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Trabalho de Luciana:

Trate da Responsabilidade Civil, do seu conceito, quais seus elementos e, ao final, explique,
elucide e se posicione quanto à teoria aplicada em relação ao nexo causal como elemento da
Responsabilidade Civil bem como também da diferenciação entre as modalidades de
Responsabilização Objetiva e Subjetiva, esclarecendo ainda aspectos relevantes sobre o
elemento culpa no direito civil.

Conceito de Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil funda-se no primado do restabelecimento do equilíbrio jurídico e


patrimonial afetado por uma conduta que transgrediu norma preexistente, recuperando o
statu quo ante. Nessa linha, afirma Venosa (2010, p. 2-3):

Os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um equilíbrio patrimonial e moral


violado. Um prejuízo ou dano não reparado é um fator de inquietação social. Os
ordenamentos contemporâneos buscam alargar cada vez mais o dever de indenizar,
alcançando novos horizontes, a fim de que cada vez menos restem danos irressarcidos.

A responsabilização civil é, pois, o instituto da reparação do dano, através do qual se visa


restabelecer o equilíbrio prejudicado pelo dano injusto, visando, em outras palavras, restituir o
prejudicado ao statu quo ante. O prejuízo deve ser indenizado por quem o causou,
restabelecendo a pacificação na sociedade. Nessa linha, Maria Helena Diniz (2012, p. 37)
conceitua responsabilidade civil como “a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar
dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de
pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de
simples imposição legal”.

Com isso, o indivíduo que pratica um ato ou incorra em omissão que cause um dano a outrem,
deve suportar as consequências de seu procedimento danoso, sendo o instituto da
responsabilidade civil destinado a estabelecer regras para tanto.

Não se pode falar que o fato de se responsabilizar alguém pelo dano praticado conduz ao
enriquecimento indevido da vítima, uma vez que através da responsabilidade civil se busca
restabelecer o equilíbrio quebrado pelo dano injusto, compensando a vítima pelo prejuízo
sofrido, não existindo, pois, um acréscimo patrimonial, mas apenas uma compensação pelo
dano vivenciado.
Por outro lado, também não se busca a ruína patrimonial para quem praticou o ato ilícito. Não
obstante o caráter sancionador da obrigação de reparar, mormente em sede de indenização
por danos morais, o fim primordial do instituto ora analisado é o restabelecimento da situação
anterior ao fato contrário ao ordenamento.

O sentimento de justiça e manutenção da convivência harmônica e equilibrada recai na


imposição de deveres que devem ser observados pelos indivíduos que compõem a sociedade.
Estes deveres são denominados de “originários” ou “primários” e decorrem do ordenamento
jurídico ou das relações negociais entre os sujeitos de direitos (contratos).

Tais deveres podem se exteriorizar em deveres de dar, fazer ou não fazer, ou, de forma mais
genérica, exterioriza-se no dever geral que governa as relações privadas extracontratuais, qual
seja, no dever de não causar dano a outrem (neminem laedere), conforme Sergio Cavalieri
Filho (2009, p. 1):

Para atingir esse desiderato, a ordem jurídica estabelece deveres que, conforme a natureza do
direito a que correspondem, podem ser positivos, de dar ou fazer, como negativos, de não
fazer ou tolerar alguma coisa. Fala-se, até, em um dever geral de não prejudicar ninguém,
expresso pelo Direito Romano através da máxima neminem laedere.

O descumprimento do dever originário faz surgir o ilícito, entendido como toda ação ou
omissão que viola uma norma pré-existente e que causa dano a terceiro, provocando o
surgimento do dever secundário ou derivado, que é o dever de reparação do dano causado. A
acepção que se faz de responsabilidade, portanto, está ligada ao surgimento de uma obrigação
derivada, ou seja, um dever jurídico sucessivo (GAGLIANO et al, 2008, p. 2). Nessa linha são as
palavras de Sergio Cavalieri Filho (2009, p. 2):

A violação de um dever jurídico configura o ilícito, que, quase sempre, acarreta dano para
outrem, gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano. Há, assim, um dever
jurídico originário, chamado por alguns de primário, cuja violação gera um dever jurídico
sucessivo, também chamado de secundário, que é o de indenizar o prejuízo. A título de
exemplo, lembramos que todos têm o dever de respeitar a integridade física do ser humano.
Tem-se, aí, um dever jurídico originário, correspondente a um direito absoluto. Para aquele
que descumprir esse dever surgirá um outro dever jurídico: o da reparação do dano.

