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ESPÉCIES DE

RESPONSABILIDADE
RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE
PENAL

https://www.youtube.com/watch?v=p0p2gHycEV4

• A palavra “responsabilidade” origina-se do latim respondere,


que encerra a ideia de segurança ou garantia da restituição
ou compensação do bem sacrificado.

• Teria, assim, o significado de recomposição, de obrigação


de restituir ou ressarcir.
• Entre os romanos não havia nenhuma distinção entre
responsabilidade civil e responsabilidade penal. Tudo,
inclusive a compensação pecuniária, não passava de uma
pena imposta ao causador do dano.

• A Lex Aquilia começou a fazer uma leve distinção: embora a


responsabilidade continuasse sendo penal, a indenização
pecuniária passou a ser a única forma de sanção nos casos de
atos lesivos não criminosos.
Discorrendo a respeito da distinção entre responsabilidade civil
e responsabilidade penal, escreveu Aguiar Dias: “Para efeito
de punição ou da reparação, isto é, para aplicar uma ou outra
forma de restauração da ordem social é que se distingue: a
sociedade toma à sua conta aquilo que a atinge diretamente,
deixando ao particular a ação para restabelecer-se, à custa do
ofensor, no statu quo anterior à ofensa. Deixa, não porque se
não impressione com ele, mas porque o Estado ainda mantém
um regime político que explica a sua não intervenção.
Restabelecida a vítima na situação anterior, está desfeito o
desequilíbrio experimentado.”.
 Quando ocorre uma colisão de veículos, POR EXEMPLO, o
fato pode acarretar a responsabilidade civil do culpado,
que será obrigado a pagar as despesas com o conserto do
outro veículo e todos os danos causados.

 Mas poderá acarretar, também, a sua responsabilidade


penal, se causou ferimentos em alguém e se se configurou
o crime do art. 129, § 6º, ou o do art. 121, § 3º, do Código
Penal.

Isto significa que uma ação, ou uma omissão, pode acarretar a


responsabilidade civil do agente, ou apenas a responsabilidade
penal, ou ambas as responsabilidades.
• No caso da responsabilidade penal, o agente infringe uma
norma de direito público. O interesse lesado é o da
sociedade.

• Na responsabilidade civil, o interesse diretamente lesado


é o privado. O prejudicado poderá pleitear ou não a
reparação.
Enquanto a responsabilidade penal é PESSOAL,
intransferível, respondendo o réu com a privação de sua
liberdade, a responsabilidade civil é PATRIMONIAL: é o
patrimônio do devedor que responde por suas obrigações.
Ninguém pode ser preso por dívida civil, exceto o devedor de
pensão oriunda do direito de família.

Desse modo, se o causador do dano e obrigado a indenizar


não tiver bens que possam ser penhorados, a vítima
permanecerá irressarcida.
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E
EXTRACONTRATUAL

https://www.youtube.com/watch?v=i-cDXULIh-g
 Uma pessoa pode causar prejuízo a outrem por descumprir
uma obrigação contratual. POR EXEMPLO: quem toma um
ônibus tacitamente celebra um contrato, chamado contrato
de adesão, com a empresa de transporte.

Esta, implicitamente, assume a obrigação de conduzir o


passageiro ao seu destino, são e salvo.

Se, no trajeto, ocorre um acidente e o passageiro fica ferido,


dá-se o inadimplemento contratual, que acarreta a
responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos
termos do art. 389 do Código Civil.
 Acontece o mesmo quando o comodatário não devolve a
coisa emprestada porque, por sua culpa, ela pereceu.

 Com o ator, que não comparece para dar o espetáculo


contratado.

Enfim, com todas as espécies de contratos não adimplidos.


Quando a responsabilidade não deriva de contrato, diz-se que
ela é extracontratual.

Neste caso, aplica-se o disposto no art. 186 do Código Civil.

Todo aquele que causa dano a outrem, por culpa em sentido


estrito ou dolo, fica obrigado a repará-lo.

