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PROJUDI - Processo: 0001681-68.2022.8.16.0145 - Ref. mov. 7.

1 - Assinado digitalmente por Julio Cezar Vicentini:16901


04/11/2022: DEFERIDO O PEDIDO. Arq: Decisão

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE RIBEIRÃO DO PINHAL
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE RIBEIRÃO DO PINHAL -

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJVVJ Q78BP PJDWV YK2NB


PROJUDI
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Autos nº. 0001681-68.2022.8.16.0145

Processo: 0001681-68.2022.8.16.0145
Classe Processual: Mandado de Segurança Cível
Assunto Principal: Ingresso e Concurso
Valor da Causa: R$100,00
Impetrante(s): SSILAS MACEDOS DE ARAUJO
Impetrado(s): SERVICO AUTONOMO MUNICIPAL DE AGUA E
ESGOTO - SAMAE - ABATIA/PR

DECISÃO INICIAL

1. Trata-se de Mandado de Segurança com pedido liminar impetrado


por SILAS MACEDO DE ARAUJO em face da autoridade coatora Karina
Castilho Okada, vinculado à pessoa jurídica SAMAE – SERVIÇO
AUTÔNOMO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO DO MUNICÍPIO DE
ABATIÁ/PR, no qual sustenta, em síntese, que o impetrado realizou
concurso público para os cargos de Oficial Administrativo e Auxiliar de
Operação e Manutenção (Edital nº 001/2022), homologado em 26/10/2022.
Alega, porém, a existência de vícios na condução do certame, que
implicaram prejuízos à colocação do impetrante, que está empatado com o
primeiro colocado, perdendo em razão dos critérios de desempate,
afastando a possibilidade de ser convocado para tomar posse no cargo de
Oficial Administrativo, tendo em vista que há somente uma vaga. Aduz que
(I) o gabarito provisório (Edital nº 10/2022, de 29/08/2022) apontava como
correta a alternativa “B” para a questão 17, após a interposição dos
recursos, foi publicado o gabarito definitivo (Edital nº 12/2022, de 08/09
/2022), no qual a resposta da questão 17 passou a ser a alternativa “D”.
Todavia, mesmo sem existir previsão legal ou editalícia para nova
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interposição de recursos em face do gabarito definitivo, em 27/09/2022 foi
publicado outro gabarito definitivo (Edital nº 21/2022), novamente alterando
a resposta da questão 17 para a alternativa “B”. Relata que o argumento
para a publicação deste segundo gabarito definitivo foi a interposição e

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acolhimento de recurso administrativo pelo candidato Ademir Rodrigues de
Carvalho, que sequer foi publicizado. Afirma, com isso, que houve
desrespeito aos princípios da legalidade, impessoalidade, segurança
jurídica, vinculação ao instrumento editalício e o da publicidade, bem como
à coisa julgada administrativa. Ressalta, ainda, que (II) o gabarito definitivo
das provas aplicadas aos cargos de Auxiliar de Operação e Manutenção
(questão 25) e de Oficial Administrativo (questão 17), apresenta respostas
diferentes para a mesma pergunta. Razão pela qual requer a concessão da
medida liminar, a fim de determinar à autoridade coatora que se abstenha
de nomear o candidato classificado em primeiro lugar para o cargo de
Oficial Administrativo, Sr. Ademir Rodrigues de Carvalho, pois a
recontagem das pontuações finais alterará a classificação final. Juntou
documentos (seq. 1.2 a 1.10).

É o breve relato.

Decido.

2. Nos termos do art. 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/09, o deferimento


de medida liminar em mandado de segurança subordina-se à comprovação
simultânea de dois requisitos: (a) a existência de fundamentos
relevantes e (b) que do ato impugnado possa resultar ineficácia da
medida pela demora no julgamento da causa, hipóteses em que o juiz
poderá suspender o ato que deu origem ao mandamus.

