para ser demitido por justa causa, segundo a doutrina e
jurisprudência deve ser punido anteriormente com advertências e suspensões. Nesses
casos, o empregador esta fazendo uso da gradação das penalidades, até chegar na
pena mais grave, no caso a justa causa, em decorrência da ausência de gravidade da
infração cometida pelo empregado.
Para Godinho2, justa causa é:
“O motivo relevante, previsto legalmente, que autoriza a resolução do contrato de
trabalho por culpa do sujeito comitente da infração — no caso, o empregado. Tra-
ta-se, pois, da conduta tipificada em lei que autoriza a resolução do contrato de
trabalho por culpa do trabalhador. ”
Já Alice Monteiro de Barros3 escreve que:
“A justa causa é uma circunstância peculiar ao pacto laboral. Ela consiste na prá-
tica de ato doloso ou culposamente grave por uma das partes e pode se o motivo
determinante da resolução do contrato”.
Na opinião de Evaristo de Moraes Filho4, justa causa é a:
“rescisão unilateral do contrato de trabalho, sem ônus para nenhuma das partes,
como todo ato faltoso ou culpo somente grave, que faça desaparecer a confiança
e a boa-fé que devem entre elas existir, tornando assim impossível o prossegui-
mento da relação”.

3.1.4.1.ÔNUS DA PROVA NA DISPENSA POR JUSTA CAUSA


O TST, ao julgar o processo n. AIRR nº 558-45.2012.5.10.0002, 3ª Turma do TST,
Rel. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. j. 10.08.2016, Publ. 19.08.2016, decidiu
que a imposição da maior penalidade aplicável ao empregado, consistente na rescisão
do contrato por justa causa, norteia-se pelos princípios da atualidade, proporcionali-
dade, gravidade e caráter determinante, necessitando, ainda, da produção de prova
robusta sobre o cometimento da infração. Por força, também, do princípio da continui-
dade da relação de emprego que vigora no Direito do Trabalho, é ônus do empregador
demonstrar, de forma inequívoca, a presença dos motivos e dos requisitos ensejado-
res da referida modalidade de dispensa.
2 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16° Ed. São Paulo. LTr, 2017, p. 1349.
3 BARROS, Alice Monteiro, Curso de Direito do Trabalho, 7º Ed, LTr 75, pág. 702.
4 MORAES FILHO, Evaristo de. A justa causa na rescisão do contrato de trabalho. Rio de Janeiro. Forense, 1968.
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A título de exemplo, cabe ao empregador provar que o empregado apresentou o


atestado falso. Nesse sentido também:
RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. REVERSÃO. APRESENTAÇÃO DE ATES-
TADO MÉDICO FALSO. NÃO COMPROVAÇÃO. ART. 482, ALÍNEA “A, DA CLT.
Compete ao empregador o ônus da prova da conduta do empregado apta a con-
figurar a justa causa. No caso, os argumentos da reclamada, para afirmar que a
rescisão contratual ocorreu por justa causa, consistem na entrega - pelo recla-
mante - de um suposto atestado médico falso. A conclusão do juiz de primeiro
grau, mantida pelo Tribunal Regional, com base nas provas, foi no se sentido de
que a reclamada não fez prova de que o reclamante tenha entregue atestado fal-
sificado. Diante da narrativa descrita no acórdão proferido pelo Tribunal Regional,
qualquer tentativa de se chegar a conclusão diversa, como pretende a recorrente,
demandaria a revisão do conjunto probatório dos autos, o que é vedado, nesta ins-
tância recursal, nos termos da Súmula 126 desta Corte. Não conheço do recurso
nesse tema. (RR nº 610-82.2013.5.15.0126, 5ª Turma do TST, Rel. João Batista
Brito Pereira. j. 04.10.2017, Publ. 13.10.2017).

3.1.4.2.ELEMENTOS DA JUSTA CAUSA


A dispensa por justa causa é modalidade de extinção contratual por infração
obreira apta a quebrar a fidúcia necessária para a continuidade do vínculo de emprego.
Portanto, para a sua caracterização, devem estar presentes os seguintes requisitos:
a) tipicidade da conduta; b) autoria obreira da infração; c) dolo ou culpa do infrator; d)
nexo de causalidade; e) adequação e proporcionalidade; f) imediaticidade da punição;
g) ausência de perdão tácito; h) singularidade da punição (non bis in idem); i) caráter
pedagógico do exercício do poder disciplinar, com a correspondente gradação de pe-
nalidades5.
Passamos a análise dos elementos mais importantes:
3.1.4.3.IMEDIATICIDADE
O prazo tido como razoável entre a falta do empregado e a aplicação de punição
por justa causa, não é efetuada expressamente pela legislação. Porém, o empregador
não pode deixar transcorre espaço de tempo muito longo para aplicar a penalidade do
empregado, pois significaria perdão tácito.
Segundo a professora Vólia Bomfim6:
“A punição tem que ser atual, pois o transcurso do longo tempo entre a falta e a
penalidade acarreta a presunção de perdão ou de renúncia do direito de punir”.
Nesse sentido, assevera CARRION7 que:
“a reação da empresa, rescindindo o contrato deve ser imediata, o que não afasta
o decurso de tempo razoável para reflexão e apuração, variável com a complexi-
dade da empresa.”
O Ministro Maurício Godinho Delgado ao julgar o processo n. RR nº 0001364-
83.2014.5.21.0041, escreveu que:
5 RR nº 0001364-83.2014.5.21.0041, 3ª Turma do TST, Rel. Maurício Godinho Delgado. unânime, DEJT 14.04.2016
6 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11.ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: MÉTODO, 2015
7 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 25ª edição, página 362.
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No que tange à imediaticidade da punição, exige a ordem jurídica que a aplicação


de penas trabalhistas se faça tão logo se tenha conhecimento da falta cometida.
Com isso, evita-se eventual situação de pressão permanente, ou, pelo menos, por
largo e indefinido prazo sobre o obreiro, em virtude de alguma falta cometida.
Em outro julgado8, o mesmo Ministro, explicou que:
No que tange à imediaticidade da punição, exige a ordem jurídica que a aplicação
de penas trabalhistas se faça tão logo se tenha conhecimento da falta cometida.
Com isso, evita-se eventual situação de pressão permanente, ou, pelo menos, por
largo e indefinido prazo sobre o obreiro, em virtude de alguma falta cometida.
A quantificação do prazo tido como razoável a medear a falta e a punição não
é efetuada expressamente pela legislação. Algumas regras, contudo, podem ser
alinhavadas. Em primeiro lugar, tal prazo conta-se não exatamente do fato irre-
gular ocorrido, mas do instante de seu conhecimento pelo empregador (ou seus
prepostos intraempresariais). Em segundo lugar, esse prazo pode ampliar-se ou
reduzir-se em função da existência (ou não) de algum procedimento administra-
tivo prévio à efetiva consumação da punição. Se houver instalação de comissão
de sindicância para apuração dos fatos envolventes à irregularidade detectada,
por exemplo, obviamente que disso resulta um alargamento do prazo para consu-
mação da penalidade, já que o próprio conhecimento pleno do fato, sua autoria,
culpa ou dolo incidentes, tudo irá concretizar-se apenas depois dos resultados da
sindicância efetivada. Finalmente, em terceiro lugar, embora não haja prazo legal
prefixado para todas as situações envolvidas, há um parâmetro máximo forneci-
do pela CLT e eventualmente aplicável a algumas situações concretas. Trata-se
do lapso temporal de 30 dias (prazo decadencial: Súmula 403, STF) colocado ao
empregador para ajuizamento de ação de inquérito para apuração de falta grave
de empregado estável (art.853, CLT; Enunciado 62, TST). O prazo trintidial celetis-
ta pode servir de relativo parâmetro para outras situações disciplinares, mesmo
não envolvendo empregado estável nem a propositura de inquérito. Observe-se,
porém, que tal lapso de 30 dias somente seria aplicável quando houvesse neces-
sidade de alguma diligência averiguatória acerca dos fatos referentes à infração.
É que a jurisprudência tende a considerar muito longo semelhante prazo em si-
tuações mais singelas (e mais frequentes), que digam respeito a faltas inequi-
vocamente cometidas e inequivocamente conhecidas pelo empregador. No caso
em tela, o acórdão regional assentou que: “a consignante esperou mais de um
mês (13.09.2014 - 25.10.2014) para aplicar a penalidade de demissão nos termos
do art. 482, alínea “b”, da CLT, razão pela qual ficou desconfigurada a imediatida-
de necessária”. Com efeito, considera-se desproporcional o lapso temporal de 42
dias utilizado pela Reclamada, tendo em vista, inclusive, que não restou provada a
existência de instauração de sindicância. Registre-se que a falta de imediaticidade
gera, em regra, a presunção de incidência do perdão tácito. Outrossim, para que se
pudesse chegar, se fosse o caso, a conclusão fática diversa, seria necessário o re-
volvimento do conteúdo fático-probatório, propósito insuscetível de ser alcançado
nesta fase processual, diante do óbice da Súmula 126/TST.
Escrevo ainda, outro importante julgado do TST, sobre o tema:
DISPENSA COM JUSTA CAUSA. PERDÃO TÁCITO. PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE.
A respeito do requisito da atualidade ou imediaticidade na apuração e aplicação da
punição pela prática do ato faltoso, o Tribunal a quo consignou que houve imedia-
ta instauração da sindicância e posterior procedimento administrativo disciplinar,
8 (RR - 1364-83.2014.5.21.0041 Data de Julgamento: 13/04/2016, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 15/04/2016)
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não havendo prova de prolongamento injustificado do procedimento, de modo a


ensejar o reconhecimento do perdão tácito. Concluiu que grande parte da demora
para conclusão da sindicância, repleta de idas e vindas, e do processo administra-
tivo, deveu-se a intervenções do ora recorrente a fim de atender a suas sucessivas
petições, nas quais alegava violação de seu direito de defesa. Desse modo, não
se vislumbra a alegada violação do art. 5º, LV, da CF. O recurso de revista também
não logra conhecimento por meio da divergência jurisprudencial colacionada, pois
não servem para confronto os julgados transcritos por falta da indispensável iden-
tidade fática (Súmula 296 do TST). Recurso de revista não conhecido. Processo:
RR - 57600-39.2008.5.18.0012 Data de Julgamento: 19/10/2016, Relator Ministro:
Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/10/2016.

3.1.4.4.PERDÃO TÁCITO
Caso não seja respeitado o requisito da imediatidade, ocorrerá o perdão tácito.
Segundo Alice Monteiro de Barros9:
“configura-se a renúncia ou o perdão tácito quando o empregador toma ciência do
comportamento faltoso do empregado e mesmo assim permite que ele trabalhe
por um lapso de tempo relativamente longo, não comprovando estivesse neste
período aguardando investigação contínua, cautelosa e critérios, a fim de, depois,
romper o ajuste. O prazo para aferição da atualidade ficará ao prudente arbítrio do
Juiz, esclarecendo-se que devem sopesar-se, na sua avaliação, as dimensões da
empresa e sua complexidade organizacional.”
Nesse sentido, os julgados abaixo:
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. NULIDADE. EMBRIAGUEZ. IMEDIATICIDADE. RE-
VOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS. SÚMULA Nº 126 DO TST. O Regional consig-
nou que, “No caso dos autos, o teste do bafômetro foi realizado no dia 26.12.2012,
e mesmo tendo sido acusado o uso de álcool, o Autor permaneceu laborando,
cumprindo as suas funções normalmente”, o que demonstra que a reclamada não
se importou com o fato de autor estar sob efeito de álcool e o manteve em suas
atividades normais, visto que, apenas em 28/12/2012, o retirou da escala de servi-
ço, e, somente em 3/1/2013, comunicou por escrito sua dispensa por justa causa.
Assim, verifica-se que o requisito da imediaticidade, essencial para a aplicação da
dispensa por justa causa foi desrespeitado, pois a medida punitiva somente foi
tomada 8 dias após a constatação da ingestão de bebida alcoólica pelo reclaman-
te, não podendo se alegar que, por se tratar de período de festas de fim de ano,
não poderia a reclamada ter dispensado o autor em prazo mais breve do que fez.
Por outro lado, não há, nos autos, prova de que o reclamante, por estar sob efeito
do álcool, tenha deixado de cumprir com os seus deveres profissionais ou tenha
causado problemas à reclamada, praticando, assim, conduta tão grave que hou-
vesse implicado a quebra da fidúcia nele depositada. Desta forma, verifica-se que,
para se chegar a conclusão diversa, como sustenta a recorrente, seria necessária
a revisão da valoração do quadro fático-probatório feita pela instância regional, o
que é vedado nesta Corte de natureza extraordinária, ante o óbice da Súmula nº
126 do TST. Recurso de revista não conhecido. (RR - 385-72.2013.5.03.0069, Re-
lator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 27/05/2015, 2ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 05/06/2015)
JUSTA CAUSA. PROVA. PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE. INOBSERVÂNCIA. PERDÃO
TÁCITO. Ainda que houvesse dolo na prática da falta, o retardamento na aplica-
ção da pena constituiria inobservância do princípio da imediatidade, permitindo a
9 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho - São Paulo: LTr, 2005, pg.835
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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presunção de perdão tácito, impossibilitando aplicação da pena máxima trabalhis-


ta: dispensa por justa causa. (RO nº 4/2011-025-03-00.9, 1ª Turma do TRT da 3ª
Região/MG, Rel. Convocado Paulo Maurício R. Pires. unânime, DEJT 21.02.2013).

3.1.4.5.NON BIS IN IDEM


A mesma falta cometida pelo empregado, não pode ser objeto de mais de uma
punição pelo empregador. Assim, só pode haver a aplicação de uma única punição
quanto a um mesmo ato faltoso, face o princípio da singularidade punitiva ou non bis
in idem.
Sobre a proibição da dupla punição, Wagner Giglio10 ensina:
[...] E isso porque não lhe é permitido renovar a punição, pela mesma falta. Seu
direito de punir se esgota com a aplicação da penalidade escolhida.
Se, desobedecendo a essa proibição, o empregador aplica ao empregado uma se-
gunda penalidade pelo mesmo ato faltoso, esta não produz qualquer efeito. Leva-
da à apreciação judicial, revoga-se a segunda pena, seja condenando o emprega-
dor a pagar os salários perdidos em decorrência de suspensão, seja obrigando-o
a pagar as indenizações derivadas do despedimento injustificado, conforme tenha
sido o caso.
No mesmo sentido, a jurisprudência:
APRESENTAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO FALSO. NÃO COMPROVAÇÃO. REVER-
SÃO JUDICIAL DA JUSTA CAUSA. SUSPENSÃO. BIS IN IDEM. VEDAÇÃO. O Tribu-
nal a quo, analisando o conjunto fático-probatório existente nos autos, entendeu
que não ficou devidamente comprovado que a empregada tenha adulterado in-
tencionalmente seu atestado médico - conforme alegado pela agravante -, e que
a suspensão do trabalho por três dias, decorrente do atestado em questão, carac-
terizou duplicidade de punição aplicada à autora. Consta no acórdão recorrido a
conclusão de que o atestado médico, entregue pela obreira, percorreu pelas mãos
de várias pessoas e setores da ré, somente tendo sido constatada a adulteração
pelo Setor de Recursos Humanos da agravante, o que dificulta a comprovação da
autoria do fato delituoso, pois este poderia ser imputado tanto à agravada, quanto
à empresa, a fim de forjar dispensa por justa causa. Ainda, o Regional consignou
que após a autora ter sido punida com a suspensão em razão da apresentação de
atestado médico falso, no período de 15/12 a 17.12.2014, foi despedida por justa
causa no dia 18.12.2014, quando retornou da suspensão. Para se chegar a con-
clusão de que a autora cometeu falta grave o suficiente para justificar a aplicação
da demissão por justa causa e de que inexistiu bis in idem no caso, seria necessá-
rio revolvimento da valoração do conjunto fático-probatório dos autos feita pelas
instâncias ordinárias, procedimento vedado nesta esfera recursal de natureza ex-
traordinária. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR nº 23-48.2014.5.06.0232, 2ª
Turma do TST, Rel. José Roberto Freire Pimenta. j. 20.09.2017, Publ. 29.09.2017).
JUSTA CAUSA. DUPLA PUNIÇÃO. REVERSÃO. É ônus do empregador comprovar
amplamente a tipificação da falta grave (artigos 818, da CLT c/c 373, II, do novo
CPC), sob pena de se considerar a rescisão contratual injusta, bem como não se
pode cogitar de dupla punição a um único ato faltoso. Na hipótese, constata-se
que, em razão do incidente havido entre o reclamante e o gerente (Sr. Cícero), a
pretensão da reclamada consistiu em aplicar ao autor, pelo ato faltoso, termo de
advertência. Logo, não pode o empregador aplicar mais de uma penalidade (no
10 GIGLIO, Wagner.Justa Causa. 7ª ed. - São Paulo: Saraiva 2000, p. 16-17.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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caso, advertência e justa causa) em função de um mesmo ato faltoso, devendo


ser desconstituída a justa causa aplicada, por violação ao princípio da Singulari-
dade Punitiva ou Non bis in idem. (RO nº 0000332-86.2015.5.08.0003, 4ª Turma
do TRT da 8ª Região/PA-AP, Rel. Walter Roberto Paro. unânime, DEJT 16.05.2016).
JUSTA CAUSA. FALTA GRAVE DO EMPREGADO. DESÍDIA. DEMONSTRAÇÃO. MA-
NUTENÇÃO DA JUSTA CAUSA. Para a caracterização da desídia prevista no artigo
482 da CLT, é necessária a habitualidade das faltas cometidas pelo empregado,
bem como, em contrapartida, a reação do empregador, mediante a aplicação de
penalidades gradativas, até culminar com a dispensa por justa causa. No Direito
do Trabalho, defende-se o non bis in idem do poder disciplinador, não podendo o
empregador aplicar mais de uma pena para uma determinada infração. Mas essa
circunstância foi observada no caso, tendo a demissão por justa causa obedeci-
do o princípio da singularidade da punição (ausência de duplicidade punitiva), o
que impede a reversão da justa causa praticada. Recurso ordinário a que se nega
provimento. (RO nº 01140/2014-004-13-00.3, 2ª Turma do TRT da 13ª Região/PB,
Rel. Edvaldo de Andrade. j. 22.03.2016, DEJT 31.03.2016).
A doutrina11 de forma acertada, entende que:
“Não se considera dupla penalidade o fato de o empregador descontar do salário
os dias referentes às faltas injustificadas que levaram ao abandono ou à desídia.
Da mesma forma não se considera dupla penalidade a faculdade que o emprega-
dor possui em descontar do período de férias as faltas injustas que o empregado
teve no período aquisitivo, e em demitir o trabalhador por desídia. O desconto dos
dias não trabalhados, o desconto dos danos causados; a redução dos dias de fé-
rias; a perda da remuneração do dia de repouso semanal, por impontualidade ou
faltas, são faculdades que o legislador concedeu ao empregador e, por isto, não se
relacionam com as punições disciplinares. Ademais, a lei trata destas faculdades
em artigos e títulos diferentes das penalidades disciplinares”.

3.1.4.6.AUSÊNCIA DE DISCRIMINAÇÃO
O empregador não pode aplicar penas diferentes a empregados que cometem a
mesma falta grave. Quanto as faltas que não são graves, podem ser aplicadas a pena-
lidades diferentes, face o princípio da gradação pedagógica das penalidades que será
analisado adiante.
REVERSÃO DA JUSTA CAUSA. PENALIDADE DISCRIMINATÓRIA. Entre os requi-
sitos objetivos e subjetivos a serem considerados no momento da aplicação da
justa causa, deve ser observado o critério da ausência de discriminação, ou seja,
não pode o empregador aplicar penalidades diversas a diferentes empregados em
razão de uma mesma falta cometida por ambos. Assim, se em razão das agres-
sões físicas mútuas, a autora foi dispensa por justa causa, mas foi oportunizada
à outra empregada a ruptura contratual por pedido de demissão, evidente a discri-
minação na aplicação da penalidade, devendo ser revertida a dispensa por justa
causa aplicada à autora. (RO nº 0004874-78.2013.5.12.0045, 5ª Câmara do TRT
da 12ª Região/SC, Rel. José Ernesto Manzi. j. 23.08.2016)
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. DISCRIMINAÇÃO. REVERSÃO. Não comprovada
à imperícia e verificando-se que a reclamada tratou com discriminação à obrei-
ra, deixando de punir as demais participantes do evento, dispensando somente a
autora, configura-se ilícita a justa causa aplicada, nos termos dos arts. 3º, IV, e 5º,
ambos da Constituição da República, sendo correta a decretação de sua nulidade,
11 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11.ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: MÉTODO, 2015
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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na forma do art. 9º da CLT c/c art. 5º do Decreto-Lei 4.657/42. (RO nº 1557/2011-


019-03-00.7, Tribunal Pleno do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Convocado Camilla G.
Pereira Zeidler. unânime, DEJT 13.07.2012).

3.1.4.7.GRADAÇÃO DA PENALIDADE
O empregador deve observar uma gradação, na aplicação das penas, começan-
do com a aplicação das penas mais leves (Advertência) até chegar, se for o caso, à
mais grave, que é a justa causa.
Informativo TST n° 79 - DISPENSA POR JUSTA CAUSA. DESÍDIA. ART. 482, “E”, DA
CLT. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA GRADAÇÃO DA PENA. INOB-
SERVÂNCIA. FALTA GRAVE AFASTADA. Para a caracterização da desídia de que
trata o art. 482, “e”, da CLT, faz-se necessária a habitualidade das faltas cometidas
pelo empregado, bem como a aplicação de penalidades gradativas, até culminar
na dispensa por justa causa. Os princípios da proporcionalidade e da gradação
da pena devem ser observados, pois as punições revestem-se de caráter peda-
gógico, visando o ajuste do empregado às normas da empresa. Nesse contexto,
se o empregador não observa a necessária gradação da pena, apressando-se em
romper o contrato de trabalho por justa causa, frustra o sentido didático da pe-
nalidade, dando azo à desqualificação da resolução contratual em razão do ex-
cessivo rigor no exercício do poder diretivo da empresa. Com esse entendimento,
a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pela reclamada,
por divergência jurisprudencial, e, no mérito, negou-lhes provimento. TST-E-ED-
-RR-21100-72.2009.5.14.0004, SBDI-I, rei. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho,
10.4.2014.
JUSTA CAUSA. DESÍDIA. Não tendo sido comprovada pelo empregador a falta
grave alegada, tampouco a gradação da penalidade antes da resolução con-
tratual, é de se afastar a justa causa aplicada. (Recurso Ordinário nº 0010107-
07.2014.5.01.0246, 4ª Turma do TRT da 1ª Região/RJ, Rel. Tania da Silva Garcia.
DOERJ 26.05.2017).
JUSTA CAUSA. GRADAÇÃO DA PENALIDADE. Por se tratar da penalidade mais
grave que o empregador pode imputar ao empregado, a justa causa exige prova
incontestável de fato que impeça a continuidade da relação de emprego, por que-
bra do elemento fidúcia, intrínseco ao vínculo formado. As sanções aplicáveis ao
empregado, previstas no art. 482 da CLT, além da finalidade punitiva, destinam-se
a cumprir um efeito pedagógico, evitando-se que o empregado cometa novas fal-
tas. A regra, portanto, é a da gradação das penalidades, admitindo-se a aplicação
direta da justa causa apenas como hipótese excepcional, quando a quebra da
fidúcia é gerada por um único ato do empregado, dada a sua gravidade. (RO nº
1851/2012-106-03-00.1, 1ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Emerson José
Alves Lage. maioria, DEJT 06.08.2013).
Exceção a gradação da penalidade, ocorre quando o empregado comete uma
falta grave. Se a infração cometida é grave o bastante para quebrar a confiança que
deve revestir a relação empregatícia, não há necessidade de observância do critério
pedagógico da pena e da gradação de penalidades.
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. ATO DE IMPROBIDADE. Em se tratando de ato
de improbidade do empregado, não há que se falar em gradação da pena, pois
se trata de um ato doloso, que quebra de uma vez por todas a confiança e torna
insustentável a manutenção da relação de emprego. (RO nº 1886/2012-112-03-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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00.2, 1ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. José Eduardo de Resende Chaves


Júnior. unânime, DEJT 02.04.2013).

3.1.4.8.RELAÇÃO ENTRE A FALTA E O TRABALHO


A falta grave deve estar diretamente ligada com o trabalho ou causar prejuízos
nas obrigações contratuais. A falta pode ocorrer dentro ou fora do estabelecimento.
Vólia12, esclarece que:
“em princípio, a conduta do trabalhador fora do local de trabalho ou do horário de
trabalho, quando este é executado externamente, não tem qualquer influência na
relação de emprego, não podendo o empregador limitar ou fiscalizar os atos prati-
cados pelo trabalhador fora do expediente. Exceção a esta regra ocorre quando a
conduta social do empregado repercutir diretamente na relação contratual”.

3.1.4.9.GRAVIDADE
Quanto à avaliação da gravidade da falta, é conveniente citar o que ensina Wag-
ner Giglio:
“Para avaliar a gravidade da falta, aqueles elementos objetivos auxiliarão a deter-
minar a intensidade da infração, e os fatores subjetivos serão levados em conta
na apuração do grau de abalo da confiança. Assim, do ponto de vista objetivo,
somente haverá justa causa para a dispensa do empregado quando o ato falto-
so por ele praticado constituir em uma violação séria das principais obrigações
resultantes do contrato de trabalho. Do ponto de vista subjetivo, somente existirá
justa causa para o rompimento do vínculo se resultar irreversivelmente destruída
a confiança votada no empregado, de tal forma que se torne virtualmente impos-
sível a subsistência da relação de emprego.” (GIGLIO, Wagner. Justa Causa. 7.ed.
São Paulo: Saraiva, 2000.)
Assim, o empregador deve verificar se a falta praticada pelo empregado foi gra-
ve, caso não seja grave, deve ser aplicada a pena de advertência ou suspensão respei-
tando a proporcionalidade entre a punição e o ato motivador da punição.
A título de exemplo, menciono os seguintes julgados:
RECURSO DE EMBARGOS. REGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ATESTADO MÉDI-
CO FALSO. CONDUTA REITERADA. ATO DE IMPROBIDADE. RESOLUÇÃO DO CON-
TRATO DE TRABALHO. JUSTA CAUSA. 1. A Segunda Turma, com fundamento nas
premissas fáticas firmadas no acórdão regional, concluiu que, não obstante a con-
fissão do empregado, perante a Comissão de Sindicância, quanto à adulteração
de atestado médico, por duas vezes, não configura ato de improbidade apto a
justificar a dispensa por justa causa, porque não observada a devida gradação na
aplicação das penalidades de suspensão, seguida pela dispensa por justa causa.
2. O princípio da proporcionalidade entre a falta e a punição, embora discipline
hipóteses em que o empregador exorbite seu poder disciplinar, não tem aplica-
ção irrestrita, pois encontra limites no direito assegurado em lei ao empregador
para rescindir o contrato de trabalho, por justa causa, quando o empregado co-
meter falta grave prevista no art. 482 da CLT, agindo com menoscabo do dever de
confiança recíproca, ou seja, violando o elemento fiduciário que alicerça o vínculo
empregatício. 3. A jurisprudência desta Corte Superior sinaliza não ser exigível a
gradação de sanções, quando a gravidade do ato praticado justifica a sumária
12 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11.ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: MÉTODO, 2015
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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dispensa por justa causa, hipótese dos autos. Precedentes. Recurso de embargos
conhecido e provido. (E-RR - 132200-79.2008.5.15.0120, Relator Ministro: Walmir
Oliveira da Costa, Data de Julgamento: 29/11/2018, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 07/12/2018)
[...] DISPENSA POR JUSTA CAUSA. ATO DE IMPROBIDADE. “ROUPEIRO” DE CLUBE
DE FUTEBOL. ACUSAÇÃO DE SUBTRAÇÃO DE TRÊS CAMISETAS USADAS PARA
ENTREGA A TORCEDOR, POR INTERMÉDIO DE ATLETA PROFISSIONAL DO CLU-
BE. INEXISTÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO ACERCA DA DESTINAÇÃO DE UNI-
FORMES USADOS. CONSTATAÇÃO DA PRÁTICA DE TROCA E DISTRIBUIÇÃO DE
CAMISETAS USADAS. AUSÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE A CONDUTA
DO TRABALHADOR E A PENALIDADE APLICADA. 1. Extrai-se do acórdão regional
que “o reclamante, na condição de roupeiro do S. C. Internacional, foi acusado de
furto qualificado e demitido por justa causa”, “em razão do fornecimento de três
camisetas usadas, com valor de mercado de R$ 40,00 a R$ 70,00 cada uma” e
que “sequer houve advertência, ou suspensão prévia”. Conforme registrado pelo
TRT, “um torcedor/colecionador pediu camiseta a um jogador profissional de seu
clube do coração, o qual repassou o pedido ao seu roupeiro” e, em razão disso, o
reclamante “alcançou três camisetas usadas”. Acrescentou, ainda, que “não há
normatização editada pelo reclamado no sentido de ordenar de forma precisa a
concessão das camisetas usadas, ou em desuso”, de modo que “foram necessá-
rias várias diligências e questionamentos, até se chegar à conclusão de que os
roupeiros não estão autorizados a dar uniformes usados ou em desuso”. Ressal-
tou que “próprio clube, quando realiza partidas no Beira-Rio, distribui, nos interva-
los, em torno de dez camisetas para torcedores”, que “também é normal a troca
de camisetas entre os jogares”, bem como ser incontroverso que o reclamante “já
distribuiu camisetas na presença de dirigentes, quando em jogos pelo interior do
Estado”. Concluiu, assim, que “a conduta do réu foi excessiva e desproporcional,
pois cabia a ele, em meio a todas essas peculiaridades que envolvem o mundo do
futebol, no qual estão inseridos os roupeiros, jogadores e torcedores, regulamen-
tar o fornecimento e distribuição de camisetas em desuso pelo clube”. Dito isso,
deu provimento ao recurso ordinário do reclamante para reverter para imotivada a
modalidade da dispensa do autor. 2. Este Tribunal firmou jurisprudência no senti-
do de que para o adequado exercício do poder disciplinar do empregador, há que
se observar o preenchimento de certos requisitos, entre eles a proporcionalidade
entre o ato faltoso e a penalidade aplicada. Precedentes. 3. Na hipótese dos autos,
conclui-se que a conduta praticada pelo reclamante, de fornecer três camisetas
usadas a um dos atletas profissionais do clube, não se reveste da gravidade ne-
cessária à configuração da justa causa ensejadora da dispensa motivada (artigo
482, “a”, da CLT), máxime quando o quadro fático revela a ausência de normatiza-
ção interna a respeito e, até mesmo, alguma permissibilidade do clube quanto à
distribuição e troca de camisetas usadas, de modo a gerar dúvida razoável quanto
à própria ilicitude da conduta. Recurso de revista não conhecido, no tema. [...] (TST,
1ª Turma, RR-119600-32.2008.5.04.0023, Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann,
Data de Julgamento: 09.12.2015, DEJT 18.12.2015).
É possível aplicar justa causa por uma única conduta faltosa do trabalhador?
Sim!
A ruptura contratual por justa causa motivada em uma única conduta faltosa do
trabalhador não se revela desproporcional quando demonstrada a gravidade da falta
cometida, nesse sentido, o TST decidiu conforme informativo 185 do TST.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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Informativo – 185 do TST - Ação rescisória. Demissão por justa causa. Condu-
ta faltosa. Única ocorrência. Possibilidade. Art. 482, “h”, da CLT. Não violação. A
ruptura contratual por justa causa motivada em uma única conduta faltosa do
trabalhador não se revela desproporcional quando demonstrada a gravidade da
falta cometida. No caso, o autor descumpriu normas empresariais de seguran-
ça ao enviar informações confidenciais de clientes para seu e-mail pessoal, com
evidente quebra de confiança necessária à continuidade do vínculo de emprego
com a instituição financeira. Assim, não há falar em ofensa ao art. 482, “h”, da
CLT. Sob esse fundamento, a SBDI-II, por unanimidade, conheceu do recurso or-
dinário e, no mérito, por maioria, negou-lhe provimento, mantendo, portanto, a
improcedência da ação rescisória. Vencida a Ministra Delaíde Miranda Arantes.
TST-RO-101576-28.2016.5.01.0000, SBDI-II, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues,
25.9.2018.

3.1.4.10.COMUNICAÇÃO DO MOTIVO DA JUSTA CAUSA


A justa causa deve ser expressa e inequívoca na comunicação da dispensa ao
empregado, exatamente por ser meio atípico de terminação do pacto laboral. Assim, o
empregador deve comunicar por escrito o empregado quais os motivos que ensejaram
a sua dispensa por justa causa. Tal fato é necessário, para que o empregado tenha o
direito de se defender da acusação que lhe é imputada.
Nesse sentido, a jurisprudência:
RECURSO ORDINÁRIO. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. APERFEIÇOAMENTO DO
ATO. INEXISTÊNCIA NA COMUNICAÇÃO DE QUE A DESPEDIDA FOI POR JUSTA
CAUSA. RESOLUÇÃO CONTRATUAL DESQUALIFICADA. Para a efetiva aplicação
de pena disciplinar tão drástica como a de justa causa na relação individual de
emprego, situação que representa exceção ao que normalmente acontece, faz-se
indispensável que a conduta obreira seja reprovável a ponto de resolver o contra-
to individual de trabalho e reste inconteste que o trabalhador soube da causa da
terminação do contrato no ato de seu rompimento, diante dos requisitos exigidos
para aperfeiçoamento do ato jurídico. Assim, inexistindo prova de que a justa cau-
sa foi informada à trabalhadora no momento da comunicação do rompimento do
contrato, há de se presumir o despedimento sem justa causa. (Recurso Ordinário
nº 0011110-81.2014.5.01.0024, 10ª Turma do TRT da 1ª Região/RJ, Rel. Leonardo
Dias Borges. DOERJ 16.03.2017). (destaquei)
[..] FALTA GRAVE. COMUNICAÇÃO. A norma coletiva fixa a obrigação de informar
por escrito o motivo de despedimento por justa causa, bem como de apresentar
razões para a aplicação das sanções disciplinares. Na jurisprudência desta Casa
sedimentou-se o entendimento de que o empregador deve informar por escrito o
motivo da dispensa do empregado, seja qual for o fundamento. Porém, no caso
de imposição de outras penalidades menos gravosas, não há igual entendimento.
Deve-se adaptar a cláusula ao precedente (TST, RODC 314200-64.2004.5.04.0000,
SDC, Rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula, DJ 23.11.2007) (destaquei)

3.1.5. HIPÓTESES DE JUSTA CAUSA


3.1.5.1.ATO DE IMPROBIDADE
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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empregador:
a) ato de improbidade;
Segundo Maurício Godinho Delgado13, na obra Curso de Direito do Trabalho, ato
de improbidade é assim definido:
“Trata-se de conduta faltosa obreira que provoque dano ao patrimônio empresa-
rial ou de terceiro, em função de comportamento vinculado ao contrato de traba-
lho, com o objetivo de alcançar vantagem para si ou para outrem. O ato de im-
probidade, embora seja também mau procedimento, afrontando a moral genérica
imperante na vida social, tem a particularidade, segundo a ótica justrabalhista, de
afetar o patrimônio de alguém, em especial do empregador, visando, irregularmen-
te, a obtenção de vantagens para o obreiro ou a quem este favorecer.”
Vólia Bomfim (2013, p. 1059) informa que existem duas correntes:
Corrente objetiva: entende a improbidade como atos praticados contra o patrimô-
nio da empresa ou de terceiros (Orlando Gomes, Maurício Godinho, Wagner Giglio,
Gustavo Filipe Barbosa Garcia).
Corrente subjetiva: improbidade é todo ato de desonestidade, ato contrário aos
bons costumes, à moral, à lei. (Délio Maranhão, Vólia Bomfim, Sérgio Pinto Mar-
tins, Lamarca, Russomano, Alice Monteiro de Barros, Saad, Süssekind). Essa cor-
rente entende de forma mais ampla, no sentido de que a improbidade não se res-
tringe à lesão ao patrimônio da empresa, podendo ser também um ato desonesto
dotado de gravidade.
Ao tratar da improbidade, ensina Wagner D. Giglio que:
“A improbidade é uma daquelas justas causas que se configuram pela prática de
um único ato faltoso, pois seria absurdo exigir que, depois da sua prática, o em-
pregador devesse manter nos seus quadros um empregado que decaiu de sua
confiança, representando um risco para o patrimônio da empresa, até que uma
reiteração da prática viesse a autorizar o despedimento.” (in Justa Causa. São
Paulo: LTr Editora, 1981. 2ª tiragem, p. 61).
Exemplos:
FURTO
REVERSÃO DA JUSTA CAUSA. ATO DE IMPROBIDADE. FURTO DE PRODUTOS DE
LIMPEZA. O empregador possui a prerrogativa de dispensar o empregado, mas
quando elege a modalidade justa causa por infração obreira, a conduta faltosa
deve ser bem definida e a prova bastante robusta, sem deixar dúvidas quanto
à capitulação legal, ao nexo causal, à proporcionalidade e à contemporaneidade
da atuação disciplinar. A presença desses elementos de convencimento nos au-
tos, permitindo a visualização de conduta ilícita capaz de influenciar o ambiente
laborativo e de impossibilitar efetivamente a continuidade das obrigações con-
tratuais, impede a reversão da penalidade máxima aplicada com amparo em Lei
(CLT, artigo 482). No caso, ficou robustamente demonstrado que a autora furtou
produtos de limpeza, ou tentou furtá-los, do hospital no qual prestava os seus ser-
viços, acarretando a quebra da fidúcia necessária para a continuidade da relação
empregatícia entre as partes. Logo, houve prova bastante do ato ilícito imputado
à empregada, do nexo causal, da proporcionalidade e da contemporaneidade da
atuação disciplinar do empregador. Recurso da reclamante improvido. (TRT 24ª
13 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16° Ed. São Paulo. LTr, 2017, p. 1359.
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R.; ROT 0024223-02.2020.5.24.0041; Segunda Turma; Rel. Des. João de Deus Go-
mes de Souza; Julg. 19/08/2021; DEJTMS 19/08/2021; Pág. 137)

JUSTA CAUSA. ATO DE IMPROBIDADE. A tentativa de furto de produtos da re-


clamada é conduta ilícita e grave do empregado, suficiente para impossibilitar a
continuidade da relação de emprego, pois há quebra definitiva da confiança. Justa
causa para a despedida que se confirma com base no art. 482, “a”, da CLT. Recurso
ordinário do reclamante desprovido. (RO nº 0020769-72.2014.5.04.0205, 7ª Tur-
ma do TRT da 4ª Região/RS, Rel. Wilson Carvalho Dias. j. 28.01.2016, unânime).
JUSTA CAUSA - ATO DE IMPROBIDADE. Correta a decisão que entendeu provada
a justa causa para o despedimento quando verificado, seja através de imagens
trazidas aos autos, quanto por meio da prova testemunhal, que o reclamante pra-
ticou ato de improbidade, furto de mercadorias, capaz de quebrar a fidúcia impres-
cindível à continuidade do vínculo empregatício. (Recurso Ordinário nº 0000058-
16.2015.5.07.0015, 2ª Turma do TRT da 7ª Região/CE, Rel. Jefferson Quesado
Júnior. j. 19.09.2016).
A justa causa por ato de improbidade deve ser aplicada com provas robustas,
caso contrário, o empregado pode conseguir anular a justa causa em juízo e conseguir
ainda, a procedência do pedido de danos morais, Vejamos:
II. REVERSÃO DA DISPENSA POR JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DO FURTO. ABUSO DE DIREITO. DANO MORAL CONFIGURADO. REPARAÇÃO
DEVIDA. RECURSO DA RECLAMADA DESPROVIDO. A conduta da reclamada de
atribuir ao reclamante uma conduta de improbidade (furto), a qual, pelo conjunto
probatório, sequer existiu, configura ato ilícito capaz de violar a esfera extrapa-
trimonial do reclamante, sua honra e dignidade, excedendo os limites do seu di-
reito disciplinar, sendo devida a indenização a que foi condenada na origem, nos
termos dos arts. 187 e 927 do Código Civil. Recurso Desprovido. (TRT 8ª R.; ROT
0000321-84.2020.5.08.0002; Primeira Turma; Rel. Des. Marcus Augusto Losada
Maia; DEJTPA 21/10/2021)
ATESTADO MÉDICO – FALSIFICADO/RASURADO
JUSTA CAUSA - ATESTADO MÉDICO FALSO - ATO DE IMPROBIDADE. A apresenta-
ção de atestado médico falso à empregadora, com a finalidade de justificar faltas
ao serviço, encontra tipificação no art. 482, “a”, da CLT, autorizando a dispensa por
justa causa, ante a violação da fidúcia imprescindível à continuidade da relação de
emprego. (RO nº 0000225-93.2014.5.03.0107, 3ª Turma do TRT da 3ª Região/MG,
Rel. Luis Felipe Lopes Boson. Publ. 07.03.2016).
JUSTA CAUSA. ATESTADO MÉDICO. FALSIFICAÇÃO. Hipótese em que a prova dos
autos confirma ter o empregado praticado ato de improbidade, ensejador da reso-
lução do contrato de trabalho. (Recurso Ordinário nº 0001470-79.2010.5.01.0061,
6ª Turma do TRT da 1ª Região/RJ, Rel. Nelson Tomaz Braga. j. 27.02.2013, unâni-
me, Publ. 20.03.2013).
QUEBRA DE CONFIANÇA
2. RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO POR JUSTA CAUSA. ATO DE IMPRO-
BIDADE. EMPREGADO QUE CONCEDE DESCONTOS NA FATURA DE CONTA TE-
LEFÔNICA DA PRÓPRIA MÃE. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO EMPREGADOR.
DESCONTOS CONCEDIDOS FORA DOS TRÂMITES COMUNS DA RECLAMADA.
CONFISSÃO DO RECLAMANTE DA CONDUTA FALTOSA. QUEBRA DE CONFIAN-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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ÇA. ARTIGO 482, “a”, DA CLT. MATÉRIA FÁTICA. O Tribunal Regional consignou
que o Reclamante reconheceu os fatos que ensejaram a dispensa por justa cau-
sa, por ato de improbidade. Segundo o depoimento do Reclamante, registrado no
acórdão regional, “o autor confessou que “concedeu os descontos constantes na
sindicância em favor de sua genitora; ... a genitora do autor não acessou os ca-
nais de comunicação da empresa para solicitar os descontos mencionados, tendo
sido concedido pelo depoente; ... acredita que concedeu os descontos em duas ou
três oportunidades, revogando os descontos anteriores; ... o depoente trabalhou
no setor de contas e faturas; ... no setor de faturas há possibilidade de concessão
de descontos, mas não na alçada autorizada no setor de retenção, que possui um
nível maior” (fl. 379 - destaquei)” (fl. 673). Consignou, ainda, o acórdão regional
que, “além da confissão expressa do autor, prova exponencial, que deve prevalecer
sobre as demais, por razões óbvias, a conduta irregular do autor é confirmada por
outro meio relevante de prova, qual seja, a sindicância interna da apuração do fato”
(fl. 673). A sindicância instaurada pela Reclamada, consoante consta do acórdão
regional, concluiu que o Reclamante efetuou, utilizando senha e login pessoais,
descontos nas faturas de conta telefônica de sua mãe, destacando que “esses
descontos foram concedidos de forma irregular, pois em desacordo com as nor-
mas e procedimentos internos por não existir registros de atendimento ao cliente”
(fl. 674). Como ressaltado pela decisão regional recorrida, o Reclamante confes-
sa ter concedido descontos irregulares nas contas telefônicas de sua genitora,
sem autorização da Reclamada, de forma não oficial por canais não ordinários de
comunicação da empresa. Trata-se de conduta faltosa, passível de dispensa por
justa causa, pois o Reclamante reconheceu que provocou prejuízo ao patrimônio
empresarial, no decorrer do exercício da prestação laboral, com o objetivo de obter
vantagem para outrem, no caso a sua genitora. Revela-se, outrossim, como quebra
de confiança a inviabilizar a continuidade do contrato de trabalho, não merecen-
do reforma a decisão agravada que manteve o teor do acórdão regional. De todo
modo, investigar a conduta do Reclamante, para descaracterizar o ato de improbi-
dade, exige o sopesamento do contexto probatório dos autos, procedimento veda-
do em recurso de revista, nos termos da Súmula 126/TST. Agravo interno de que
se conhece e a que se nega provimento. (AG-AIRR nº 1434-65.2015.5.09.0020, 7ª
Turma do TST, Rel. Ubirajara Carlos Mendes. j. 23.10.2018, Publ. 26.10.2018).
A justa causa por ato improbidade é considerada uma das infrações mais grave
das infrações disciplinares, pois em tese, envolve acusação de um crime previsto na
Lei, e se caracteriza, em geral, pela prática de furto, roubo, estelionato, apropriação in-
débita, o que configura obtenção ilícita de uma vantagem de qualquer ordem.
3.1.5.2.INCONTINÊNCIA DE CONDUTA OU MAU PROCEDIMENTO
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
Nas palavras de Maurício Godinho Delgado, a incontinência de conduta exposta
no item “b” do art. 482 da CLT:
“Consiste na conduta culposa do empregado que atinja a moral, sob o ponto de
vista sexual, prejudicando o ambiente laborativo ou suas obrigações contratuais.”
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Na visão de Gustavo Filipe Barbosa Garcia, incontinência de conduta:


“Refere-se a ato imoral praticado pelo empregado, mas específico quanto a moral
sexual. Tem-se, assim, o caso de ato de pornografia ou libidinoso, impróprio ao
ambiente de trabalho, praticado pelo empregado, extrapolando o limite de razoa-
bilidade aceito pela sociedade.”
O assédio sexual configura ato de incontinência de conduta, devendo o assedia-
dor ser desligado por justa causa. O Código Penal disciplina o assédio sexual (art. 216-
A): “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
Segue a jurisprudência sobre incontinência de conduta:
MANTIDA DECISÃO QUE APLICOU JUSTA CAUSA POR TROCA DE E-MAILS POR-
NOGRÁFICOS - A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho negou provimen-
to ao agravo de instrumento de um empregado da Produtos Roche Químicos e
Farmacêuticos S.A. pelo qual buscava reverter, no TST, decisão do Tribunal Regio-
nal do Trabalho da 1ª Região (RJ) que considerou correta sua demissão por justa
causa, após a comprovação de utilização do e-mail corporativo da Roche para tro-
ca de mensagens com conteúdo pornográfico. O Regional, ao negar o seguimento
do recurso ao TST, declarou que, diante dos depoimentos do autor da ação e de
testemunhas, não restava dúvida de que ele, mesmo sabendo que a sua conduta
era proibida na empresa, assim participava da troca de e-mails com conteúdo
inadequado entre um grupo de empregados da Roche. A decisão acrescenta que
ficou comprovado também que o trabalhador dispensado não apenas recebeu
mensagens de outros colegas como também as enviou, “participando inclusive
de um grupo que trocava entre si e-mails com conteúdo pornográfico”. Ao analisar
o agravo de instrumento do empregado, o relator, ministro Augusto César Leite de
Carvalho, constatou que a decisão do TRT estava em convergência com o artigo
482, alíneas b e h, da CLT, pois o juízo fundamentou sua decisão no fato de que a
justa causa foi aplicada em decorrência de “incontinência de conduta e ato de in-
disciplina ou insubordinação, devidamente comprovados”. Dessa forma, entendeu
que, para se acolher a tese recursal do trabalhador de não cometimento de ato
faltoso, seria necessário o reexame de fatos e provas, procedimento vetado pela
Súmula 126 do TST. Processo: AIRR-157200-16.2005.5.01.0043 – Data da notícia:
21/03/13.
JUSTA CAUSA. INCONTINÊNCIA DE CONDUTA COMPROVADA. REPERCUSSÃO
NO AMBIENTE DE TRABALHO. Sopesando o conjunto probatório, podemos afir-
mar que o episódio do banheiro aconteceu. O próprio reclamante, tanto na pe-
tição inicial como em seu depoimento, admitiu a existência do fato. O que sofre
variações são as versões dadas pelas pessoas envolvidas no fato e pelo fato. De
qualquer sorte não se pode deixar de levar em conta que são 2 (duas) mulheres
que estão alegando o comportamento ofensivo do reclamante. Esse comporta-
mento materializado por palavras e gestos libidinosos. Não é crível que essas 2
(duas) mulheres, que podem ser casadas, estivessem combinadas para denun-
ciar o mesmo fato, no mesmo cenário, ocorrido no mesmo momento e realizado
pela mesma pessoa. Esse ato de libidinagem do reclamante ficou assim carac-
terizado, porque o fato ocorreu não no trabalho, mas no ambiente de trabalho,
configurando um desrespeito e desconsideração à empresa empregadora e a to-
dos os companheiros de trabalho e não apenas as 2 (duas) empregadas. (RO nº
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0001569-83.2014.5.08.0103, 2ª Turma do TRT da 8ª Região/PA-AP, Rel. Eliziário


Bentes. unânime, DEJT 03.12.2015)
Já o mau procedimento, consiste em um ato imoral praticado pelo empregado,
mas que não se relaciona com a moral sexual, mas a moral de um modo geral. Ampli-
tude que permite enquadrar dentro desse dispositivo:
> O fato do empregado dirigir sem habilitação ou sem autorização da empre-
sa.
> Utilizar drogas no ambiente de trabalho ou ali traficar.
> Pichar paredes do estabelecimento.
> Danificar equipamentos da empresa.
Arestos sobre mau procedimento:
EMENTA: JUSTA CAUSA - MAU PROCEDIMENTO - Deve ser mantida a justa cau-
sa aplicada ao empregado, fiscal de loja, quando demonstrado nos autos que
este agiu de forma totalmente incorreta na abordagem de cliente do empregador,
transgredindo notoriamente normas de procedimento da função, incorrendo em
prática de atos de excessiva violência e de desrespeito à dignidade de outrem,
com a infração do cumprimento do dever de boa conduta. Hipótese em que, da-
das as circunstâncias concretas do caso, restou quebrada a fidúcia necessária
para a manutenção do vínculo entre as partes, caracterizando-se a justa causa
prevista no art. 482, “b” da CLT. Processo: 01593-2008-024-03-00-0 RO – Relator:
Jorge Berg de Mendonça.
JUSTA CAUSA. Mau procedimento (letra b do art. 482 da CLT) consiste na quebra
de regras sociais de boa conduta, em que seriam quebradas regras sociais que
devem ser observadas por todos no trato com o próximo, tais como: polidez, pa-
ciência e educação, ou seja, atos contrários à boa convivência entre as pessoas,
tipificação que se encaixa no quadro fático-probatório dos autos, pois o autor se
envolveu em uma briga com um colega de trabalho dentro da empresa. (Recurso
Ordinário nº 0068600-80.2008.5.01.0021, 4ª Turma do TRT da 1ª Região/RJ, Rel.
Luiz Augusto Pimenta de Mello. j. 23.10.2012, unânime, Publ. 19.11.2012).

3.1.5.3.NEGOCIAÇÃO HABITUAL
Fundamento:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador,
e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empre-
gado, ou for prejudicial ao serviço;
Resende14 explica que:
“conforme a doutrina amplamente dominante, a alínea contempla, na verdade,
dois tipos distintos.
O primeiro seria a concorrência desleal, assim considerado todo ato do emprega-
do, seja vendendo produtos, seja prestando serviços, em franca atitude de concor-
rência com o empregador, violando, assim, o dever de lealdade a ser observado
pelas partes contratantes.
14 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro. São Paulo: MÉTODO, 2016.
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Exemplo: vendedor de uma loja de cortinas oferece ao cliente da loja, por preço
menor, o produto, desde que contratado diretamente com ele.
No caso, a concorrência desleal não decorre necessariamente de cláusula expres-
sa de não concorrência no contrato de trabalho, bastando que a conduta do em-
pregado configure prejuízo ao empregador, seja pela redução das vendas, pela
perda de clientes etc.
Observe-se, por oportuno, que, embora a exclusividade não seja uma característi-
ca intrínseca ao contrato de trabalho, nada impede seja estipulada cláusula neste
sentido, mormente se a atividade assim o recomenda.
É claro que, se a atividade exercida paralelamente pelo empregado não afeta a
atividade do empregador, não se configura a hipótese legal.
O segundo tipo seria a negociação habitual no ambiente de trabalho, com prejuízo
ao serviço. Neste caso, não se trata de concorrência desleal, e sim de certa desídia
do empregado, em decorrência da venda de produtos no local de trabalho. Assim,
a secretária de uma clínica que passa boa parte do tempo oferecendo produtos
de beleza aos pacientes de seu empregador certamente será relapsa no exercício
de suas atribuições, o que, por certo, enquadrará sua conduta no tipo estudado.
Nas duas hipóteses, é requisito legal que o empregador não permita a atividade do
empregado, pois, do contrário, haverá perdão tácito.”

3.1.5.4.CONDENAÇÃO CRIMINAL
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havi-
do suspensão da execução da pena;
Mozart Victor Russomano, (Comentários..., 3ª ed., vol. II, pág. 682), explica que:
“Só servem como justas causas as condenações criminais que impedem a conti-
nuidade física da prestação do trabalho.”
O empregado que se encontra preso, não pode ser demitido por justa causa por
ter abandonado o emprego, senão vejamos a decisão abaixo;
A 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, por unanimidade de
votos, manteve a sentença do 1º grau que condenou a Brasfort – Administração
e Serviços Ltda. e, subsidiariamente, o Condomínio Lake Side Hotel Residence a
pagarem as verbas rescisórias da demissão de empregado que foi preso durante
cinco meses e inocentado. A empresa o demitiu por justa causa sob a alegação
de abandono do emprego. Segundo o juiz Braz Henriques de Oliveira, relator do
processo, é evidente a inexistência de abandono de emprego, pois o afastamento
do trabalho não foi causado por interesse do empregado em se desvincular da
empresa, mas da sua impossibilidade de comparecer ao serviço, já que se encon-
trava sob custódia da autoridade policial. Tão logo em liberdade, ele compareceu
ao trabalho, momento em que foi informado de sua demissão. Segundo o relator,
a prisão, por si só, não pode ser motivo para a rescisão do contrato de trabalho,
pois a Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso LVII, consagra o princípio da
inocência, pontificando que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”, ou seja, até o fim do processo. Em seu
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entendimento, o período de afastamento há que ser considerado suspensão do


contrato do trabalho, não sendo objeto de contagem no tempo de serviço e nem
para fins de recolhimento do FGTS. (3ª Turma – 00143-2005-011-10-00-3-ROPS
do TRT da 10ª Região - Publicação: 20/07/2005).
A rescisão do contrato de trabalho por justa causa nesta hipótese, requer dois
requisitos:
a) sentença condenatória transitada em julgado.
b) inexistência de suspensão de execução da pena.
3.1.5.5.DESÍDIA
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
Se procurarmos nos dicionários o significado de “desídia”, podemos verificar
que pode ser sinônimo de preguiça, ausência de força ou de estímulo para agir, inércia,
desleixo, falta de cuidado ou de atenção e etc..
Wagner Giglio15, em sua obra “Justa causa”, mostra minúcias, afirmando ser a
desídia:
“[...] desleixo, descuido, indolência, negligência, omissão, incúria, desatenção, indi-
ferença, desinteresse, relaxamento, falta de exação no cumprimento do dever, má
vontade.
No mesmo sentido, escreve Maurício16 Godinho Delgado:
A desídia é a desatenção reiterada, o desinteresse contínuo, o desleixo contumaz
com as obrigações contratuais. Para autorizar a resolução culposa do contrato,
exige, assim, regra geral, a evidenciação de um comportamento repetido e habi-
tual do trabalhador, uma vez que as manifestações de negligência tendem a não
ser tão graves, caso isoladamente consideradas. Neste quadro, a conduta desi-
diosa deve merecer exercício pedagógico do poder disciplinar pelo empregador,
com gradação de penalidades, em busca da adequada ressocialização do obreiro.
Mostrando-se ineficaz essa tentativa de recuperação, a última falta implicará na
resolução culposa do contrato de trabalho. É claro que pode existir conduta desi-
diosa que se concentre em um único ato, excepcionalmente grave. Embora não
se trate da regra geral, se isso ocorrer, não há que se falar em gradação de pena-
lidades.
Segue algumas decisões sobre a desídia:
JUSTA CAUSA. DESÍDIA. Desídia comprovada por reiteração de faltas sem qual-
quer qualquer justificativa. Artigo 482, alínea e, da CLT. (TRT 4ª R.; ROT 0020394-
12.2021.5.04.0016; Décima Primeira Turma; Relª Desª Vania Maria Cunha Mattos;
Julg. 21/10/2021; DEJTRS 03/11/2021)
DESÍDIA. APLICAÇÃO DO ART. 482, ALÍNEA E, DA CLT. JUSTA CAUSA OBREIRA
15 GIGLIO, Wagner D. Justa causa. São Paulo, LTr Editora, 1981, pág. 127
16 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 2014. pág. 1194/1195
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CARACTERIZADA. A desídia se constitui em falta grave cometida pelo empregado,


através de atos reiterados ou por um único ato, desde que sejam graves as suas
consequências no pacto laboral e é caracterizada como apta à rescisão contra-
tual por justa causa, na forma do art. 482, e, da CLT, devendo ser comprovada de
forma cabal pelo empregador, nos moldes dos artigos 818 da CLT, c/c art. 373, II,
do NCPC, o qual desincumbiu-se a contento. Sentença mantida. RECURSO OR-
DINÁRIO CONHECIDO E NEGADO PROVIMENTO. (TRT 7ª R.; RORSum 0000500-
97.2020.5.07.0017; Segunda Turma; Rel. Des. Francisco Jose Gomes da Silva; DE-
JTCE 27/10/2021; Pág. 249)
JUSTA CAUSA. DESÍDIA. Hipótese em que sobejamente caracterizada a desídia da
reclamante no desempenho das suas funções, em razão de reiteradas ausências
injustificadas ao trabalho, revestindo-se de legalidade a sua despedida por justa
causa, com fundamento no artigo 482, alínea e, da CLT. (TRT 4ª R.; ROT 0021172-
29.2019.5.04.0023; Segunda Turma; Relª Desª Tânia Regina Silva Reckziegel; Julg.
07/10/2021; DEJTRS 11/10/2021)
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. DESÍDIA. O artigo 482, “e”, da CLT dispõe que cons-
titui justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador a desídia
do trabalhador no desempenho de suas respectivas funções. A figura aqui tipifica-
da é caracterizada pela negligência reiterada e habitual do empregado no desem-
penho das suas atribuições. Na hipótese, o quadro fático delineado no acórdão
regional revela que o “ponto crucial do debate gira em torno da não comunicação,
pelo autor, de que se submeteria a procedimento cirúrgico, e que havia requerido,
junto ao INSS, a concessão de auxílio-doença, tendo se ausentado do serviço des-
de o dia 25.07.2009”. Ademais, a Corte de origem constatou que a “tese do autor é
de que comunicou a ré, por meio telefônico e por fax, da realização da cirurgia (fl.
04). No entanto, tal alegação não ficou comprovada nos autos, não tendo o autor
nem sequer apresentado cópia do comprovante de emissão do fax”. Ressaltou,
também, que, “ainda que eventualmente ficasse comprovado que o autor efetiva-
mente comunicou a ré de que seria submetido a procedimento cirúrgico no dia
21.08.2009, tal fato não justifica as faltas ocorridas entre 25.07.2009 a 20.08.2009.
Também não justifica as faltas no período de 05.05.2009 a 11.11.2009”. Assim,
concluiu que é “válida a rescisão contratual por justa causa, baseada no art. 482, ‘
e’, da CLT”. Logo, o exame da tese recursal, no sentido de que o autor não agiu com
desídia, esbarra no teor da Súmula nº 126 do TST, pois demanda o revolvimento
dos fatos e das provas. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (AIRR
nº 309-42.2010.5.09.0245, 7ª Turma do TST, Rel. Cláudio Mascarenhas Brandão. j.
06.12.2017, Publ. 15.12.2017).
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. PRESSUPOSTOS. São requisitos para a dispensa
do empregado por motivo justo a comprovação da prática da falta grave a ele atri-
buída, o nexo de causalidade entre a falta e a dispensa, a imediatidade entre a falta
cometida e a punição, bem como a ausência de dupla punição para o mesmo fato.
No caso de desídia, necessário se faz ainda que o empregador, antes de dispensar
o empregado por justa causa, demonstre a aplicação de medidas pedagógicas,
a fim de proporcionar a este oportunidade de analisar o seu comportamento e
buscar soluções para evitar a repetição dos erros cometidos. Tendo o emprega-
dor observado todos esses requisitos e, mostrando-se inviável a manutenção do
contrato de trabalho, ante a habitualidade das faltas praticadas pelo obreiro, cor-
reta a pena máxima imposta ao empregado. (RO nº 0000465-42.2015.5.03.0109,
8ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Convocado Rodrigo Ribeiro Bueno. Publ.
01.04.2016).
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DISPENSA POR JUSTA CAUSA CONFIGURADA. PERDA DA ESTABILIDADE GES-


TANTE. A dispensa por justa causa, além de ter que ser robustamente provada
pelo empregador, só é cabível em situações extremas. Além disso, a justa causa
deve ser atual para justificar a despedida. In casu, extrai-se da prova documental,
que houve o descumprimento do regulamento da empresa, cumulado com adver-
tência e suspensões por ausências injustificadas, caracterizando uma conduta
desidiosa e reiterada praticada pela reclamante a autorizar a dispensa por justa
causa. Verifica-se, ainda, que as punições disciplinares ocorreram dentro de um
prazo considerado razoável. Por fim, uma vez que a aplicação da justa causa foi
fundamentada em ato de desídia praticado e reiterado pela autora, com fulcro na
letra “e” do artigo 482 da CLT, não há falar que a despedida da reclamante foi arbi-
trária, o que acarreta a perda do direito à estabilidade provisória prevista no artigo
10, inciso II, alínea “b”, do ADCT, uma vez que o citado dispositivo veda a dispensa
arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, e não a dispensa por justa
causa. (RO nº 0001931-96.2014.5.03.0015, 9ª Turma do TRT da 3ª Região/MG,
Rel. Convocado Olivia Figueiredo Pinto Coelho. Publ. 18.03.2016).
JUSTA CAUSA. DESÍDIA. TENTATIVA DE RESSOCIALIZAÇÃO E CARÁTER PEDA-
GÓGICO DO PODER DISCIPLINAR. A principal obrigação do empregado é a de se
colocar à disposição do empregador para prestação dos serviços. As faltas repeti-
das evidenciam o desleixo contumaz com obrigação contratual. Na lição de Mau-
rício Godinho Delgado, a aplicação de penalidades no Direito do Trabalho envolve
três requisitos. Um requisito objetivo ligado à tipicidade e gravidade da conduta,
outro subjetivo envolvendo autoria e dolo ou culpa, e um terceiro, nominado cir-
cunstancial, que diz respeito à atuação disciplinar do empregador. No caso dos
autos, constata-se que a ré observou a gradação das penalidades, em vista de
ressocializar a trabalhadora, atendendo ao caráter pedagógico da pena. (RO nº
1067/2012-018-03-00.5, 7ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Convocado Már-
cio Toledo Gonçalves. unânime, DEJT 05.09.2013).

