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Protodinástica
II Unidade
A situação étnica e demográfica
Nas variedades regionais uma diferença entre o norte e o sul que é ecológica e
sociopolítica.
- Ecológica: a parte alta controlava os cursos da água.
- Sociopolítica: no sul, a colonização do templo é predominante. No norte tem um espaço
mais amplo para a população livre.
Variáveis Etnolinguísticas
A posição central do templo na cidade aparece agora com mais clareza, graças à
documentação escrita, em suas duas vertentes: de centro ideológico e cerimonial e de
centro de decisão e organização.
O projeto arquitetônico do templo reflete esta ambivalência, de instituição total. Os
espaços onde se realizam tarefas econômicas e administrativas (armazéns, arquivos) e
moradia divina.
Ambiguidade entre a função do templo como centro diretivo e como célula (sobretudo de
culto, mas também de produção e organização) na cidade-estado.
Palácio, templo e casas familiares
casa
O centro diretivo fica com “palácio”, enquanto o templo conserva suas funções de culto e
também suas consolidadas funções econômicas, ainda que já integradas na organização
central global.
Na divisão de funções entre templo e palácio, o primeiro fica com a primazia ideológica
(incluindo a legitimação divina do poder), enquanto o segundo com a primazia operativa.
No âmbito da organização interna é importante assinalar que a visão mesopotâmia reuniu
templos, palácios e casas familiares na categoria unitária de “casa” no sentido de “unidade
produtiva” e administrativa, célula básica da sociedade.
Coexistência entre templo e palácios
No protodinástico, os templos já têm uma longa história, enquanto os palácios são mais
recentes. A classe dirigente “laica” sucede a classe dirigente do templo, que necessita
afirmar uma imagem mais personalizada da realeza, reforçando “dotes” humanos e sociais
compreensíveis como a força ou a justiça.
Após a aparição dos palácios laicos, continua importante a função econômica do templo,
além da ideológica. Porém, mais matizada e condicionada pela existência do palácio. Na
mesma cidade coexistem templos muito extensos e complexos, onde se realizam atividades
econômicas, e outros menores onde se realizam atividades de culto.
Organização templária
O templo se torna uma célula do estado palatino, coesa, similar a outras células, e, portanto
módulo que pode multiplicar-se para servir de apoio a uma organização política mais
ampla e ampliável.
No interior do templo há uma hierarquia de administradores sacerdotais que, em linhas
gerais, mantém um organograma já traçado nos textos arcaicos de Uruk. Abaixo dos
dirigentes, estão os vigilantes e em seguida, os trabalhadores.
O templo se ocupa de vários setores: a administração, o armazenamento, os serviços e
produção primária. Entre os níveis há um grande número de pessoas, uma grande extensão
de terras de cultivo e uma proporção importante das atividades econômicas que dependem
do templo.
Cidade-Templo = Modelo
- Conclusão: reserva de comunidades aldeãs com terras próprias e sua própria organização
econômica; influência da grande organização é muito grande.
- População aldeã “contribui” para a acumulação de produtos de duas formas:
- mediante cessão de parte dos produtos que produz (taxação);
- prestação de trabalho (agrícola ou militar);
A organização central no campo
- Templo utiliza as terras que eram preparadas para o cultivo ao longo dos canais novos,
condenando as aldeias a desempenhar papel marginal e obter benefícios cada vez mais
reduzidos;
Venda de terras:
Combinação de tradição e inovação
- Tradição: formas cerimoniais – vendedores recebem cotas decrescentes como dons de
acordo com seu grau de parentesco com vendedores primários, vestígios de propriedade
mais familiar que pessoal;
- Inovação: - Testemunhas: escriba urbano (garantias e mediação); comprador único: que
substitui a propriedade familiar e inalienável por outra pessoa e convertida em mercadoria;
Dependência de setores da população à
organização central
Parte da população que depende do templo e palácio é cada vez mais numerosa e
dominante. Administradores, comerciantes, escribas, artesão especializados -> representam
a inovação, racionalização e enriquecimento.
