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DIREITO DAS
OBRIGAÇÕES
Cinthia Louzada
Ferreira Giacomelli
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-538-7
Introdução
As obrigações surgem no universo jurídico para que sejam cumpridas.
No entanto, não raras vezes, isso deixa de acontecer, gerando o inadim-
plemento obrigacional, que pode ser compreendido como um dever
descumprido que gera ao credor o direito de buscar o atendimento do
que foi pactuado com o devedor ou a reparação de perdas e danos, de
acordo com o caso concreto.
O inadimplemento pode ser classificado em absoluto ou relativo,
sendo cada espécie com características e repercussões jurídicas espe-
cíficas: do inadimplemento relativo, por exemplo, surge a mora, que
implica ao credor o direito de obter o que lhe é devido, acrescido de
juros, correção monetária e reparação de eventuais prejuízos.
Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de inadimplemento das
obrigações, quais são as suas espécies e o que é a mora.
Nesse sentido, prevê o artigo 389 do Código Civil que “Não cumprida a
obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários
de advogado” (BRASIL, 2002, documento on-line).
O inadimplemento da obrigação gera para o devedor o dever de prestar
ou indenizar, assim como, para o credor, há a faculdade de exigir. Não se
cogita nova obrigação: é a mesma que, não cumprida, sofre mutação objetiva
e passa a permitir a exigência de perdas e danos. No entanto, ressalta-se que
não se trata de regra absoluta, de maneira que a obrigação pode persistir
concomitantemente com a exigência de perdas e danos.
Portanto, o inadimplemento surge de uma falta do devedor, de algo que
deveria ter feito e não fez, ou a uma abstenção que não cumpriu. Diante dessa
perspectiva, é importante considerar os seguintes elementos: dolo ou culpa
na conduta do devedor.
Dolo é a infração do dever que é cometida voluntariamente, com a intenção
de não cumprir a obrigação, enquanto a culpa não contém o elemento da
vontade — o devedor não possui consciência da violação do dever. Na culpa,
como afirma Caio Mário Pereira (2009, p. 314), “[...] a ação é voluntária, no
que diz respeito à materialidade do ato gerador das consequências danosas,
mas o agente não procura o dano como objetivo de sua conduta, em procede
com a consciência da infração”.
No âmbito da culpa, destaca-se, ainda, a classificação contratual ou ex-
tracontratual. Culpa contratual é aquela que se refere a uma infração de-
corrente de cláusula de contrato celebrado entre as partes, enquanto a culpa
extracontratual (também conhecida como aquiliana) decorre do dever legal
de respeitar o bem jurídico alheio, de não causar dano a outrem. Tanto a culpa
contratual quanto a culpa extracontratual conduzem à mesma consequência:
a indenização.
A obrigação de pagar a indenização, independente da culpa, está subordi-
nada a estes princípios comuns:
É importante ressaltar que o dano emergente e o lucro cessante podem surgir juntos
ou separadamente. De fato, é plenamente razoável a verificação de situações nas
quais não há dano emergente mas há lucro cessante. Um exemplo: no furto de uma
máquina industrial que, furtada por alguns dias, retorna ao proprietário sem qualquer
dano, a privação do uso do equipamento por alguns dias já enseja um prejuízo, que
é a não aferição de valores no patrimônio do proprietário.
resulta um dano. A perda de uma chance será indenizada não de acordo com
o benefício esperado, mas com base em percentuais maiores ou menores de
probabilidade, que seguem regras de estatística, aplicáveis ao evento danoso.
Espécies de inadimplemento
O inadimplemento poderá ser absoluto ou relativo. Será absoluto caso a
obrigação não seja cumprida de acordo com o tempo, o lugar e a forma pac-
tuados, e nunca possa ser cumprida conforme convencionado. Essa hipótese
é verificada em duas situações: fatos relativos ao objeto da prestação, seja
o perecimento ou apenas a deterioração da coisa, ou fatos concernentes ao
interesse do credor na realização da prestação, como é o caso, por exemplo,
da recusa do devedor em cumprir a obrigação.
Ainda, o inadimplemento absoluto poderá ser total ou parcial: total, se a
obrigação deixar de ser cumprida na sua totalidade, e parcial, se a obriga-
ção compreender vários objetos e houver a entrega de apenas um deles, por
exemplo. Qualquer que seja o descumprimento, a obrigação principal poderá
ser convertida em dever de indenizar.
Nos casos de inadimplemento absoluto, a principal consequência é ao
pagamento de previsto no artigo 404 do Código Civil:
Mora
O adimplemento da obrigação se vincula, entre outros aspectos, ao tempo.
Quando uma das partes não cumpre o tempo de adimplir a obrigação, há um
atraso, ao qual chamamos de mora. Para Caio Mário Pereira (2009, p. 293),
“[...] a mora é este retardamento injustificado da parte de algum dos sujeitos
da relação obrigacional no tocante à prestação”. Embora a mora mais comum
seja do devedor, é importante destacar que a mora poderá ser tanto do credor
quanto do devedor.
Para que se configure a mora do devedor, há a necessidade primeira de
que a obrigação seja exigível. Não há mora de dívida vincenda. Quando a
obrigação é de prazo final determinado para o cumprimento, basta o advento
desde prazo para que o devedor se constitua em mora. Assim prevê o art. 397
do Código Civil:
Quanto às obrigações ilíquidas, elas não são exigíveis, até que se trans-
formem em valor certo, mas o art. 398 do Código Civil, ao tratar de obriga-
ções decorrentes de ato ilícito, prevê que o devedor estará em mora desde a
ocorrência do ato.
Outro aspecto importante para a caracterização da mora é a culpa. Além
da exigibilidade da obrigação, é necessário que haja culpa do devedor em não
a adimplir. Caio Mário Pereira (2009, p. 307) afirma que:
[...] se, no dia do vencimento da obrigação, por exemplo, houve greve bancá-
ria, não pode a instituição financeira cobrar juros e cláusula penal, pelo não
cumprimento da obrigação no vencimento. Escusa-se o devedor da mora, se
provar caso fortuito ou força maior. A culpa é essencial para a caracterização
da mora, ainda que esta deflua diretamente de fatos objetivos do contrato.
Inadimplemento das obrigações I 7
Assim, quando o credor constitui mora, o devedor exonera-se dos ônus pela
guarda da coisa. Essa exoneração somente será excluída se não houver dolo.
Ainda, na mora do credor, havendo oscilação de valores, o devedor pagará
com o valor que lhe for mais favorável.
A mora, enquanto efeito decorrente do inadimplemento relativo, poderá
ser purgada. A purgação da mora refere-se ao fato de sanar a falta cometida,
cumprindo a obrigação com a reparação de eventuais prejuízos causados ao
outro sujeito da relação obrigacional. Para Flávio Tartuce (2017, p. 219):
Referências
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 25 jul. 2018.
PEREIRA, C. M. S. Teoria geral das obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
TARTUCE, F. Direito das Obrigações e responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
Leituras recomendadas
DINIZ, M. H. Teoria geral das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2013.
VENOSA, S. S. Teoria geral das obrigações e dos contratos. São Paulo: Atlas, 2012.
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