Hely Lopes Meirelles (in Mandado de Segurança: ação popular, ação


civil pública, mandado de injunção, habeas-data, 13ª ed., Revista dos
Tribunais, 1989, pág. 51) esclarece a respeito dos requisitos da concessão
da liminar previstos na antiga Lei nº 1.533/51:

“Para a concessão da liminar devem concorrer os dois requisitos


legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o
pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão
irreparável ao direito do impetrante, se vier a ser reconhecido na
decisão de mérito – fumus boni iuris e periculum in mora. A
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medida liminar não é concedida como antecipação dos efeitos da
sentença final; é procedimento acautelador do possível direito do
impetrante, justificado pela iminência de dano irreversível de
ordem patrimonial, funcional ou moral, se mantido o ato coator até

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a apreciação definitiva da causa. Por isso mesmo, não importa em
prejulgamento; não afirma direitos; nem nega poderes à
Administração. Preserva, apenas, o impetrante de lesão
irreparável, sustando provisoriamente os efeitos do ato
impugnando”.

No caso, os fundamentos invocados pelo impetrante são suficientes,


ao menos por ora, para a concessão da segurança em sede liminar, a fim
de que a autoridade coatora se abstenha de nomear o candidato
classificado em primeiro lugar.

Isso porque, extrai-se da inicial e do conjunto probatório que após a


publicação do gabarito preliminar e interposição de recursos pelos
candidatos, houve alteração da resposta da questão 17 da prova aplicada
para o cargo de Oficial Administrativo, no qual a alternativa apontada como
correta (“B”) passou a ser a “D”. Todavia, após recurso de um dos
candidatos, o gabarito foi novamente modificado para considerar como
correta a alternativa “B”.

Razão pela qual defende o embargante que houve violação aos


princípios da Administração Pública, especificamente os da legalidade,
impessoalidade, segurança jurídica, vinculação ao instrumento editalício e o
da publicidade, bem como à coisa julgada administrativa (I).

Sabe-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de


Justiça têm entendimento consolidado segundo o qual não compete ao
Poder Judiciário reavaliar os critérios empregados por banca examinadora
na correção de prova de concurso público, bem como avaliar a atribuição
de notas dada aos candidatos, ressalvado o exame da legalidade dos
procedimentos e a análise da compatibilidade entre o conteúdo cobrado e
o previsto no edital (STJ, AgInt no RMS n. 49.239/MS, DJe de 10/11/2016).

Firmada essa premissa, a análise do feito restringe-se à legalidade da


atuação da autoridade coatora, que teria alterado o gabarito oficial
definitivo, sem previsão prévia no Edital.
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De fato, da análise do Edital de Abertura do Concurso Público nº 001
/2022 (seq. 1.9), há previsão de recurso em face do gabarito provisório e do
resultado final da prova objetiva (itens “IV” e “V” do tópico 8).

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Todavia, inexiste previsão editalícia de recurso contra a decisão que
homologou o resultado dos recursos. Não o fosse, o candidato que não
concordasse oporia um recurso após o outro, sem limites.

No caso em tela, consta o seguinte, com relação ao cargo de Oficial


Administrativo:

1. Gabarito provisório, datado de 29/08/2022 (Edital nº 10/2022):


Questão 17 = B (seq. 1.6);

2. Gabarito definitivo, datado de 08/09/2022 (Edital nº 12/2022):


Questão 17 = D (seq. 1.7);

3. Gabarito definitivo, datado de 27/09/2022 (Edital nº 21/2022):


Questão 17 = B (seq. 1.8).

Inclusive, consta no Edital nº 21/2022 que houve acatamento do


recurso interposto pelo candidato Ademir Rodrigues de Carvalho, para o fim
de manter a alternativa “B” como resposta do gabarito preliminar para a
questão 17.

Saliente-se, ainda, que o cronograma do certame previu o seguinte


(Anexo VII):

Reprise-se que não se está aqui apreciando o acerto, ou não, da


Banca Examinadora quanto à correção e ao conteúdo da questão, até
porque não cabe ao Poder Judiciário substituí-la em tal tarefa, tampouco
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reexaminá-la. A análise resumiu-se tão somente ao aspecto da legalidade,
ou seja, da prática de atos em consonância com o Edital do certame, o qual
faz lei entre as partes envolvidas.

