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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÓMICAS CUAMBA

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1˚ Ano

TRABALHO DA CADEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BÁSICA

Trabalho de individual

Tema:

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Discentes: Docente:

Olga Mónica Dr. Elias Ernesto

Cuamba, Novembro 2022


Índice
1. Introdução.............................................................................................................................1
2. A Administração Pública no Estado Medieval..................................................................2
3. A Administração Pública no Estado Oriental...................................................................3
4. A Administração Pública no Estado Grego.......................................................................4
5. A Administração Pública no Estado Romano...................................................................5
6. A administração pública no Estado moderno...................................................................5
7. Evolução Francesa...............................................................................................................6
8. A Administração pública no Estado Liberal.....................................................................6
9. Conclusão..............................................................................................................................8
10. Bibliografia.........................................................................................................................9
1. Introdução

Lênio Streck e José Luis Bolzan de Morais denominam o Estado Antigo (Oriental ou
Teocrático), o Estado Grego, o Estado Romano e o Estado Medieval de formas estatais pré-
modernas, em que não havia clara distinção entre as relações privadas e as públicas, ou seja, a
dicotomia entre Estado e sociedade civil, tampouco as características fundamentais do Estado
Moderno: território e povo (elementos materiais) e governo, poder autoridade e soberania
(elementos formais). Da mesma forma, o tipo de dominação diferencia-se entre ambos tipos
estatais, sendo que na moderna passa a ser legal-racional, ao passo que na anterior era
baseada no carisma do soberano (STRECK; MORAIS, 2004, p. 26).

Max Weber dicotomiza as organizações estatais em duas grandes categorias: a baseada na


propriedade, ou seja, a associação feudalmente estruturada, e a com base na separação dos
meios de administração do quadro administrativo. Esta é forma do Estado Moderno, que é do
Estado burocrático, assim conceituada (WEBER, 1964, p. 17):

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2. A Administração Pública no Estado Medieval

Durante o decurso da Idade Média, período que decorreu, sensivelmente, entre o século V
d.C. e o século XV e apesar da implementação do regime feudal – mais concretamente na
Península Ibérica o designado regime senhorial – constata-se uma forte descentralização do
poder do Estado em prol do ius dominium, (poder local) designadamente, nas várias
instituições religiosas, com predominância para a Igreja Católica, em virtude da forte
dispersão de povoamento que originou uma necessidade premente de auto-organização das
populações locais.

Na Idade Média o rei era o centro do poder. O poder efectivo era exercido pelos diversos
funcionários que substituíam o rei, nomeadamente, no comando militar, na administração
civil do reino e na promulgação das leis.

Com efeito, por essa altura, o Estado não se ocupava das funções educativas, culturais,
sociais, nem tão pouco de tarefas sociais. Tais funções cabiam, essencialmente, à Igreja
Católica e às demais instituições, tais como, as Misericórdias. Contudo, é no decurso da Idade
Média que se dá início ao surgimento de alguns órgãos centrais, tais como, a Cúria Régia que
no seu seio integrava religiosos, homens ricos e membros da família real.

Este grupo tinha a sua sede na corte e fazia parte do conselho do rei possuindo iniciativa
legislativa e capacidade de decisão, a figura dos Alferes - Mor, bem como dos funcionários
régios que tinham como função proceder à cobrança de impostos para o erário público surge
nesta altura. Com o crescimento do poder real nos séculos XIII e XIV constata-se a
necessidade da criação de novos empregos na vertente da manutenção da ordem pública e da
administração da justiça.

No entanto, sensivelmente, a partir do século XIV, a Coroa verificou que tratandose de


funções de manifesto interesse colectivo, não podia a mesma deixar de as regulamentar e
fiscalizar. Esta centralização do poder régio levou a uma maior intervenção dos poderes
públicos nas várias tarefas de administração pública das colectividades (exemplo desse
período, são as chamadas Ordenações Manuelinas e Filipinas do século XVI e as Ordenações
Afonsinas no século XV).

O desenvolvimento social acima descrito originou necessariamente, o fortalecimento do


poder real com o intuito de submeter a nobreza e a Igreja Católica ao poder da Coroa,

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passando o Rei a ser o supremo legislador e supremo juiz culminando na máxima “The King
can do no wrong”. A concentração dos poderes administrativo, político e judicial na pessoa
do rei aumenta no período da expansão colonial. Com efeito, introduzem-se alterações no
sistema administrativo, em especial na Administração Central, com a criação de um gabinete
composto por ministros ou secretários que tinha por objectivo a justiça (fiscalização e
administração da justiça) nas terras senhoriais.