É a responsabilidade derivada de ilícito extracontratual,


também chamada AQUILIANA.
Na responsabilidade extracontratual, o agente infringe um
dever legal, e, na contratual, descumpre o avençado,
tornando-se inadimplente.

Nesta, existe uma convenção prévia entre as partes que não é


cumprida. Na responsabilidade extracontratual, nenhum
vínculo jurídico existe entre a vítima e o causador do dano,
quando este pratica o ato ilícito.
O Código Civil distinguiu as duas espécies de
responsabilidade, disciplinando genericamente a
responsabilidade extracontratual nos arts. 186 a 188 e 927 a
954; e a contratual nos arts. 389 e s. e 395 e s., omitindo
qualquer referência diferenciadora.
DIFERENCIAÇÕES GERALMENTE APONTADAS ENTRE AS
DUAS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE

• A primeira, e talvez mais significativa, diz respeito ao ônus


da prova.

 Se a RESPONSABILIDADE É CONTRATUAL, o credor só


está obrigado a demonstrar que a prestação foi
descumprida.

O devedor só não será condenado a reparar o dano se provar


a ocorrência de alguma das excludentes admitidas na lei: culpa
exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. Incumbe-lhe,
pois, o onus probandi.
 Se a responsabilidade for EXTRACONTRATUAL, a do art.
186 (um atropelamento, POR EXEMPLO), o autor da ação
é que fica com o ônus de provar que o fato se deu por
culpa do agente (motorista).
A vítima tem maiores probabilidades de obter a condenação do
agente ao pagamento da indenização quando a sua
responsabilidade deriva do descumprimento do contrato, ou
seja, quando a responsabilidade é contratual, porque não
precisa provar a culpa. Basta provar que o contrato não foi
cumprido e, em consequência, houve o dano.
• Outra diferenciação que se estabelece entre a
responsabilidade contratual e a extracontratual diz respeito
às fontes de que promanam.

Enquanto a CONTRATUAL tem a sua origem na convenção,


a EXTRACONTRATUAL a tem na inobservância do dever
genérico de não lesar, de não causar dano a ninguém
(neminem laedere), estatuído no art. 186 do Código Civil.
• Outro elemento de diferenciação entre as duas espécies de
responsabilidade civil refere-se à capacidade do agente
causador do dano.

Josserand entende que a CAPACIDADE sofre limitações no


terreno da responsabilidade simplesmente contratual, sendo
mais ampla no campo da responsabilidade extracontratual.

A convenção exige agentes plenamente capazes ao tempo de


sua celebração, sob pena de nulidade e de não produzir efeitos
indenizatórios.
Na hipótese de obrigação derivada de um delito, o ato do
INCAPAZ pode dar origem à reparação por aqueles que
legalmente são encarregados de sua guarda.

E a tendência de nosso Direito é para a ampliação da


responsabilidade delituosa dos incapazes, como se pode
verificar pelo art. 928 do Código Civil, que responsabiliza os
incapazes em geral (privados de discernimento para atos da
vida civil, menores etc.) pelos prejuízos que causarem.
De acordo com o Código Civil, o menor de 18 anos de idade é,
em princípio, irresponsável, mas poderá responder pelos
prejuízos que causar, como visto, se as pessoas por ele
responsáveis não dispuserem de meios suficientes.

No campo CONTRATUAL, este mesmo menor somente se


vinculará se celebrar a convenção devidamente representado
ou assistido por seu representante legal, salvo se, já tendo 16
anos, maliciosamente declarou-se maior (art. 180).
Razão assiste, pois, a Josserand quando considera a
capacidade jurídica bem mais restrita na responsabilidade
contratual do que na derivada de atos ilícitos, porque estes
podem ser perpetrados por amentais e por menores e podem
gerar o dano indenizável, ao passo que somente as pessoas
plenamente capazes são suscetíveis de celebrar convenções
válidas.
• Outro elemento de diferenciação poderia ser apontado no
tocante à gradação da culpa.

Em regra, a responsabilidade, seja extracontratual (art. 186),


seja contratual (arts. 389 e 392), funda-se na culpa.