3.1.5.5.1.EMBRIAGUEZ
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
f) embriaguez habitual ou em serviço;
A embriaguez prevista na alínea “f” pode ser de dois modos.
Primeira possibilidade - embriaguez habitual - ocorre fora do local de trabalho,
mas repercute negativamente na atividade do trabalhador. Um ato isolado, não confi-
gura justa causa.
O TST tem entendimento de que a embriaguez habitual é vista, atualmente, como
doença (denominada síndrome de dependência do álcool, sob a referência F-10.2 da
OMS), o que requer tratamento, e não punição. Assim, à embriaguez habitual, tem sido
excluída das hipóteses geradoras da dispensa do empregado por justa causa.
Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. 1. DOENÇA GRAVE. DE-
PENDENTE QUÍMICO. PRESUNÇÃO DE DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. REINTE-
GRAÇÃO. O quadro descrito pelo Regional demonstra que o reclamante é por-
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tador de doença crônica, que provoca estigma ou preconceito, razão pela qual a
dispensa sem justa causa nesse caso afronta a dignidade da pessoa humana e
presume-se discriminatória, na forma da Súmula nº 443 do TST. Sendo, portanto,
o reclamante portador de alcoolismo crônico, enfermidade catalogada no Códi-
go Internacional de Doenças pela Organização Mundial da Saúde - OMS como
Síndrome de Dependência do Álcool (substância psicoativa que compromete o
funcionamento do cérebro e, consequentemente, as funções cognitivas do indi-
víduo) correta a decisão recorrida a qual reconheceu discriminatória a dispensa
sem justa causa e determinou a reintegração no emprego, por ser encontrar o em-
pregado acometido de doença grave. [..] (AIRR - 2181-72.2013.5.12.0029, Relatora
Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 23/11/2016, 8ª Turma, Data
de Publicação: DEJT 25/11/2016).
RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. 1. DEPEN-
DÊNCIA QUÍMICA. ALCOOLISMO CRÔNICO. DISPENSA MERAMENTE ARBITRÁRIA
DE EMPREGADO PORTADOR DA DOENÇA, AINDA QUE NÃO OCUPACIONAL. PRE-
SUNÇÃO RELATIVA DE DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. REINTEGRAÇÃO. SÚMULA
443/TST. ATO DISCRIMINATÓRIO E JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEL. A Constitui-
ção da República veda prática discriminatória no contexto da sociedade política
(Estado) e da sociedade civil, inclusive no âmbito empresarial e empregatício (art.
3º, IV, in fine, CF). Não se olvide, outrossim, que faz parte do compromisso do
Brasil, também na ordem internacional (Convenção 111 da OIT), o rechaçamento
a toda forma de discriminação no âmbito laboral. Nessa linha, o TST editou a Sú-
mula 443, mencionando a presunção de discriminação relativamente à dispensa
de trabalhadores portadores de doença grave que suscite estigma ou preconceito.
Por sua vez, hodiernamente, o alcoolismo é considerado uma doença pela Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS), formalmente reconhecida pelo Código Interna-
cional de Doenças (CID – referência F-10.2), e se recomenda que o assunto seja
tratado como matéria de saúde pública. Com efeito, presume-se discriminatória a
ruptura arbitrária do contrato de trabalho, quando não comprovado um motivo jus-
tificável, em face de circunstancial debilidade física, psíquica e moral decorrente
da síndrome de dependência do álcool, que, regra geral, é vista com preconceito e
discriminação no seio da sociedade. Registre-se, entretanto, que a presunção de
ilegalidade do ato de dispensa do empregado portador de doença grave, ressoan-
te na jurisprudência trabalhista, não pode ser de modo algum absoluta, sob risco
de se criar uma nova espécie de estabilidade empregatícia totalmente desvincula-
da do caráter discriminatório que se quer reprimir. Assim, além da viabilidade da
dispensa por justa causa, é possível também que a denúncia vazia do contrato de
trabalho seja considerada legal e não se repute discriminatório o ato de dispensa
do empregado dependente químico. Porém, esse não é o caso dos autos. No caso
concreto, é incontroverso que o Autor, há muitos anos, é portador da síndrome de
dependência de álcool, encontrando-se, à época da dispensa, em fase de reabilita-
ção, com acompanhamento psicoterápico e medicamentoso. Frise-se ainda que
a doença era de conhecimento da empresa, que, inclusive, já havia manifestado
a intenção de despedir o reclamante em razão da mesma. Consequentemente,
presume-se discriminatória a dispensa, nos moldes do entendimento da Súmu-
la 443/TST, sendo devida a reintegração do empregado. Recurso de revista não
conhecido no aspecto. [...] (TST, 3ª Turma, RR-775-73.2013.5.04.0664, Rel. Min.
Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 24.02.2016, DEJT 26.02.2016).
Segunda possibilidade - a embriaguez em serviço - ocorre quando o emprega-
do utiliza bebida alcoólica no próprio trabalho. Neste caso, basta uma única ocorrência
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para o empregado ser dispensado por justa causa. Nesse sentido, a jurisprudência:
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. FALTA GRAVE. A dispensa por justa causa é a
penalidade aplicada ao empregado em virtude da prática de ato grave que faz de-
saparecer a confiança que existe entre o empregado e seu empregador. No caso,
a constatação da embriaguez em serviço, na função de vigia desempenhada pelo
autor, é fato grave o suficiente para caracterizar a justa causa, a teor do art. 482,
“f”, da CLT. (TRT 3ª R.; ROT 0010771-41.2019.5.03.0041; Nona Turma; Rel. Des.
Ricardo Marcelo Silva; Julg. 21/10/2021; DEJTMG 22/10/2021; Pág. 1824)
JUSTA CAUSA. Comprovação de faltas pretéritas no curso da relação de emprego.
Atrasos, faltas injustificadas e recusa a trabalhar. Derradeiro ato faltoso promovi-
do pela empregada. Embriaguez em serviço (CLT, artigo 482, letra f). Reconheci-
mento autoral da ingestão de bebida alcoolica e a não habitualidade da prática.
Ausência de dependência química. Sentença mantida. (TRT 10ª R.; ROT 0000379-
77.2018.5.10.0010; Primeira Turma; Red. Juiz Conv. Grijalbo Fernandes Coutinho;
DEJTDF 02/08/2021; Pág. 460)
JUSTA CAUSA. MOTORISTA PROFISSIONAL. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. Não ha-
vendo evidência de que o empregado é portador de síndrome de dependência quí-
mica comprometedora do seu discernimento e vontade, a embriaguez em serviço,
no caso de motorista profissional que labora no transporte rodoviário de passa-
geiros, constitui infração de extrema gravidade, que quebra a fidúcia necessária à
manutenção do vínculo empregatício e legitima a dispensa por justa causa. Re-
curso do reclamante a que se nega provimento. (TRT 18ª R.; RORSum 0010340-
31.2020.5.18.0016; Segunda Turma; Rel. Des. Platon Teixeira de Azevedo Filho;
Julg. 09/06/2021; DJEGO 10/06/2021; Pág. 12)
DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA. CONSUMO DE BEBIDA ALCOÓLICA DURANTE
O EXPEDIENTE. AUSÊNCIA DE HISTÓRICO DE ALCOOLISMO. QUEBRA DA CON-
FIANÇA. Afastada a hipótese de alcoolismo e comprovado que o reclamante se
ausentou do posto de trabalho e consumiu bebida alcoólica durante o expediente,
sem autorização do empregador, tem-se como configurada a falta grave a ense-
jar a ruptura do contrato por justa causa, ante a quebra de confiança inerente à
relação de emprego, caracterizando a desídia no desempenho das funções. Re-
curso do autor a que se nega provimento. (Processo nº 04971-2015-663-09-00-6
(17947-2016), 6ª Turma do TRT da 9ª Região/PR, Rel. Francisco Roberto Ermel.
DEJT 27.05.2016).
JUSTA CAUSA - EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. Diferentemente da embriaguez ha-
bitual, em que o empregado sofre da doença caracterizada como alcoolismo
crônico, catalogada no Código Internacional de Doenças com a nomenclatura de
“síndrome de dependência do álcool” (CID-F-10.2), a embriaguez em serviço é ti-
pificada como ato de indisciplina, como mau procedimento ou incontinência de
conduta, podendo resultar na dispensa por justa causa. Contudo, assim como
os demais motivos ensejadores da dispensa motivada, a sua ocorrência habitual
deve ser claramente provada, o que, no caso em exame, não foi feito a conten-
to pela reclamada. Recurso a que se nega provimento. (RO nº 00039-2008-103-
03-00-3, 1ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Marcus Moura Ferreira. DJMG
25.07.2008, p. 08).
Nas lições de Vólia Bonfin17:
“a embriaguez deve ser entendida além do seu sentido gramatical, para atingir to-
das as substâncias químicas embriagantes, tóxicas ou entorpecentes como: éter,
17 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11.ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: MÉTODO, 2015
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haxixe, ópio, maconha, cocaína, morfina, atropina, santonina, bala, álcool, óxido de
carbono, cloral, crack, skank etc. O tipo pode ocorrer mesmo que a doença não
tenha nenhuma relação com o trabalho.
Se for fortuita, acidental, involuntária afasta-se a justa causa como regra geral.
Logo, se o empregado tomou um remédio para dor de cabeça e, por ser alérgico a
alguma substância contida neste medicamento, fato até então a ele desconheci-
do, tem reação alucinógena, não pode ser enquadrado no tipo.”

3.1.5.6.VIOLAÇÃO DE SEGREDO DA EMPRESA


Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
g) violação de segredo da empresa;
É dever do empregado manter segredo acerca dos detalhes que cercam a ati-
vidade do empregador. Este dever decorre também de sua discrição. Por isso o refrão
popular reza que “o segredo é a alma do negócio”18.
Segredo é tudo que, sendo referente à produção ou negócio e do conhecimento
de poucos, não deve, pela vontade de seus detentores, ser violado.
Julgados sobre o tema:
DESPEDIDA POR JUSTA CAUSA. INCONTINÊNCIA DE CONDUTA OU MAU PROCE-
DIMENTO. VIOLAÇÃO DE SEGREDO DA EMPRESA. CARACTERIZAÇÃO. A despedi-
da por justa causa é autorizada nos casos em que o empregado comete infração
ou ato faltoso grave, que importe a quebra da fidúcia necessária à continuidade do
contrato de trabalho. Provadas a incontinência de conduta ou mau procedimento
e a violação de segredo da empresa pelo empregado na execução do contrato de
trabalho, é lícita a despedida por justa causa, com fulcro no art. 482, b e g, da CLT.
(TRT 4ª R.; ROT 0021022-62.2016.5.04.0020; Quarta Turma; Rel. Des. João Paulo
Lucena; Julg. 18/08/2021; DEJTRS 20/08/2021)
JUSTA CAUSA. REVERSÃO. ATO LESIVO À HONRA DO EMPREGADOR. VIOLAÇÃO
DE SEGREDO DA EMPRESA. GRADAÇÃO DA PENALIDADE. DESNECESSIDADE.
Não há falar em necessidade de gradação para a aplicação da pena mais gra-
ve, pois o ato lesivo à honra do empregador, bem como a violação de segredo
da empresa, mesmo que único, afasta a confiança imprescindível na relação en-
tre empregado e empregador. Recurso não provido. (TRT 24ª R.; ROT 0024481-
20.2020.5.24.0006; Segunda Turma; Rel. Des. João Marcelo Balsanelli; Julg.
22/06/2021; DEJTMS 22/06/2021; Pág. 1457)
JUSTA CAUSA. APROPRIAÇÃO INDEVIDA DE DADOS SIGILOSOS PARA FAVORECI-
MENTO PRÓPRIO E DA CONCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DE SEGREDO DE EMPRESA.
MAU PROCEDIMENTO CONFIGURADO. Postas as premissas de que o emprego é
a fonte essencial de subsistência do trabalhador e que a continuidade do contrato
de trabalho se presume, é forçoso concluir que a irregularidade de conduta, pondo
em risco a manutenção do emprego, do qual o trabalhador necessita para seu sus-
tento, contraria a ordem natural do sistema de relações do trabalho e, assim, deve
ser cabalmente provada. In casu, ficou constatado que o autor apoderou-se de um
bem incorpóreo e sigiloso da reclamada, qual seja, a lista de clientes e potenciais
clientes constante do banco de dados da ré, e a utilizou com a nítida intenção de
18 Ibidem.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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captar clientes para sua nova empregadora, caracterizando violação de segredo.


Configurado, ainda, o mau procedimento, em virtude da desleal atitude do em-
pregado, ao trair a confiança e a fidelidade necessárias na prestação de serviços
em prol da reclamada. Desse modo, logrou êxito a ré em demonstrar um quadro
comportamental de mau procedimento por parte do demandante, bem como a
violação de segredo de empresa, e que a punição aplicada não se revelou exces-
sivamente rigorosa. Acolhe-se, portanto, a alegação de falta grave atribuída ao
demandante, sendo, pois, de rigor, o reconhecimento do despedimento motivado.
Recurso do autor ao qual se nega provimento. (RO nº 00030748620135020079
(20141101100), 4ª Turma do TRT da 2ª Região/SP, Rel. Ricardo Artur Costa e Tri-
gueiros. unânime, DOe 09.01.2015).
JUSTA CAUSA. CONFIGURAÇÃO. TRANSMISSÃO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS A
EMPRESAS CONCORRENTES. VIOLAÇÃO DE SEGREDO. Comprovado que a recla-
mante enviou e-mail para empresa concorrente, contendo informações sigilosas
da sua empregadora, acerca da movimentação de contêineres na área portuária,
resta configurada a quebra de fidúcia que deve nortear o contrato de trabalho, fato
que autoriza, com espeque na letra “g” do art. 482 da CLT, a justa causa aplicada
pela reclamada. (RecOrd nº 0000346-35.2013.5.05.0032 (219521/2014), 2ª Tur-
ma do TRT da 5ª Região/BA, Rel. Dalila Andrade. DJe 24.10.2014).

3.1.5.7.INDISCIPLINA E INSUBORDINAÇÃO
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
A indisciplina, é a desobediência às normas gerais. Tais normas, devem ser
cumpridas por todos os empregados ou por muitos ou, ainda, por qualquer pessoa
num certo setor ou estabelecimento.
Julgados sobre o tema:
JUSTA CAUSA. ATO DE INDISCIPLINA. DESCUMPRIMENTO DE TREINAMENTO
POR AGENTE DE SEGURANÇA DE ESTAÇÃO DE METRÔ. CONDUTA QUE TIPIFICA
A FALTA GRAVE. A atitude de agente de segurança que descumpre norma geral
recebida em treinamento e, após conter usuário reage dando-lhe empurrão e de-
safiando demais usuários presentes no local tipifica ato de indisciplina, bastante
para a ruptura do contrato de trabalho por justa causa. Recurso da reclamada a
que se dá provimento. (RO nº 00002382920155020061 (20160564993), 9ª Turma
do TRT da 2ª Região/SP, Rel. Bianca Bastos. unânime, DOe 15.08.2016).
[..] JUSTA CAUSA. INDISCIPLINA E INSUBORDINAÇÃO. Caso em que o reclamante
e um colega subiram na torre da Oi por curiosidade e para avistar o panorama da
cidade, tendo o colega tirado uma foto e postado em rede social. O reclamante
não tinha permissão para tal ato, e expôs-se a risco indevidamente. Justa causa
reconhecida. Recurso da empresa provido. (RO nº 0020443-67.2014.5.04.0123,
1ª Turma do TRT da 4ª Região/RS, Rel. Marçal Henri dos Santos Figueiredo. j.
22.09.2016, unânime).
A insubordinação é o descumprimento, por parte do empregado, de ordem di-
reta a ele dirigida. Tais ordens são emanadas do empregador ou superior hierárquico.
Assim, a insubordinação ocorre por condutas que implicam no descumprimento de
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ordem direta do empregador ao empregado.


3.1.6. ABANDONO DE EMPREGO
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
i) abandono de emprego;
O abandono configura-se pela intenção - elemento subjetivo - de deixar definiti-
vamente o emprego. O elemento objetivo, evidencia-se quando o empregado se ausên-
cia por mais de 30 dias do trabalho.
JUSTA CAUSA - ABANDONO DE EMPREGO. Constatando-se que os elementos
objetivos e subjetivos para caracterização do abandono de emprego foram devi-
damente demonstrados pela reclamada, impõe-se o provimento do recurso para
manter a justa causa para a dispensa do autor, excluindo-se da condenação as
verbas rescisórias reconhecidas em 1º grau. (RO nº 0001747-61.2014.5.03.0106,
6ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Rogerio Valle Ferreira. Publ. 11.04.2016).
ABANDONO DE EMPREGO. CARACTERIZAÇÃO. O abandono de emprego, por ser
penalidade severa ensejadora da ruptura do contrato por justo motivo, deve ser
cabalmente demonstrado nos autos pelo empregador, mormente por se tratar de
fato impeditivo do direito à percepção de verbas rescisórias e contrário ao princí-
pio da continuidade da relação de emprego. Além do animus em não mais retor-
nar ao trabalho, o abandono de emprego somente se confirma após 30 dias de
faltas injustificadas ao serviço, cabendo ao empregador notificar o empregado da
intenção de aplicar-lhe a máxima penalidade. (RO nº 0000479-23.2014.5.03.0089,
9ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. João Bosco Pinto Lara. Publ. 30.03.2016).
Súmulas do TST sobre o tema;
Súmula n. 32 do TST - Abandono de emprego - Presume-se o abandono de em-
prego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a
cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de não o fazer.
Súmula n. 73 do TST - Despedida. Justa causa - A ocorrência de justa causa, salvo
a de abandono de emprego, no decurso do prazo do aviso prévio dado pelo em-
pregador, retira do empregado qualquer direito às verbas rescisórias de natureza
indenizatória.
Súmula n. 62 do TST - Abandono de emprego - O prazo de decadência do direito
do empregador de ajuizar inquérito em face do empregado que incorre em aban-
dono de emprego é contado a partir do momento em que o empregado pretendeu
seu retorno ao serviço.

3.1.6.1.PUBLICAÇÃO EM JORNAL
Diz o art. 17 do CC/02:
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações
ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
No julgamento do RR nº 0000721-66.2012.5.04.0204 publicado no DEJT - Diá-
rio Eletrônico da Justiça do Trabalho em 22.10.2015, o TST entendeu que dá ensejo à
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indenização por danos morais por ser considerada conduta ofensiva à dignidade da
pessoa humana, publicação em jornal de nota de convocação de retorno ao serviço da
empregada, sob pena de abandono de emprego.
RECURSO DE REVISTA. 1. EMPREGADA DOENTE. CONTRATO DE TRABALHO
SUSPENSO. CIÊNCIA DO EMPREGADOR DA IMPOSSIBILIDADE FÍSICA DE COM-
PARECIMENTO PESSOAL AO LOCAL DE TRABALHO. NOTA DE CONVOCAÇÃO EM
JORNAL. ABANDONO DE EMPREGO. DANOS MORAIS. DECISÃO DENEGATÓRIA.
MANUTENÇÃO. A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não
mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envol-
vendo, naturalmente, também a conquista e afirmação de sua individualidade no
meio econômico e social, com repercussões positivas conexas no plano cultural
- o que se faz, de maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e diversifi-
cado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego. No caso
concreto, consta na decisão recorrida que o Banco Reclamado tinha ciência de
que a Reclamante estava convalescendo de uma cirurgia, não podendo, portan-
to, comparecer pessoalmente ao local do trabalho, mas, mesmo assim, publicou
em jornal nota de convocação da Obreira, sob pena de abandono de emprego.
Houve ofensa à dignidade da Reclamante, configurada na situação fática descri-
ta nos autos, pois o procedimento adotado pelo Banco Reclamado dá ensejo à
indenização por danos morais por ser considerada conduta ofensiva à dignidade
da pessoa humana, sendo dispensada a prova de prejuízo concreto. A conduta,
portanto, mostrou-se abusiva, ferindo a própria boa-fé objetiva e a regra do artigo
17 do CCB, como bem afirmado pelo TRT. Inviável o processamento do recurso
de revista se não preenchidos os requisitos do art. 896 da CLT. Recurso de revista
não conhecido no tema. [..] (RR nº 0000721-66.2012.5.04.0204, 3ª Turma do TST,
Rel. Maurício Godinho Delgado. unânime, DEJT 22.10.2015).
Cito abaixo, trechos da fundamentação da decisão:
 O direito à indenização por danos morais encontra amparo no art. 5º, X, da CF
c/c o art. 186 do Código Civil, bem como nos princípios basilares da nova ordem
constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade
humana e da valorização do trabalho humano (art. 1º, da CF/88).
A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se res-
tringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente,
também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e
social, com repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de
maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas,
mediante o trabalho e, particularmente, o emprego.
No caso concreto, consta na decisão recorrida que o Banco Reclamado tinha ciên-
cia de que a Reclamante estava convalescendo de uma cirurgia, não podendo,
portanto, comparecer pessoalmente ao local do trabalho, mas, mesmo assim, pu-
blicou em jornal nota de convocação da Obreira, sob pena de abandono de em-
prego.
Houve ofensa à dignidade da Reclamante, configurada na situação fática descrita
nos autos, pois o procedimento adotado pelo Banco Reclamado dá ensejo à inde-
nização por danos morais por ser considerada conduta ofensiva à dignidade da
pessoa humana, sendo dispensada a prova de prejuízo concreto.
Além disso, a conduta do Banco, portanto, mostrou-se abusiva, ferindo a própria
boa-fé objetiva e a regra do artigo 17 do CCB, como bem afirmado pelo TRT.
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Outros julgados sobre o tema:


RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. DANO
MORAL. CONVOCAÇÃO DO EMPREGADO POR MEIO DA IMPRESA PARA RETOR-
NO AO TRABALHO, SOB PENA DE CONFIGURAR-SE O ABANDONO DO EMPREGO.
EXPOSIÇÃO DESNECESSÁRIA E VEXATÓRIA. LESÃO CONFIGURADA. I - Não é de-
mais lembrar que o dano moral prescinde de prova da sua ocorrência, em virtude
de ele consistir em ofensa a valores humanos, bastando a demonstração do ato
em função do qual a parte diz tê-lo sofrido. II - É certo, de outro lado, que o inciso
X do artigo 5º da Constituição elege como bens invioláveis, sujeitos à indenização
reparatória, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. III -
Encontra-se aí subentendida, no entanto, a preservação da dignidade da pessoa
humana, em razão de ela ter sido erigida em um dos fundamentos da República
Federativa do Brasil, a teor do artigo 1º, inciso III da Constituição. IV - Da análise do
acórdão impugnado, observa-se ter o Regional deferido o pagamento de indeniza-
ção pelo dano moral de que fora vítima o recorrido visto que seu nome foi objeto
de chamamento, via imprensa escrita, para retorno ao trabalho em dois dias úteis,
sob pena de caracterizar-se o abandono do emprego. V - No curso no pacto labo-
ral compete às partes nortear suas ações imbuídas da boa-fé objetiva, devendo os
problemas inerentes ao ambiente corporativo ter solução viabilizada interna cor-
poris, de modo a minimizar o potencial danoso de toda controvérsia. V - No caso
dos autos, ao expor o nome do recorrido em mídia externa, alheia aos interesses
da organização, o empregador evidentemente excedeu a órbita do seu poder di-
retivo, potencializando as repercussões negativas na vida pessoal, social e profis-
sional do ofendido. VI - Nessa linha, a conduta supostamente “preventiva” tem o
condão de causar grande transtorno ao empregado, em face da ampla circulação
inerente à mídia escrita, valendo ressaltar ser a medida de efetividade totalmente
duvidosa, pois não há garantia de que o informe chegará em bom tempo ao único
e real interessado, assim como impossibilitada estará a respectiva comprovação
de tal fato. VII - Assim, com zelo à boa-fé objetiva, caberia ao empregador emitir
correspondência direcionada à residência do empregado em falta contínua, adver-
tindo-lhe quanto às consequências do não retorno ao labor em prazo pré-fixado,
de modo que, sob qualquer ótica que se aprecie o caso, avulta a convicção sobre
a ocorrência do dano. VIII - Acha-se aí, portanto, materializado o ato em função do
qual tem guarida a pretensão indenizatória, por conta do notório abalo emocional
decorrente da exposição desnecessária e vexatória, sendo flagrante a abusividade
na conduta do empregador. IX - Irretocável, pois, a decisão Regional, a qual não
só não violou os dispositivos tidos por afrontados como lhes deu a devida e es-
correita aplicação jurídica. X - O aresto colacionado não se presta ao confronto de
teses, por inespecífico à luz da Súmula 296, I, do TST, pois contempla premissa
fática indiscernível na decisão recorrida, no sentido de que a publicação ocorrera
“em jornal de circulação limitada e direcionada à área de interesse específico”. IX -
Recurso não conhecido. (RR - 10060-95.2015.5.15.0088, Relator Ministro: Antonio
José de Barros Levenhagen, Data de Julgamento: 08/03/2017, 5ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 10/03/2017)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. CONVO-
CAÇÃO PARA O RETORNO AO SERVIÇO , SOB PENA DE CONFIGURAR ABANDONO
DE EMPREGO. PUBLICAÇÃO EM JORNAL DE GRANDE CIRCULAÇÃO. 1. No caso
dos autos, o e. TRT afastou a indenização de R$ 3.000,00 (três mil reais) deferida
na origem, pelos danos morais que a reclamante teria sofrido com a divulgação de
seu nome em jornal de grande circulação, por três dias consecutivos, com o obje-
tivo de convocar-lhe para o retorno ao serviço, sob pena de enquadrar a situação
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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como abandono de emprego, considerada a ausência ao trabalho por mais de 30


dias . 2. A demonstração de divergência jurisprudencial sugere o provimento do
agravo de instrumento, nos termos do artigo 3º da Resolução Administrativa nº
928/2003. Agravo de instrumento conhecido e provido. DANO MORAL. CONVOCA-
ÇÃO PARA O RETORNO AO SERVIÇO SOB PENA DE CONFIGURAR ABANDONO DE
EMPREGO. PUBLICAÇÃO EM JORNAL DE GRANDE CIRCULAÇÃO. INDENIZAÇÃO
CABÍVEL. 1. Cediço que o empregador deve sempre zelar pela segurança, bem-es-
tar e dignidade do empregado no ambiente de trabalho e que, havendo o descum-
primento por parte da empresa dessas obrigações contratuais implícitas, emerge
contra ela o dever de indenizar. 2. Com efeito, ao exercer de forma abusiva seu
poder diretivo – art. 2º da CLT-, com a utilização de práticas degradantes de que é
vítima o trabalhador, o empregador viola direitos de personalidade do empregado,
constitucionalmente consagrados (art. 1º, III). A afronta à dignidade da pessoa
humana, aliada ao abuso do poder diretivo do empregador, enseja a condenação
ao pagamento de compensação por dano moral. 3. Por sua vez, o abandono de
emprego representa o descumprimento, por parte do empregado, do contrato de
trabalho, em que ficou acertada a obrigação de prestar o serviço. Num tal contex-
to, a interrupção da prestação configura a quebra do pacto pelo obreiro. Todavia,
para ser tida como abandono, essa ausência há de ser prolongada e contínua,
cabendo ao empregador o ônus de provar a descontinuidade da prestação por
parte do empregado. 4. Assim, entende-se que, antes de enquadrar as ausências
da reclamante como um efetivo abandono do emprego, cumpria à reclamada noti-
ficá-la diretamente, por via postal ou outra forma direta e minimamente expositiva,
preservando ao máximo a privacidade da autora (artigo 5º, X, da Lei Maior). 5. Na
espécie , as testemunhas noticiaram que tem parente da reclamante trabalhando
na reclamada e, além disso, a autora sempre morou no mesmo endereço , todavia
a reclamada não comprovou, de forma documental, que não localizou a autora
antes de realizar as publicações em jornal convocando-a a retornar ao serviço e
enquadrando-a, por conseguinte, em abandono de emprego (rescisão contratual).
6. Nesse contexto, conclui-se que a reclamada agiu de forma abusiva e, portanto,
ilícita, a resultar inexorável o dever de indenizar. Restabelecida, portanto, a deci-
são de primeiro grau que fixou em R$ 3.000,00 (três mil reais) a compensação
pleiteada. Recurso de revista conhecido e provido” (RR-359-69.2011.5.09.0007, 1ª
Turma, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 07/03/2014).
Porém, o tema não é pacífico, pois, alguns julgados do TST e de alguns TRTs
entendem pelo não cabimento do dano moral, conforme decisões abaixo:
RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONVOCAÇÃO EM
JORNAL. ABANDONO DE EMPREGO. O Regional concluiu por manter a sentença a
qual indeferiu a indenização por dano moral à reclamante. Destacou não ter sido
constatado que a reclamada tenha agido de má-fé ao veicular de notícia em publi-
cação local com o objetivo de caracterizar o abandono de emprego. Aduziu, assim,
não haver prejuízo aos direitos da personalidade da reclamante, porquanto esta,
confessadamente, deixou de comparecer à sede da reclamada, tendo retornado
apenas depois de tomar ciência da nota. Ademais, consta da sentença, cujo teor
foi transcrito no acórdão recorrido, que a reclamante não comprovou ter comuni-
cado a reclamada sobre o encaminhamento do pedido previdenciário. Diante do
contexto delineado pela Corte a quo, pelo qual não restaram demonstrados danos
à esfera moral da reclamante, não se verifica violação direta e literal dos artigos 5º,
X, da CF e 186 e 927 do CC. Arestos inservíveis, nos termos do art. 896, “a”, da CLT,
da Súmula nº 296 do TST e da OJ nº 111 da SDI-1 do TST. Recurso de revista não
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conhecido. (TST - RR 20582-62.2016.5.04.0571 - 8.ª Turma - j. 6/2/2019 - julgado


por Dora Maria da Costa)
DANOS MORAIS - PUBLICAÇÃO DE ANÚNCIO - ABANDONO DE EMPREGO. Em
suas alegações, o Demandante irresigna-se com o julgado, pontuando a ocor-
rência de dano moral pela publicação de anúncio de abandono de emprego em
jornal da imprensa local. Sustenta a violação dos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da CF e
186 e 927 do CCB. A decisão recorrida consignou que a publicação consistiu em
uma convocação feita pelo empregador ao empregado para que comparecesse
à empresa para retornar ao trabalho ou para justificar as ausências ao serviço.
Entendeu a Corte a quo que na aludida publicação não houve nenhuma menção
ofensiva à honra do empregado faltoso, até porque o empregador não publicaria a
comunicação em um jornal se o empregado, de fato, não estivesse se ausentando
do trabalho. Nesse sentido, concluiu que a publicação constituiu exercício regular
do direito potestativo do empregador de convocar o empregado ausente, quando
outros meios de contato se revelam infrutíferos, como no caso do reclamante.
Das circunstâncias narradas pelo Regional, notadamente quanto aos aspectos de
que a “ publicação na imprensa constitui exercício regular do direito potestativo
do empregador de convocar o empregado ausente, quando outros meios de con-
tato se revelam infrutíferos “ e de que não havia “ na aludida publicação qualquer
menção ofensiva à honra do empregado faltoso “, não representam vulneração
aos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da CF e 186 e 927 do CCB . A publicação, conforme
consta, resultou como o último meio de que dispunha a empresa para requerer a
presença do empregado, a fim de dissolver o pacto, diante das anteriores tentati-
vas, que não lograram êxito. Note-se, ademais, que o reclamante, ao que emerge
da decisão, impossibilitou todas as tentativas de contato feitas pela empresa, a
fim de oficializar a ruptura do pacto, vindo, depois, em juízo, postular a indenização
por dano moral por publicação de edital para comparecimento ao trabalho, único
meio que restou para que se pudesse dar-lhe ciência da convocação. É dizer, dá
causa ao ato da empresa, para depois imputar-lhe a pecha de ofensivo a sua hon-
ra. No mínimo, a atitude beira à litigância de má-fé. Por todos os prismas que se
observe a decisão, não se vislumbra o dano à honra, à vida privada ou à imagem
do reclamante, restando incólumes os comandos da CF e da lei elencados pela
parte como vulnerados. Recurso de revista não conhecido. CONCLUSÃO: Recur-
so de revista conhecido parcialmente e desprovido” (RR-33-48.2011.5.04.0331, 3ª
Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 07/10/2016).
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. DANO MORAL. ABANDONO DE EM-
PREGO. PUBLICAÇÃO EM JORNAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. Incontroverso nos au-
tos que a providência adotada pela reclamada de publicar em jornal a convoca-
ção da autora para retorno ao trabalho se deu em face da ausência de resposta
aos telegramas enviados, a denotar a falta de interesse em dar continuidade ao
contrato de trabalho e acarretar a rescisão por justa causa. Nesse contexto, não
há como se configurar o dano moral, uma vez que inexistente qualquer conduta
ilícita da reclamada, sobretudo porque, antes mesmo da ciência pela reclamada
da existência de ação judicial em seu desfavor, já havia adotado providência no
sentido de convocar a autora para o trabalho. Inviável, pois, se concluir que a recla-
mada agiu de forma abusiva e, portanto, ilícita. Recurso de revista não conhecido.
(RR-10518-52.2011.5.04.0511, 6ª Turma, Relator Ministro Aloysio Correa da Veiga,
DEJT 15/08/2014).
DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE POSSÍVEL ABANDONO DE EMPREGO EM
NOTA DE JORNAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. Embora o edital publicado em jornal
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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local não se configure como meio eficaz de convocação do empregado para re-
torno ao posto de trabalho, sob pena de abandono de emprego, tal fato, por si só,
não é suficiente para respaldar indenização por dano moral, mormente quando
a empresa comprovou não ter conseguido localizar o empregado no endereço
por ele fornecido. Inexistindo nos autos qualquer indício de que o empregador
agira no intuito de prejudicar o empregado, nem que a providência patronal tenha
repercutido negativamente na obtenção de novo emprego, não se há de falar em
indenização reparatória. Sentença mantida. Recurso do reclamante a que se nega
provimento. (RO nº 01236/2014-025-13-00.2, 1ª Turma do TRT da 13ª Região/PB,
Rel. Ana Maria Ferreira Madruga. j. 25.08.2015, unânime, DEJT 03.09.2015).
DANO MORAL. ABANDONO DE EMPREGO NÃO COMPROVADO. PUBLICAÇÃO DE
NOTA EM JORNAL DE CIRCULAÇÃO LOCAL. Conquanto não tenha sido compro-
vada em Juízo a alegação da empresa de que o trabalhador incorreu em falta gra-
ve, consistente em abandono de emprego, conforme nota convocatória publicada
em jornal de circulação local, sendo reconhecido o direito à quitação das parcelas
rescisórias decorrentes da modalidade de resilição contratual por iniciativa do em-
pregador e sem justa causa; tal fato, por si só, não configura violação aos direi-
tos da personalidade do obreiro, sendo indevida, pois, a indenização pelo alegado
dano moral. (RO nº 0010989-53.2014.5.14.0004, 2ª Turma do TRT da 14ª Região/
AC-RO, Rel. Carlos Augusto Gomes Lôbo. j. 27.03.2015, unânime).

3.1.6.2.ATO LESIVO DA HONRA OU DA BOA FAMA E OFENSAS FÍSICAS


Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa,
ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o em-
pregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou
de outrem;
O empregado que agride fisicamente qualquer pessoa em serviço, seu empre-
gador ou superior hierárquico, deve ser demitido por justa causa. A agressão praticada
em serviço rompe a confiança mínima necessária à continuidade da relação emprega-
tícia.
Deve também ser demitido por justa causa, o empregado que pratica atos lesi-
vos à honra e boa fama. Tais atos são aqueles que o Código Penal denomina crimes
contra a honra, ou seja, a calúnia, a difamação e a injúria.
3.1.6.3.PRÁTICA CONSTANTE DE JOGOS DE AZAR
Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
l) prática constante de jogos de azar.
Segundo a professora Vólia19:
19 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11.ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: MÉTODO, 2015
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“a falta apontada na alínea l do art. 482 da CLT refere-se à prática constante de


jogos de azar. Constante quer dizer habitual, costumeiramente, com repetição.
Por isso, o tipo caracteriza-se quando o empregado é contumaz ou viciado em
jogo fora do local de trabalho, mas, em virtude desta doença, traz consigo as re-
percussões deste descontrole para o trabalho. O nexo de causalidade é necessá-
rio, sob pena de não restar configurada esta falta.
O empregado que joga durante o trabalho pode ser demitido por improbidade ou
mau procedimento, mesmo que tenha praticado o ato uma única vez.”

3.1.6.4.PERDA DA HABILITAÇÃO PROFISSIONAL


Fundamento legal:
CLT, Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício da
profissão, em decorrência de conduta dolosa do empregado. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017)
A perda da habilitação profissional deve ser por conduta dolosa do empregado.
Ocorre o dolo quando a pessoa sabe o que está fazendo e conhece as consequências
derivadas de sua ação.
Godinho20 explica que:
Há profissões, contudo, em que a perda da habilitação ou dos requisitos impera-
tivos fixados em lei para o seu exercício torna inviável o efetivo cumprimento do
contrato de trabalho.
É o que se passa, por exemplo, com a perda da habilitação para a prática da Medi-
cina. E, de certa maneira, com a perda da habilitação para o exercício da profissão
de Motorista.
Assim, se um advogado é contratado como empregado de um grande escritório
jurídico de Manaus e, 1 ano após a sua contratação, vem a perder a habilitação para o
exercício de sua profissão após responder processo administrativo disciplinar na OAB,
o empregador pode despedi-lo por justa causa, se sua conduta for considerada dolosa.
Vejamos o que diz o julgado abaixo:
DISPENSA. JUSTA CAUSA. PERDA DE HABILITAÇÃO. CONFIGURAÇÃO. Restando
comprovada que a dispensa decorreu da perda de habilitação, em decorrência de
conduta dolosa do empregado, atendendo aos ditames do artigo 482, m, da CLT,
não há como se determinar a reversão da justa causa aplicada ao empregado.
(TRT 21ª R.; ROT 0000959-67.2019.5.21.0010; Primeira Turma; Relª Desª Joseane
Dantas dos Santos; DEJTRN 06/08/2020; Pág. 1318)

3.1.6.5.DECLARAÇÃO FALSA PARA RECEBIMENTO DO VALE TRANS-


PORTE
Declaração falsa para recebimento do vale transporte ou o uso indevido, gera
justa causa?
20 DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil: com os comentários à Lei n. 13.467/2017. São Paulo
: LTr, 2017.
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Diz o art. 7º, § 3º, do Decreto nº 95.247/87, que regulamenta a Lei n° 7.418/85,
que institui o Vale-Transporte:
“a declaração falsa ou o uso indevido do vale-transporte constituem falta grave.”
Assim, nos termos do § 3º do art. 7º do Decreto 95.247/87, a declaração falsa
do empregado para recebimento de vale-transporte, constitui em falta grave e o resul-
tado é a extinção do contrato de emprego na modalidade justa causa, nos termos do
art. 482, alínea “a” da CLT, ou seja, ato de improbidade.
Nesse sentido, a decisão abaixo:
RECURSO DO RECLAMANTE. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. FALTA GRAVE. Se
o reclamante admite a prática de falta grave, prestando informações falsas para
fins de recebimento de valores majorados de vale-transporte, causando prejuízos
ao empregador, e o acervo probatório indica a proporcionalidade e imediatidade
na aplicação da pena, a sua dispensa por justa causa aplicada pela demandada
deve ser confirmada pela Justiça do Trabalho. [..]. (Recurso Ordinário 0011379-
18.2014.5.01.0058, 3ª Turma do TRT da 1ª Região/RJ, Rel. Raquel de Oliveira Ma-
ciel. DOERJ 05.12.2016).
Entretanto, esse não é o entendimento do TST, pois este tribunal, entende que
não deve ser aplicada a justa causa por ausência de proporcionalidade entre a conduta
do trabalhador e a penalidade aplicada, senão vejamos os julgados abaixo:
“I - AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO
POR JUSTA CAUSA. RECEBIMENTO DE VALE-TRANSPORTE. UTILIZAÇÃO DE
VEÍCULO PRÓPRIO EM ALGUNS DIAS DURANTE O CONTRATO DE CINCO ANOS.
AUSÊNCIA DE GRAVIDADE. AUSÊNCIA DE GRADAÇÃO DA PENA. PROPORCIONA-
LIDADE NÃO OBSERVADA. TRANSCENDÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. Impõe-se
confirmar a decisão monocrática proferida pelo Ministro Relator, no aspecto, ten-
do em vista não restar demonstrada a existência de equívoco na decisão. Agravo
conhecido e não provido, no tema” (Ag-AIRR-1000282-97.2019.5.02.0026, 1ª Tur-
ma, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 08/10/2021).
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. UTILIZAÇÃO DO VALE-
-TRANSPORTE PELA ESPOSA DO EMPREGADO. DISPENSA POR JUSTA CAUSA.
NÃO CONFIGURAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE A CONDUTA
DO TRABALHADOR E A PENALIDADE APLICADA. 1. O Colegiado de origem no-
ticiou que o reclamante “cedeu à esposa o cartão vale eletrônico metropolitano
(VEM)”, todavia, aquela Corte não entendeu tratar-se de falta revestida de gravi-
dade suficiente, “a ponto de romper a confiança, tornando insustentável a relação
entre as partes”, máxime por não haver “registro de faltas anteriores (...), do que
resulta inobservada a gradação na aplicação das penalidades”, consoante preco-
niza o artigo 493 da CLT, segundo o qual “constitui falta grave a prática de qual-
quer dos fatos a que se refere o art. 482, quando por sua repetição ou natureza
representem séria violação dos deveres e obrigações do empregado”. Dito isso, o
e. TRT manteve a sentença que reverteu para imotivada a modalidade da dispensa
do autor. 2. Este Tribunal firmou jurisprudência no sentido de que para o adequado
exercício do poder disciplinar do empregador, há que se observar o preenchimento
de certos requisitos, entre eles a proporcionalidade entre o ato faltoso e a pena
aplicada. Precedentes. 3. Na hipótese dos autos, conclui-se que a conduta pra-
ticada pelo reclamante, de permitir a utilização do vale-transporte eletrônico por
sua esposa, não obstante repreensível, não se reveste da gravidade necessária
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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à configuração da justa causa ensejadora da dispensa motivada (artigo 482, “a”,


da CLT), máxime por se tratar de infração isolada no histórico do reclamante, de
modo que, ante o cenário delineado, reputa-se inviolado o mencionado dispositi-
vo. 4. Divergência jurisprudencial formalmente válida e específica não demonstra-
da (Súmulas 296 e 337 do TST). Agravo de instrumento conhecido e não provido.
(AIRR - 646-12.2012.5.06.0191, Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, Data
de Julgamento: 02/09/2015, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/09/2015)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. UTILIZAÇÃO
INDEVIDA DE VALE-TRANSPORTE. DESPROPORCIONALIDADE. JUSTA CAUSA
NÃO CONFIGURADA. O entendimento deste Tribunal é que deve haver, dentre ou-
tros, o requisito da proporcionalidade para que se configure a rescisão do contrato
de trabalho por justa causa. O egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região
entendeu que a conduta do reclamante em utilizar indevidamente o vale-trans-
porte não possuiu potencial para ensejar a demissão por justa causa, conforme
trecho: -(...) No caso dos autos, o reclamante se utilizou irregularmente do vale
transporte, mas sua conduta não causou prejuízo provado nos autos (...)-. Assim,
fica claro que a medida extrema tomada pela reclamada de encerrar o contrato
do reclamante por justa causa se mostrou como demasiadamente exagerada.
O quadro fático delineado no r. acórdão só seria alterado por meio da análise do
conteúdo fático-probatório constante dos autos, o que é inviável a teor da Súmula
nº 126 desta Corte. HORAS EXTRAS. A e. Corte Regional deu provimento ao recur-
so do reclamante e fixou a sua jornada laboral das 7h às 19h30 a partir da prova
testemunhal. A reclamada sustenta que houve ofensa ao artigo 131 do CPC na
medida em que a prova testemunhal indicou que o autor -(...) saía às 19/19h30
(...)- e, baseado nisso, fixou a jornada do reclamante -(...) como sendo de 7:00 às
19:30 horas (...)-. Contudo, o e. TRT, baseado no livre convencimento motivado,
ponderou os fatos e as provas constantes dos autos do processo para dirimir a
controvérsia e estabelecer qual o termo inicial e final da jornada de trabalho do re-
clamante. Não há, assim, como afirmar que houve violação do referido dispositivo
legal, o que torna inviável a análise do recurso de revista. Agravo de instrumento
conhecido e desprovido” (AIRR - 715-13.2010.5.01.0075, Relator Ministro: Alexan-
dre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DEJT 05/12/2014)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. NÃO CARAC-
TERIZAÇÃO. Não configura a quebra de fidúcia ensejadora da despedida por justa
causa, em atendimento ao princípio da proporcionalidade na aplicação da pena, a
cessão, por 3 (três) meses, dos vales-transporte, para utilização por outra pessoa,
por empregado com 16 (dezesseis) anos de serviços prestados à empregadora,
sem nenhuma falta anteriormente praticada, e que arcou com o valor total dos
vales, inexistindo prejuízo para a reclamada. Ausência de afronta ao artigo 482,
b, da Consolidação das Leis do Trabalho. Agravo de instrumento a que se nega
provimento”. (Processo: ED-AIRR - 65940-70.2005.5.03.0019 Data de Julgamento:
09/05/2007, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DJ 15/06/2007.)

3.1.7. JUSTA CAUSA NO CURSO DO AUXÍLIO DOENÇA


O TST, em recente decisão (Publicado no DEJT 24/06/2016) entendeu ser pos-
sível a dispensa do empregado por justa causa no curso do auxílio doença, em relação
a falta cometida em período anterior ao início do benefício.
DISPENSA DO EMPREGADO POR JUSTA CAUSA NO CURSO DO AUXÍLIO-DOENÇA
- FALTA COMETIDA EM PERÍODO ANTERIOR À FRUIÇÃO DO BENEFÍCIO - POSSIBI-
LIDADE. Nos termos do artigo 476 da Consolidação das Leis do Trabalho, o empre-
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gado que se encontra em gozo de auxílio doença está em licença não remunerada,
efeito verificado a partir do 16º dia de afastamento, segundo a legislação previ-
denciária -, vale dizer, está com seu contrato de trabalho suspenso. A suspensão
do contrato de trabalho desobriga o empregador, tão somente, quanto às verbas
decorrentes diretamente da prestação de serviços, ou seja, quanto às obrigações
principais. As obrigações contratuais acessórias permanecem incólumes, como,
por exemplo, benefícios voluntariamente concedidos ao empregado, moradia, se-
guro saúde, etc. É o que se infere de uma análise conjunta dos artigos 471, 476,
e 476-A, § 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho e 63, parágrafo único, da Lei
nº 8.213/91 e, ainda, da Súmula/TST nº 440. Referidos benefícios não decorrem
da prestação de serviços, mas diretamente do contrato de emprego. E nessa hi-
pótese, as normas legais não prevêem que empregados eventualmente afastados
da empresa, por gozo de benefício previdenciário, deixarão de gozar dos referidos
direitos. Não obstante a ausência de eficácia das principais cláusulas contratuais
no período de suspensão do contrato de trabalho, ainda prevalecem, nesse inter-
regno, os princípios norteadores da relação empregatícia, tais como: lealdade, boa
fé, fidúcia, confiança recíproca, honestidade, etc. Incontroverso nos autos que a
dispensa do recorrido se deu por justa causa. Assim, é de se concluir que o poder
potestativo de rescindir o contrato de trabalho não deve ser afetado por esta sus-
pensão de eficácia. Seria uma incoerência se reconhecer uma justa causa e, por
conta da suspensão do contrato de trabalho, obrigar o empregador a continuar a
pagar obrigações contratuais acessórias. Quando a confiança entre as partes é
quebrada, há sério comprometimento de importante pilar da contratação, sendo
irrelevante que os fatos ensejadores dessa quebra tenham ocorrido antes ou du-
rante o período de afastamento do empregado, porque a fixação de tal marco não
vai restaurar a confiança abalada. Portanto, não há que se falar em concretização
dos efeitos da demissão por justa causa após o término do período da suspen-
são do contrato. Estando comprovada a justa causa, a suspensão do contrato de
trabalho não se revela como motivo capaz de impedir a rescisão do contrato de
trabalho de imediato. Recurso de embargos conhecido e provido. Processo: E-RR
- 4895000-38.2002.5.04.0900 Data de Julgamento: 02/06/2016, Redator Ministro:
Renato de Lacerda Paiva, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data
de Publicação: DEJT 24/06/2016.
Cito abaixo, trechos da decisão:
Nos termos do artigo 476 da Consolidação das Leis do Trabalho, o empregado
que se encontra em gozo de auxílio doença está em licença não remunerada, efei-
to verificado a partir do 16º dia de afastamento, segundo a legislação previdenciá-
ria -, vale dizer, está com seu contrato de trabalho suspenso.
A suspensão do contrato de trabalho desobriga o empregador, tão somente, quan-
to às verbas decorrentes diretamente da prestação de serviços, ou seja, quanto às
obrigações principais. As obrigações contratuais acessórias permanecem incólu-
mes, como, por exemplo, benefícios voluntariamente concedidos ao empregado,
moradia, seguro saúde, etc. É o que se infere de uma análise conjunta dos artigos
471, 476, e 476-A, § 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho e 63, parágrafo úni-
co, da Lei nº 8.213/91. Também a Súmula/TST nº 440 dispõe que “Assegura-se o
direito à manutenção de plano de saúde ou de assistência médica oferecido pela
empresa ao empregado, não obstante suspenso o contrato de trabalho em vir-
tude de auxílio-doença acidentário ou de aposentadoria por invalidez”. Referidos
benefícios não decorrem da prestação de serviços, mas diretamente do contrato
de emprego. E nessa hipótese, as normas legais não prevêem que empregados
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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eventualmente afastados da empresa, por gozo de benefício previdenciário, deixa-


rão de gozar dos referidos direitos.
Feito esse esclarecimento, não obstante a ausência de eficácia das principais
cláusulas contratuais no período de suspensão do contrato de trabalho, ainda pre-
valecem, nesse interregno, os princípios norteadores da relação empregatícia, tais
como: lealdade, boa fé, fidúcia, confiança recíproca, honestidade, etc.
Incontroverso nos autos, conforme já consignado, que a dispensa do recorrido se
deu por justa causa.
Valentin Carrion, em sua obra: Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho -
legislação complementar - Jurisprudência (atualizada por Eduardo Carrion), 35ª
edição. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 406, ressaltou que:
“Justa causa: efeito emanado de ato ilícito do empregado que, violando alguma
obrigação legal ou contratual, explícita ou implícita, permite ao empregado a res-
cisão do contrato sem ônus (pagamento de indenizações ou percentual sobre os
depósitos do FGTS, 13º salário e férias, estes dois proporcionais).”
Assim, é de se concluir que o poder potestativo de rescindir o contrato de trabalho
não deve ser afetado por esta suspensão de eficácia. Seria uma incoerência se
reconhecer uma justa causa e, por conta da suspensão do contrato de trabalho,
obrigar o empregador a continuar a pagar obrigações contratuais acessórias.
Acrescente-se que, quando a confiança entre as partes é quebrada, há sério com-
prometimento de importante pilar da contratação, sendo irrelevante que os fatos
ensejadores dessa quebra tenham ocorrido antes ou durante o período de afasta-
mento do empregado, porque a fixação de tal marco não vai restaurar a confiança
abalada.
Portanto, não há que se falar em concretização dos efeitos da demissão por justa
causa após o término do período da suspensão do contrato.
Dessa forma, restando comprovada a justa causa, a suspensão do contrato de
trabalho não se revela como motivo capaz de impedir a rescisão do contrato de
trabalho de imediato.
Citem-se, ainda, os seguintes precedentes, também do TST:
(RR - 91300-48.2009.5.19.0010 Data de Julgamento: 17/02/2016, Relator Minis-
tro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Publicação: DEJT 26/02/2016).
(RR - 59300-72.2008.5.22.0001, Redator Ministro: José Roberto Freire Pimenta,
Data de Julgamento: 11/03/2013, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/04/2013)
(RR - 180300-04.2003.5.12.0030, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Perei-
ra, 3ª Turma, DEJT de 19/08/2011);
(RR-71300-41.2007.5.03.0075, Rel. Min. Emmanoel Pereira,  5ª Turma, DEJT de
05/03/2010, decisão unânime);
(RR - 1009-21.2011.5.11.0053, Relator Desembargador Convocado: João Pedro
Silvestrin, Data de Julgamento: 29/04/2015, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT
04/05/2015)
(RR - 114700-57.2009.5.16.0016, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data
de Julgamento: 18/06/2014, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/06/2014).

3.1.8. PROCEDIMENTO INTERNO X JUSTA CAUSA


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Em regra, não há necessidade de procedimento interno (processo administrati-


vo disciplinar) para aplicação de justa causa. Assim, acontecendo o fato que justifique
a justa causa, pode ser aplicada de imediato a dispensa.
A exceção fica por conta de quando a empresa está obrigada por ter previsão
em Convenção Coletiva ou Regulamento Empresarial a apurar os fatos por meio de
procedimento interno (processo administrativo disciplinar), pois nestes casos, a justa
causa só pode ser aplicada após o resultado desse procedimento, sob pena de anula-
ção da justa causa.
Pode ser que o regulamento interno de uma empresa estabeleça regras ligadas
às questões disciplinares (hipóteses de aplicação da advertência e suspensão, instau-
ração de prévio inquérito para apuração de falta cometida, etc.). Essas normas pre-
vistas no regulamento passam a integrar o contrato de trabalho, vinculando as partes
envolvidas – empregado e empregador21.
Caso haja obrigatoriedade, prevista no regulamento de empresa, de inquérito ou
procedimento administrativo prévio à dispensa por justa causa, e o empregador efetuar
a dispensa sem observância a esse procedimento, enseja pedido de reintegração22.
Nesse sentido, está a súmula 77 do TST:
TST, SÚMULA n. 77 - PUNIÇÃO. Nula é a punição de empregado se não precedida
de inquérito ou sindicância internos a que se obrigou a empresa por norma regu-
lamentar.
No mesmo sentido, está a decisão do TST publicada no informativo 33:
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PRIVATIZAÇÃO. DEMISSÃO POR JUSTA CAU-
SA. NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DO ATO DEMISSIONAL. PREVISÃO EM NOR-
MA INTERNA. DESCUMPRIMENTO. NULIDADE DA DESPEDIDA. REINTEGRAÇÃO.
ART. 182 DO CC. A inobservância da norma interna do Banestado, sociedade de
economia mista sucedida pelo Itaú Unibanco S.A., que previa a instauração de
procedimento administrativo para apuração de falta grave antes da efetivação da
despedida por justa causa, acarreta a nulidade do ato de dispensa ocorrido an-
tes do processo de privatização, assegurando ao trabalhador, por conseguinte,
a reintegração no emprego, com base no disposto no art. 182 do CC, segundo o
qual, anulado o negócio jurídico, deve-se restituir as partes ao “status quo ante”.
Com esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos, por diver-
gência jurisprudencial, e, no mérito, negou-lhes provimento. Vencidos os Ministros
Aloysio Corrêa da Veiga, relator, Ives Gandra Martins Filho, Brito Pereira e Maria
Cristina Peduzzi, que davam parcial provimento ao recurso para, reconhecendo a
nulidade da justa causa aplicada, convertê-la em demissão imotivada e determi-
nar o pagamento das diferenças relativas às verbas rescisórias devidas. TST-E-E-
D-RR-22900- 83.2006.5.09.0068, SBDI-1. rei. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, red. p/
acórdão Min. João Preste Dalazen, 6.12.2012
Assim, caso o empregado tenha sido dispensado sem a apuração adminis-
trativa, a decisão é nula ensejando o direito de retornar ao emprego mesmo sendo
evidente o ato faltoso.
21 MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique. Súmulas e Orientações Jurisprudenciais do TST: comentadas e organizadas por assunto. 4. ed. Salva-
dor: JusPodivm, 2014. p. 57.
22 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11.ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: MÉTODO, 2015
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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3.1.9. GREVE E JUSTA CAUSA


A simples adesão ao movimento grevista, por si só, não configura ato a ensejar
a aplicação da penalidade máxima (dispensa por justa causa), conforme entendimento
da Súmula nº 316 do STF.
STF, SÚMULA Nº 316 - A simples adesão a greve não constitui falta grave.
Configura justa causa, quando após o fim da greve, o empregado insiste na pa-
ralisação do serviço, excedendo, assim, os limites autorizados pela lei.
Lei 7.783-89 - Art. 14. Constitui abuso do direito de greve a inobservância das
normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a
celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.
Nesse sentido, o julgado abaixo:
RECURSO DE REVISTA. DIREITO DE GREVE. JUSTA CAUSA. MANUTENÇÃO DA
PARALISAÇÃO APÓS A CESSAÇÃO DO MOVIMENTO GREVISTA. JUSTA CAUSA
CARACTERIZADA. MATÉRIA FÁTICA. Na hipótese vertente, o Tribunal Regional,
valorando o conjunto fático-probatório, firmou convicção de que a rescisão do
contrato de trabalho decorreu da prática de ato de insubordinação do reclamante,
consubstanciado no fato de que, mesmo após a reunião realizada com o Sindi-
cato de sua categoria, que pôs fim à greve, ele insistiu na paralisação do serviço,
excedendo, assim, os limites autorizados pela lei, premissa fática insuscetível de
reexame na via recursal de natureza extraordinária (Súmula nº 126/TST). Recurso
de revista de que não se conhece. (RR nº 0125800-05.2008.5.24.0086, 1ª Turma
do TST, Rel. Walmir Oliveira da Costa. unânime, DEJT 30.10.2014).
JUSTA CAUSA. ABUSO DO DIREITO DE GREVE. Incitar movimento paredista no
ambiente de trabalho, sem qualquer motivo, por conta própria, sem participação
do sindicato e sem obediência a trâmites legais. Abuso do direito de greve con-
forme disposto no artigo 14 da Lei 7.783/89. (RS nº 00017581420135020281
(20140986248), 11ª Turma do TRT da 2ª Região/SP, Rel. Maria José Bighetti Or-
doño Rebello. unânime, DOe 11.11.2014).

