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Universidade Federal de Minas Gerais - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de História
História Antiga
Prof. Rafael Scopacasa
Aluno: Pedro Henrique Pereira Aguiar (2022062145)

Resenha do Capítulo 1 A Política no Antigo Oriente Próximo, do livro Tópicos de História


Antiga Oriental editora Intersaberes, data de publicação 2013
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), na qual
desenvolveu pesquisa na área de Egiptologia e mestre em História Antiga pela Universidade
Federal Fluminense, Maria Thereza David João, tem como objetivo clarear aspectos relativos
à história política das sociedades antigas. Para desfazer possíveis enganos e esclarecer de
forma mais adequada o funcionamento da história desses povos. Além de Tópicos de História
Antiga Oriental, Maria tem outras obras como As Admoestações de Ipu-Ur: Reflexões sobre
a sociedade egípcia do Primeiro Período Intermediário e Implicações econômicas dos templos
egípcios e a constituição de poderes locais: um estudo sobre o Reino Antigo.
Separo está resenha em tópicos começando com um resumo de cada parte do capitulo
a seguir a crítica geral.
Resumo:
1. O conceito de burocracia nas sociedades antigas
Na primeira parte a autora aborda aspectos do conceito de burocracia nas sociedades
antigas, se podemos ou não falar da existência deste conceito na política antiga. Maria
Thereza, define a burocracia como a existência de funcionários hierarquicamente organizados
que servem ao estado, essa definição sendo para o estado moderno.
A autora deixa a seguinte indagação para desenvolver no texto, “[...] podemos, então,
atribuir esse mesmo significado de burocracia às sociedades próximo-orientais?”
Em seguida trabalha com pensamentos de três autores, o primeiro sendo o Historiador
Fábio Faversani (2004), que generaliza as sociedades antigas, em seu estudo ele afirma que
tais sociedades em vez de relações racional e públicas, a relação dominante era a de
patronato. Em outras palavras, não havia democracia, já que, o estado era regulado por
relações pessoais, baseados na obediência a um senhor. Maria Thereza afirma, que, quando
se analisa sociedades do passado o melhor a se fazer, não é rejeitar a ideia de burocracia, e
sim entender como o estado funcionava naquela época, e se tem semelhanças com o estado
moderno.
Maria Thereza também usa o conceito de Burocracia patrimonial, formulado pelo
sociólogo Max Weber com fins para desvendar os fenômenos burocráticos na antiguidade.
Ela usa o conceito para entender as diferenças do Estado moderno e antigo. A burocracia
moderna tem princípios em racionalidade, que pode ser entendia como o exercício de tarefas
objetivas pelos funcionários, que tem regras predefinidas, possíveis de aprender
racionalmente. Isso se opõe a administração pautada na obediência ao senhor, marcada pelo
seu livre-arbítrio, comum em sociedades no antigo-Egito.
J. David Schloem (2001), que é o terceiro autor abordado no capitulo, trabalha com o
fundamento Patrimonial Household Model (PHM), o autor afirma que, valia nas sociedades
antigas eram os laços pessoais do patronato e sua dependência deles, e não de uma
democracia dita impessoal.
Ao fim do capitulo Maria Thereza sinaliza que é preciso ponderar essa afirmação pois
mesmo que as sociedades próximo-orientais eram realmente dependentes de relações com
a do patronato, isso não exclui a existência de um Estado burocrático.
1.2. A monarquia faraônica
A autora vai desenvolver nesta parte a monarquia faraônica e a ideia de figura divina
que era como os faraós eram vistos na época, Maria vai explanando era por era da história
egípcia para mostrar como a monarquia faraônica se dava.
O faraó era visto como uma figura divina, o representante dos deuses, e o encarregado
de manter a maat no mundo visível. Além disso, ele era o detentor do poder máximo. Ele
poderia ao mesmo tempo ser chefe do exército, chefe do executivo e sumo sacerdote de todos
os deuses.
O maat citado acima era um princípio que regia todo o mundo egípcio, o termo pode
ser traduzido como “verdade”, “justiça” e “ordem”, mas comporta uma série de princípios
éticos, religiosos e filosóficos tornando-se assim complexo e sem paralelos no mundo
contemporâneo, dificultando achar um significado claro para a palavra. O maat é o oposto de
isfet, quer seria caos. Essa dualidade regia o mundo egípcio. Pela mitologia antiga, maat tinha
que ser regulamente assegurada, era uma rede de forças que segurava o mundo, a
continuidade ordenada do mundo, entendido como a manutenção dos ciclos diários da
natureza, a exemplos dos movimentos sazonais. Os faraós, não eram apenas um
representante humano dos deuses e sim, considerado uma divindade encarnada, o que ajuda
a manter o status quo, e a obediência a sua pessoa.
A autora novamente trabalha com uma indagação para elaborar a segunda parte do
capítulo, “[...] será que os egípcios não se davam contam da natureza humana do seu
governante? Afinal, o faraó era, antes de tudo, um homem, sujeito às necessidades de
qualquer ser humano [...] diferentemente dos deuses.”
Nem mesmo a egiptologia procurou questionar esses aspectos da monarquia
faraônica, focando somente na figura divina do soberano, como se ela fosse aceita, e na
obediência, que cegamente seria devotada a ele. Analise feita, nas interpretações históricas
que privilegiavam os grandes feitos e os grandes homens, em detrimento da “história vista de
baixo”. Os documentos feitos pela elite faraônica passavam, a mensagem do
engrandecimento da instituição monárquica e a legitimação das hierarquias existentes.
João, busca os estudos de alguns egiptólogos, como o George Poserner foi o primeiro
egiptólogo a aprofundar nos estudos da natureza humana e na monarquia faraônica, cujo
tinha um aspecto dual: humano e divino. David O’Connor e David Silvermann, egiptólogos
ingleses, resumem esse aspecto dual de uma forma bem interessante
“a monarquia é uma instituição divina, de certo modo, ela mesma um
deus, ou pelo menos a imagem do divino é capaz de se transformar em sua
manifestação: cada incumbido, cada faraó é fundamentalmente um ser
humano, sujeito às limitações humanas. Quando o rei tomava parte dos papeis
de seu oficio, especialmente em rituais e cerimonias, o seu ser enchia-se da
mesma divindade manifesta em seu oficio e nos próprios deuses.” (O’Connor;
Silvermann, 1995, p. XXV)
Ao longo da segunda parte do capitulo a autora vai trabalhando com outros
egiptólogos, como Jan Assmann, por exemplo, afirma que a administração egípcia era
polarizada em duas esferas, de um lado o faraó que mandava e do outro os súditos.
Christopher Eyre, tem outra interpretação, o qual postula a existências de esferas
intermediarias do poder, e não uma centralização absoluta por parte do Estado faraônico.
Esses são só alguns teóricos nos estudos egiptólogos e não são nem de longe os únicos.

