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OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES

1. DAS OBRIGAÇÕES DE MEIO, DE RESULTADO E DE GARANTIA

Quanto ao fim a que se destina, a obrigação pode ser de meio,


de resultado e de garantia.

1.1. OBRIGAÇÃO DE MEIO E DE RESULTADO

Diz-se que a obrigação é de meio quando o devedor promete


empregar seus conhecimentos, meios e técnicas para a obtenção de
determinado resultado, sem, no entanto, responsabilizar-se por ele. É o
caso, por exemplo, dos advogados, que não se obrigam a vencer a causa, mas a
bem defender os interesses dos clientes; bem como o dos médicos, que não se
obrigam a curar, mas a tratar bem os enfermos, fazendo uso de seus
conhecimentos científicos.

Tendo em vista que o advogado não se obriga a obter ganho de


causa para o seu constituinte, fará ele jus aos honorários advocatícios, que
representam a contraprestação de um serviço profissional, ainda que não
obtenha êxito, se agir corretamente, com diligência normal na condução da
causa. Da mesma forma terá direito a receber a remuneração devida pelos
serviços prestados o médico que se mostrou diligente e que empregou os
recursos médicos ao seu alcance, na tentativa de obter a cura do doente, mesmo
que esta não tenha sido alcançada.

Se a obrigação assumida por esses profissionais fosse de


resultado, seriam eles responsabilizados civilmente se a causa não fosse ganha
ou se o paciente viesse a falecer.

Quando a obrigação é de resultado, o devedor dela se


exonera somente quando o fim prometido é alcançado. Não o sendo, é
considerado inadimplente, devendo responder pelos prejuízos decorrentes
do insucesso. Exemplo clássico de obrigação dessa natureza é a assumida pelo
transportador, que promete tacitamente, ao vender o bilhete, levar o passageiro
são e salvo a seu destino. Também é exemplo de obrigação de resultado, o
contrato de prestação de serviços de mecânica, onde só estará cumprida a
prestação do devedor quando o defeito for sanado com êxito.

Costumam ser mencionadas também as obrigações assumidas


pelo empreiteiro e pelo cirurgião plástico, quando este realiza trabalho de
natureza estética ou cosmetológica.

O traço distintivo entre essas duas modalidades de


obrigação encontra-se nos efeitos do inadimplemento. Na obrigação de meio,
em que o devedor se propõe a desenvolver a sua atividade e as suas habilidades
para atingir o objetivo almejado pelo credor, e não a obter o resultado, o
inadimplemento somente acarreta a responsabilidade do profissional se restar
cumpridamente demonstrada a sua negligência ou imperícia no emprego desses
meios. Na de resultado, em que o objetivo final é da essência do ajuste, somente
mediante prova de algum fato inevitável capaz de romper o nexo de causalidade,
equiparado à força maior, ou de culpa exclusiva da vítima, pode o devedor
exonerar-se caso não tenha atingido o fim a que se propôs.

1.2. OBRIGAÇÃO DE GARANTIA

As obrigações de garantia são intituladas como acessórias


pois tem como seu conteúdo a eliminação de um risco. Esta obrigação visa
guardar o credor do risco do negócio jurídico, tem como função tranquilizar o
credor e te dar segurança para realizar determinado negócio que venha trazer
risco.

Constituem exemplos dessa obrigação a do segurador e a do


fiador; a do contratante, relativamente aos vícios redibitórios (vício redibitório é
termo do direito civil entendido por defeito – de forma oculta na coisa ou bem,
de uma venda, e do qual o comprador não poderia tomar conhecimento quando
efetuou a aquisição); nos contratos comutativos (CC, arts. 441 e s.); a do
alienante, em relação à evicção (perda da coisa, seja ela posse ou propriedade,
para seu legítimo dono), nos contratos onerosos que versam sobre transferência
de propriedade ou posse (CC, arts. 447 e s.) etc.
2. DAS OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E
CONTINUADA

Quanto ao momento em que devem ser cumpridas, as


obrigações classificam-se em de execução instantânea ou momentânea, diferida
e continuada.