3.2. PAGAMENTO DA RESCISÃO NA JUSTA CAUSA


A empresa deve pagar a rescisão do empregado dispensado por justa causa no
prazo de 10 dias (CLT, art. 477, §6º), contados a partir do dia seguinte da comunicação
da dispensa conforme entendimento do TST por meio da OJ 162 da SDI-1.
CLT, Art. 477 - § 6º - A entrega ao empregado de documentos que comprovem a
comunicação da extinção contratual aos órgãos competentes bem como o paga-
mento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de quitação
deverão ser efetuados até dez dias contados a partir do término do contrato. 
TST, OJ 162 da SDI-1 - A contagem do prazo para quitação das verbas decorren-
tes da rescisão contratual prevista no artigo 477 da CLT exclui necessariamente
o dia da notificação da demissão e inclui o dia do vencimento, em obediência ao
disposto no artigo 132 do Código Civil de 2002.

3.3. VERBAS DEVIDAS NA DISPENSA POR JUSTA CAUSA:


1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
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3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.


4. 13° salário vencido.
5. Depósitos do FGTS 8% (Não pode sacar).
OBS: O empregado dispensado por justa causa, não tem direito ao saque do
FGTS 8% (o valor fica retido na conta vinculada), não tem direto as férias proporcionais,
ao 13º salário proporcional, ao aviso prévio, a multa de 40% do FGTS e, ao seguro de-
semprego.
OBS: Se o empregado recebeu a primeira parte do 13° (adiantamento da 1ª
parcela entre fevereiro e novembro), o empregador poderá compensar o valor recebido
indevidamente na rescisão contratual.
4. TÉRMINO DO CONTRATO A TERMO (PRAZO DETERMINADO)
Ocorre quando a data estipulada pelas partes chega ao fim.
4.1. VERBAS DEVIDAS:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
3. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
4. 13° salário vencido.
5. 13° salário proporcional.
6. FGTS 8% (saque).
5. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO
A CLT prevê a possibilidade de o contrato de trabalho ser rescindido pelo empre-
gado quando caracterizada a falta patronal (CLT, art. 483). Assim, na rescisão indireta,
o trabalhador toma a iniciativa de extinguir o contrato de trabalho, apresentando ação
na justiça do trabalho, em razão de um ou mais atos praticados pelo empregador.
Veja como esse tema foi cobrado em prova:
Assunto cobrado no Exame XXXIII - Petição Inicial - O candidato deverá requerer a
resolução ou despedida indireta ou “rescisão indireta” do contrato, diante das irregu-
laridades cometidas pelo empregador, conforme o Art. 483, alíneas d ou e, da CLT.

Deverá requerer a resolução ou despedida indireta ou “rescisão indireta” do con-


trato, diante das irregularidades cometidas pelo empregador, conforme o Art. 483, alí-
neas d ou e, da CLT.
O TST possui entendimento pacífico de que o descumprimento das obrigações
trabalhistas autoriza a rescisão indireta do contrato de trabalho, bem como que não
constitui óbice ao reconhecimento da falta grave praticada pelo empregador a ausên-
cia de imediatidade entre a ocorrência da conduta patronal faltosa e a proposição da
reclamação pelo trabalhador, diante do desequilíbrio econômico entre as partes e a
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necessidade premente de manutenção do contrato de emprego.


Nesse sentido:
Informativo 152 do TST - Rescisão indireta. Caracterização. Art. 483 da CLT. Prin-
cípio da imediatidade. Inaplicabilidade. Necessidade de manutenção do contra-
to de emprego por parte do empregado. Não constitui óbice ao reconhecimento
da rescisão indireta do contrato de trabalho a ausência de imediatidade entre a
ocorrência da conduta patronal faltosa e a propositura da reclamação pelo em-
pregado, diante do desequilíbrio econômico entre as partes e a necessidade de
manutenção do contrato de emprego, fator preponderante para a subsistência do
trabalhador e de sua família. No caso, o descumprimento reiterado das obriga-
ções trabalhistas pelo empregador (não pagamento de adicionais, horas extras e
intervalos) caracteriza a hipótese de falta grave empresarial tipificada no art. 483,
“d”, da CLT, de modo a autorizar a rescisão indireta do contrato de trabalho, com
ônus rescisórios para a empresa. TST-E-RR-1044-36.2014.5.03.0105, SBDI-I, rel.
Min. Walmir Oliveira da Costa, 9.2.2017

5.1. HIPÓTESES DE RESCISÃO INDIRETA


5.1.1. SERVIÇOS SUPERIORES ÀS SUAS FORÇAS ...
Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários
aos bons costumes, ou alheios ao contrato;
Serviços superiores às suas forças – são aqueles além dos limites físicos de
cada empregado.
CLT, Art. 198 - É de 60 kg (sessenta quilogramas) o peso máximo que um empre-
gado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições especiais relati-
vas ao trabalho do menor e da mulher.
CLT, Art. 390 - Ao empregador é vedado empregar a mulher em serviço que de-
mande o emprego de força muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho
continuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos para o trabalho ocasional.
CLT, Art. 405 - Ao menor não será permitido o trabalho:
§ 5º - Aplica-se ao menor o disposto no art. 390 e seu parágrafo único.
Notícias do TRT da 3ª Região:
TRT DEFERE RESCISÃO INDIRETA A EMPREGADA OBRIGADA A CARREGAR PESO
EXCESSIVO (30/10/2008) - A 3ª Turma do TRT-MG declarou a rescisão indireta do
contrato de trabalho (ou seja, rompimento do contrato com efeitos de dispensa
sem justa causa) de uma reclamante que alegou ser obrigada, no exercício de
suas funções, a carregar caixas de mais de 20 quilos, o que lhe causou danos à
saúde. As testemunhas confirmaram que ela era obrigada a transportar simulta-
neamente várias caixas de produtos dos depósitos dos hipermercados para as
gôndolas, pois tinha que cumprir a rota de clientes estabelecida pela empresa,
atendendo de 04 a 05 supermercados por dia. Com base nessas informações, o
desembargador Bolívar Viegas Peixoto, que atuou como revisor e redator do recur-
so da reclamante, concluiu provadas as alegações de que a reclamada a tratava
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com rigor excessivo, impondo-lhe trabalho superior às suas forças. Para o desem-
bargador, nem há necessidade de que haja constância em carregar peso superior
às forças da empregada para se aceitar a rescisão indireta do seu contrato de
trabalho: “A lei preceitua exatamente sobre a proteção ao trabalho da mulher, que
não pode se submeter a fazer esforço maior que a sua condição física, sob pena
de se prejudicar o seu estado fisiológico, com gravames pelo resto da sua vida. Se
tal ocorrer, a rescisão indireta do contrato de trabalho deve ser declarada” - finali-
za. Entendendo provado que a conduta da empresa se enquadra nas hipóteses de
justa causa expressas no artigo 483 da CLT, a Turma deu provimento ao recurso
da reclamante para declarar que o contrato de trabalho foi rescindido por culpa do
empregador, condenando a reclamada a pagar as verbas rescisórias pleiteadas na
ação. Processo n. 00671-2008-009-03-00-7.
Alheios ao contrato – o empregado só está obrigado a executar serviços com-
patíveis com a sua função. Assim, pode solicitar a rescisão indireta nos casos de acú-
mulo ou desvio de função.
ACÚMULO DE FUNÇÕES CONFIGURADO. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR. RES-
CISÃO INDIRETA. O acúmulo de funções se configura quando o trabalhador exer-
ce, de forma habitual e simultânea, funções paralelas que não são objeto do seu
contrato de trabalho, o que ficou demonstrado no caso dos autos. Assim, deve ser
mantida a sentença que deferiu o plus salarial e reconheceu a rescisão indireta,
tendo em vista que obrigar o empregado a executar serviços alheios ao seu con-
trato de trabalho configura falta grave do empregador. Recurso conhecido, mas
desprovido. (RO nº 0010580-77.2013.5.11.0010, 3ª Turma do TRT da 11ª Região/
AM-RR, Rel. Jorge Álvaro Marques Guedes. unânime, DEJT 28.01.2015).
RECURSO ORDINÁRIO PATRONAL. RESCISÃO INDIRETA. DESCUMPRIMENTO
DAS OBRIGAÇÕES DO CONTRATO POR PARTE DO EMPREGADOR. Comprovado
que a reclamada não efetuou alguns depósitos do FGTS, bem como foram exigi-
dos serviços alheios ao contrato, reconhece-se que houve o descumprimento das
obrigações decorrentes do contrato de trabalho firmado, o que autoriza a declara-
ção de rescisão indireta do contrato, conforme art. 483, “a” e “d”, da CLT. (Recurso
Ordinário nº 0000082-62.2013.5.14.0001, 1ª Turma do TRT da 14ª Região/AC-RO,
Rel. Elana Cardoso Lopes. j. 30.10.2013, unânime, DEJT 04.11.2013)
Homero Batista Mateus da Silva adverte, entretanto, que:
“A recepcionista dificilmente terá razão no pedido de rescisão indireta por haver
sido acrescentada a suas atividades a transmissão e o recebimento de fax, assim
como o empregado de carga e descarga não deve se espantar com o pedido de
conferência de carga. São situações conexas ou complementares a suas ativida-
des originais. (...) O que não se pode admitir é que o empregado vá comprar paco-
te de cigarros para o chefe, sendo uma secretária; fazer a feira para o proprietário
da empresa, sendo um vendedor; ou pagar contas na fila do banco, sendo ele um
torneiro mecânico, e assim por diante.”

5.1.2. RIGOR EXCESSIVO


Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor ex-
cessivo;
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Segundo Godinho23, trata do descumprimento do princípio da proporcionalidade


e razoabilidade, que deve reger as ações de todo aquele que detém fatias considerá-
veis de poder perante alguém. Enquadra-se no presente tipo jurídico o comportamento
diretivo, fiscalizatório ou disciplinar do empregador que traduza exercício irregular de
tais prerrogativas, exacerbando as manifestações de poder sobre certo empregado.
A intolerância contínua, o exagero minudente de ordens, em especial quando
configurar tratamento discriminatório, as despropositadas manifestações de poder
em desarmonia com os fins regulares do contrato e da atividade empresarial consubs-
tanciam a presente infração24.
Além de solicitar a rescisão indireta, o empregado pode solicitar uma indeniza-
ção por danos morais em razão do assédio moral. Nesse sentido, a jurisprudência:
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO ANTES DA LEI Nº 13.015/2014. RESCISÃO
INDIRETA. RIGOR EXCESSIVO. TRATAMENTO RÍSPIDO HABITUAL DE SUPERIOR
HIERÁRQUICO. Na hipótese, o quadro fático delineado pela decisão recorrida de-
monstra que a reclamante foi vítima de atos praticados pela sua superiora hierár-
quica que, em tese, podem ser enquadrados como assédio moral (rigor excessivo,
perseguições e/ou humilhações), tal ato faltoso justifica a rescisão indireta, pois é
de natureza grave o bastante a ponto de impossibilitar à empregada a continuação
da prestação de seus serviços. Recurso de revista não conhecido. [..] (RR nº 407-
91.2011.5.09.0665, 2ª Turma do TST, Rel. Maria Helena Mallmann. j. 17.08.2016,
Publ. 26.08.2016).
RECURSO DA RECLAMADA. RESCISÃO INDIRETA - CONFIGURADA. A reclamante
fora tratada com rigor excessivo, suspensa por 15 (quinze) dias, por não atingir as
metas definidas pela empresa. Tal atitude caracteriza falta grave do empregador
capaz de ensejar a rescisão indireta nos termos do art. 483, “b” da CLT. ASSÉDIO
MORAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DEVI-
DOS. Comprovados os constrangimentos e perseguições da obreira por não atin-
gir as metas da empresa, caracteriza-se o assédio moral, e como consequência
surge o dever de indenizar o dano moral com esteio nos arts. 186, 187 e 927 do
Código Civil. Já para a definição do quantum indenizatório o juiz se pauta pela
proporcionalidade e razoabilidade como parâmetros definidores dessa valoração
e considera a extensão do dano e a repercussão deste na vida da vítima. O valor
deve ter caráter pedagógico e não de enriquecimento ilícito. Acertado o valor atri-
buído ao dano de R$ 8.000,00 (oito mil reais).[..] (Recurso Ordinário nº 0000006-
69.2015.5.07.0031, 2ª Turma do TRT da 7ª Região/CE, Rel. Francisco José Gomes
da Silva. j. 06.06.2016).
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ASSÉDIO MORAL - CONFIGURAÇÃO. Sendo
o assédio moral uma espécie de dano moral, tem-se que o tratamento com rigor
excessivo, dispensado aos empregados, envolve danos morais. Assim, comprova-
do que a reclamante sofreu assédio moral, decorrente do rigor excessivo que lhe
era imposto durante o exercício de suas funções, ultrapassando os reclamados
os limites do jus variandi, impõe-se reconhecer o direito à reparação por danos
morais. (RO nº 0001746-07.2013.5.03.0108, 2ª Turma do TRT da 3ª Região/MG,
Rel. Convocado Rodrigo Ribeiro Bueno. Publ. 29.10.2014).

5.1.3. PERIGO MANIFESTO DE MAL CONSIDERÁVEL


23 DELGADO, Maurício Godinho. “Curso de Direito do Trabalho”, 11° Ed. LTR, 2012, p.1244
24 Ibidem, p. 1244
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Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
A infração ocorre se o empregador submeter o obreiro, pelas condições do am-
biente laborativo ou pelo exercício de certa atividade ou tarefa, a risco não previsto no
contrato, ou que poderia ser evitado (uso de EPIs, por exemplo). Não se trata, porém,
do risco inerente ao próprio exercício profissional, que seja normal e inevitável a este
exercício (vigilante armado, por exemplo)25.
DESPEDIDA INDIRETA - PERIGO MANIFESTO DE MAL CONSIDERÁVEL - Tendo a
trabalhadora adquirido resistência aos produtos químicos utilizadas no processo
de produção da empresa, o que lhe causava reações alérgicas intensas, deveria
a empregadora ter alterado a sua função ou tê-la despedido sem justa causa. A
insistência de que a autora continuasse a trabalhar em contato com os alérge-
nos implica falta grave da empresa autorizadora da despedida indireta. PROC. Nº
0123/2001-005-24-00-0-RO.1 – TRT 24.
O art. 3º-B da Lei 13.079/2020, determinou que os estabelecimentos em fun-
cionamento durante a pandemia da Covid-19 são obrigados a fornecer gratuitamente
a seus funcionários e colaboradores máscaras de proteção individual, ainda que de
fabricação artesanal, sem prejuízo de outros equipamentos de proteção individual es-
tabelecidos pelas normas de segurança e saúde do trabalho.
5.1.4. NÃO CUMPRIR O CONTRATO DE TRABALHO
Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
O TST26 vem entendendo que o descumprimento pelo empregador de obriga-
ções essenciais do contrato de trabalho, tais como o atraso reiterado no pagamento de
salários, a ausência de anotação do vínculo de emprego na CTPS do trabalhador, falta
dos depósitos do FGTS e de pagamento de 13º e férias, consubstancia justificativa su-
ficientemente grave para configurar a justa causa, por culpa do empregador, a ensejar
a rescisão indireta do pacto laboral, nos termos do artigo 483, “d”, da CLT.
O não pagamento de horas extras e a não concessão do intervalo para refeição,
também geram a rescisão indireta do contrato de trabalho:
“A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA
RECLAMANTE. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. 1. RESCISÃO INDIRETA. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES
CONTRATUAIS. SOBRE LABOR HABITUAL. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE HO-
RAS EXTRAS. I. A Corte Regional indeferiu o pedido da Reclamante de conversão
da demissão em rescisão indireta do contrato de trabalho , por entender que “ o
25 Ibidem, p. 1244
26 Processo: RR - 383-69.2013.5.09.0026. Data de Julgamento: 08/04/2015, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 10/04/2015
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descumprimento de obrigações contratuais, embora constitua conduta reprová-


vel, por si só não inviabiliza a continuidade da relação contratual”, consignando em
suas razões que “a ausência de quitação de horas extras não justifica, por si mes-
ma, a rescisão indireta do contrato”. II. A jurisprudência desta Corte Superior tem
posição majoritária de que o inadimplemento de horas extras - hipótese dos autos
- consubstancia ato faltoso, bem como justificativa grave suficiente para configu-
rar a justa causa, por culpa do empregador, a ensejar a rescisão indireta do pacto
laboral, conforme preleciona o art. 483, “d”, da CLT. Ressalva de entendimento do
Relator. III. Demonstrada violação do art. 483, d, da CLT. IV. Agravo de instrumento
de que se conhece e a que se dá provimento, para determinar o processamento
do recurso de revista, observando-se o disposto no ATO SEGJUD.GP Nº 202/2019
do TST. B) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMANTE. ACÓRDÃO
REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. 1. RESCISÃO INDI-
RETA. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS. SOBRE LABOR HA-
BITUAL. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS. I. Trata-se de discussão
a respeito da possibilidade de rescisão indireta do contrato de trabalho em caso
de não pagamento de horas extras. II. Esta Corte Superior já se manifestou no sen-
tido de que o descumprimento de obrigações contratuais, como a delimitada no
presente caso pela Corte Regional, configura conduta grave, sendo possível a res-
cisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do art. 483, “d”, da CLT. Ressalva
de entendimento do Relator. II. Recurso de revista de que se conhece, por violação
do art. 483, d, da CLT, e a que se dá provimento” (RR-24615-29.2015.5.24.0004, 4ª
Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 12/06/2020).
“(...) RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. LEI 13.467/2017. RESCISÃO IN-
DIRETA. INADIMPLEMENTO DE HORAS EXTRAS. TRANSCENDÊNCIA. No caso
em comento, o quadro fático delineado no acórdão regional revela que o autor,
durante o período trabalhado, não recebeu de forma devida parcela de natureza
salarial, qual seja, horas extras. Nesse sentido, a conduta da reclamada revela-se
suficientemente grave, ensejando, pois, a rescisão indireta do contrato de trabalho,
diante dos prejuízos suportados pelo autor, nos termos do artigo 483, “d”, da CLT.
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento” ( ARR - 1000601-
98.2017.5.02.0070, 6ª Turma , Relatora Desembargadora Convocada Cilene Fer-
reira Amaro Santos, DEJT 21/06/2019 ).
“RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA DO
CONTRATO DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DAS HORAS EXTRAS.
RECONHECIMENTO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 483, “D”, DA CLT. Hipótese em que
a Corte Regional, mesmo diante da comprovação da concessão irregular do in-
tervalo intrajornada e da ausência de pagamento das horas extras, reformou a
sentença para afastar a rescisão indireta do contrato de trabalho. O artigo 483, “d”,
da CLT dispõe que o empregado poderá considerar rescindido o contrato de tra-
balho quando o empregador não cumprir as obrigações dele decorrentes. Nesse
cenário, esta Corte tem firmado jurisprudência no sentido de que a inobservância
do intervalo intrajornada e a ausência de pagamento das horas extras configuram
falta grave patronal, suficiente para ensejar o reconhecimento da rescisão indireta
do contrato de trabalho, nos termos do artigo 483, “d”, da CLT. Desse modo, o Tri-
bunal Regional, ao consignar que a concessão irregular do intervalo intrajornada
e a ausência de pagamento das horas extras não constituem falta grave que ca-
racterize a rescisão indireta, contrariou o entendimento desta Corte. Precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido” ( RR - 25266-04.2014.5.24.0002, 7ª Turma
, Relator Ministro Douglas Alencar Rodrigues, DEJT 15/09/2017 ).
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“RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGA-


ÇÕES CONTRATUAIS. Esta Corte tem firmado jurisprudência no sentido de que
a inobservância do intervalo intrajornada e a ausência de pagamento das horas
extras configuram falta grave patronal, suficiente para ensejar o reconhecimento
da rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do artigo 483, d, da CLT.
Precedentes. Recurso de revista não conhecido” ( RR - 796-93.2012.5.04.0305, 6ª
Turma , Relator Ministro Augusto César Leite de Carvalho, DEJT 05/04/2019 ).
“RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI
Nº 13.015/2014. 1. RESCISÃO INDIRETA. NÃO CONCESSÃO DE INTERVALO IN-
TRAJORNADA E INCORRETO PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS. CONHECIMEN-
TO E PROVIMENTO. I. Trata-se de discussão a respeito da possibilidade de res-
cisão indireta do contrato de trabalho em caso de não concessão de intervalo
intrajornada e incorreto pagamento de horas extras. II. Esta Corte Superior já se
manifestou no sentido de que o descumprimento de obrigações contratuais como
as delimitadas no presente caso (não conceder intervalo intrajornada e não pa-
gar corretamente as horas extras realizadas pelo empregado) configura conduta
grave, sendo possível a rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do
art. 483, d, da CLT. Ressalva de entendimento do Relator. III. Recurso de revista de
que se conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se dá provimento” ( RR -
3251-66.2013.5.02.0009, 4ª Turma , Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT
29/03/2019 ).

5.1.4.1.MORA SALARIAL REITERADA.


O TST já pacificou entendimento de que o conceito de mora contumaz no pa-
gamento de salários, previsto no artigo 2º, § 1º, do Decreto-Lei nº 368/68, repercute
apenas na órbita fiscal e penal, não constituindo, por si só, óbice à rescisão indireta do
contrato de trabalho em outros casos de relevante descumprimento, pelo empregador,
de sua mais importante obrigação trabalhista, que é a de assegurar a sobrevivência
digna de seus empregados e familiares mediante o pagamento, integral e sem atrasos,
de seus salários.
Nesse sentido, os seguintes precedentes do TST;
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA DO
CONTRATO DE TRABALHO. ATRASO NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. AUSÊNCIA
DE RECOLHIMENTO DO FGTS. A rescisão indireta é a faculdade do empregado de
romper com o pacto laboral por justo motivo, quando o empregador comete uma
das faltas elencadas no artigo 483 da CLT. Na hipótese, depreende-se do acórdão
regional que ficou demonstrado o atraso no pagamento dos salários nos meses
de fevereiro e março de 2015, bem como a ausência no recolhimento do FGTS à
conta vinculada da empregada. De acordo com as premissas fáticas descritas
pela Corte a quo, não há dúvidas de que o reclamado descumpriu suas obrigações
contratuais, visto que o atraso no pagamento de salários, aliado à irregularidade
ou ausência de recolhimento do FGTS, configura ato faltoso do empregador apto
a ensejar contrato de trabalho, nos termos do artigo 483, alínea “d”, da CLT.
Este Tribunal já sedimentou o entendimento de que o conceito de mora contumaz
no pagamento de salários, previsto no artigo 2º, § 1º, do Decreto-Lei nº 368/68,
repercute apenas na órbita fiscal e penal, não constituindo, por si só, óbice à res-
cisão indireta do contrato de trabalho em outros casos de relevante descumpri-
mento, pelo empregador, de sua mais importante obrigação trabalhista, que é a
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de assegurar a sobrevivência digna de seus empregados e familiares mediante


o pagamento, integral e sem atrasos, de seus salários. Dessa forma, o Regional,
ao manter a sentença pela qual se reconheceu a rescisão indireta do contrato de
trabalho, decidiu em conformidade com a jurisprudência dominante do TST. Pre-
cedentes. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR - 1000973-44.2015.5.02.0611,
Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 28/09/2016,
2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 30/09/2016)
Outros jugados:
(RR-163900-79.2008.5.12.0048, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 2ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 22/08/2014)
(AIRR - 20209-33.2014.5.04.0205, Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, Data
de Julgamento: 10/08/2016, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/08/2016)
(TST-RR - 624-55.2010.5.04.0004, Data de Julgamento: 26/11/2014, Relator: Mi-
nistro Augusto César Leite de Carvalho, 6.ª Turma, Data de Publicação: DEJT
12/12/2014)
O TST, por meio da súmula de número 13 entende que:
“o só pagamento dos salários atrasados em audiência não ilide a mora capaz de
determinar a rescisão do contrato de trabalho”.

5.1.4.2.AUSÊNCIA DE DEPÓSITOS DO FGTS


O empregador tem o dever de depositar o FGTS 8% do empregado em sua conta
vinculada conforme determinação do art. 15 da Lei 8036/90 de seguinte teor:
Lei 8.036/90, Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam
obrigados a depositar, até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vincu-
lada, a importância correspondente a 8 (oito) por cento da remuneração paga ou
devida, no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas
de que tratam os arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a
Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749, de 12
de agosto de 1965.
O entendimento que prevalece no TST conforme arestos abaixo, é o de que a
ausência dos depósitos do FGTS ou o depósito irregular é, por si só, suficiente para a
configuração da rescisão indireta.
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA - PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº
13.015/2014 - RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO - FALTA GRA-
VE DA EMPREGADORA - AUSÊNCIA DOS DEPÓSITOS DO FGTS. Para a possibili-
dade de rescisão indireta do contrato de trabalho é necessária ocorrência de fal-
ta grave cometida pelo empregador, apta a ensejar o rompimento contratual por
justo motivo por parte do empregado. A rescisão indireta deve ser reconhecida
diante de irregularidade contratual substancial prevista no art. 483 da CLT, que
impeça a continuidade da relação empregatícia. Nos termos do art. 483, “d”, da
CLT, o descumprimento de obrigações contratuais e legais pelo empregador, no
caso, a não realização dos depósitos do FGTS, deve ser considerada falta grave,
autorizando a rescisão indireta do contrato de trabalho, com o pagamento das ver-
bas rescisórias correlatas. Precedentes. Recurso de revista não conhecido. (RR nº
492-14.2013.5.03.0103, 7ª Turma do TST, Rel. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. j.
16.11.2016, Publ. 18.11.2016).
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RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - RES-


CISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. AUSÊNCIA REITERADA DE RE-
COLHIMENTO DO FGTS. FALTA DE IMEDIATIDADE. O fato de não ter sido imediata
a insurgência do reclamante contra a falta grave perpetrada pela reclamada não
constitui perdão tácito, sobretudo no que tange à ausência de recolhimentos do
FGTS, porquanto a configuração da falta grave, nessa hipótese, depende da reite-
ração da conduta vedada, não se podendo olvidar, ainda, que tal retardamento se
justifica pela dependência econômica do empregado, advinda do clássico dese-
quilíbrio de forças entre capital e trabalho. Precedentes. Recurso de revista conhe-
cido e provido. (RR nº 0001186-56.2014.5.12.0051, 8ª Turma do TST, Rel. Márcio
Eurico Vitral Amaro. unânime, DEJT 30.06.2016).
3. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. MORA SALARIAL E ATRA-
SO NO RECOLHIMENTO DO FGTS DURANTE O PACTO LABORAL. Em conformida-
de com a jurisprudência desta Corte, o descumprimento de obrigações essenciais
do contrato de trabalho, tais como o atraso reiterado no pagamento de salários e
a ausência de regularidade no recolhimento dos depósitos do FGTS, consubstan-
ciam justificativas suficientemente graves para configurar a justa causa, por culpa
do empregador, a ensejar a rescisão indireta do pacto laboral, nos termos do arti-
go 483, “d”, da CLT. Na hipótese dos autos, verifica-se que, durante todo o pacto la-
boral (aproximadamente 23 meses), houve atraso no recolhimento do salário por
três meses (“junho, julho e setembro de 2013”), além de a Reclamada nunca ter
efetuado o pagamento do FGTS no prazo, o que evidencia a justificativa suficien-
temente grave para configurar a justa causa, por culpa do empregador, a ensejar
a rescisão indireta do pacto laboral, nos termos do artigo 483, “d”, da CLT. Recurso
de revista conhecido e provido no aspecto. (ARR nº 0001968-94.2013.5.03.0036,
3ª Turma do TST, Rel. Maurício Godinho Delgado. unânime, DEJT 30.06.2016).
RESCISÃO INDIRETA. FGTS. AUSÊNCIA DE DEPÓSITOS. POSSIBILIDADE. O enten-
dimento que prevalece nesta Corte é o de que a ausência dos depósitos do FGTS
ou o depósito irregular é, por si só, suficiente para a configuração da hipótese
descrita no art. 483, alínea d, da CLT (não cumprir o empregador as obrigações do
contrato). Recurso de Revista de que se conhece e a que se dá provimento. (RR nº
600-50.2012.5.03.0015, 5ª Turma do TST, Rel. João Batista Brito Pereira. unânime,
DEJT 13.11.2013).

5.1.4.3.DRESS CODE
Dress code é um código de vestimenta que indica a maneira mais adequada
para se vestir em determinada ocasião, no caso, no trabalho para executar seus servi-
ços.
Custos com o dress code
O Tribunal Superior do Trabalho entende que cabe aos empregadores o forne-
cimento das vestimentas exigidas para o trabalho, também, ao ressarcimento de des-
pesas, caso eles as tenham adquirido as vestimentas. Assim, se houver um código de
padronização de vestimentas (dress code) na empresa, tal fato, se equipara ao uso de
uniforme. Decisões do TST sobre o tema
“RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A
ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VESTIMENTAS ESPECÍFICAS
EXIGIDAS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE DO EMPRE-
GADOR PELO FORNECIMENTO OU PELO RESSARCIMENTO DAS DESPESAS DE-
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CORRENTES DA SUA AQUISIÇÃO. 1. É certo que o empregador, por força de seu


poder diretivo, pode definir o padrão de vestimenta a ser adotado pelos empre-
gados no ambiente laboral. 2 . Contudo, se é exigida a utilização de peças espe-
cíficas para a prestação de serviços - o que caracteriza o uso de uniforme -, as
mesmas devem ser fornecidas gratuitamente ao empregado, que não pode ser
responsabilizado pelos custos do trabalho prestado. 3 . Com efeito, nos termos do
art. 2º da CLT, consagrador do princípio da alteridade, “considera-se empregador a
empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica
, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço” . 4 . Assim, sob pena
de ofensa ao art. 2º da CLT - e também de inobservância ao princípio da irreduti-
bilidade salarial -, é inviável exigir que o trabalhador disponha de parte dos seus
ganhos para custear o uniforme exigido pelo empregador. 5 . Nesse sentido é,
inclusive, o entendimento consubstanciado no Precedente Normativo 115 do TST:
“determina-se o fornecimento gratuito de uniformes, desde que exigido seu uso
pelo empregador” . 6 . No caso, a teor do acórdão embargado, a empresa ré exi-
gia de seus empregados “um padrão nas vestimentas: calça social preta, camisa
social preta, sapato de salto para as mulheres e calça e camisa social, ambos na
cor preta, e sapato social para os homens” . 7 . Está configurada, pois, a hipótese
de uso obrigatório de uniforme pelos empregados, de modo que cabe à empresa
ré o fornecimento das peças que o compõem ou o ressarcimento das despesas
decorrentes da sua aquisição. 8 . Tal conclusão não é alterada pela possibilidade
de utilização de tais peças fora do ambiente laboral, sendo suficiente para fins de
responsabilização da empregadora a circunstância de as mesmas serem neces-
sárias para a prestação dos serviços. Recurso de embargos conhecido e provido”
(E-RR-813-50.2013.5.09.0663, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 12/02/2021).
“RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO SUSCITANTE, SINDICATO DOS TRA-
BALHADORES EM TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DE MANAUS - STTRM. DISSÍDIO
COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA. ACORDO PARCIAL. HOMOLOGAÇÃO DAS
CLÁUSULAS, PELO REGIONAL. 1. CLÁUSULA 7ª - ALIMENTAÇÃO. (§§ 3º E 4º).
(...). 2. CLÁUSULA 30 - UNIFORMES. Nos termos do Precedente Normativo nº 115
da SDC do TST, determina-se o fornecimento gratuito de uniformes, desde que
exigido seu uso pelo empregador. Entende esta Seção Especializada que, se o uso
de uniforme ou de quaisquer outros itens decorre da exigência da empresa, em
razão do interesse ou da conveniência do serviço prestado ou da profissão, cabe
ao empregador fornecê-los e/ou renová-los, quando necessário. No caso em tela,
o recorrente afirma que a empresa exige o uso de sapatos pretos e fechados e
de cintos . Em contrarrazões, a empresa afirma que a cláusula deve ser mantida
como historicamente aplicada e que o entendimento desta Corte é no sentido de
que as normas cujas propostas onerem o empregador, devem ser objeto de acor-
do entre as partes. Todavia, não refuta as alegações do suscitante de que os itens
pleiteados constituem exigências do empregador. Nesse contexto, dá-se provi-
mento parcial ao recurso para, aplicando as disposições do PN nº 115 da SDC do
TST, alterar em parte a redação da cláusula 30, de forma a incluir a obrigatorieda-
de de fornecimento, pelo empregador, de sapatos e cintos, desde que exigidos, em
relação a estes, determinados tipos. Recurso ordinário conhecido e parcialmente
provido” (RO - 89-70.2015.5.11.0000 Data de Julgamento: 10/10/2016, Relatora
Ministra: Dora Maria da Costa, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data
de Publicação: DEJT 19/10/2016)
“UNIFORME DE USO OBRIGATÓRIO NÃO FORNECIDO PELO EMPREGADOR. INDE-
NIZAÇÃO DEVIDA. PRECEDENTE NORMATIVO Nº 115 DO TST. O Regional enten-
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deu que o reclamante tem direito ao recebimento de indenização pelas despesas


com uniformes, visto que, ‘diante da prova testemunhal, verifico que além das ca-
misas fornecidas pela reclamada, era obrigatório o uso de calça escura e sapatos
pretos’ . Dessa forma, verifica-se que a reclamada exigia a utilização de uniforme
pelos empregados, porém as despesas com a compra da calça escura e dos sa-
patos pretos ficavam a cargo dos empregados. Havia, portanto, a determinação
de utilização pelos empregados de vestimentas com padronagens específicas
para o desempenho do labor. Com efeito, não se pode transferir ao empregado o
ônus do empreendimento que é exclusivo do empregador, nos termos do artigo
2° da CLT. A tese de que as peças são comuns do vestuário não se sustenta, haja
vista a padronização dos itens exigida pela reclamada . A decisão recorrida foi
proferida nos exatos termos do Precedente Normativo nº 115 do TST, segundo o
qual ‘determina-se o fornecimento gratuito de uniformes, desde que exigido seu
uso pelo empregador’. Recurso de revista não conhecido” (Processo: RR - 1160-
69.2010.5.04.0003 Data de Julgamento: 14/08/2019, Relator Ministro: José Ro-
berto Freire Pimenta, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 16/08/2019).
“RESSARCIMENTO DE DESPESA RELATIVA À AQUISIÇÃO DE UNIFORME. O Tribu-
nal Regional assinalou que restou comprovado que o reclamado ‘exigia de seus
empregados o uso de calça preta e, posteriormente, de calça jeans, bem como de
sapato preto fechado’ . A condenação do reclamado ao ressarcimento das des-
pesas referentes à compra dos calçados e roupas, levando-se em conta que sua
utilização é uma imposição do empregador, é medida decorrente da alteridade
própria do contrato de trabalho. Não se pode impor ao empregado, ainda que a
roupa seja de uso comum ao dia a dia da maioria das pessoas, o custo decorrente
desta exigência . Assim, ante a comprovação de que era obrigatório o uso do uni-
forme, e o reclamado, por sua vez, não demonstrou o seu fornecimento, ônus que
lhe incumbia, é desnecessário que a reclamante comprovasse os valores gastos
a esse título para que fizesse jus à indenização relativa ao ressarcimento pela
aquisição de uniforme. Recurso de revista conhecido e não provido” (Processo:
ARR - 758-58.2011.5.03.0139 Data de Julgamento: 03/05/2017, Relatora Ministra:
Delaíde Miranda Arantes, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/05/2017).
“RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014
E DA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40 DO TST E ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.467/17. RESSARCIMENTO DE DESPESAS EFETUADAS COM A AQUISIÇÃO DE
UNIFORME. 1 - No caso, conforme a prova testemunhal, a empregadora exigia de
seus empregados o uso de uniforme ( calça preta e camisa branca ou preta ), sem
fornecê-lo gratuitamente. 2 - Não pode o empregador querer transferir para os
trabalhadores parte do ônus da atividade econômica. Assim, se o empregador im-
põe o uso de uniforme, deve fornecê-lo sem nenhum custo. Julgados. 3 - Recurso
de revista a que se dá provimento” ( Processo: ARR - 1001675-59.2016.5.02.0027
Data de Julgamento: 03/04/2019, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 05/04/2019).
“RECURSO DE REVISTA. REEMBOLSO DAS DESPESAS COM PADRÃO DE VESTI-
MENTA. Conforme se extrai do artigo 2º da CLT, os riscos da atividade empresarial
correrão por conta do empregador, de forma que nenhum prejuízo ou despesa do
negócio possa ser imposto aos trabalhadores. Nos casos em que seja obrigatória
a utilização de vestimentas específicas para determinadas atividades, a responsa-
bilidade pelas despesas decorrentes de sua aquisição é do empregador. Como se
depreende do acórdão recorrido, havia a obrigatoriedade do uso de calça e sapa-
tos sociais pretos como uniforme , ou seja, eram exigidos os referidos itens como
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padrão específico para o desempenho de labor para a reclamada. Nesse contexto,


repisa-se, se a utilização de uniforme, em razão da atividade desenvolvida pela
reclamada, é obrigatória, por certo que a respectiva aquisição deve ser suportada
pelo empregador , pois o empregador é que deve assumir os riscos da atividade
econômica, o que implica arcar com todas as despesas daí decorrentes. Recurso
de revista conhecido e desprovido” (Processo: ARR - 1862-07.2015.5.09.0001 Data
de Julgamento: 11/10/2017, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, 8ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 16/10/2017).
Gastos com maquiagem
O entendimento do TST é que devem ser restituídas as despesas com apresen-
tação de pessoal - maquiagens, esmaltes, calçados e outros itens específicos de uso
compulsório -, exigidos pelo empregador, em decorrência da natureza da atividade,
visto que é dele o risco do empreendimento, na forma do art. 2º da CLT.
Decisões do TST sobre o tema
AERONAUTA. DESPESAS COM APRESENTAÇÃO PESSOAL. MAQUIAGEM E UNI-
FORME . A Corte Regional, soberana na apreciação das provas, asseverou que não
ficou demonstrado o fornecimento das meias ou de maquiagem para a reclaman-
te e manteve a condenação fixada em R$ 40,00 pelos gastos com meias-calças e
em R$ 40,00 pelas despesas com maquiagem. Além de não se possível o reexame
fático-probatório perante esta instância recursal, à luz do previsto na Súmula 126
do TST, os valores arbitrados revelam-se razoáveis. Agravo de instrumento a que
se nega provimento. (AIRR-21308-62.2015.5.04.0024, 2ª Turma, Relatora Ministra
Maria Helena Mallmann, DEJT 02/08/2021).
2. PAGAMENTO DE DESPESAS COM APRESENTAÇÃO PESSOAL. MAQUIAGEM.
IMPOSIÇÃO. ÔNUS DA PROVA DO EMPREGADOR. O entendimento sufragado
por esta Corte é de que devem ser restituídas as despesas com apresentação de
pessoal - maquiagens, esmaltes, calçados e outros itens específicos de uso com-
pulsório -, exigidos pelo empregador, em decorrência da natureza da atividade,
visto que é dele o risco do empreendimento, na forma do art. 2º da CLT. Julgados
desta Corte. No caso, o TRT atribuiu o encargo probatório dos gastos efetuados à
Reclamante. Ocorre que, comprovado que a Reclamante era obrigada a apresen-
tar-se no trabalho utilizando maquiagem e esmaltes, cabia à Reclamada produzir
prova dos fatos obstativos do direito da Obreira (fatos modificativos, impeditivos
ou extintivos), ônus do qual não há registro de que se desincumbiu - à luz do art.
818 da CLT c/c art. 373, I, do CPC/2015 (art.333, II, do CPC/1973). Julgados desta
Corte. Infere-se, portanto, a alegada violação ao art. 373, inciso I, do CPC/2015.
Recurso de revista conhecido e provido “ (RR-26-48.2016.5.02.0004, 3ª Turma, Re-
lator Ministro Mauricio Godinho Delgado, DEJT 30/08/2019).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGI-
DE DAS LEIS Nos 13.015/2014, 13.105/2015 E 13.467/2017 - DESCABIMEN-
TO. INDENIZAÇÃO POR GASTOS COM MAQUIAGEM E UNIFORME. IMPOSIÇÃO
PATRONAL. 1 . A jurisprudência desta Corte segue no sentido de ser devida a
indenização pelos gastos com maquiagem e uniforme, quando decorrentes de
imposição patronal. Precedentes . 2. A valoração dos meios de prova ofertados
pela parte constitui prerrogativa do julgador, pelo princípio da persuasão racional,
que tem previsão no ordenamento processual, na aplicação subsidiária do art.
371 do CPC. Assim, não há que se falar em equívoco quanto às regras de distribui-
ção do ônus da prova, quando o julgador, confrontando o acervo instrutório dos
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autos, reputa comprovados os fatos constitutivos do direito postulado. Agravo de


instrumento conhecido e desprovido. (AIRR - 570-30.2017.5.12.0034 , Relator Mi-
nistro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de Julgamento: 13/03/2019,
3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/03/2019) (g.n.)
(...) INDENIZAÇÃO DE DESPESAS COM UNIFORME E MAQUIAGEM. Consignou
o Regional que, “diante da comprovação do uso, é dever da empregadora fornecer
ou indenizar os gastos da empregada na aquisição de uniformes e maquiagens”,
bem como que, “considerando as peças que compõem o uniforme adquirido pela
autora, citados pela testemunha, o valor arbitrado à indenização pelo Julgador de
origem mostra-se adequado e razoável”. Transcreveu o depoimento da testemu-
nha no sentido de que “a reclamada não fornecia calça jeans escura nem sapato
escuro; era necessário o uso de maquiagem mas a empresa não fornecia”. Cum-
pre salientar que somente é importante perquirir a quem cabe o ônus da prova
quando não há prova do fato controvertido nos autos, arguido por qualquer das
partes. Assim, uma vez que o fato ficou efetivamente provado, conforme asse-
verou o Tribunal Regional, é irrelevante o questionamento sobre a quem caberia
fazer a prova. Portanto, nessa hipótese, não há reconhecer ofensa aos artigos 818
da CLT e 333, inciso I, do CPC/1973. Recurso de revista não conhecido. (...) (RR
- 770-80.2012.5.04.0019, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 24/04/2018, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/04/2018) (g.n.)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE REVIS-
TA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. [...] INDENIZAÇÃO DE-
CORRENTE DAS DESPESAS COM A COMPRA DE MAQUIAGENS E SAPATOS
. No caso, o Regional, com amparo no conjunto probatório dos autos, concluiu
que, a despeito de a reclamada exigir da reclamante a utilização de maquiagem
e sapatos na cor preta para a realização do seu labor, não fornecia esses itens à
autora e, por essa razão, confirmou a sentença na qual se condenou a empresa
ao pagamento de indenização pelas despesas obtidas com a compra desses ob-
jetos. Desse modo, não se constata a alegada violação dos artigos 373, inciso I,
do CPC de 2015 e 818 da CLT, porquanto não se dirimiu a controvérsia em face
das regras de julgamento e distribuição do ônus da prova, como pretende fazer
crer a agravante, mas sim diante das provas efetivamente produzidas nos autos,
notadamente a testemunhal, por meio da qual se evidenciou a obrigatoriedade do
uso de sapatos pretos e maquiagens pela autora, sem que houvesse o forneci-
mento pela empregadora. Agravo de instrumento desprovido. (TST - ARR - 20046-
74.2015.5.04.0025, 2ª Turma, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, DEJT
27/10/2017). (g.n.)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GASTOS REALIZADOS
COM APRESENTAÇÃO PESSOAL. Na esteira da jurisprudência do TST, havendo
exigência da empresa de utilização de maquiagem para o exercício das atividades,
resta devida a indenização . Precedentes (TST - AIRR - 1167-91.2015.5.12.0026, 4ª
Turma, Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, Data DEJT 03/08/2018). (g.n.)
(...) B) RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO DE DESPESAS COM APRESENTA-
ÇÃO PESSOAL USO DE MAQUIAGEM. Cinge-se a controvérsia em definir sobre a
responsabilidade do empregador em indenizar a empregada pelas despesas com
a apresentação pessoal, notadamente o uso de maquiagem. O Regional manteve
a condenação ao fundamento de que havia exigência da empregadora de utiliza-
ção de maquiagem e cuidados com as unhas pela empregada, para o exercício de
suas atividades, razão pela qual cabia a empresa suportar essas despesas, haja
vista ser dela os riscos do negócio, nos termos do artigo 2º da CLT. Com efeito,
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esta Corte consagra entendimento de que há obrigação patronal de custeio das


despesas pessoais do empregado, somente na hipótese de a exigência decorrer
da natureza da atividade exercida, caso dos autos. Assim, havendo exigência da
empregadora de utilização de maquiagem para o exercício das atividades, que
não era fornecida, resta devida a indenização . Recurso de revista conhecido e
não provido” (TST- ARR - 547-21.2016.5.12.0034, 8ª Turma, Relatora Ministra: Dora
Maria da Costa, DEJT 27/10/2017). (g.n.)

5.1.5. ATO LESIVO DA HONRA E BOA FAMA


Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família,
ato lesivo da honra e boa fama;
O empregado pode pleitear a rescisão indireta quando o empregador ou seus
prepostos praticam atos lesivos à honra e a boa fama. Tais atos são aqueles que o Có-
digo Penal denomina crimes contra a honra, ou seja, a calúnia, a difamação e a injúria.
5.1.6. AGRESSÃO FÍSICA
Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
O empregado pode pleitear a rescisão indireta quando o empregador ou supe-
rior hierárquico que agride fisicamente o empregador.
5.1.7. REDUÇÃO DO TRABALHO
Fundamento legal:
CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a
afetar sensivelmente a importância dos salários.
Se o empregado tem o salário estipulado por produção e o empregador reduz
suas tarefas, de forma a reduzir sensivelmente a seu salário, este poderá pleitear a
rescisão indireta do contrato de trabalho.
Tal situação, não é aplicada ao professor que recebe por hora aula e teve redu-
ção da carga horária por redução do número de alunos, uma vez que não implica redu-
ção do valor da hora-aula.
TST, OJ-SDI1-244. PROFESSOR. REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA. POSSIBILIDADE
- A redução da carga horária do professor, em virtude da diminuição do número
de alunos, não constitui alteração contratual, uma vez que não implica redução do
valor da hora-aula.
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5.2. RESCISÃO INDIRETA X PERMANÊNCIA NO TRABALHO


Nos casos de rescisão indireta, o empregado precisa continuar trabalhando
após o protocolo da ação?
O § 3º do art. 483 da CLT diz que:
CLT, Art. 483, § 3° - Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado pleitear
a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indeniza-
ções, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo.
Você sabe o que acontece com o contrato de trabalho do empregado que pro-
cessa a empresa solicitando a rescisão indireta e não sai vitorioso nessa ação, ou
seja, o pedido é julgado improcedente?
Temos duas situações.
1 - Empregado que se afasta do trabalho após o ajuizamento da ação.

A primeira e mais comum, ocorre quando o empregado ajuíza a ação solicitan-


do a rescisão indireta do contrato de trabalho e, em seguida, para imediatamente de
trabalhar. Nesse caso, quando a ação é julgada improcedente, o juiz, deve declarar que
a extinção do contrato ocorreu por demissão a pedido do empregado. Veja:
RESCISÃO INDIRETA. JUSTA CAUSA. DEMISSÃO A PEDIDO. Improcedente a
rescisão indireta pela inexistência de prova dos requisitos do artigo 483 da CLT,
declara-se que a extinção do contrato ocorreu por demissão a pedido, com a refor-
ma parcial da sentença para afastar a justa causa aplicada depois do ajuizamen-
to da ação. Recurso autoral conhecido e parcialmente provido. (TRT 1ª R.; ROT
0100743-96.2018.5.01.0078; Sétima Turma; Relª Des. Sayonara Grillo Coutinho
Leonardo da Silva; Julg. 01/07/2020; DEJT 14/07/2020)
FORMA DE EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. PEDIDO DE DEMISSÃO.
RESCISÃO INDIRETA. O pedido de demissão é válido quando formulado de pró-
pria vontade pela trabalhadora, por razões particulares. Comprovada a motivação
da reclamante decorrente da aprovação em concurso público e ausente prova
consistente de que, antes disso, a empregadora tenha incorrido em causa sufi-
ciente a configurar a resolução do contrato de trabalho, por justa causa, mantém-
-se a sentença que julgou improcedente o pedido de rescisão indireta do contrato
de trabalho e considerou-o extinto por pedido de demissão. Recurso não provido.
(TRT 4ª R.; ROT 0020671-12.2018.5.04.0411; Quarta Turma; Relª Desª Ana Luiza
Heineck Kruse; DEJTRS 16/10/2019; Pág. 1158)
Apesar do § 3º do artigo 483 da CLT tratar da paralisação do trabalho apenas
nos casos de rescisão indireta das hipóteses das letras “d” e “g”, a doutrina e a jurispru-
dência permitem a paralisação do trabalho em qualquer hipótese prevista no art. 483
da CLT, vejamos:
Eduardo Gabriel Saad27: “Nos demais casos de despedida indireta previstos no
artigo sob estudo tem o empregado de afastar-se do serviço para fazer as supra-
citadas postulações porque se presume que a falta cometida pelo empregador
(ou por seus prepostos) tem a natureza daquelas que não permitem o prossegui-
mento da prestação de serviços.”
Maurício Godinho Delgado28: “A lei não poderia ter pensado de modo distinto, é
27 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 49. São Paulo: LTr, 2016. Pág. 745.
28 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15º. ed. São Paulo: LTr, 2016. Pág. 1369/1370.
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claro: se há uma infração do empregador, torna-se evidente que o empregado,


ao propor sua ação resolutória, pode afastar-se do emprego, indiferentemente
do tipo jurídico invocado. É que a falta, caso efetivamente ocorrida, torna difícil,
constrangedora ou, até mesmo, insustentável a relação entre as partes, por culpa
do comitente da infração, não se justificando exigir-se do obreiro que continue,
passivamente, a se submeter ao poder diretivo, fiscalizatório e disciplinar intensos
do empregador. A propósito, o não afastamento do empregado, de certo modo,
pode até mesmo conspirar contra sua pretensão resolutória, uma vez que sugere,
em face de sua permanência no serviço, que a afronta empresarial não foi, assim,
afinal, tão grave como suposto. [..] Portanto, o trabalhador que alegue a prática de
grave transgressão empresarial, propondo ação com pedido de rescisão indireta,
pode escolher entre afastar-se ou não do emprego, qualquer que seja a motivação
tipificada para a ruptura contratual.”
Nesse caso, o juiz vai descontar do empregado o valor do aviso prévio como
determina o art. 487, § 2º, da CLT?
Não!
A jurisprudência vem entendendo que o indeferimento da rescisão indireta e o
reconhecimento judicial de pedido indireto de demissão afasta a incidência da dedu-
ção dos salários correspondentes ao prazo do aviso, veja:
“RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A
ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA. PEDIDO JULGADO IMPROCE-
DENTE. AVISO PRÉVIO. DEDUÇÃO INDEVIDA. Em hipóteses como a dos autos,
em que é postulada a rescisão indireta do contrato de trabalho, o ajuizamento da
ação trabalhista supre a obrigação do empregado de conceder aviso prévio, não
sendo aplicável a disposição contida no art. 487, § 2º, da CLT (“A falta de aviso pré-
vio por parte do empregado dá ao empregador o direito de descontar os salários
correspondentes ao prazo respectivo”). Recurso de embargos conhecido e des-
provido” (E-Ag-RR-10356- 85.2015.5.03.0142, Subseção I Especializada em Dissí-
dios Individuais, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 07/12/2018).
RESCISÃO INDIRETA IMPROCEDENTE. PEDIDO INDIRETO DE DEMISSÃO DE-
CORRENTE DE DECISÃO JUDICIAL. A empregada que não permaneceu no ser-
viço e impetrou ação pleiteando a rescisão indireta do contrato de trabalho, não
deixou de satisfazer a obrigação de pré-avisar o empregador, mas apenas se valeu
da faculdade normativa prevista no art. 483, § 3º, da CLT. Desse modo, o inde-
ferimento da rescisão indireta e o reconhecimento judicial de pedido indireto de
demissão afasta a incidência da dedução dos salários correspondentes ao prazo
do aviso, nos termos do art. 487, § 2º, da CLT, considerando que o direito de pe-
tição exercido pela autora supriu a obrigação de pré-avisar o empregador da sua
intenção de colocar fim ao pacto laboral. Feriados trabalhados. Escala 12x36. No
sistema de escala 12X36, tem-se compensados o labor em domingos, pois inseri-
do dentro do sistema normal de compensação. O mesmo não ocorre, contudo, no
que se refere ao labor em feriados. Dessa forma, e tendo em vista a aplicação dos
entendimentos contidos nas Súmulas nº 146 e 444, do TST, tem a autora direito
ao pagamento dos feriados na forma como reconhecido em primeiro grau de ju-
risdição. (TRT 2ª R.; ROT 1000005-59.2019.5.02.0292; Décima Sétima Turma; Rel.
Des. Flávio Villani Macêdo; DEJTSP 02/09/2019; Pág. 31589)
É viável a alegação em sede de defesa de justa causa por abandono de em-
prego quando o empregado se afasta do trabalho após o ajuizamento da ação que
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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solicita a rescisão indireta?


Os Tribunais Regionais vêm entendendo que ingresso da ação judicial traba-
lhista requerendo a rescisão indireta, torna impossível a configuração de abandono
do emprego após o ajuizamento daquele processo. Logo, não é viável essa tese de
defesa. Vejamos:
RESCISÃO INDIRETA X JUSTA CAUSA. Ausente a comprovação de fato faltoso
grave por parte do empregador a ensejar a rescisão indireta, e caracterizada a dis-
pensa empregada por justa causa, por abandono de emprego, mantém-se inalte-
rada a sentença que deferiu apenas o pagamento das parcelas típicas dessa mo-
dalidade de terminação contratual. (TRT 14ª R.; RO 0000130-38.2020.5.14.0401;
Segunda Turma; Relª Desª Socorro Guimarães; DJERO 21/09/2021; Pág. 1111)
TÉRMINO DO CONTRATO DE TRABALHO. RESCISÃO INDIRETA X ABANDONO DE
EMPREGO. A cessação indireta do pacto laboral, assim como a dispensa por justa
causa, exigem, para a sua configuração, prova segura quanto a ação ou omissão
das partes que enseje a falta grave. No caso, não restou cabalmente demonstrada
a falta grave alega pela autora, acerca do não pagamento do vale-transporte no
último mês do vínculo. Noutra via, a configuração da justa causa por abandono de
emprego pressupõe o elemento objetivo consistente no afastamento do serviço
por um período, em regra, de 30 dias; e do elemento subjetivo, que consiste na
intenção de romper o contrato de trabalho, por parte do empregado. O pedido de
rescisão indireta, apresentado em prazo inferior a 30 dias após o último dia de tra-
balho, afasta o animus abandonandi. (TRT18, ROPS - 0010385-15.2018.5.18.0013,
Rel. EUGENIO JOSE CESARIO ROSA, TRIBUNAL PLENO, 16/08/2018)
RESCISÃO INDIRETA X ABANDONO DE EMPREGO. O ingresso com ação judi-
cial trabalhista requerendo a rescisão indireta torna impossível a configuração
de abandono do emprego após o ajuizamento daquele processo. (TRT-1 - RO:
01005103720165010283 RJ, Relator: JOSÉ LUIS CAMPOS XAVIER, Data de Julga-
mento: 12/07/2017, Sétima Turma, Data de Publicação: 15/08/2017)
Contudo, se o empregado se afasta do trabalho e a sua ação somente é ajuiza-
da após 30 dias do seu afastamento, entendo que é viável a dispensa por justa cau-
sa por abandono de emprego, contudo, para configurar o elemento subjetivo da justa
causa (intensão do empregado em abandonar), o empregador deve mandar cartas (ou
e-mail, telegrama, por aplicativos de celular [whatsapp em conversa privada]).
2- Empregado que continua trabalhando após o ajuizamento da ação.

A segunda situação, ocorre quando o empregado ajuíza a reclamação trabalhis-


ta pleiteando a rescisão indireta do contrato de trabalho e permanece trabalhando. Já
nesse caso, quando a ação é julgada improcedente, o juiz, não deve declarar que a
extinção do contrato ocorreu por demissão a pedido do empregado. A ação deve ser
apenas julgada improcedente e o empregado deve permanecer na empresa trabalhan-
do normalmente.
O TST, ao julgar o processo ARR-20379-14.2015.5.04.0029 entendeu que “a in-
terpretação de que a improcedência do pedido de reconhecimento da rescisão indireta
implica o pedido de demissão é incongruente com a própria norma que autoriza recla-
mante a continuar trabalhando. O art. 483, § 3º, da CLT autoriza que o empregado per-
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maneça no serviço. Não é uma imposição. Assim, se houvesse interesse do reclamante


de resilir o contrato sponte sua, o pedido de demissão seria realizado antes mesmo do
ajuizamento da reclamação trabalhista. Portanto, a norma, ao garantir a permanência no
serviço, não impede a continuidade do contrato após ser julgado improcedente o pedido
de rescisão indireta. O contrato de trabalho é, em regra, contrato por tempo indetermina-
do, ungido pelo princípio da continuidade (o qual conspira em proveito da preservação
dos vínculos de emprego) característica não afastada com o pedido de rescisão indire-
ta”. Nesse sentido:
RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. MODALIDADE DE RESCISÃO CON-
TRATUAL. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA RESCISÃO INDIRETA JULGADO
IMPROCEDENTE. EMPREGADO QUE PERMANECE EM SERVIÇO COM O AJUIZA-
MENTO DA DEMANDA. O art. 483, §3o, da CLT autoriza o empregado a continuar
trabalhando quando propõe reclamação trabalhista com base nas suas alíneas “d”
e “g”. O dispositivo garante que, se mal sucedido na tentativa de provar que o em-
pregador cometeu justa causa, o empregado tem preservado o seu vínculo laboral.
A interpretação de que a improcedência do pedido de reconhecimento da rescisão
indireta implica pedido de demissão é incongruente com a própria norma que au-
toriza o reclamante a continuar trabalhando. O art. 483, § 3º, da CLT autoriza que
o empregado permaneça no serviço. Não é uma imposição. Assim, se houvesse
interesse do reclamante de resilir o contrato sponte sua , o pedido de demissão
seria realizado antes mesmo do ajuizamento da reclamação trabalhista. Portanto,
a norma, ao garantir a permanência no serviço, não impede a continuidade do
contrato após ser julgado improcedente o pedido de rescisão indireta. O contrato
de trabalho é, em regra, contrato por tempo indeterminado, ungido pelo princípio
da continuidade (o qual conspira em proveito da preservação dos vínculos de em-
prego), característica não afastada com o pedido de rescisão indireta. Ademais,
na contestação a reclamada não pleiteia a declaração de rescisão do contrato de
trabalho a pedido do empregado, apenas sustenta a improcedência do pedido, o
que configura preclusão. Assim, a decisão do Regional é inovatória e sem amparo
fático porque não houve pedido de demissão, além de estar em desarmonia com
o princípio da continuidade. Recurso de revista conhecido e provido. (ARR-20379-
14.2015.5.04.0029, 6ª Turma, Redator Ministro Augusto César Leite de Carvalho,
DEJT 27/04/2018).
“RECURSO DE REVISTA. 1. PEDIDO DE RESCISÃO INDIRETA AJUIZADO EM
AÇÃO ANTERIOR. RECUSA INJUSTIFICADA DO EMPREGADOR EM ADMITIR A
CONTINUAÇÃO DA RELAÇÃO DE EMPREGO NO CURSO DA RECLAMAÇÃO TRA-
BALHISTA. ART. 483, § 3º, DA CLT. DESISTÊNCIA DA AÇÃO PRETÉRITA E AJUI-
ZAMENTO DE NOVA DEMANDA PLEITEANDO RESCISÃO DIRETA POR JUSTA
CAUSA DO EMPREGADOR. A interpretação conferida pelo Regional ao preceito
do art. 483, § 3º, da CLT, no sentido de que o direito à permanência no emprego
não se adstringe às alíneas ‘d’ e ‘g’ do preceito consolidado, revela-se consentânea
com o princípio protetivo do trabalhador e os direitos constitucionais de petição
e de ação (art. 5º, XXXIV e XXXV, da Constituição Federal), não sendo razoável
concluir que há incompatibilidade incontornável na continuação da relação de em-
prego pelo só fato do ajuizamento de reclamação trabalhista com fundamento em
existência de justa causa para a rescisão indireta, até porque o próprio legislador,
atento a essa realidade, declarou o direito à permanência no emprego até decisão
final, exatamente por ser mais vantajoso ao obreiro, a seu critério, a manutenção
do vínculo, evitando-se que a eventual improcedência do pleito judicial de rescisão
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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indireta converta-se automaticamente em pedido de demissão . Não conhecido.”