A responsabilidade é um dever jurídico sucessivo que surge para reparar o dano decorrente da
transgressão de um dever jurídico originário. Desta forma, segundo Carlos Roberto Gonçalves
(2012, p. 24), toda conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa dano a
outrem é fonte geradora de responsabilidade civil. Nessa linha, Sergio Cavalieri Filho (2009, p.
2) conceitua responsabilidade civil da seguinte forma:
Em apertada síntese, responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para
recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. Só se cogita,
destarte, de responsabilidade civil onde houver violação de um dever jurídico e dano. Em
outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir o prejuízo decorrente da violação
de um outro dever jurídico. E assim é porque a responsabilidade pressupõe um dever jurídico
preexistente, uma obrigação descumprida.

Pablo Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2008, p. 9) expõem que a responsabilidade civil
deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando assim, o infrator, ao
pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado
anterior de coisas.

O contrato também faz surgir, para as partes, um dever primário, que é o cumprimento da
avença. Ressalvadas as hipóteses de resolução da obrigação contratual por onerosidade
excessiva e exceção de contrato não cumprido, o inadimplemento faz surgir o dever
secundário, traduzido na reparação do dano decorrente do descumprimento contratual.

Destarte, é imprescindível a transgressão do dever originário, bem como do dano efetivo, em


sede de responsabilidade civil, para caracterização da obrigação sucessiva de indenizar,
malgrado algumas exceções. Apesar da responsabilidade civil ser um instituto do direito
obrigacional, diferencia-se da obrigação por ser um dever sucessivo que nasce do
descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato,
ou por deixar, determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida, por
enquanto que a obrigação é um dever jurídico originário (CARVALHO, 2011, p. 302).

O próprio Código Civil faz essa distinção entre obrigação e responsabilidade na redação de seu
artigo 389, que dispõe que “Não cumprida a obrigação [obrigação originária], responde o
devedor por perdas e danos [...]” que é dever sucessivo. Desta maneira que é a obrigação
sucessiva, ou seja, a responsabilidade.

A doutrina em geral, ao tratar da teoria geral das obrigações destaca dois momentos distintos:
primeiramente o do débito (Schuld), consistente na obrigação do devedor de realizar
determinada prestação; e, em segundo lugar, o da responsabilidade (Haftung), na qual se
faculta ao credor a atacar o patrimônio do devedor com o desiderato de ser indenizado pelo
descumprimento da obrigação originária.
Outro conceito de Responsabilidade Civil

Responsabilidade civil é a obrigação imposta pela lei de reparar os danos causados a outra
pessoa. De acordo com o Código Civil prevê, no art. 186, quem violar direito ou causar dano a
outra pessoa, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, comete ato ilícito.

Já o art. 187 regulamenta que também comete ato ilícito a pessoa que ao exercer seu direito,
age com excesso. Finalmente, o art. 927 regulamenta que a pessoa que incorrer nas atitudes
previstas nos artigos 186 e 187 fica obrigado a reparar o dano causado.

Elementos da Responsabilidade Civil

Requisitos da responsabilidade civil

Para que seja configurada a responsabilidade civil é preciso que estejam presentes os
seguintes requisitos:

conduta;

dano;

nexo causal;

culpa — este aplicável somente a uma modalidade.

Ou seja, deve acontecer um fato (por ação ou omissão do agente) que cause dano a outra
pessoa, devendo existir relação entre o fato e o dano (nexo causal) e, em alguns casos,
deverá ser comprovada a culpa.