A administração territorial do reino, no século XV, dividiu-se em seis províncias ou comarcas


e perdurou até às reformas introduzidas pela Reforma Liberal em meados do século XIX (de
realçar que só o Algarve era possuidor da categoria de reino).

3. A Administração Pública no Estado Oriental

O Estado Oriental é o tipo histórico de Estado característico das Civilizações Mediterrânicas


e do Médio Oriente – do terceiro ao primeiro milénio A.C.

Os seus principais traços políticos são: território de grande extensão, Estado unitário, regime
autoritário ou totalitário, inexistência de garantias do indivíduo face ao poder.

É com este tipo de Estado que nascem as primeiras Administrações Públicas, na verdadeira
acepção da palavra. As civilizações da Mesopotâmia e do Egipto deslocaram-se para junto
dos rios, fazendo a população o aproveitamento das suas águas. Em consequência disso, os
titulares do poder político realizaram várias obras públicas, nomeadamente técnicas de
irrigação, diques, cais e drenagem.

Para as realizar, socorreram-se da cobrança de impostos. As primeiras Administrações


Públicas da história nascem quando os imperadores constituem a sua hierarquia, funcionários
permanentes, pagos pelo tesouro público, para cobrar impostos, empreender obras públicas e
assegurar a defesa contra o inimigo externo.

A AP surge, desta forma, sob o signo do intervencionismo económico e social. É sobretudo


por esta razão que Karl Marx autonomizou, na análise dos sistemas económicos do Estado,
«o modo de produção da Ásia».

A par dos fenómenos supra mencionados, houve a criação de órgãos e serviços a nível central
junto do imperador, a divisão do território em áreas onde se encontram os delegados locais do
poder central, o exercício de fiscalização às actividades desenvolvidas pelos particulares e a
intervenção do poder público no sector económico, social e cultural.

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4. A Administração Pública no Estado Grego

O Estado Grego é o tipo histórico de Estado característico da Civilização da Grécia, do século


VI ao século III A.C.

Os seus principais traços políticos são, a saber: reduzida expressão territorial, o povo aparece
no centro da vida política, surge pela primeira vez na história o conceito e a prática de
democracia, nasce o Direito Constitucional, os cidadãos passam a gozar de direitos de
participação política, as garantias dos indivíduos face ao Estado são reduzidas.

A Grécia encontrava-se dividida em cidades-Estados, autónomas, independentes e às vezes


inimigas. Os Gregos chamavam-lhe Polis. Era uma cidade na qual se incluía o território –
campos e aldeias – das redondezas, cujos habitantes tinham o seu governo próprio e
independente dos das cidades vizinhas.

O Estado Grego é composto por uma assembleia política, da qual dependem directamente as
magistraturas, com poderes administrativos e judiciais. Essas magistraturas são
especializadas por áreas, nomeadamente os arcontes que presidem à organização dos
Tribunais e ao culto dos deuses; os estrategas são os chefes militares e negoceiam os tratados;
os exegetas interpretam o Direito Religioso; outros têm por incumbência arrecadar os
impostos e administrar o tesouro público. Como o tempo era de guerras frequentes, os
estrategas tornaram-se os mais importantes chefes políticos de Atenas.

Os magistrados são responsáveis perante as logistai, comissões de verificação que fazem


relatórios sobre a gestão que fiscalizaram. Ao Tribunal dos heliastas cabe examinar essas
contas e tem o poder de condenar criminalmente os magistrados.

Os enthynoi são o órgão a quem os cidadãos têm o direito de formular queixas que poderão
seguir para tribunal. Encontra-se, assim, assegurado o princípio do controlo administrativo e
judicial dos órgãos superiores da Administração.

As funções dos magistrados têm apenas a duração de um ano, para evitar abusos de poder, e
são assegurados por assessores, os paredras, que podem substituir legalmente os magistrados
no exercício das suas funções, por funcionários auxiliares, escribas e secretários.

Os funcionários são reduzidos e com funções temporárias. Não há um funcionalismo


profissional, com funções permanentes e pago pelo Estado. Consequentemente, o Estado não
consegue dar uma resposta cabal a todas as solicitações dos cidadãos. Muitos autores ligam a

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decadência da cidade-Estado e da civilização grega a essa incapacidade de construir e de
fazer funcionar um sistema administrativo eficiente.

