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Monitoria de Direito das Obrigações Aula do dia 28/04/2022

Professora: Thais Dalla Corte


Monitora: Gabriela Bes Mendes Silva
Contato: Whatsapp – 67 9 81846197 Email: besgmendes@gmail.com

OBRIGAÇÕES DE FAZER
do latim obligatio faciendi
(arts. 247 a 249 do Código Civil)

1 - O que são as Obrigações de fazer?

Segundo o autor Carlos Roberto Gonçalves, na Obrigação de fazer a


prestação consiste em atos e/ou serviços a serem realizados pelo devedor 1. Enquanto, o autor Luiz
Fernando do Vale de Almeida Guilherme entende as Obrigações de fazer como aquela que vincula o
devedor ou um terceiro à prestação de um ato em favor do credor ou um terceiro.2

Desta forma, pode-se concluir que as Obrigações de fazer é o ato ou serviço


do devedor em favor do credor, podendo estes serem terceiros. O ato ou serviço prestado é resultado
do trabalho do devedor, a partir de uma provocação do credor. A obrigação de fazer manifesta-se no
cotidiano, podendo ser percebida em diversas ocasiões como: a confecção de um bolo de
aniversário, a construção de uma casa, a escrita de uma poesia, cortar a grama, entre outros.

Nesse sentido, é importante ressaltar que não se deve confundir Obrigação


de fazer com Obrigação de dar, porquanto a obrigação de dar refere-se ao ato de entrega de uma

1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil, 1: esquematizado: parte geral: obrigações e contratos. 6. ed. São
Paulo/SP: Saraiva, 2016. cap. Segunda Parte – Teoria Geral das Obrigações, pp. 543-549.
2 GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Das obrigações de fazer: Da obrigação de fazer. In: MANUAL de
Direito Civil: tabelas com resumos da matéria, questões de concursos e do exame da ordem. 3. ed. Barueri/SP: Manole,
coisa preexistente, enquanto a obrigação de fazer consiste na criação de coisa nova. É a prestação de
um serviço, material ou imaterial.

2 – Características.

Sabe-se que uma obrigação é, resumidamente, o vínculo estabelecido entre


credor e devedor no que diz respeito a uma prestação, seja ela positiva ou negativa. Diante disso,
verifica-se de uma obrigação de fazer:

• Seus atos são positivos: materiais ou imateriais;


• As partes podem constituir presença de terceiros;
• Qualquer forma de atividade humana lícita, possível e vantajosa ao credor pode constituir
objeto da obrigação;3
• Se subdivide em duas espécies.

3 – Espécies de Obrigação de fazer.

As obrigações de fazer subdividem-se em: fungíveis e infungíveis.

Fungíveis: Utiliza-se o artigo 249 do Código Civil. Possuem natureza material ou impessoal, na
qual o devedor é substituível, isto é, a presença do devedor é irrelevante, não importando quem
realizará a prestação, por isso admite-se a presença de terceiros. O que importa nesta espécie é o
produto final, o resultado. Posto isso, a execução da obrigação não dependerá da qualidade pessoal
do devedor. Se o devedor não cumprir, o ato poderá ser executado por outra pessoa.

Infungíveis: Possui natureza personalíssima, imaterial ou intuitu personae, onde o devedor é


insubstituível e deverá cumprir a obrigação, sendo assim o devedor é relevante nas obrigações
infungíveis. Nessa espécie, é importante compreender que a obrigação somente terá validade para o
credor se for realizada pela pessoa a qual ele escolheu em razão de suas qualidades pessoais, seja
pela natureza da prestação ou no que concernir o contrato. E, havendo cláusula expressa, o devedor
só se exonerará se ele próprio cumprir a prestação, executando o ato ou serviço prometido.4

2020. cap. Parte Especial, pp. 109-110. ISBN 9788520463246.


3 Manoel Ignácio Carvalho de Mendonça, Doutrina e prática das obrigações, t. I, p. 183; Washington de Barros
Monteiro, Curso de direito civil, 29. ed., v. 4, p. 88.
4 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil, 1: esquematizado: parte geral: obrigações e contratos. 6. ed. São
Paulo/SP: Saraiva, 2016. cap. Segunda Parte – Teoria Geral das Obrigações, p. 543.
Em atenção a esta espécie, o Código Civil de 1916 trazia em seu artigo 878
que o credor não é obrigado a aceitar uma prestação realizada por terceiro se convencionado que o
devedor realizasse. Então, entende-se que é uma obrigação de fazer infungível quando as próprias
partes convencionarem.

