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EXCELENTÍSSIMO SR. DR.

JUIZ DO TRABALHO DA 3ª VARA DO TRABALHO


DE CUIABÁ-MT

FUTURO LDTA, sociedade empresaria já qualificada nos autos da presente ação por
meio do seu representante legal devidamente constituído, na Reclamação Trabalhista
proposta por WEDSKLEY, inconformado com a respeitável sentença ID xxx, vem, mui
respeitosamente perante a ilustre presença de Vossa Excelência, interpor RECURSO
ORDINÁRIO através das razões que seguem anexo.

I- DO CABIMENTO DO RECURSO
A decisão proferida na Vara do Trabalho trata-se de uma sentença, dessa forma
encerrando a atividade jurisdicional do Douto Juízo de primeira instância. Neste contexto, o
reexame da decisão supracitada só poderá ser feita através de Recurso Ordinário, conforme
preceitua o artigo 895, inciso I da CLT.
Dessa forma, preenchidos os pressupostos de admissibilidade, requer seja o presente
recurso processado e o seu mérito apreciado.

II- DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO


A sentença ora combatida foi publicada em 23/08/2023, segundo o art. 895, inc. I da
CLT tal recurso deverá ser apresentado no prazo de 8 dias, a contar da data posterior a
publicação seguindo o rito do Código de Processo Civil (CPC), ou seja, inicia-se na data de
24/08/2023. Portanto, o presente recurso é tempestivo dado que o prazo para sua interposição
corre até o dia 04/09/2023.
Por todo o exposto requer, após processado, a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal
Regional da 23ª Região e, ao cabo, o provimento do recurso. Em tempo informa que já
recolheu as custas e efetuou o depósito judicial como consta nos comprovantes em anexo.
Termos que
Pede deferimento.
Guarantã do Norte, 04 de setembro de 2023.

Sara Scopel da Silva


OAB/MT- XXX
RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO

Recorrente: Futuro LTDA


Recorrido: Wedskley
Autos nº 1000333-90-2022.0000.0001

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLENDA TURMA

NOBRES JULGADORES

I- PRELIMINARMENTE
I.1- DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA
Na sentença em tela o respeitável magistrado, em síntese, rejeitou preliminar suscitada
pela empresa e determinou o recolhimento da contribuição para o INSS relativo ao período
trabalhado mês a mês, para fins de aposentadoria. Porém, a incompetência para tal decisão é
amplamente difundida na legislação, como versa a Súmula Vinculante 53 do Superior
Tribunal Federal (STF):
Enunciado
A competência da Justiça do Trabalho prevista no art.
114, VIII, da Constituição Federal alcança a execução
de ofício das contribuições previdenciárias relativas
ao objeto da condenação constante das sentenças que
proferir e acordos por ela homologados. (grifo nosso)
Bem como a Súmula 368 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), in verbis:
Enunciado
368 DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS. IMPOSTO
DE RENDA. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE
PELO RECOLHIMENTO. FORMA DE CÁLCULO.
FATO GERADOR. I - A Justiça do Trabalho é
competente para determinar o recolhimento das
contribuições fiscais. A competência da Justiça do
Trabalho, quanto à execução das contribuições
previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias
em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de
acordo homologado, que integrem o salário de
contribuição. (ex-OJ nº 141 da SBDI-1 - inserida em
27.11.1998). (grifo nosso)
Nota-se Excelências, que a sentença possui cunho apenas declaratório e não
condenatório, pelo que a condenação não é de competência da Justiça do Trabalho e,
portanto, tal determinação não merece prosperar.

I.2- DA COISA JULGADA


Nesta sentença também, o nobre julgador rejeitou preliminar suscitada e
desconsiderou que a empresa havia feito um acordo em outro processo movido pelo mesmo
empregado, homologado em juízo, no qual pagou o prêmio de assiduidade, condenando-a
novamente ao pagamento dessa parcela.
Portanto, nos termos do art. 337, inc. VII do CPC, há de se alegar preliminarmente
pela parte reclamada a coisa julgada. Pois, como prevê o paragrafo único do art. 831 da CLT,
quando houver acordos estabelecidos entre as partes, seu termo vale como decisão
irrecorrível, ao passo que o art. 485, inc. V do CPC prevê que o juiz não resolverá o mérito
quando houver coisa julgada, ou seja, a condenação ao pagamento pela segunda vez é
totalmente descabida.

I.3- DA LITISPENDÊNCIA
O Magistrado rejeitou preliminar suscitada pela empresa e desconsiderou que em
relação às diárias postuladas, o autor tinha, comprovadamente, outra ação em curso com o
mesmo tema, que se encontrava em grau de recurso. Há de se considerar preliminarmente nos
termos do art. 337, inc. VI, bem como o art. 485, inc. V ambos do CPC que incumbe ao réu
antes de discutir o mérito alegar a litispendência, bem como o juiz não resolverá tal mérito ao
se constatar a litispendência. Sendo que esta deve ser reconhecida e o mérito deve ser
descartado.