5. A Administração Pública no Estado Romano

No Estado Romano, verifica-se uma expansão extraordinária em termos territoriais e sua


colonização, um poder político estável e evolutivo, que reflecte as várias formas de governo:
Monarquia, República e Império. O cimento da língua e a extensão da cidadania, com
Caracala, e sobretudo uma Ciência do Direito de elevado gabarito, com uma separação da
esfera de influência do Estado perante os particulares e contraposição de um direito público
ao direito privado. Criação de um corpo de funcionários de carreira, pagos, como suporte de
uma organização administrativa diferenciada, e fiéis executores das directrizes
administrativistas: obras públicas, finanças, polícia, defesa e a diplomacia.

Embora alguma doutrina, Max Weber, por exemplo, não descortine um Estado na Idade
Média, não é esse o entendimento da maioria, e vamos atender ao fio condutor de Jellinek: é
o Estado típico da Idade Média, do século V a XV DC. Assiste-se a deslocalização política,
do imperium ao dominium, influência do Príncipe, sucessão nas funções públicas,
corporativismo nos ofícios, com um predomínio evidente da forma de governo monárquico;
assiste-se no entanto, e no caso português, a órgãos centrais de referência, como a Cúria
(Régia), o Chanceler e o Alferes-Mor, com delegação régia, com expressão territorial, os
corregedores e os juízes de fora, por oposição aos juízes locais, os alcaides, e os tenentes,
bem como outros funcionários do rei, sendo este último, o decisor primeiro; não existe
separação de poderes, com direitos simultâneos de julgar e de administrar. O monarca nunca
se engana e não é susceptível de responsabilidade pelos actos praticados.

6. A administração pública no Estado moderno

A administração pública no Estado moderno é também na concepção do Professor Freitas do


Amaral, um tipo de Estado do século XVI ao século XX; neste período, distingue-se um
Estado de características corporativas, na viragem do Feudalismo, até ao início do século VII:
estamental, clero, nobreza e povo. Em Portugal assiste-se a aumento da produção e
compilação legislativas, sobretudo a partir das Ordenações Afonsinas. Assinala-se um
aumento da burocracia a uma maior diferenciação dos órgãos e actividade administrativa,
como por exemplo o apuramento da contabilidade pública pelo contador-mor. As garantias
dos particulares permanecem débeis. No Estado Absoluto, tem lugar o enfraquecimento da
nobreza, face à centralidade do Rei, patente no modelo francês, modelo que serviria ao

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figurino da maioria dos países europeus de então: centralização do poder político e
administrativo, com delegação de poderes em funcionários e organização em grandes áreas
públicas, do exército, às grandes obras nacionais. Se em França impera o favor no
recrutamento, na Prússia, com Frederico (O Grande) o mérito para aceder a funções públicas,
é essencial.

7. Evolução Francesa

A Revolução Francesa foi um processo revolucionário que ocorreu entre 1789 e 1799 na
França. Alguns autores indicam que foi a burguesia quem a liderou e, por isso, ela é uma
das Revoluções Burguesas. Mas isso é controverso, uma vez que parte da nobreza, como o
duque de Orleans, apoiou as modificações que ela trouxe.

Assim, a característica de revolução burguesa da Revolução Francesa é mais pelo seu


resultado final, que colocou a burguesia como classe dominante após o longo processo em
que ela aconteceu. A burguesia não existia como classe, ou seja, não tinha uma organização e
um pensamento comum e só ganhou algo assim durante o processo revolucionário.

A Revolução Francesa espalhou pelo mundo os ideais de “igualdade, fraternidade e


liberdade”. Este era o seu lema, representado por uma imagem da Marianne, uma mulher
erguendo a bandeira da França, personificando as ideias revolucionárias.

Esse lema está presente até os dias de hoje, e inspirou acontecimentos marcantes da
história da humanidade durante a Idade Moderna.

Mas isto é um grande paradoxo, pois os revolucionários não aplicam esses três valores
àqueles que discordam de seus métodos. Foram aproximadamente 18.000 assassinatos em 10
anos.

Grande parte das mortes aconteceram na segunda das três fases da revolução, mas a forte
oposição aos que discordam sempre foi uma marca desse movimento.

8. A Administração pública no Estado Liberal

Do Estado absoluto ao liberal a ruptura não foi total, por baixo dos princípios ideológicos e
estruturais definidores do Estado constitucional existem linhas de continuidade, através do
qual sobrevivem conteúdos do antigo regime, por isso, não deve-se pensar na administração
como um processo de ruptura e destruição da administração absolutista, sem construir outra
para o seu lugar.

