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Departamento de História – DH
História Antiga I – 2020.1
Alexandre Galvão Carvalho
1. Introdução:
No entanto, sua crise repentina significou um hiato civilizatório nas regiões mais
afastadas, como as montanhas. Após a crise da primeira urbanização, centrada na capital de
Uruk, devido a não submissão cultural e política das periferias, emergem as cidades-estados
distribuídas em confederações:
parece ser dificilmente sustentável em áreas fora das planícies de origem, devido as
estruturas e dimensões diversas” (LIVERANI, 2020, p. 145).
É necessário nos atentarmos o importante papel que a função mítica vai exercer como
forma de dominação ideológica, apresentada na concepção do universo, em sua organização e
no desempenho das suas funções. Além do uso da força, é a partir da religião que o rei vai
controlar e manter a ordem por meio do discurso religioso-político, ou seja, a religião vai
operar diretamente na forma centrada no discurso político pela manutenção e estabelecimento
do poder.
Não é correto dizer que cada fenômeno era uma pessoa; devemos dizer que havia
uma vontade e uma personalidade em cada fenômeno – (...) – porque um fenômeno
concreto não limita a vontade e a personalidade que se associam a ele.
(FRANKFORT, WILSON e JACOBSEN, 1998, n.p)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
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além disso, eles vão considerar essa “ordem cósmica” como a adequação para o
Estado que era considerado como parte do cosmo mesopotâmico.
Diante disso, nas cidades-templos, o agente dessas decisões era o rei, que apenas
servia a vontade dos deuses. Quando uma sociedade guerreava e/ou dominava a outra, foi
porque o deus daquela cidade, em uma decisão conjunta, guerreou e venceu o deus da outra
cidade, o que justificava a dominação, em linguagem mais brusca, era a seguinte lógica: “nós
vencemos porque o nosso deus quis assim e ele é mais forte que o deus da sua cidade. ”
Quando Sargão conquista outros territórios, assunto para o próximo conteúdo, Liverani aponta
que foi por concessão dos deuses:
Após a ascensão de Sargão, ele vai se lançar para expansão demográfica e dominação
política em torno de outras cidades e tenderá a construir um “reino universal. ” Essas
expansões, de caráter comercial, tinham por objetivo a dominação do mercado: “(...) O
domínio dessas regiões, (...), tinham um caráter comercial: assegurar rotas - (...) - que
garantissem o aporte de matérias primas e produtos de luxo(...)” (CARVALHO, 2020, p. 343)
Após a conquista de diversos territórios, Sargão funda Acádia, a qual será a capital
dessa expansão caracterizada pelo alto nível militar, e firmará a imagem dele como o rei forte
e vencedor que não tem iguais e nem rivais. (LIVERANI, 2020). Como administração, ele
adotará algumas medidas: nomeará membros da família real em setores do império, controlará
as rotas comerciais e privatizará as terras. (CARVALHO, 2020)
política por meio da ideologia, passa a ser figura secundária, centralizado na função religiosa,
e o palácio ganha um espaço notório:
Após Sargão, virá diversos sucessores que vão se espelhar na imagem desse rei
invencível. Posteriormente a Naram-Sin, sucessor da linha sargônica, o qual teve uma postura
mais destrutiva nas expansões que alternavam entre militares e comerciais conseguindo
conquistar o território que o próprio Sargão almejava [do mar posterior ao mar inferior]
(LIVERANI, 2020), ocorrerá a dispersão dos acadianos e invasão dos grupos chamados
bárbaros ocasionando um colapso do “império” acadiano, principalmente, em centros
menores e, novamente, irá ser ocasionada a hegemonia de Ur:
Hamurábi:
A tentativa de unificação e vitória em torno de uma capital não foi restringida apenas a
Sargão e sua dinastia. O Período Neossumério, após o colapso dos gútios houve a ascensão e
consolidação de Ur. A análise mais importante desse período foi o auge da centralização
estatal, principalmente sob o reinado de Sulghi, a qual regeu o controle da produção: “(...) Em
síntese, há uma evidente vontade de incrementar a racionalidade econômica para gerir com
eficiência e homogeneidade um império de dimensões sem precedentes” (LIVERANI, 2020,
p. 240). Logo, em razão disso, do controle produtivo administrativo irá ocasionar o
fortalecimento e unificação da cultura dos escribas, a partir da edubba (a escola dos escribas).
unificação. Em função disso, ele vai contar com alianças entre reis e elites próximas, mas ao
mesmo tempo essas alianças, que seria uma forma de apaziguamento entre as cidades, era
fruto do desejo de Hamurábi de conquista-las e dominá-las:
(...)Como se vê, quando Hamurábi decidiu sair a campo aberto, não fez distinção
entre adversários e velhos aliados: depois de ter colocado uns contra os outros,
destinou a todos o mesmo fim. (...) (LIVERANI, 2020, p. 342-343)
Por conseguinte, nessa sociedade, como o rei justo e bom para o povo, Hamurábi, por
meio de seu código jurídico, “equacionava” toda a sociedade, legitimava e consolidava seu
poder:
(...), o famoso código de lei Hamurábi foi designado ou, (...), adotado como um
documento de propaganda política para conquistar os corações e as mentes dos
cidadãos (...) (YOFFEE, 2013, p. 149)
Mas, esse código não necessariamente é visto como um conjunto de regras jurídicas
aplicadas, em termos contemporâneos, como uma “Constituição”. Quando uma decisão
jurídica era tomada pelos juízes, já eram baseadas em toda uma tradição cultural-histórica e
por costumes locais de acordo com seus princípios. O Código funcionava mais como um
dispositivo política para reduzir o poder político das elites e autoridades locais (YOFFEE,
2013) logo,ele “(...) foi formulado por meio de frases estereotipadas, evidenciando a maneira
como os governantes (...) alegavam simplificar o complexo processo de decidir disputas e
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A sociedade discutida, apesar de ser voltada para uma centralização e estatização, teve
como fator as identidades que eram autônomos do poder estatal. A depender da identidade,
em prol de uma vantagem, ela poderia ser renegada ou engrandecida.
Obras Citadas
CARVALHO, A. G. Sargão de Acádia - Entre lendas e legados. In: REDE, M. Vidas Antigas. São Paulo:
Intermeios, v. 2, 2020. Cap. 12.