1.3 A história política da Mesopotâmia


Nessa terceira e última parte, a autora pincela alguns tópicos da Mesopotâmia, uma
análise superficial comparada com a Egípcia.
A história política da Mesopotâmia é diferente da do Egito antigo, caraterizada por
cidades-estados independentes, devemos nos atentar ao tipo, que seria diferente das
cidades-estados Gregas.
As fundações das primeiras cidades-estados acontecem no primeiro período
mesopotâmico, que é chamado de Período Sumério Antigo, estas cidades tinham no centro
um templo que futuramente na história seria substituído por um palácio. O templo constituía
um dos dois níveis existentes na sociedade, o outro era a comunidade formada por alguns
cidadãos livres.
Havia um soberano divinizado em cada cidade, cujo acreditava ser o dono e possuidor
de todas a terras. Para os mesopotâmicos, a realeza era vista como uma forma natural de
governo, no documento Lista Real Suméria, tem uma passagem no qual diz que “a realeza
desceu do céu” confirmando essa forma natural de governo.
Para a fase da Mesopotâmia que corresponde ao terceiro milênio a.c., Ciro Flamarion
Cardoso, historiador brasileiro, verifica duas tendencias de evolução
“1) [...] com o surgimento do palácio como instituição independente
que acabou por superar os templos no seu grau de controle sobre recursos e
pessoas; 2) a alternância de fases de afirmação da independência política das
cidades-estados com outras que se deram tentativas, cada vez mais
consistentes, de formação de unidades políticas mais amplas. (Cardoso. 1994,
p 65)”

