“Inadimplemento é a não realização da prestação devida enquanto devida, na
medida em que essa falta de cumprimento corresponde a violação da norma legal ou
convencional imposta pelos usos que era especificamente dirigida ao devedor como dever de prestar ou ao credor como dever de receber”. Em regra, as obrigações são cumpridas voluntariamente, seja pelo devedor ou por terceiro. Quando a prestação devida não é efetuada, diz-se que houve o inadimplemento da obrigação. Quando a inexecução da obrigação advém de culpa latu sensu do devedor, diz-se que o inadimplemento é culposo, cabendo ao credor o direito de acionar os mecanismos para pleitear o cumprimento forçado. Quando a inexecução decorre de evento impossível de evitar ou impedir, o inadimplemento é fortuito. Inadimplemento absoluto: O inadimplemento é absoluto quando o cumprimento não poderá mais ser feito, ou o cumprimento não é mais útil ao credor. A Absolutividade é total quando atinge todo o objeto. Absolutividade parcial ocorre quando a obrigação abrange vários objetos e somente uma parcela deles é atingida. O inadimplemento é relativo quando o cumprimento da obrigação é imperfeito, como no caso de mora. "Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado" (art. 389).
Responsabilidade contratual e extracontratual:
O art. 389 é o fundamento legal da responsabilidade civil contratual. É a responsabilidade que deriva do contrato. Há também a responsabilidade que não deriva do contrato, mas sim do dever legal. É a responsabilidade extracontratual, aquiliana ou delitual. Em ambas as situações, o inadimplemento pode gerar a obrigação de restituir perdas e danos. Na responsabilidade contratual, o inadimplemento presume-se culposo. Cabe ao inadimplente provar a ocorrência de caso fortuito ou força maior para se eximir da culpabilidade. Por exemplo: O passageiro de um ônibus não precisa provar a negligência do motorista para exigir indenização caso haja acidente envolvendo o mesmo. É o motorista que deve alegar motivo maior para se livrar da culpa. Na extracontratual é o lesado que deve provar a culpa do causador do dano. Por exemplo: O pedestre que é atropelado deve provar que o motorista que o atropelou agiu com culpa para exigir indenização, não precisando o motorista provar que não. Porém, se a obrigação assumida no contrato for demeio, a culpa deve ser provada pelo lesado mediante ato negligente, imprudente ou imperito, mesmo a responsabilidade sendo contratual. Na responsabilidade contratual, não precisa o contratante provar a culpa do inadimplente, para obter reparação das perdas e danos, basta provar o inadimplemento. O ônus da prova, na responsabilidade contratual, competirá ao devedor, que deverá provar, ante o inadimplemento, a inexistência de sua culpa ou presença de qualquer excludente do dever de indenizar A responsabilidade civil surge em função do descumprimento obrigacional, pela desobediência de regra contratual – ou por deixar alguém de observar um preceito normativo que regula a vida. A responsabilidade contratual tem origem na convenção. Já a extracontratual tem origem na inobservância do dever genérico de não lesar outrem (neminem laedere). Os absolutamente capazes são os únicos que podem ser partes de um contrato. Por isso, a responsabilidade contratual só atinge essa figura. Já o dever genérico de não lesar a outrem pode ser inobservado tanto por capazes quanto por incapazes. Sendo assim, a responsabilidade extracontratual também atinge tais figuras. A graduação da responsabilidade delitual é muito maior que a contratual, indo a dimensões muito mais amplas. O direito civil, ao identificar um dano causado a outrem em decorrência de um ato ilícito, procura analisar prioritariamente esses aspectos: a) Dano existente; b) Nexo causal; c)Responsabilidade do agente causou;
O Dano há que se configurar efetivo, necessário é que se comprove a existência
de um dano real. Não basta existir um simples constrangimento ou um mero aborrecimento como o pagamento de uma multa devida, tem que existir um dano a valores morais da sociedade em que o indivíduo estiver inserido, ou um dano patrimonial indevido; – Há que necessariamente existir uma ligação entre ação ou omissão estreita entre a causa e o efeito, ou seja, o a toque o agente cometeu tem que resultar em um dano sofrido diretamente;– Há que se apurar a responsabilidade do agente no ato, omissão ou fato que causou o dano. Responsabilidade Subjetiva surge com um dano causado em razão de ato próprio imputado de pessoa, por quem ele responde, ou fato de coisa ou animal sob sua guarda. A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar, determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida. Segundo Maria Helena Diniz, a responsabilidade civil está relacionada com “a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato próprio imputado, de pessoas por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob guarda (responsabilidade subjetiva) ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva)”. O inadimplemento mínimo é uma das formas de controle da boa-fé sobre a atuação de direitos subjetivos. Atualmente, é possível questionar a faculdade do exercício do direito potestativo a resolução do contratual pelo credor, em situações caracterizadas pelo cumprimento de substancial parcela do contrato pelo devedor, mas em que, todavia, não tenha suportado adimplir uma pequena parte da obrigação. Responsabilidade objetiva é a responsabilidade sem culpa. O agente é responsabilizado por ser previsto legalmente que será responsável, estão inseridos nesta categoria os que praticam atividade de “risco”. A teoria do risco, originária do Direito Francês, determina que certas atividades estão sujeitas a causar danos, portanto, estão inseridas nas atividades de risco para efeito de indenização. Atinge essa teoria principalmente os