A culpa pode se caracterizar nos casos em que houve a intenção de causar o dano —
chamada de “dolo” — ou quando o agente atuou com negligência, imprudência ou imperícia.

A negligência acontece quando a pessoa sabe que deve ter determinada atitude, mas deixa
de fazer o que era necessário. Por exemplo, quando o empregador deixa de fornecer
equipamentos de proteção individual para os empregados.

Já a imprudência se configura quando a pessoa deixa de cumprir regras que teriam evitado o
fato ou quando age sem cautela. É o caso de um acidente por excesso de velocidade.
Por fim, a imperícia ocorre pela falta de qualificação ou ausência de conhecimentos do
profissional para realizar determinada atividade. Acontece, por exemplo, quando o dano é
causado pelo despreparo do operador para trabalhar com determinado equipamento.

Nexo causal

O nexo causal ou nexo de causalidade é o grande protagonista da responsabilidade civil. É o


vínculo lógico entre determinada conduta e o dano suportado pelo agente. Sem a análise
desse liame não se pode identificar, no mundo dos fatos, a causa do dano nem seu causador.
Não é, entretanto, apenas um fato que contribuiu para a ocorrência do dano, mas a
interpretação que se faz sobre ele.

Diz o artigo 13 do nosso Código Penal que o resultado é imputável a quem


lhe deu causa. Não basta a prática da conduta ilícita, é necessário que ela
seja a causa do dano. Cuida-se de saber se um determinado resultado é
imputável ao agente. A correta determinação do nexo de causalidade serve
para identificar quem causou o dano e tem também o propósito de identificar
o próprio conteúdo da responsabilidade, porquanto delimita até onde o
autor pode responder.
No direito civil brasileiro a investigação dos critérios do nexo causal
ocorre por meio da identificação da teoria explicativa a ser utilizada. O
julgador deverá resguardar o princípio da probabilidade, da razoabilidade e da
equidade e o nexo deve ser analisado caso a caso, com base nas provas
produzidas.
A conclusão sobre a causa do dano pode ser diversa conforme a
valoração que se faça de cada uma das causas fáticas que compõem o conjunto
de causas que se apresentam como possíveis. Além da identificação e da

adoção das teorias explicativas também é importante a distinção entre


causa e condição para fins de verificação do nexo causal e da consequente
imputação de responsabilidade.
Condições são eventos antecedentes à causa. São diferentes de causas,
mas podem influenciar ou até mesmo possibilitar a sua ocorrência.1 Existem
várias condições, mas só será considerada causa aquela que tenha um caráter
determinante na realização de um dano.
A ideia de causa pressupõe que o efeito dela decorra
necessariamente, o que não acontece quando há um conjunto de causas.
Assim, mostrou-se útil a concepção de causação do economista John Stuart Mill,
constante da obra A system of logic, publicada em 1843, segundo a qual ao invés
de se considerar como causas cada um dos antecedentes necessários,
escolheu-se dar importância para o caráter da necessidade da relação entre
causa e efeito, reduzindo a questão a uma causa só. Segundo esse modelo,
cada antecedente necessário, isoladamente considerado não constitui uma
causa, porém, identifica-se como causa somente o conjunto desses
antecedentes como um todo.2
Em um acidente de trânsito, por exemplo, em que uma pessoa vai ajudar
os feridos e se queima, ficando impossibilitado para o trabalho. Nenhum dano
teria acontecido sem o acidente. O responsável pelo acidente responde por
todos os danos dele advindos? A resposta depende de qual concepção ou
teoria da causalidade for adotada. No direito brasileiro, há cinco
importantes teorias explicativas sobre o nexo de causalidade, que podem
ser divididas em dois grupos, conforme a diferenciação ou não das causas.

Outro material-conceito de responsabilidade civil

Com o objetivo de garantir a reparação de danos injustos, o ordenamento jurídico pátrio


consagrou a responsabilidade no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 e nos artigos 186 e
927, caput, ambos do Código Civil.

