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7 de Maio de 2023

Inadimplemento das obrigações:


Conceito, modalidades e efeitos.
Publicado por Luís Otávio Tavares há 7 meses  127 visualizações

1. CONCEITO

As obrigações podem ser conceituadas como vínculos jurídicos


existentes entre um credor e um devedor. O credor detêm o di-
reito de receber uma prestação e o devedor possui o dever de re-
alizá-la. A prestação, por sua vez, pode consistir no dever de dar
algo (dinheiro ou outro bem); no dever de realizar algum ato ou
no dever de não realizar determinado ato. Dessa forma, são três
as clássicas modalidades obrigacionais: obrigação de dar, obri-
gação de fazer e obrigação de não fazer.

Com base nesse brevíssimo resumo acerca das obrigações, pode-


se conceituar o inadimplemento como o descumprimento, total
ou parcial, de uma obrigação de dar, fazer ou não fazer; é o não
pagamento de dívida nas condições fixadas na negociação (NA-
DER, 2019, p. 451).

A obrigação nasce para ser cumprida, ou seja, para que ocorra o


adimplemento. Quando o cumprimento da obrigação não
ocorre, há inadimplemento.
São hipóteses de inadimplemento: o devedor que não entrega a
coisa na data combinada; o devedor que não realiza o paga-
mento da dívida na data estipulada; o devedor que cumpre a
data combinada porém entrega um bem diferente do que era de-
vido; o devedor que deixa de realizar algum ato que se compro-
meteu a realizar, dentre outros inúmeros exemplos.

Dessa forma, percebe-se que o inadimplemento pode ocorrer


tanto na forma, lugar e tempo em que a prestação é efetivada.

2. MODALIDADES

O inadimplemento possui duas espécies: o inadimplemento to-


tal ou absoluto e o inadimplemento parcial ou relativo (também
conhecido como "mora").

A primeira hipótese de inadimplemento ocorre quando o deve-


dor descumpre a obrigação e, em virtude desse descumpri-
mento, o credor deixa de possuir qualquer interesse na presta-
ção, pois a obrigação se tornou completamente inútil (TAR-
TUCE, 2020, p. 401).

O exemplo clássico de inadimplemento absoluto é a hipotética


situação de um casal que contrata um fotógrafo para realizar as
fotografias no dia do casamento (obrigação de fazer). Na data do
casamento, o fotógrafo não aparece, nem envia um substituto
ou apresenta alguma justificativa. O casamento ocorre sem a
presença do fotógrafo e, logicamente, sem fotografias. Trata-se
de hipótese de inadimplemento absoluto, pois o casal (credores)
não possui interesse algum na realização da obrigação depois do
dia do casamento. A obrigação do devedor era de executar o ser-
viço no exato dia para o qual foi contratado, após esta data, não
há utilidade nenhuma na realização do serviço.
Já o inadimplemento relativo, conhecido com mora, ocorre
quando há um descumprimento "menos grave" da obrigação. O
devedor deixa de cumprira a obrigação na data ou lugar combi-
nados ou cumpre a obrigação de forma diversa da pactuada. As-
sim, pode-se dizer que na mora, o devedor ainda tem a possibili-
dade de corrigir seu erro e cumprir a obrigação da forma cor-
reta, com as devidas consequências, obviamente.

O melhor exemplo de mora é o atraso no pagamento em di-


nheiro de determinada dívida. Caso o devedor não pague na
data correta, ainda poderá efetuar o pagamento, porém deverá
arcar com juros em decorrência do atraso, eventuais multas e
atualização monetária da dívida.

Faz-se necessário ressaltar que, apesar de se tratar de hipótese


de menos frequente, a mora também pode ocorrer por parte do
credor. Imagine-se uma situação em que o credor de determi-
nada quantia em dinheiro não comparece na data combinada
para receber o pagamento ou, de maneira injustificada, se re-
cusa a receber o pagamento. Nesses casos, o credor estará relati-
vamente inadimplente com relação ao devedor.

A doutrina denomina a mora do credor como mora solvendi, de-


bitoris ou debendi, enquanto a mora do credor é chamada de
mora accipiendi, creditoris ou credendi.

Portanto, conforme ensina Flávio Tartuce (2020, p. 409), o cri-


tério para diferenciar as espécies de inadimplemento é a utili-
dade da obrigação para o credor, portanto, pode-se concluir que
o inadimplemento absoluto possui efeitos mais graves se com-
parado com o inadimplemento relativo.

3. EFEITOS
Com relação aos efeitos do inadimplemento, absoluto ou rela-
tivo, dispõe o Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o deve-


dor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente es-
tabelecidos, e honorários de advogado.

Este artigo está inserido nas disposições gerais acerca do ina-


dimplemento, logo, faz referência tanto ao inadimplemento ab-
soluto quanto ao relativo.

O conceito de perdas e danos está contido no art. 402 do Código


Civil:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas


em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavel-
mente deixou de lucrar.

