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Peça nº 3: Recurso Ordinário

Problema:

Você foi contratado(a) como advogado(a) pela sociedade empresária Cândidas Toa-
lhas S/A., que lhe exibe cópia de sentença prolatada pelo juízo da ª Vara do Trabalho
de Ubá/MG (processo nº 12345678910, movido por Valentino Troca Tapa, brasileiro,
solteiro, auxiliar de estoque) e publicada no dia anterior (22/10/2021), na qual o juiz
reconheceu que, após o pagamento das verbas resilitórias, houve acordo e outro pa-
gamento de R$ 2.000,00 perante uma Comissão de Conciliação Prévia (CCP) criada
na empresa, sem ressalva, mas rejeitou a preliminar suscitada pela ré, compreen-
dendo que a realização do acordo na CCP geraria como efeito único a dedução do
valor pago ao trabalhador. Sobre o pedido de duas horas extras diárias, o juiz as
deferiu porque foi confessada a sobre jornada pelo preposto, determinando, ainda,
a sua integração nas demais verbas (13º salário, férias, FGTS e repouso semanal
remunerado), e, em relação ao repouso semanal majorado pelas horas extras defe-
ridas, sua integração no 13º salário e nas férias. O juiz deferiu indenização por dano
estético de R$ 5.000,00 porque o trabalhador caiu de uma alta escada existente no
estoque e, com o violento impacto sofrido na queda, teve a perda funcional de um
dos rins, conforme Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) emitida.

Diante do que foi exposto, elabore a medida judicial adequada para a defesa dos
interesses da sociedade empresária. As custas foram fixadas em R$ 200,00 sobre o
valor arbitrado à condenação de R$ 10.000,00.

Artigos relevantes:

o art. 895, I, da CLT.

o art. 625-E, parágrafo único, da CLT.

o OJ n. 394 da SDI-1.

o art. 186 e no art. 927, ambos do CC.


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...ª VARA DO
TRABALHO DE UBÁ/MG ...ª REGIÃO

Processo nº 12345678910

SOCIEDADE EMPRESÁRIA CÂNDIDAS TOALHAS S/A., já qualificada nos autos


da RECLAMAÇÃO TRABALHISTA que lhe move o recorrido VALENTINO
TROCA TAPA, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente e
tempestivamente perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 895, inciso I, da
Consolidação das Leis do Trabalho, interpor RECURSO ORDINÁRIO conforme as
razões anexas.

Requer seja o presente recurso recebido e remetido ao Egrégio Tribunal Regional do


Trabalho de Ubá - MG ...ª Região, juntando as guias de recolhimento do depósito recursal
e das custas processuais.

Termos em que,

Pede e aguarda deferimento.

Ubá – MG, data XXXXX

Advogado XXXXXX

OAB nº XXXXXX
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO

Recorrente: SOCIEDADE EMPRESÁRIA CÂNDIDAS TOALHAS S/A.

Recorrido: VALENTINO TROCA TAPA

Origem: ...ª VARA DO TRABALHO DE UBÁ – MG

Processo nº 12345678910

Egrégio Tribunal Regional do Trabalho,

Ínclito Julgadores,

Apesar do inegável conhecimento jurídico do juízo “a quo”, impõe-se a reforma da


respeitável sentença proferida contra o recorrente, pelas razões de direito a seguir
expostas.

1- DA DECISÃO RECORRIDA:

O autor da ação trabalhista apresentou sua reclamação contra a parte que recorre,
na qual, foi emitida uma sentença que reconheceu a existência de um acordo e outro
pagamento no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) realizado perante uma Comissão de
Conciliação Prévia (CCP) estabelecida na empresa. No entanto, a preliminar levantada
pela ré foi rejeitada, entendendo-se que o acordo na CCP resultaria apenas na dedução do
valor pago ao trabalhador.
Além disso, foi concedido o requerimento de duas horas extras por dia, devido à
admissão do representante da Sociedade Empresária Cândidas Toalhas S/A. Isso também
inclui a incorporação dos demais benefícios, como o 13º salário, as férias, o FGTS e o
descanso remunerado semanal. No que se refere ao repouso semanal remunerado
majorado pelas horas extras trabalhadas em feriados, houve integração no 13º salário e
nas férias.
E por fim, foi determinado o pagamento de uma compensação por dano estético
no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) devido à queda do trabalhador de uma escada
alta no estoque. Como resultado do impacto violento, este sofreu a perda funcional de um
dos rins, conforme consta na Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) emitida.

2- RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA:

A decisão contestada, com todo respeito, merece ser revista, uma vez que não
aplicou a lei devidamente ao caso em questão.

3- PRELIMINARMENTE:

Na situação em foco, o juízo de primeira instância não analisou o acordo celebrado


na Comissão de Conciliação Prévia, onde, além das indenizações rescisórias pagas pela
parte que recorre, também ocorreu um desembolso no valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais). Quando efetuados de maneira apropriada, tais pagamentos resultam em um efeito
único de quitação das obrigações reivindicadas, eximindo assim o empregador do
compromisso vinculativo com o empregado.
De acordo com o teor da Súmula 330 do Tribunal Superior do Trabalho (TST),
uma vez que o empregador tenha cumprido com o objeto da demanda, o empregado não
poderá mais pleitear tais valores perante a Justiça do Trabalho. Portanto, o empregador
está desobrigado em relação ao que foi cumprido.
Súmula 330 do Tribunal Superior de Trabalho, in verbis:

SUM-330 QUITAÇÃO. VALIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e


21.11.2003.
A quitação passada pelo empregado, com assistência de entidade sindical de
sua categoria, ao empregador, com observância dos requisitos exigidos nos
parágrafos do art. 477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas
expressamente consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e
especificada ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas.
I- A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e,
consequentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem
desse recibo.
II- Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do
contrato de trabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente
consignado no recibo de quitação.
O artigo 625-E da CLT sustenta a mesma perspectiva, respaldando a aceitação,
pelo juízo, do acordo celebrado na Comissão de Conciliação Prévia, como se pode
verificar a seguir:

Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado,
pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-
se cópia às partes.
Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá
eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas.