(RR - 1578-12.2012.5.03.0020, Relator Ministro: Emmanoel Pereira, Data de Julga-
mento: 24/06/2015, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 01/07/2015)
Posso pedir na ação de rescisão indireta a multa do art. 467 da CLT, pleo não
pagamento das verbas incontroversas em audiência?
Não, pois quando as parcelas devidas pela dissolução contratual decorrem de
provimento judicial, havendo, antes, controvérsia sustentável à razão do fim do contra-
to de trabalho, impossível a condenação ao pagamento da multa a que alude o art. 467
da CLT. Vejamos:
III - RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ART. 467 DA CLT. RESCISÃO INDIRETA.
Quando as parcelas devidas pela dissolução contratual decorrem de provimento
judicial, havendo, antes, controvérsia sustentável quanto à razão de desfazimento
do vínculo, impossível a condenação ao pagamento da multa a que alude o art.
467 da CLT. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido” (RRAg-100441-
08.2018.5.01.0227, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, DEJT 10/09/2021).
III-RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014.
RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO. MULTA DOS ARTIGOS 477 E
467 DA CLT. REQUISITOS DO ARTIGO 896, § 1º-A, DA CLT ATENDIDOS. Indevi-
da a aplicação da multa prevista no artigo 467 da CLT, ante a ausência de verbas
resilitórias incontroversas. A multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT, deve ser
concedida, uma vez que a jurisprudência desta Corte sinaliza no sentido de seu
cabimento nos casos em que o empregador deixa de efetuar o correto pagamen-
to das verbas rescisórias ao empregado, ou seja, no prazo definido pelo § 6º do
referido dispositivo, sobretudo se não há a indicação , no acórdão regional, de que
o autor teria proposto a ação judicial antes de afastar-se. Com o cancelamento
da OJ 351 da SBDI-1 desta Corte, não mais subsiste o entendimento de que a
fundada controvérsia ou dúvida sobre as obrigações isentaria o empregador do
pagamento da multa. Assim, não sendo corretamente pagas as verbas rescisórias
no prazo aludido no art. 477, ainda que reconhecida a rescisão indireta somente
em juízo, tem-se por cabível a sanção. Precedentes. Recurso de revista conhecido
e parcialmente provido. (ARR-644-94.2013.5.09.0006, 6ª Turma, Relator Ministro
Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 03/09/2021).

5.3. VERBAS DEVIDAS NA RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE


TRABALHO:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 40% do FGTS.
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9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço.


10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
11. Multa pelo atraso no pagamento das verbas rescisórias - art. 477, § 8º da
CLT.
II - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. MULTA DO ART. 477 DA CLT. RES-
CISÃO INDIRETA. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que
a multa prevista no § 8º do art.477da CLT apenas é indevida quando o traba-
lhador der causa à mora (Súmula 462/TST). Nesse contexto, o reconhecimento
da rescisão indireta do contrato de trabalho em juízo não afasta a incidência da
penalidade. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido” (RRAg-10067-
52.2020.5.18.0016, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, DEJT 01/10/2021).

6. APOSENTADORIA ESPONTÂNEA
A aposentadoria é uma garantia constitucional, prevista no art. 201 da Consti-
tuição Federal de 1988, nos seguintes termos:
CF/88, Art. 201. (…)
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos ter-
mos da lei, obedecidas as seguintes condições:
I – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição,
se mulher;
II – sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mu-
lher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os
sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar,
nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
A aposentadoria espontânea (idade ou por tempo de contribuição) não impede
o empregado de permanecer trabalhando, salvo se for aposentadoria por incapacida-
de permanente (antiga aposentadoria por invalidez). É o que determina o art. 168 do
Decreto n. 3.048/99:
“Salvo nos casos de aposentadoria por invalidez, o retorno do aposentado à ativi-
dade não prejudica o recebimento de sua aposentadoria, que será mantida no seu
valor integral”.
A aposentadoria espontânea não é causa de extinção do contrato de trabalho
se o empregado permanece prestando serviços ao empregador após a jubilação. As-
sim, por ocasião da sua dispensa imotivada, o empregado tem direito à multa de 40%
do FGTS sobre a totalidade dos depósitos efetuados no curso do pacto laboral. OJ-S-
DI1-361 do TST.
Exemplo: Antônio foi admitido em Fevereiro/2000 e, tendo completado o tem-
po de serviço necessário para aposentadoria em outubro/2010, requereu o benefício
junto ao INSS. Foi concedida a aposentadoria espontânea pelo INSS a partir de no-
vembro/2010. Mesmo aposentado, Antônio continuou prestando serviços à mesma
empresa, até que, em Dezembro/2016, foi demitido sem justa causa. O contrato de
trabalho de Antônio é um só, compreendendo o período de Fevereiro/2000 a Dezem-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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bro/2016. Logo, como foi dispensado sem justa causa, Antônio tem direito à multa de
40% do FGTS calculada sobre todos os depósitos do FGTS, desde a sua admissão, e
não apenas sobre aqueles posteriores à aposentadoria.
6.1. VERBAS DEVIDAS:
Caso o empregado faça a opção por parar de trabalhar, o mesmo terá direito de
receber:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque).
7. FACTUM PRINCIPIS
Factum principis seria a modalidade de extinção do contrato de trabalho por
extinção do estabelecimento empresarial em decorrência de ato de autoridade muni-
cipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que impossibilite a
continuação da atividade empresarial.
Nesse sentido:
CLT, Art. 486 - No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, moti-
vada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação
de lei ou resolução que impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o
pagamento da indenização, que ficará a cargo do governo responsável.
O fato do príncipe decorre de ato geral (leis e regulamentos, por exemplo) do
Poder Público, não como parte contratual (Estado-administrador), mas como Estado-
-império (uso de supremacia). Hely Lopes Meirelles: “é toda determinação estatal, geral,
imprevista e imprevisível, positiva ou negativa, que onera substancialmente a execução
do contrato administrativo”
A empresa encerrou suas atividades em razão de ato de desapropriação do Po-
der Público e por consequência os contratos de trabalho foram rescindidos, por factum
principis, incumbindo ao órgão expropriante o pagamento da indenização devida aos
empregados.
A indenização mencionada no art. 486 da CLT, consiste apenas na multa com-
pensatória do FGTS, ou, nos contratos por prazo determinado, na indenização prevista
no art. 479.
7.1. COVID - 19 X FACTUM PRINCIPIS
A demissão dos empregados em decorrência das restrições impostas pelo Go-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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verno para conter a pandemia pelo Covid-19 pode ser enquadrada como dispensa em
decorrência do fato do príncipe - factum principis?
Vejamos o entendimento da Lei e de um julgado da 4ª Turma do TST.
7.1.1. ENTENDIMENTO DA LEI
O art. 29 da Lei 14.020/2020 determinou que não se aplica factum principis
previsto no art. 486 da CLT para os casos de paralisação ou suspensão de atividades
empresariais determinada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal para o
enfrentamento do estado de calamidade pública em decorrência do Covid-19
Art. 29. Não se aplica o disposto no art. 486 da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943 , na hipótese de paralisação ou suspensão de
atividades empresariais determinada por ato de autoridade municipal, estadual
ou federal para o enfrentamento do estado de calamidade pública reconhecido
pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do coronavírus, de que trata a Lei
nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020 .

7.1.2. DECISÃO DO TST SOBRE O TEMA


No julgamento do processo n. 397-42.2020.5.21.0004, a 4ª Turma do TST, de
relatoria do Ministro Alexandre Luiz Ramos, que foi publicado no DEJT 22/10/2021
decidiu que a redução das atividades de empresa decorrente da adoção de medidas
para o enfrentamento da pandemia da COVID-19 não configura fato do príncipe, hábil
a atrair a incidência do art. 486 da CLT, especialmente quando não houver a extinção
da atividade empresarial.
“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA
RECLAMADA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014 E DA LEI Nº 13.467/2017. RITO SUMARÍSSIMO. 1. RESCISÃO DO
CONTRATO DE TRABALHO. PANDEMIA DE COVID-19. FATO DO PRÍNCIPE NÃO
CONFIGURADO. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE TRANSPORTE PÚBLICO MUNI-
CIPAL. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. NÃO PROVIMENTO. [..] O
fato do príncipe ( factum principis ), previsto no art. 486, caput , da CL.T, é uma mo-
dalidade de ruptura do contrato de trabalho, que ocorre quando há a paralisação,
temporária ou definitiva, do trabalho, em razão de ato de ente Estatal que invia-
biliza a continuidade da atividade econômica. IV. Constata-se da decisão recorrida
que a Reclamada é empresa concessionária de transporte público municipal, ou
seja, exerce atividade de caráter permanente e essencial, de modo que as medi-
das tomadas na tentativa de conter a disseminação do Coronavírus (redução da
frota de ônibus e limitação no número de passageiros por veículo) não ensejaram
a extinção da atividade empresarial, mas, sim, sua redução. Observa-se, ainda, a
ausência de discricionariedade da Administração Pública quanto à adoção de
tais medidas, porquanto se trata de recomendações da OMS (Organização da
Mundial de Saúde) para salvaguarda da vida e saúde da população nacional,
bem como a possibilidade de mitigação dos prejuízos sofridos pela Reclamada
com a aplicação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego, criado
pela Lei nº 14.020/2020 (conversão da Medida Provisória nº 936/2020), do que
não se valeu a ora Recorrente, conforme registro do acórdão regional. V. Nesse
contexto, tal como concluiu a Corte de origem, ausentes os requisitos necessá-
rios para a configuração do fato do príncipe, não há que se cogitar de responsa-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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bilização do ente público pelo pagamento das verbas trabalhistas rescisórias, sob
pena de transferência do risco da atividade econômica para o próprio empregado.
VI. Sob esse enfoque, a redução das atividades de empresa concessionária de
transporte público decorrente da adoção de medidas para o enfrentamento da
pandemia da COVID-19 não configura fato do príncipe, hábil a atrair a incidência
do art. 486 da CLT, especialmente quando não houver a extinção da atividade
empresarial, mas, tão-somente sua redução e a Reclamada não adotar medidas
de mitigação dos prejuízos previstos no Programa Emergencial de Manutenção
do Emprego, criado pela Lei nº 14.020/2020. VII. Agravo de instrumento de que
se conhece e a que se nega provimento” (AIRR-397-42.2020.5.21.0004, 4ª Turma,
Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 22/10/2021).
Cito ainda, uma decisão do TRT da 6ª Região sobre o tema:
EMENTA: FATO PRÍNCIPE E FORÇA MAIOR. PANDEMIA (COVID 19). MEDIDAS
RESTRITIVAS. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. INOCORRÊNCIA. DISSOLUÇÃO
DO CONTRATO DE TRABALHO. VERBAS RESCISÓRIAS DEVIDAS PELO EMPREGA-
DOR. O factum principis, de que trata o art. 486 da CLT, ocorre quando a Adminis-
tração Pública impossibilita a execução da atividade do empregador e, por conse-
guinte, o contrato de trabalho, de forma definitiva ou temporária, por intermédio
de lei ou ato administrativo envolvido de certa discricionariedade, estando ligado
às atividades normais. E, na hipótese, justamente em razão da excepcionalidade
do assolamento de uma pandemia, não se aplica a teoria do factum principis,
pois não há falar em discricionariedade do Governo do Estado de Pernambuco,
mas em necessidade de restrição/paralisação de serviços com o fito de preser-
var a saúde pública. E não obstante reconhecido pelo art. 1º, § único, da Medida
Provisória nº 927/2020, a força maior, inclusive para fins trabalhistas, nos moldes
do art. 501 da CLT, não se olvida que o empregado também enfrenta igual crise
decorrente da situação pandêmica em situação de desemprego. Sopesa-se que
os créditos trabalhistas possuem natureza alimentar e que a empresa, que detém
o risco da atividade econômica, mantém provisionamento e reserva de emergên-
cia para cumprimento das obrigações, inclusive porque, na hipótese, frise-se, não
houve demonstração de que a extinção do contrato de trabalho decorreu da restri-
ção imposta às atividades comerciais. Recurso empresarial improvido, no aspec-
to. (PROC. Nº. TRT - 0000637-45.2020.5.06.0102 - Data da publicação 16.09.2021)

7.2. VERBAS DEVIDAS:


1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 40% do FGTS. (Ficará a cargo do governo responsável)
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço.
10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
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8. EXTINÇÃO DA EMPRESA
A extinção da empresa acarreta a rescisão do contrato e, neste caso, será con-
siderado que ela se deu por iniciativa do empregador, sendo devidas ao empregado
todas as parcelas decorrentes da extinção – Súmula nº 44 do TST.
EXTINÇÃO DA EMPRESA. RESCISÃO DO CONTRATO SEM JUSTA CAUSA. VER-
BAS RESCISÓRIAS DEVIDAS. A extinção da empresa, com a consequente cessa-
ção da prestação de serviços, equivale à dispensa sem justa causa, conferindo
ao empregado direito às verbas rescisórias decorrentes da dispensa imotivada.
Recurso da reclamante a que se dá provimento, no particular. (Processo nº 00612-
2013-872-09-00-5, 7ª Turma do TRT da 9ª Região/PR, Rel. Benedito Xavier da Sil-
va. DEJT 11.10.2013).

8.1. VERBAS DEVIDAS:


1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 40% do FGTS.
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço.
10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
9. DISPENSA COLETIVA. NEGOCIAÇÃO COLETIVA.
Dispensa coletiva é a rescisão simultânea, por motivo único, de uma pluralidade
de contratos de trabalho numa empresa, sem substituição dos empregados dispen-
sados” - in Dispensa Coletiva na Reestruturação da Empresa - Aspectos jurídicos do
desemprego tecnológico. Editora LTr, São Paulo, 1974. p. 575.
A CLT não tratava das dispensas coletivas, desta forma, o TST firmou entendi-
mento de que as dispensas coletivas eram nulas, caso não tivesse havido prévia nego-
ciação com o sindicato da categoria. Assim, a negociação coletiva era imprescindível
para a dispensa em massa de trabalhadores. Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA JURÍDICA. DISPENSA COLETIVA. ENCERRA-
MENTO DA UNIDADE FABRIL. NEGOCIAÇÃO COLETIVA. 1. Ao interpretar o sis-
tema constitucional vigente, como também as Convenções da OIT, firmou-se a
jurisprudência desta Seção de Dissídios Coletivos no sentido de que a dispensa
coletiva não constitui mero direito potestativo do empregador, uma vez que, para
sua ocorrência e a definição de seus termos, tem de ser objeto de negociação
com o correspondente sindicato de trabalhadores. 2. Na hipótese vertente, a em-
presa suscitada encerrou suas atividades no município de Aratu-BA, procedendo
à dispensa de todos os empregados dessa unidade industrial, alegando questões
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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de estratégia empresarial e redução dos custos de produção. 3. Nesse contexto,


a negociação coletiva prévia com a entidade sindical dos trabalhadores fazia-se
ainda mais necessária, tendo em vista que não se tratava de mera redução de pes-
soal, mas de dispensa da totalidade dos empregados do estabelecimento, com
consequências mais graves para os trabalhadores desempregados. 4. Impõe-se,
portanto, a manutenção da decisão recorrida que declarou a ineficácia da dispen-
sa coletiva, e suas consequências jurídicas no âmbito das relações trabalhistas
dos empregados envolvidos. Recurso ordinário a que se nega provimento. (RO
- 6-61.2011.5.05.0000, Relator Ministro: Walmir Oliveira da Costa, Data de Julga-
mento: 11/12/2012, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data de Publica-
ção: DEJT 22/02/2013)
Entretanto, com a reforma trabalhista do ano de 2017, o artigo 477-A da CLT,
equiparou as dispensas imotivadas individuais, plúrimas ou coletivas, e determinou
que não há necessidade de autorização prévia de entidade sindical ou de celebração
de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho para sua efetivar as dispensas
imotivadas individuais, primas ou coletivas.
CLT, Art. 477-A. As dispensas imotivadas individuais, plúrimas ou coletivas equi-
param-se para todos os fins, não havendo necessidade de autorização prévia de
entidade sindical ou de celebração de convenção coletiva ou acordo coletivo de
trabalho para sua efetivação.
Conceitos:
A dispensa coletiva, ocorre quando a empresa em ato único, ou seja, de uma só
vez, demite muitos funcionários por um único motivo. A título de exemplo, cito a crise
financeira que leva a empresa demitir muitos funcionários de uma só vez.
Já a dispensa plúrima, ocorre quando a empresa, demite muitos funcionários,
por diferentes motivos, ou seja, cada dispensa tem seu motivo. As dispensas não ocor-
rem necessariamente no mesmo dia, podendo ser em dias diferente por um certo pe-
ríodo, estando dentro de um padrão de normalidade da empresa.
9.1. VERBAS DEVIDAS:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 40% do FGTS.
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço.
10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
10. CULPA RECÍPROCA
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Diz o art. 484 da CLT:


CLT, Art. 484 - Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do con-
trato de trabalho, o tribunal de trabalho reduzirá a indenização à que seria devida
em caso de culpa exclusiva do empregador, por metade.
Segundo o professor Marcelo Moura29;
“Ocorre culpa recíproca quando empregado e empregador, simultaneamente, pra-
ticam faltas graves, tipificadas, respectivamente, nos artigos 482 e 483 da CLT.
Para a configuração da culpa recíproca, além da simultaneidade, deve haver nexo
de causalidade entre as faltas, sendo desprezível o fato das condutas não pos-
suírem a mesma intensidade. Basta que ambas sejam de tal forma grave, preen-
chendo cada qual algum tipo específico de justa causa. O excesso praticado pelo
empregador ao repelir injusta agressão física praticada por empregado é exemplo
de ato faltoso recíproco, motivando a rescisão contratual na forma deste artigo.”
Desta forma, reconhecida a culpa recíproca na rescisão do contrato de trabalho
(art. 484 da CLT), o empregado tem direito a 50% do valor do aviso prévio, do décimo
terceiro salário, das férias proporcionais (TST, SUM 14) o percentual da multa do FGTS
será de 20 % (Lei, 8.036/90, Art. 18, §2º).
A culpa recíproca deve ser reconhecida pela justiça do trabalho.
10.1. VERBAS DEVIDAS:
1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais por metade com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional por metade.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 20% do FGTS.
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço por metade.
10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
11. DISTRATO - ACORDO ENTRE EMPREGADO E EMPREGADOR
A reforma trabalhista de 2017, passou a admitir a rescisão contratual por dis-
trato, ou seja, uma rescisão bilateral, permitindo a negociação de forma restrita das
verbas rescisórias. O tema foi regulamentado no art. 484-A da CLT. Após o acordo, o
empregado passa a ter direito:
> De receber metade do aviso prévio e da multa do FGTS.
> A receber de forma integral o saldo de salário, férias com adicional de 1/3, 13º
salário.
29 MOURA, Marcelo. Consolidação das Leis do Trabalho para Concursos. 6. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 563.
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> De sacar 80% do FGTS.


Entretanto, este empregado não tem direito de receber o seguro desemprego.
Veja a redação do art. 484-A da CLT:
CLT, Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empre-
gado e empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - Por metade:
a) o aviso prévio, se indenizado; e
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, previs-
ta no § 1° do art. 18 da Lei n° 8.036, de 11 de maio de 1990;
II - Na integralidade, as demais verbas trabalhistas.
§ 1° A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimenta-
ção da conta vinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
na forma do inciso I-A do art. 20 da Lei n° 8.036, de 11 de maio de 1990, limitada
até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos.
§ 2° A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza
o ingresso no Programa de Seguro-Desemprego.

11.1. VERBAS DEVIDAS:


1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. FGTS 8% (saque de apenas 80% do valor depositado).
8. Multa de 20% do FGTS.
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço por metade.
12. PLANO DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA OU INCENTIVADA
O empregado pode ajustar o fim do contrato com o empregado, ou seja, por
comum acordo entre as partes, conhecido como distrato. No direito do trabalho, o dis-
trato é conhecido como:
> Plano de Demissão Voluntária (PDV);
> Programa de Incentivo à Rescisão Contratual (PIRC); ou
> Plano de Demissão Incentivada (PDI).
O assunto foi tratado pelo art.477-B da CLT, incluído pela reforma trabalhista do
ano de 2017.
CLT, Art. 477-B. Plano de Demissão Voluntária ou Incentivada, para dispensa indi-
vidual, plurima ou coletiva, previsto em convenção coletiva ou acordo coletivo de
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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trabalho, enseja quitação plena e irrevogável dos direitos decorrentes da relação


empregatícia, salvo disposição em contrário estipulada entre as partes.
Essa modalidade de rescisão, necessita criação pelo empregador de um progra-
ma ou plano com algum tipo de estímulo em dinheiro, para estimular e atrair emprega-
dos a pedirem demissão.
O art. 477-B, seguiu o entendimento do STF - Supremo Tribunal Federal, que ao
analisar do Recurso Extraordinário RE 590.415/SC, atribuiu repercussão geral ao tema.
Na decisão, o STF entendeu que é válida a quitação ampla e irrestrita das parcelas ob-
jeto do contrato de emprego caso essa condição tenha constado expressamente do
instrumento coletivo (convenção coletiva ou acordo coletivo) que aprovou o plano de
incentivo à dispensa.
O TST, após a decisão do STF, passou a seguir tal entendimento:
‘RECURSO DE EMBARGOS NÃO REGIDO PELA LEI 11.496/2007. RETORNO DOS
AUTOS. ART. 543-B, §3º, DO CPC/1973. BESC. PLANO DE INCENTIVO AO DESLI-
GAMENTO VOLUNTÁRIO. EFEITOS DA QUITAÇÃO GERAL E IRRESTRITA DO CON-
TRATO DE TRABALHO. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. DECISÃO DO SUPRE-
MO TRIBUNAL FEDERAL COM REPERCUSSÃO GERAL. Discutem-se os efeitos da
quitação do contrato de trabalho decorrente de adesão ao Plano de Incentivo ao
Desligamento do BESC previsto em acordo coletivo de trabalho. O Supremo Tri-
bunal Federal, em análise do Recurso Extraordinário nº RE 590415/SC, em que
se atribuiu repercussão geral ao tema, entendeu pela possibilidade da quitação
ampla e irrestrita das parcelas objeto do contrato de emprego caso essa condição
tenha constado expressamente do instrumento coletivo que aprovou o plano de
incentivo à dispensa. Situação dos autos, consoante dados do acórdão do Tribu-
nal Regional transcritos no acórdão da Turma deste Tribunal. A particularidade do
caso afasta por completo a incidência da Orientação Jurisprudencial 270 desta
Subseção, que havia ensejado o provimento do recurso de revista do reclamante.
Há julgados recentes desta Subseção proferidos em casos semelhantes, com de-
cisão unânime, em análise do mesmo PDI de 2001. Nesse contexto, cabe exercer
o juízo de retratação na forma do disposto no art. 543-B, § 3º, do CPC/1973 para
restabelecer o acórdão do Tribunal Regional, na parte em que manteve a improce-
dência do pedido formulado na petição inicial. Recurso de embargos conhecido e
provido’ (E-ED-RR - 635600-65.2003.5.12.0035 Data de Julgamento: 20/10/2016,
Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 28/10/2016)
Informativo 187 do TST - Não tem eficácia a ressalva oposta em termo de rescisão
contratual, na hipótese em que havia ajuste coletivo prevendo a quitação ampla e
geral do contrato de trabalho em caso de adesão de empregado da Administração
dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) a plano de dispensa incentivada. Apli-
ca-se ao caso a tese fixada pelo STF no RE 590.415/SC. Na espécie, registrou-se
que o empregado concordou com o disposto em item do regulamento do PDI que
não permitia ressalvas, além de ter assinado formulário de ratificação da adesão
dando plena quitação ao contrato de trabalho. Ademais, o ajuste coletivo foi fruto
de amplo debate entre as partes convenentes, devendo prevalecer sobre o ato
unilateral firmado pelo reclamante quando da homologação do termo de rescisão,
que ressalvou da quitação os direitos postulados nas ações judiciais trabalhistas
ajuizadas até 31.7.2014. (Processo: TST-E-RR-920-84.2012.5.09.0322, SBDI-I, rel.
Min. Hugo Carlos Scheuermann, 12.11.2018)
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Informativo 189 do TST - A adesão voluntária do empregado ao Programa de De-


missão Incentivada (PDI/2001), instituído pelo Banco do Estado de Santa Catarina
- BESC, implica o reconhecimento da quitação ampla e irrestrita de todas as par-
celas objeto do contrato de emprego (conforme previsto no acordo coletivo que
aprovou o plano), incluindo o pedido de indenização por danos morais. No caso,
entendeu-se que o referido pedido, decorrente do transporte irregular de valores,
está vinculado ao extinto contrato de emprego, pois tem como causa de pedir su-
posto ato ilícito praticado pelo empregador, sujeitando-se, portanto, à ampla quita-
ção decorrente da adesão ao PDI. (Processo: TST-ERR-446485-88.2007.5.12.0001,
SBDI-I, rel. Min. Hugo Carlos Scheue-mann, 13.12.2018)
Sendo assim, para ter eficácia liberatória geral, é preciso:
> Plano de Incentivo a Demissão Voluntária;
> Cláusula de quitação ampla e irrestrita das parcelas objeto do contrato de
emprego previstas em instrumento coletivo (convenção coletiva ou acordo coletivo);
> Concordância pelo empregado.
Caso o Plano de Incentivo a Demissão Voluntária tenha cumprido os itens aci-
ma, não será aplicado o entendimento da Orientação Jurisprudencial nº 270 da SDI-1
do TST.
TST, OJ-SDI1-270. PROGRAMA DE INCENTIVO À DEMISSÃO VOLUNTÁRIA. TRAN-
SAÇÃO EXTRAJUDICIAL. PARCELAS ORIUNDAS DO EXTINTO CONTRATO DE
TRABALHO. EFEITOS - A transação extrajudicial que importa rescisão do contrato
de trabalho ante a adesão do empregado a plano de demissão voluntária implica
quitação exclusivamente das parcelas e valores constantes do recibo.
Por fim, é importante saber que a jurisprudência do TST, orienta-se no sentido
de que a adesão a programa de incentivo ao desligamento voluntário é incompatível
com o pagamento de parcelas oriundas da dispensa imotivada, ou seja, o empregado
não vai ter direito de receber:
> Aviso Prévio;
> Saque do FGTS; e
> Multa de 40% do FGTS.
Nesse sentido:
[..] B) AGRAVO DE INSTRUMENTO DO RECLAMANTE. RECURSO DE REVISTA.
PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. PLANO DE INCENTIVO À APOSEN-
TADORIA - PIA. ADESÃO. MULTA DE 40% DO FGTS E AVISO-PRÉVIO. A jurispru-
dência desta Corte Superior tem se firmado no sentido de reconhecer que a ade-
são do empregado a Plano de Desligamento Voluntário, quando ausente vício de
vontade, não pode produzir os mesmos efeitos da dispensa imotivada. Prevalece,
portanto, a tese que reconhece a incompatibilidade entre a adesão a PDV e congê-
neres e o recebimento da indenização respectiva, bem como a incidência de ver-
bas rescisórias. Julgados desta Corte. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR
nº 10965-80.2015.5.15.0127, 3ª Turma do TST, Rel. Maurício Godinho Delgado. j.
11.10.2017, Publ. 20.10.2017).
[...] ADESÃO A PROGRAMA DE DESLIGAMENTO VOLUNTÁRIO. INDENIZAÇÃO DO
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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FGTS E AVISO PRÉVIO. O Tribunal Regional indica que o término do contrato de


trabalho se deu por iniciativa do reclamante que aderiu ao plano de demissão vo-
luntária, mediante o pagamento de indenização. O entendimento desta Corte Su-
perior é no sentido de que a adesão ao plano de demissão voluntária equivale ao
pedido de rescisão contratual por iniciativa do empregado, situação que não gera
direito às parcelas pedidas pelo trabalhador. Assim, não se tratando de dispensa
imotivada, não é devida a indenização de 40% sobre o FGTS, tampouco o aviso
prévio, por ausência de previsão legal e porque a adesão do trabalhador a Plano
de Aposentadoria Voluntária - PDV é incompatível com o pagamento das parcelas
em questão. Recurso de revista não conhecido. [...] (ARR - 615-80.2010.5.09.0028
Data de Julgamento: 28/06/2017, Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra Bel-
monte, 3a Turma, Data de Publicação: DEJT 03/07/2017).
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - PLA-
NO DE APOIO À APOSENTADORIA - MULTAS DO FGTS E DO ART. 477, § 8º, DA CLT
E AVISO- PRÉVIO Os elementos fáticos consignados no acórdão regional indicam
que a rescisão do contrato de trabalho decorreu de iniciativa da Reclamante, que
aderiu voluntariamente ao PAA - Plano de Apoio à Aposentadoria. Não há falar
em dispensa sem justa causa por iniciativa do Empregador, o que afasta o direito
ao pagamento do aviso prévio, da multa do art. 477, § 8º, da CLT e da multa de
40% sobre o FGTS. Precedentes. Recurso de Revista não conhecido. (RR-1208-
91.2014.5.06.0145, Rel. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma, DEJT de
15/4/2016)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. PROGRAMA DE DEMIS-
SÃO VOLUNTÁRIA. SAQUE DO FGTS. Na hipótese dos autos, o autor pretende sa-
car o saldo de sua conta vinculada no FGTS, mesmo tendo como o motivo de
sua rescisão contratual a sua adesão a Programa de Demissão Voluntária (PDV).
Com efeito, o inciso I do artigo 20 da Lei nº 8.036/90 dispõe que a conta vinculada
do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada nos casos de despedida sem
justa causa, inclusive a indireta, de culpa recíproca e de força maior. Entendo que
a adesão do empregado aos planos de demissão voluntária não altera a natureza
da iniciativa da rescisão contratual por parte do empregador. Isso porque, como
se sabe, os planos de demissão voluntária são implementados pelo empregador,
por decisão estratégica que lhe cabe, com o intuito de racionalizar a sua estrutura
administrativa e enxugar o seu quadro de empregados, anunciando, claramente,
que vai, em futuro próximo, dispensar um número expressivo de empregados. As-
sim, visando a evitar as naturais resistências coletivas e organizadas dos empre-
gados alvo dessas demissões em massa e a compensar a perda dos respectivos
empregos, o empregador divulga que os trabalhadores que aderirem ao plano de
demissão, além das verbas normais da dispensa imotivada, receberão valores
adicionais em decorrência dessa mesma demissão. Vale destacar, ainda, o fun-
damento adotado pelo Ministro Horácio de Senna Pires, na sessão de julgamento,
ao ressalvar seu entendimento pessoal, do qual compartilho, de que o empregado
que não adere ao plano de desligamento voluntário poderá ser despedido sem
justa causa posteriormente, deixando de receber aquelas vantagens pecuniárias
previstas no plano, uma vez que o interesse do empregador em reduzir o quadro
de empregados fica evidenciado com a instituição do programa de desligamento
voluntário. Em outras palavras, os empregados que optam por aderir a esses pro-
gramas têm que escolher entre manifestar individualmente o seu consentimento
em serem dispensados sem justa causa, recebendo, em contrapartida, as vanta-
gens financeiras adicionais unilateralmente oferecidas por seu empregador, ou
correrem o risco de, em futuro próximo, não tendo “aderido” ao PDV, serem imo-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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tivadamente dispensados, no âmbito do anunciado programa de “enxugamento”


dos quadros daquela empresa, sem nada mais receberem, além dos valores le-
galmente devidos para essa mesma modalidade de rescisão contratual. Seguindo
essa linha de raciocínio, se a despedida é, efetivamente, imotivada, não será pos-
sível admitir a alteração da natureza jurídica desta rescisão contratual nos casos
em que o desligamento decorre de adesão a plano de demissão voluntária. Entre-
tanto, ressalte-se que esta Corte tem o entendimento de que, no caso de adesão
ao programa de demissão voluntária, quando não houver notícia de vício de von-
tade no acordo firmado, a situação de desemprego resultou de ato voluntário do
empregado, o que afasta o enquadramento nas hipóteses taxativas previstas em
lei. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR-62340-67.2008.5.24.0046, 2ª Turma,
Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, DEJT 03/05/2013).

12.1. VERBAS DEVIDAS:


1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional.
7. Indenização ajustada no PDV.
13. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA
As dispensas discriminatórias ocorrem por motivos de origem, na raça, na cor,
no sexo, no estado civil, na situação familiar, na situação de deficiência, reabilitação
profissional ou na idade do empregado, entre outros.
O art. 1º da Lei n. 9.029/95 prevê hipóteses de discriminação, porém, de forma
não exaustiva.
Lei n. 9.029/95, Art. 1º - É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e
limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por
motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, rea-
bilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses
de proteção à criança e ao adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7o da
Constituição Federal.
O art. 187 do Código Civil dispõe expressamente que:
“comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou bons costu-
mes”
A jurisprudência trabalhista também não aceita dispensas discriminatórias, se-
não vejamos:
EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE
TST, SUM 443 do TST - DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO
PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO À REIN-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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TEGRAÇÃO - Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do


vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o
ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego.
Informativo TST n° 112 - DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PORTADOR DO VÍRUS
HIV. ESTIGMA OU PRECONCEITO. PRESUNÇÃO RELATIVA. SÚMULA N° 443 DO
TST. Nos termos da Súmula n° 443 do TST, presume-se discriminatória a despe-
dida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que susci-
te estigma ou preconceito, cabendo ao empregador comprovar que o motivo da
dispensa não possui relação com a enfermidade. Na espécie, não se cogitou de
desconhecimento do estado de saúde da reclamante pela reclamada. Além da
ciência do estado de saúde da reclamante, não se identificou no acórdão do Tri-
bunal Regional do Trabalho da 2a Região qualquer motivação de ordem técnica a
justificar a dispensa, apenas se podendo detectar momento de fragilidade física
e emocional decorrentes da moléstia, conforme relatado por perita. Sob esses
fundamentos, a SBDI-1, por unanimidade, conheceu dos embargos, por contrarie-
dade à Súmula n° 443 do TST. e. no mérito, deu-lhes provimento para, reputando
discriminatória a dispensa da reclamante ocorrida em 11/10/2008, declarar nulo
o ato de dispensa sem justa causa e determinar a sua reintegração ao trabalho,
com pagamento dos salários vencidos e vincendos, inclusive PLR’s, 13° salários e
férias mais 1/3, com as respectivas dobras eventualmente cabíveis, desde a ilícita
dispensa até a efetiva reintegração, acrescidos dos reajustes legais, normativos,
espontâneos e promocionais. TST-E-ED-RR-1129-60.2010.5.02.0082. SBDI-I, rei.
Min. Márcio Eurico Vitral Amaro. 25.6.2015.
ABUSO DE PODER DIRETIVO. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. A Constituição Federal traz em seu bojo princípios basilares, tais
como o princípio da dignidade humana (art. 1º, III), dos valores sociais do traba-
lho e da livre iniciativa (art. 1º, IV), da construção de uma sociedade livre, justa e
solidária (art. 3º, I), da igualdade (art. 5º, caput), da proteção do emprego contra
a dispensa abusiva ou sem justa causa (art. 7º, I), da valorização do trabalho hu-
mano (art. 170), da função social da propriedade (art. 170, III), os quais devem ser
observados pelo empregador. O caput do art. 170 revela que a ordem econômica
é fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa e tem por objeti-
vo assegurar ao homem a existência digna e o princípio da proteção do emprego
contra a dispensa abusiva ou sem justa causa (art. 7º, I) vedando a dispensa ar-
bitrária, a qual se caracteriza (dentre outras hipóteses) pelo término do contrato
motivado por um fator de discriminação. Os problemas de saúde apresentados
pela autora foram determinantes para a extinção do vínculo de emprego, caracte-
rizando-se a dispensa discriminatória e o abuso de poder pelo empregador. Viola-
ção aos citados princípios constitucionais e ao disposto no art. 1º da Convenção
nº 111 da OIT, bem como no art. 1º da Lei nº 9.029/95. Recurso da ré a que se
nega provimento. (Processo nº 20928-2013-007-09-00-9 (27280-2015), 3ª Turma
do TRT da 9ª Região/PR, Rel. Thereza Cristina Gosdal. DEJT 22.09.2015).
DISPENSADA APÓS RETORNO DO INSS
Informativo TST n° 115 - RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. REINTEGRAÇÃO AO EMPREGO. TRABALHADORA
DISPENSADA LOGO APÓS RETORNAR DE AFASTAMENTO PREVIDENCIÁRIO. ATO
DA EMPRESA TIDO COMO TRATAMENTO DISCRIMINATÓRIO. EXERCÍCIO ABUSI-
VO DO DIREITO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO À CASSAÇÃO DA
DECISÃO ANTECIPATÓRIA. Recurso ordinário em mandado de segurança impe-
trado contra decisão interlocutória de antecipação dos efeitos da tutela, na qual
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determinada a reintegração de empregada dispensada sem justa causa vinte e


um dias após retornar de licença para tratamento de saúde. O ato tido como coa-
tor foi exarado com fundamento na possível conduta discriminatória da empresa,
que rompeu o vínculo empregatício tão logo a empregada recebeu alta do INSS,
após recuperação de suposto acidente sofrido nas dependências da empresa. A
ideia central da dignidade da pessoa humana, tal como referida no Texto Constitu-
cional, não se compadece com tratamentos discriminatórios. O exercício abusivo
do direito de rescisão do contrato de trabalho, porque ilícito, não pode produzir
efeitos válidos. Ademais, não obstante a empresa tenha de suportar as despesas
com o pagamento dos salários até o julgamento final da causa, é certo que se be-
neficiará da prestação de serviços da empregada durante o período. Ressalte-se
que a ruptura do vínculo de emprego traduz dano de difícil reparação para a tra-
balhadora, na medida em que o prejuízo financeiro sofrido renova-se e é agravado
mês a mês, atingindo a subsistência da empregada e de sua família. Não há falar,
portanto, em ofensa a direito líquido e certo da empresa à cassação da decisão
antecipatória. Sob esse entendimento, a SBDI-II decidiu, por maioria, vencido o
Ministro Antonio José de Barros Levenhagen, conhecer do recurso ordinário e. no
mérito, negar-lhe provimento. TST-RO-5588-92.2013.5.15.0000. SBDI-II, rei. Min.
Douglas Alencar Rodrigues. 25.8.2015.
JUSTA CAUSA APÓS INGRESSO COM AÇÃO TRABALHISTA
DESPEDIDA POR JUSTA CAUSA. DISCRIMINAÇÃO. INGRESSO COM AÇÃO TRA-
BALHISTA. DANO MORAL. Evidenciado nos autos que a despedida por justa causa
da reclamante na realidade se deu em razão de esta ter ingressado com ação tra-
balhista contra a reclamada na vigência do contrato de trabalho, resta configurada
a despedida discriminatória, a qual caracteriza o chamado dano moral puro, que
dispensa qualquer prova, uma vez que o prejuízo que dele decorre é presumível.
É devida portanto a indenização a fim de reparar o sofrimento da trabalhadora e
coibir tal prática por parte da empresa. Recurso da reclamada desprovido no as-
pecto. (RO nº 0000731-27.2013.5.04.0382, 4ª Turma do TRT da 4ª Região/RS, Rel.
André Reverbel Fernandes. j. 06.07.2016, unânime).

13.1. ROL EXEMPLIFICATIVO DO ART. 1º DA LEI 9.029/95


O rol do artigo 1º da Lei 9.029/95, não é taxativo e sim exemplificativo, nesse
mesmo sentido, cito os seguintes precedentes do TST:
INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. REINTEGRA-
ÇÃO. Concluiu o Tribunal Regional que o fato de ter o autor sido demitido por ter
ingressado com ação contra a empresa não caracteriza dispensa discriminatória,
nos termos da Lei 9.029/95, porque só aplicado o disposto no art. 4º da referida
lei se, no caso concreto, incorrer o empregador nas hipóteses de discriminação
previstas no art. 1º, visto que a interpretação do dispositivo é exaustiva. O artigo
1º da Lei 9.029/95, com a redação dada pela Lei nº 13.146/2015, proíbe a adoção
de práticas discriminatória quanto ao acesso ou manutenção da relação de em-
prego. A jurisprudência desta Corte vem se manifestando no sentido de que o rol
constante da Lei 9.029/95 não é taxativo, mas enunciativo, podendo ser aplicado
em casos em que fique comprovada a conduta discriminatória, pois no referido
dispositivo, quis o legislador ampliar a possibilidade de aplicação, ao resguardar
o direito do trabalhador no emprego, assegurando a dignidade da pessoa huma-
na, o valor social do trabalho e bens tutelados pela Constituição Federal. O caso
configura típico caso de aplicação do instituto que a doutrina jurídica moderna,
sobretudo espanhola, denomina garantia de indenidade, a qual consiste em técni-
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ca de proteção do exercício dos direitos fundamentais, na busca da ineficácia dos


atos empresariais lesivos a esses direitos dos trabalhadores. O Supremo Tribunal
Federal reconhece a relevância da pretensão ligada à garantia de indenidade, ao
considerar que, se “de um lado reconhece-se o direito do empregador de fazer
cessar o contrato a qualquer momento, sem que esteja obrigado a justificar a
conduta, de outro não se pode olvidar que o exercício respectivo há que ocorrer
sob a égide legal e esta não o contempla como via oblíqua para se punir aqueles
que, possuidores de sentimento democrático e certos da convivência em socie-
dade, ousaram posicionar-se politicamente, só que o fazendo de forma contrária
aos interesses do copartícipe da força de produção” (RE 130206-PA, relator Minis-
tro Ilmar Galvão, DJ de 14.08.1992). Há precedentes. Recurso de revista conheci-
do e provido. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA - DIREITO DO RECLAMANTE OPTAR
PELA REINTEGRAÇÃO COM PAGAMENTO DOS SALÁRIOS VENCIDOS DESDE A
DISPENSA. O recurso de revista, interposto sob a égide da Lei 13.015/2014, não
atende aos requisitos estabelecidos na nova redação do artigo 896, § 1º-A, da
CLT, em especial no que se refere à indicação do trecho da decisão recorrida que
consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revis-
ta. Recurso de revista não conhecido. RECONHECIMENTO DE OUTROS MOTIVOS
PARA QUE SEJA DECLARADA NULA A DISPENSA DIANTE DA NÃO OBSERVÂN-
CIA DO PERCENTUAL DE 5% DISPOSTO NO ARTIGO 93, § 3º DA LEI 8.213/91 E
NECESSIDADE DE ANÁLISE DE DOCUMENTOS RAIS E CAGED À DISPOSIÇÃO DO
MM. JUÍZO EM SEGREDO DE JUSTIÇA EM OUTROS AUTOS. O recurso de revista,
interposto sob a égide da Lei 13.015/2014, não atende aos requisitos estabeleci-
dos na nova redação do artigo 896, § 1º-A, da CLT, em especial no que se refere à
indicação do trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamen-
to da controvérsia objeto do recurso de revista. Recurso de revista não conhecido.
DANOS MORAIS - MAJORAÇÃO DO QUANTUM. Em relação ao valor arbitrado a
título de reparação por dano moral, o entendimento regional somente pode ser
revisado na instância extraordinária quando vulnera os preceitos de lei ou Cons-
tituição que emprestam caráter normativo ao princípio da proporcionalidade. E,
considerando a moldura factual definida pelo Regional (dispensa discriminatória
- “a reclamada abusou do seu poder potestativo ao praticar ato ilícito quando res-
cindiu o contrato de trabalho com o autor por ingressar com ação junto a esta
Especializada, numa atitude discriminatória e ilegal”) e insusceptível de revisão
conforme diretriz da Súmula 126 do TST, o valor atribuído (R$ 50.000,00) não se
mostra irrisório a ponto de se o conceber desproporcional. Recurso de revista não
conhecido. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Conforme a jurisprudência desta Corte
permanece válido o entendimento de que, nos termos do art. 14, caput e § 1º, da
Lei 5.584/70, a sucumbência, por si só, não justifica a condenação ao pagamento
de honorários pelo patrocínio da causa, mesmo frente à legislação civilista, que
inclui expressamente os honorários advocatícios na recomposição de perdas e
danos. Entende-se que não foram revogadas as disposições especiais contidas
na aludida Lei 5.584/70, aplicada ao processo do trabalho, consoante o art. 2º,
§ 2º, da LINDB. Desse modo, se o trabalhador não está assistido por advogado
credenciado pelo sindicato profissional ou não declara insuficiência econômica
(OJ 304 da SBDI-1 do TST), conforme recomenda a Súmula 219, I, do TST, inde-
vidos os honorários advocatícios. No caso concreto, não há assistência pelo sin-
dicato de classe. Ressalva do relator. Recurso de revista não conhecido. (ARR nº
2223-30.2014.5.17.0003, 6ª Turma do TST, Rel. Augusto César Leite de Carvalho.
j. 19.10.2016, Publ. 11.11.2016).
“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. DIS-
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PENSA DISCRIMINATÓRIA. RETALIAÇÃO PELO AJUIZAMENTO DE AÇÃO TRABA-


LHISTA. REINTEGRAÇÃO. A Lei nº. 9.029/95, em seu artigo 1º, proíbe a adoção
de práticas discriminatórias quanto ao acesso ou manutenção da relação de em-
prego. Embora o dispositivo se refira a discriminação por “motivo de sexo, origem,
raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade”, doutrina e jurisprudência têm
entendido que se trata de menção unicamente exemplificativa, a autorizar a apli-
cação do art. 8º da CLT, para o efeito de reconhecer outras situações de discrimi-
nação. Isso se deve ao fato de que a própria Constituição Federal, em seus artigos
3º, IV, 5º, caput, I, VIII, XVII, XX e XLI, 7º, XXX, XXXI e XXXII, veda outras práticas
de discriminação. A CLT, em seu art. 373-A, também repele formas de discrimi-
nação ao trabalho da mulher, devendo ser acrescentado que a Súmula nº 443
desta Corte é igualmente exemplo de interpretação ampliativa do art. 1º da Lei n º
9.029/95, ao consolidar o entendimento de ser presumível a dispensa discrimina-
tória de empregado portador de HIV. No caso, ficou constatado o abuso do direito
potestativo do empregador em dispensar empregados, como meio de punição/
retaliação ao ajuizamento de ação trabalhista. Esta Corte, nessas circunstâncias,
tem identificado a dispensa discriminatória, a ensejar o direito do empregado à
reintegração, nos termos do art. 4º, I, da Lei nº 9.029/95. Recurso de revista co-
nhecido e provido. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DISPENSA RETALIATIVA. O
empregador extrapola seu poder diretivo e incorre em abuso de direito quando dis-
pensa empregado em razão de ajuizamento de ação trabalhista. Trata-se de ato
legítimo, assegurado constitucionalmente (art. 5º, XXXV, Constituição Federal), de
forma a configurar a conduta ilícita do empregador, nos termos do art. 187 do
CCB, e o dano causado à dignidade do empregado e ao seu direito de livre acesso
à Justiça. Devida, assim, a reparação, nos termos do art. 5º, V e X, da Constituição
Federal, 186 e 927 do CCB. Precedentes da Corte. Recurso de revista conhecido
e provido.” (RR - 10425-06.2014.5.03.0061, Relator Desembargador Convocado:
Paulo Marcelo de Miranda Serrano, Data de Julgamento: 22/06/2016, 6ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 24/06/2016)

13.2. REINTEGRAÇÃO OU INDENIZAÇÃO EM DOBRO


Nestes casos, o empregado pode solicitar a sua a reintegração com ressarci-
mento integral de todo o período de afastamento ou ainda, a percepção, em dobro, dos
salários do período de afastamento se não pretender mais retornar mais ao emprego.
Nesse sentido o art. 4º da Lei 9.029/95:
Art. 4º - O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos moldes
desta Lei, além do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao empregado op-
tar entre:
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de afastamento,
mediante pagamento das remunerações devidas, corrigidas monetariamente e
acrescidas de juros legais;
II - a percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento, corrigida
monetariamente e acrescida dos juros legais.

13.3. DANOS MORAIS


O empregado pode ainda, solicitar uma indenização por danos morais como
determina o caput do art. 4º da Lei 9.029/95.
Art. 4º - O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos moldes
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desta Lei, além do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao empregado op-
tar entre:
Dano moral nas palavras do Pablo Stolze30, “consiste na lesão de direito cujo
conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras pala-
vras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima
da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida
privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente.”
CLT, Art. 223-B.  Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que
ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as
titulares exclusivas do direito à reparação.
CLT, Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoesti-
ma, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens juridicamente
tutelados inerentes à pessoa física.

13.4. NÃO É DISCRIMINATÓRIO AS SEGUINTES DISPENSAS


No processo RR nº 979-71.2013.5.02.0083, 6ª Turma do TST, Rel. Aloysio Cor-
rêa da Veiga. j. 07.12.2016, Publ. 19.12.2016), o TST entendeu, não ser abusiva as se-
guintes dispensas:
Admite-se, por outro lado a dispensa de portador de doença grave quando não
arbitrária, a qual se dá, nos termos do artigo 165 da CLT, quando por motivo
disciplinar, técnico, econômico ou financeiro.
Em havendo dispensa por justa causa, como o motivo disciplinar consta da res-
cisão contratual, não caberá falar em presunção de dispensa discriminatória.
13.5. ÔNUS DA PROVA
Quanto ao ônus da prova, o TST entende que deve ser aplicado a distribuição
dinâmica, ou seja, apesar do art. 818, I da CLT determinar que cabe ao reclamante pro-
var os fatos constitutivos do seu direito, o ônus probatório, deve ser transferido para o
empregador com base no §1º do art. 373 do CPC e §1º do art. 818 da CLT e, que possui
a seguinte redação:
CPC, Art. 373, § 1°- Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o en-
cargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça
por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se
desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
CLT, Art. 818, § 1° - Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da prova
do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
O TST entende que a demissão do empregado doente, portador do vírus HIV, e
etc.. presume-se discriminatória, no caso, trata-se de presunção relativa, cabendo a
30 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona - Novo Curso de Direito Civil – Responsabilidade Civil- 4ª Ed., Saraiva, 2006, p.55.
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empresa reclamada provar o contrário. Nesse sentido, cito os seguintes precedentes:


[..] Na hipótese de despedida sem justa causa, por outro lado, a prova de que a
dispensa não foi arbitrária, pois fundada em motivo técnico, econômico ou fi-
nanceiro, incumbe ao empregador, por ser fato impeditivo do direito pretendido
pelo reclamante, bem como em face do princípio da aptidão para a prova. Daí por
que se presume discriminatória a mera dispensa sem justa causa de portador
de doença grave (Súmula nº 443 do c. TST). No caso dos autos, o fato de que a
comunicação da dispensa se deu antes de a autora ter informado à empregadora
que era portadora de Hepatite C não justifica a dispensa imotivada e, portanto, não
tem o condão de afastar a presunção de discriminação. Ainda, não há informação
no sentido de que eventual reestruturação organizacional noticiada tenha tornado
inviável a permanência do reclamante na empresa, situação que justificaria a dis-
pensa por motivo técnico. Dessa forma, não tendo a reclamada comprovado que
a dispensa da reclamante se deu por algum dos motivos constantes do artigo 165
da CLT, presume-se discriminatória a dispensa ocorrida, fazendo jus a autora à
reintegração no emprego, com o pagamento dos salários vencidos e vincendos do
período de afastamento. Recurso de revista conhecido e provido. [..] (RR nº 979-
71.2013.5.02.0083, 6ª Turma do TST, Rel. Aloysio Corrêa da Veiga. j. 07.12.2016,
Publ. 19.12.2016).
I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EMPREGADO DEPEN-
DENTE QUÍMICO. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. Demonstrada pos-
sível contrariedade à Súmula 443 do TST, impõe-se o provimento do agravo de
instrumento, para determinar o processamento do recurso de revista. Agravo de
instrumento provido. II - RECURSO DE REVISTA. EMPREGADO DEPENDENTE QUÍ-
MICO. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. 1. Caso em que a Corte de
origem imputou ao reclamante, portador de doença grave que suscita estigma ou
preconceito (dependência química), o ônus da prova quanto à natureza discrimi-
natória da dispensa. 2. Decisão que contraria os termos da Súmula 443 do TST,
segundo a qual “Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador
do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito”. 3.
Uma vez reconhecida a natureza discriminatória da dispensa do reclamante, faz
ele jus ao recebimento da remuneração relativa ao período de afastamento em do-
bro, nos moldes do art. 4º, II, da Lei 9.029/95, bem como à indenização por danos
morais, no valor de R$ 10.000,00. Recurso de revista conhecido e parcialmente
provido. (RR nº 2525-61.2012.5.15.0140, 2ª Turma do TST, Rel. Delaíde Miranda
Arantes. j. 14.12.2016, Publ. 19.12.2016).

14. RESCISÃO DO CONTRATO POR FORÇA MAIOR


Diz o art. 501 da CLT:
CLT, Art. 501. Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em
relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não concorreu,
direta ou indiretamente.
Segundo o art. 501, força maior será qualquer acontecimento, natural ou decor-
rente de fato de terceiros, para o qual o empregador não concorreu, nem teria como
prever ou evitar.
O descuido, desleixo, imprevidência do empregador exclui a força maior e lhe
impõe a responsabilidade. Homero Batista Mateus da Silva31 adverte que “empresa
31 SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de Direito do Trabalho aplicado: Contrato de trabalho, p. 305.
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habituada com constantes inundações no bairro não pode alegar força maior na tercei-
ra enchente, nem o posto de gasolina pode alegar surpresa com o incêndio agravado
pela falta de extintores e de para-raios”.
A falta de manutenção do estabelecimento empresarial, que resulta em incên-
dio, desabamentos etc., por estes motivos, não resultam na força maior, não sendo
aplicado art. 501 da CLT.
Desta forma, reconhecida a força maior prevista no art. 501 da CLT, o emprega-
do tem direito de receber normalmente suas verbas rescisórias, com exceção da multa
do FGTS, que será de 20% conforme §2º, do art. 18 da Lei 8.036/90.
Lei 8.036/90, Art.  18.  Ocorrendo rescisão do contrato de trabalho, por parte do
empregador, ficará este obrigado a depositar na conta vinculada do trabalhador
no FGTS os valores relativos aos depósitos referentes ao mês da rescisão e ao
imediatamente anterior, que ainda não houver sido recolhido, sem prejuízo das
cominações legais.
§ 2º Quando ocorrer despedida por culpa recíproca ou força maior, reconhecida
pela Justiça do Trabalho, o percentual de que trata o § 1º será de 20 (vinte) por
cento.

14.1. VERBAS DEVIDAS:


1. Saldo de salários.
2. Férias vencidas em dobro com adicional de 1/3.
3. Férias vencidas simples com adicional de 1/3.
4. Férias proporcionais por metade com adicional de 1/3.
5. 13° salário vencido.
6. 13° salário proporcional por metade.
7. FGTS 8% (saque).
8. Multa de 20% do FGTS.
9. Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço.
10. Seguro desemprego (se atendidas as condições legais).
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VERBAS RESCISÓRIAS
1. SALDO DE SALÁRIO
1.1. INTRODUÇÃO
Saldo de salário corresponde à remuneração relativa ao número de dias em que
o empregado efetivamente trabalhou no mês da rescisão.
CLT, Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os
efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como
contraprestação do serviço, as gorjetas que receber.
Tal parcela, é devida em qualquer tipo de rescisão, seja ela sem justa causa /
com justa causa / rescisão indireta / pedido de demissão / culpa recíproca, etc.. Pos-
sui natureza salarial e tem a incidência de FGTS conforme determina a Súmula 63 do
TST.
TST, SUM 63 - FUNDO DE GARANTIA - A contribuição para o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço incide sobre a remuneração mensal devida ao empregado,
inclusive horas extras e adicionais eventuais.

2. FÉRIAS
2.1. INTRODUÇÃO
Todo empregado tem direito de receber férias anuais remuneradas com, pelo
menos, um terço a mais do que o salário normal.
CF, Art. 7º inciso XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal;
CLT, Art. 129 - Todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de
férias, sem prejuízo da remuneração.
Características das férias conforme Maurício Godinho Delgado32:
CARÁTER IMPERATIVO: diz respeito à indisponibilidade do direito às férias, no
sentido de que não podem ser objeto de renúncia ou transação, nem mesmo de
transação prejudicial negociada no âmbito coletivo;
COMPOSIÇÃO TEMPORAL COMPLEXA: as férias são estipuladas proporcional-
mente, em um conjunto unitário de dias sequenciais. Tal característica se identifi-
ca com a ideia de continuidade das férias;
ANUALIDADE DE OCORRÊNCIA: as férias são fixadas após o transcurso do ano
contratual;
COMPOSIÇÃO OBRIGACIONAL MÚLTIPLA: as férias encerram várias obrigações
de natureza diversa, como a obrigação do empregador de fixar o período de férias
e avisar o empregado a respeito (obrigações de fazer), a obrigação do emprega-
dor de pagar a remuneração correspondente, incluído o terço constitucional (obri-
gação de dar), a obrigação do empregador de se abster de requisitar quaisquer
serviços do empregado durante o gozo das férias (obrigação de não fazer);
NATUREZA DE INTERRUPÇÃO CONTRATUAL: o gozo das férias constitui hipótese
típica de interrupção contratual, pois não há prestação de serviços, porém perma-
32 DELGADO, Maurício Godinho. “Curso de Direito do Trabalho”, 16° Ed. LTR, 2016, p. 1082-1083
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nece a obrigação do empregador de pagar os salários, computar o tempo como


de serviço etc.