A partir da análise de tais dispositivos legais, verifica-se que para a configuração da


responsabilidade civil é necessário que estejam presentes alguns pressupostos. Sobre os
mencionados pressupostos, Sergio Cavalieri Filho (2009, p. 70) entende que “a
responsabilidade civil requer a existência de uma conduta culposa, nexo causal e um dano,
dispensando o elemento culpa quando se tratar de responsabilidade objetiva”.

5.1 Da conduta

O primeiro elemento, ou pressuposto, para análise da responsabilidade civil é a conduta, o ato


humano, comissivo ou omissivo, que para o direito adquire relevância quando dela surtem
efeitos jurídicos. Apenas pessoas naturais ou jurídicas poderão ser civilmente
responsabilizadas por ações ou omissões que causem danos. Um fato da natureza,
diferentemente, apesar de eventualmente poder causar danos, não gera responsabilidade
civil.

A ação é o ato positivo, onde o agente pratica determinado ato; a omissão, por outro lado, é
ato negativo, deixando o agente de praticar determinado ato que deveria ter praticado.
Especificamente acerca da omissão, Cavalieri Filho (2009, p. 24) analisa que:

A omissão, todavia, como pura atitude negativa, a rigor não pode gerar, física ou
materialmente, o dano sofrido pelo lesado, porquanto do nada nada provém. Mas tem-se
entendido que a omissão adquire relevância jurídica, e torna o omitente responsável, quando
este tem dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado, dever esse que
pode advir de lei, do negócio jurídico ou de uma conduta anterior do próprio omitente,
criando o risco da ocorrência do resultado, devendo, por isso, agir para impedi-lo.

Como exemplo de omissão, veja-se a situação de um motorista que, por conta de fato de
terceiro, acaba por causar colidir com um ciclista que trafegava pelo acostamento. Prima facie,
não haverá obrigação de indenizar o ciclista por conta da ocorrência de causa excludente de
antijuridicidade (fato de terceiro). Entretanto, se o mesmo motorista deixa de prestar a ajuda
necessária ao ciclista lesado e a partir dessa omissão decorre um dano, o mesmo será
responsabilizado pela omissão.

A ação ou omissão voluntária é, consoante Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
(2008, p.27), pressuposto necessário para a configuração da responsabilidade civil. Trata-se da
conduta positiva ou negativa, guiada pela vontade do agente, que vem a causar dano a
outrem.
O núcleo da noção de conduta é a voluntariedade, que se concretiza na liberdade de escolha
do agente imputável, com discernimento necessário para ter consciência daquilo que faz.
Desta forma, ato voluntário significa, pois, comportamento controlável ou dominável pela
vontade (WALD et al, 2011, p. 80).

No que diz respeito à voluntariedade da conduta, esclarece Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho (2008, p.28):

Em outras palavras, a voluntariedade, que é pedra de toque da noção de conduta humana ou


ação voluntária, primeiro elemento da responsabilidade civil, não traduz necessariamente a
intenção de causar o dano, mas sim, e tão-somente, a consciência daquilo que se está fazendo.
E tal ocorre não apenas quando estamos diante de uma situação de responsabilidade subjetiva
(calcada na noção de culpa), mas também de responsabilidade objetiva (caucada na idéia de
risco), porque em ambas as hipóteses o agente causador do dano deve agir voluntariamente,
ou seja, de acordo com a sua livre capacidade de autodeterminação. 

Assim, voluntariedade não se confunde com culpa, devendo aquela estar presente tanto em
casos de responsabilidade subjetiva quanto objetiva. Acerca da culpa, diversamente, deverá
ser provada apenas em casos de responsabilidade civil subjetiva.