2.1. AS OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA OU


MOMENTÂNEA, se consumam num só ato, sendo cumprida imediatamente
após sua constituição, como na compra e venda à vista.

2.2. AS OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO DIFERIDA, cujo


cumprimento deve ser realizado também em um só ato, mas em momento
futuro (entrega, em determinada data posterior, do objeto alienado, p.ex.). Se
exaure em um só ato, porém a ser realizado em data futura e não no mesmo
instante em que é contraída.

2.3. AS OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO CONTINUADA,


periódica ou de trato sucessivo, se cumprem por meio de atos reiterados,
como sucede na prestação de serviços, na compra e venda a prazo ou em
prestações periódicas etc.

Execução continuada da prestação é a que se prolonga no


tempo, mediante prestações periódicas ou reiteradas. No último caso, tem-
se uma obrigação de trato sucessivo, que é aquela cuja prestação se renova
em prestações singulares sucessivas, em períodos consecutivos, como sucede
na compra e venda a prazo, no pagamento mensal do aluguel pelo locatário, do
consumidor de água ou de energia elétrica etc.

São exemplos das obrigações cujo cumprimento se prolonga


no tempo, a do fornecedor de energia, a do locador de garantir ao locatário o
uso da coisa, a do representante judicial e, de um modo geral, as prestações de
fato negativas.
3. DAS OBRIGAÇÕES PURAS E SIMPLES, CONDICIONAIS, A TERMO E
MODAIS

Quanto aos elementos do negócio jurídico, as obrigações


classificam em puras e simples, condicionais, a termo e modais.

3.1. OBRIGAÇÕES PURAS E SIMPLES são as não


sujeitas a condição, termo ou encargo. São as que produzem efeitos
imediatos, logo que contraídas, como sucede normalmente nos negócios inter
vivos e pode ocorrer também nos negócios causa mortis. Assim, por exemplo,
pode o doador ou o testador dizer que doa ou deixa determinado bem para certa
pessoa, de forma pura e simples, isto é, sem subordinar os efeitos da
liberalidade a qualquer condição ou termo e sem impor nenhum encargo ao
beneficiário. Desse modo, lavrado o instrumento da doação, devidamente aceita,
ou aberto e aprovado o testamento, opera-se imediatamente o efeito do ato,
tornando-se o beneficiário proprietário perfeito do aludido bem.

Outro exemplo: Obrigação de dar uma maçã sem por que, para
que, por quanto e nem em que tempo.

3.2. OBRIGAÇÕES CONDICIONAIS, são aquelas cujo


efeito está subordinado a um evento futuro e incerto.

Condição é o acontecimento futuro e incerto de que


depende a eficácia do negócio jurídico (CC, art. 121). Da sua ocorrência
depende o nascimento ou a extinção de um direito. Sob o aspecto formal,
apresenta-se inserida nas disposições escritas do negócio jurídico, razão por
que muitas vezes se define como a cláusula que subordina o efeito do ato
jurídico a evento futuro e incerto (CC/2002, art. 121). Ex.: Obrigação de dar
uma viagem a alguém quando esta pessoa passar no vestibular (condição).

Vários dispositivos do Código Civil reportam-se às obrigações


condicionais, podendo ser mencionadas, a título de exemplo, dentre outras, as
seguintes: a) a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico
se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver
subordinado (art. 106); b) não corre a prescrição, pendendo condição
suspensiva (art. 199); c) se, na obrigação de dar coisa certa, a coisa se perder,
sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva,
fica resolvida a obrigação para ambas as partes (art. 234); d) a obrigação
solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro (art. 266);
e) qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um
dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros
sem consentimento destes; f) todo aquele que recebeu o que lhe não era devido
fica obrigado a restituir, tendo também essa obrigação aquele que recebe
dívida condicional antes de cumprida a condição (art. 876).

3.3. OBRIGAÇÕES A TERMO (ou a prazo), é aquela em


que as partes subordinam os efeitos do negócio jurídico a um evento futuro
e certo.