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Anote-se, por oportuno, que, em se tratando de concurso público, o
edital representa a lei do concurso e vincula as partes ao cumprimento e
observância das regras nele previstas. Assim, muito embora não se
desconheça o princípio da autotutela (súmulas nº 346 e nº 473 do STF), a
atuação administrativa deve respeitar os limites e os prazos que ela própria
fixou e traçou, sob pena de, atuando livremente e a qualquer tempo,
descumprir suas próprias normas e violar a segurança jurídica que se
espera do certame.

Nesses termos, verifica-se que o impetrante, a princípio, teria violado


o seu direito líquido e certo ao estrito cumprimento das normas editalícias.

Pois bem.

A concessão da liminar em mandado de segurança pressupõe a


relevância do fundamento e a possibilidade de o ato acarretar a ineficácia
da medida, caso seja finalmente deferida (art. 7º, III, da Lei nº 12.016/09).

Em análise ao feito, denota-se, nesta cognição, a presença de


verossimilhança da alegação apta a autorizar a concessão da providência
urgente.

Isso porque, mesmo após superada a discussão acerca da prova


objetiva com a publicação do resultado final, houve modificação do gabarito
definitivo, apesar de não haver mais possibilidade de recurso, fato este que
causou prejuízo à colocação do impetrante.

Dessa feita, sendo o edital a lei do concurso e com efeito vinculante


entre as partes, restou demonstrado que houve afronta ao princípio da
vinculação ao instrumento convocatório, a comprovar a verossimilhança
dos argumentos do impetrante.

Não bastasse, o impetrante alega, ainda, erro teratológico da questão


17 da prova para o cargo de Oficial Administrativo (II), ao passo que o
gabarito definitivo das provas aplicadas aos cargos de Auxiliar de Operação
e Manutenção (questão 25) e de Oficial Administrativo (questão 17)
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apresenta respostas diferentes para a mesma questão, justamente a
pergunta controvertida discutida no tópico “I” pelo impetrante.

Além disso, tendo o resultado sido homologado em 26/10/2022, há

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fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, tendo em
vista que o impetrante encontra-se empatado com o primeiro colocado,
perdendo em razão dos critérios de desempate, afastando a possibilidade
de ser convocado para tomar posse no cargo de Oficial Administrativo,
tendo em vista que há somente uma vaga.

Por certo que, sumariamente, há provas no sentido de que houve a


alteração de gabarito após o resultado final, especialmente pelos gabaritos
provisório e definitivo acostados às seq. 1.6 e 1.8, fato este que acarreta na
presunção de que o candidato, ora impetrante, foi prejudicado com tal ato.

Não se pode olvidar que, no caso, se trata de decisão provisória,


podendo haver modificação do entendimento se comprovada a legalidade
do certame.

Contudo, neste momento, infere-se preenchidos os requisitos legais,


mormente porque o indeferimento pode ensejar ainda mais prejuízo ao
impetrante.

Razão pela qual deve ser concedida a liminar pretendida, com


relação à interposição de recurso administrativo sem previsão legal e/ou
editalícia (I), diante da possibilidade de recontagem das pontuações finais,
e consequente alteração da classificação final dos candidatos em caso de
acolhimento da pretensão autora.

Quanto ao alegado erro teratológico da questão 17 da prova para o


cargo de Oficial Administrativo (II), por sua vez, necessária manifestação da
parte contrária.

3. Isto posto, CONCEDO a medida liminar para o fim de determinar à


autoridade coatora que se abstenha de nomear o candidato classificado em
primeiro lugar para o cargo de Oficial Administrativo, Sr. Ademir Rodrigues
de Carvalho, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais)
, sem prejuízo de anulação da nomeação.
PROJUDI - Processo: 0001681-68.2022.8.16.0145 - Ref. mov. 7.1 - Assinado digitalmente por Julio Cezar Vicentini:16901
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4. Notifique-se a coatora acerca da liminar concedida, bem como do
conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com
as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste

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as informações. Bem como inclua o Sr. Ademir Rodrigues de Carvalho
como terceiro interessado, notificando-o para que querendo passe a
integrar o feito.

5. Após, dê-se vista dos autos ao Ministério Público.

7. Demais diligências necessárias.

Ribeirão do Pinhal, 04 de novembro de 2022.

Julio Cezar Vicentini

Juiz de Direito

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