que fomentam atividades coletivas, o Estado que se responsabiliza pelos atos dos seus agentes e principalmente as atividades que correm o risco de danificar o meio ambiente, o ambiente social. A violação positiva do contrato, que com a culpa in contrahendo tem sido considerada como uma das grandes descobertas doutrinárias após a publicação do Código Civil alemão deve a sua paternidade ao berlinense H. Staub, em1902,O BGB, no § 280, regula a obrigação do devedor de indenizar o credor quando a prestação se torne impossível, e no § 286, a de indenizar o credor pelos danos causados pela sua mora, ou seja, no Código civil alemão, o devedor responde pela não-realização da prestação, em que o devedor viola a obrigação através de uma atuação positiva: fazendo o que deveria omitir ou efetuando a conduta, mas em termos imperfeitos. É essa conduta que Staub passou a chamar de violação positiva do contrato, afirmando que a lacuna derivada desse silêncio deveria ser integrada pela aplicação analógica do regime da mora. Qualquer violação positiva p o d e s e r s e m p r e e q u i p a r a d a a u m n ã o - cumprimento de normas. A solução estaria em, por aplicação analógica da mora, reconhecer à parte que atuou deforma leal ao contrato a possibilidade de escolher entre três caminhos: a) manter o contrato e exigir indenização por cada violação singular; b) exigir uma indenização geral pelo descumprimento do contrato; c) rescindi-lo “Os incontáveis casos nos quais alguém descumpre uma relação por meio de atuação positiva, nos quais alguém pratica aquilo de que deveria abster-se, ou efetua a prestação que deveria ser efetuada, mas de forma defeituosa. ” Assim, temos que essas atuações positivas ou o cumprimento defeituoso causam danos a parte, devido a não observância de um dever lateral de conduta, advindo do princípio da boa-fé, principalmente do seu vetor confiança. O nome de violação positiva do contrato foi bastante criticado, mas agora já se encontra consagrado. Entretanto, alguns autores preferem utilizar termos como “cumprimento defeituoso” ou “cumprimento imperfeito”. Assim a violação positivad o c o n t r a t o a g i r i a d e f o r m a s u b s i d i á r i a , a b a r c a n d o t o d o s o s c a s o s q u e n ã o s e e n q u a d r a r i a m n o c o n c e i t o d e impossibilidade e de mora dentro da doutrina alemã. Podemos destacar três categorias de deveres laterais que podem ensejar a violação positiva do contrato: deveres de proteção, informação e cooperação. Então, estes deveres alcançam todos os interesses conexos à execução do contrato. Excluem-se de seu âmbito todos aqueles deveres que não possam ser relacionados como necessários à realização da prestação. O não cumprimento da obrigação, ou seu cumprimento imperfeito gera a obrigação de indenizar as perdas e danos. O ressarcimento das perdas e danos tem o objetivo de recompor o patrimônio da parte lesada. Por isso, deve ser proporcional ao prejuízo sofrido. A contagem do prejuízo inclui, além, do que se perdeu o que se deixou de lucrar. "Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplemento desde o dia em que executou o ato de que se devia abster" (art. 390). Nas obrigações constituídas por uma série de abstenções, o credor pode mover ação de cunho cominatório para impedir o reiteramento do devedor de uma dessas abstenções. Se a obrigação for de prestação única, pode o credor, além das perdas e danos, exigir o desfazimento do que foi realizado (art. 251). Responsabilidade patrimonial: "Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor" (art. 391). Quando as perdas e danos são decretadas e o pagamento não é feito, a execução será forçada, sendo que todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento, ou seja, uma eventual penhora pode recair sobre qualquer bem do devedor. Contudo, ninguém pode ser preso por dívida civil, exceto o depositário infiel e o devedor de pensão de direito de família. Contratos benéficos e onerosos: "Nos contratos benéficos, responde por simples culpa contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei" (art. 392). Contrato benéfico é o gratuito, ou seja, somente a uma parte este é vantajoso, cabendo a outra apenas os deveres, como a doação. Aquele que não se aproveita em nada com o contrato não deve ser penalizado por agir culposamente. Porém, o não cumprimento doloso gera indenização, pois ninguém pode descumprir deliberadamente uma obrigação contraída livremente. No contrato oneroso, as duas partes estão em igualdade, com direitos e deveres recíprocos. Sendo assim, ambos respondem da mesma forma pela culpa e pelo dolo. Inadimplemento fortuito da obrigação: "O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado" (art. 393, caput). As partes podem, porém, estabelecer a responsabilização do devedor mesmo que o inadimplemento ocorra sem sua culpa (pacta sunt servanda). As circunstâncias que causaram a impossibilidade de prestação pela parte do devedor podem ser provocadas por ato de terceiro, do credor, por caso fortuito ou força maior ou por até mesmo ato do devedor, quando não houver culpa do mesmo. Em qualquer dos casos, a exoneração da culpa depende de que:
a) A impossibilidade seja objetiva;
b) A impossibilidade seja superveniente e inevitável. Por exemplo: Aquele que celebra uma obrigação de fazer um show em local que está em guerra não pode alegar que não cumpriu a obrigação devido aos perigos da situação do local, pois era ciente das condições do mesmo. c) A impossibilidade seja irresistível, isto é, fora do alcance do devedor. Modernamente, tem-se adotado a teoria do exercício da atividade perigosa, no qual o caso fortuito ligado à coisa ou à pessoa, como a quebra de uma peça do caminhão que bate, é de responsabilidade do devedor. Somente o "fortuito externo", advindo de fenômeno natural, como a chuva, seria escusável nesse caso.