Mas IMPORTANTE, existem as obrigações de fazer as quais apenas


determinada pessoa poderá realizá-la, porquanto esta pessoa (devedor) possui suas qualidades
pessoais como, por exemplo, se o credor contratou a chefe de cozinha Paola Carosella, esta não
poderá ser substituída por outra ou então, se um credor contratou o cantor Luan Santana para
realizar um show e este ser substituído por um cover. Nessas hipóteses, o credor poderá não aceitar
a prestação, tendo em vista a natureza personalíssima da obrigação de fazer infungível.

Na doutrina do autor Carlos Roberto Gonçalves é indicada uma outra


espécie de obrigação de fazer nomeada de Obrigação de fazer consistente em emitir declaração
de vontade, encontrada no artigo 501 do CPP. Em suma, essa espécie deriva-se do pacto de
contrahendo, ou seja, de um contrato preliminar que apresenta uma declaração de vontade.

4 – Hipóteses de não cumprimento da Obrigação de fazer.

Neste tópico existem duas formas de não cumprimento: o inadimplemento


da obrigação ou a impossibilidade da obrigação.

A impossibilidade da obrigação, seja ela fungível ou infungível, consiste em


sua não realização e obtém dois resultados diferentes a depender da culpa ou não do devedor. Assim
sendo, usar-se-á o artigo 248, onde é disposto na primeira parte que se a prestação tornar-se
impossível sem culpa do devedor, se resolverá a obrigação, para os casos que não houver a culpa e,
na segunda parte do artigo: se por culpa do devedor, este responderá por perdas e danos, para os
casos que houver a culpa.

Outrossim, ocorre o inadimplemento em uma obrigação de fazer infungível


quando o devedor se recusa a prestar o ato/serviço, ou seja, é possível a realização da prestação mas
o devedor não aceita realizá-la. Nesse caso, utiliza-se o artigo 247, o qual dispõe que quando o
devedor recusa uma prestação que somente ele poderia fazer, responderá por perdas e danos.
Em uma obrigação de fazer fungível, quando o devedor inadimplir a sua
prestação incorrerá no artigo 249, caput, onde o ato podendo ser realizado por terceiro, ficará a
escolha do credor mandá-lo executar à custa do devedor, se houver recusa ou mora da parte do
devedor, sem prejuízo da indenização cabível.

Em se tratando de obrigação de fazer fungível, embora não se possa obrigar o


devedor a prestar, efetivamente, aquilo a que se obrigou, o devedor terá a
prerrogativa de ter a prestação cumprida por outrem à custa do devedor ou ainda
se sub-rogar no equivalente ao valor da prestação descumprida. Importante
destacar que, em ambos os casos, o credor terá o direito de ser ressarcido de
eventuais perdas e danos que a inexecução da obrigação lhe gerou.
Entretanto, há que se observar que, embora haja ao credor a faculdade de optar
pela conversão da obrigação de fazer em perdas e danos, prerrogativa
semelhante inexiste ao devedor. (…)
Não sendo esse o caso, é a execução da obrigação de fazer que deve prevalecer.
Como exemplo de tanto, pode-se mencionar a possibilidade de que o juiz supra
a obrigação do devedor e emita a declaração de vontade suficiente para a
celebração de determinado negócio jurídico. Nesses casos, a sentença sub-
roga-se no lugar do ato devido.5 GN.

Ademais, no parágrafo único do artigo 249, vê-se que, nos casos urgentes
o credor poderá executar ou mandar executar, independentemente de decisão judicial, sendo
posteriormente ressarcido.

Dado que a autotutela, em regra, não é admitida no sistema nacional, o credor


terá de recorrer ao poder jurisdicional, para fazer cumprir eventual
prestação de fazer a que o devedor se recuse a executar. Todavia, o
parágrafo único do artigo 249 excepciona essa regra geral, permitindo que
o credor, em caso de urgência (i.e., quando não houver tempo suficiente para
que se aguarde a prolação de uma sentença, sem prejuízo de seu direito),
busque o cumprimento da prestação de fazer por si ou por terceiro, com
ulterior possibilidade de cobrar perdas e danos do devedor. Note-se que, se
o credor se exceder na execução de tal ato, ele poderá ser apenado por abuso de
direito, na forma do artigo 187 do Código Civil.6 GN.

5 GUIMARÃES, Luis Paulo Cotrim. Código Civil Comentado, artigo 249. Direitocom pontocom, 2015. Disponível
em: https://www.direitocom.com/codigo-civil-comentado/artigo-249-6. Acesso em: 22 de abril de 2022.
6 Ibidem.

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