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CAMPUS RECIFE
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
PROFESSORA: CAROLINE BORGES
DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS SOCIEDADES DA ANTIGUIDADE ORIENTAL
1ª VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
RECIFE – PE
2023
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SUMÁRIO
1 – Introdução……….……………………………………………………….………….…………..2
2 – Desenvolvimento……………………………………………………….……………….……….3
2.1 – A “Revolução Urbana”, nas ideias Gordon Childe……………………………………………..3
2.2 – Os contrapontos e argumentos apresentados sobre Revolução Urbana por Mario Liverani…...4
2.3 - Identificação dos elementos de Revolução Urbana por Childe e Liverani na descrição da
cidade de Uruque, da obra Mesopotâmia: A Invenção da Cidade de Gwendolyn Leick…………….5
3 – Conclusão……………………………………………………………………….……………….6
4 – Referências……………………………………………………………………………..…….… 7
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1 - INTRODUÇÃO
2- DESENVOLVIMENTO
No sétimo capítulo de sua obra A Evolução Cultural do Homem, Gordon Childe argumenta,
que a Revolução Urbana (ou “Segunda Revolução” como ele também a chama, sendo a “Primeira
Revolução” a Revolução Neolítica), começa a surgir, de maneira geral, em cerca de 3000 a.C.,
quando sociedades agrícolas de planícies aluviais (Mesopotâmia, Indo, Egito), após terem
acumulado consideráveis conhecimentos técnicos e científicos, disporem de terras férteis e serem
capazes de produzir vastas quantidades de alimento, dispondo de uma coesão social e economia
mais centralizada, devido à necessidade de organização de suas obras públicas como canais,
drenagens e irrigações, passam a realizar importação de matérias-primas que eram escassas nas suas
regiões em troca de alimentos excedentes de sua produção, que não eram utilizados somente para a
aquisição, mas também para a manutenção dos trabalhadores especialmente dedicados à obtenção e
transformação desses materiais.
Com isto, essa mão de obra especializada (construtores, carpinteiros, artesãos) passava a se
acumular nas aldeias mais prósperas, onde por meio da prática religiosa e de corporações de
sacerdotes, que representavam deidades capazes de garantir fortuna em fenômenos que o ser
humano é incapaz de controlar, como por exemplo as chuvas, ou ainda por prestígio, os camponeses
passavam a “pagar” tributos com os alimentos excedentes, em troca desses benefícios místicos e
também sociais. Daí sendo possível por meio do excedente, nas mãos desses grupos, a manutenção
integral de mão de obra especializada, inicialmente ainda em estágio rudimentar, utilizada na
construção de templos e palácios, que passavam a gerir essa riqueza excedente, e em seguida, dos
projetos e da defesa da região, exercendo uma organização social proto estatal.
Os templos e palácios, com suas novas classes de especialistas, passavam por exemplo, a
demandar artefatos exóticos e mais refinados, como mobília, peças de arte e de uso religioso, que
eram produzidas pelos artesãos e obtidas pelos comerciantes mantidos num sistema de rações com
os excedentes agrícolas. A partir dessas práticas, também eram esses conhecimentos aproveitados na
elaboração de ferramentas, armas e outros produtos, daí em diante, um ciclo de oferta e demanda de
serviços surgia nesses centros urbanos, dando um salto organizacional, passando a acumular cada
vez mais pessoas, devido à capacidade de satisfazer essas necessidades e também por serem esses
centros, que passariam a ser cidades, bem protegidos pela administração templária ou palaciana por
neles haver as sedes administrativas dos excedentes.
A partir das necessidades de administração das oferendas, de empréstimos, de acordos
comerciais e afins, começaram a ser desenvolvidos, sistemas de escrita, padronização de medidas, e
formas de se comparar o valor de mercadorias com mercadorias padrão como a cevada, prata e o
cobre.
Além disso, Childe também exemplifica que em diferentes sociedades, diferentes fatores
causaram o impulsionamento da unidade regional e dos avanços técnicos; no Egito foi a unificação
de Menes e a cultura funerária, enquanto na Suméria, foram as cidades-estado com sua identidade
comum e posterior unificação por Sargão.