A obrigação de indenizar, em se tratando de delito, deflui da


lei, que vale erga omnes.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E
RESPONSABILIDADE OBJETIVA

https://www.youtube.com/watch?v=8h8rzGeRd7Q

https://www.youtube.com/watch?v=xdrseiSELqQ
• Conforme o fundamento que se dê à responsabilidade, a
CULPA será ou não considerada elemento da obrigação de
reparar o dano.

• Em face da TEORIA CLÁSSICA, a culpa era fundamento da


responsabilidade. Esta teoria, também chamada de teoria da
culpa, ou “subjetiva”, pressupõe a culpa como fundamento
da responsabilidade civil. Em não havendo culpa, não há
responsabilidade.
• Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se
esteia na ideia de culpa.

• A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto


necessário do dano indenizável.

• Nessa concepção, a responsabilidade do causador do dano


somente se configura se agiu com dolo ou culpa.
• A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas
situações, a reparação de um dano independentemente de
culpa. Quando isto acontece, diz-se que a responsabilidade
é legal ou “objetiva”, porque prescinde da culpa e se
satisfaz apenas com o DANO e o NEXO DE
CAUSALIDADE.

• Esta teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado


que todo dano é indenizável, e deve ser reparado por quem
a ele se liga por um nexo de causalidade,
independentemente de culpa.
• A CLASSIFICAÇÃO CORRENTE E TRADICIONAL, pois,
denomina objetiva a responsabilidade que independe de
culpa. Esta pode ou não existir, mas será sempre
irrelevante para a configuração do dever de indenizar.

• Indispensável será a relação de causalidade entre a ação


e o dano, uma vez que, mesmo no caso de
responsabilidade objetiva, não se pode acusar quem não
tenha dado causa ao evento.

• Nessa classificação, os casos de culpa presumida são


considerados hipóteses de responsabilidade subjetiva, pois
se fundam ainda na culpa, mesmo que presumida.
• Na RESPONSABILIDADE OBJETIVA prescinde-se
totalmente da prova da culpa.

• Ela é reconhecida independentemente de culpa.

• Basta, assim, que haja relação de causalidade entre a ação


e o dano.
Miguel Reale:

“Responsabilidade subjetiva, ou responsabilidade objetiva?


Não há que fazer essa alternativa. Na realidade, as duas
formas de responsabilidade se conjugam e se dinamizam.
Deve ser reconhecida, penso eu, a responsabilidade subjetiva
como norma, pois o indivíduo deve ser responsabilizado, em
princípio, por sua ação ou omissão, culposa ou dolosa. Mas
isto não exclui que, atendendo à estrutura dos negócios, se
leve em conta a responsabilidade objetiva. Este é um ponto
fundamental”.
Miguel Reale:

“Pois bem, quando a estrutura ou natureza de um negócio jurídico – como


o de transporte, ou de trabalho, só para lembrar os exemplos mais
conhecidos – implica a existência de riscos inerentes à atividade
desenvolvida, impõe-se a responsabilidade objetiva de quem dela tira
proveito, haja ou não culpa. Ao reconhecê-lo, todavia, leva-se em conta a
participação culposa da vítima, a natureza gratuita ou não de sua
participação no evento, bem como o fato de terem sido tomadas as
necessárias cautelas, fundadas em critérios de ordem técnica. Eis aí
como o problema é posto, com a devida cautela, o que quer dizer, com a
preocupação de considerar a totalidade dos fatores operantes, numa
visão integral e orgânica, num balanceamento prudente de motivos e
valores”.
• A inovação constante do parágrafo único do art. 927 do
Código Civil é significativa e representa, sem dúvida, um
avanço, entre nós, em matéria de responsabilidade civil.