2.2. DURAÇÃO DAS FÉRIAS


A duração das férias é determinada pelo art. 130 da CLT.
Art. 130 da CLT - Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato
de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção:
I - 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco)
vezes;
II - 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze)
faltas;
III - 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três)
faltas;
IV - 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta
e duas) faltas.
§ 1º - É vedado descontar, do período de férias, as faltas do empregado ao serviço.
§ 2º - O período das férias será computado, para todos os efeitos, como tempo de
serviço.
ATENÇÃO! Empregado com mais de 32 faltas, perderá o direito às férias.
Tabela das férias:
DIAS FALTAS NÃO JUSTIFICADAS
DE FÉRIAS
30 Até 5 faltas injustificadas
24 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas injustifi-
cadas
18 15 (quinze) a 23 (vinte e três) faltas
injustificadas
12 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas)
injustificadas
0 Mais de 32 faltas injustificadas

A seguir apresentamos uma tabela, indicando o número de doze avos e o nú-


mero de dias de férias que o empregado terá direito, observando as faltas dentro do
período aquisitivo. Geralmente, as sentenças deferem as férias já mencionando o nú-
mero de doze avos ou de dias que o reclamante tem direito, considerando as faltas
injustificadas e comprovadas nos autos, não sendo necessário ao calculista fazer tal
apuração. Quando não há a fixação do número de dias ou doze avos devidos, o coman-
do sentencial informa o número ou os dias a serem considerados como faltas injusti-
ficadas33.
TABELA DE FÉRIAS PROPORCIONAIS COM BASE NO ART. 130 DA CLT.
Férias propor- Até 5 faltas De 6 a 14 faltas De 15 a 23 De 24 a 32
cionais injustificadas injustificadas faltas injustifi- faltas injustifi-
cadas cadas

1/12 2,5 dias 2 dias 1,5 dias 1 dia

33 https://portal.trt3.jus.br/internet/inicio/@@search?SearchableText=calculo
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2/12 5 dias 4 dias 3 dias 2 dias

3/12 7,5 dias 6 dias 4,5 dias 3 dias

4/12 10 dias 8 dias 6,0 dias 4 dias

5/12 12,5 dias 10 dias 7,5 dias 5 dias

6/12 15 dias 12 dias 9 dias 6 dias

7/12 17,5 dias 14 dias 10,5 dias 7 dias

8/12 20 dias 16 dias 12 dias 8 dias

9/12 22,5 dias 18 dias 13,5 dias 9 dias

10/12 25 dias 20 dias 15 dias 10 dias

11/12 27,5 dias 22 dias 16,5 dias 11 dias

12/12 30 dias 24 dias 18 dias 12 dias

2.3. DURAÇÃO DAS FÉRIAS NO REGIME DE TEMPO PARCIAL (ART.


58-A DA CLT)
Com a reforma trabalhista do ano de 2017, os empregados contratados para
trabalhar em regime de tempo parcial, a duração das férias passou a ser determinada
pelo art. 130 do CLT.
2.4. NÃO SERÁ CONSIDERADA FALTA AO SERVIÇO
Não podem ser descontadas das férias como determina o art. 130 da CLT, as
seguintes faltas ao serviço:
Art. 131 da CLT - Não será considerada falta ao serviço, para os efeitos do artigo
anterior, a ausência do empregado.
I - nos casos referidos no art. 473;
II - durante o licenciamento compulsório da empregada por motivo de maternida-
de ou aborto, observados os requisitos para percepção do salário-maternidade
custeado pela Previdência Social; (Arts. 392, 392-A e 395 da CLT)
III - por motivo de acidente do trabalho ou enfermidade atestada pelo Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, excetuada a hipótese do inciso IV do art. 133;
Súmula 89 do TST - Se as faltas já são justificadas pela lei, consideram-se como
ausências legais e não serão descontadas para o cálculo do período de férias.
IV - justificada pela empresa, entendendo-se como tal a que não tiver determina-
do o desconto do correspondente salário; (Abonada pelo empregador, ou seja, foi
perdoada)
V - durante a suspensão preventiva para responder a inquérito administrativo ou
de prisão preventiva, quando for impronunciado ou absolvido; e
VI - nos dias em que não tenha havido serviço, salvo na hipótese do inciso III do
art. 133.
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2.5. NÃO TERÁ DIREITO A FÉRIAS


O empregado não perde as férias vencidas, pois estas férias, já se tornaram
direitos adquiridos. Assim, o empregado perde férias proporcionais (que ainda estava
adquirindo, ou seja, o período aquisitivo ainda não se esgotou), conforme o caput do
art. 133 d CLT.
CLT, art. 133 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do período aqui-
sitivo:
Passamos a analisar os casos.
1 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do período aquisitivo deixar o
emprego e não for readmitido dentro de 60 (sessenta) dias subsequentes à sua saída.
Perde as férias proporcionais o empregado que deixar o serviço (pedir demis-
são), e não for readmitido dentro de 60 (sessenta) dias subsequentes à sua saída.
Nesse sentido, a doutrina de Saad34:
O inc. I, do artigo sob análise, está voltado para o caso em que o empregado deixa
o serviço, e toma a iniciativa da rescisão contratual. ln casu, se voltar antes de
decorridos 60 dias, o período aquisitivo recomeça a correr no ponto em que se
interrompera com o afastamento do empregado. Se, porém, o retorno é após a
ultrapassagem daquele prazo, perde ele o direito à parte já transcorrida do período
aquisitivo antes do seu desligamento da empresa.
2 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do período aquisitivo permanecer
em gozo de licença, com percepção de salários, por mais de 30 (trinta) dias.
Perde as férias proporcionais o empregado que gozar licença remunerada con-
cedida pela empresa por mais de 30 dias. Segundo o TST, a licença remunerada não
retira do empregado o direito do terço constitucional das férias.
Informativo 10 do TST - Terço constitucional. Art. 7º, XVII, da CF. Férias não usu-
fruídas em razão de concessão de licença remunerada superior a 30 dias. Art. 133,
II, da CLT. Devido. O empregado que perdeu o direito às férias em razão da con-
cessão, durante o período aquisitivo, de licença remunerada por período superior
a trinta dias, nos termos do art. 133, II, da CLT, faz jus à percepção do terço cons-
titucional (art. 7º, XVII, da CF). À época em que editado o Decreto-lei n.º 1.535/77,
que conferiu nova redação ao art. 133 da CLT, vigia a Constituição anterior, que
assegurava ao trabalhador apenas o direito às férias anuais remuneradas, sem o
respectivo adicional, de modo que o referido dispositivo consolidado não tem o
condão de retirar direito criado após a sua edição. Ademais, na espécie, a referida
licença não decorreu de requerimento do empregado, mas de paralisação das ati-
vidades da empresa por força de interdição judicial, razão pela qual a não percep-
ção do terço constitucional também implicaria em transferir os riscos da atividade
econômica ao trabalhador, impondo-lhe prejuízo inaceitável. Com esse entendi-
mento, a SBDI-I, em sua composição plena, por maioria, deu provimento aos em-
bargos para acrescer à condenação o pagamento do adicional de 1/3 das férias,
previsto no art. 7º, XVII, da CF, atinente aos períodos em que o autor foi afastado
em razão de gozo de licença remunerada, observada a prescrição pronunciada.
Vencidos os Ministros Maria Cristina Peduzzi, João Oreste Dalazen, Brito Pereira,
Lelio Bentes Corrêa e Dora Maria da Costa. TST-E-RR-42700-67.2002.5.02.0251,
SBDI-I, rel. Min. Rosa Maria Weber, 24.5.2012.
34 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 49. ed. São Paulo: LTr, 2016
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Informativo 84 do TST - Férias não gozadas. Licença remunerada superior a trinta


dias. Terço constitucional. Devido. Art. 133, II, da CLT e art. 7º, XVII, da CF. É de-
vido o pagamento do terço constitucional relativo às férias, que deixarem de ser
usufruídas em razão da concessão de licença remunerada superior a trinta dias
decorrente de paralisação das atividades da empresa, por ser direito do traba-
lhador, previsto no art. 7º, XVII, da CF. O art. 133, II, da CLT, ao prescrever que não
terá direito a férias o empregado que, no curso do período aquisitivo, desfrutar de
mais de trinta dias de licença remunerada, teve por objetivo evitar a duplicidade
de gozo de férias no mesmo período aquisitivo, sem, contudo, retirar o direito ao
terço constitucional. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, conhe-
ceu dos embargos interpostos pelo reclamante, por divergência jurisprudencial,
e, no mérito, deu-lhes provimento para restabelecer o acórdão do Regional, que
reformara a sentença para acrescer à condenação o pagamento do terço cons-
titucional referente às férias do período aquisitivo compreendido entre 2.2.2001
e 1.2.2002. TST-E-ED-RR-175700-12.2002.5.02.0463, SBDI-I, rel. Min. João Oreste
Dalazen, 29.5.2014
Nesse sentido, a doutrina de Saad35:
Ocorre a perda do direito às férias no caso de a empresa conceder a seu empre-
gado licença remunerada por mais de 30 dias. Todavia, essa licença remunerada
não retira do empregado o direito ao pagamento do terço constitucional sobre a
remuneração paga, uma vez que este é um direito garantido constitucionalmente,
como tem entendido o TST. Se a licença for por tempo inferior, tratar-se-á de falta
justificada, que não pode causar qualquer diminuição do repouso anual.
3 - Não terá direito a férias o empregado que no curso do período aquisitivo deixar de
trabalhar, com percepção do salário, por mais de 30 (trinta) dias, em virtude de paralisação par-
cial ou total dos serviços da empresa.
Perde as férias proporcionais o empregado que deixar de trabalhar por mais
de 30 (trinta) dias em virtude de paralisação parcial ou total dos serviços da empresa,
porém recebe salários normalmente. Segundo o TST, a licença remunerada não retira
do empregado o direito do terço constitucional das férias.
Nesse sentido, a doutrina de Saad36:
A cessação do trabalho - com pagamento de salários - para atender a interesses
da empresa por prazo superior a 30 dias determina a perda das férias. Aqui, tam-
bém, se aplica a observação feita no item anterior e referente ao afastamento do
trabalho por período inferior a 30 dias.
Tem a jurisprudência entendido que o pagamento parcelado do que for devido ao
empregado, em virtude da paralisação das atividades da empresa, faz com que
a situação não se enquadre no disposto no inc. III, do artigo sob estudo (antiga
alínea c do art. 133). Essa exegese do texto legal parece-nos um pouco forçada,
porque ele não veda um ajuste entre os interessados para que o pagamento se
efetue em parcelas. Poder-se-á invocar a norma consolidada atinente à mora sala-
rial para defesa da diretriz jurisprudencial, mas se considerarmos que, na maioria
dos casos, a empresa cessa provisoriamente suas atividades, para livrar-se de
momentâneas dificuldades financeiras, estamos em que a regra específica das
férias deva ter interpretação mais flexível.
4 - Não terá direito a férias o empregado que tiver percebido da Previdência Social pres-
35 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 49. ed. São Paulo: LTr, 2016
36 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 49. ed. São Paulo: LTr, 2016
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tações de acidente de trabalho ou de auxílio-doença por mais de 6 (seis) meses, embora des-
contínuos.
O afastamento do empregado para fruição de benefício previdenciário por mais
de seis meses, no curso do período aquisitivo, acarreta a perda do direito às férias.
Nesse sentido:
FÉRIAS. AFASTAMENTO PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL POR MAIS DE SEIS MESES.
Os controles de ponto não impugnados proporcionam o levantamento dos perío-
dos efetivos de afastamentos previdenciários, que somam um pouco mais de 6
meses. Portanto, não são devidas férias 2014/2015 + 1/3, nos termos do art. 133,
IV, da CLT. Recurso da reclamada conhecido e provido para julgar improcedentes
os pedidos de 13º salário proporcional, férias 2014/2015 + 1/3 e multa do art. 477
da CLT. (ROPS nº 0002189-83.2015.5.11.0004, 1ª Turma do TRT da 11ª Região/
AM-RR, Rel. Valdenyra Farias Thome. DEJT 28.05.2018).
FÉRIAS PROPORCIONAIS. AFASTAMENTO PREVIDENCIÁRIO. CONTRATO DE TRA-
BALHO SUSPENSO. O direito às férias é afastado quando o trabalhador, no curso
do período aquisitivo, tiver percebido da Previdência Social prestações de aciden-
te de trabalho ou de auxílio-doença por mais de seis meses, conforme previsão
constante do inciso lV do artigo 133 da CLT. (RO nº 0010769-25.2017.5.03.0176,
1ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Emerson José Alves Lage. j. 09.03.2018).
Se o período não ultrapassar 6 meses, o empregado não perde as férias, deven-
do ser computado o período aquisitivo do afastamento.
FÉRIAS. PERÍODO AQUISITIVO. CÔMPUTO DO PERÍODO DE AFASTAMENTO DO
TRABALHO EM RAZÃO DE DOENÇA. INTELIGÊNCIA DO ART. 133, IV, DA CLT. DE-
VIDAS. No caso dos autos, o período de afastamento do trabalho em razão de
doença, sem percepção de benefício previdenciário e não superior a 06 (seis)
meses, deve ser computado no período aquisitivo das férias de 2015/2016 (in-
teligência do artigo 133, IV, da CLT). Assim sendo, dá-se provimento ao apelo,
para deferir o pagamento das férias, na forma requerida. (Processo nº 1002228-
65.2016.5.02.0073, 11ª Turma do TRT da 2ª Região/SP, Rel. Adriana Prado Lima.
DJe 15.05.2018).

2.6. AQUISIÇÃO DO DIREITO


O empregado passará a ter direito as férias, após cada período de 12 (doze)
meses de vigência do contrato de trabalho conforme determina o art. 130 da CLT.
CLT, Art. 130 - Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de
trabalho, o empregado terá direito a férias [...].

2.6.1. SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO


Diz o art. 132 da CLT:
CLT, Art. 132. O tempo de trabalho anterior à apresentação do empregado para
serviço militar obrigatório será computado no período aquisitivo, desde que ele
compareça ao estabelecimento dentro de 90 (noventa) dias da data em que se
verificar a respectiva baixa.
Sobre o assunto, Ricardo Rezende37 explica que:
Suspensão contratual: Ao se apresentar para prestação do serviço militar obriga-
37 RESENDE, Ricardo. “ Direito do Trabalho – Esquematizado”. 3ed. São Paulo: Método, Ano 2014. EPUB.
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tório, o empregado tem o contrato de trabalho suspenso. Embora suspenso o con-


trato, o tempo de prestação do serviço militar obrigatório é computado no tempo
de serviço, porém somente para fins de indenização e estabilidade, nos termos do
art. 4º, parágrafo único, da CLT. (Após a reforma - § 1º do art. 4 da CLT)
Requisitos para retorno: Caso queira retomar o cargo anteriormente ocupado (ou
seja, seu emprego), o trabalhador deve notificar o empregador dessa intenção, por
telegrama ou carta registrada, dentro do prazo máximo de 30 dias, contados da
baixa (liberação pelas Forças Armadas). Este é o teor do disposto no art. 472, § 1º,
da CLT. Observe que o prazo de 30 dias não é para retorno ao trabalho, mas sim
para que o trabalhador manifeste o interesse em retornar.
Retorno ao trabalho: Manifestado o interesse em retornar ao trabalho, na forma do
art. 472, § 1º, da CLT, cabe ao trabalhador efetivar sua vontade, ou seja, retomar a
prestação dos serviços. Caso o faça em até 90 dias contados da baixa, terá direito
à retomada da contagem do período aquisitivo de férias, considerando-se o tempo
anterior, até a data da incorporação. Entretanto, caso o obreiro somente volte ao
trabalho após 90 dias, contados da data da baixa, perderá ele o período aquisitivo
anterior de férias. Este o sentido do art. 132 da CLT.

2.7. CONCESSÃO DAS FÉRIAS


A concessão de férias será determinada pelo empregador (poder potestativo),
conforme determinado pelo art. 136 da CLT. Os membros de uma família, que traba-
lharem no mesmo estabelecimento ou empresa, terão direito a gozar férias no mesmo
período, se assim o desejarem e se disto não resultar prejuízo para o empregador.
Entretanto, o empregado estudante menor de 18 (dezoito) anos, terá direito a fazer
coincidir suas férias com as férias escolares.
Art. 135 da CLT - A concessão das férias será participada, por escrito, ao em-
pregado, com antecedência de, no mínimo, 30 (trinta) dias. Dessa participação o
interessado dará recibo.
Art. 136 da CLT - A época da concessão das férias será a que melhor consulte os
interesses do empregador.
§ 1º - Os membros de uma família, que trabalharem no mesmo estabelecimento
ou empresa, terão direito a gozar férias no mesmo período, se assim o desejarem
e se disto não resultar prejuízo para o serviço.
§ 2º - O empregado estudante, menor de 18 (dezoito) anos, terá direito a fazer
coincidir suas férias com as férias escolares.

2.8. PERÍODO DE CONCESSÃO


O período de gozo das férias é conhecido como período concessivo. Elas deve-
rão ser concedidas na época que o empregador determinar (CLT, art. 136), porém, este
deve fazer que o empregado saia de férias nos 12 (doze) meses subsequentes à data
em que tiver adquirido o direito conforme determinação do art.134 da CLT.
Art. 134 da CLT – As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só
período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado tiver
adquirido o direito.
O início de gozo das férias, não poderá iniciar dois dias que antecede feriado ou
dia de repouso semanal remunerado. Tal direito, está previsto no § 3º do art. 134 da
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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CLT, acrescentado pela Lei 13.467/2017.


CLT, Art. 134 – [..]
§ 3º É vedado o início das férias no período de dois dias que antecede feriado ou
dia de repouso semanal remunerado.

2.8.1. NÃO RESPEITAR O PERÍODO DE CONCESSÃO – PAGAMENTO EM


DOBRO
Caso o empregado não goze as férias nos 12 (doze) meses subsequentes à
data em que tiver adquirido o direito (CLT, art.134), o empregador pagará em dobro as
respectivas férias acrescidas sempre do adicional de um terço (TST, Sum 328)
Art. 137 da CLT - Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata
o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração.
Súmula n. 81 do TST - Férias (RA 69/1978, DJ 26.09.1978) - Os dias de férias
gozados após o período legal de concessão deverão ser remunerados em dobro.
Súmula nº 328 do TST - FÉRIAS. TERÇO CONSTITUCIONAL - O pagamento das
férias, integrais ou proporcionais, gozadas ou não, na vigência da CF/1988, sujei-
ta-se ao acréscimo do terço previsto no respectivo art. 7º, XVII.

2.8.2. FRACIONAMENTO DAS FÉRIAS


Em regra, empregado deve gozar férias de uma só vez, ou seja, sem fraciona-
mentos. Entretanto, com a reforma trabalhista do ano de 2017, as Férias poderão ser
usufruídas em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quator-
ze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um,
desde que haja concordância do empregado.
Com a reforma trabalhista do ano de 201738, foi revogado § 2º do art. 134 da
CLT, passando a ser possível o fracionamento das férias para os menores de 18 (dezoi-
to) anos e aos maiores de 50 (cinquenta) anos de idade.
Art. 134 da CLT – As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só
período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado tiver
adquirido o direito.
§ 1º - Desde que haja concordância do empregado, as Férias poderão ser usufruí-
das em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze
dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada
um.

2.8.3. TRABALHO NAS FÉRIAS


O empregado pode trabalhar nas férias?
O empregado que estiver em gozo de férias não poderá procurar um emprego
nesse período, pois o empregado deve realmente descansar nas férias para recompor
suas energias. A lei só permite o trabalho nas férias se o empregado estiver obrigado
a fazê-lo em virtude de contrato de trabalho já firmado antes do início daquelas férias,
ou seja, se possui dois contratos de trabalho em vigor de forma simultânea. Nesse
sentido, o art. 138 da CLT:
38 Lei n° 13.467/2017
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Art. 138 da CLT - Durante as férias, o empregado não poderá prestar serviços a
outro empregador, salvo se estiver obrigado a fazê-lo em virtude de contrato de
trabalho regularmente mantido com aquele.
O art. 452-A, § 9º, que regulamenta o trabalho intermitente, não permite a con-
vocação pelo empregador, quando o empregado estiver de férias. Entretanto, este em-
pregado pode trabalhar para outros empregadores.
CLT, Art. 452-A, § 9º - A cada doze meses, o empregado adquire direito a usufruir,
nos doze meses subsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser
convocado para prestar serviços pelo mesmo empregador.
A convocação do empregado para trabalhar no curso das férias, ainda que por
dois ou três dias apenas, frustra a mens legis de propiciar o necessário descanso ao
trabalhador, ensejando o direito ao pagamento em dobro de todo o período das férias.
Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
“(...)1 - FÉRIAS INTERROMPIDAS. PAGAMENTO EM DOBRO DO PERÍODO INTE-
GRAL E NÃO APENAS DOS DIAS TRABALHADOS. No caso concreto, restou de-
monstrado que a reclamante foi chamada para trabalhar por três dias nas férias.
Todavia, a Corte de origem manteve a condenação da reclamada ao pagamento
em dobro apenas dos três dias trabalhados. O trabalho durante as férias torna irre-
gular a sua concessão, porquanto frustra a finalidade do instituto, gerando, assim,
o direito de o trabalhador recebê-las integralmente em dobro, e não apenas dos
dias trabalhados, nos termos do artigo 137 da CLT. Precedente. Recurso de revista
conhecido e provido. (...)” (TST-RR-684-94.2012.5.04.0024, 2ª Turma, rel. Min. De-
laíde Miranda Arantes, julgado em 2.10.2019)
“RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/2014. 1. FÉRIAS. CONCESSÃO IRREGULAR.
PAGAMENTO EM DOBRO DO PERÍODO INTEGRAL. ART. 137 DA CLT “RECURSO
DE REVISTA. LEI 13.015/2014. 1. FÉRIAS. CONCESSÃO IRREGULAR. PAGAMEN-
TO EM DOBRO DO PERÍODO INTEGRAL. ART. 137 DA CLT. A concessão irregular
das férias acarreta o pagamento em dobro do período integral, na forma do art.
137 da CLT (RR - 383-47.2012.5.03.0034, Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Fi-
lho, 7ª Turma, DEJT: 19/08/2016). Recurso de revista de que se conhece e a que
se dá provimento.” (RR-111-45.2015.5.06.0008, 7ª Turma, Relator Desembargador
Convocado Roberto Nobrega de Almeida Filho, DEJT 31/05/2019).

2.9. PAGAMENTO DAS FÉRIAS


O TST, por meio da súmula 7, entende que: “a indenização pelo não-deferimento
das férias no tempo oportuno será calculada com base na remuneração devida ao em-
pregado na época da reclamação ou, se for o caso, na da extinção do contrato.” Desta
forma, o empregado deve receber a remuneração (salário + gorjeta) que lhe for devida
na data da concessão das férias, com adicional de 1/3 deve ser feito até dois duas
antes do início das férias.
CLT, Art. 142 da CLT - O empregado perceberá, durante as férias, a remuneração
que lhe for devida na data da sua concessão.
CLT, Art. 145 da CLT - O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o
do abono referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do início do
respectivo período.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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Com a reforma trabalhista do ano de 2017, não integra base de cálculo das fé-
rias as importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, o auxílio-a-
limentação, vedado o seu pagamento em dinheiro, as diárias para viagem, os prêmios
e os abonos. Nesse sentido, o §2º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 2º - As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, au-
xílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prê-
mios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam
ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário.
Somente as gratificações legais e de função vão ser base de cálculo das férias,
sendo assim, as demais gratificações com a reforma trabalhista do ano de 2017, não
integram a base de cálculo do aviso prévio. Nesse sentido, o §1º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 1º - Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as
comissões pagas pelo empregador.

2.9.1. PAGAMENTO DAS FÉRIAS FORA DO PRAZO LEGAL – CONSE-


QUÊNCIA
As férias devem ser pagas 2 dias antes do seu gozo como determina o art. 145
da CLT.
CLT, Art. 145 - O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o do abono
referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do início do respectivo
período.
Caso o empregador não pague as férias até 2 dias antes do seu gozo, ficará
obrigado a pagar em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional,
com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria. Nesse sen-
tido, a súmula 450 do TST.
Súmula nº 450 do TST - FÉRIAS. GOZO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PAGAMENTO FORA
DO PRAZO. DOBRA DEVIDA. ARTS. 137 E 145 DA CLT. - É devido o pagamento em
dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional, com base no art.
137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador tenha
descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal.
No mesmo sentido, a súmula 81 do TST:
TST, SUM 81 - FÉRIAS - Os dias de férias gozados após o período legal de conces-
são deverão ser remunerados em dobro.
Eduardo Gabriel Saad, in CLT comentada, 43ª ed., atualizada, revisada e amplia-
da por José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad Castello Branco -São Paulo – LTr,
2010, p. 252, expressa a seguinte nota acerca do art. 145 celetista, in verbis:
Descumprimento do prazo de pagamento das férias: Caso o empregador não pa-
gue as férias 2 (dois) dias antes do seu início, o trabalhador não tem direito ao
pagamento em dobro, se efetivamente sair em férias. Atente-se que o pagamento
em dobro ocorre apenas quando as férias forem concedidas fora do período con-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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cessivo, conforme o art. 137, da CLT, e não quando não realizado o pagamento
com antecedência de dois dias. O não pagamento das férias dento do prazo pre-
visto neste artigo gera, apenas, o surgimento de multa administrativa.
O pagamento antecipado do terço constitucional não afasta o pagamento da
dobra prevista no art. 137 da CLT, haja vista a lei determinar que a respectiva remune-
ração, incluído o terço constitucional e, se for o caso, o abono indenizatório previsto
no art. 143 da CLT, sejam pagos até dois dias antes do início do respectivo período,
conforme estabelece o art. 145 da CLT. Nesse sentido:
“EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 13.015/2014, PELO CPC/2015 E PELA INS-
TRUÇÃO NORMATIVA Nº 39/2016 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO.
IMBEL. FÉRIAS. FRUIÇÃO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PRAZO DO ARTIGO 145 DA CLT.
ATRASO DE APENAS DOIS DIAS NO PAGAMENTO. JURISPRUDÊNCIA DO TRIBU-
NAL PLENO. O artigo 7º, inciso XVII, da Constituição Federal confere ao trabalha-
dor o direito ao gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de um terço a mais
que o valor do salário. Também é direito do empregado perceber o pagamento
da remuneração das férias até dois dias antes do início do respectivo período,
nos termos do artigo 145 da CLT. O artigo 137 da CLT, por sua vez, preconiza que
o gozo do período das férias, após o término do período concessivo, acarreta a
obrigação do pagamento em dobro da remuneração devida. Disso resulta a con-
clusão de que, tanto no caso da concessão do próprio período de férias em atraso
quanto na hipótese do gozo desse benefício ter se dado no prazo, mas com o
pagamento em atraso do valor correspondente (até mesmo após o usufruto das
férias), é devido o pagamento em dobro da parcela, com o respectivo adicional de
1/3, que deve ser calculado sobre o valor total das férias, inclusive sobre a dobra.
Desse modo, cabe ao empregador, ao conceder o gozo das férias ao seu empre-
gado, observar o disposto no artigo 145 da CLT, que preconiza que o pagamento
da remuneração das férias e, se for o caso, do abono citado no artigo 143 seja
efetuado até dois dias antes do início do respectivo período, sob pena de pagá-las
em dobro, conforme previsto no artigo 137 da CLT. Assim, férias desfrutadas na
época própria, porém pagas fora do prazo previsto no artigo 145 da CLT, também
ensejam a condenação do empregador ao pagamento do período em dobro, por
aplicação analógica do artigo 137 da CLT, pois significa, por via transversa, que o
empregador inviabilizou o gozo das férias, infringindo o mesmo valor que o legisla-
dor pretendeu preservar. Nesse sentido, a Súmula nº 450 desta Corte, que resultou
da conversão da Orientação Jurisprudencial nº 386 da SbDI-1 do TST: “É devido
o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional,
com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o em-
pregador tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma le-
gal”. Não obstante, em julgamento realizado em 15/3/2021, em que fiquei vencido,
o Pleno deste Tribunal firmou a tese de que o atraso ínfimo, de até 2 dias, na qui-
tação das férias, não implica o pagamento em dobro da respectiva remuneração
(TST-E-RR-10128-11.2016.5.15.0088, acórdão publicado no DEJT em 8/4/2021).
Diante do exposto, ressalvado o entendimento pessoal deste Relator , adota-se o
entendimento do Pleno desta Corte superior, por disciplina judicial. Embargos não
conhecidos” (E-RR-10936-50.2015.5.15.0088, Subseção I Especializada em Dissí-
dios Individuais, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 05/11/2021).
“EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 13.015/2014, PELO CPC/2015 E PELA INS-
TRUÇÃO NORMATIVA Nº 39/2016 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO.
IMBEL. FÉRIAS. FRUIÇÃO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PRAZO DO ARTIGO 145 DA CLT.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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ATRASO DE APENAS DOIS DIAS NO PAGAMENTO. JURISPRUDÊNCIA DO TRIBU-


NAL PLENO. O artigo 7º, inciso XVII, da Constituição Federal confere ao trabalha-
dor o direito ao gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de um terço a mais
que o valor do salário. Também é direito do empregado perceber o pagamento
da remuneração das férias até dois dias antes do início do respectivo período,
nos termos do artigo 145 da CLT. O artigo 137 da CLT, por sua vez, preconiza que
o gozo do período das férias, após o término do período concessivo, acarreta a
obrigação do pagamento em dobro da remuneração devida. Disso resulta a con-
clusão de que, tanto no caso da concessão do próprio período de férias em atraso
quanto na hipótese do gozo desse benefício ter se dado no prazo, mas com o
pagamento em atraso do valor correspondente (até mesmo após o usufruto das
férias), é devido o pagamento em dobro da parcela, com o respectivo adicional de
1/3, que deve ser calculado sobre o valor total das férias, inclusive sobre a dobra.
Desse modo, cabe ao empregador, ao conceder o gozo das férias ao seu empre-
gado, observar o disposto no artigo 145 da CLT, que preconiza que o pagamento
da remuneração das férias e, se for o caso, do abono citado no artigo 143 seja
efetuado até dois dias antes do início do respectivo período, sob pena de pagá-las
em dobro, conforme previsto no artigo 137 da CLT. Assim, férias desfrutadas na
época própria, porém pagas fora do prazo previsto no artigo 145 da CLT, também
ensejam a condenação do empregador ao pagamento do período em dobro, por
aplicação analógica do artigo 137 da CLT, pois significa, por via transversa, que o
empregador inviabilizou o gozo das férias, infringindo o mesmo valor que o legisla-
dor pretendeu preservar. Nesse sentido, a Súmula nº 450 desta Corte, que resultou
da conversão da Orientação Jurisprudencial nº 386 da SbDI-1 do TST: “É devido
o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional,
com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o em-
pregador tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma le-
gal”. Não obstante, em julgamento realizado em 15/3/2021, em que fiquei vencido,
o Pleno deste Tribunal firmou a tese de que o atraso ínfimo, de até 2 dias, na qui-
tação das férias, não implica o pagamento em dobro da respectiva remuneração
(TST-E-RR-10128-11.2016.5.15.0088, acórdão publicado no DEJT em 8/4/2021).
Diante do exposto, ressalvado o entendimento pessoal deste Relator , adota-se o
entendimento do Pleno desta Corte superior, por disciplina judicial. Embargos não
conhecidos” (E-RR-11009-22.2015.5.15.0088, Subseção I Especializada em Dissí-
dios Individuais, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 05/11/2021).
RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014. FÉRIAS. TERÇO CONS-
TITUCIONAL PAGO DENTRO DO PRAZO. RESTANTE DA REMUNERAÇÃO QUITA-
DO A DESTEMPO. PAGAMENTO EM DOBRO. O art. 145 da CLT estabelece que o
pagamento da remuneração das férias seja efetuado até dois dias anteriores ao
início do respectivo período de gozo. Já o art. 7º, XVII da Constituição Federal,
prevê o pagamento das férias com o acréscimo de, no mínimo, um terço a mais
que o salário normal. Por esse motivo, este Tribunal Superior tem aplicado a san-
ção prevista no art. 137 da CLT, em casos nos quais a remuneração das férias é
paga fora do prazo legal previsto. Ressalte-se que o pagamento antecipado do
terço constitucional não afasta o pagamento da dobra prevista no art. 137 da CLT,
haja vista a lei determinar que a respectiva remuneração, incluído o terço consti-
tucional e, se for o caso, o abono indenizatório previsto no art. 143 da CLT, sejam
pagos até dois dias antes do início do respectivo período, conforme estabelece o
art. 145 da CLT. No caso dos autos, portanto, sendo incontroverso que o terço das
férias foi pago dentro do prazo legal, é devida apenas a dobra da remuneração
dos dias de férias. Recurso de revista conhecido e parcialmente provido. (RR nº
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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1457-75.2016.5.21.0041, 6ª Turma do TST, Rel. Augusto César Leite de Carvalho.


j. 18.09.2019, Publ. 20.09.2019).
RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.467/2017. FÉRIAS. TERÇO CONS-
TITUCIONAL PAGO DENTRO DO PRAZO. RESTANTE DA REMUNERAÇÃO QUITA-
DA A DESTEMPO. PAGAMENTO EM DOBRO. TRANSCENDÊNCIA CONFIGURADA.
Deve ser reconhecida a transcendência política da causa, em razão de a decisão
estar em confronto com jurisprudência pacífica desta Corte consubstanciada na
Súmula 450 do TST. FÉRIAS. TERÇO CONSTITUCIONAL PAGO DENTRO DO PRA-
ZO. RESTANTE DA REMUNERAÇÃO QUITADA A DESTEMPO. PAGAMENTO EM
DOBRO. O art. 145 da CLT estabelece que o pagamento da remuneração das fé-
rias seja efetuado até dois dias anteriores ao início do respectivo período de gozo.
Já o art. 7º, XVII, da Constituição Federal, prevê o pagamento das férias com o
acréscimo de, no mínimo, um terço a mais que o salário normal. Por esse motivo,
este Tribunal Superior tem aplicado a sanção prevista no art. 137 da CLT em ca-
sos que a remuneração das férias é paga fora do prazo legal previsto. Ressalte-se
que o pagamento antecipado do terço constitucional não afasta o pagamento da
dobra prevista no art. 137 da CLT, haja vista a lei determinar que a respectiva re-
muneração, incluído o terço constitucional e, se for o caso, o abono indenizatório
previsto no art. 143 da CLT, sejam pagos até dois dias antes do início do respecti-
vo período, conforme estabelece o art. 145 da CLT. No caso dos autos, portanto,
sendo incontroverso que o terço das férias foi pago dentro do prazo legal, é devida
apenas a dobra da remuneração dos dias de férias. Recurso de revista conhecido
e parcialmente provido. (RR nº 293-46.2017.5.21.0007, 6ª Turma do TST, Rel. Au-
gusto César Leite de Carvalho. j. 04.09.2019, Publ. 06.09.2019).

2.9.2. SALÁRIO PAGO “POR FORA” GERA DIREITO AO PAGAMENTO EM


DOBRO DAS FÉRIAS
O TST entende que é cabível a aplicação da sanção prevista no art. 137, caput ,
da CLT, qual seja, o pagamento em dobro da remuneração das férias, quando for reco-
nhecido o pagamento de parcela extrafolha de salário, o qual não foi computado devi-
damente para o cálculo do pagamento de férias, denota-se contrariedade à Súmula nº
450 do TST, haja vista que o real valor devido ao reclamante não foi efetuado dentro do
prazo legal.
Nesse sentido:
“I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. LEI Nº 13.015/2014. INS-
TRUÇÃO NORMATIVA Nº 40 DO TST. ANTERIOR À LEI Nº 13.467/2017. RECLA-
MANTE. DOBRA DE FÉRIAS. PARCELA SALARIAL EXTRAFOLHA RECONHECIDA
EM JUÍZO. FÉRIAS PAGAS A MENOR. CONTRARIEDADE À SÚMULA Nº 450 DO
TST. 1 - Está demonstrada a viabilidade do conhecimento do recurso de revista
por provável contrariedade à Súmula nº 450 do TST. 2 - Agravo de instrumento
a que se dá provimento. II - RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. DOBRA DE
FÉRIAS. PARCELA SALARIAL EXTRAFOLHA RECONHECIDA EM JUÍZO. FÉRIAS
PAGAS A MENOR. CONTRARIEDADE À SÚMULA Nº 450 DO TST. 1 - Atendidos
os requisitos do art. 896, § 1º-A da CLT. 2 - A controvérsia dos autos diz respeito
ao pagamento da dobra de férias em relação ao salário extrafolha, uma vez que
as férias pagas à época própria tiveram como base de cálculo o salário anotado
na CTPS. 3 - Extrai-se da decisão recorrida que a integração da parcela paga “por
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

HAMILTON LUCENA Página 107 de 172

fora” foi reconhecida em juízo, porém o TRT entendeu que o pagamento a menor
das férias não se confunde com o pagamento intempestivo previsto na Súmula
nº 450 do TST. 4 - No caso, constatado que o juízo reconheceu o pagamento de
parcela extrafolha de salário, o qual não foi computado devidamente para o cálcu-
lo do pagamento de férias, denota-se contrariedade à Súmula nº 450 do TST, haja
vista que o real valor devido ao reclamante não foi efetuado dentro do prazo legal.
5 - O pagamento a menor não importa quitação da parcela. Permitir que a recla-
mada desconsidere parte relevante das verbas salariais - pagas extrafolha como
forma de fraudar a legislação trabalhista, previdenciária e tributária - no cálculo
das férias resulta em chancelar a prática ilegal. 6 - Recurso de revista de que se
conhece e a que se dá provimento” (RR-1820-13.2015.5.02.0078, 6ª Turma, Rela-
tora Ministra Kátia Magalhães Arruda, DEJT 14/02/2020).

2.10. CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO


Na extinção do contrato de trabalho, qualquer que seja a sua causa, será devida
ao empregado a remuneração das férias vencidas simples ou férias vencidas dobro,
como determina o art. 146 caput da CLT. Já as férias proporcionais (período aquisitivo
ainda não tinha sido completado no ato da demissão) o empregado fara jus à remune-
ração relativa ao período incompleto de férias, de acordo com o art. 130, na proporção
de 1/12 (um doze avos) por mês de serviço ou fração superior a 14 (quatorze) dias. Ele
só não terá direito a férias proporcionais no caso de dispensa por justa causa.
Art. 146 da CLT - Na cessação do contrato de trabalho, qualquer que seja a sua
causa, será devida ao empregado a remuneração simples ou em dobro, conforme
o caso, correspondente ao período de férias cujo direito tenha adquirido.
Parágrafo único - Na cessação do contrato de trabalho, após 12 (doze) meses de
serviço, o empregado, desde que não haja sido demitido por justa causa, terá di-
reito à remuneração relativa ao período incompleto de férias, de acordo com o art.
130, na proporção de 1/12 (um doze avos) por mês de serviço ou fração superior
a 14 (quatorze) dias.
Art. 147 da CLT - O empregado que for despedido sem justa causa, ou cujo con-
trato de trabalho se extinguir em prazo predeterminado, antes de completar 12
(doze) meses de serviço, terá direito à remuneração relativa ao período incomple-
to de férias, de conformidade com o disposto no artigo anterior
Súmula 171 do TST - Férias Proporcionais. Contrato de Trabalho. Extinção - Salvo
na hipótese de dispensa do empregado por justa causa, a extinção do contrato de
trabalho sujeita o empregador ao pagamento da remuneração das férias propor-
cionais, ainda que incompleto o período aquisitivo de 12 (doze) meses (art. 147
da CLT).
Súmula n. 261 do TST - Férias proporcionais. Pedido de demissão. Contrato vi-
gente há menos de um ano - O empregado que se demite antes de completar 12
(doze) meses de serviço tem direito a férias proporcionais.

2.11. CULPA RECÍPROCA PARA O FIM DO CONTRATO


Reconhecida a culpa recíproca pela justiça do trabalho, o empregado tem direito
a 50% (cinquenta por cento) das férias proporcionais, não afetando as férias vencidas,
pois estas, o empregado deve receber de forma integral.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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Segundo Marcelo Moura39:


“Ocorre culpa recíproca quando empregado e empregador, simultaneamente, pra-
ticam faltas graves, tipificadas, respectivamente, nos artigos 482 e 483 da CLT.
Para a configuração da culpa recíproca, além da simultaneidade, deve haver nexo
de causalidade entre as faltas, sendo desprezível o fato das condutas não possuí-
rem a mesma intensidade. Basta que ambas sejam de tal forma grave, preenchen-
do cada qual algum tipo específico de justa causa.
O excesso praticado pelo empregador ao repelir injusta agressão física praticada
por empregado é exemplo de ato faltoso recíproco, motivando a rescisão contra-
tual na forma deste artigo.”
O art. 484 da CLT diz que;
CLT, Art. 484 - Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do con-
trato de trabalho, o tribunal de trabalho reduzirá a indenização à que seria devida
em caso de culpa exclusiva do empregador, por metade.
A súmula 14 do TST diz que;
TST, Súmula 14 - CULPA RECÍPROCA - Reconhecida a culpa recíproca na rescisão
do contrato de trabalho (art. 484 da CLT), o empregado tem direito a 50% (cin-
quenta por cento) do valor do aviso prévio, do décimo terceiro salário e das férias
proporcionais.

2.12. ABONO PECUNIÁRIO DE FÉRIAS


O abono de férias, que constitui a conversão de 1/3 do período das férias no
valor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes, nos termos do
art. 143 da CLT, é um direito potestativo do empregado, devendo ser requerido, até 15
(quinze) dias antes do término do período aquisitivo.
Nesse sentido:
CLT, Art. 143 - É facultado ao empregado converter 1/3 (um terço) do período de
férias a que tiver direito em abono pecuniário, no valor da remuneração que lhe
seria devida nos dias correspondentes.
§ 1º - O abono de férias deverá ser requerido até 15 (quinze) dias antes do término
do período aquisitivo.
§ 2º - Tratando-se de férias coletivas, a conversão a que se refere este artigo deve-
rá ser objeto de acordo coletivo entre o empregador e o sindicato representativo
da respectiva categoria profissional, independendo de requerimento individual a
concessão do abono.
Com a reforma trabalhista do ano de 201740, foi revogado § 3º do art. 143 da
CLT, passando a ser possível o abono para os empregados contratados sob o regime
de tempo parcial.
2.12.1. IMPOSIÇÃO DO ABONO PECUNIÁRIO DE FÉRIAS PELO EMPRE-
GADOR
A CF em seu art. 7º, XVII, prevê o direito do empregado de gozar férias com
39 MOURA, Marcelo. Consolidação das Leis do Trabalho para Concursos. 6. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 563.
40 Lei n° 13.467/2017
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

HAMILTON LUCENA Página 109 de 172

o pagamento de, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal.


O abono de férias, que constitui a conversão de 1/3 do período das férias
no valor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes, nos termos
do art. 143 da CLT, é um direito potestativo do empregado, devendo ser requerido, até
15 (quinze) dias antes do término do período aquisitivo.
Diz o art. 143 da CLT:
CLT, Art. 143. É facultado ao empregado converter 1/3 (um terço) do período de
férias a que tiver direito em abono pecuniário, no valor da remuneração que lhe
seria devida nos dias correspondentes.
§ 1º O abono de férias deverá ser requerido até 15 (quinze) dias antes do término
do período aquisitivo.
§ 2º Tratando-se de férias coletivas, a conversão a que se refere este artigo deve-
rá ser objeto de acordo coletivo entre o empregador e o sindicato representativo
da respectiva categoria profissional, independendo de requerimento individual a
concessão do abono.
Quando houver imposição pelo empregador para que o empregado conver-
ta parte do período de férias em pecúnia, o empregado pode pleitear em ação judicial
o pagamento em dobro do período não usufruído.
Nesse sentido a jurisprudência do TST:
FÉRIAS. CONVERSÃO EM ABONO PECUNIÁRIO. IMPOSIÇÃO PATRONAL. PAGA-
MENTO EM DOBRO. 1 - Nos termos do art. 143 da CLT, é facultado ao empregado
converter um terço do período de férias a que tiver direito em abono pecuniário, no
valor da remuneração que seria devida nos dias correspondentes. No art. 137 da
CLT, ao instituir o pagamento em dobro das férias não gozadas, o legislador dei-
xou clara a finalidade da lei, qual seja a de incentivar o descanso remunerado do
empregado, com a reposição da vitalidade física e mental para uma nova jornada
de trabalho, não prevendo exceções. Assim, tem-se que a prestação de trabalho
durante as férias equivale à não concessão de férias, na medida em que não foi
atingido o intuito precípuo assegurado pela lei, dando ensejo ao pagamento em
dobro. Logo, a imposição de conversão de férias em abono pecuniário acarreta o
pagamento em dobro do período correspondente nos termos do art. 137 da CLT,
visto que houve a renúncia de direito indisponível às férias e a não observância
dos termos do art. 143 da CLT. 2 - No caso, embora o TRT tenha afirmado que
“não há prova nos autos de que a reclamante tenha solicitado a conversão das
férias em abono pecuniário, como preconizado pelo art. 143, caput e § 1º da CLT”,
“competia aos reclamados a produção da prova do requerimento formulado pela
empregada”, verifica-se que a Corte Regional, soberana na análise de acervo fáti-
co probatório dos autos, registrou que a prova testemunhal confirmou a tese da
reclamante de que não era permitida a fruição de mais de 20 dias de férias. 3 - De-
cisão contrária à adotada pelo Tribunal Regional somente seria possível mediante
a análise do conjunto fático-probatório dos autos, situação vedada pela Súmula nº
126 do TST. 4 - Ainda que assim não fosse, não há como se constatar a alegada
violação dos artigos 818 da CLT e 333, I, do CPC/73 (373, I, do CPC) quanto ao
ônus da prova referente a solicitação do abono pecuniário, uma vez que cabia ao
empregador trazer aos autos prova de que não houve irregularidade na fruição das
férias pelo empregado. Isso porque, considerando-se o princípio da aptidão para
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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a produção da prova, caberia ao empregador apresentá-la, por manter consigo os


documentos referentes às férias da reclamante. Correta, portanto, a distribuição
do ônus da prova, nesse aspecto. 5 - Por outro lado, deve ser observado que a
obrigação de pagamento em dobro do período respectivo deve ser compreendida
como o período irregularmente convertido em pecúnia (10 dias) e não o período
integral de férias (30 dias). Há julgados. 6 - Nesse sentido, a decisão do TRT de que
a dobra de férias deve incidir sobre o período de 30 dias importa em má-aplicação
do art. 137 da CLT. 7 - Recurso de revista de que se conhece e a que se dá parcial
provimento. (RR nº 1074000-16.2009.5.09.0663, 6ª Turma do TST, Rel. Kátia Ma-
galhães Arruda. j. 28.08.2019, Publ. 30.08.2019).
FÉRIAS - CONVERSÃO EM ABONO PECUNIÁRIO - IMPOSIÇÃO DO EMPREGADOR
- DEDUÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE ABONO - Esta Eg. Corte firmou o
entendimento de que a conversão de dez dias de férias em abono pecuniário por
imposição patronal enseja o pagamento em dobro da respectiva remuneração.
Neste caso, é devido o pagamento dos dias não gozados de forma simples, pois a
cumulação da dobra com o abono pecuniário anteriormente pago ao empregado
implica o pagamento em triplo das férias não gozadas e, assim, o enriquecimento
sem causa do Reclamante. Julgados. Agravo de Instrumento a que se nega provi-
mento. (ARR-10661-55.2015.5.03.0179, Rel. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi,
8ª Turma, DEJT de 11/5/2018) (...)
FÉRIAS. CONVERSÃO EM ABONO PECUNIÁRIO. IMPOSIÇÃO DO EMPREGADOR.
PAGAMENTO DO PERÍODO DO ABONO REALIZADO DE FORMA SIMPLES, COM
ACRÉSCIMO DO TERÇO CONSTITUCIONAL. DEVIDA APENAS A DOBRA. 1. A Corte
de origem registrou que, do conjunto probatório, extrai-se que a fruição do período
de férias era de apenas 20 dias, não sendo permitido ao empregado o gozo de 30
dias de férias. 2. A despeito da irregularidade da imposição da conversão de 10
(dias) dias de férias em abono pecuniário, não merece reparos o acórdão regional
que, considerando que já houve o pagamento desses dias, concluiu ser devido ao
autor apenas a dobra do período de férias convertido em pecúnia, acrescida do
terço constitucional, porque o deferimento da indenização em dobro implicaria
remuneração em triplo das férias, o que careceria de amparo legal. 3. A decisão
regional segue o entendimento já adotado em julgados desta Corte Superior, que
em situações similares, de irregularidades em relação à concessão das férias, en-
tende devida apenas a dobra, quando já efetuado o seu pagamento de forma sim-
ples, acrescido do terço constitucional. Precedentes. Recurso de revista conheci-
do e não provido. (RR-4184-30.2013.5.12.0019, 1ª Turma, Rel. Min. Hugo Carlos
Scheuermann, DEJT de 11/11/2016)
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE DIAS DE FÉRIAS CON-
VERTIDOS EM PECÚNIA POR IMPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. PAGAMENTO EM
DOBRO DEVIDO. Sendo imposição do empregador a conversão de 10 dias de fé-
rias em pecúnia, o empregado tem direito ao pagamento em dobro do período
correspondente, nos termos do art. 137 da CLT. No caso, a decisão proferida pelo
Tribunal Regional foi no sentido de que é devido o pagamento em dobro dos 10
dias de férias convertidos em pecúnia por imposição do empregador. Todavia,
limitou-se o pagamento desses dias de férias de forma simples, uma vez que o
reclamante já auferiu, no decorrer do contrato de trabalho, o pagamento do abono
pecuniário de férias, garantindo assim a dobra legal, em observância ao disposto
no art. 143 da CLT .. (RR-2120-18.2011.5.12.0019, 5ª Turma, Rel. Min. João Batista
Brito Pereira, DEJT de 15/9/2017)
(...) FÉRIAS. CONVERSÃO DE DEZ DIAS EM ABONO. IMPOSIÇÃO DO EMPREGA-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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DOR. PAGAMENTO EM DOBRO. Uma vez constatado que a reclamante recebeu o


abono decorrente da venda - ainda que compulsória - de dez dias de férias, faz jus
ao pagamento do valor relativo ao período vendido irregularmente à reclamada,
nos termos do art. 137 da CLT, mas de forma simples, de modo a evitar o paga-
mento em triplo da parcela, tal como já determinado pelo eg. Tribunal Regional.
Recurso de revista não conhecido. (...) (ARR-478-23.2013.5.09.0019, 6ª Turma,
Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, DEJT de 2/6/2017)
Dessa forma, constituindo faculdade do empregado a conversão das férias em
abono pecuniário, qualquer exigência da empresa nesse sentido extrapola o poder di-
retivo do empregador, tornando ilícita a conversão, o que implica a restituição em do-
bro do período convertido.
Contudo, tal fato não gera indenização por danos morais segundo o TST, con-
forme julgado abaixo:
B) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO
RECLAMADO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. OBRIGATORIEDADE DE CON-
VERSÃO DE 1/3 DAS FÉRIAS EM ABONO PECUNIÁRIO. O agravo de instrumento
merece provimento, com consequente processamento do recurso de revista, haja
vista que o reclamado logrou demonstrar a configuração de possível ofensa ao art.
186 do CC. Agravo de instrumento conhecido e provido. C) RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO PELO RECLAMADO . 1. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. OBRIGA-
TORIEDADE DE CONVERSÃO DE 1/3 DAS FÉRIAS EM ABONO PECUNIÁRIO. 1.1.
A controvérsia restringe-se à caracterização do dano moral, o qual constitui lesão
ao patrimônio moral do indivíduo, que atinge a sua personalidade. Para que se
configure, é imperiosa a constatação da lesão, da conduta omissiva ou comissiva
do empregador e do nexo de causalidade. 1.2. O Regional adotou entendimento
de que a obrigatoriedade de conversão de 1/3 das férias em abono pecuniário
caracteriza ato lesivo que afronta os direitos da personalidade do reclamante, in-
fligindo-lhe dano moral. 1.3. Ora, não obstante a possibilidade de conversão de 1/3
de férias traduza direito potestativo do empregado, a quem cabe ponderar, com
exclusividade, a conveniência de abdicar da fruição de parte do repouso anual, de
modo que a imposição patronal nesse sentido importa a nulidade do ajuste, re-
dundando na obrigação de pagamento em dobro do período respectivo, na forma
do art. 137 da CLT, o que, inclusive, foi deferido para o reclamante, entende-se que
a referida hipótese não configura, por si só, ato ilícito a ensejar a indenização por
dano moral. 1.4. Com efeito, a conversão obrigatória de 1/3 das férias em abono
pecuniário não configura situação constrangedora capaz de causar danos ao di-
reito de personalidade do reclamante, pois não se identifica nenhuma situação ob-
jetiva que demonstre a ocorrência de constrangimento pessoal do qual pudesse
se extrair a situação de abalo dos valores inerentes à honra do reclamante. Recur-
so de revista conhecido e provido, no aspecto. (ARR-1671-05.2015.5.17.0141, 8ª
Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 25/10/2019).

2.13. FÉRIAS X NEGOCIAÇÃO COLETIVA


Com a reforma trabalhista do ano de 2017 (Lei 13.467/2017) foi acrescentado
na CLT, o art. 611-B, tal dispositivo, nos incisos XI e XII, determinou que constitui objeto
ilícito da convenção ou acordo coletivo de trabalho, supressão ou a redução:
CLT, Art. 611-B - Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo cole-
tivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos:
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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(...)
XI - número de dias de férias devidas ao empregado;
XII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que
o salário normal; 

2.14. FÉRIAS COLETIVAS


As férias coletivas poderão ser concedidas a todos os empregados da empresa
ou apenas a setores da empresa, nos termos do art. 139 da CLT. Quem determina se
vai ter férias coletivas ou não é o empregador.
Art. 139 da CLT - Poderão ser concedidas férias coletivas a todos os empregados
de uma empresa ou de determinados estabelecimentos ou setores da empresa.
§ 1° - As férias poderão ser gozadas em 2 (dois) períodos anuais desde que ne-
nhum deles seja inferior a 10 (dez) dias corridos.
§ 2º - Para os fins previstos neste artigo, o empregador comunicará ao órgão lo-
cal do Ministério do Trabalho, com a antecedência mínima de 15 (quinze) dias, as
datas de início e fim das férias, precisando quais os estabelecimentos ou setores
abrangidos pela medida.
CLT, Art. 140 - Os empregados contratados há menos de 12 (doze) meses gozarão,
na oportunidade, férias proporcionais, iniciando-se, então, novo período aquisitivo.

3. AVISO PRÉVIO
3.1. CABIMENTO DO AVISO PRÉVIO.
O aviso prévio é cabível nas seguintes situações:
(1) Extinção sem justa causa nos contratos indeterminados, seja por iniciativa do em-
pregador ou do empregado;
CLT, Art. 487 - Não havendo prazo estipulado, a parte que, sem justo motivo, quiser
rescindir o contrato deverá avisar a outra da sua resolução com a antecedência
mínima de:
(2) Rescisão indireta do contrato de trabalho;
CLT, Art. 487 – [..]
§ 4º - É devido o aviso prévio na despedida indireta.
(3) Extinção antecipada do contrato a termo que contenha cláusula assecuratória dos
direitos recíprocos;
CLT, Art. 481 - Aos contratos por prazo determinado, que contiverem cláusula as-
securatória do direito recíproco de rescisão antes de expirado o termo ajustado,
aplicam-se, caso seja exercido tal direito por qualquer das partes, os princípios
que regem a rescisão dos contratos por prazo indeterminado.
TST, SUM 163 - AVISO PRÉVIO. CONTRATO DE EXPERIÊNCIA - Cabe aviso prévio
nas rescisões antecipadas dos contratos de experiência, na forma do art. 481 da
CLT.
(4) Rescisão por culpa recíproca, hipótese em que é devido pela metade. Segundo Mar-
celo Moura41;

41 MOURA, Marcelo. Consolidação das Leis do Trabalho para Concursos. 6. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 563.
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“Ocorre culpa recíproca quando empregado e empregador, simultaneamente, pra-


ticam faltas graves, tipificadas, respectivamente, nos artigos 482 e 483 da CLT.
Para a configuração da culpa recíproca, além da simultaneidade, deve haver nexo
de causalidade entre as faltas, sendo desprezível o fato das condutas não pos-
suírem a mesma intensidade. Basta que ambas sejam de tal forma grave, preen-
chendo cada qual algum tipo especifico de justa causa. O excesso praticado pelo
empregador ao repelir injusta agressão física praticada por empregado é exemplo
de ato faltoso recíproco, motivando a rescisão contratual na forma deste artigo.”
TST, SUM 14 - CULPA RECÍPROCA - Reconhecida a culpa recíproca na rescisão do
contrato de trabalho (art. 484 da CLT), o empregado tem direito a 50% (cinquenta
por cento) do valor do aviso prévio, do décimo terceiro salário e das férias propor-
cionais.
CLT, Art. 484 - Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do con-
trato de trabalho, o tribunal de trabalho reduzirá a indenização à que seria devida
em caso de culpa exclusiva do empregador, por metade.
(5) Rescisão por distrato (acordo entre as partes), hipótese em que é devido pela meta-
de.
CLT, Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empre-
gado e empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - por metade:
a) o aviso prévio, se indenizado; e
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, previs-
ta no § 1º do art. 18 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990:
II - na integralidade, as demais verbas trabalhistas.
§1º A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimenta-
ção da conta vinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
na forma do inciso I-A do art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, limitada
até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos.
§2º A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza
o ingresso no Programa de Seguro-Desemprego.

3.2. PRAZO DO AVISO PRÉVIO.


Com o advento da Lei 12.506/2011, o aviso prévio será concedido na proporção
de 30 (trinta) dias aos empregados que possuem menos de 1 (um) ano de serviço na
mesma empresa. Cada ano completado, serão acrescidos 3 (três) dias por ano de ser-
viço prestado na mesma empresa, até o máximo de 60 (sessenta) dias, perfazendo um
total de até 90 (noventa) dias.
Art. 7° da CF - [...]
XXI - Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta
dias, nos termos da lei.
Para ter direito aos 90 dias de aviso prévio o empregado deverá ter laborado
pelo menos 20 anos na mesma empresa: 3 dias x 20 anos = 60 dias + 30 = 90 dias.
Esta é a tese adotada por Godinho42;
42 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 1.218.
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“Quer isso dizer que o trabalhador que complete um ano de serviço na entidade
empregadora terá direito ao aviso de 30 dias, mais três dias em face da propor-
cionalidade. A cada ano subsequente, desponta o acréscimo de mais três dias.
Desse modo, completando o segundo ano de serviço na empresa, terá 30 dias de
aviso prévio, mais seis dias, a título de proporcionalidade da figura jurídica, e assim
sucessivamente. No 20° ano de serviço na mesma empregadora, terá direito a 30
dias de aviso prévio normal, mais 60 dias a título de proporcionalidade do institu-
to”. (grifos no original)
Nesse sentido, a jurisprudência do TST;
(…) 2. AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL AO TEMPO DE SERVIÇO. DIFERENÇAS. Pri-
meiro ano completo de serviço. A Lei n° 12.506/2011 em destaque é clara ao es-
tabelecer que terá direito ao aviso prévio de 30 dias os empregados que contem
com até 1 ano de serviço. Completo o primeiro ano, o lapso não pode ser ignorado
para fins de contagem do aviso prévio proporcional. Assim, é devido ao autor o
acréscimo de ; dias, relativo ao primeiro ano de serviço, ao aviso prévio mínimo,
resguardado o limite de 60 dias. Recurso de revista conhecido e provido. (…) (TST,
3a Turma, RR-472-35.2013.5.03.0002, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, DEJT 06.06.2014).
Segue abaixo a tabela conforme Nota Técnica nº 184/2012/CGRT/SRT/MTE.

Tempo de Aviso Prévio Proporcional ao Tempo de


Serviço Serviço
Anos com-
pletos Número de dias
0 30
1 33
2 36
3 39
4 42
5 45
6 48
7 51
8 54
9 57
10 60
11 63
12 66
13 69
14 72
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20 90
Segundo a OJ 82 DA SDI-1 do TST, a data de saída a ser anotada na CTPS deve
corresponder à do término do prazo do aviso prévio, ainda que indenizado, pois, o pra-
zo do aviso prévio indenizado, integra – projeta - o tempo do serviço, devendo tal prazo,
ser levado em consideração no cálculo das férias proporcionais, 13º salários, FGTS 8%,
reajuste salarial e início da contagem do prazo prescricional. Nesse sentido, o §1º, §6º
ambos do art. 487 da CLT, e OJ 83 da SDI-1 do TST:
CLT, Art. 487 – [..]
§ 1º - A falta do aviso prévio por parte do empregador dá ao empregado o direito
aos salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a integração
desse período no seu tempo de serviço.
§ 6o - O reajustamento salarial coletivo, determinado no curso do aviso prévio,
beneficia o empregado pré-avisado da despedida, mesmo que tenha recebido an-
tecipadamente os salários correspondentes ao período do aviso, que integra seu
tempo de serviço para todos os efeitos legais.
TST, OJ n. 83 da SDI-1 - AVISO PRÉVIO. INDENIZADO. PRESCRIÇÃO. A prescrição
começa a fluir no final da data do término do aviso prévio. Art. 487, § 1º, CLT.