Ao decorrer da história Mesopotâmia Antiga, ela foi uma civilização composta por
diversos povos, várias conquistas e períodos até que chega ao seu fim com as invasões de
Ciro, o Grande, da Pérsia, em 539 a.C. e, por fim, de Alexandre Magno, em 311 a.C.
Critica geral:
O capitulo resenhado de Maria Thereza David João, cumpre seu objetivo de clarear a
história política das sociedades antigas (Egito e Mesopotâmia), focando mais no Egito antigo.
O capitulo não busca demonstrar estudos aprofundados sobre o tema e sim pavimentar para
um estudo posterior do leitor, a autora trabalha com especialistas renomados na pesquisa e
com especialistas de outras áreas a fim de desvendar a burocracia das sociedades antigas,
como Max Weber tratado na parte 1. O conceito de burocracia nas sociedades antigas,
que foi bastante pertinente o uso da autora em cima de sua obra e do conceito Burocracia
patrimonial, para entender o sistema burocrático nos povos egípcios e não cair em
anacronismo ao analisar a dita burocracia antiga com a contemporânea. Senti falta do
conceito de oikos entendido como provisão organizada de necessidades, ainda que lhe
possam estar agregadas empresas com economia aquisitiva, que Weber1 afirma que a
sociedade egípcia estava organizada, ideologicamente segundo este modelo. A autora entra
mais afundo no assunto no texto RELAÇÕES DE PATRONATO NO EGITO ANTIGO (2134-
2040 A.C), aonde da mais ênfase no patronato, abordado no texto por Fábio Faversani e J.
David Schloem.
Contudo na segunda parte Maria, explana maior a história do Egito, mostrando a
política e os modos de Estados dos faraós que governaram, novamente ela usufrui de diversas
fontes segundarias que deixa o texto rico em detalhes. Podemos perceber pela segunda parte
que a nação egípcia antiga nasceu e renasceu diversas vezes, achei bom a autora fazer um
panorama geral da história do Egito antigo e dos diversos governos que tiveram. Senti falta
do princípio maat, ao longo do capitulo, acho que a autora poderia ter abordado um pouco o
princípio nos governos dos faraós.
A terceira e última parte, segue o caminho da segunda em retomar a história do Egito,
mas agora falando da história da Mesopotâmia. Como trata-se de uma parte menor, a autora
não usa muitas fontes de outros pesquisadores, como dito acima e nessa parte fica evidente
ela busca da uma introdução sobre o tema para estudos posteriores. Um ponto importante
que Maria Thereza poderia ter aborda era a existências dos puhrum, que seriam fóruns
frequentados por cidadãos comuns, mesmo não tendo a certeza da existência deles, seria
interessante uma visão mais voltada para população.
Ao longo das aulas me interessei bastante sobre o tema Egito antigo, esse foi o motivo
da escolha do meu texto, como ele é mais introdutório serviu como uma “porta de entrada”
para ter um panorama geral do tema. Ainda não pude ler o livro de Maria Thereza João todo,
mas por esse capitulo se cria uma noção de alguns conceitos chaves para sociedades no
Egito e Mesopotâmia, o texto segue um caminho linear que é fácil de ler e não cansativo,
como a autora trabalha muito com fontes segundarias, tanto como outros escritores e
documentos, ao fim do capitulo o leitor se interessa bastante em pesquisar mais sobre os
temas abordados, fui atrás de outros trabalhos da autora para entender mais sobre o Egito.
Único ponto que não me agradou foi o fato de usar um conceito e no decorrer do texto
esquecer ele, além disso não tenho outro ponto a ressaltar.

1Maria Thereza David João entra mais afundo no estudo de Max Weber em sua tese de Mestrado; Dos Textos das Pirâmides
aos Textos dos Sarcófagos: a "democratização" da imortalidade como um processo sócio-político.
Referência bibliográfica:
JOÃO, Maria Thereza David, 2012. Tópicos de História Antiga Oriental. Curitiba, Intersaberes.
JOÃO, Maria Thereza David, RELAÇÕES DE PATRONATO NO EGITO ANTIGO (2134-2040
A.C) (1), NEARCO - REVISTA ELETRÔNICA DE ANTIGUIDADE, v.1, n.1 (2008), p.82 - 93.
JOÃO, Maria Thereza David. Dos Textos das Pirâmides aos Textos dos Sarcófagos:
considerações sobre a “democratização” da imortalidade como um processo sócio-político,
2008, São Paulo.

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