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Alexandre Fortes
Departamento de História de Economia – Instituto Multidisciplinar
Programa de Pós-Graduação em História
UFRRJ
Uma alternativa encontrada por alguns autores4 diante desse impasse conceitual
tem sido a utilização da expressão “sistema político populista”, cunhada por John D.
French5, que ao contrário do uso mais indiscriminado do termo “populismo”, não
pretende caracterizar simultaneamente líderes e movimentos particulares e um período
histórico como um todo, referindo-se antes às particularidades da forma como se
estabeleceu a relação entre sociedade e política na América Latina do período pós-
Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, o debate conceitual ganhou novo
dinamismo com a publicação de On Populist Reason, do cientista político anglo-
argentino Ernesto Laclau, obra em que o autor argumenta que várias das características
apontadas na literatura clássica sobre o populismo como indicadores do “atraso” ou das
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Ver, por exemplo: Roxborough, Ian. “Unity and diversity in Latin American history”. In Journal of
Latin American Studies, 16, mai 1984, pp. 1-26; Knight, Allan, "Cardenismo: coloso o catramina?". En
Mackinnon, Moira e Petrone, Mario Alberto (org.) Populismo y neopopulismo en América Latina. El
problema de la cenicienta , Buenos Aires: Eudeba, 1998.; Gomes, Angela de Castro. “O populismo e as
o
ciências sociais no Brasil. Notas sobre a trajetória de um conceito”. Tempo, Rio de Janeiro, Vol. 1, n 2,
1996. Pp. 31-58; Ferreira, Jorge. “O nome e a coisa: o populismo na política brasileira”. In: Ferreira,
Jorge (org.) O populismo e sua história. Debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
3
Reis Filho, Daniel Aarão. “O colapso do colapso do populismo ou A propósito de uma herança
maldita”. In: Ferreira, Jorge (org.).O populismo e sua história. Debate e crítica. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001
4
Ver por exemplo: Fortes, Alexandre. Nós do Quarto Distrito. A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas. Caxias do Sul/Rio de Janeiro: EDUCS/Garamond, 2004; Silva, Fernando Teixeira da e
Costa, Hélio da. “Trabalhadores urbanos e populismo: Um balanço dos estudos recentes” In: Ferreira,
Jorge (org.). O populismo e sua história. Debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001;
Fontes, Paulo e Duarte, Adriano. “O populismo visto da periferia: adhemarismo e janismo nos bairros da
Mooca e São Miguel Paulista (1947-1953)” in Cadernos AEL, v. 11, n. 20/21, Primeiro e segundo
semestres de 2004. Pp. 83-121.
5
Ver French, John D. O ABC dos operários: Lutas e alianças de classe em São Paulo, 1900-1950. São
Paulo/São Caetano do Sul: Editora Hucitec/Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, 1995
3
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“deficiências” latino-americanas são, na verdade, elementos intrínsecos à prática política.
No Brasil, no final dos anos 1970, o termo chegou a ser largamente utilizado na
tentativa de definição das particularidades do novo sindicalismo que emergia em
diversos pólos regionais e categorias profissionais, com ênfase para os metalúrgicos do
ABC paulista. Trabalhos de pesquisa recente, entretanto, indicam que a natureza dessa
prática sindical, também chamada de “autêntica”, não era nem absolutamente inovadora
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Laclau, Ernesto. On Populist Reason. Londres: Verso, 2005.
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nem emergia apenas de um processo de organização totalmente autônomo da nova
configuração da classe trabalhadora no período, sendo marcada pela interação com
correntes políticas organizadas, o Estado, a Igreja católica e mesmo com entidades
sindicais internacionais.7 Outros autores tem identificado a presença de elementos dessa
concepção sindical já no movimento operário da Primeira República, atribuindo-os à
hegemonia do sindicalismo revolucionário, que na bibliografia mais tradicional sobre a
origem do sindicalismo no Brasil foi, com freqüência, confundido com o anarquismo.8
7
Negro, Antonio Luigi. Linhas de montagem. O industrialismo nacional-desenvolvimentista e a
sindicalização dos trabalhadores (1945-1978). São Paulo: Fapesp/Boitempo, 2004.
8
Toledo, Edilene. Anarquismo e sindicalismo revolucionario. Trabalhadores e militantes em São Paulo
na Primeira República. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
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Fortes, Alexandre. Nós do Quarto Distrito. A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas.
Caxias do Sul/Rio de Janeiro: EDUCS/Garamond, 2004. Capítulos 6 a 11, pp. 241-430
5
atuantes no período de emergência de Perón, com ênfase no líder dos trabalhadores da
carne e fundador do Partido Laborista, Cipriano Reyes, autor de vários livros de
memórias e cuja atuação foi objeto de algumas das mais importantes obras que lançam
luzes para uma reavaliação histórica do peronismo. Além disso, é fundamental articular
o estudo de lideranças nacionais como Reyes com trabalhos mais recentes que incluem
vozes de lideranças de base e intermediárias, como os trabalhos de James e Lobato
sobre Doña María Roldán e os trabalhadores dos frigoríficos de Berisso (ver Anexo 4:
“Resenhas”).