5.2 Da culpa

A culpa é um dos elementos da responsabilidade civil, uma vez que preceitua o art. 186 do
Código Civil que a ação ou omissão do agente deve ser “voluntária” ou que haja, no mínimo,
“negligência” ou “imprudência”. Nesse sentido, afirma Carlos Roberto Gonçalves (2012, p.
315):

Para que haja obrigação de indenizar, não basta que o autor do fato danoso tenha procedido
ilicitamente, violando um direito (subjetivo) de outrem ou infringindo uma norma jurídica
tuteladora de interesses particulares. A obrigação de indenizar não existe, em regra, só porque
o agente causador do dano procedeu objetivamente mal. É essencial que ele tenha agido com
culpa: por ação ou omissão voluntária, por negligência ou imprudência, como expressamente
se exige no art. 186 do Código Civil.

Conforme Maria Helena Diniz (2012, p. 58), a culpa em sentido amplo compreende: o dolo,
que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela
imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever. Contudo,
no âmbito da responsabilidade civil, o agente responde igualmente pelas consequências de
sua conduta, sem se indagar se o resultado danoso entrou nas cogitações do infrator, tal
constatação, de acordo com Sergio Cavalieri Filho (2009, p. 30), decorre do fato de a função da
indenização ser exclusivamente reparadora dos danos sofridos pelo lesado, não de punição ou
sanção como na esfera penal, onde o grau de culpa do agente exerce influência capital na
graduação da pena.

No ordenamento jurídico pátrio, conforme explicado alhures, vigora a regra geral de que o
dever ressarcitório pela prática de atos ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou
censurabilidade da conduta do agente. Nessa linha, segundo Maria Helena Diniz (2012, p. 57),
o comportamento será reprovado ou censurado quando, ante circunstâncias concretas do
caso, entende-se que o agente poderia ou deveria ter agido de modo diferenciado. No mesmo
sentido (GONÇALVES, 2012, p. 315):
Agir com culpa significa atuar o agente em termos de, pessoalmente, merecer a censura ou
reprovação do direito. E o agente só pode ser pessoalmente censurado, ou reprovado na sua
conduta, quando, em face das circunstâncias concretas da situação, caiba afirmação de que ele
podia e deveria ter agido de outro modo.

O Código Civil de 2002 coloca a responsabilidade subjetiva como regra geral (art. 186),
devendo a vítima, para que o dever sucessivo de indenizar nasça, provar que o agente
causador do dano agiu de maneira culposa.

Entretanto, a lei civil vigente prevê a aplicação da responsabilidade objetiva em determinados


casos, conforme salientado anteriormente. Na responsabilidade objetiva, a existência de culpa
é totalmente irrelevante para a configuração da responsabilidade, sendo necessário apenas
provar a existência de dano e o nexo causal entre este e o ato praticado pelo agente.

5.3 Do dano

Etimologicamente, a palavra dano tem origem no vocábulo latino demere, que significa tirar ou
diminuir (Wald et al, 2011, p. 85). O dano é considerado pela doutrina como o elemento
fundamental para a configuração da responsabilidade civil, declarando que não é possível
cogitar de responsabilidade civil sem a sua presença. Mesmo em casos de responsabilidade
civil proveniente de violação de contrato (contratual), o comportamento da parte
inadimplente que deixa de cumprir a obrigação assumida carrega em si a presunção do dano.

Assim, “sem a ocorrência deste elemento [dano] não haveria o que indenizar, e,
consequentemente, responsabilidade” (GAGLIANO et al, 2008, p. 35). Sem a existência de
violação a bem jurídico, seja ele patrimonial ou extrapatrimonial, não se corporifica o dano,
uma vez que as funções ressarcitória e compensatória da responsabilidade civil pressupõem a
existência de algo a ser ressarcido ou reparado.

Vários foram os doutrinadores pátrios que tentaram conceituar o dano. Foram formuladas
várias acepções para o tema, todavia pode-se afirmar que todos esses conceitos giram em
torno de um elemento comum: a perda ou a lesão a um bem jurídico (VIEGAS et al, 2012, p.
26). Nessa esteira, tem-se o conceito construído por Cavalieri Filho (2009, p. 71):

Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico,


qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um
bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem a liberdade
etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a
conhecida divisão do dano em patrimonial e moral.