II- HISTÓRICO PROCESSUAL


Trata-se de Reclamação Trabalhista movida por Wedskley em face da Recorrente.
Entretanto, a respeitável decisão do Magistrado da Vara do Trabalho julgou a ação
procedente, determinando a condenação da reclamada de forma subsidiaria a diversas
determinações que serão combatidas.
No mais, a sociedade empresária apresentou a ficha de registro de empregados do
reclamante, na qual se verifica que ele havia trabalhado de 08/07/2012 a 20/10/2022, sendo
que, nos anos de 2017 a 2019, permaneceu afastado em benefício previdenciário de auxílio-
doença comum (código B-31); a ficha financeira mostra que o empregado ganhava 2 salários
mínimos mensais e exercia a função de auxiliar de manutenção de equipamentos, fazendo
eventuais viagens para verificação de equipamentos em filiais da empresa.
Neste caso, a referida decisão não merece prosperar, motivo pelo qual deve a sentença
ser reformada, conforme os fundamentos que a seguir serão expostos:
III- DO MÉRITO
III.1- DA PRESCRIÇÃO CABÍVEL
A sentença não acolheu a prescrição parcial porque ela foi suscitada por este
advogado em razões finais, afirmando o magistrado que deveria sê-lo apenas na contestação,
tendo ocorrido preclusão; conforme prevê o art. 193 do Código Civil (CC) a prescrição pode
ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita, portanto, por se
tratar de matéria de ordem pública, tal prescrição deve ser reconhecida.

III.2- DA REINTEGRAÇÃO INDEVIDA


O Magistrado deferiu a reintegração do ex-empregado, Wedskley, porque ele foi
eleito presidente da Associação dos Defensores do Meio Ambiente dos empregados da
empresa, entidade criada pelos próprios empregados, sendo que a dispensa ocorreu em
dezembro de 2022, no decorrer do mandato do reclamante. Mas pelo que diz o art. 8, inc.
VIII da CF/88, é vedada a dispensa do funcionário SINDICALIZADO a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até
um ano após o final do mandato.
O que enseja no art. 543, § 3º da CLT que reforça a vedação da dispensa do
empregado do período de candidatura e possível eleição a dirigente sindical ou de
ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL. Portanto, o caso do ex-empregado não se encaixa em
nenhum dos casos previstos em lei, ao passo que a reintegração determinada é completamente
descabida!

III.3- DO DANO MORAL


O nobre julgador também deferiu indenização por dano moral, porque, pelo
confessado atraso no pagamento dos salários dos últimos 3 meses do contrato de trabalho, o
empregado teve seu nome inscrito em cadastro restritivo de crédito, conforme certidão do
SERASA juntada pelo reclamante demonstrando a inserção do nome do empregado no rol de
maus pagadores em novembro de 2020.
Assim, levando em consideração que o então reclamante foi dispensado em dezembro
de 2022, o atraso em questão é datado dos meses setembro, outubro e novembro do mesmo
ano mas a inserção no rol de maus pagadores do SPC/SERASA é muito anterior ao atraso,
sendo datada no ano de 2020. Portanto não há nexo causal nos termos dos arts. 196 e 927 do
CC para que a recorrente arque com a responsabilidade civil decorrente da inadimplência de
seu ex-funcionário.

III.4- DA CARTA DE REFERÊNCIA


Foi deferida a entrega de uma carta de referência para facilitar o autor na obtenção de
nova colocação, caso, no futuro, ele viesse a querer se empregar em outro lugar. Porém não
há sequer previsão legal para tal ato Excelências! E conforme determina a Constituição
Federal em seu art. 5, inc. II, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei, portanto não há de se falar nesse tipo de determinação judicial.

III.5- DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E FÉRIAS


O magistrado também deferiu o pagamento da participação nos lucros prevista na
convenção coletiva da categoria, nos anos de 2017 e 2018, em que o então reclamante estava
afastado em virtude de doença, pois confessadamente não havia sido paga. Contudo, ao ser
afastado, conforme determina o art. 476 da CLT o empregado é considerado em licença não
remunerada, durante o prazo desse benefício.
No mais, este não colaborou com a produtividade neste período, e pelo que versa a
Súmula 451 do TST:
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS.
RESCISÃO CONTRATUAL ANTERIOR À DATA DA
DISTRIBUIÇÃO DOS LUCROS. PAGAMENTO
PROPORCIONAL AOS MESES TRABALHADOS.
PRINCÍPIO DA ISONOMIA. (conversão da Orientação
Jurisprudencial nº 390 da SBDI-1) – Res. 194/2014,
DEJT divulgado em 21, 22 e 23.05.2014
Fere o princípio da isonomia instituir vantagem
mediante acordo coletivo ou norma regulamentar que
condiciona a percepção da parcela participação nos
lucros e resultados ao fato de estar o contrato de
trabalho em vigor na data prevista para a
distribuição dos lucros. Assim, inclusive na rescisão
contratual antecipada, é devido o pagamento da parcela
de forma proporcional aos meses trabalhados, pois o ex-
empregado concorreu para os resultados positivos da
empresa. (grifo nosso)
Por fim, o magistrado deferiu o pagamento da diferença de férias, porque o empregado
não fruiu 30 dias úteis no ano de 2021. Contudo, o art. 130, inc. I da CLT prevê que os 30
dias devidos são corridos e não úteis, portanto não há de se assistir diferença no pagamento
dada a previsão legal.
IV-DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer a Vossas Excelências o CONHECIMENTO do recurso, bem
como:
A) O acolhimento das preliminares reconhecendo a incompetência absoluta e a coisa
julgada quanto ao acordo para o pagamento o prêmio de assiduidade, e por fim,
determinando a litispendência em relação as diárias postuladas;

B) O total provimento do recurso para reformar a sentença ora combatida;

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Guarantã do Norte, 04 de setembro de 2023.

Sara Scopel
OAB/MT XXX

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