3.3. CONTAGEM DO AVISO PRÉVIO.


Segundo a Súmula 380 do TST, aplica-se a regra prevista no “caput” do art. 132
do Código Civil de 2002 à contagem do prazo do Aviso Prévio, ou seja, excluindo-se o
dia do começo e incluindo o do vencimento.
Se o empregado foi demitido sem justa causa em 15.09.2011 e trabalhou 2
anos e 1 mês ele tem direito a 36 dias de aviso prévio?
Então, ele teria direito aos 36 dias de aviso se fosse demitido depois de 13 de
outubro de 2011, pois o TST por meio da Súmula 441, entende que: “O direito ao aviso
prévio proporcional ao tempo de serviço somente é assegurado nas rescisões de con-
trato de trabalho ocorridas a partir da publicação da Lei nº 12.506, em 13 de outubro de
2011”. Assim, a lei 12.506/2011 não poderá retroagir para alcançar a situação
3.4. O AVISO PROPORCIONAL E PEDIDO DE DEMISSÃO
O aviso proporcional é aplicado quando o empregado pede demissão?
A proporcionalidade do aviso prévio não se aplica ao empregador, assim, a Lei
nº 12.506/2011 não é aplicada quando o empregado pede demissão, pois, a bilatera-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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lidade restringe-se ao aviso-prévio de 30 dias que tem de ser concedido também pelo
empregado a seu empregador, caso queira pedir demissão (caput do art. 487 da CLT),
sob pena de poder sofrer o desconto correspondente ao prazo descumprido (art. 487,
§ 2º, CLT).
A SBDI-I do TST, já decidiu que a proporcionalidade do aviso prévio, prevista na
Lei nº 12.506/2011, é um direito exclusivo do trabalhador, de modo que sua exigên-
cia pelo empregador impõe o pagamento de indenização pelo período excedente a 30
(trinta) dias:
EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTOS NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014 - AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL - LEI Nº 12.506/2011 - OBRIGA-
ÇÃO LIMITADA AO EMPREGADOR - AUSÊNCIA DE RECIPROCIDADE - Com a res-
salva de meu entendimento, a C. SBDI-I já decidiu que a proporcionalidade do avi-
so prévio, prevista na Lei nº 12.506/2011, é um direito exclusivo do trabalhador,
de modo que sua exigência pelo empregador impõe o pagamento de indenização
pelo período excedente a 30 (trinta) dias (E-RR-1964-73.2013.5.09.0009, Relator
Ministro Hugo Carlos Scheuermann, SBDI-I, DEJT 29/9/2017). Embargos conhe-
cidos e providos. Processo: E-RR - 987-25.2013.5.04.0008 Data de Julgamento:
06/09/2018, Relatora Ministra: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Subseção I Espe-
cializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 14/09/2018.
    RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A
ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL. ALTERAÇÃO DA LEI
12.506/2011. OBRIGAÇÃO LIMITADA AO EMPREGADOR. AUSÊNCIA DE RECIPRO-
CIDADE. A proporcionalidade do aviso prévio a que se refere a Lei 12.506/2001
apenas pode ser exigida da empresa, uma vez que entendimento em contrário,
qual seja, exigir que também o trabalhador cumpra aviso prévio superior aos ori-
ginários 30 dias, constituiria alteração legislativa prejudicial ao empregado, o que,
pelos princípios que norteiam o ordenamento jurídico trabalhista, não se pode ad-
mitir. Dessarte, conclui-se que a norma relativa ao aviso prévio proporcional não
guarda a mesma bilateralidade característica da exigência de 30 dias, essa sim
obrigatória a qualquer das partes que intentarem resilir o contrato de emprego.
Recurso de embargos conhecido e provido. (E-RR - 1964-73.2013.5.09.0009, Rela-
tor Ministro Hugo Carlos Scheuermann, SBDI-I, DEJT 29/9/2017)
Em sentido contrário (tese minoritária):
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. AVI-
SO-PRÉVIO. PROPORCIONALIDADE AO TEMPO DE SERVIÇO. DIREITO DO EMPRE-
GADO E DO EMPREGADOR. BILATERALIDADE 1. O aviso-prévio é obrigação recí-
proca de empregado e de empregador, em caso de rescisão unilateral do contrato
de trabalho, sem justa causa, como deriva do art. 487, caput, da CLT. A circuns-
tância de o art. 1º da Lei nº 12.506/2011 haver regulamentado o aviso-prévio pro-
porcional ao tempo de serviço dos empregados não significa que não se aplica
a referida proporcionalidade também em favor do empregador. A própria Lei nº
12.506/2011 reporta-se expressamente ao aviso-prévio de que trata “o Capítulo
VI do Título IV da Consolidação das Leis do Trabalho”, cujo art. 487 alude “à parte”
que, sem justo motivo, “quiser rescindir”, aplicando a ambos os sujeitos do con-
trato de emprego a mesma duração do aviso-prévio. A nova lei somente mudou a
duração do aviso-prévio, tomando em conta o maior ou menor tempo de serviço
do empregado. 2. Afrontaria o princípio constitucional da isonomia reconhecer,
sem justificativa plausível para tal discrímen, a duração diferenciada para o aviso-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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-prévio conforme fosse concedido pelo empregador ou pelo empregado. Assim


como é importante o aviso-prévio para o empregado, a fim de buscar recolocação
no mercado de trabalho, igualmente o é para o empregador, que se vê na contin-
gência de recrutar e capacitar um novo empregado. 3. Ademais, ainda que assim
não se entendesse, o prolongamento do aviso-prévio concedido pelo empregado
ao empregador, observada sempre a mesma duração proporcional ao tempo de
serviço, não causa prejuízo ao empregado passível de gerar direito à indenização.
Há pagamento de salário correspondente aos dias supostamente trabalhados
sem exigência legal e há a própria projeção do contrato de emprego, asseguradas
todas as demais obrigações contratuais e legais. 4. Recurso de revista da Recla-
mante de que não se conhece. (RR - 1964-73.2013.5.09.0009, Relator Ministro:
João Oreste Dalazen, Data de Julgamento: 09/11/2016, 4ª Turma, Data de Publi-
cação: DEJT 25/11/2016)
Desta forma, interpretar que o aviso prévio proporcional previsto na Lei
12.506/2011 é um direito apenas dos trabalhadores significa dizer que, se o emprega-
do pede demissão e não tem interesse no gozo do aviso prévio proporcional excedente
de trinta dias, o empregador não pode exigir a proporcionalidade.
3.5. AVISO PRÉVIO TRABALHADO NA DISPENSA SEM JUSTA CAUSA
Nos termos do art. 7º, XXI, da CF, o instituto do aviso prévio proporcional está
inserido no rol dos direitos mínimos do trabalhador, sendo assim, é direito exclusivo
do empregado. Assim, quando o empregador demitir sem justa causa o empregado,
este somente pode exigir do empregado o cumprimento de 30 (trinta) dias de aviso
prévio trabalhado, de forma que o tempo que exceder tal prazo, terá que indenizar o
empregado, por praticar conduta não autorizada por lei.
Nesse sentido, a jurisprudência, in verbis:
“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DAS LEIS NºS 13.015/14 E
13.467/17. AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL TRABALHADO. PERÍODO SUPERIOR A
30 DIAS. RESILIÇÃO PELO EMPREGADOR. DIREITO EXCLUSIVO DO EMPREGADO.
O aviso prévio proporcional previsto na Lei nº 12.506/2011, a qual regulamenta
o art. 7º, XXI, da CR/88, aplica-se exclusivamente aos empregados, uma vez que
tal instituto está inserido no rol de direitos e garantias mínimas dos trabalhadores
urbanos e rurais. Assim, na hipótese de resilição unilateral de iniciativa patronal,
somente poderá ser exigido do empregado o cumprimento de 30 dias de labor
(aviso prévio clássico mínimo) previsto no art. 487 da CLT. No caso em exame, o
empregador exigiu que o empregado trabalhasse o período relativo ao aviso pré-
vio proporcional de 12 (doze dias), que somado ao período de aviso prévio mínimo
de 30 (trinta dias), totalizou 42 (quarenta e dois dias). Desse modo, o v. acórdão re-
gional, ao condenar a Reclamada ao pagamento de indenização referente a doze
dias de aviso prévio, decidiu em consonância com a jurisprudência desta c. Corte.
Precedentes. Recurso de revista não conhecido” (RR-914-18.2016.5.12.0043, 3ª
Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 04/09/2020).
AGRAVO INTERNO EM EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO
NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. AVISO-PRÉVIO PROPORCIONAL. CUMPRI-
MENTO ALÉM DOS 30 DIAS. LEI Nº 12.506/2011. DIREITO EXCLUSIVO DO TRA-
BALHADOR . A Egrégia Turma decidiu consoante jurisprudência pacificada desta
Corte, no sentido de que a proporcionalidade do aviso - prévio, prevista na Lei nº
12.506/2011, é direito exclusivo do trabalhador, de forma que sua exigência pelo
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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empregador impõe o pagamento de indenização pelo período excedente a trinta


dias. Precedentes. Incide, portanto, o disposto no artigo 894, § 2º, da CLT. Correta
a aplicação do referido óbice, mantém-se o decidido. Verificada, por conseguin-
te, a manifesta improcedência do presente agravo, aplica-se a multa prevista no
artigo 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil. Agravo interno conhecido e não
provido “ (Ag-E-RR-100-36.2017.5.17.0009, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 29/11/2019).
“RECURSO DE EMBARGOS. REGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. AVISO PRÉVIO
PROPORCIONAL. LEI Nº 12.506/2011. OBRIGAÇÃO LIMITADA AO EMPREGADOR.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, com a entrada em vi-
gor da Lei nº 12.506/2011, o empregador não pode exigir do empregado o cumpri-
mento do aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta
dias, por se tratar de direito social exclusivo dos trabalhadores . 2. Nesse contexto,
o recurso de embargos se afigura incabível, nos termos do art. 894, § 2º, da CLT,
considerada a consonância do acórdão embargado com a jurisprudência do TST.
Recurso de embargos de que não se conhece” (E-RR-1478-06.2013.5.09.0004,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Walmir Olivei-
ra da Costa, DEJT 02/08/2019);
“RECURSO DE EMBARGOS - INTERPOSIÇÃO SOB A REGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014 - AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL - LEI Nº 12.506/2011 - OBRIGA-
ÇÃO LIMITADA AO EMPREGADOR - AUSÊNCIA DE RECIPROCIDADE 1. Com a res-
salva de meu entendimento, esta C. SBDI-I já decidiu que a proporcionalidade do
aviso prévio, prevista na Lei nº 12.506/2011, é um direito exclusivo do trabalhador,
de modo que sua exigência pelo empregador impõe o pagamento de indenização
pelo período excedente a 30 (trinta) dias . 2. Estando o acórdão embargado em
sintonia com esse entendimento, inviável o conhecimento dos Embargos (art. 894,
II, e § 2º, da CLT). Embargos não conhecidos” (E-RR-10739-43.2015.5.03.0181,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relatora Ministra Maria Cristi-
na Irigoyen Peduzzi, DEJT 19/12/2018);
“RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A
ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL. ALTERAÇÃO DA LEI
12.506/2011. OBRIGAÇÃO LIMITADA AO EMPREGADOR. AUSÊNCIA DE RECIPRO-
CIDADE. A proporcionalidade do aviso prévio a que se refere a Lei 12.506/2001
apenas pode ser exigida da empresa, uma vez que entendimento em contrário,
qual seja, exigir que também o trabalhador cumpra aviso prévio superior aos ori-
ginários 30 dias, constituiria alteração legislativa prejudicial ao empregado, o que,
pelos princípios que norteiam o ordenamento jurídico trabalhista, não se pode ad-
mitir. Dessarte, conclui-se que a norma relativa ao aviso prévio proporcional não
guarda a mesma bilateralidade característica da exigência de 30 dias, essa sim
obrigatória a qualquer das partes que intentarem resilir o contrato de emprego.
Recurso de embargos conhecido e provido” (E-RR - 1964-73.2013.5.09.0009, Rela-
tor Ministro Hugo Carlos Scheuermann, SBDI-1 , DEJT 29/09/2017).

3.6. JORNADA DE TRABALHO DE QUEM ESTÁ CUMPRINDO AVISO PRÉ-


VIO TRABALHADO
Se o empregado foi dispensado sem justa causa, o aviso prévio possui duas
possibilidades, a respeito das quais cabe a este empregado a opção de:
(1) ter a jornada reduzida em duas horas diárias ao longo de todo prazo do avi-
so-prévio; ou
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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(2) faltar por sete dias corridos durante o prazo do aviso prévio.
Nesse sentido, o art. 488 da CLT:
CLT, Art. 488 - O horário normal de trabalho do empregado, durante o prazo do
aviso, e se a rescisão tiver sido promovida pelo empregador, será reduzido de 2
(duas) horas diárias, sem prejuízo do salário integral.
Parágrafo único - É facultado ao empregado trabalhar sem a redução das 2 (duas)
horas diárias previstas neste artigo, caso em que poderá faltar ao serviço, sem
prejuízo do salário integral, por 1 (um) dia, na hipótese do inciso l, e por 7 (sete)
dias corridos, na hipótese do inciso II do art. 487 desta Consolidação.
Cito como exemplo, o seguinte caso:
“Após treze meses de contrato de trabalho, Mariana recebeu aviso prévio de sua
empregadora comunicando que o seu contrato seria extinto sem justa causa. As-
sim, Mariana poderá optar em ter seu horário de trabalho reduzido em duas horas
diárias ou faltar ao serviço por sete dias corridos”.
Não é lícito pedir o tempo correspondente à redução de jornada (duas horas
diárias) como horas extraordinárias, consoante preconiza a Súmula 230 do TST.
SUM 230 do TST - AVISO PRÉVIO. SUBSTITUIÇÃO PELO PAGAMENTO DAS HO-
RAS REDUZIDAS DA JORNADA DE TRABALHO - É ilegal substituir o período que
se reduz da jornada de trabalho, no aviso prévio, pelo pagamento das horas cor-
respondentes.
Agora se é o empregado quem pede demissão e vai cumprir o aviso, seu horário
de trabalho deverá ser normal.
3.7. COMO É QUE SE CALCULA O AVISO PRÉVIO?
A base de cálculo do aviso prévio é o salário, levando em consideração os salá-
rios condições. Segundo Godinho43:
F) Salário Condição — A doutrina e a jurisprudência referem-se à expressão salá-
rio condição. Compreende esta figura o conjunto de parcelas salariais pagas ao
empregado em virtude do exercício contratual em circunstâncias específicas, cuja
permanência seja incerta ao longo do contrato. Não obstante o salário básico não
tenha esse caráter — em virtude dos riscos empregatícios assumidos pelo empre-
gador e do princípio da irredutibilidade salarial —, há certas parcelas contratuais
que se compatibilizam com a ideia de salário condição, podendo, desse modo, ser,
a princípio, suprimidas caso desaparecida a circunstância ou o fato que determi-
nava seu pagamento. É o que se passa, por exemplo, com os adicionais de insalu-
bridade e periculosidade (art. 194, CLT, e Súmulas 80 e 248, TST), com o adicional
noturno (Súmulas 60 e 265, TST), com a parcela de horas extras e respectivo adi-
cional (Súmula 291, produzindo “revisão” do antigo Enunciado 76, TST), e também
com o adicional de transferência (art. 469, § 3Q, CLT; OJ 113, SDI-I/TST).
Como a base de cálculo não é a remuneração, as gorjetas não integram o cál-
culo. Nesse sentido, a Súmula 354 do TST:
TST, SUM 354 - GORJETAS. NATUREZA JURÍDICA. REPERCUSSÕES - As gorjetas,
cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente
pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de
43 DELGADO, Maurício Godinho. “Curso de Direito do Trabalho”, 16° Ed. LTR, 2016, p. 792.
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cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional noturno, horas extras e repouso


semanal remunerado.
Com a reforma trabalhista do ano de 2017, também não integram a base de
cálculo do aviso prévio as importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda
de custo, o auxílio-alimentação, vedado o seu pagamento em dinheiro, as diárias para
viagem e os prêmios. Nesse sentido, o §2º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 2º - As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, au-
xílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prê-
mios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam
ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário.
Somente as gratificações legais vão ser base de cálculo do aviso prévio, sendo
assim, as demais gratificações com a reforma trabalhista do ano de 2017, não inte-
gram a base de cálculo do aviso prévio. Nesse sentido, o §1º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 1º - Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as
comissões pagas pelo empregador.
Quando o empregado receber salário variável, apura-se o valor do aviso prévio
pela média dos últimos 12 meses.
CLT, Art. 487 – [..]
§ 3º - Em se tratando de salário pago na base de tarefa, o cálculo, para os efei-
tos dos parágrafos anteriores, será feito de acordo com a média dos últimos 12
(doze) meses de serviço.
As gratificações semestrais, caso pagas, não integram a base de cálculo do
aviso prévio, nos termos da Súmula 253 do TST.
3.8. JUSTA CAUSA X AVISO PRÉVIO
O empregado que, durante o prazo do aviso prévio, cometer qualquer das faltas
consideradas pela lei como justas para a rescisão, perde o direito ao restante do res-
pectivo prazo. (CLT, art. 491)
O empregado não perde o aviso prévio nos casos de abandono de emprego,
perdendo nas demais hipóteses de justa causa elencadas no art. 482 da CLT.
SUM-73 do TST - DESPEDIDA. JUSTA CAUSA - A ocorrência de justa causa, salvo
a de abandono de emprego, no decurso do prazo do aviso prévio dado pelo em-
pregador, retira do empregado qualquer direito às verbas rescisórias de natureza
indenizatória.
Neste caso, as faltas decorrem de um novo emprego, tendo apenas como con-
sequência o desconto dos dias restantes, em que o empregado trabalhou.
3.9. AVISO PRÉVIO X ESTABILIDADE NO EMPREGO
É inválida a concessão do aviso prévio na fluência da garantia de emprego, ante
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a incompatibilidade dos dois institutos. (TST, SUM 348)


A projeção do contrato de trabalho para o futuro, pela concessão do aviso pré-
vio indenizado, tem efeitos limitados às vantagens econômicas obtidas no período de
pré-aviso, ou seja, salários, reflexos e verbas rescisórias. No caso de concessão de
auxílio-doença no curso do aviso prévio, todavia, só se concretizam os efeitos da dis-
pensa depois de expirado o benefício previdenciário. (TST, SUM 371)
Segundo Bruno Klippel44,
A primeira parte da súmula demonstra que a projeção do contrato de trabalho do
empregado, em virtude do aviso prévio, de no mínimo 30 (trinta) dias, somente
assegura benefícios financeiros, e não estabilidade provisória, que surgiria pela
existência de acidente de trabalho e percepção de auxílio-doença. O empregado
que inicia o recebimento do referido auxílio no curso do aviso prévio não detém
estabilidade no emprego, pois já havia sido informado do término do contrato de
trabalho.
No mesmo sentido, o item V da Súmula 369 do TST:
TST, SUM 369 - V – O registro da candidatura do empregado a cargo de dirigente
sindical durante o período de aviso prévio, ainda que indenizado, não lhe assegura
a estabilidade, visto que inaplicável a regra do § 3º do art. 543 da Consolidação
das Leis do Trabalho.
Exceção, estabilidade no curso do aviso prévio;
GRAVIDEZ NO CURSO DO AVISO PRÉVIO.
CLT, Art. 391-A. - A confirmação do estado de gravidez advindo no curso do contra-
to de trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indeniza-
do, garante à empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea b do
inciso II do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
ACIDENTE DO TRABALHO NO CURSO DO AVISO PRÉVIO.
O artigo 18 da Lei 8.213/91 assegura a manutenção do contrato de trabalho quan-
do o empregado se encontra no gozo do auxílio-doença acidentário, estendendo
tal garantia ao prazo de doze meses após a cessação do benefício. A estabilidade,
desde que demonstrado o nexo de causalidade da doença com o exercício da ati-
vidade desempenhada pelo trabalhador, é reconhecida mesmo após a despedida,
conforme entendimento pacificado mediante Súmula 378, II, do TST. No presente
caso, o direito à estabilidade provisória acidentária, indeferido pelo Tribunal a quo,
mostra-se mais manifesto, na medida em que admitida a percepção do auxílio-
-doença acidentário, tendo o acidente ocorrido durante o período de aviso-prévio.
A concessão do benefício projeta a vigência do contrato de trabalho até o término
do benefício previdenciário, nos termos da Súmula 371 do TST. Assim, o acórdão
recorrido está em dissonância da iterativa e notória jurisprudência desta Corte Su-
perior que, à luz das suas Súmulas 371 e 378, reconhece a estabilidade provisória
do empregado que sofre acidente de trabalho, no curso do aviso-prévio. Prece-
dentes. Recurso de revista conhecido e provido. (RR nº 68240-54.2005.5.01.0441,
6ª Turma do TST, Rel. Augusto César Leite de Carvalho. j. 10.09.2014, Publ.
12.09.2014).
“RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE PREVISTA NO ARTIGO 118 DA LEI Nº
44 Direito sumular esquematizado – TST - Bruno Klippel – 2ª Edição – Editora Saraiva.
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8.213/91. ACIDENTE DE TRABALHO OCORRIDO NO CURSO DO AVISO PRÉVIO


TRABALHADO. Discute-se, no caso, o direito da reclamante à estabilidade previs-
ta no artigo 118 da Lei nº 8.213/91, em razão de acidente de trabalho sofrido no
curso do aviso prévio. Ficou expressamente registrado no acórdão regional, que
concedeu a estabilidade que, de fato, houve acidente de trabalho que acarretou na
entorse do tornozelo esquerdo, inclusive, a reclamada emitiu CAT no curso do avi-
so prévio, mas o órgão previdenciário reconheceu o direito ao benefício somente
após 02/12/2009, data que expirou o período de aviso prévio. O acórdão recorrido
está em harmonia com a iterativa e notória jurisprudência desta Corte Superior
que, à luz das suas Súmulas nº 371 e 378, II, reconhece a estabilidade provisória
do empregado que sofre acidente de trabalho, no curso do aviso prévio. Preceden-
tes. Incide, no caso, o óbice do artigo 896, §§ 4º e 5º, da CLT. Recurso de revista de
que não se conhece.” (TST-RR-1750-04.2010.5.02.0035, Relator Desembargador
Convocado: Valdir Florindo, 7ª Turma, DEJT 24/05/2013.)
Segundo Ricardo Resende45 “para fins de concurso público a questão finalmen-
te se encontra pacificada:
Regra geral: as garantias de emprego não se aplicam aos fatos geradores ocorri-
dos durante o aviso prévio.
Exceções: Gestante (art. 391-A da CLT e Súmula 244, III); Acidente de trabalho
(Súmula 378, III).

3.10. AVISO PRÉVIO X RETRATAÇÃO


Se o aviso-prévio for reconsiderado por qualquer das partes (empregador ou
empregado), a outra pode ou não aceitar e, em caso de aceite, o aviso será dado por
inexistente. Sem haver reconsideração, a dispensa será efetivada quando expirado o
prazo legal (art. 489 e parágrafo único da CLT).
CLT, Art. 489 - Dado o aviso prévio, a rescisão torna-se efetiva depois de expirado
o respectivo prazo, mas, se a parte notificante reconsiderar o ato, antes de seu
termo, à outra parte é facultado aceitar ou não a reconsideração.
Parágrafo único - Caso seja aceita a reconsideração ou continuando a prestação
depois de expirado o prazo, o contrato continuará a vigorar, como se o aviso não
tivesse sido dado.

3.11. AVISO PRÉVIO X NEGOCIAÇÃO COLETIVA


O art. 611-B da CLT, vedou negociação por meio de convenção coletiva ou de
acordo coletivo de trabalho sobre supressão ou a redução do aviso prévio.
CLT, Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo cole-
tivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos:
XVI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta
dias, nos termos da lei;

4. - 13º SALÁRIO
4.1. INTRODUÇÃO
O décimo terceiro salário é uma gratificação salarial obrigatória destinada aos
45 Direito do Trabalho Esquematizado. Ano 2014.
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empregados urbanos, rurais, domésticos e as trabalhadores avulsos conforme deter-


minado pelo art. 7º, VIII, da CF/88:
CF, Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da
aposentadoria.

4.2. QUANDO É DEVIDO O 13º SALÁRIO?


O artigo 1º, §3º, da citada Lei 4.090/62, determina que o 13o salário propor-
cional é devido, mesmo quando o contrato termina antes do mês de dezembro, nas
seguintes hipóteses:
a) extinção normal dos contratos a prazo;
b) cessação do contrato resultante da aposentadoria;
c) dispensa do empregado sem justa causa.
É devido ainda nas seguintes hipóteses:
a) Pedido de demissão.
Súmula 157 do TST - Gratificação - A gratificação instituída pela Lei nº 4.090, de
13.07.1962 é devida na resilição contratual de iniciativa do empregado.
b) Culpa recíproca. O empregado recebe apenas a metade do 13º salário pro-
porcional.
Súmula 14 do TST - Culpa recíproca - Reconhecida a culpa recíproca na rescisão
do contrato de trabalho (art. 484 da CLT), o empregado tem direito a 50% (cin-
quenta por cento) do valor do aviso prévio, do décimo terceiro salário e das férias
proporcionais.
c) Rescisão por distrato (acordo entre as partes).
CLT, Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empre-
gado e empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - por metade:
a) o aviso prévio, se indenizado; e
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, previs-
ta no § 1º do art. 18 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990:
II - na integralidade, as demais verbas trabalhistas.
§1º A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimenta-
ção da conta vinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
na forma do inciso I-A do art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, limitada
até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos.
§2º A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza
o ingresso no Programa de Seguro-Desemprego.
Na dispensa por justa causa, o empregado tem direito ao 13º salário vencido,
não tendo direito ao 13º salário proporcional.
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4.3. PAGAMENTO DO 13º SALÁRIO


O artigo 1º, §1º, da Lei 4.090, de 1962, garante o 13º salário, que a lei ainda de-
nominava gratificação natalina, apontando que o seu valor deve corresponder a 1/12
(um doze avos) da remuneração, não somente do salário, devida em dezembro. O §2º
do mesmo dispositivo, estabelece que a fração igual ou superior a quinze dias deve ser
considerada como mês integral, para tais efeitos.
Ainda a Lei 4.749/1965 que dispõe sobre o pagamento do 13º salário, determi-
na:
O 13º salário será pago pelo empregador até o dia 20 de dezembro de cada ano, compensada a im-
portância que, a título de adiantamento, o empregado houver recebido na forma do artigo seguinte.
Entre os meses de fevereiro e novembro de cada ano, o empregador pagará, como adiantamento da
gratificação referida no artigo precedente, de uma só vez, metade do salário recebido pelo respec-
tivo empregado no mês anterior.
O empregador não estará obrigado a pagar o adiantamento, no mesmo mês, a todos os seus em-
pregados.
O adiantamento será pago ao ensejo das férias do empregado, sempre que este o requerer no mês
de janeiro do correspondente ano.

A reforma trabalhista do ano de 2017, modificou a CLT e determinou que não


integra base de cálculo do 13º salário as importâncias, ainda que habituais, pagas a
título de ajuda de custo, o auxílio-alimentação, vedado o seu pagamento em dinheiro,
as diárias para viagem e os prêmios. Nesse sentido, o §2º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 2º - As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, au-
xílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prê-
mios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam
ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário.
Somente as gratificações legais vão ser base de cálculo do 13º salário, sendo
assim, as demais gratificações com a reforma trabalhista do ano de 2017, não inte-
gram a base de cálculo do aviso prévio. Nesse sentido, o §1º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 1º - Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as
comissões pagas pelo empregador.
O artigo 1º, §3º, da citada Lei 4.090/62, determina que o 13º salário propor-
cional é devido, mesmo quando o contrato termina antes do mês de dezembro, nas
seguintes hipóteses:
a) extinção normal dos contratos a prazo;
b) cessação do contrato resultante da aposentadoria;
c) dispensa do empregado sem justa causa.
5. FGTS
5.1. INTRODUÇÃO
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Com o surgimento da CF/88, o FGTS passou a ser obrigatório a todo trabalha-


dor contratado pelo regime celetista. A estabilidade decenal legal (CLT, art. 492) não
foi recepcionada pelo art. 7º, III da CF). Nesse sentido, o TST por meio da Súmula a 98:
TST, SÚMULA 98 FGTS. INDENIZAÇÃO. EQUIVALÊNCIA. COMPATIBILIDADE.
II – A estabilidade contratual ou a derivada de regulamento de empresa são com-
patíveis com o regime do FGTS. Diversamente ocorre com a estabilidade legal
(decenal, art. 492 da CLT), que é renunciada com a opção pelo FGTS.
Sendo assim, todo empregador (urbano, rural e doméstico) deve recolher o
FGTS na conta vinculada do empregado. O art. 7º inciso XXXIV da CF, garante o FGTS
também ao trabalhador avulso:
CF, Art. 7º - [..]
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício per-
manente e o trabalhador avulso.

5.2. ALÍQUOTAS E PAGAMENTO


Todos os empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia 7 (sete) de cada
mês, em conta bancária vinculada, a importância correspondente a 8 (oito) por cento
da remuneração (Salários + Gorjetas) paga ou devida, no mês anterior, a cada traba-
lhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os arts. 457 e 458 da CLT
e a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as
modificações da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965. (Art. 15 caput da Lei 8.036/90).
Incide o percentual de 8% sobre todas as verbas de natureza salarial (art. 7º, III
da CF), inclusive eventuais (Súmula do TST nº 63) e (art. 15 da Lei 8.036/90). Exemplo:
Reflexo em horas extras, adicional noturno, adicional de insalubridade, adicional de
periculosidade etc.
SÚMULA N. 63 DO TST - FUNDO DE GARANTIA - A contribuição para o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço incide sobre a remuneração mensal devida ao em-
pregado, inclusive horas extras e adicionais eventuais.
SÚMULA N. 305 DO TST. FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO. INCI-
DÊNCIA SOBRE O AVISO PRÉVIO - O pagamento relativo ao período de aviso pré-
vio, trabalhado ou não, está sujeito a contribuição para o FGTS.
TST, OJ-SDI1-232. FGTS. INCIDÊNCIA. EMPREGADO TRANSFERIDO PARA O EX-
TERIOR. REMUNERAÇÃO - O FGTS incide sobre todas as parcelas de natureza
salarial pagas ao empregado em virtude de prestação de serviços no exterior
A reforma trabalhista do ano de 2017, modificou a CLT e determinou que não
integra base de cálculo do FGTS as importâncias, ainda que habituais, pagas a título de
ajuda de custo, o auxílio-alimentação, vedado o seu pagamento em dinheiro, as diárias
para viagem e os prêmios. Nesse sentido, o §2º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 2º - As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, au-
xílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prê-
mios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam
ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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trabalhista e previdenciário.
Somente as gratificações legais vão ser base de cálculo do FGTS, sendo assim,
as demais gratificações com a reforma trabalhista do ano de 2017, não integram a
base de cálculo do aviso prévio. Nesse sentido, o §1º do art. 457 da CLT:
CLT, art. 457 - [..]
§ 1º - Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as
comissões pagas pelo empregador.
Acrescentou-se à Lei 8.036, de 1990, o artigo 19-A, exigindo a incidência do
FGTS sobre os salários pagos ou devidos por força de contrato de emprego com ente
público que tenha sido declarado nulo, por não se ter submetido o empregado ao con-
curso de provas ou de provas e títulos. Nesse sentido, a súmula 363 do TST:
SUM 363 DO TST - CONTRATO NULO. EFEITOS - A contratação de servidor público,
após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no
respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da con-
traprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o
valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.
É importante alertar, que o FGTS do Aprendiz é de 2% (CLT, Art. 428).
Art. 15. (...)
§ 7º - Os contratos de aprendizagem terão a alíquota a que se refere o caput deste
artigo reduzida para dois por cento.

5.3. NÃO INCIDE O FGTS SOBRE FÉRIAS INDENIZADAS


Não incide a contribuição para o FGTS sobre as férias indenizadas conforme
determinado pelo TST em sua OJ 195 da SDI-1.
OJ-SDI1-195. FÉRIAS INDENIZADAS. FGTS. NÃO INCIDÊNCIA - Não incide a con-
tribuição para o FGTS sobre as férias indenizadas.

5.4. AFASTAMENTO DO EMPREGADO DO EMPREGO – SUSPENSÃO


CONTRATUAL
Quando o empregado tem seu contrato de trabalho suspenso, o empregador
não tem obrigação de depositar o FGTS 8% na conta vinculada. A exceção fica por
conta do o afastamento em virtude de acidente de trabalho (auxílio doença acidentário
– código 91 do INSS) e o afastamento para prestação do serviço militar obrigatório,
conforme determinação do art. 15, §5º da Lei 8.036/90.
Lei 8.036/90 - Art. 15. [..]
§ 5º - O depósito de que trata o caput deste artigo é obrigatório nos casos de
afastamento para prestação do serviço militar obrigatório e licença por acidente
do trabalho.
O TST, por meio do Informativo nº 10, entendeu que o afastamento do emprega-
do em razão de acidente de trabalho, e posteriormente convertido em aposentadoria
por invalidez (CLT, Art. 475), não são mais devidos os recolhimentos fundiários.
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO.
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SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. RECOLHIMENTO DO FGTS. INDEVI-


DO. ART 15, § 5O, DA LEI N.° 8.036/90. NÃO INCIDÊNCIA. Tendo em conta que a
aposentadoria por invalidez suspende o contrato de trabalho, conforme dicção do
art. 475 da CLT, é indevido o recolhimento do FGTS no período em que o emprega-
do estiver no gozo desse benefício previdenciário. ainda que o afastamento tenha
decorrido de acidente de trabalho. Com esse entendimento, a SBDI-I, em sua com-
posição plena, por maioria, negou provimento ao recurso de embargos, vencidos
os Ministros Renato de Lacerda Paiva, Lelio Bentes Corrêa, José Roberto Freire
Pimenta e Delaíde Miranda Arantes. Ressaltou o Ministro relator que o art. 15, §
5o, da Lei n.° 8.036/90, ao determinar que a licença por acidente de trabalho será
causa de interrupção do contrato de trabalho, com obrigatoriedade de recolhimen-
to do FGTS, estabeleceu situação excepcional que não admite interpretação am-
pliativa para abarcar a aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de tra-
balho. TST-EEDRR-133900-84.2009.5.03.0057. SBDI-I. rei. Min. Horácio Raymundo
de Senna Pires. 24.5.2012.
Outros julgados do TST sobre o assunto.
[..] APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABA-
LHO. RECOLHIMENTO DO FGTS INDEVIDO. A aposentadoria por invalidez não ga-
rante ao empregado o direito aos depósitos do FGTS, conforme a exegese do art.
475 da CLT. De fato, a Lei 8.036/90, em seu art. 15, § 5º, mantém a obrigação pa-
tronal de recolhimento dos depósitos do FGTS somente nas situações em que o
empregado se afasta para prestar serviço militar obrigatório e em razão de licença
concedida em face de acidente de trabalho, situações distintas daquela que figura
nos autos. Assim, carece de amparo legal a pretensão do Autor de recolhimento
do FGTS durante o período de suspensão do contrato de trabalho em virtude de
aposentadoria por invalidez. Precedente da SBDI-1, em sua composição plena.
Incidência do § 2º do art. 894 da CLT. Recurso de embargos não conhecido na ín-
tegra. (E-ED-ED-RR nº 0001270-26.2012.5.10.0005, SBDI-1 do TST, Rel. Alexandre
de Souza Agra Belmonte. unânime, DEJT 30.06.2016).
EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. DECISÃO EMBARGADA PUBLICADA NA
VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SUSPENSÃO
DO CONTRATO DE TRABALHO. RECOLHIMENTO DO FGTS INDEVIDO. A aposen-
tadoria por invalidez não garante ao empregado o direito aos depósitos do FGTS
(exegese do artigo 475 da CLT). A Lei 8.036/90, em seu artigo 15, § 5º, mantém
a obrigação patronal somente nas situações em que o empregado se afasta
para prestar serviço militar obrigatório e em razão de licença concedida em face
de acidente de trabalho, situações estranhas aos autos. Assim, carece de am-
paro legal a pretensão da autora referente ao recolhimento do FGTS durante o
período de suspensão do contrato de trabalho em virtude de aposentadoria por
invalidez. Precedente da SBDI-1, em sua composição plena. Incidência do § 2º
do artigo 894 da CLT. Recurso de embargos não conhecido. (E-RR nº 0000262-
29.2013.5.05.0551, SBDI-1 do TST, Rel. Alexandre de Souza Agra Belmonte. unâni-
me, DEJT 19.05.2016).
IV - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊN-
CIA DA LEI Nº 13.015/2014. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SUSPENSÃO DO
CONTRATO DE TRABALHO. RECOLHIMENTO DO FGTS INDEVIDO. A suspensão
do contrato de trabalho, em decorrência de aposentadoria por invalidez, não se
insere nas hipóteses de obrigatoriedade de depósitos do FGTS pelo empregador,
na medida em que o artigo 15, § 5º, da Lei 8.036/90 se refere a tal obrigatoriedade
apenas nos casos de afastamento para prestação do serviço militar obrigatório e
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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de licença por acidente do trabalho, situações estranhas aos autos. Precedentes.


Recurso de revista conhecido provido “ (ARR-958-53.2010.5.15.0111, 5ª Turma,
Relator Desembargador Convocado Joao Pedro Silvestrin, DEJT 29/05/2020).
“I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. TRANSCENDÊNCIA. SUS-
PENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. RECOLHIMENTO DO FGTS INDEVIDO.
Reconheço a transcendência política do recurso, nos termos do artigo 896-A, §
1º, II, da CLT. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE
TRABALHO. RECOLHIMENTO DO FGTS INDEVIDO. Ante a uma possível violação
do artigo 15, § 5º, da Lei 8.036/90, dá-se provimento ao agravo de instrumento
para melhor análise do recurso de revista. Agravo de instrumento conhecido e pro-
vido. II - RECURSO DE REVISTA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SUSPENSÃO
DO CONTRATO DE TRABALHO. RECOLHIMENTO DO FGTS INDEVIDO. A aposen-
tadoria por invalidez não garante ao empregado o direito aos depósitos do FGTS.
A Lei 8.036/90, em seu artigo 15, § 5º, mantém a obrigação patronal somente nas
situações em que o empregado se afasta para prestar serviço militar obrigatório e
em razão de licença concedida em face de acidente do trabalho, situações estra-
nhas aos autos. Precedentes. Recurso de revista conhecido por violação do artigo
15, § 5º, da Lei 8.036/90 e provido. Conclusão: Agravo de instrumento conhecido e
provido e recurso de revista conhecido e provido” (RR-1001740-42.2016.5.02.0710,
3ª Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 11/10/2019).

5.5. ATUALIZAÇÃO DO FGTS


Os valores depositados na conta vinculada do empregado, devem ser atualiza-
dos conforme o art. 13 da Lei 8.036/90.
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos mone-
tariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos
depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano.
Em processos trabalhistas, a atualização segue o entendimento da OJ 302 da
SDI-1 do TST.
OJ-SDI1-302. FGTS. ÍNDICE DE CORREÇÃO. DÉBITOS TRABALHISTAS - Os cré-
ditos referentes ao FGTS, decorrentes de condenação judicial, serão corrigidos
pelos mesmos índices aplicáveis aos débitos trabalhistas.

5.6. FGTS DO DOMÉSTICO


O recolhimento do FGTS do empregado doméstico é igual ao dos empregados
em geral, ou seja, cabe ao empregador recolher mensalmente 8% sobre a remuneração
devida no mês anterior (art. 21, c/c art. 34, IV, da LC nº 150/2015).
LC nº 150/2015, Art. 21 - É devida a inclusão do empregado doméstico no Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), na forma do regulamento a ser editado
pelo Conselho Curador e pelo agente operador do FGTS, no âmbito de suas com-
petências, conforme disposto nos arts. 5o e 7o da Lei no 8.036, de 11 de maio de
1990, inclusive no que tange aos aspectos técnicos de depósitos, saques, devolu-
ção de valores e emissão de extratos, entre outros determinados na forma da lei.
LC nº 150/2015, Art. 34 - O Simples Doméstico assegurará o recolhimento men-
sal, mediante documento único de arrecadação, dos seguintes valores:
IV - 8% (oito por cento) de recolhimento para o FGTS;
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5.7. ÔNUS DA PROVA DOS DEPÓSITOS DO FGTS


É do empregador o ônus da prova em relação à regularidade dos depósitos do
FGTS, pois o pagamento é fato extintivo do direito do autor, conforme Súmula nº 461
do TST.
Assim, o ônus da prova acerca da regularidade dos depósitos do FGTS incumbe
ao empregador, conforme art. 17-A da Lei 8.036/90 e jurisprudência abaixo colaciona-
das;
Lei 8.036/90 - Art. 17-A - O empregador ou o responsável fica obrigado a elaborar
folha de pagamento e a declarar os dados relacionados aos valores do FGTS e ou-
tras informações de interesse do Poder Público por meio de sistema de escritura-
ção digital, na forma, no prazo e nas condições estabelecidos em ato do Ministro
de Estado do Trabalho e Previdência.

5.8. SAQUE DO FGTS PELO EMPREGADO


A anotação da extinção do contrato na Carteira de Trabalho e Previdência Social
é documento hábil para requerer o benefício do seguro-desemprego e a movimentação
da conta vinculada no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, nas hipóteses legais,
desde que a comunicação prevista no caput deste artigo tenha sido realizada, confor-
me determinado pelo § 10 do art. 477 da CLT.
A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada nas seguin-
tes situações: (Lei 8.036/90 Art. 20)
I – despedida sem justa causa, inclusive a indireta, de culpa recíproca e de força
maior;
I-A - extinção do contrato de trabalho prevista no art. 484-A da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto- Lei no 5.452, de 1º de maio de
1943;
II – extinção total da empresa, fechamento de quaisquer de seus estabelecimen-
tos, filiais ou agências, supressão de parte de suas atividades, declaração de nu-
lidade do contrato de trabalho nas condições do art. 19-A, ou ainda falecimento
do empregador individual sempre que qualquer dessas ocorrências implique res-
cisão de contrato de trabalho, comprovada por declaração escrita da empresa,
suprida, quando for o caso, por decisão judicial transitada em julgado;
III – aposentadoria concedida pela Previdência Social;
IV – falecimento do trabalhador, sendo o saldo pago a seus dependentes, para
esse fim habilitados perante a Previdência Social, segundo o critério adotado para
a concessão de pensões por morte. Na falta de dependentes, farão jus ao recebi-
mento do saldo da conta vinculada os seus sucessores previstos na lei civil, indi-
cados em alvará judicial, expedido a requerimento do interessado, independente
de inventário ou arrolamento;
V – pagamento de parte das prestações decorrentes de financiamento habitacio-
nal concedido no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), desde que:
a) o mutuário conte com o mínimo de 3 (três) anos de trabalho sob o regime do
FGTS, na mesma empresa ou em empresas diferentes;
b) o valor bloqueado seja utilizado, no mínimo, durante o prazo de 12 (doze) me-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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ses;
c) o valor do abatimento atinja, no máximo, 80 (oitenta) por cento do montante da
prestação;
VI – liquidação ou amortização extraordinária do saldo devedor de financiamento
imobiliário, observadas as condições estabelecidas pelo Conselho Curador, dentre
elas a de que o financiamento seja concedido no âmbito do SFH e haja interstício
mínimo de 2 (dois) anos para cada movimentação;
VII – pagamento total ou parcial do preço de aquisição de moradia própria, ou lote
urbanizado de interesse social não construído, observadas as seguintes condi-
ções:
a) o mutuário deverá contar com o mínimo de 3 (três) anos de trabalho sob o regi-
me do FGTS, na mesma empresa ou empresas diferentes;
b) seja a operação financiável nas condições vigentes para o SFH;
VIII – quando o trabalhador permanecer três anos ininterruptos fora do regime do
FGTS;
IX – extinção normal do contrato a termo, inclusive o dos trabalhadores temporá-
rios regidos pela Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974;
X – suspensão total do trabalho avulso por período igual ou superior a 90 (no-
venta) dias, comprovada por declaração do sindicato representativo da categoria
profissional;
XI – quando o trabalhador ou qualquer de seus dependentes for acometido de
neoplasia maligna;
XII – aplicação em quotas de Fundos Mútuos de Privatização, regidos pela Lei n°
6.385, de 7 de dezembro de 1976, permitida a utilização máxima de 50% (cinquen-
ta por cento) do saldo existente e disponível em sua conta vinculada do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, na data em que exercer a opção;
XIII – quando o trabalhador ou qualquer de seus dependentes for portador do
vírus HIV;
XIV – quando o trabalhador ou qualquer de seus dependentes estiver em estágio
terminal, em razão de doença grave, nos termos do regulamento;
XV – quando o trabalhador tiver idade igual ou superior a setenta anos;
XVI – necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre natural,
conforme disposto em regulamento6, observadas as seguintes condições:
a) o trabalhador deverá ser residente em áreas comprovadamente atingidas de
Município ou do Distrito Federal em situação de emergência ou em estado de ca-
lamidade pública, formalmente reconhecidos pelo Governo Federal;
b) a solicitação de movimentação da conta vinculada será admitida até 90 (no-
venta) dias após a publicação do ato de reconhecimento, pelo Governo Federal, da
situação de emergência ou de estado de calamidade pública; e
c) o valor máximo do saque da conta vinculada será definido na forma do regula-
mento;
XVII – integralização de cotas do FI-FGTS, respeitado o disposto na alínea “i” do
inciso XIII do art. 5º desta Lei, permitida a utilização máxima de 30% (trinta por
cento) do saldo existente e disponível na data em que exercer a opção.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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XVIII – quando o trabalhador com deficiência, por prescrição, necessite adquirir


órtese ou prótese para promoção de acessibilidade e de inclusão social.
XIX - pagamento total ou parcial do preço de aquisição de imóveis da União inscri-
tos em regime de ocupação ou aforamento, a que se referem o art. 4o da Lei no
13.240, de 30 de dezembro de 2015, e o art. 16-A da Lei no 9.636, de 15 de maio
de 1998, respectivamente, observadas as seguintes condições:
a) o mutuário deverá contar com o mínimo de três anos de trabalho sob o regime
do FGTS, na mesma empresa ou em empresas diferentes;
b) seja a operação financiável nas condições vigentes para o Sistema Financeiro
da Habitação (SFH) ou ainda por intermédio de parcelamento efetuado pela Se-
cretaria do Patrimônio da União (SPU), mediante a contratação da Caixa Econômi-
ca Federal como agente financeiro dos contratos de parcelamento;
c) sejam observadas as demais regras e condições estabelecidas para uso do
FGTS.
XX - anualmente, no mês de aniversário do trabalhador, por meio da aplicação dos
valores constantes do Anexo desta Lei, observado o disposto no art. 20-D desta
Lei;
XXI - a qualquer tempo, quando seu saldo for inferior a R$ 80,00 (oitenta reais) e
não houver ocorrido depósitos ou saques por, no mínimo, 1 (um) ano, exceto na
hipótese prevista no inciso I do § 5º do art. 13 desta Lei;
XXII - quando o trabalhador ou qualquer de seus dependentes for, nos termos
do regulamento, pessoa com doença rara, consideradas doenças raras aquelas
assim reconhecidas pelo Ministério da Saúde, que apresentará, em seu sítio na
internet, a relação atualizada dessas doenças.
Na rescisão por distrato (acordo entre as partes), o empregado saca apenas
80% do FGTS, conforme determinado pelo art. 484-A da CLT:
CLT, Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empre-
gado e empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - por metade:
a) o aviso prévio, se indenizado; e
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, previs-
ta no § 1º do art. 18 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990:
II - na integralidade, as demais verbas trabalhistas.
§1º A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimenta-
ção da conta vinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
na forma do inciso I-A do art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, limitada
até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos.
§2º A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza
o ingresso no Programa de Seguro-Desemprego.

5.9. OUTROS ARTIGOS DA LEI 8.036/90


As contas vinculadas em nome dos trabalhadores são absolutamente impenho-
ráveis conforme determinação do art. 2º, §2º da Lei 8.036/90.
Lei 8.036/90, art. 2º – [..]
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§ 2º As contas vinculadas em nome dos trabalhadores são absolutamente impe-


nhoráveis.
Entretanto, o STJ permite a penhora da conta do FGTS somente nos casos de
execução de alimentos da área de família, senão vejamos:
TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FIS-
CAL. PENHORA. VALORES PROVENIENTES DE FGTS. IMPOSSIBILIDADE. AGRA-
VO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte admite a penhora de verbas de
natureza alimentar, bem como de valores decorrentes de FGTS, depositadas em
conta-corrente somente nos casos de execução de alimentos. Nas demais exe-
cuções, as referidas verbas estão resguardadas pela impenhorabilidade prevista
no art. 649, inciso IV do CPC. Precedente: AgRg no REsp 1.127.084/MS, Rel. Min.
ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe 16.12.2010. 2. No caso, o acórdão regional está
em dissonância com o entendimento desta Corte, pois trata-se de penhora de nu-
merários oriundos do FGTS para pagamento de dívida fiscal. 3. Agravo Regimen-
tal desprovido. (AgRg no Recurso Especial nº 1.570.755/PR (2015/0304097-0), 1ª
Turma do STJ, Rel. Napoleão Nunes Maia Filho. j. 03.05.2016, DJe 18.05.2016).
O art. 14 da Lei 8.036/90, trata do direito adquirido da estabilidade decenal para
os empregados que na data da promulgação da Constituição Federal de 1988, já ti-
nham o direito à estabilidade no emprego por ter mais de 10 anos de empresa.
Art. 14 - Fica ressalvado o direito adquirido dos trabalhadores que, à data da pro-
mulgação da Constituição Federal de 1988, já tinham o direito à estabilidade no
emprego nos termos do Capítulo V do Título IV da CLT.
§1º O tempo do trabalhador não optante do FGTS, anterior a 5 de outubro de 1988,
em caso de rescisão sem justa causa pelo empregador, reger-se-á pelos disposi-
tivos constantes dos arts. 477, 478 e 497 da CLT.
§2º O tempo de serviço anterior à atual Constituição poderá ser transacionado
entre empregador e empregado, respeitado o limite mínimo de 60 (sessenta) por
cento da indenização prevista.
§3º É facultado ao empregador desobrigar-se da responsabilidade da indenização
relativa ao tempo de serviço anterior à opção, depositando na conta vinculada
do trabalhador, até o último dia útil do mês previsto em lei para o pagamento de
salário, o valor correspondente à indenização, aplicando-se ao depósito, no que
couber, todas as disposições desta lei.
§4º Os trabalhadores poderão a qualquer momento optar pelo FGTS com efeito
retroativo a 1º de janeiro de 1967 ou à data de sua admissão, quando posterior
àquela.

5.10. PRESCRIÇÃO DO FGTS


Após decisão do STF (ARE-709212/DF), o Tribunal Superior do Trabalho alterou
a redação da Súmula 362. Esta passa a ter o seguinte teor:
TST, SUM 362. FGTS. PRESCRIÇÃO
I – Para os casos em que a ciência da lesão ocorreu a partir de 13.11.2014, é quin-
quenal a prescrição do direito de reclamar contra o não recolhimento de contri-
buição para o FGTS, observado o prazo de dois anos após o término do contrato;
II – Para os casos em que o prazo prescricional já estava em curso em 13.11.2014,
aplica-se o prazo prescricional que se consumar primeiro: trinta anos, contados do
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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termo inicial, ou cinco anos, a partir de 13.11.2014 (STFARE-709212/DF).

6. MULTA DO FGTS
6.1. INTRODUÇÃO
Sendo o empregado dispensado sem justa causa ou declarada a rescisão indi-
reta do contrato de trabalho, assiste-lhe o direito, ainda, a indenização de valor equiva-
lente a 40% do montante dos depósitos em sua conta vinculada, acrescido de juros e
correção monetária na forma do art. §1º do art. 18 da Lei 8.036/90.
Lei 8.036/90, Art. 18. [..]
§ 1º Na hipótese de despedida pelo empregador sem justa causa, depositará este,
na conta vinculada do trabalhador no FGTS, importância igual a quarenta por cen-
to do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a
vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos
respectivos juros.

6.2. MULTA DE 20% DO FGTS


6.2.1. NOS CASOS DE CULPA RECÍPROCA OU FORÇA MAIOR
Nas hipóteses de cessação do contrato por culpa recíproca ou força maior, a
indenização é devida, mas por metade - 20%.
Lei 8.036/90, Art. 18. [..]
§ 2º Quando ocorrer despedida por culpa recíproca ou força maior, reconhecida
pela Justiça do Trabalho, o percentual de que trata o § 1º será de 20 (vinte) por
cento.
Informativo nº 60 do TST - FGTS. ALVARÁ JUDICIAL. AUTORIZAÇÃO PARA O LE-
VANTAMENTO DOS DEPÓSITOS DO FGTS E DA MULTA DE 20% ESTABELECIDA
EM CONVENÇÃO COLETIVA QUE PREVIU A RESCISÃO CONTRATUAL POR CUL-
PA RECÍPROCA. A SBDl-1, em sua composição plena, por unanimidade, conheceu
dos embargos da Caixa Econômica Federal - CEF, e, no mérito, por maioria, negou-
-lhes provimento , confirmando a decisão que autorizou, mediante alvará judicial ,
o levantamento dos depósitos de FGTS e da multa de 20% oriunda de cláusula de
convenção coletiva de trabalho denominada “incentivo à continuidade do contra-
to de trabalho”, por meio da qual as empresas que sucederam outras na prestação
do mesmo serviço, em razão de nova licitação, se obrigaram a contratar os empre-
gados da empresa sucedida, e se estabeleceu, de antemão, a existência de culpa
recíproca a autorizar o pagamento de apenas 20% sobre os depósitos de FGTS, a
título de multa, no momento da rescisão contratual. Na hipótese, a CEF recusou-se
a liberar as verbas pretendidas, ao argumento de que, nos termos do art. 18, § 2°,
da Lei n° 8.036/90, a culpa recíproca e a consequente redução da multa do FGTS
de 40% para 20% somente pode ser reconhecida pela Justiça do Trabalho, não se
admitindo a ocorrência de tal modalidade de dispensa com esteio em cláusula
de instrumento coletivo. Prevaleceu o entendimento de que, a par da discussão
sobre a validade da cláusula da convenção coletiva que reduz a multa do FGTS,
os depósitos efetuados durante o período de contratação são incontroversos, não
havendo, portanto, motivos que justifiquem a retenção dos valores. Vencidos o
Ministro Lelio Sentes Corrêa, que dava provimento ao recurso da CEF para julgar
impro­cedente o pedido de levantamento dos depósitos, e, quanto à fundamenta-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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ção, os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, relator, João Oreste Dalaze n,
Brito Pereira, Maria Cristina lrigoyen Peduzzi, Lelio Sentes Corrêa, Delaíde Miran-
da Arantes e Alexandre Agra Belmonte. TST-E-RR-7000-10.2006.5.10.0011,SBDl-1,
rei. Min. Augusto César Leite de Carvalh o, red. p/ acórdão Min. Luiz Philippe Vieira
de Mello Filho, 26.9.2013.

6.2.2. NOS CASOS DE DISTRATO


A reforma trabalhista de 2017, passou a admitir a rescisão contratual por dis-
trato, ou seja, uma rescisão bilateral, permitindo a negociação de forma restrita das
verbas rescisórias. O tema foi regulamentado no art. 484-A da CLT. Após o acordo, o
empregado passa a ter direito a metade da multa do FGTS.
CLT, Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empre-
gado e empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - Por metade:
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, previs-
ta no § 1° do art. 18 da Lei n° 8.036, de 11 de maio de 1990;

6.3. APOSENTADORIA ESPONTÂNEA E MULTA DO FGTS


Quando o empregado é aposentado espontaneamente (por idade ou por tempo
de contribuição), não ocorre a extinção do contrato de trabalho. Assim, o empregado
pode perfeitamente continuar trabalhando para a empresa mesmo aposentado volun-
tariamente. Assim, caso ocorra a dispensa do empregado após algum tempo de pres-
tação de serviços, o empregado tem direito à multa de 40% do FGTS sobre a totalidade
dos depósitos efetuados no curso do pacto laboral.
Nesse sentido, a OJ 361 da SDI-1 do TST;
OJ 361 DA SDI-1 DO TST - APOSENTADORIA ESPONTÂNEA. UNICIDADE DO CON-
TRATO DE TRABALHO. MULTA DE 40% DO FGTS SOBRE TODO O PERÍODO. A apo-
sentadoria espontânea não é causa de extinção do contrato de trabalho se o em-
pregado permanece prestando serviços ao empregador após a jubilação. Assim,
por ocasião da sua dispensa imotivada, o empregado tem direito à multa de 40%
do FGTS sobre a totalidade dos depósitos efetuados no curso do pacto laboral.

6.4. MULTA DO FGTS DO DOMÉSTICO


O empregador doméstico deve depositar mensalmente junto com o FGTS 8% a
importância de 3,2% sobre a remuneração devida, no mês anterior, destinada ao paga-
mento da indenização compensatória da perda do emprego, sem justa causa ou por
culpa do empregador. Desta forma, não se aplica ao doméstico o disposto nos §§ 1º a
3º do art. 18 da Lei nº 8.036/1990.
LC 150/2015 - Art. 22. O empregador doméstico depositará a importância de
3,2% (três inteiros e dois décimos por cento) sobre a remuneração devida, no mês
anterior, a cada empregado, destinada ao pagamento da indenização compensa-
tória da perda do emprego, sem justa causa ou por culpa do empregador, não se
aplicando ao empregado doméstico o disposto nos §§ 1o a 3o do art. 18 da Lei no
8.036, de 11 de maio de 1990.
Caso o empregado seja dispensa por justa causa, quando o empregado pede
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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demissão, e etc.. o empregador recebe de volta o valor da multa do FGTS conforme


determina o §1º do Art. 22 LC 150/2015
LC 150/2015 - Art. 22 § 1o - Nas hipóteses de dispensa por justa causa ou a pedi-
do, de término do contrato de trabalho por prazo determinado, de aposentadoria
e de falecimento do empregado doméstico, os valores previstos no caput serão
movimentados pelo empregador.

6.5. MULTA. ART. 477 DA CLT – APLICAÇÃO - PAGAMENTO TARDIO DA


MULTA DE 40% DO FGTS
O TST, através do informativo 122, entendeu que cabe a multa do art. 477, § 8º
da CLT, quando a empresa não paga no prazo legal a multa de 40% sobre o FGTS, por
se tratar de verba tipicamente rescisória.
Informativo TST n° 122 - MULTA DO ART. 477, §8°, DA CLT. INCIDÊNCIA. PAGA-
MENTO TARDIO DA INDENIZAÇÃO COMPENSATÓRIA DE 40% SOBRE O FGTS. A
multa prevista no artigo 477. §8°, da CLT incide na hipótese de não pagamento, no
prazo legal, da indenização compensatória de 40% sobre o FGTS, por se tratar de
verba tipicamente rescisória. No caso, o autor foi dispensado em 5.4.2012, a qui-
tação de parte das parcelas rescisórias ocorreu em 14.4.2012 e o pagamento da
multa de 40% sobre os depósitos do FGTS se deu somente em 25.5.2012, quando
já transcorridos 50 dias desde a dispensa. Desse modo, o adimplemento tardio da
verba rescisória em foco caracterizou fato capaz de sujeitar o empregador à multa
prevista no art. 477, § 8o da CLT, não se tratando de pagamento inexato do acerto
rescisório, mas de desrespeito, pelo empregador, do cumprimento do prazo para
a satisfação de direito vocacionado à proteção constitucional contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, na forma do artigo 7o, I. da Constituição Federal,
c/c o art. 10. I. do ADCT. Sob esses fundamentos, a SBDI-I. por unanimidade, co-
nheceu do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial. e, no mérito, por
maioria, deu-lhe provimento para restabelecer o acórdão do Tribunal Regional do
Trabalho.no particular, vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, João Oreste
Dalazen, Guilherme Augusto Caputo Bastos e Walmir Oliveira da Costa. TST-E-ED-
-ARR-643-82.2013.5.09.0015, SbDI-1. rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte.
5.11.2015.
Outro julgado sobre o assunto:
[..] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA EM FACE DE DECI-
SÃO PUBLICADA A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ATRASO NO
PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO DE 40% DO FGTS. PARCELA RESCISÓRIA INCON-
TROVERSA. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. A multa prevista no artigo 477, §
8º, da CLT refere-se à mora no pagamento das parcelas rescisórias, de modo que
sua aplicação está condicionada à quitação intempestiva das verbas constantes
do instrumento de rescisão contratual, observando-se o prazo a que alude o §
6º do mesmo dispositivo legal. No caso específico dos autos, a indenização de
40% sobre o FGTS é verba rescisória incontroversa, devida em razão da despe-
dida imotivada do recorrido, sujeita, portanto, às penas fixadas no artigo 477, §
8º, da CLT. Precedentes. Recurso de revista de que não se conhece. [..]. (RR nº
170-97.2013.5.15.0090, 7ª Turma do TST, Rel. Cláudio Mascarenhas Brandão. j.
17.08.2016, Publ. 26.08.2016).

7. SEGURO-DESEMPREGO
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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7.1. INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 em seu art. 7º, inciso II, prevê o direito ao se-
guro-desemprego. O empregado vai ter direito de receber em caso de desemprego
involuntário, sendo ainda previsto no artigo 201, inciso III, da Constituição Federal, a
proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário como risco social a
ser coberto pelo Regime Geral de Previdência Social.
Frederico Amado46, explica que: “o seguro-desemprego deveria ser, mas não é
benefício previdenciário, pois não previsto no Plano de Benefícios da Previdência So-
cial, sendo pago pelo Ministério do Trabalho, com recursos do Fundo de Amparo ao
Trabalhador – FAT”.
E continua o renomado autor, “conquanto se trate de tema polêmico, entende-se
que o seguro-desemprego deve ser enquadrado como benefício assistencial, tendo em
conta inexistir contribuição direta dos seus beneficiários”.
Artigos da Lei 7.998/90:
Art. 3º - Terá direito à percepção do seguro-desemprego o trabalhador dispensado
sem justa causa que comprove:
I - ter recebido salários de pessoa jurídica ou de pessoa física a ela equiparada,
relativos a:
a) pelo menos 12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente
anteriores à data de dispensa, quando da primeira solicitação;
b) pelo menos 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze) meses imediatamente ante-
riores à data de dispensa, quando da segunda solicitação; e
c) cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data de dispensa,
quando das demais solicitações;
III - não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de prestação continua-
da, previsto no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, excetuado o
auxílio-acidente e o auxílio suplementar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro
de 1976, bem como o abono de permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890,
de 8 de junho de 1973;
IV - não estar em gozo do auxílio-desemprego; e
V - não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente à sua manutenção
e de sua família.
Art. 4o - O benefício do seguro-desemprego será concedido ao trabalhador de-
sempregado, por período máximo variável de 3 (três) a 5 (cinco) meses, de forma
contínua ou alternada, a cada período aquisitivo, contados da data de dispensa
que deu origem à última habilitação, cuja duração será definida pelo Conselho
Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat).

