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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

Curso: Licenciatura em História – 2020.2 – Noturno

Componente: Teoria da História

Departamento de História – DH

Profº.: Ricardo Alexandre Santos de Sousa

Discente: João Victor Santos Dias

Avaliação da Iº Unidade:

Questão 1:
O embate entre a História e as Ciências Sociais é um tema que vem sendo debatido durante
tempos, devido ao interesse recorrente dos teóricos de tais campos de conhecimento a fim de
encontrar qual campo teórico (entre a História e as Ciências Sociais) prevaleceria quando o
assunto se tratava do estudo da sociedade.

Em primeiro plano, com o propósito de uma melhor compreensão antes da exposição do tema,
se faz necessário a sua contextualização. Sabe-se que esse embate tem início, segundo Jacques
Revel, após o declínio dos objetos de estudos que serviam como lastro unificador. É plausível a
inferência que esses objetos seriam o homem e a sociedade, respectivamente. Vale ressaltar que,
mesmo durante esse confronto, Revel considera a existência de “relações privilegiadas” entre
essas disciplinas, tendo em vista que a História também seria uma espécie de ciência social.
Portanto, seria após essa diferenciação e/ou desarticulação desses objetos de estudos que a
História e as Ciências Sociais passam ser vistas como antagônicas, só sendo permitido um
diálogo entre elas a partir da interdisciplinaridade.

Desta maneira, essa tensão entre as disciplinas pode ser vista como um projeto do campo
intelectual que Revel considera como uma reivindicação da longa duração do século ganhando
forma e atenção na versão francesa, a qual postula a preeminência da História e abstrai as ditas
Ciências Sociais.

Nesse contexto, vai emergir a Sociologia, como ciência social, mas que não haverá acolhimento
no seio acadêmico. Se posicionando contra abjeção da Sociologia, Émille Durkheim vai propor
a unificação das Ciências Sociais, elevando-a como “disciplina mãe” deste vasto campo.
Consequentemente, outros campos, em especial, a História, fizeram árdua resistência à
submissão aos métodos das Ciências Sociais, postulados por Durkheim.

É preciso saber que essa resistência dos historiadores ao modelo durkheimiano deve-se ao fato
da alegação do caráter cientifico da História. Logo, ela deveria ser considerada uma disciplina
cientifica, com caráter de uma ciência positivista, entretanto, com um método próprio, o método
histórico.

O método histórico deve ser estabelecido com base na categorização e da crítica (interna e
externa) das fontes, ainda que haja uma interdisciplinaridade e expansão dessas fontes. Outra
questão que esse método vai trazer é o papel central do tempo na História, visto que ele não tem
a mesma centralidade nas outras ciências sociais.

Portanto, a História que devia exercer o papel de lastro unificador do campo epistemológico e,
mais tarde, isso será reafirmado, atribuindo novas características, pelos Annales, os quais não
deixaram de reconhecer a relevância e a comunicação entre as outras disciplinas – a
interdisciplinaridade -, mas, considerando que essa comunicação se dava pelo objeto de estudo,
no caso a sociedade humana, e não pelo método.

Questão 2 -
Leopoldo Von Ranke é considerado, hodiernamente, um dos grandes e mais influentes
nomes da construção epistemológica da História. Essa importância se deve, principalmente,
na maneira que ele propôs a abordagem da História com caráter cientifico. Diante disso, o
modo de abordagem proposto, o qual discutiremos adiante, foi seguido
metodicamente/cegamente por seus discípulos ou foi rejeitado integralmente pelos seus
críticos, essencialmente após a ascensão da Escola de Annales na década de 1930,
ocasionando, portanto, um confronto sobre a visão que o historiador defendia de como
devia ser abordada a História Cientifica.

O método rankeano consistia e defendia, principalmente, a construção de uma História


objetiva, atribuindo-a um caráter cientifico mediante aos métodos propostos por Ranke.
Logo, a construção da narrativa histórica devia seguir uma espécie de manual de
metodologia.

Desta forma, como a História não era uma ciência que podia ser comprovada mediante o
experimento e na tentativa da sua aproximação com as chamadas ciências duras (ciências da
natureza), o historiador defendia que a partir da investigação empírica e um rigor
metodológico era possível a construção de uma História Cientifica. Portanto, só era possível
a ascensão da História com caráter cientifico através de um rigor metodológico, no caso, o
método rankeano.

Esse rigor metodológico consistia, sobretudo, no uso das fontes. Logo, era necessário a
identificação e separação das fontes primárias e secundárias, após isso, a crítica tenaz dessas
fontes, no caso da primárias, e dos historiadores, tratando das secundárias. Sucessivamente,
era necessário a abstração de qualquer tipo de interpretação/inferência do historiador.

No entanto, nesse último aspecto, é válido ressaltar que o próprio Ranke, segundo Arno
Wehling (1973), professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não acreditava integralmente na
neutralidade do historiador e foi esse um dos pontos que, consequentemente, vai ser uma
das principais divergências entre seus discípulos e críticos.

Em síntese, o método rankeano visava a construção de uma “História Cientificista”, através


da identificação e categorização das fontes e da historiografia. Ou seja, consistia,
substancialmente, na conferência da veracidade (a crítica interna e externa das fontes) e na
“isenção” do historiador. Diante disso, a História Rankeana se consistia na construção de
uma História de fatos, em que as fontes deviam “falar por si mesmas”. Consequentemente,
tornou-se uma História objetiva/pragmática!

Obras Citadas
WHELING, Arno. Em torno de Ranke: a questão da objetividade histórica. Revista de História.
São Paulo, v. XL (VI), n. 93, p. 177-200, 1973.

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