• Pois a admissão da responsabilidade sem culpa pelo


exercício de atividade que, por sua natureza, representa
risco para os direitos de outrem, da forma genérica como
consta do texto, possibilitará ao Judiciário uma ampliação
dos casos de dano indenizável.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL POR ATOS
ILÍCITOS E LÍCITOS (FUNDADA NO RISCO E
DECORRENTE DE FATOS PERMITIDOS POR LEI)

https://www.youtube.com/watch?v=alhi19i3XfE
• Via de regra a obrigação de indenizar assenta-se na prática
de um fato ilícito.

• É o caso, POR EXEMPLO, do motorista, que tem de pagar


as despesas médico-hospitalares e os lucros cessantes da
vítima que atropelou, por ter agido de forma imprudente,
praticando um ato ilícito.
Outras vezes, no entanto, essa obrigação pode decorrer do
exercício de uma atividade perigosa.

O dono da máquina que, em atividade, tenha causado dano a


alguém (acidentes de trabalho, POR EXEMPLO) responde
pela indenização não porque tenha cometido propriamente um
ato ilícito ao utilizá-la, mas, sim, por ser quem, utilizando-a em
seu proveito, suporta o risco (princípio em que se funda a
responsabilidade objetiva).
Em outros casos, ainda, a obrigação de indenizar pode nascer
de fatos permitidos por lei e não abrangidos pelo chamado
risco social.

Alguns EXEMPLOS expressivos podem ser mencionados,


dentre outros:

o o dos atos praticados em estado de necessidade,


considerados lícitos pelo art. 188, II, do Código Civil, mas
que, mesmo assim, obrigam o seu autor a indenizar o dono
da coisa, como prevê o art. 929 do mesmo diploma;
o o do proprietário que penetra no imóvel vizinho para fazer
limpeza, reformas e outros serviços considerados
necessários (art. 1.313 do CC).
PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

https://www.youtube.com/watch?v=EM6r_v_XRPw
O art. 186 do Código Civil consagra uma regra universalmente
aceita: A DE QUE TODO AQUELE QUE CAUSA DANO A
OUTREM É OBRIGADO A REPARÁ-LO.

Estabelece o aludido dispositivo legal, informativo da


responsabilidade aquiliana: “AQUELE QUE, POR AÇÃO OU
OMISSÃO VOLUNTÁRIA, NEGLIGÊNCIA OU
IMPRUDÊNCIA, VIOLAR DIREITO E CAUSAR DANO A
OUTREM, AINDA QUE EXCLUSIVAMENTE MORAL,
COMETE ATO ILÍCITO”.
A análise do artigo evidencia que quatro são os elementos
essenciais da responsabilidade civil: ação ou omissão, culpa
ou dolo do agente, relação de causalidade e o dano
experimentado pela vítima.

a) AÇÃO OU OMISSÃO – Inicialmente, refere-se a lei a


qualquer pessoa que, por ação ou omissão, venha a causar
dano a outrem.

A responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de


terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos
causados por coisas e animais que lhe pertençam.
b) CULPA OU DOLO DO AGENTE – Todos concordam em
que o art. 186 do Código Civil cogita do dolo logo no início:
“ação ou omissão voluntária”, passando, em seguida, a
referir-se à culpa: “negligência ou imprudência”.
c) RELAÇÃO DE CAUSALIDADE – É a relação de causa e efeito entre a
ação ou omissão do agente e o dano verificado.

Vem expressa no verbo “causar”, utilizado no art. 186.

Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano, mas sua
causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a
relação de causalidade e também a obrigação de indenizar.

Se, POR EXEMPLO, o motorista está dirigindo corretamente e a vítima,


querendo suicidar-se, atira-se sob as rodas do veículo, não se pode
afirmar ter ele “causado” o acidente, pois na verdade foi um mero
instrumento da vontade da vítima, esta sim responsável exclusiva pelo
evento.
d) DANO – Sem a prova do dano, ninguém pode ser
responsabilizado civilmente.

O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja,


sem repercussão na órbita financeira do ofendido.

O Código Civil consigna um capítulo sobre a liquidação do


dano, ou seja, sobre o modo de se apurarem os prejuízos e a
indenização cabível.

A inexistência de dano é óbice à pretensão de uma reparação,


aliás, sem objeto.

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