Termo é o dia em que começa ou se extingue a eficácia do


negócio jurídico. Termo convencional é a cláusula contratual que subordina a
eficácia do negócio a evento futuro e certo. Difere da condição, que a subordina
a evento futuro e incerto. Apesar dessa distinção, pode ocorrer que o termo,
embora certo e inevitável no futuro, seja incerto quanto à data de sua
verificação. Exemplo: determinado bem passará a pertencer a tal pessoa, a
partir da morte de seu proprietário. A morte é certa, mas não se sabe quando
ocorrerá (a data é incerta). Sob esse aspecto, o termo pode ser dividido em
incerto, como no referido exemplo, e certo, quando se reporta a determinada
data do calendário ou a determinado lapso de tempo. Termo de direito é o que
decorre da lei. E termo de graça é a dilação de prazo, concedida ao devedor.

O termo pode ser, também, inicial ou suspensivo (dies a quo)


e final ou resolutivo (dies ad quem). Se for celebrado, por exemplo, um
contrato de locação no dia vinte de determinado mês, para ter vigência no dia
primeiro do mês seguinte, esta data será o termo inicial. Se também ficar
estipulada a data em que cessará a locação, esta constituirá o termo final.

Termo não se confunde com prazo, também regulamentado


pelo Código Civil. Prazo é o intervalo entre o termo a quo e o termo ad quem,
estando regulamentado nos arts. 132 a 134 do Código Civil. Na contagem dos
prazos, exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento (art. 132). Se este
cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil (§ 1º).
Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia (§ 2º). Os prazos
de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato,
se faltar exata correspondência (§ 3º), como ocorre em ano bissexto. Os prazos
fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto (§ 4º), como no pedido de
falência, por exemplo.

3.4. OBRIGAÇÕES MODAIS OU COM


ENCARGO/ONEROSA, é a que se encontra onerada por cláusula acessória,
que impõe um ônus ao beneficiário de determinada relação jurídica.

Trata-se de pacto acessório às liberalidades (doações,


testamentos), pelo qual se impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário. É
admissível, também, em declarações unilaterais da vontade, como na promessa
de recompensa, e raramente nos contratos onerosos (pode ocorrer na compra e
venda de um imóvel, com o ônus de franquear a passagem ou a utilização por
terceiros, p.ex.).

É comum nas doações feitas ao município, em geral com a


obrigação de construir um hospital, escola, creche ou algum outro
melhoramento público; e nos testamentos, em que se deixa a herança a alguém,
com a obrigação de cuidar de determinada pessoa ou de animais de estimação.
Em regra, é identificada pelas expressões “para que”, “a fim de que”, “com a
obrigação de.

4. DAS OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS

4.1. OBRIGAÇÃO LÍQUIDA, é aquela obrigação certa,


quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto. Essa
modalidade é expressa por uma cifra, por um algarismo, quando se trata de
dívida em dinheiro. Mas pode também ter por objeto a entrega ou restituição de
outro objeto certo, como, por exemplo, um veículo ou determinada quantidade
de cereal.
4.2. OBRIGAÇÃO É ILÍQUIDA, é quanto o eu objeto
depende de prévia apuração, pois o valor ou montante apresenta-se
incerto. Deve ela converter-se em obrigação líquida, para que possa ser
cumprida pelo devedor. Essa conversão se obtém em juízo pelo processo de
liquidação, quando a sentença não fixar o valor da condenação ou não lhe
individualizar o objeto (CPC/2015, art. 783).

Ex.: "A" deve dar vegetais a "B", não se sabe quanto e nem
qual vegetal.

Depende de prévia apuração, já que o montante da prestação


apresenta-se incerto.

Depreende-se do exposto que a sentença ilíquida não é incerta


quanto à existência do crédito, mas somente quanto ao seu valor. A liquidação
visa apurar apenas o quantum devido.

Na obrigação ilíquida a incerteza não é originária, pois o devedor


sabe o que deve, faltando apenas apurar o seu montante.