7.2. REQUISITOS PARA RECEBER O SEGURO DESEMPREGO


Para ter direito ao seguro desemprego, é necessário ter as seguintes condições:
- Trabalhador formal e doméstico, dispensado sem justa causa, inclusive dis-
pensa indireta;
46 Curso de Direito e Processo Previdenciário. Ano 2017, pág. 130.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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- Trabalhador formal com contrato de trabalho suspenso em virtude de partici-


pação em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo em-
pregador;
- Pescador profissional durante o período do defeso;
- Trabalhador resgatado da condição semelhante à de escravo.
Nesse sentido, o art. 2º da lei 7.998/90:
Lei 7.998/90, Art. 2º - O programa do seguro-desemprego tem por finalidade:
I - prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em vir-
tude de dispensa sem justa causa, inclusive a indireta, e ao trabalhador compro-
vadamente resgatado de regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de
escravo;
II - auxiliar os trabalhadores na busca ou preservação do emprego, promovendo,
para tanto, ações integradas de orientação, recolocação e qualificação profissio-
nal.
A anotação da extinção do contrato na Carteira de Trabalho e Previdência Social
é documento hábil para requerer o benefício do seguro-desemprego e a movimentação
da conta vinculada no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, nas hipóteses legais,
desde que a comunicação prevista no caput deste artigo tenha sido realizada, confor-
me determinado pelo § 10 do art. 477 da CLT.
7.3. NÚMERO DE PARCELAS
A parcela do seguro desemprego vai ser concedia por período máximo variável
de 3 (três) a 5 (cinco) meses. Se o empregado não cumprir o período de carência, não
faz jus ao seguro desemprego. Nesse sentido, o julgado abaixo:
SEGURO-DESEMPREGO. INDENIZAÇÃO PELO NÃO FORNECIMENTO DAS GUIAS.
NÃO CUMPRIMENTO DA CARÊNCIA DO BENEFÍCIO PELO POSTULANTE. REPA-
RAÇÃO INDEVIDA. No caso, mesmo que a reclamada houvesse entregue as guias
para habilitação no benefício na época própria e efetuado os depósitos do FGTS a
tempo e a modo, não teria o autor direito à percepção das parcelas do seguro-de-
semprego, porquanto não cumpriu a carência do benefício requestado, tampouco
evidenciou nos autos o recebimento pretérito da parcela. Assim, inexiste dano a
reparar. (Recurso Ordinário nº 0001350-82.2015.5.07.0032, 1ª Turma do TRT da
7ª Região/CE, Rel. Dulcina de Holanda Palhano. j. 31.08.2016).

7.4. INDENIZAÇÃO EQUIVALENTE PAGA PELO EMPREGADOR


Caso o empregado não consiga receber o seguro desemprego por culpa do em-
pregador, este será condenado a pagar uma indenização equivalente, como determina
o Súmula 389, II do TST
TST, SÚMULA 389, II - O não-fornecimento pelo empregador da guia necessária
para o recebimento do seguro-desemprego dá origem ao direito à indenização.

8. HOMOLOGAÇÃO DA RESCISÃO CONTRATUAL


8.1. INTRODUÇÃO
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O pedido de demissão e o pagamento rescisão contratual, poderá ser feito na


própria sede da empresa, não sendo mais necessário a assistência do Sindicato ou da
autoridade do Ministério do Trabalho, pois a reforma trabalhista do ano de 2017, revo-
gou o §1º do art. 477 da CLT.
Entretanto, se o empregador for portador de alguma estabilidade no emprego, o
pedido de demissão necessita de assistência do respectivo Sindicato ou da autoridade
do Ministério do Trabalho, nos termos do artigo 500 da CLT.
CLT, Art. 500 - O pedido de demissão do empregado estável só será válido quando
feito com a assistência do respectivo Sindicato e, se não o houver, perante au-
toridade local competente do Ministério do Trabalho e Previdência Social ou da
Justiça do Trabalho.
Nesse sentido, a jurisprudência:
EMBARGOS COM AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE DA GES-
TANTE. PEDIDO DE DEMISSÃO. NECESSIDADE DE ASSISTÊNCIA SINDICAL. ART.
500 DA CLT. 1. Hipótese em que a Turma considerou válido o pedido de dispensa
sem assistência sindical, por considerar inaplicável à empregada gestante, deten-
tora da estabilidade prevista no art. 10, II, “b”, do ADCT, a norma inserta no art.
500 da CLT. Registrou que “sendo válido o pedido de demissão da Reclamante
gestante, é indevida a estabilidade prevista no art. 10, II, “b”, do ADCT, não havendo
de se falar, portanto, em violação do art. 500 da CLT - segundo o qual o “pedido de
demissão do empregado estável só será válido quando feito com a assistência
do respectivo Sindicato e, se não o houver, perante autoridade local competente
do Ministério do Trabalho ou da Justiça do Trabalho”, por não se tratar de em-
pregado estável”. 2. Tratando-se de empregada gestante, detentora de estabilida-
de provisória, a validade do pedido de demissão está condicionada à assistência
do respectivo Sindicato ou da autoridade do Ministério do Trabalho, nos termos
do artigo 500 da CLT, de modo a afastar qualquer incerteza quanto à vontade li-
vre e consciente do trabalhador de rescindir o seu contrato de trabalho. Decisões
de todas as Turmas neste sentido. Recurso de embargos conhecido e provido.
(E-ARR nº 603-26.2015.5.03.0071, SBDI-1 do TST, Rel. Hugo Carlos Scheuermann.
j. 19.10.2017, Publ. 27.10.2017).
RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. GESTAN-
TE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ART. 10, II, “B”, DO ADCT. PEDIDO DE DEMISSÃO.
INOBSERVÂNCIA DO REQUISITO IMPOSTO PELO ART. 500 DA CLT. IMPRESCINDI-
BILIDADE. NORMA DE ORDEM PÚBLICA. DIREITO INDISPONÍVEL. NULIDADE. Nos
termos do art. 10, II, “b”, do ADCT, é assegurada à gestante garantia provisória no
emprego, de modo que esta Corte entende que o seu pedido de demissão só será
válido quando feito com a assistência do sindicato e, se não o houver, perante auto-
ridade local competente do Ministério do Trabalho ou da Justiça do Trabalho, con-
forme estabelece o art. 500 da CLT, independentemente da duração do contrato de
trabalho. Recurso de revista conhecido e provido. (RR nº 764-46.2014.5.09.0122,
3ª Turma do TST, Rel. Maurício Godinho Delgado. j. 20.09.2017, Publ. 22.09.2017).

8.2. EFICÁCIA DA QUITAÇÃO


O instrumento de rescisão ou recibo de quitação, qualquer que seja a causa
ou forma de dissolução do contrato, deve ter especificada a natureza de cada parcela
paga ao empregado e discriminado o seu valor, sendo válida a quitação, apenas, relati-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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vamente às mesmas parcelas. (CLT, Art. 477, § 2º)


A quitação passada pelo empregado, com assistência de entidade sindical de
sua categoria, ao empregador, com observância dos requisitos exigidos nos parágra-
fos do art. 477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente
consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado
à parcela ou parcelas impugnadas. (TST, SUM 330)
A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e,
consequentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desse
recibo. (TST, SUM 330, item I)
Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do contra-
to de trabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente consignado
no recibo de quitação. (TST, SUM 330, item II)
8.3. PAGAMENTO
8.3.1. FORMA
O pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado no ato da homologa-
ção da rescisão do contrato de trabalho, em dinheiro, depósito bancário ou cheque
visado, conforme acordem as partes, salvo se o empregado for analfabeto, quando o
pagamento somente poderá ser feito em dinheiro ou depósito bancário. (CLT, Art. 477,
§ 4º)
CLT, art. 477 – [..]
§ 4º O pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado:
I - em dinheiro, depósito bancário ou cheque visado, conforme acordem as partes;
ou
II - em dinheiro ou depósito bancário quando o empregado for analfabeto.
ATENÇÃO! É lícito ao menor firmar recibo pelo pagamento dos salários. Tratan-
do-se, porém, de rescisão do contrato de trabalho, é vedado ao menor de 18 (dezoito)
anos dar, sem assistência dos seus responsáveis legais, quitação ao empregador pelo
recebimento da indenização que lhe for devida. (CLT, Art. 439)
NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO FEITO POR MENOR RELATIVAMENTE IN-
CAPAZ SEM ACOMPANHAMENTO DO RESPONSÁVEL LEGAL. A recorrente con-
tava com 17 anos à época do pedido de demissão e não foi assistida por seu
representante legal no ato de demissão. Assim, restou devidamente demonstra-
da pela autora sua incapacidade relativa na manifestação de vontade ao pedir
demissão do emprego. Nulidade do pedido de demissão que se declara. (RO nº
00011322420135020045 (20141044149), 6ª Turma do TRT da 2ª Região/SP, Rel.
Antero Arantes Martins. unânime, DOe 27.11.2014).

8.3.2. COMPENSAÇÃO
Qualquer compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não
poderá exceder o equivalente a 1 (um) mês de remuneração do empregado. (CLT, Art.
477, § 5º)
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VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE AO TRABALHADOR. DEVER DE RESTITUIÇÃO.


AÇÃO PRÓPRIA. ART. 477, § 5º, DA CLT. Muito embora o art. 477, § 5º, da CLT,
vede que a compensação no pagamento das verbas rescisórias supere o valor
equivalente a 1 (um) mês de remuneração, essa vedação se dá apenas no mo-
mento da rescisão do contrato de trabalho, nada impedindo que, posteriormente,
em juízo, por meio de ação própria, se reconheça valores pagos a maior, durante
o vínculo de emprego, impondo-se assim a necessária devolução dessas diferen-
ças, sob pena de enriquecimento sem causa de um, em detrimento da outra par-
te. Recurso Ordinário do reclamado não provido. (RO nº 00012241320135020009
(20141119165), 14ª Turma do TRT da 2ª Região/SP, Rel. Davi Furtado Meirelles.
unânime, DOe 09.01.2015).

8.3.3. PRAZO
Com a reforma trabalhista do ano de 2017 (Lei 13.467/2017), as empresas de-
vem entregar aos empregados os documentos que comprovem a comunicação da
extinção contratual aos órgãos competentes, bem como efetuar o pagamento dos va-
lores da rescisão contratual, no prazo de dez dias, contados a partir do término do
contrato.
Nesse sentido, a redação do § 6º do art. 477 da CLT:
CLT, art. 477 – Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder
à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa
aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo
e na forma estabelecidos neste artigo.
§ 6º - A entrega ao empregado de documentos que comprovem a comunicação
da extinção contratual aos órgãos competentes bem como o pagamento dos va-
lores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de quitação deverão ser
efetuados até dez dias contados a partir do término do contrato.
Em resumo, o empregador possui as seguintes obrigações:
> Dar baixa na CTPS;
> Comunicar os órgãos competentes; e
> Pagar as verbas rescisórias no prazo legal.
Segundo a OJ 162 da SDI-1 do TST, a contagem do prazo para o pagamento das
verbas rescisórias exclui o dia da notificação da demissão e inclui o dia do vencimento.
TST, OJ 162 da SDI-1 - A contagem do prazo para quitação das verbas decorren-
tes da rescisão contratual prevista no artigo 477 da CLT exclui necessariamente
o dia da notificação da demissão e inclui o dia do vencimento, em obediência ao
disposto no artigo 132 do Código Civil de 2002.
Nos casos de rescisão contratual sem justa causa com o aviso prévio indeni-
zado, o prazo de 10 dias previsto no § 6º do art. 477 da CLT flui a partir do último dia
efetivamente laborado e, não do fim da projeção do aviso prévio indenizado.
Nesse sentido:
VERBAS RESCISÓRIAS. CONTAGEM DO PRAZO PARA PAGAMENTO. AVISO-PRÉ-
VIO INDENIZADO. LEI 13.467/2017. Embora a nova redação do § 6º do art. 477
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da CLT, introduzida pela Lei 13.467/2017, disponha que o pagamento dos valores
constantes do instrumento de rescisão deverão ser efetuados até dez dias conta-
dos a partir do término do contrato, considera-se que este prazo, na hipótese do
aviso-prévio se dar de forma indenizada, começa a correr a partir do término da
prestação laboral. No caso em análise o aviso-prévio é de 90 dias. O trabalhador
não pode esperar até o final do período de projeção do aviso-prévio indenizado
para receber os “documentos que comprovem a comunicação da extinção con-
tratual aos órgãos competentes” e o pagamento dos valores rescisórios devidos,
razão pela qual a interpretação teleológica é de que o prazo previsto no § 6º do art.
477 da CLT flui a partir do último dia efetivamente laborado. Recurso do reclaman-
te provido no aspecto. (RO nº 0020934-38.2018.5.04.0801, 4ª Turma do TRT da 4ª
Região/RS, Rel. André Reverbel Fernandes. j. 19.06.2019, unânime).
Na mesma linha, são os esclarecimentos prestados pela doutrina especializada:
Mauricio Godinho.
Como a nova Lei revogou as alíneas “a” e “b” do § 6º precedente - dispositivos que
faziam diferenciação no critério de contagem desse prazo de dez dias -, deve-se
interpretar que a intenção legal foi a de estabelecer prazo único de dez dias con-
tado do dia do término efetivo do contrato (se não houver aviso prévio - caso de
contratos a termo) ou do dia do término fático do contrato de trabalho, se houver
aviso prévio indenizado (ou seja, do dia da comunicação do pré-aviso) ou se se
tratar de pedido de demissão pelo próprio empregado, com dispensa de cumpri-
mento de seu aviso. DELGADO, Mauricio Godinho. A reforma trabalhista no Brasil:
com os comentários à Lei n. 13.467/2017 I Mauricio Godinho Delgado, Gabriela
Neves Delgado. - São Paulo: LTr, 2017. Pág. 179.
Homero Mateus.
Prefira interpretar esse dispositivo como 10 dias após a cessação da prestação de
serviços, não se projetando o aviso prévio indenizado para, ao depois, computar o
prazo, sob pena de frustração do procedimento rescisório e do acesso ao traba-
lhador do dinheiro necessário para fazer frente ao período de desemprego. (SILVA,
Homero Mateus da. Comentários à reforma trabalhista, 2 Ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2017)
Vólia Bomfim.
Houve uniformização do prazo para pagamento: 10 dias. O § 6° do art. 477 aponta
que o prazo flui da extinção do contrato. Ora, o legislador cometeu um equívoco
ao fixar um único marco para o início da contagem do prazo de dez dias, pois não
distinguiu o trabalhador que trabalha até o fim do contrato daquele que recebe o
aviso prévio indenizado. Imaginemos um empregado com 25 anos de casa, de-
mitido sem justa causa, com aviso prévio indenizado. Não é crível imaginar que o
empregador teria 100 dias para pagar as verbas da rescisão, aí incluídos o salário
e a liberação do FGTS. Não foi esta a intenção do legislador. Desta forma, a melhor
interpretação que se extrai do final do§ 6° do art. 477 da CLT é que o prazo de 10
dias é contado da extinção efetiva do contrato, salvo nas hipóteses em que o aviso
prévio é indenizado, quando a contagem deve ser feita da comunicação da dispen-
sa. (CASSAR, Vólia Bomfim; BORGES, Leonardo Dias. Comentários à reforma. - 2.
ed. Rio de janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. Pág. 87)
Marcelo Moura.
Com a redação da Lei nº 13.467, de 13.07.2017 o prazo passou a ser de 10 dias
contados a partir do término do contrato de trabalho, qualquer que seja a modali-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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dade de aviso prévio. Pois bem, o prazo foi ampliado para a hipótese de aviso pré-
vio trabalhado, mas nada mudou para o aviso prévio indenizado, pois o prazo era
de 10 dias. O “aviso prévio trabalhado em casa: prática extremamente condenável
pela jurisprudência, representa burla ao instituto jurídico referido e à sua finalida-
de. A jurisprudência do TST, portanto, através da OJ nº 14, da SBDI-1, concede a
esta burla o mesmo efeito do aviso prévio indenizado, contando-se o prazo para
pagamento das verbas resilitórias conforme art. 477, § 6°. (MOURA, Marcelo. Re-
forma Trabalhista -Salvador: JusPODIVM, 2018. Pág. 188)
Gustavo Filipe
Em caso de aviso prévio indenizado (art. 487, § 1 º, da CLT), embora a questão
possa gerar controvérsia, defende-se o entendimento de que o mencionado pra-
zo de 10 dias, segundo a previsão do art. 477, § 6° , da CLT, deve ser contato do
término do contrato de trabalho em si, isto é, sem considerar a projeção do aviso
prévio indenizado, a qual não posterga o término do pacto laboral em si. (GAR-
CIA, Gustavo Filipe Barbosa. Reforma Trabalhista. 2.ed. Salvador: Ed. JusPODIVM,
2017. Pág. 173)

8.3.4. MULTA PELO ATRASO NO PAGAMENTO DA RESCISÃO


O Art. 477, § 8º da CLT, prevê que a inobservância do disposto no § 6º deste
artigo sujeitará o empregador ao pagamento da multa a favor do empregado, em valor
equivalente ao seu salário, salvo quando, comprovadamente, o trabalhador der causa
à mora.
§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à multa
de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor do em-
pregado, em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido pelo índice
de variação do BTN, salvo quando, comprovadamente, o trabalhador der causa à
mora.

8.3.4.1.BASE DE CÁLCULO DA MULTA


O entendimento do TST é de que a multa do § 8º do art. 477 da CLT, deve incidir
sobre a remuneração, ou seja, sobre todas as parcelas salariais recebidas como con-
traprestação pelos serviços prestados.
Nesse sentido os seguintes precedentes:
Assim, a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT deve incidir sobre a remune-
ração, ou seja, sobre todas as parcelas salariais recebidas como contrapresta-
ção pelos serviços prestados. Recurso de revista conhecido e provido. (Processo:
ARR - 12453-59.2015.5.01.0483 Data de Julgamento: 13/11/2018, Relator Minis-
tro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
23/11/2018.)
“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.105/2014. 1. BASE
DE CÁLCULO DA MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. Na hipótese, o TRT concluiu
que a base de cálculo da multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT engloba todas
as parcelas salariais da Autora. Segundo a jurisprudência desta Corte, no cálculo
da multa em questão, deve-se considerar a soma das parcelas salariais recebi-
das pelo empregado, ou seja, a sua remuneração e não o salário básico. Esse
posicionamento decorre das disposições dos artigos 457, § 1º e 458 da CLT. Pre-
cedentes. A decisão do Regional encontra-se em consonância com a jurisprudên-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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cia sedimentada no âmbito desta Corte, restando inviabilizada a admissibilidade


da revista (Súmula 333/TST). Recurso de revista não conhecido.” (...) (RR - 1331-
22.2013.5.03.0044, Rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 7ª Turma, Data de Publi-
cação: DEJT 19/5/2017)
“RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. BASE DE CÁLCULO. Nos
termos do § 1º do art. 457, ‘integram o salário, não só a importância fixa estipu-
lada, como também as comissões, percentagens gratificações ajustadas, diárias
para viagem e abonos pagos pelo empregador”. Assim sendo, o art. 477, §8º, da
CLT, ao se referir à multa incidente sobre o valor equivalente ao salário do empre-
gado, engloba a totalidade das parcelas de natureza salarial, e não se restringe ao
salário fixo. Recurso de revista conhecido e provido. (RR-718-92.2015.5.05.0038,
Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT
7.10.2016)
Contudo, o art. 477 da CLT não menciona que tais verbas, devem ser calculadas
utilizando a maior remuneração do empregado recebida durante todo o contrato de
trabalho, quando este recebe remuneração variável.
Nesse sentido:
RECURSO DE REVISTA. 1. VERBAS RESCISÓRIAS. DIFERENÇAS. Conforme en-
tendimento reiterado nesta Corte, o art. 477 da CLT não trata da base de cálculo
das verbas rescisórias; nada dispondo no sentido de que as verbas rescisórias
do empregado devem ser calculadas utilizando sua maior remuneração recebida
durante toda a contratualidade. Precedentes. Recurso de revista conhecido e não
provido. (RR - 904-51.2015.5.09.0670, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data
de Julgamento: 14/11/2018, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/11/2018)
“RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/2014.BASE DE CÁLCULO DAS VERBAS RES-
CISÓRIAS. MAIOR REMUNERAÇÃO. A jurisprudência desta Corte é assente no
sentido de que o artigo 477, caput, da CLT não determina a adoção da maior re-
muneração como base de cálculo para as verbas rescisórias, uma vez que tal
preceito refere-se apenas ao parâmetro de cálculo de indenização a ser paga nas
dispensas sem justa causa em contrato por prazo indeterminado. Precedentes.
Recurso de revista não conhecido.” (RR - 1581-48.2012.5.01.0011 Data de Julga-
mento: 16/08/2017, Relatora Ministra: Maria Helena Mallmann, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 25/08/2017)
“RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. DIFEREN-
ÇAS DE VERBAS RESCISÓRIAS. BASE DE CÁLCULO. MAIOR REMUNERAÇÃO. ART.
477, DA CLT. A jurisprudência pacífica deste TST é no sentido de que o art. 477, da
CLT, não trata de base de cálculo de verbas rescisórias, não consagrando qualquer
previsão de que tais verbas devam ser calculadas com base na maior remunera-
ção percebida pelo trabalhador durante a contratualidade. Recurso de revista co-
nhecido e provido.” (RR - 177-75.2016.5.12.0023 Data de Julgamento: 14/06/2017,
Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
23/06/2017)
VERBAS RESCISÓRIAS - BASE DE CÁLCULO - ART. 477, CAPUT, DA CLT. O art. 477,
caput, da CLT prevê indenização, paga na base da maior remuneração, no caso de
dispensa sem justa causa em contrato por prazo indeterminado, nada tratando
sobre a base de cálculo das verbas rescisórias do empregado, razão pela qual não
há como se inferir do referido artigo que elas sejam calculadas utilizando a maior
remuneração recebida durante todo o contrato. (TST-AIRR-262-86.2012.5.01.0062,
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DEJT 07/10/2016)
Desta forma, quando o empregado recebe salário variável, não se justifica a
aplicação, como base de cálculo para as verbas rescisórias, da maior remuneração
que tenha percebido durante o contrato. A base de cálculo correta para tais casos, será
a média dos últimos 12 meses de trabalho. Nesse sentido:
“PROFESSOR. REMUNERAÇÃO VARIÁVEL. VERBAS RESCISÓRIAS. BASE DE CÁL-
CULO. média remuneratória dos últimos doze meses de prestação de serviços. O
Tribunal de origem, com fundamento no art. 477 da CLT, consignou que a base de
cálculo das verbas rescisórias devidas à reclamante deveria corresponder à maior
remuneração recebida. Trata-se, na hipótese, de professora que percebia remune-
ração variável a partir das horas-aulas prestadas. Na hipótese de empregado com
remuneração variável, como a do professor que é remunerado a partir da quan-
tidade de horas-aulas ministradas, a jurisprudência dessa Corte é no sentido de
que as verbas rescisórias devem ser calculadas a partir da média remuneratória
dos últimos doze meses de prestação de serviços, à luz do disposto no art. 487,
§ 3.º, da CLT. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido.” (RR - 733-
72.2011.5.01.0051, Relatora: Ministra Maria Helena Mallmann, 2.ª Turma, DEJT
17/8/2018.)
“VERBAS RESCISÓRIAS. BASE DE CÁLCULO. MÉDIA DA REMUNERAÇÃO. 1 - A base
de cálculo das verbas rescisórias do professor, que recebe por hora-aula trabalha-
da, deve ser a média da remuneração dos últimos 12 meses, conforme dispõe o
art. 487, § 3.º, da CLT, aplicado analogicamente. Julgados. 2 - Recurso de revista
de que se conhece e a que se dá provimento.” (RR - 147600-23.2008.5.01.0024,
Relatora: Ministra Kátia Magalhães Arruda, 6.ª Turma, DEJT 17/8/2018.)
“[...]. VERBAS RESCISÓRIAS. BASE DE CÁLCULO. PROFESSOR. REMUNERAÇÃO
VARIÁVEL. PROVIMENTO. O egrégio Tribunal Regional determinou que as verbas
rescisórias fossem pagas sobre a maior remuneração recebida pela autora. No
entanto, o artigo 477, caput, da CLT, prevê indenização devida aos empregados
estáveis contratados antes do advento do FGTS, paga na base da maior remune-
ração, no caso de dispensa sem justa causa em contrato por prazo indeterminado,
nada tratando da base de cálculo das verbas rescisórias do empregado, razão
pela qual não há como se extrair do referido dispositivo que as verbas rescisórias
devam ser calculadas utilizando sua maior remuneração recebida durante toda a
contratualidade. Como a Reclamante exercia a função de professora, com salário
variável, as verbas rescisórias devem ser calculadas com base na média remu-
neratória dos últimos doze meses, nos termos do artigo 487, §3.º, da CLT. Pre-
cedentes. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.” (ARR
- 108800-63.2008.5.01.0043, Relator: Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos,
4.ª Turma, DEJT 22/6/2018.)
“VERBAS RESCISÓRIAS. APURAÇÃO. BASE DE CÁLCULO. MAIOR REMUNERAÇÃO.
ARTIGO 477 DA CLT. A previsão contida no art. 477 da CLT refere-se à base de cál-
culo da indenização nele prevista, e não das verbas rescisórias a serem quitadas
no momento da rescisão contratual. Assim dispõe esse dispositivo: ‘Art. 477 - É
assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação
do respectivo contrato, e quando não haja ele dado motivo para cessação das
relações de trabalho, o direto de haver do empregador uma indenização, paga na
base da maior remuneração que tenha percebido na mesma empresa’. Nesse sen-
tido é o entendimento dominante desta Corte. Recurso de revista não conhecido.”
(RR - 55200-63.2007.5.01.0011, Relator: Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2.ª
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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Turma, DEJT 8/6/2018.)

9. OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE A MULTA DO ART.


477 DA CLT
9.1. APLICAÇÃO - PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO
O TST por meio da OJ 238 da SDI-1 entende que é devido a multa pelo atraso no
pagamento da rescisão quando a empregadora for a pessoa jurídica de direito público
que não observa o prazo para pagamento das verbas rescisórias previsto no §6º do
art. 477 da CLT.
TST, OJ 238 da SDI-1 - MULTA. ART. 477 DA CLT. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO
PÚBLICO. APLICÁVEL. Submete-se à multa do artigo 477 da CLT a pessoa jurídica
de direito público que não observa o prazo para pagamento das verbas rescisó-
rias, pois nivela-se a qualquer particular, em direitos e obrigações, despojando-se
do “jus imperi” ao celebrar um contrato de emprego.

9.2. APLICAÇÃO - REVERSÃO DA JUSTA CAUSA EM JUÍZO


O TST vem decidindo que a reversão da justa causa em juízo, não afasta o direi-
to à multa do art. 477, § 8º, da CLT;
MULTA DO ART. 477 DA CLT 1 - Recurso de revista sob a vigência da Lei nº
13.015/2014 e foram atendidas as exigências do art. 896, § 1º-A, da CLT. 2 - O art.
477, § 8º, da CLT prevê que o empregador pagará multa se efetuar o pagamento
das verbas rescisórias fora do prazo previsto no § 6º, exceto se ficar compro-
vado que o empregado deu causa à mora. 3 - Esta Corte tem entendido que a
multa é devida, inclusive, quando há reconhecimento do vínculo empregatício em
juízo ou do pedido de demissão ou reversão judicial da dispensa por justa cau-
sa, como ocorreu no caso. 4 - Agravo de instrumento a que se nega provimento.
(Ag-AIRR-1477-71.2014.5.05.0012, 6ª Turma, Relatora Ministra Kátia Magalhães
Arruda, DEJT 28/06/2019).
Entendimento da SBDI-1 do TST sobre o assunto:
RECURSO DE EMBARGOS. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA LEI 11.496/07. MUL-
TA DO ART. 477, §8º, DA CLT. JUSTA CAUSA REVERTIDA EM JUÍZO. 1. A tese da
Turma é no sentido de que, uma vez consistentes os fundamentos alegados pela
empregadora para a demissão por justa causa - conquanto revertida em juízo -,
não há falar na imposição da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, uma vez
que houve o pagamento tempestivo das verbas devidas em razão da demissão
por justa causa, no caso, saldo de salário. 2. O pagamento tão somente de saldo
de salário não é capaz de afastar a conclusão de que inadimplidas as demais
verbas rescisórias decorrentes da reversão em juízo da justa causa, sendo cer-
to que o atual entendimento desta Corte Superior consolidou-se no sentido de
que apenas quando o trabalhador, comprovadamente, der causa à mora, não será
devida a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, hipótese não reconhecida nos
autos. Recurso de embargos conhecido e provido. (Processo: E-ED-RR - 229900-
94.2005.5.02.0064 Data de Julgamento: 04/05/2017, Relator Ministro: Hugo Car-
los Scheuermann, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Pu-
blicação: DEJT 12/05/2017)
AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS. VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2.014. RE-
VERSÃO DA JUSTA CAUSA EM JUÍZO. MULTA PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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CLT. A jurisprudência iterativa e notória do Tribunal Superior do Trabalho firmou-se


no sentido de que a incidência da multa do artigo 477, § 8º, da CLT prende-se ao
mero fato objetivo concernente ao atraso no pagamento das verbas rescisórias,
nos termos do parágrafo sexto do artigo 477da CLT. A circunstância de se tratar
de reversão da justa causa em juízo não afasta o direito à multa porque, por si só,
não constitui hipótese de mora causada pelo empregado. Fortalece essa conclu-
são o cancelamento da OJ 351 da SbDI-1 desta Corte em 16/11/2009. Preceden-
tes. Não cabem embargos fundamentados em divergência superada por iterativa
e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, nos termos do art. 894,
§ 2º, da CLT. Agravo regimental a que se nega provimento. (Processo: AgR-E-RR
- 86400-53.2002.5.15.0115 Data de Julgamento: 02/02/2017, Relator Ministro:
Márcio Eurico Vitral Amaro, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Data de Publicação: DEJT 10/02/2017)
RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014. MUL-
TA PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. JUSTACAUSADESCONSTITUÍDA EM JUÍ-
ZO. A desconstituição em juízo da justa causa não impede a aplicação da multa
prevista no art. 477, § 8º, da CLT, cujo fato gerador é a não-quitação das parcelas
rescisórias no prazo estabelecido pelo § 6º do aludido preceito de lei. A multa só
incidirá se o empregado tiver dado causa à mora no pagamento das verbas res-
cisórias. Recurso de Embargos de que se conhece e a que se nega provimento.
(Processo: E-RR - 575300-32.2009.5.09.0029 Data de Julgamento: 06/10/2016,
Relator Ministro: João Batista Brito Pereira, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Data de Publicação: DEJT 14/10/2016)
“RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO PELA RECLAMANTE [...] MULTA PREVIS-
TA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. JUSTA CAUSA DESCONSTITUÍDA EM JUÍZO. A
desconstituição em juízo da justa causa não impede a aplicação da multa pre-
vista no art. 477, § 8º, da CLT, cujo fato gerador é a não quitação das parcelas
rescisórias no prazo estabelecido pelo § 6º do referido dispositivo. A multa só
não será aplicada se o empregado tiver dado causa à mora. [...].” (E-ED-RR -92500-
55.2007.5.04.0341, Relator Ministro: João Batista Brito Pereira, Data de Julgamen-
to: 27/6/2013, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publica-
ção: DEJT 2/8/2013.)

9.3. APLICAÇÃO - RECONHECIMENTO JUDICIAL DE VÍNCULO DE EM-


PREGO
O TST tem entendimento consolidado por meio da súmula 462, que é devida a
multa do art. 477, § 8º, da CLT quando o vínculo for reconhecido através de processo
judicial com a condenação da reclamada a pagar verbas rescisórias.
TST, SUM 462 do TST - MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. INCIDÊNCIA. RECONHE-
CIMENTO JUDICIAL DA RELAÇÃO DE EMPREGO - A circunstância de a relação
de emprego ter sido reconhecida apenas em juízo não tem o condão de afastar
a incidência da multa prevista no art. 477, §8º, da CLT. A referida multa não será
devida apenas quando, comprovadamente, o empregado der causa à mora no
pagamento das verbas rescisórias.
Nesse sentido, outras decisões do TST:
MULTA DO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. RECONHECIMENTO JUDICIAL DE VÍNCULO
DE EMPREGO. Esta Corte já firmou entendimento no sentido de que, ainda que o
vínculo de emprego seja reconhecido em juízo, é devida a multa prevista no artigo
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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477, § 8º, da CLT, porque tal fato não é suficiente para caracterizar a dúvida razoá-
vel quanto à existência da relação jurídica. Precedentes. Aplicação da Súmula nº
333 desta Corte e do § 4º do artigo 896 da CLT. Recurso de revista de que não se
conhece. (RR nº 0329900-50.2009.5.04.0018, 7ª Turma do TST, Rel. Cláudio Mas-
carenhas Brandão. unânime, DEJT 30.06.2016).
“EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ARTIGO 477, § 8o, DA CLT.
RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO EM JUÍZO. Após o cancelamento
da Orientação Jurisprudência! n° 351 da SBDI-1, a jurisprudência desta c. Corte se
firmou no sentido de que a decisão judicial que reconhece a existência de vínculo
de emprego apenas declara situação fática preexistente, o que impõe a incidência
da multa do artigo 477, § 8o, da CLT pelo atraso no pagamento das verbas res-
cisórias. Precedentes desta e. Subseção. Recurso de embargos conhecido por
divergência jurisprudencial e não provido.” (E-RR 16000-62.2011.5.13.0015 , Rela-
tor Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento: 20/3/2014,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT
28/3/2014.)
“RECURSO DE EMBARGOS. RECONHECIMENTO JUDICIAL DO VÍNCULO DE EM-
PREGO. MULTA DO ART. 477 DA CLT. RECURSO DE REVISTA NÂO CONHECIDO.
A jurisprudência atual e iterativa desta c. Corte não faz distinção em relação à
incidência da multa do art. 477 da CLT, quando ausente o pagamento das parce-
las rescisórias, independentemente do fato de a dispensa por justa causa ter sido
revertida judicialmente, sendo devida a multa prevista no § 8o do art. 477 da CLT
em tais casos. Precedentes. Embargos conhecidos e desprovidos.” (E-RR - 1372-
14.2010.5.03.0005, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento:
21/11/2013, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publica-
ção: DEJT 29/11/2013. Decisão unânime.)

9.4. APLICAÇÃO - PAGAMENTO TARDIO DA MULTA DE 40% DO FGTS


O TST, através do informativo 122, entendeu que cabe a multa do art. 477, § 8º
da CLT, quando a empresa não paga no prazo legal a multa de 40% sobre o FGTS, por
se tratar de verba tipicamente rescisória.
Informativo TST n° 122 - MULTA DO ART. 477, §8°, DA CLT. INCIDÊNCIA. PAGA-
MENTO TARDIO DA INDENIZAÇÃO COMPENSATÓRIA DE 40% SOBRE O FGTS. A
multa prevista no artigo 477. §8°, da CLT incide na hipótese de não pagamento, no
prazo legal, da indenização compensatória de 40% sobre o FGTS, por se tratar de
verba tipicamente rescisória. No caso, o autor foi dispensado em 5.4.2012, a qui-
tação de parte das parcelas rescisórias ocorreu em 14.4.2012 e o pagamento da
multa de 40% sobre os depósitos do FGTS se deu somente em 25.5.2012, quando
já transcorridos 50 dias desde a dispensa. Desse modo, o adimplemento tardio da
verba rescisória em foco caracterizou fato capaz de sujeitar o empregador à multa
prevista no art. 477, § 8o da CLT, não se tratando de pagamento inexato do acerto
rescisório, mas de desrespeito, pelo empregador, do cumprimento do prazo para
a satisfação de direito vocacionado à proteção constitucional contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, na forma do artigo 7o, I. da Constituição Federal,
c/c o art. 10. I. do ADCT. Sob esses fundamentos, a SBDI-I. por unanimidade, co-
nheceu do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial. e, no mérito, por
maioria, deu-lhe provimento para restabelecer o acórdão do Tribunal Regional do
Trabalho.no particular, vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, João Oreste
Dalazen, Guilherme Augusto Caputo Bastos e Walmir Oliveira da Costa. TST-E-ED-
-ARR-643-82.2013.5.09.0015, SbDI-1. rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte.
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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5.11.2015.
Outros julgados sobre o assunto:
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA EM FACE
DE DECISÃO PUBLICADA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ATRASO NO PA-
GAMENTO DA INDENIZAÇÃO DE 40% DO FGTS . PARCELA RESCISÓRIA INCON-
TROVERSA. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. A multa prevista no artigo 477, §
8º, da CLT refere-se à mora no pagamento das parcelas rescisórias, de modo que
sua aplicação está condicionada à quitação intempestiva das verbas constantes
do instrumento de rescisão contratual, observando-se o prazo a que alude o §
6º do mesmo dispositivo legal. No caso específico dos autos, a indenização de
40% sobre o FGTS é verba rescisória incontroversa, devida em razão da despedida
imotivada do recorrido, sujeita, portanto, às penas fixadas no artigo 477, § 8º, da
CLT. Agravo conhecido e não provido. (Ag-AIRR-154-50.2016.5.10.0811, 7ª Turma,
Relator Ministro Cláudio Mascarenhas Brandão, DEJT 01/06/2018).
“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/14 - MULTA
DO ART. 477 DA CLT. ATRASO NO PAGAMENTO DA MULTA DE 40% DO FGTS. A
mora no pagamento da multa de 40% sobre o FGTS enseja a incidência da multa
prevista no art. 477, § 8º, da CLT, por se tratar de parcela de natureza rescisória.
Julgados. Recurso de revista não conhecido.” (RR - 820-70.2014.5.10.0019, Re-
lator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento: 17/05/2017, 8ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 19/05/2017)
[..] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA EM FACE DE DECI-
SÃO PUBLICADA A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ATRASO NO
PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO DE 40% DO FGTS. PARCELA RESCISÓRIA INCON-
TROVERSA. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. A multa prevista no artigo 477, §
8º, da CLT refere-se à mora no pagamento das parcelas rescisórias, de modo que
sua aplicação está condicionada à quitação intempestiva das verbas constantes
do instrumento de rescisão contratual, observando-se o prazo a que alude o §
6º do mesmo dispositivo legal. No caso específico dos autos, a indenização de
40% sobre o FGTS é verba rescisória incontroversa, devida em razão da despe-
dida imotivada do recorrido, sujeita, portanto, às penas fixadas no artigo 477, §
8º, da CLT. Precedentes. Recurso de revista de que não se conhece. [..]. (RR nº
170-97.2013.5.15.0090, 7ª Turma do TST, Rel. Cláudio Mascarenhas Brandão. j.
17.08.2016, Publ. 26.08.2016).

9.5. APLICAÇÃO - PARCELAMENTO DE VERBAS RESCISÓRIAS


O TST, por meio do informativo 91, entendeu que cabe a multa do art. 477, § 8º
da CLT, quando a empresa paga a rescisão contratual de forma parcelada, mesmo que
a autorização de tal parcelamento esteja prevista em convenção coletiva, pois é direito
indisponível do trabalhador a percepção da totalidade das verbas rescisórias nos pra-
zos estipulados no § 6º do art. 477 da CLT. O pagamento em parcelas implica atraso,
atraindo a incidência da multa prevista no § 8º do mesmo dispositivo legal.
Nesse sentido:
Informativo TST n° 91 - MULTA. ART. 477, § 8º, DA CLT. DEVIDA. PARCELAMENTO
DE VERBAS RESCISÓRIAS PREVISTO EM ACORDO COLETIVO. INVALIDADE. DI-
REITO INDISPONÍVEL. O pagamento de verbas rescisórias fora do prazo fixado no
art. 477, § 6o, da CLT, em razão de parcelamento estabelecido em acordo coletivo,
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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não afasta a aplicação da multa prevista no art. 477, § 8o, da CLT, tendo em vista
a natureza cogente dessa norma, que se sobrepõe à vontade das partes. No caso
concreto, consignou-se que o parcelamento das verbas rescisórias decorreu de
acordo celebrado entre o sindicato profissional da reclamante e a reclamada, em
razão de problemas financeiros enfrentados pela empregadora. Nesse contexto, a
SBDI-I decidiu, à unanimidade, conhecer dos embargos no tópico, por divergência
jurisprudencial. e. no mérito, por maioria, negar-lhes provimento. Vencidos os Mi-
nistros Alexandre Agra Belmonte, Ives Gandra Martins Filho e Renato de Lacerda
Paiva. TST-E-ED-ED-RR-1285700-40.2008.5.09.0016. SBDI-I. rei. Min. Aloysio Cor-
rêa da Veiga. 9.10.2014.
Outras decisões sobre o caso:
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE. MULTA PREVISTA NO
ART. 477, § 8º, DA CLT. PARCELAMENTO DE VERBAS RESCISÓRIAS. É firme a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que é direito indisponível do tra-
balhador a percepção da totalidade das verbas rescisórias nos prazos estipulados
no § 6º do art. 477 da CLT. O pagamento em parcelas implica atraso, atraindo a
incidência da multa prevista no § 8º do mesmo dispositivo legal. Recurso de revis-
ta parcialmente conhecido e provido” (ARR-26200-52.2008.5.15.0121, 1ª Turma,
Relator Ministro Walmir Oliveira da Costa, DEJT 18/11/2016).
[..] 3. MULTA DO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. VERBAS RESCISÓRIAS. PARCELA-
MENTO. ACORDO. A sanção prevista no § 8º do art. 477 da CLT objetiva punir o
empregador que, sem justo motivo, deixa de efetuar o pagamento das parcelas
rescisórias - gravadas de inequívoco caráter alimentar - no prazo fixado no § 6º
do mesmo dispositivo. No caso, segundo o TRT, os comprovantes de depósito
revelaram que as verbas rescisórias foram pagas de modo parcelado, a partir de
09.06.2006, fora do prazo previsto em lei. Em casos como a dos autos, em que a
Reclamada figura como parte, esta Corte tem se posicionado no sentido de ser
inválido acordo que objetive o pagamento parcelado das verbas rescisórias, tendo
em vista o caráter cogente dos §§ 6º e 8º do art. 477 da CLT. Recurso de revista
não conhecido. [..] (RR nº 3626900-93.2007.5.09.0002, 7ª Turma do TST, Rel. Dou-
glas Alencar Rodrigues. unânime, DEJT 09.06.2016).
Entretanto, com a reforma trabalhista do ano de 2017, alguns autores passaram
a entender que é válida o parcelamento do pagamento das verbas rescisórias, mesmo
não tendo sido acrescentado dispositivo legal na CLT, que permita o pagamento parce-
lado das verbas rescisórias, senão vejamos:
[..] será possível, ainda, alterar o prazo legal ou determinar o parcelamento do pa-
gamento das verbas da rescisão; diminuir a multa prevista pelo atraso no paga-
mento da rescisão;[..]47
[..] Na prática, esse parcelamento pode ser feito perante a Justiça do Trabalho,
com a devida homologação pelo juiz. Sustentamos também a possibilidade’ de
realização do parcelamento pelo MPT por meio da celebração de TAC - Termo de
Ajustamento de Conduta. Com a Reforma Trabalhista, foi criado procedimento de
jurisdição voluntária para homologação de acordo extrajudicial (art. 855-B a 855-E
da CLT). Tendo em vista a possibilidade das partes transacionarem as obrigações
devidas, entendemos que seria possível o parcelamento das verbas trabalhistas48.
Encontramos ainda, uma decisão do TST onde foi permitido o parcelamento por
47 CASSAR, Vólia Bomfim; BORGES, Leonardo Dias. Comentários à reforma trabalhista. 2. ed. Rio de janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018
48 CORREIA, Henrique. Direito do trabalho para os concursos de analista do TRT e MPU. 11 ed. Salvador: Salvador: JusPODIVM, 2018
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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meio de acordo coletivo o pagamento parcelado das verbas rescisórias, senão veja-
mos:
ACORDO COLETIVO. VALIDADE. PARCELAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS.
MULTA DO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. NÃO PROVIMENTO. Esta Corte Superior tem
decidido que o consentimento do empregado ao pagamento parcelado das ver-
bas rescisórias não é suficiente para excluir a incidência da multa prevista no § 8º
do artigo 477 da CLT. Isso porque, segundo o § 4º desse dispositivo, o pagamen-
to das verbas rescisórias deve ser feito em dinheiro ou cheque visado, nos pra-
zos estabelecidos no seu § 6º. Na hipótese, contudo, o parcelamento das verbas
rescisórias não foi objeto de acordo individual, mas sim por meio de negociação
coletiva, circunstância suficiente para afastar a aplicação desse entendimento. In
casu, por ocasião da dispensa coletiva de mais de quatrocentos empregados da
primeira reclamada, em razão do encerramento de suas atividades, foi firmado
acordo coletivo junto ao sindicato da categoria profissional, no qual ficou estipu-
lado o pagamento das verbas rescisórias dos respectivos empregados em dezes-
seis parcelas. O direito dos empregados ao pagamento das verbas trabalhistas na
forma prevista nos parágrafos do artigo 477 da CLT não se enquadra como direito
de indisponibilidade absoluta, mostrando-se plenamente possível a sua transação
por meio de instrumento de negociação coletiva. No particular, não foi transacio-
nado o direito dos empregados ao pagamento das verbas rescisórias, mas tão
somente à forma como esse seria efetuado, tratando-se de aspecto a ele acessó-
rio e, por tal motivo, de indisponibilidade relativa. Desse modo, uma vez que, à luz
do princípio da adequação setorial negociada, apenas os direitos considerados
de indisponibilidade absoluta não podem ser objeto de transação por meio de
negociação coletiva, não há qualquer vedação no sentido que a previsão conti-
da em acordo coletivo venha a prevalecer sobre a legislação heterônoma estatal.
Recurso de revista de que se conhece e a que se nega provimento. (RR - 61700-
49.2009.5.21.0002, Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data de
Julgamento: 08/11/2017, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/11/2017)

9.6. APLICAÇÃO – RESCISÃO INDIRETA


O TST tem se posicionado no sentido de que a existência de controvérsia quan-
to à modalidade da rescisão contratual não exime o empregador do pagamento da
indenização do art. 477, § 8º, da CLT.
A multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT só não é devida no caso de o atraso no
pagamento das verbas rescisórias decorrer de culpa do trabalhador. Logo, o não paga-
mento das verbas rescisórias no prazo do art. 477, § 6º, da CLT, gera a penalidade do
art. 477, § 8º, da CLT, independentemente de as verbas decorrerem do reconhecimento
da rescisão indireta em juízo.
Assim, toda petição inicial de rescisão indireta, deve ter pedido da multa do art.
477, §8º da CLT. Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
“RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ART. 477 DA CLT. RESCISÃO INDIRETA. O Tri-
bunal Regional concluiu que a rescisão indireta reconhecida em juízo não enseja
a aplicação da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT. No entanto, o fato gera-
dor da referida multa é a inadimplência na quitação das verbas rescisórias, e as
sanções previstas se relacionam à pontualidade no pagamento, e não ao fato de
haver controvérsia sobre a forma de extinção da relação de emprego, ou mesmo
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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sobre a própria existência do vínculo. Assim, apenas se o empregado der causa


à mora no pagamento das verbas rescisórias não será devida a referida multa,
o que não se verifica na hipótese. Recurso de revista conhecido e provido” (RR-
760-47.2016.5.11.0004, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT
28/06/2019).
“PROCESSO ANTERIOR À LEI Nº 13.467/2017. I - AGRAVO DE INSTRUMENTO.
RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO RECONHECIDA EM JUÍZO.
INDENIZAÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. Diante da demonstra-
ção de divergência jurisprudencial, merece processamento o recurso de revista.
Agravo de instrumento conhecido e provido. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO
DE TRABALHO RECONHECIDA EM JUÍZO. INDENIZAÇÃO PREVISTA NO ARTIGO
477, § 8º, DA CLT. Esta Corte Superior tem se posicionado no sentido de que a
existência de controvérsia quanto à modalidade da rescisão contratual não exi-
me o empregador do pagamento da indenização prevista no artigo 477, § 8º, da
CLT. Precedentes. Recurso de revista conhecido por divergência jurisprudencial e
provido. CONCLUSÃO: Agravo de instrumento conhecido e provido e recurso de
revista parcialmente conhecido e provido” (RR-1450-86.2014.5.09.0009, 3ª Turma,
Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 07/06/2019).
RECURSO DE REVISTA. APELO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. REQUISITOS
DO ARTIGO 896, § 1º-A, DA CLT, ATENDIDOS. MULTAS DOS ARTIGOS 467 E 477, §
8º, DA CLT. RESCISÃO INDIRETA. Indevida a aplicação da multa prevista no artigo
467 da CLT, ante a ausência de verbas resilitórias incontroversas. A multa prevista
no artigo 477, § 8º, da CLT, deve ser concedida, uma vez que a jurisprudência des-
ta Corte sinaliza no sentido de seu cabimento nos casos em que o empregador
deixa de efetuar o correto pagamento das verbas rescisórias ao empregado, ou
seja, no prazo definido pelo § 6º do referido dispositivo, sobretudo se não há a
indicação no acórdão regional, de que o autor teria proposto a ação judicial an-
tes de afastar-se. Com o cancelamento da OJ 351 da SBDI-1 desta Corte, não
mais subsiste o entendimento de que a fundada controvérsia ou dúvida sobre as
obrigações isentaria o empregador do pagamento da multa. Assim, não sendo
corretamente pagas as verbas rescisórias no prazo aludido no art. 477, ainda que
reconhecida a rescisão indireta somente em juízo, tem-se por cabível a sanção.
Precedentes. Recurso de revista conhecido e parcialmente provido. (RR - 10025-
79.2014.5.15.0021 , Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, Data de
Julgamento: 13/09/2017, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/09/2017)
[..] RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. O Tribunal de origem con-
cluiu que ficou demonstrado nos autos o tratamento desrespeitoso recebido pela
Reclamante pelo seu superior hierárquico. Registrou, ainda, que não restou com-
provado o efetivo pagamento dos 13 dias de adiantamento no mês de agosto.
A alteração do julgado exigiria o reexame do conjunto fático-probatório, proce-
dimento vedado pela Súmula nº 126 do TST. Recurso de Revista parcialmente
conhecido e provido.[..] (RR - 11056-10.2015.5.03.0062 , Relatora Ministra: Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 02/08/2017, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 04/08/2017)

9.7. ATRASO NA HOMOLOGAÇÃO - PAGAMENTO NO PRAZO LEGAL


9.7.1. NÃO APLICAÇÃO - CASOS ANTES DA LEI 13.467/2017 – REFOR-
MA TRABALHISTA
O TST vem entendendo de forma majoritária que a multa prevista no artigo 477,
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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§ 8º, da CLT não incide em caso de atraso na homologação da rescisão contratual -


apesar de pressuposto de validade formal do ato -, quando efetuado o pagamento das
verbas rescisórias no prazo legal. E, nessa linha, também não atinge o fornecimento
das guias para liberação do FGTS e do seguro-desemprego, por se tratar de obrigação
de fazer.
5. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. HOMOLOGAÇÃO TARDIA DA RESCISÃO
CONTRATUAL. Conforme inteligência do art. 477 da CLT, o fato gerador da mul-
ta prevista no § 8º está vinculado, exclusivamente, ao descumprimento dos pra-
zos especificados no § 6º do mesmo artigo, e não ao atraso da homologação
da rescisão. Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (ARR nº 126300-
64.2012.5.17.0009, 3ª Turma do TST, Rel. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira.
j. 26.06.2019, Publ. 01.07.2019).
[..] MULTA DO ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. MULTA CONVENCIONAL. PAGAMENTO
OPORTUNO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. HOMOLOGAÇÃO TARDIA. Nos termos da
jurisprudência desta Corte superior, evidenciado o pagamento das verbas rescisó-
rias no prazo do artigo 477, § 6º, da Consolidação das Leis do Trabalho, indevida
é a aplicação da multa do § 8º do mesmo dispositivo, ainda que a homologação
da rescisão tenha ocorrido a destempo. Recurso de Revista conhecido e provido.
(Processo: RR - 123840-44.2007.5.05.0032 Data de Julgamento: 26/04/2017, Re-
lator Desembargador Convocado: Marcelo Lamego Pertence, 1ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 28/04/2017)
RECURSOS DE REVISTA DAS RÉS. ANÁLISE CONJUNTA. MULTA DO ARTIGO 477,
§ 8º, DA CLT. PAGAMENTO TEMPESTIVO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. HOMOLO-
GAÇÃO TARDIA DA RESCISÃO CONTRATUAL. Recursos calçados em violação de
artigo de lei e em divergência jurisprudencial. O descumprimento da obrigação
de entrega do instrumento rescisório, no prazo legal, como determina a lei, por si
só importa a incidência da indenização prevista no art. 477, § 8º, da CLT, por se
tratar de falta de pagamento pelo descumprimento da obrigação de entrega do
instrumento rescisório e de mora para o cumprimento atempado da obrigação
de possibilitar ao trabalhador o recebimento do FGTS com a indenização de 40%.
Todavia, por disciplina judiciária, impõe-se acompanhar com ressalva a jurispru-
dência dominante desta Corte, segundo a qual a multa estipulada no artigo 477, §
8º, da CLT não incide em caso de atraso na homologação da rescisão contratual -
apesar de pressuposto de validade formal do ato -, quando efetuado o pagamento
das verbas rescisórias no prazo legal. Precedentes da SBDI-1. Recurso de revista
conhecido por divergência jurisprudencial e provido para excluir da condenação o
pagamento da multa do art. 477, § 8º, da CLT. [..] CONCLUSÃO: Recursos de revis-
ta parcialmente conhecidos e providos para excluir da condenação o pagamento
da multa do art. 477, § 8º, da CLT. (RR nº 1438-87.2013.5.03.0037, 3ª Turma do
TST, Rel. Alexandre de Souza Agra Belmonte. j. 28.09.2016, Publ. 30.09.2016).
Nesse sentido, os seguintes precedentes da egrégia SBDI-1:
RECURSO DE EMBARGOS. DECISÃO EMBARGADA PUBLICADA ANTERIORMEN-
TE À VIGÊNCIA DA LEI 13015/2014. MULTA DO ART. 477, §8º DA CLT. HOMO-
LOGAÇÃO TARDIA. RECURSO DE REVISTA NÃO CONHECIDO. O artigo 477, § 6º,
da CLT trata apenas dos prazos para o pagamento das verbas da rescisão do
contrato de trabalho. Tem-se que o fato gerador da multa de que trata o § 8º do
artigo 477 da CLT é o retardamento na quitação das verbas rescisórias, e não a
homologação da rescisão. Se a reclamada, ao efetuar o pagamento da rescisão,
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observou os prazos previstos na lei, não incide a penalidade prevista no art. 477,
§ 8º, da CLT. Precedentes da c. SDI. Embargos conhecidos e desprovidos. (TST-E-
-RR-73300-25.2009.5.01.0002, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Subse-
ção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 24/4/2015)
EMBARGOS REGIDOS PELA LEI N° 11.496/2007. MULTA DO ARTIGO 477, § 8o, DA
CLT. PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS EFETUADO NO PRAZO LEGAL. HO-
MOLOGAÇÃO TARDIA. MULTA INDEVIDA. Segundo a jurisprudência prevalecente
no Tribunal Superior do Trabalho, ao interpretar o artigo 477 da CLT, o fato gerador
da multa prevista no § 8 está vinculado, exclusivamente, ao descumprimento dos
prazos estipulados no § 6o do mesmo artigo, e não ao atraso da homologação da
rescisão contratual. Assim, tendo havido o pagamento das verbas rescisórias no
prazo a que alude o artigo 477, § 6o, da CLT, foi cumprida a obrigação legal por par-
te do empregador, sendo indevida a aplicação da multa prevista no § 8o do mes-
mo preceito, ao fundamento de que a homologação da rescisão contratual pelo
sindicato ocorreu fora daquele prazo. Embargos conhecidos e desprovidos. (TS-
T-E-ED-RR-392-67.2011.5.01.0044, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 19/12/2014)

9.7.2. APLICAÇÃO - CASOS APÓS A VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017 –


REFORMA TRABALHISTA
Com a reforma trabalhista do ano de 2017 (Lei 13.467/2017) o §6º do art. 477
da CLT foi modificado, passando a estabelecer também o pagamento da multa previs-
ta no §8º do referido dispositivo legal, nos casos de mora na entrega ao trabalhador
dos documentos relativos à rescisão contratual. Vejamos:
CLT, Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder
à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa
aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo
e na forma estabelecidos neste artigo.
(...)
§ 6° A entrega ao empregado de documentos que comprovem a comunicação
da extinção contratual aos órgãos competentes bem como o pagamento dos va-
lores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de quitação deverão ser
efetuados até dez dias contados a partir do término do contrato. “
Assim, com a nova redação do § 6º do art. 477 da CLT, é clara ao dispor que
o respeito ao prazo de 10 dias, contados a partir do término do contrato de trabalho,
abrange não só o pagamento dos valores constantes no TRCT, como era antes da Re-
forma Trabalhista, mas também os documentos relacionados à rescisão contratual,
sob pena de pagamento da multa prevista no §8º da mesma norma.
Nesse sentido:
MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. O art. 477 da CLT, em seu § 6º, com a re-
dação dada pela Lei nº 13.467/17, a qual se aplica ao caso em virtude da data
da extinção contratual, dispõe que a entrega ao empregado de documentos que
comprovem a comunicação da extinção contratual aos órgãos competentes bem
como o pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo
de quitação deverão ser efetuados até dez dias contados a partir do término do
contrato. Essa nova redação, para além da ausência de quitação das verbas resci-
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sórias no prazo indicado, atribuiu ao empregador obrigações de fazer (comunicar


a dispensa aos órgãos competentes e entregar ao trabalhador a comprovação a
tal título), de modo que o atraso na entrega dos documentos também passou a
acarretar a incidência da penalidade prevista no §8º do art. 477 da CLT. Assim,
considerando o documento que comprova a extinção do contrato de trabalho foi
entregue à obreira após o prazo legal, ainda que o pagamento das verbas resci-
sórias tenha se dado tempestivamente, revela-se devida da multa do art. 477, §8º
da CLT. Apelo da reclamada ao qual se nega provimento, no particular. (TRT 23ª
R.; ROT 0000947-08.2019.5.23.0007; Tribunal Pleno; Relª Desª Beatriz Theodoro;
DEJTMT 16/06/2021; Pág. 642)
MULTA DO ART. 477, DA CLT. ATRASO NA ENTREGA DOS DOCUMENTOS PARA
O SAQUE DO FGTS E DAS GUIAS DE SEGURO-DESEMPREGO. RESCISÃO CON-
TRATUAL OCORRIDA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. O § 6º do art.
477 da CLT, alterado pela Lei nº 13.467/2017, é claro ao dispor que o respeito ao
prazo de 10 dias, contados a partir do término do contrato de trabalho, abrange
não só o pagamento dos valores constantes no TRCT, mas também sob pena de
pagamento da multa prevista no § 8º da mesma norma. Incontroverso nos autos
o atraso na entrega dos referidos documentos, devido o pagamento da multa. (RO
nº 0000680-44.2018.5.17.0005, 2ª Turma do TRT da 17ª Região/ES, Rel. Wanda
Lúcia Costa Leite Franca Decuzzi. DEJT 15.04.2019).
MULTA DO ART. 477 DA CLT. REDAÇÃO DADA PELA LEI 13.467/2017. ATRASO NA
ENTREGA DA DOCUMENTAÇÃO REFERENTE À RESCISÃO CONTRATUAL. DEVI-
DA. A Lei 13.467/2017 alterou a redação do § 6º do art. 477 da CLT, passando a
estabelecer o pagamento da multa prevista no § 8º do referido dispositivo legal
nos casos de mora na entrega dos documentos relativos à rescisão contratual ao
trabalhador. (RO nº 0011471-39.2018.5.18.0201, 1ª Turma do TRT da 18ª Região/
GO, Rel. Israel Brasil Adourian. DEJT 13.05.2019).