Com base no exposto, solicita-se a revisão da decisão para que seja reconhecida a
quitação das verbas por meio do acordo celebrado na Comissão de Conciliação Prévia.

4- MÉRITO:

a) DO REPOUSO SEMANAL:

O magistrado decidiu que, no que se refere às horas extras, estas seriam


incorporadas às demais verbas. Com base no exposto, é evidente o risco de a decisão
incorrer em dupla punição pelo mesmo ato, resultando em ganho injustificado, o que a
Orientação Jurisprudencial 394 explicitamente proíbe, nos seguintes termos:

OJ-SDI1-394 REPOUSO SEMANAL REMUNERADO - RSR.


INTEGRAÇÃO DAS HORAS EXTRAS. NÃO REPERCUSSÃO NO
CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, DO AVISO
PRÉVIO E DOS DEPÓSITOS DO FGTS. (DEJT divulgado em 09, 10 e
11.06.2010).
A majoração do valor do repouso semanal remunerado, em razão da integração
das horas extras habitualmente prestadas, não repercute no cálculo das férias,
da gratificação natalina, do aviso prévio e do FGTS, sob pena de caracterização
de “bis in idem". (grifos nossos)

Nessa esteira já entendeu o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região TRT-4,


RO: 00208655020155040012, senão vejamos:

RECURSO DO RECLAMADO. APLICAÇÃO DA OJ 394 DO TST. Quanto


aos reflexos pelo aumento da média remuneratória, adota-se a OJ n° 394 da
Subseção I Especializada em Dissidios Individuais do TST: "REPOUSO
SEMANAL REMUNERADO - RSR. INTEGRAÇÃO DAS HORAS
EXTRAS. NÃO REPERCURSSAO NO CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO
DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, DO AVISO PRÉVIO E DOS DEPÓSITOS
DO FGTS. A majoração do valor do repouso semanal remunerado, em razão
da integração das horas extras habitualmente prestadas, não repercute no
cálculo das férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e do FGTS, sob
pena de caracterização de "bis in idem.
Portanto, é importante ressaltar que a integração do descanso remunerado
majorado pelas horas extras nas férias e no décimo terceiro salário deve ser recusada, uma
vez que resultaria em uma duplicidade de penalização, levando a um enriquecimento sem
motivo justificado. Esse cenário é explicitamente proibido pelo Tribunal Superior do
Trabalho, conforme estabelecido na Orientação Jurisprudencial 394, cujo texto foi
transcrito acima.

b) DA NÃO OCORRÊNCIA DE DANO ESTÉTICO:

O juiz de primeira instância, ao julgar, determinou a compensação por dano


estético devido a um acidente de trabalho que ocasionou a perda parcial da função renal
do recorrente.
De acordo com a jurisprudência, é necessário que haja uma alteração morfológica
para que se configure o dano estético, além da demonstração de uma efetiva diminuição
ou alteração na situação econômica da vítima em decorrência do suposto dano, o que é
evidenciado nos autos.
Caso não haja comprovação do dano estético no recorrente, não é cabível o
ressarcimento, como se pode observar:

Responsabilidade civil - Dano estético - Condenação da ré, à vista da prova,


na indenização da vítima, mas com a exclusão da verba relativa a dano estético,
na falta de prova de reflexos prejudiciais à economia do ofendido ou de
necessidade de cirurgia restauradora ou de clínica de recuperação. (RJTJESP
19/103)
Sem propriamente desfigurar a pessoa e sem que esse fato importe sua rejeição
no ambiente social em que vive, não se pode admitir a reparação dos danos
estéticos e morais. Assim, se como prova dos danos foram juntadas somente
fotos antes e depois do acidente, comprovando-se tão-somente uma cicatriz, a
inépcia dos pedidos é evidente. (1°TA CIVIL SP - RT 661/98)

O dano estético ocorre quando alguém, por intenção ou negligência, causa


prejuízo a terceiros que resulta em constrangimento e lesão física visível. Neste caso, não
há fundamento para alegar dano estético, pois o empregado não sofreu qualquer alteração
física que afetasse sua imagem pessoal.
A sentença não deve ser mantida, pois a simples perda da função de um órgão não
constitui uma mudança morfológica significativa na aparência física do empregado. Além
disso, o único rim remanescente é capaz de suprir as necessidades biológicas. Portanto,
os requisitos para a configuração do dano estético não estão presentes, tornando
necessária a revisão da decisão, com base nos artigos 186 e 927 do Código Civil.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

5- DOS PEDIDOS:

Diante do exposto,

a) Solicita-se que o presente Recurso Ordinário seja recebido, conhecido, processado e


deferido, resultando na improcedência dos pedidos da parte autora.

b) Pede-se que seja acolhida a preliminar de quitação, uma vez que não houve ressalva,
conforme estipulado pelo artigo 625-E, parágrafo único da CLT, o que levaria à extinção
do processo.

c) Caso esta argumentação não prevaleça, requer-se a completa reforma da respeitável


decisão recorrida, em busca da plena justiça.

Nestes termos, após as devidas formalidades legais, solicita-se e espera-se o


acolhimento do pleito.

Ubá – MG, data XXXXX

Advogado XXXXXX

OAB nº XXXXXX

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