O inadimplemento acarreta prejuízos ao credor. Em virtude do


descumprimento da obrigação, pode ocorrer que o credor arque
com despesas não esperadas ou perca oportunidades patrimoni-
ais. Nesse cenário, surge a figura dos danos emergentes, aquilo
que efetivamente se perdeu, e dos lucros cessantes, aquilo que
razoavelmente deixou de lucrar.

A incidência de juros é um dos principais efeitos da inadimple-


mento das obrigações, podendo ser conceituados como ressarci-
mento que recai sobre o devedor pelo descumprimento parcial
da obrigação.
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem con-
vencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixa-
dos segundo a taxa que estiver em vigor para a mora
do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional.

A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a taxa


prevista no art. 161, § 1º, do Código Tribuário Nacional, ou seja,
1% do mês (TARTUCE, 2020, p. 414).

A atualização monetária consiste na adequação a moeda perante


à inflação, dentro de um período pré-determinado. O objetivo é
compensar a perda econômica com os reajustes. Desse modo, os
valores envolvidos na prestação que não foi realizada pelo deve-
dor devem ser atualizados, de modo que o credor, além de
amargar os prejuízos do inadimplemente, não tenha que supor-
tar os efeitos da inflação.

Por fim, com relação aos honorários advocatícios, verifica-se a


existência de dúvidas acerca do tema.

O Código Civil faz menção ao pagamento de honorários de ad-


vogado em alguns dispositivos, tais como o já mencionado art.
389, art. 395, art. 404. Da leitura, desses artigos, fica evidente
que os honorários advocatício integram a reparação dos danos
decorrentes do inadimplemento.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que


sua mora der causa, mais juros, atualização dos valo-
res monetários segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de paga-
mento em dinheiro, serão pagas com atualização mo-
netária segundo índices oficiais regularmente estabele-
cidos, abrangendo juros, custas e honorários de ad-
vogado, sem prejuízo da pena convencional.

Há posicionamentos no sentido de afirmar que tais honorários


seriam os honorários sucumbenciais, previstos no art. 85 do Có-
digo de Processo Civil e no art. 22 do Estatuto da advocacia e da
Ordem dos Advogado do Brasil:

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar hono-


rários ao advogado do vencedor.

Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura


aos inscritos na OAB o direito aos honorários convenci-
onados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de
sucumbência.

O Código Civil não disciplina expressamente tal matéria, nem a


jurisprudência se mostra consolidada a respeito do tema.

Flávio Tartuce entende que o Código Civil faz referência aos ho-
norários contratuais ou convencionados, aqueles fixados entre
cliente e profissional, e não aos honorários sucumbenciais.

Tal posicionamento mostra-se o mais adequado, pelos seguintes


fundamentos. A legislação protege o credor prejudicado pelo
inadimplemento, impondo ao devedor a obrigação de ressarcir
os prejuízos que causou. Os valores pagos ao advogado para que
uma ação judicial seja proposta, em decorrência do inadimple-
mento da obrigação, são, evidentemente, despesas oriundas do
descumprimento do devedor. Dessa forma, fica evidente que de-
vem integrar a reparação dos danos, tendo em visa que tais va-
lores saíram do patrimônio do credor prejudicado.
Ademais, os honorários sucumbenciais pertencem ao advogado,
e não ao credor lesado que o contratou para ingressar com a de-
manda judicial.

Em resumo, como os honorários de advogado são desembolsa-


dos pelo credor lesado, aquele que deu causa ao processo deve
restituir os valores gastos com o advogado que propôs a ação (
REsp 1.134.725/MG) .

4. CONCLUSÃO

Este artigo buscou traçar breves comentários acerca dos princi-


pais tópicos referentes ao inadimplemento. Obviamente, cada
um dos pontos abordados comporta diversos aprofundamentos
doutrinários e jurisprudenciais a serem, oportunamente, alvo de
discussão.

Para este momento, há que se ater à ideia de que o inadimple-


mento constitui a principal fonte de atuação advocatícia litigiosa
na seara contratual, tendo em vista que em um cenário de espe-
rada normalidade, as obrigações seriam contraídas para, poste-
riormente, serem extintas, não havendo necessidade de aciona-
mento do Poder Judiciário para dirimir controvérsias. Todavia,
o inadimplemento obrigacional é uma realidade no ordena-
mento jurídico pátrio, por tal razão, deve ser compreendido e
estudado com afinco pelos operadores do Direito, em especial
aqueles que dedicam sua atuação ao Direito Privado.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3ª Turma). Recurso


Especial nº 1.134.725/MG. Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe
14.06.2011. DIsponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?
i=1&b=ACOR&livre=((%27RESP%27.clas.+e+@num=%27113....
Acesso em 05 out. 2022.

NADER, Paulo. Curso de Direito Civil - Vol. 2 - Obriga-


ções. São Paulo: Grupo GEN, 2019. E-book. ISBN
9788530986650. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978853098
6650/. Acesso em: 05 out. 2022.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume


Único. 10ª ed. rev., atl. e ampl. São Paulo: Método, 2020.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/inadimplemento-das-obrigacoes-conceito-


modalidades-e-efeitos/1656510938

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