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Existe continuidade entre a velha instituição do antigo regime absolutista e as novas
instituições liberais, a revolução Francesa veio introduzir alterações no domínio
administrativo. A administração pública no Estado liberal surge assim com a mescla das
velhas instituições, com os novos princípios, assim como com o surgimento de novas
instituições.

O modelo de administração pública do Estado liberal caracterizava-se por fazer do acto


administrativo o seu modo quase exclusivo de agir, quanto a organização administrativa por
apresentar uma estrutura concentrada e centralizada e relativamente a fiscalização dessa
actividade, pelo sistema da justiça delegada. A organização administrativa do Estado liberal
pode ser caracterizada pela concentração e centralização, pois o Estado liberal vai herdar do
seu antecessor a organização centralizada do poder. A razão de ser deste modelo prende-se ao
facto do liberalismo pretender dar respostas a algumas exigências políticas, como a burguesia
que precisava de uma estrutura racional e centralizada para eliminar as disparidades locais
conseguir formação de um mercado nacional, bem como eliminar os entraves feudais e
também precisava de uma administração robusta e energética que procedesse a criação das
infra estruturas e servições necessários para potenciar a actividade económica e que
permitisse a instauração da ordem política e económica do liberalismo, o liberalismo
procurou criar uma estrutura administrativa racional e eficiente, que lhe permitisse a
realização do seu programa político, neste modelo o poder público é organizado como um
corpo unitário, igualmente difundido pelo centro e pela periferia, distribuído por matérias ou
grupos de matérias, a administração adquiriu assim uma estrutura unificada e hierarquizada,
em que as competências dos diversos órgãos se encontram escalonadas e encadeadas a
semelhança de uma pirâmide.

O Estado Liberal vai procurar, através do seu modelo de justiça delegada, conciliar os
interesses da administração com a protecção dos particulares, a ideia de controlo da
administração por uma entidade independente, mas com poderes limitados, correspondia ao
ambiente de direito do Estado liberal. Por um lado assegurava-se a primazia da
administração, através da sua fiscalização por um órgão que apesar de se reconhecer que
exercia uma função jurisdicional, se integrava no poder administrativo e cujos poderes de
fiscalização se limitavam a anulação dos actos administrativos, por outro lado, garantia.se a
protecção dos direitos individuais, a qual era realizada sobretudo através da lei e não de
meios jurisdicionais.

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Para os liberais a administração devia submeter-se ao princípio da legalidade, entendendo-se
que a melhor defesa dos direitos dos cidadãos era a que provinha da lei, enquanto
manifestação da vontade geral.

9. Conclusão

Podem-se descortinar várias fases evolutivas da Administração Publica, em conexão com os


diferentes tipos de Estado propostos por Jellinek; para tal temos que afirmar os pressupostos
da existência do Estado, i. é, um território, um povo e um poder político. Deve-se ao
florentino Nicolau Maquiavel, famoso pela obra “O Príncipe” o vocábulo Estado, do
latim statu, como algo estático, uma realidade política perene, no espaço e no tempo.

A administração pública no Estado Oriental nasceu em civilizações estabelecidas em torno de


cursos fluviais, Mesopotâmia e Egipto, cujas obras hidráulicas exigiram um funcionalismo
capaz de cobrar impostos e de levar a cabo obras públicas e proporcionar a defesa territorial;
intervenção no plano económico e social, sem protecção dos particulares.

A novidade da administração pública no Estado grego, apesar da reduzida dimensão


territorial das cidades-Estado, é o apuramento político e a participação dos cidadãos e a
antecâmra do constitucionalismo, pese embora as poucas garantias individuais, perante o
Estado. Da responsabilidade das assembleias, surgem magistraturas, com poderes judiciais e
administrativos, embora sujeitas ao escrutínio popular, para se evitarem abusos funcionais.

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10. Bibliografia

Cfr. Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Vol. II, Livraria Almedina,
Coimbra, 1986.

V. Sobre os diferentes tipos históricos de Estado, Jorge Miranda, Manual de Direito


Constitucional, I, 3.ª ed., 1985, p. 51 e ss; e Diogo Freitas do Amaral, «Estado», in Polis, II,
col. 1156 e ss.

Cfr. Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Vol. I, Livraria Almedina,
Coimbra, 1992, p. 53.

O estudo de Ferrel Heady, Public Administration, 2ª ed., p. 133 e ss.

VASCO PEREIRA DA SILVA, « Em Busco do Ato Administrativa Perdido», Almedina ,


Coimbra, 1998.

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