 O dano sofrido pela vítima para ser juridicamente relevante, conforme mencionado
anteriormente, deve ser contrário a interesses protegidos pelo direito. Todavia, para que
ocorra o ressarcimento deste prejuízo sofrido pela vítima a doutrina apresenta como requisitos
do dano a certeza, a subsistência e a atualidade.

O dano é considerado certo quando tem a sua existência determinada, não existindo qualquer
tipo de dúvida acerca de sua ocorrência. Desta forma, afasta-se a indenização de danos
hipotéticos, uma vez que se repudia a indenização fundada em expectativas incertas ou pouco
prováveis de ocorrer.

A subsistência ou atualidade do dano significa que se o dano já foi reparado, perde-se o


interesse da responsabilidade civil. O dano deve, pois, ainda existir no momento em que o
lesado postula sua reparação em juízo, o que significa afirmar que não há como se falar em
condenação ao pagamento de indenização se o dano já fora reparado espontaneamente por
parte do agente causador do dano. Todavia, importante frisar que a subsistência do dano
continua presente caso a reparação do dano tenha sido efetuada às expensas do lesado.

Alguns autores, tais como Arnoldo Wald e Brunno Giancoli (2011, p. 88), mencionam um
terceiro requisito do dano, a imediatidade, afirmando que só se indenizam danos que se
originam direta e imediatamente do ato comissivo ou omissivo do agente lesionador. Trata-se
de uma interpretação do disposto no artigo 403 do Código Civil. Contudo, em determinados
casos, o agente da conduta imputável responderá pelos prejuízos ulteriores provocados em
outras esferas individuais, muito embora não tivesse qualquer intenção de causar esse efeito
(WALD et al, 2011, p. 88). Trata-se do chamado dano reflexo ou em ricochete.

Acerca da classificação dos danos, estes são divididos em patrimoniais e extrapatrimoniais.


Material é o dano que afeta somente o patrimônio do ofendido, enquanto que moral é o que
só ofende a vítima como ser humano, agredindo seus direitos de personalidade, não lhe
atingindo o patrimônio (GONÇALVES, 2012, p. 359).

Nos danos patrimoniais, também denominados de materiais, o gravame suportado pela vítima
pode ser caracterizado por uma perda imediata no seu patrimônio, que constitui os danos
emergentes, ou por aquilo que deixou de auferir, denominado de lucros cessantes.

Em outras palavras, os danos emergentes representam a efetiva diminuição do patrimônio da


vítima ocorrida no momento do evento danoso, por enquanto que os lucros cessantes
caracterizam-se pela expectativa de um ganho futuro, considerando um prosseguimento
normal de suas atividades, sem a interferência de fatores aleatórios, que foi frustrado em
decorrência direta do ato danoso.

Os danos extrapatrimoniais, ou morais, dizem respeito aos danos que atingem a vítima na
qualidade de pessoa. É lesão de bem que integra os direitos de personalidade, tais como a
honra, a dignidade, a imagem a intimidade, o bom nome, tal como pode ser inferido a partir
dos artigos 1º, inciso III, e 5º, incisos V e X, da Constituição Federal.

Ademais, saliente-se que, diferentemente do que muitos pensam, o dano moral não se
confunde com a dor, a angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a humilhação, o complexo que
sofre a vítima do evento danoso, pois esses estados de espírito constituem o conteúdo, ou
melhor, a consequência do dano (GONÇALVES, 2012, p. 379). Pode-se cogitar, desta maneira, a
existência de ofensa à dignidade da pessoa humana sem que esta ofensa se externe através de
dor, vexame, sofrimento, da mesma maneira que pode existir dor, vexame e sofrimento sem
violação à dignidade.