Distinção nos aspectos funcionais entre dependentes do templo (especialistas) e “homens
livres” = superposição econômica de caráter classista. Pobreza dos aldeãos que os levam a
vender terras: tornam-se dependentes do templo.
Terra e Trabalho:
Pluralidade dos deuses leva a uma pluralidade de centros políticos, um por cidade, um por
deus. Cada cidade eleva o papel do deus próprio, colocando-o acima do deus de outras
cidades.
Teologias e genealogias divinas
Formulação de teologias e genealogias divinas que variam de cidade para cidade. Relação
entre cidades não são relações de iguais para iguais. Na mesma cidade se sucede diferentes
dinastias, que requerem justificativas teológicas. O deus concede ou retira seu aval de
acordo com o comportamento do monarca.
Ideia de uma realeza única
Ao mesmo tempo que as teologias isolam tendências unificadoras, se abre caminho para a
ideia de uma realeza única, que circula nas cidades com formas hegemônicas que adiciona
sua origem prática a uma justificativa teológica. Reis mais poderosos = querem diminuir
conflitos entre cidades, ou assumir títulos que revelam controle sobre outras cidades.
Nippur
Guerra: rei manda nas operações, mas o resultado depende da vontade divina, das
vontades, entre os deuses em contenda. Comportamento do deus é reflexo do
comportamento real. Rei comete infração = o deus abandona a proteção sobre a colheita e
a cidade.
O culto – o rei é responsável pelas boas relações com a divindade. Legitimidade é
ideológico, pois justificava que o poder procede da capacidade de exercê-lo. Isso fica claro
para usurpadores, que legitimam seu poder pelas suas capacidades (dotes especiais).
Cultos diários: festas, ano novo e oferendas não periódicas. Complexo cerimonial,
dirigido pelos sacerdotes, em que o rei é o primeiro ator, como legitimo representante da
comunidade urbana ante o deus da cidade.
Situação do camponês ante a essa máquina redistributiva e administrativa:
Cultural: mecanismo de oferta que é levada aos templos todos os dias. Mobilização de
trabalho e concentração excedentes se realiza no marco de uma organização racional de
recursos econômicos, no âmbito das relações entre o mundo humano e divino. Camponeses
acham que estão mantendo a divindade, sendo estas as “consumidoras” do excedente, em
troca de uma contrapartida futura.
Mítica: situar a figura do deus ou um herói fundador na origem dos aspectos físicos e
culturais da vida atual, que se situa em um tempo mais ou menos remoto.
1ª Organização do Mundo: passado inicial, deus supremo.
Aspectos mais específicos: atribuição a distintas divindades, que seguem funcionando.
Aparecem seres semidivinos ou não divinos: reis antiquíssimos, aos que se deve a introdução de
novos elementos no cenário urbano, progresso técnico. Não há uma separação clara entre deuses e
heróis. Separação entre natureza e cultura;
Deuses: fundações dos fatos naturais.
Heróis: culturais – instituições sociais.
Mas se dá traços divinos aos protótipos míticos da realeza e ao poder humano. Algumas divindades
da lista real suméria (dumulzi a gilgamesh) tem uma origem humana e histórica.
Histórias míticas com uma intenção fundadora estão sujeitas a reinterpretações. Não se pode
afirmar que os mitos de fundação remontem ao protodinástico, pois muitos de seus temas se
referem a períodos posteriores.
Gilgamesh
Colocado entre estas forças, o homem se deu conta de sua impotência, com o
temor produzido ao encontrar-se no campo de ação de forças gigantescas. Seu
caráter tornou-se tenso, sua falta de poder o proporcionou uma consciência aguda
de suas trágicas possibilidades.
A experiência da natureza que produziu esse caráter teria sua expressão direta na
noção que o mesopotâmio formou acerca do cosmos em que vivia.
De modo algum foi cego à grande regularidade do cosmos; o considerou como
ordem e não como um conjunto anárquico. Nele e abaixo dele percebia uma
multidão de poderosas vontades individuais, virtualmente divergentes,
potencialmente em conflito, repletas de elementos anárquicos. Estava diante da
natureza e de suas forças gigantescas e obstinadas.
A ordem cósmica para o mesopotâmio