Para se iniciar a execução da sentença ou do acordo a que


chegaram as partes será necessário proceder-se à sua liquidação. A
finalidade desta é apurar o quantum debeatur (quanto é devido). O processo de
liquidação tem natureza cognitiva e é dotado de autonomia em relação ao
processo de execução e ao processo de conhecimento, no qual o título foi gerado.

Como regra geral, a liquidação antecede a execução.

Procede-se à liquidação, diz o art. 509 do Código de Processo


Civil de 2015, “quando a sentença” condenar ao pagamento de quantia
ilíquida. A liquidação poderá ser: “I – por arbitramento, quando
determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela
natureza do objeto da liquidação; II – pelo procedimento comum, quando
houver necessidade de alegar e provar fato novo”.
Acrescenta o § 4º: “Na liquidação é vedado discutir de novo
a lide ou modificar a sentença que a julgou”. O referido diploma fazia
menção a duas espécies de liquidação: por arbitramento e por artigos.

Liquidação por arbitramento é aquela realizada por meio de


um perito, nomeado pelo juiz. A apuração do quantum depende exclusivamente
da avaliação de uma coisa, um serviço ou um prejuízo, a ser feita por quem
tenha conhecimento técnico. As partes poderão formular quesitos e indicar
assistentes técnicos. Por ser processo autônomo, a liquidação por arbitramento
é julgada por sentença, da qual cabe apelação apenas com efeito devolutivo. Ex.
perito para avaliar os danos em um carro, uma casa, uma propriedade rural
etc.

A liquidação é feita pelo procedimento comum quando


houver necessidade de alegar e provar fato novo, para apurar o valor da
condenação (CPC/2015, art. 509, II). A petição inicial deve obedecer aos
requisitos do art. 319 do estatuto processual de 2015, articulando o credor os
fatos novos a serem provados. Todos os meios de prova são admitidos, inclusive
a perícia. O rito da liquidação deve corresponder àquele do processo anterior,
que gerou a sentença ilíquida. Por exemplo, dano material em razão da morte
do chefe de família. Neste caso, os legitimados a pleitear a indenização terão de
provar, na liquidação, dentre outros fatos, os rendimentos do falecido e, em
alguns casos, a relação de dependência em que se encontravam em relação a
ele. Se, por exemplo, a sentença declarar líquida a obrigação, seja no caso de
indenização por dano material, seja no de dano moral, porém no valor zero, terá
ela julgado o mérito e se revestirá, nesse caso, de coisa julgada material.

Quando a apuração do valor “depender apenas de cálculo


aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da
sentença” (CPC/2015, art. 509, § 2º). Ao requerer o cumprimento da sentença,
o interessado apresentará “o demonstrativo do débito atualizado até a data de
propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa”
(CPC/2015, art. 798, I, letra “b”), isto é, a demonstração de como chegou ao
valor que pretende haver do devedor.
5. DAS OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS

Reciprocamente consideradas, as obrigações dividem-se em


principais e acessórias. As primeiras subsistem por si, sem depender de
qualquer outra, como a de entregar a coisa, no contrato de compra e venda. As
obrigações acessórias têm sua existência subordinada a outra relação jurídica,
ou seja, dependem da obrigação principal. É o caso, por exemplo, da fiança, da
cláusula penal, dos juros etc.

O princípio de que o acessório segue o destino, a condição


jurídica do principal, foi acolhido pela nossa legislação. O art. 92 do Código Civil
preceitua que “principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou
concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal”.

O art. 184, segunda parte, por sua vez diz que “a invalidade
da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas
não induz a da obrigação principal”. Desse modo, nulo o contrato de
empreitada, por exemplo, nula será a cláusula penal nele estipulada, mas a
recíproca não é verdadeira.

Outra consequência do preceito citado é que, prescrita a


obrigação principal, ficam prescritas igualmente as obrigações acessórias. Pode
ocorrer, todavia, prescrição da obrigação acessória, sem que se verifique a da
principal.

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