5.4 Do nexo de causalidade

O nexo causal entre a conduta do ofensor e o dano sofrido pela vítima demonstra que o
ofensor somente será responsabilizado pelo dano causado se a sua conduta realmente for a
causa da lesão sofrida. Nesse sentido, Maria Helena Diniz (2012, p. 129) afirma:

O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se “nexo causal”, de modo que o fato lesivo deverá
ser oriundo da ação, diretamente ou como sua consequência previsível. Tal nexo representa,
portanto, uma relação necessária entre o evento danoso e a ação que o produziu, de tal sorte
que esta é considerada como sua causa.
Apesar de ser aparentemente fácil definir um conceito de nexo de causal, grandes foram as
dificuldades para encontrar o nexo de causalidade em casos que existam concausas sucessivas,
onde se estabelece uma cadeia de causas e efeitos. Para ilustrar a problemática, Agostinho
Alvim (apud GONÇALVES, 2012, p. 351) nos oferece o seguinte exemplo:

Suponha-se que um prédio desaba por culpa do engenheiro que foi inábil; o desabamento
proporcionou o saque; o saque deu como consequência a perda de uma elevada soma, que
estava guardada em casa, o que, por sua vez, gerou a falência do proprietário. O engenheiro
responde por esta falência?

Diante da problemática apresentada, foram criadas teorias para a definição do nexo de


causalidade, surgindo, primeiramente, a teoria da equivalência das causas ou equivalência dos
antecedentes, originariamente elaborada por Buri, com base nas ideias de Stuart Mill
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 47), e que tem ampla aplicação no direito penal pátrio, onde a
incidência da teoria é expressa no art. 13 do Código Penal, que dispõe que “o resultado, de
que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.

Assim como o próprio nome diz, a supracitada teoria não faz qualquer distinção entre a causa
(aquilo de que a coisa depende quanto à existência) e a condição (o que permite à causa
produzir seus efeitos positivos ou negativos). Desta maneira, se várias condições concorrerem
para o mesmo resultado, assim como no exemplo mencionado anteriormente, todas
equivalem de igual para igual, possuindo, assim, o mesmo valor. Não se busca saber se uma
delas foi mais ou menos eficaz para a produção do evento final.

Utilizando-se de outras palavras, essa teoria considera todas as causas, próximas ou remotas,
que ocasionam o dano. Perquire a causa do dano através do método indutivo de supressão da
ação ou omissão do agente, para averiguar se o resultado desapareceria (GONDIM, 2005, p.
19).

No âmbito do direito civil, entretanto, predomina a chamada teoria da causalidade adequada,


apesar de não existir na legislação civilista dispositivo que expresse a aplicação da mencionada
teoria. A teoria da causalidade adequada foi desenvolvida na Alemanha no final do século XIX e
prega que a condição deve ser adequada e determinante na ocorrência do dano para adquirir
relevância (VIEGAS et al, 2012, p. 28). Sobre o tema, esclarece Cavalieri Filho (2009, p. 48):

Diferentemente da teoria anterior, esta faz distinção entre causa e condição, entre os
antecedentes que tiveram maior e menor relevância. Estabelecido que várias condições
concorreram para o resultado, e isso é feito através do mesmo processo mental hipotético (até
aqui as teorias seguem os mesmos caminhos), é necessário agora verificar qual foi a mais
adequada. Causa será apenas aquela que foi mais determinante, desconsiderando-se as
demais.

Destarte, analisa-se a conduta causadora do evento danoso excluindo-se as demais, através do


método indutivo, elegendo qual causa é a mais adequada, a que teve maior relevância para
produzir o dano. O liame de causalidade pode ser afastado pela ocorrência de caso fortuito,
força maior, fato exclusivo da vítima ou de terceiro, os quais afastam a responsabilização.

7. Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,


Senado, 1988. Disponível em: . Acesso em: 04 de jan. 2018.
__________. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Diário
Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 31 dez 1940. Disponível em: . Acesso em: 27 de mar. 2018. 

__________. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 10 jan 2002. Disponível em: . Acesso em: 04 de jan. 2018. 

CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 26. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. V. 7.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil –
Responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. V. 4.

QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade Civil e o Novo Código Civil. 2. ed. Rio de
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. V.
4.

WALD, Arnoldo; GIANCOLI, Brunno Pandori. Direito Civil: responsabilidade civil. São Paulo:
Saraiva, 2011.

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