9.8. NÃO APLICAÇÃO - DIFERENÇAS RESCISÓRIAS


O §8º do art. 477 da CLT por ser norma punitiva, deve essa ser interpretada
restritivamente, ou seja, dentro dos estritos termos da lei. Assim, a hipótese da multa
do art. 477, §8º da CLT é pelo atraso do pagamento das verbas constantes do termo
de rescisão contratual, não abrangendo a hipótese de existência de diferenças de par-
celas rescisórias.
Nesse sentido, os seguintes julgados:
VERBAS RESCISÓRIAS RECONHECIDAS EM JUÍZO. IMPOSSIBILIDADE. Ante a
possível violação ao art. 477, §8º, da CLT, deve ser provido o agravo de instru-
mento. Agravo de instrumento conhecido e provido. II - RECURSO DE REVISTA.
LEI Nº 13.015/2014. MULTA DO ARTIGO 477, §8º, DA CLT. VERBAS RESCISÓRIAS
RECONHECIDAS EM JUÍZO. IMPOSSIBILIDADE. O entendimento desta Corte é no
sentido de que a multa do artigo 477, § 8º, da CLT é sanção imposta ao emprega-
dor que não paga as parcelas rescisórias constantes do instrumento de rescisão
no prazo a que alude o § 6º do mesmo dispositivo legal. Assim, o reconhecimento
em juízo das diferenças de verbas rescisórias não enseja o pagamento da mul-
ta do art. 477, § 8º, da CLT. Recurso de revista conhecido e provido” (RR-17448-
85.2017.5.16.0012, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT
18/02/2022).
5. MULTA PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. I. A jurisprudência desta Corte
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Superior considera que a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT deve ser imposta
ao empregador quando as parcelas constantes do instrumento de rescisão não
forem adimplidas no prazo a que alude o § 6º do mesmo dispositivo legal. En-
tende-se, pois, que inexiste previsão de sua incidência em decorrência de paga-
mento a menor, em que não se computaram os valores reconhecidos em juízo.
II. No caso concreto, uma vez que as verbas rescisórias foram pagas dentro do
prazo legal e existindo diferenças de verbas rescisórias reconhecidas em juízo ,
mostra-se indevida a condenação da reclamada ao pagamento da multa do art.
477 da CLT. III. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento”
(RR-941-22.2012.5.06.0006, 7ª Turma, Relator Ministro Evandro Pereira Valadao
Lopes, DEJT 11/02/2022).
II - AGRAVO DE INSTRUMENTO DO SINDICATO AUTOR EM RECURSO DE REVIS-
TA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.467/2017 - MULTA DO ART. 477, §
8º, DA CLT - DIFERENÇAS DE VERBAS RESCISÓRIAS RECONHECIDAS EM JUÍZO.
O reconhecimento, em juízo, de diferenças de verbas rescisórias faz com que a
controvérsia em torno do montante global do que deveria ser pago por ocasião da
dispensa tenha surgido em juízo, o que afasta a aplicação da multa prevista no art.
477, § 8º, da CLT. Julgados. (ARR nº 353-35.2017.5.13.0009, 8ª Turma do TST, Rel.
Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. j. 26.06.2019, Publ. 28.06.2019).
I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE
DAS LEIS NºS 13.015/2014, 13.105/2015 E 13.467/2017 - PROVIMENTO. MULTA
DO ART. 477, § 8º, DA CLT. DIFERENÇAS DE VERBAS RESCISÓRIAS. Demonstrada
divergência jurisprudencial, merece processamento o recurso de revista. Agravo
de instrumento conhecido e provido. II - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB
A ÉGIDE DAS LEIS NºS 13.015/2014, 13.105/2015 E 13.467/2017. MULTA DO ART.
477, § 8º, DA CLT. DIFERENÇAS DE VERBAS RESCISÓRIAS. O art. 477, § 6º, da CLT
estabelece prazos para pagamento das “parcelas constantes do instrumento de
rescisão ou recibo de quitação”. Não se pode restabelecer a mora do empregador
que, quitando, tempestivamente, as parcelas decorrentes da dissolução contra-
tual, é, posteriormente, condenado, em razão de processo judicial, ao adimplemen-
to de outros títulos. A obrigação de pagar as parcelas tipicamente decorrentes do
desfazimento do contrato individual de trabalho deve atender aos prazos de Lei.
O adimplemento de condenação judicial está vinculado a incidências e condições
diversas. Neste último caso, não se tem como adequar a pretensão às normas
inscritas no art. 477, §§ 6º e 8º, da CLT. Indevida a multa. Precedentes. Recurso
de revista conhecido e provido. (ARR nº 887-56.2017.5.10.0851, 3ª Turma do TST,
Rel. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. j. 19.06.2019, Publ. 21.06.2019).
MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT. VERBAS RESCISÓRIAS PAGAS NO PRAZO LEGAL.
Prevê o artigo 477 da CLT que o não pagamento das verbas constantes do termo
de rescisão contratual no prazo de dez dias, previsto no § 6º, enseja o pagamento
da multa, consoante o disposto no § 8º. Não há previsão legal para a incidência
da multa em questão, na hipótese de existência de diferenças sobre as parcelas
rescisórias, a não ser se evidenciado abuso por parte do empregador. Assim, a
reclamada, se efetuou o pagamento das parcelas rescisórias que razoavelmente
entendia devidas ao reclamante dentro do prazo legal, não pode ser condenada ao
pagamento da multa. Em se tratando de norma punitiva, como é o caso da multa
pelo atraso do pagamento das verbas constantes do termo de rescisão contratual,
deve essa ser interpretada restritivamente, ou seja, dentro dos estritos termos da
lei, que não abrange a hipótese da simples existência de diferenças de parcelas
rescisórias pagas dentro do prazo. Recurso de revista não conhecido. (RR - 1447-
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31.2010.5.05.0641, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julga-


mento: 05/10/2016, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/10/2016)
RECURSO DE EMBARGOS. MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT - DIFERENÇAS DE
VERBAS RESCISÓRIAS. A mera consideração sobre a existência de diferenças
de verbas rescisórias reconhecidas em juízo não se consubstancia em motivo
determinante da cominação do artigo 477, parágrafo 8º, da Consolidação das
Leis do Trabalho. Recurso de embargos conhecido e provido” (E-RR - 193700-
42.2005.5.17.0009, data de julgamento: 21/11/2013, Relator Ministro: Renato de
Lacerda Paiva, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, data de publica-
ção: DEJT 29/11/2013)
MULTA DO ART. 477, §8º, DA CLT. PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS PA-
GAS NO PRAZO LEGAL. COMPLEMENTO POSTERIOR. INDEVIDA A MULTA. Con-
forme determina o § 8º do artigo 477da CLT, o que enseja a condenação da multa
ao empregador é o atraso no pagamento das verbas rescisórias, não o fato de
este mesmo pagamento ser complementado por diferenças verificadas a poste-
riori, de modo que não se percebe qualquer afronta ao § 6º do artigo 477 da CLT,
cuja literalidade se manteve intacta. Apenas e tão-somente haverá se falar na con-
denação da multa do art. 477, §8º, da CLT, diante da literalidade da norma legal,
quando se tratar de pagamento das verbas rescisórias em atraso, incumbindo
verificar, em cada caso concreto, se a conduta da reclamada decorre de má-fé, e
quando há tese na decisão de que o valor do complemento evidencia fraude à re-
lação de trabalho, o que não se verifica no caso em exame. Embargos conhecidos
e providos” (E-RR-7290800-06.2003.5.02.0900, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da
Veiga, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 5/2/2010)
Entretanto, caso seja evidenciado abuso por parte do empregador, a multa do
art. 477, §8º da CLT, será devida ao empregado.
9.9. NÃO APLICAÇÃO – MORTE DO EMPREGADO
O TST entende que o artigo 477, § 6º, da CLT não fixa prazo para o pagamento
das verbas rescisórias no caso de falecimento do empregado, não autorizando uma
interpretação ampliativa em face do silêncio do legislador ordinário, sendo assim, a
multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT não se aplica aos casos de extinção do contrato
de trabalho decorrente de falecimento do empregado, sendo impróprio exigir do em-
pregador o ajuizamento de ação de consignação para o fim de evitar a multa.
Como se tratar de penalidade imposta ao empregador, no silêncio da Lei, não
cabe ao intérprete estender o alcance da norma do artigo 477, §§ 6º e 8º, da CLT, sob
pena de usurpação de competência do Poder Legislativo. Norma que contempla san-
ção, interpreta-se restritivamente.
Nesse sentido, o informativo 116 do TST:
Informativo nº 116 - Multa do § 8º do art. 477 da CLT. Atraso no pagamento das
verbas rescisórias. Falecimento do Empregado. Não aplicação. A norma do artigo
477, § 6º, da CLT não fixa prazo para o pagamento das verbas rescisórias no caso
de falecimento do empregado. Trata-se de um “silêncio eloquente” do legislador
ordinário. Dispositivo legal que, ao fixar prazos e circunstâncias específicas para
o cumprimento da obrigação, não autoriza interpretação ampliativa. A ruptura
do vínculo empregatício em virtude de óbito do empregado, por constituir forma
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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abrupta e imprevisível de dissolução do contrato de trabalho, envolve peculiarida-


des que tornam incompatível a aplicação da multa prevista no § 8º do artigo 477
da CLT, tais como a necessidade de transferência da titularidade do crédito traba-
lhista para os dependentes/sucessores legais, a qual não se opera instantanea-
mente, mas mediante procedimento próprio previsto na Lei nº 6.858/80. Qualquer
tentativa de fixar-se, em juízo, “prazo razoável” para o adimplemento das verbas
rescisórias, em semelhante circunstância, refugiria às hipóteses elencadas no §
6º do artigo 477 da CLT e acarretaria imprópria incursão em atividade legiferante,
vedada ao Poder Judiciário em face do princípio constitucional da Separação dos
Poderes. De outro lado, afigura-se impróprio e de rigor insustentável afirmar-se, no
caso, a subsistência do prazo para quitação das verbas rescisórias, sob pena de
multa. Impraticável a observância de tal prazo, na medida em que se desconhece
o(s) novo(s) titulares(s) do crédito, na forma da Lei, o que pode depender, inclusive,
da morosa abertura de inventário e de nomeação do respectivo inventariante. A
adoção de interpretação restritiva à literalidade do artigo 477, §§ 6º e 8º, da CLT
não implica negar ou desestimular eventual ajuizamento de ação de consignação
em pagamento pelo empregador, com vistas a desobrigá-lo da quitação das ver-
bas rescisórias referentes ao contrato de trabalho de empregado falecido, mesmo
antes de definida a nova titularidade do crédito trabalhista. Sob esses fundamen-
tos, a SBDI-1, por unanimidade, conheceu dos embargos apenas quanto ao tema
“multa - artigo 477, § 8º, da CLT - atraso no pagamento das verbas rescisórias
- óbito do empregado”, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria,
dar-lhes provimento para excluir da condenação o pagamento da multa prevista
no artigo 477, § 8º, da CLT. Vencidos os Ministros José Roberto Freire Pimenta e
Alexandre de Souza Agra Belmonte. TST-E-RR-152000-72.2005.5.01.0481, SBDI-I,
rel. João Oreste Dalazen, 3.9.2015
Outras decisões do TST sobre o tema:
(...) RECURSO DE REVISTA DOS RECLAMADOS. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT.
FALECIMENTO DO EMPREGADO. INDEVIDA. é entendimento desta Corte Superior
que, nos casos de extinção do contrato de trabalho em decorrência da morte do
empregado, é inaplicável a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, sendo desne-
cessário o ajuizamento de ação de consignação de pagamento, com a finalidade
de evitar a condenação ao pagamento da referida multa. Recurso de revista de que
se conhece e a que se dá provimento. (ARR - 11253-37.2016.5.03.0059 , Relatora
Desembargadora Convocada: Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento:
07/02/2018, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 09/02/2018)
(...). B) RECURSO DE REVISTA. 1. ARTIGO 477, § 8º, DA CLT. MULTA. MORTE DO
EMPREGADO. Conforme se extrai do § 6º do artigo 477 da CLT, não há previsão
para pagamento da multa prevista no § 8º do mesmo artigo nos casos em que
ocorre a extinção do contrato de trabalho pelo falecimento do empregado. Recur-
so de revista conhecido e provido. 2. (...) ( ARR - 438-48.2014.5.12.0043, Relatora
Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 22/11/2017, 8ª Turma, Data
de Publicação: DEJT 24/11/2017)
RECURSO DE REVISTA 1 - MULTA DO ART. 477 DA CLT. FALECIMENTO DO EM-
PREGADO. INDEVIDA. De acordo com a jurisprudência desta Corte, na hipótese de
extinção do contrato de trabalho pelo falecimento do empregado, é inaplicável a
multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT. Recurso de revista conhecido e provido(...)
( RR - 430-85.2011.5.05.0006 , Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, Data de
Julgamento: 30/08/2017, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 08/09/2017)
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AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA


LEI 13.015/2014. 1. EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. FALECIMENTO DO
TRABALHADOR. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. 2. ABONO. MATÉRIA FÁTICA.
SÚMULA 126/TST. A SDI-1 do TST pacificou o entendimento no sentido de que,
em situação de falecimento do empregado, não se aplica a multa prevista no art.
477, § 8º, da CLT, caso desrespeitado o prazo de 10 dias fixado no § 6º do referido
dispositivo, ainda que o empregador não tenha ajuizado a ação consignatória. Re-
gistre-se que a 3ª Turma adotava o entendimento de que, para se eximir da aplica-
ção da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, a empresa deveria protocolar ação
consignatória em prazo razoável, além de depositar em Juízo o valor que entendia
devido. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR - 10471-96.2015.5.03.0016, Re-
lator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 16/08/2017, 3ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 18/08/2017)
(...) 2. FALECIMENTO DO EMPREGADO. VERBAS RESCISÓRIAS. MULTA DO ARTI-
GO 477, § 8º, DA CLT. INDEVIDA. A jurisprudência desta Corte orienta-se no sen-
tido de considerar indevida a multa prevista nos artigo 477, § 8º, da CLT, quando
a resilição do contrato de trabalho se dá em razão do falecimento do emprega-
do. Precedentes. Nesse contexto, a condenação da Reclamada no pagamento da
multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT, por não ter sido ajuizada ação de con-
signação em pagamento no prazo de 10 dias após o falecimento da empregada,
viola o artigo 477, § 6º, da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. (RR - 919-
29.2015.5.06.0015, Relator Ministro: Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julga-
mento: 09/08/2017, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/08/2017)
(...) MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT. FALECIMENTO DO EMPREGADO. A SBDI-1
do TST firmou entendimento no sentido de que não incide a multa prevista no arti-
go 477 da CLT quando a dissolução do vínculo empregatício ocorrer em virtude de
falecimento do empregado, bem como que o empregador não estaria obrigado a
ajuizar ação de consignação em pagamento para se eximir da referida penalidade.
Óbice do artigo 896, § 7º, da CLT e da Súmula 333 do TST. Agravo de instrumento
a que se nega provimento. (...) (AIRR - 1190-44.2010.5.02.0041, Relatora Ministra:
Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 17/05/2017, 2ª Turma, Data de Pu-
blicação: DEJT 26/05/2017)
(...). RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ART. 477 DA CLT. ATRASO NA QUITAÇÃO
DAS VERBAS RESCISÓRIAS. FALECIMENTO DO EMPREGADO. A jurisprudência
desta Corte se posiciona, em sua maioria, no sentido de que, na hipótese de extin-
ção do contrato de trabalho, em razão de falecimento do empregado, não se aplica
a multa do art. 477, § 8.º, da CLT, tampouco se exige do empregador o ajuizamento
de ação de consignação e pagamento para elidir a aplicação referida multa. Pre-
cedentes. Recurso de Revista conhecido e provido. (RR - 333-41.2014.5.15.0026,
Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, Data de Julgamento: 31/08/2016, 4ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 02/09/2016)
Contudo, o TST entende que no caso de morte do empregador, será devida a
multa do art. 477, se as verbas rescisórias não forem pagas no prazo legal de 10 dias.
Vejamos:
III - RECURSO DE REVISTA. 1. MULTA DO ART. 477, §8º, DA CLT. FALECIMENTO DO
EMPREGADOR. ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. AUSÊN-
CIA DE CULPA DO EMPREGADO. CABIMENTO DA PENALIDADE . A jurisprudência
desta Corte está firmada no sentido de que a multa prevista no § 8º do art. 477
da CLT apenas é indevida quando o trabalhador der causa à mora. Nesse contex-
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to, a rescisão do contrato de trabalho decorrente do falecimento do empregador


não afasta a incidência da penalidade, nos termos da Súmula 462/TST. Recurso
de revista conhecido e provido” (RRAg-239-09.2019.5.10.0010, 3ª Turma, Relator
Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, DEJT 03/12/2021).

9.10. NÃO APLICAÇÃO – FALÊNCIA DA EMPRESA


A jurisprudência do TST, entende que a massa falida não se sujeita à multa do
§8º do art. 477 da CLT, conforme súmula 388:
TST, SUM 388. MASSA FALIDA. ARTS. 467 E 477 DA CLT. INAPLICABILIDADE. - A
massa falida não se sujeita à penalidade do art. 467 e nem à multa do § 8° do art.
477, ambos da CLT.
O mesmo não acontece com a empresa em recuperação judicial. Nesse sentido:
JUDICIAL. MULTA DO ART. 467 DA CLT. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 388/TST
. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que apenas a massa falida
não se sujeita ao pagamento das multas dos arts. 467 e 477 da CLT, à luz da
Súmula 388 da CLT, inaplicável, por analogia, às empresas que se encontrem
em recuperação judicial, caso dos autos. Recurso de revista não conhecido no
aspecto” (RRAg-100436-63.2019.5.01.0481, 3ª Turma, Relator Ministro Mauricio
Godinho Delgado, DEJT 05/11/2021).
“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTER-
POSTO NA VIGENCIA DA LEI 13.467/2017. 1. MULTAS DOS ARTS. 477, § 8.º E 467
DA CLT. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APLICABILIDADE. Com relação
à multa do art. 467, da CLT, conta da decisão regional que “restou incontroversa a
inadimplência quanto às verbas rescisórias, o que foi admitido pela demandada
na sua defesa, como acima destacado”. Quanto à multa do art. 477. § 8º, o acór-
dão regional considerou que “o deferimento da recuperação judicial não exime a
empresa de pagar as verbas rescisórias devidas aos seus empregados dispen-
sados, sendo devidas as verbas rescisórias não pagas, incontroversamente, nos
moldes da decisão hostilizada”. O entendimento pacífico desta Corte é de que o
descumprimento das obrigações da empresa quanto ao não pagamento das ver-
bas incontroversas na data do seu comparecimento à Justiça do Trabalho ou o
atraso na quitação das verbas rescisórias enseja a incidência das multas previstas
nos arts. 467e477, § 8º, da CLT, respectivamente, não se aplicando a Súmula 388
do TST às empresas emrecuperação judicial, mas tão somente à massa falida.
(AIRR-476-19.2020.5.06.0172, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide Alves Miranda
Arantes, DEJT 03/11/2021).

9.11. DANO MORAL PELO ATRASO OU AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DA


RESCISÃO CONTRATUAL
O TST firmou entendimento de que, em regra, não cabe indenização por danos
morais no caso de ausência ou atraso na quitação das verbas rescisórias, pois o des-
cumprimento das obrigações rescisórias acarreta consequências próprias, previstas
no § 8º do art. 477 da CLT, pois o simples atraso ou inadimplemento das verbas resci-
sórias não é suficiente para gerar um desconforto tamanho ao homem médio, capaz
de fazer presumir a ocorrência de lesão à sua honra e reputar caracterizado o dano
moral.
O dano moral fica caracterizado apenas quando evidenciada a violação dos di-
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reitos da personalidade do reclamante, mediante a demonstração de consequências


concretas, danosas à imagem e à honra do empregado, decorrentes do atraso.
Nesse sentido:
Informativo TST n° 130 - DANOS MORAIS. AUSÊNCIA OU ATRASO NA QUITAÇÃO
DAS VERBAS RESCISÓRIAS. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. A ausência ou o atraso no
pagamento das verbas rescisórias não é suficiente para caracterizar a ocorrência
de danos morais. No caso, embora reconhecido o atraso, pelo empregador, no
adimplemento da obrigação de quitar as verbas rescisórias, não houve registro
de qualquer consequência concreta (impossibilidade de saldar compromissos,
constituição em mora, perda de crédito, etc) que pudesse comprometer a honra e
a imagem do empregado. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, co-
nheceu dos embargos interpostos pelo reclamante, por divergência jurispruden-
cial, e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. Vencido o Ministro Alexan-
dre de Souza Agra Belmonte. TST-E-RR-571-13.2012.5.01.0061, SBDI-I, rei. Min.
Lelio Bentes Corrêa, 17.3.2016.
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI
13.467/2017 E DA IN 40 DO TST. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NÃO PA-
GAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. REQUISITOS DO ART. 896, § 1º-A, DA CLT
ATENDIDOS. A jurisprudência desta Corte distingue os atrasos salariais e a au-
sência de pagamento das verbas rescisórias, considerando cabível o pagamento
de indenização por dano moral no primeiro caso, mas não no segundo, de modo
que o atraso ou o não pagamento das verbas rescisórias, por si só, não configura
ofensa ao patrimônio moral do trabalhador, devendo ser comprovados, por meio
de elementos objetivos, os constrangimentos alegados ou a ofensa aos direitos
da personalidade, o que não ficou demonstrado no caso dos autos. No caso, o Tri-
bunal Regional manteve a condenação ao pagamento de indenização por danos
morais em virtude, exclusivamente, do não adimplemento, por parte da emprega-
dora, das verbas rescisórias. Assim, na linha dos precedentes desta Corte, e nos
termos dos arts. 186 e 927 do Código Civil, observa-se que não ficou caracteriza-
da conduta ilícita da primeira ré. Recurso de revista conhecido e provido. (RR-225-
33.2017.5.17.0161, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho,
DEJT 11/03/2022).
DANO MORAL. ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. INDENI-
ZAÇÃO INDEVIDA. Ante a possível violação do art. 5º, X, da CF, deve ser provido
o agravo de instrumento. Agravo de instrumento conhecido e provido. II - RECUR-
SO DE REVISTA. LEI Nº 13.015/2014. DANO MORAL. ATRASO NO PAGAMENTO
DAS VERBAS RESCISÓRIAS. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. O atraso no pagamento
das verbas rescisórias é duplamente apenado no Direito do Trabalho, consoante
arts. 467 e 477, § 8°, da Consolidação das Leis do Trabalho. Assim, tendo em
vista que existe tutela específica para os casos de atraso na quitação das verbas
rescisórias, não é devida a condenação ao pagamento de danos morais, exceto
nas hipóteses em que exista circunstância objetiva que comprove agressão direta
aos direitos de personalidade do empregado . Precedentes. Recurso de revista co-
nhecido e provido” (RR-380-58.2020.5.17.0152, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria
Helena Mallmann, DEJT 18/02/2022).
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. 1. DANOS MORAIS. ATRA-
SO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. Consoante o entendimento des-
ta Corte Superior, o simples atraso ou inadimplemento das verbas rescisórias não
é suficiente para gerar um desconforto tamanho ao homem médio, capaz de fazer
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presumir a ocorrência de lesão à sua honra e reputar caracterizado o dano moral.


In casu, o Regional consigna que não restou comprovada a repercussão do fato
- ausência de quitação das verbas rescisórias - na imagem ou na reputação do
reclamante ante a sociedade, de modo a justificar a indenização pretendida. Nes-
se contexto, a ausência de regular quitação das verbas rescisórias, por si só, não
enseja a indenização por dano moral quando não demonstrada a efetiva repercus-
são na esfera íntima do empregado, hipótese dos autos. Incidência do art. 896, §
7º, da CLT e da Súmula nº 333 do TST. 2. HORAS EXTRAS. O Regional não se ma-
nifestou acerca da aplicabilidade das Súmulas nºs 85, IV, e 338, I, do TST ao caso,
limitando a consignar que o conjunto fático-probatório produzido atestou que as
horas extras prestadas foram quitadas. Incidência da Súmula nº 297 do TST. Agra-
vo de instrumento conhecido e não provido. (AIRR nº 101647-02.2016.5.01.0462,
8ª Turma do TST, Rel. Dora Maria da Costa. j. 15.05.2019, Publ. 17.05.2019).
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº
13.467/2017 - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ATRASO NO PAGAMENTO
DE VERBAS RESCISÓRIAS. O atraso ou inadimplemento do pagamento de verbas
rescisórias não gera direito ao pagamento de indenização por danos morais, na
hipótese de não resultar comprovado prejuízo concreto. Julgados. Recurso de Re-
vista conhecido e provido. (RR nº 11424-55.2016.5.15.0060, 8ª Turma do TST, Rel.
Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. j. 15.05.2019, Publ. 17.05.2019).
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 E RE-
GIDO PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 39/2016. DANO MORAL. AUSÊNCIA DE
PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. NÃO CONFIGURAÇÃO. A jurisprudência
desta Corte firmou-se no sentido de que o atraso, ou a não, na quitação das verbas
rescisórias, por si só, sem a prova de outros prejuízos sofridos pelo empregado, de
forma concreta e efetiva, não enseja a condenação ao pagamento da indenização
por danos morais, pois há previsão de penalidade específica para essa conduta
ilícita do empregador no ordenamento jurídico, qual seja, a multa prevista no § 8º
do artigo 477 da CLT. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (RR nº
11354-25.2014.5.01.0019, 2ª Turma do TST, Rel. José Roberto Freire Pimenta. j.
08.05.2019, Publ. 17.05.2019).
DANOS MORAIS. ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. A juris-
prudência desta Corte consolidou o entendimento de que o atraso no pagamento
das verbas rescisórias, por si só, não enseja indenização por danos morais, na me-
dida em que a configuração do dano exige a efetiva lesão à esfera moral do empre-
gado, com demonstração efetiva dos prejuízos causados à imagem e à honra do
trabalhador, o que não restou comprovado nos autos. Precedentes. Óbice da Sú-
mula 333/TST. Recurso de revista não conhecido. (RR nº 1254-51.2015.5.17.0012,
2ª Turma do TST, Rel. Maria Helena Mallmann. j. 15.05.2019, Publ. 17.05.2019).
Assim, a ausência ou atraso no pagamento das verbas rescisórias, por si só,
sem a prova de outros prejuízos sofridos pelo empregado, de forma concreta e efetiva,
não enseja a condenação ao pagamento da indenização por danos morais, pois já há
punição para essa conduta ilícita do empregador, qual seja, a multa prevista no § 8º do
artigo 477 da CLT.
10. MULTA DO ART. 467 DA CLT
10.1. INTRODUÇÃO
Diz o art. 467 da CLT:
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CLT, Art. 467 - Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia


sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao tra-
balhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa
dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinquenta por cento.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica à União, aos Estados, ao Distri-
to Federal, aos Municípios e as suas autarquias e fundações públicas. 
Ocorrendo rescisão do contrato de trabalho, as parcelas incontroversas devem
ser pagas aquando do comparecimento à Justiça do Trabalho, pena de acréscimo de
50%. A simples leitura do dispositivo legal, visualizamos os pressupostos para sua
aplicação:
(1) Rescisão contratual;
(2) Não pagamento das verbas rescisórias; e
(3) Ausência de controvérsia (verbas incontroversas).
Lembro que verbas incontroversas são aquelas verbas que não cabem discus-
são, ou seja, o empregador não tem defesa. Nesse sentido, a jurisprudência:
MULTA PREVISTA NO ART. 467, DA CLT. APLICABILIDADE. Para a aplicação da
penalidade estabelecida no art. 467, da CLT, não basta que haja atraso no paga-
mento das parcelas rescisórias devidas ao empregado, sendo imprescindível que
tais verbas rescisórias devidas e não pagas sejam também incontroversas. (RO
nº 0010788-80.2016.5.03.0171, 4ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Paula Oli-
veira Cantelli. j. 01.12.2017).
MULTA PREVISTA NO ARTIGO 467 DA CLT. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. A multa
prevista no art. 467 da CLT tem como fato gerador o não pagamento das verbas
rescisórias incontroversas na data do comparecimento à Justiça do Trabalho. In-
controverso, por definição, é o fato afirmado por uma parte e confessado ou não
contestado pela outra. Inexistindo na hipótese verbas rescisórias incontroversas,
não quitadas pela reclamada, improcede a pretensão autoral. (RO nº 0010059-
26.2017.5.03.0169, 9ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. João Bosco Pinto
Lara. j. 13.10.2017).
MULTA DE QUE TRATA O ART. 467 DA CLT - Descabe o pedido de pagamento da
multa de que trata o art. 467 da CLT quando a parte reclamada apresenta, quando
da contestação, controvérsia razoável sobre a matéria. (Processo nº 0000406-
91.2016.5.05.0132, 5ª Turma do TRT da 5ª Região/BA, Rel. Luiz Tadeu Leite Vieira.
DJ 28.11.2017).
MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. CONTROVÉRSIA INSTAURADA. INAPLICABILIDA-
DE. O fato gerador da multa prevista no art. 467 da CLT é meramente processual e
depende da existência de verbas rescisórias incontroversas não pagas na ocasião
do comparecimento das partes à Justiça do Trabalho. Portanto, se o emprega-
dor oferece resistência à pretensão relacionada ao acerto trabalhista, negando a
prestação de serviços da reclamante em data diversa da documentada nos autos,
inclusive gerando necessidade de instrução processual para produção de prova
contrária pela reclamante, independentemente de tal controvérsia ter sido dirimi-
da em Juízo, o pressuposto necessário para a condenação resta elidido, valendo a
máxima de que as regras de cunho sancionatório devem ser interpretadas restriti-
vamente. (RO nº 0011877-77.2015.5.03.0041, 3ª Turma do TRT da 3ª Região/MG,
Rel. Milton V. Thibau de Almeida. j. 30.11.2017).
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Desta forma, a multa deve incidir sobre as verbas que decorrem da extinção do
contrato de trabalho, quais sejam:
(1) Salários vencidos;
(2) Saldo de salários;
(3) Aviso-prévio;
(4) Férias vencidas e proporcionais;
(5) 13º salário;
(6) Multa de 40% do FGTS. Sobre a incidência da multa do art. 467 da CLT na
multa de 40% do FGTS, cito os seguintes julgados do TST:
I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/2014. MULTA
DO ARTIGO 467 DA CLT. INCIDÊNCIA SOBRE A MULTA FUNDIÁRIA. Ante a possível
violação ao artigo 467 da CLT, deve ser provido o agravo de instrumento. Agravo
de instrumento conhecido e provido. II - RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/2014.
MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. INCIDÊNCIA SOBRE A MULTA FUNDIÁRIA. O Re-
gional consignou não se aplicar a multa prevista no artigo 467 da CLT sobre a
multa de 40% do FGTS por entender ser cabível a multa do art. 467 da CLT “apenas
em relação às parcelas incontroversas de natureza rescisória, stricto sensu, não
sendo o caso, portanto, do acréscimo de 40% sobre os depósitos do FGTS”. Essa
Corte Superior considera a referida parcela como verdadeira verba rescisória, de-
vendo sobre ela incidir a penalidade prevista no artigo 467 da CLT. Precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido. (RR - 916-16.2015.5.06.0002, Relatora Mi-
nistra: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 18/04/2018, 2ª Turma, Data
de Publicação: DEJT 27/04/2018)
“(-) 2. MULTA DE 40% SOBRE O FGTS. VERBA RESCISÓRIA. APLICABILIDADE DA
MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. A multa de 40% do FGTS é parcela de
cunho rescisório, que tem por escopo indenizar o trabalhador contra a dispensa
arbitrária ou sem justa causa (art. 7º, I, da CF). Portanto, sendo verba rescisória
incontroversa sobre ela incide a multa do art. 467 da CLT. Recurso de revista não
conhecido.” (TST-RR-2126-68.2014.5.12.0003, 3ª Turma, Relator Ministro: Mauri-
cio Godinho Delgado, DEJT 23/03/2018)
“(-) MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. INCIDÊNCIA SOBRE A MULTA DE 40%
DO FGTS. A multa de 40% sobre o FGTS detém claramente a natureza de verba
rescisória, e, por este motivo, deve compor o cálculo da multa do art. 467 da CLT.
Recurso de revista conhecido e provido. (-)” (TST-RR-1742-72.2012.5.01.0071, 8ª
Turma, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, DEJT 10/11/2017)
“RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014. MULTA DO ART. 467 DA
CLT. NÃO INCIDÊNCIA SOBRE OS DEPÓSITOS DO FGTS. VERBA DE NATUREZA
NÃO RESCISÓRIA. INCIDÊNCIA SOBRE A MULTA DE 40% DO FGTS. De acordo
com a jurisprudência desta Corte, o FGTS não possui natureza de verba rescisória.
Assim, considerando que o artigo 467 da CLT faz referência somente acerca das
verbas rescisórias, o atraso nos depósitos do FGTS não enseja sua aplicação. No
entanto, a multa de 40% sobre o montante dos depósitos do FGTS corresponde a
uma parcela rescisória propriamente dita, de modo que incide sobre ela a penali-
dade prevista no artigo 467 da CLT. Precedentes. Recurso de revista conhecido e
parcialmente provido.” (TST-RR-10570-49.2014.5.01.0245, 2ª Turma, Relatora Mi-
nistra: Delaíde Miranda Arantes, DEJT 03/07/2017)
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Atenção. Segundo a jurisprudência do TST, os depósitos do FGTS devidos no


decorrer do contrato de trabalho não têm natureza rescisória, e sobre eles não incide
a multa do art. 467 da CLT.
Nesse sentido:
INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 467 DA CLT SOBRE O VALOR DE-
VIDO RELATIVO AO FGTS NÃO DEPOSITADO NO CURSO DO CONTRATO DE TRA-
BALHO. 1 - Segundo a jurisprudência desta Corte, os depósitos do FGTS devidos
no decorrer do contrato de trabalho não têm natureza rescisória, e sobre eles não
incide a multa do art. 467. 2 - Nesse contexto, está superado o aresto colacionado,
ante o disposto na Súmula nº 333 do TST e no art. 896, § 8º, da CLT. 3 - Recurso
de revista de que não se conhece. (ARR - 987-26.2010.5.01.0004, Relatora Minis-
tra: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 18/04/2018, 6ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 20/04/2018)
“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014. MUL-
TA. ART. 467 CLT. INCIDÊNCIA. DEPÓSITOS DE FGTS E MULTA DE 40% DO FGTS
[..] Já os depósitos mensais de FGTS não são devidos em função da cessação
do contrato de emprego, mas sim decorrentes do pagamento mensal de salário
- fato gerador da obrigação (art. 15 da Lei nº 8.036/1990). Não se trata de verba
rescisória e, assim, não sofre a incidência da multa do art. 467 da CLT. 3. Recurso
de revista do Reclamante de que se conhece e a que se dá parcial provimento. [..]
(ARR - 348-38.2012.5.15.0007, Relator Ministro: João Oreste Dalazen, Data de Jul-
gamento: 18/05/2016, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/05/2016)
RECURSO DE REVISTA. MULTA POR ATRASO NO PAGAMENTO DE PARCELAS
INCONTROVERSAS. ARTIGO 467 DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO.
DEPÓSITOS DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO - FGTS COM ADI-
CIONAL DE 40%. INCIDÊNCIA. [..] 3. Pela mesma razão essa multa não incide so-
bre os depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS propriamente
ditos, uma vez que seu pagamento não é devido tão somente em decorrência da
extinção do contrato de emprego. 4. Com efeito, os depósitos do Fundo de Garan-
tia do Tempo de Serviço - FGTS não tem natureza rescisória, tanto que tais depó-
sitos podem ser movimentados ou levantados pelo empregado ainda na vigência
do contrato de emprego, nos termos do artigo 20 da Lei n.º 8.036/1990. 5. Demais
disso, a natureza sancionatória da multa por atraso no pagamento das parcelas
incontroversas das verbas rescisórias atrai a interpretação restritiva da norma le-
gal. 6. Precedentes. 7. Recurso de revista conhecido e parcialmente provido. (TST-
-RR- 837-50.2011.5.08.0122, 1ª Turma, Relator Desembargador Convocado: José
Maria Quadros de Alencar, DEJT 07/01/2014)

10.2. MULTA DO ART. 467 NOS CASOS DE REVELIA


A multa do art. 467 da CLT, é aplicada inclusive, quando a empresa é revel, con-
forme súmula 69 do TST:
TST, SUM 69 - RESCISÃO DO CONTRATO - A partir da Lei nº 10.272, de 05.09.2001,
havendo rescisão do contrato de trabalho e sendo revel e confesso quanto à ma-
téria de fato, deve ser o empregador condenado ao pagamento das verbas resci-
sórias, não quitadas na primeira audiência, com acréscimo de 50% (cinquenta por
cento).
Contudo, não haverá incidência da multa do art. 467 da CLT, quando:
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(1) A 1º empresa é revel, porém a segunda reclamada (litisconsorte) oferece


contestação impugnando (controvertendo) os fatos. Nesse sentido:
LITISCONSÓRCIO - REVELIA DA PRIMEIRA RECLAMADA - OFERECIMENTO DE
CONTESTAÇÃO ESPECÍFICA PELA SEGUNDA RECLAMADA - EFEITOS - MULTA
PREVISTA NO ART. 467 DA CLT INDEVIDA. A penalidade prevista no art. 467 da
CLT somente é aplicada quando o empregador, apesar de inexistir controvérsia
acerca da totalidade ou de parte das verbas rescisórias devidas ao empregado,
deixa de efetuar, ao comparecer à Justiça do Trabalho, o pagamento da parcela
incontroversa. No caso em tela, a mencionada multa é inaplicável, pois há con-
testação da tomadora de serviços, impondo-se a aplicação do art. 320, I, do CPC
de 1973. Recurso de Revista parcialmente conhecido e provido. (RR - 10364-
14.2013.5.12.0035, Relatora Ministra: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Jul-
gamento: 30/10/2018, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/11/2018)
(...) II - RECURSO DE REVISTA ADESIVO DO RECLAMANTE. REVELIA. MULTA DO
ARTIGO 467 DA CLT. APRESENTAÇÃO DE DEFESA PELA LITISCONSORTE TOMA-
DORA DE SERVIÇOS. ELISÃO DA MULTA. Constatada a situação processual de
revelia da primeira reclamada, real empregadora do reclamante, por não compa-
recer à audiência para a qual foi regularmente intimada, não há, consequente-
mente, como efeito, controvérsia capaz de afastar a multa do artigo 467 da CLT.
Entretanto, no caso de litisconsórcio, no qual há afinidade de interesses na defesa,
como no caso do relativo à tomadora de serviços na terceirização de serviços,
havendo defesa específica por esta segunda sobre os fatos articulados, estabe-
lece-se a controvérsia, de forma que há revelia para a primeira reclamada, mas o
efeito da multa pode ser afastado pela atuação defensiva da litisconsorte, se for
específica. Cabe frisar que a Súmula nº 69 do TST não trata da situação em que
é apresentada defesa pelo litisconsórcio. Os arestos colacionados ao dissenso
de teses são imprestáveis à finalidade pretendida, porquanto sequer indicam o
órgão oficial ou o repositório jurisprudencial autorizado do qual foram extraídos.
Incide o óbice da Súmula nº 337 do TST. Recurso de revista não conhecido. (RR-
500641-53.2014.5.17.0191, 5ª Turma, Relator Ministro Emmanoel Pereira, DEJT
11/12/2015)
(...) MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. SÚMULA Nº 69 DO TST. REVELIA DA PRI-
MEIRA RECLAMADA. CONTESTAÇÃO INTEGRAL DOS PEDIDOS REALIZADA PELO
SEGUNDO RECLAMADO. CONFISSÃO FICTA NÃO ERIGIDA. INAPLICABILIDADE
DA CITADA MULTA. O artigo 467 da CLT estabelece que, em caso de rescisão do
contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisó-
rias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, na data do comparecimento
à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las
acrescidas de 50%. A Súmula nº 69 desta Corte, por sua vez, dispõe que, a partir
da Lei nº 10.272, de 5/9/2001, havendo rescisão do contrato de trabalho e sendo
revel e confesso quanto à matéria de fato, deve ser o empregador condenado
ao pagamento das verbas rescisórias não quitadas na primeira audiência, com
acréscimo de 50%. Esta Corte possui entendimento de que, sendo o empregador
revel, em face de sua ausência na audiência inaugural, exsurge o direito do recla-
mante de receber as verbas rescisórias postuladas na inicial, com o acréscimo
de 50%. Entretanto, no caso dos autos, esse entendimento não se aplica, pois há
litisconsórcio passivo, e o segundo reclamado, conforme registrado no acórdão
regional, impugnou, integralmente, os pedidos feitos pelo reclamante. Nas hipóte-
ses de litisconsórcio facultativo unitário, como é o caso dos autos, a contestação
realizada por um litisconsorte é válida e eficaz com relação ao outro. Assim, con-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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siderando que o segundo reclamado contestou todos os pedidos feitos na recla-


mação, essa conduta impede a ocorrência dos efeitos jurídicos da revelia e afasta
a sanção processual de confissão ficta aplicada à primeira reclamada, nos termos
do artigo 320, inciso I, do CPC. Logo, não sendo erigida a sanção processual de
confissão ficta, não se lhe aplica a multa prevista no artigo 467 da CLT, tampouco
o teor da Súmula nº 69 desta Corte. Recurso de revista conhecido e não provido.
(...) (RR-117100-08.2013.5.17.0006, 2ª Turma, Relator Ministro José Roberto Frei-
re Pimenta, DEJT 13/11/2015
(2) Quando a empresa for considerada revel (ausência do reclamado na au-
diência inaugural), contudo o seu advogado está presente na audiência e
apresenta contestação e documentos controvertendo os fatos.
CLT, Art. 844 – [..]
§5º - Ainda que ausente o reclamado, presente o advogado na audiência, serão
aceitos a contestação e os documentos eventualmente apresentados.

10.3. QUEM NÃO PAGA A MULTA DO ART. 467


10.3.1. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E SUAS AUTARQUIAS E
FUNDAÇÕES
A Administração Pública direta (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e
suas autarquias e fundações não sofre a incidência da multa do art. 467 da CLT, pois,
tais pessoas pagam créditos trabalhistas, por meio de precatórios ou requisições de
pequeno valor, conforme art. 100 da CF.
Nesse sentido, o parágrafo único do art. 467 da CLT:
Art. 467 – [..]
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica à União, aos Estados, ao Distri-
to Federal, aos Municípios e as suas autarquias e fundações públicas. 

10.3.2. MASSA FALIDA


Segundo a súmula 388 do TST, a massa falida não se sujeita à penalidade do
art. 467.
TST, SUM 388 - MASSA FALIDA. ARTS. 467 E 477 DA CLT. INAPLICABILIDADE. A
Massa Falida não se sujeita à penalidade do art. 467 e nem à multa do § 8º do art.
477, ambos da CLT.

10.3.2.1.EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL


A jurisprudência consolidada no TST, é no sentido de que não se aplica o enten-
dimento da Súmula nº 388 do TST aos casos em que a empresa reclamada encontra-
-se em recuperação judicial. Nesse sentido:
JUDICIAL. MULTA DO ART. 467 DA CLT. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 388/TST
. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que apenas a massa falida
não se sujeita ao pagamento das multas dos arts. 467 e 477 da CLT, à luz da
Súmula 388 da CLT, inaplicável, por analogia, às empresas que se encontrem
em recuperação judicial, caso dos autos. Recurso de revista não conhecido no
aspecto” (RRAg-100436-63.2019.5.01.0481, 3ª Turma, Relator Ministro Mauricio
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Godinho Delgado, DEJT 05/11/2021).


“AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI 13.467/2017. RITO SUMARÍSSIMO. RECLA-
MADA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. MULTA DOS ARTIGOS 467 E 477 DA CLT.
TRANSCENDÊNCIA. Não há transcendência da causa relativa à condenação da re-
clamada em recuperação judicial ao pagamento da multa dos arts. 467 e 477, §8º,
da CLT, tendo em vista ser entendimento desta Corte que a Súmula nº 388 do TST
só traz isenção em relação à massa falida. Transcendência do recurso de revista
não reconhecida e agravo de instrumento desprovido. CORREÇÃO MONETÁRIA E
JUROS DE MORA - EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL - LIMITAÇÃO. A causa
se refere a limitação da incidência de atualização monetária e juros de mora, de
empresa em recuperação judicial. O recurso de revista foi interposto em processo
ajuizado no rito sumaríssimo, que, nos termos do art. 896, § 9º, da CLT, só pode
ser admitido por contrariedade a Súmula de jurisprudência uniforme do Tribunal
Superior do Trabalho, a Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal ou por
violação direta da Constituição Federal. No caso, a parte apenas indica violação
do 9º, II, da Lei 11.101/2005, e colaciona arestos do c. STJ , nas razões recursais,
o que prejudica o exame da transcendência. Agravo de instrumento desprovido”
(AIRR-910-86.2018.5.06.0007, 6ª Turma, Relator Ministro Aloysio Corrêa da Veiga,
DEJT 06/12/2019).

10.3.3. VERBAS CONTROVERTIDAS


Assim, não há como aplicar a multa do art. 467 da CLT, em face da controvérsia
existente nos autos, pois, todos os pedidos foram contestados e, ainda, a ausência de
verbas inadimplidas. A jurisprudência pátria, segue a fundamentação acima, senão
vejamos:
[..] 4. MULTA PREVISTA NO ARTIGO 467 DA CLT. O pressuposto fático-jurídico para
a incidência da sanção prevista no artigo 467 da CLT é a incontrovérsia sobre
o montante das verbas rescisórias devidas na data do comparecimento à Justi-
ça do Trabalho. No caso dos autos, houve controvérsia tanto sobre a existência
do direito às parcelas rescisórias, como sobre o respectivo pagamento, não se
justificando a aplicação da penalidade. Recurso provido, no assunto. [..] (RO nº
0000870-77.2015.5.11.0005, 2ª Turma do TRT da 11ª Região/AM-RR, Rel. Audali-
phal Hildebrando da Silva. DEJT 06.02.2017).
MULTA DO ART. 467/CLT. A multa prevista no caput do artigo 467 da CLT, com
a redação que lhe foi dada pela Lei 10.272/01, é cabível em caso de rescisão de
contrato de trabalho, sobre as parcelas rescisórias incontroversas e não quitadas
até a primeira audiência. No caso em análise, uma vez que não há verbas rescisó-
rias incontroversas, existindo amplo debate sobre as verbas trabalhistas pleitea-
das, não há espaço para a aplicação da multa do art. 467/CLT. (RO nº 0002471-
25.2014.5.03.0184, 1ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Maria Cecilia Alves
Pinto. Publ. 10.03.2017).
MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. A multa prevista no
artigo 467 da CLT somente incide se houver parcelas rescisórias incontrover-
sas, assim entendidas aquelas que não dependam de dilação probatória. (RO nº
0000868-70.2015.5.03.0057, 10ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Convocado
Gisele de Cassia Vieira Dias Macedo. Publ. 03.03.2017).

10.3.4. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO


O TST entende que a existência de controvérsia quanto à modalidade de resci-
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são do contrato de trabalho afasta a incidência da multa prevista no artigo 467 da CLT.
Desta forma, pela controvérsia do pedido de rescisão indireta, a multa do art. 467 da
CLT, é indevida.
Nesse sentido:
III - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. LEI Nº 13.015/2014. INSTRUÇÃO
NORMATIVA Nº 40 DO TST. ANTERIOR À LEI Nº 13.467/2017. RESCISÃO INDIRE-
TA. MULTAS DOS ARTS. 467 E 477, § 8.º, DA CLT. 1 - Preenchidos os pressupostos
de admissibilidade previstos no art. 896, § 1º-A, da CLT. 2 - A multa prevista no
art. 467 da CLT tem como fato gerador o não pagamento das verbas rescisórias
incontroversas, na data do comparecimento à Justiça do Trabalho, ou seja: não
haver controvérsia na data da audiência é o requisito previsto em lei para a impo-
sição da multa. Nesses termos, se a própria rescisão é controvertida, não cabe a
multa prevista nesse dispositivo de lei.” (Processo: RR - 1430-52.2015.5.02.0075
Data de Julgamento: 22/08/2018, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 24/08/2018.)
RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014. MULTAS DOS ARTS. 467 E
477, § 8.º, DA CLT. RESCISÃO INDIRETA. 1. O fato gerador da multa prevista no art.
467 da CLT é o não pagamento das verbas rescisórias incontroversas na primeira
oportunidade em que as partes comparecerem à Justiça do Trabalho. No caso,
existia controvérsia quanto à modalidade da rescisão contratual no momento da
primeira audiência na Justiça do Trabalho, o que atinge também as parcelas res-
cisórias. Logo, não há de se falar em aplicação da multa prevista no art. 467 da
CLT. [..] (Processo: RR - 1350-30.2015.5.02.0062 Data de Julgamento: 18/04/2018,
Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
20/04/2018.)
RESCISÃO INDIRETA. MULTA PREVISTA NO ARTIGO 467. A multa do artigo 467
da CLT somente terá aplicação nos casos em que, na data do comparecimento à
Justiça do Trabalho, o empregador deixar de pagar a parte incontroversa das ver-
bas rescisórias. Logo, havendo discussão judicial sobre a modalidade de rescisão
e, por consequência, das verbas rescisórias devidas, não há como ser aplicada
essa multa. Recurso de revista não conhecido. (...) Recurso de revista não conhe-
cido. Processo: ARR - 1010-03.2011.5.01.0047 Data de Julgamento: 07/03/2018,
Relator Ministro: Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 16/03/2018.
“II - RECURSO DE REVISTA. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº
13.015/14. MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO
DE TRABALHO. A existência de controvérsia quanto à modalidade de rescisão do
contrato de trabalho afasta a incidência da multa prevista no artigo 467 da CLT.
Julgados. Recurso de revista não conhecido.” (RR-400-25.2016.5.12.0024, Relator
Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento: 29/08/2017, 8ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 01/09/2017); e
“2 - MULTAS DOS ARTS. 467 E 477, §8º, DA CLT. RESCISÃO INDIRETA. 1. O fato
gerador da multa prevista no art. 467 da CLT é o não pagamento das verbas res-
cisórias incontroversas na primeira oportunidade em que as partes comparece-
rem à Justiça do Trabalho. No caso, existia controvérsia quanto à modalidade da
rescisão contratual no momento da primeira audiência na Justiça do Trabalho, o
que atinge também as parcelas rescisórias. Logo, não há de se falar em aplicação
da multa prevista no art. 467 da CLT. Precedentes. (RR - 891-68.2011.5.01.0006,
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Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, Data de Julgamento: 09/08/2017, 2ª


Turma, Data de Publicação: DEJT 18/08/2017).
MULTA DO ART. 467 DA CLT - RESCISÃO INDIRETA. Inviável a aplicação da multa
do artigo 467 da CLT se a controvérsia acerca da especificação das verbas res-
cisórias pertinentes decorre da própria natureza do pleito formulado pelo Autor,
de reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho. (RO nº 0011304-
86.2017.5.03.0132, 3ª Turma do TRT da 3ª Região/MG, Rel. Convocado Delane
Marcolino Ferreira. j. 06.09.2018).

10.3.5. REVERSÃO DA JUSTA CAUSA


Tem prevalecido no TST, o entendimento de que não incide a multa do art. 467
da CLT, em se tratando de justa causa revertida em juízo, por versar sobre hipótese em
que houve controvérsia quanto às razões que conduziram à extinção do contrato de
trabalho, de modo que as verbas trabalhistas reconhecidas como devidas decorreram
de decisão judicial, não incidindo a aplicação da multa do art. 467 da CLT.
Nesse sentido:
[..] B) RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E
ANTERIOR À LEI 13.467/2017. 1. MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. JUSTA
CAUSA. REVERSÃO. Tem prevalecido nesta Corte Superior o entendimento de que
não incide a multa do art. 467 da CLT, em se tratando de justa causa revertida
em juízo, haja vista que as verbas trabalhistas reconhecidas como devidas de-
correram de provimento judicial, na medida em que houve relevante controvérsia
quanto às razões que conduziram à extinção contratual. Ressalva do entendimen-
to deste Relator. Recurso de revista não conhecido no tema. [..] (RR - 1000175-
28.2016.5.02.0036, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julga-
mento: 05/12/2018, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/12/2018)
MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. JUSTA CAUSA. REVERSÃO. Tem prevale-
cido nesta Corte Superior o entendimento de que não incide a multa do art. 467
da CLT, em se tratando de justa causa revertida em juízo, haja vista que as verbas
trabalhistas reconhecidas como devidas decorreram de provimento judicial, na
medida em que houve relevante controvérsia quanto às razões que conduziram à
extinção contratual. Ressalva do entendimento deste Relator. Recurso de revista
não conhecido. (RR - 583400-11.2006.5.09.0892, Relator Ministro: Mauricio Go-
dinho Delgado, Data de Julgamento: 28/02/2018, 3ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 06/04/2018)
  «JUSTA CAUSA REVERTIDA EM JUÍZO - MULTA DO ART. 467 DA CLT - MATÉ-
RIA CONTROVERTIDA - DESCABIMENTO. Diferentemente da multa do art. 477,
§ 8º, da CLT, que incide quando o fato justificador do não pagamento das verbas
rescisórias no prazo legal é desconstituído, a incidência da multa do art. 467 da
CLT pressupõe que a parte não tenha quitado em audiência as parcelas que não
eram objeto de controvérsia na peça defensiva, o que não é a hipótese dos autos.
No caso, há controvérsia quanto à modalidade da rescisão contratual e o pedido
formulado na petição inicial foi justamente o de reversão da justa causa, e a recla-
mada sustentou em sua defesa a correção da justa causa aplicada e não só que
era indevido o pagamento das verbas rescisórias. Logo, era inexigível o adimple-
mento das parcelas rescisórias pleiteadas pelo autor à data do comparecimento
da ré à Justiça do Trabalho, visto que controvertidas, motivo pelo qual não incide a
multa de que trata o artigo 467 da CLT. Precedentes. Recurso de revista conhecido
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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e provido.” (RR- 1311-26.2011.5.01.0054, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de


Mello Filho, Data de Julgamento: 23/08/2017, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
25/08/2017);
“[...]. II - AGRAVO DE INSTRUMENTO DO RECLAMANTE. RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nºs 13.015/2014 E 13.105/2015 - DESCA-
BIMENTO. [...]. 2. MULTA DO ART. 467 DA CLT. REVERSÃO DA JUSTA CAUSA EM
JUÍZO. Quando as parcelas devidas pela dissolução contratual decorrem de pro-
vimento judicial, havendo, antes, controvérsia sustentável quanto à existência de
relação de emprego ou quanto à razão de desfazimento do vínculo, impossível a
condenação ao pagamento da multa a que alude o art. 467 da CLT.” (ARR-1956-
04.2012.5.02.0017, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Ac.
3ª Turma, in DEJT 2.6.2017).
“RECURSO DE REVISTA. [...]. MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. JUSTA CAU-
SA DESCONSTITUÍDA EM JUÍZO. É entendimento desta Corte que a existência de
controvérsia quanto à modalidade da rescisão do contrato de trabalho afasta a
incidência da multa prevista no artigo 467 da CLT. Recurso conhecido e provido no
tema.” (RR-610-82.2013.5.15.0126, Relator Ministro João Batista Brito Pereira, Ac.
5ª Turma, in DEJT 13.10.2017).
“[...]. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO
RECLAMANTE. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. JUSTA CAUSA REVERTIDA EM JUÍ-
ZO. INEXISTÊNCIA DE VERBAS RESCISÓRIAS INCONTROVERSAS. O pressuposto
fático-jurídico para a incidência da sanção prevista no artigo 467 da CLT é a incon-
trovérsia sobre o montante das verbas rescisórias devidas na data do compare-
cimento à Justiça do Trabalho, não se justificando a aplicação da penalidade se
houver controvérsia sobre a existência do direito às parcelas rescisórias ou sobre
o respectivo pagamento. No caso dos autos, havia controvérsia quanto à moda-
lidade da rescisão contratual, havendo pedido inicial de reversão da justa causa.
Logo, era inexigível o pagamento das parcelas rescisórias pleiteadas pelo autor à
data do comparecimento da reclamada à Justiça do Trabalho, visto que controver-
sas, razão pela qual não incide a multa de que trata o artigo 467 da CLT. Recurso
de revista não conhecido.” (ARR- 1075-07.2014.5.02.0001, Relator Ministro José
Roberto Freire Pimenta, Ac. 2ª Turma, in DEJT 19.5.2017).
“[...]. II - RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT. REVERSÃO DA
JUSTA CAUSA EM JUÍZO. É indevida a multa do artigo 467 da CLT quando con-
trovertida a modalidade da rescisão contratual. Precedentes. Recurso de revista
não conhecido.” (RR-2028-05.2012.5.02.0077, Relator Ministro Márcio Eurico Vi-
tral Amaro, Ac. 8ª Turma, in DEJT 12.12.2016).

10.3.6. O JUIZ NÃO PODE CONCEDER A MULTA DO ART. 467 DA CLT DE


OFÍCIO
O TST entende que não há respaldo legal para a aplicação da multa do art. 467
da CLT de ofício pelo magistrado. Assim, a condenação da reclamada ao pagamento
da multa prevista no art. 467 da CLT, independentemente da formulação de pedido na
inicial, caracteriza julgamento fora dos limites estabelecidos para a lide, ao teor dos
arts. 141 e 492 do CPC/2015), pois, é defeso ao julgador conhecer de questões não
suscitadas e decidir fora dos contornos traçados na petição inicial.
CPC, Art. 141.  O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sen-
SEGUNDA FASE | DIREITO DO TRABALHO

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do-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige
iniciativa da parte.
CPC, Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida,
bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que
lhe foi demandado.
Nesse sentido os seguintes julgados do TST:
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. INTERPOSTO ANTES DA LEI Nº
13.015/2014 - JULGAMENTO EXTRA PETITA. MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT.
AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO EX OFFI-
CIO. 1 - É defeso ao julgador conhecer de questões não suscitadas e decidir fora
dos contornos traçados na petição inicial, nos termos dos artigos 128 e 460 do
CPC/73 (141 e 492 do CPC/2015). Não há respaldo legal para a aplicação da mul-
ta do art. 467 da CLT de ofício pelo magistrado. Assim, a condenação da recla-
mada ao pagamento da multa prevista no art. 467 da CLT, independentemente da
formulação de pedido na inicial, caracteriza julgamento fora dos limites estabe-
lecidos para a lide. Julgados. 2 - Recurso de revista a que se dá provimento. Fica
prejudicado o exame do tema referente à multa do art. 467 da CLT. [..] (RR - 1997-
62.2011.5.03.0086, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamen-
to: 05/04/2017, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/04/2017)
“RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. JULGAMENTO EXTRA PETITA. MUL-
TA DO ARTIGO 467 DA CLT. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO. IMPOSSIBILIDADE
DE APLICAÇÃO EX OFFICIO. É defeso ao julgador conhecer de questões não sus-
citadas e decidir fora dos contornos traçados na petição inicial, nos termos dos
artigos 128 e 460 do CPC/73 (141 e 492 do CPC/2015). Não há respaldo legal
para a aplicação da multa do art. 467 da CLT de ofício pelo magistrado. Assim, a
condenação da reclamada ao pagamento da multa prevista no art. 467 da CLT,
independentemente da formulação de pedido na inicial, caracteriza julgamento
fora dos limites estabelecidos para a lide. Julgados. Recurso de revista a que se
dá provimento. Fica prejudicado o exame do tema referente à multa do art. 467
da CLT. (...).” (RR - 156200-02.2008.5.01.0002 Data de Julgamento: 09/11/2016,
Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT
11/11/2016);
“RECURSO DE REVISTA. JULGAMENTO EXTRA PETITA. MULTA DO ARTIGO 467
DA CLT. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO EX
OFFICIO. Embora seja dada ao magistrado a incumbência de promover a correta
qualificação jurídica dos fatos expostos pelas partes, segundo a máxima do bro-
cardo latino iura novit curia, é “defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de
natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou
em objeto diverso do que lhe foi demandado” (art. 460 do CPC). A multa prevista
no artigo 467 da CLT não integra as parcelas rescisórias, mas decorre da ausência
do pagamento das verbas incontroversas na primeira audiência, cuja incidência
não se dá de forma automática, ex officio, mas depende de pedido expresso na
petição inicial, a fim de viabilizar o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Nesse contexto, a aplicação da referida penalidade caracteriza o julgamento extra
petita, tendo em vista a inexistência de pedido específico na petição inicial, ficando
o Juízo adstrito aos limites da lide, nos moldes do art. 128 do CPC. Recurso de
revista conhecido e não provido. (RR - 20117- 11.2013.5.04.0522 , Relatora Mi-
nistra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 22/04/2015, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 24/04/2015)
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RECURSO DE REVISTA - CONDENAÇÃO DA RECLAMADA AO PAGAMENTO DA


MULTA DO ART. 467 DA CLT INDEPENDENTEMENTE DA FORMULAÇÃO DE PE-
DIDO - JULGAMENTO EXTRA PETITA CARACTERIZADO. A condenação da recla-
mada ao pagamento da multa prevista no art. 467 da CLT, independentemente
da formulação de pedido na inicial, caracteriza julgamento fora dos limites es-
tabelecidos para a lide, em ofensa ao disposto nos arts. 128 e 460 do CPC. Não
existindo respaldo legal para a atuação ex officio do magistrado na aplicação da
referida penalidade, ao fazê-lo, o julgador extrapola os limites colocados pelas
partes, em contraditório, à cognição judicial e, consequentemente, ofende as ga-
rantias inerentes à ampla defesa, porque impõe ao réu condenação sem que se
tenha franqueado a ele a possibilidade de defender-se alegando fatos impeditivos
ou obstativos à pretensão do autor. Ressalte-se que o reconhecimento de fraude
no âmbito da relação jurídica de direito material analisada em juízo não afasta a
observância dos limites processuais impostos ao Poder Judiciário na entrega da
prestação jurisdicional. Recurso de revista conhecido e provido.” (RR - 133201-
42.2005.5.01.0008, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de
Julgamento: 21/11/2012, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 30/11/2012);

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