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2.2 – Os contrapontos e argumentos apresentados sobre Revolução Urbana por Mario Liverani
Na sua obra Antigo Oriente: História, Sociedade e Economia, Mario Liverani argumenta
que a expressão “Revolução Urbana” é objeto de críticas mas ainda continua sendo um forte
conceito de investigação dos fatos. Para ele de fato houve um “salto” organizacional, o qual
argumenta que é o mais substancial, em paralelo ao “salto” urbanístico que é mais evidente. Porém
este “salto” organizacional não surge de repente, e suas consequências não são passageiras, mas foi
precedido e sucedido de formas de desenvolvimento mais duráveis. Ele traz um contraponto às
teorias anteriores que privilegiavam os fatores tecnológicos, organizacionais e demográficos,
argumentando que estamos diante de um mecanismo de “tipo sistêmico”, onde ocorrem interação de
diferentes fatores que acaba por impulsionar uns aos outros, citando o seguinte exemplo:
- Os especialistas não possuem meios de produção própria, trabalham para os templos e palácios em
troca de rações e repartições de terra, são servos do rei ou divindade e fazem parte do estado.
- Os camponeses são livres, possuem seus próprios meios de produção (terras, rebanhos, etc),
trabalham para si mesmos mas são tributários da cidade/estado/ são protegidos por ele
- As grandes obras hidráulicas de irrigação só eram possíveis através de unidades regionais que
garantiam um gerenciamento central, pois as obras hidráulicas beneficiavam algumas terras mas
podiam danificar outras, isso gerava conflitos
- O grande crescimento demográfico causado da Revolução Urbana não fora causado por migrações
como inicialmente se pensava, mas pelo crescimento da produção alimentar
- Havia também como forma de tributo o trabalho obrigatório de camponeses nas terras do estado
(corveia)
- As cidades eram caracterizadas, além dos grandes projetos arquitetônicos, pela presença e
construção de muralhas de proteção, que garantiam maior capacidade defensiva
- As práticas religiosas que dão origem às “Grandes Organizações” (Templos e Palácios) recebem o
melhor dos dízimos e oferendas, os especialistas mantidos por ele tem mais prestígio, em oposição à
massa de camponeses, essa estrutura justificava a desigualdade social necessária para que esse
sistema operasse.
Além disso, é importante ressaltar, de maneira mais simplificada, que, enquanto para
Gordon Childe, a Revolução Urbana teve início com o do aumento da produtividade agrícola, que
permitiu utilizar os excedentes para outros fins e o surgimento de novas invenções técnicas e a
aquisição de conhecimentos científicos sobre a natureza, em contrapartida, Mario Liverani
argumenta que a Revolução Urbana teve origem em mudanças sociais e políticas mais amplas,
como a centralização do poder político e a emergência de uma classe dominante que passava
controlar a produção agrícola e a distribuição de bens.
2.3 – Identificação dos elementos de Revolução Urbana por Childe e Liverani na descrição da
cidade de Uruque, da obra Mesopotâmia: A Invenção da Cidade de Gwendolyn Leick
- Uruque era uma cidade grande para a época, os centros urbanos da época cidades eram pequenas
aldeias com algumas centenas ou, no máximo, alguns milhares de habitantes. O tamanho de Uruque
indica que a cidade era um importante centro demográfico, político e econômico da região.
- Presença de Muralhas. Assim como explicado por Liverani, estas primeiras importantes cidades
dispunham de riqueza que precisava ser protegida. Além disso a presença de muralhas indicada
também a presença da riqueza, por ter capacidade de manter a mão de obra para erigi-las. Uruque
era cercada por muralhas de até sete metros de altura, com fundações de tijolos cozidos.
- Uruque possuia construções monumentais, identificadas como templos como por exemplo o
Templo de Anu e o Templo de Inanna. Esses templos possuíam câmaras, que possivelmente
indicavam o armazenamento de excedentes. Eram edifícios monumentais, ricamente ornamentados.
Eles eram importantes como centros de produção e distribuição de bens agrícolas, como grãos e
animais.
- A cidade chegou a ser governada por reis como Gilgamesh, que exercia poder sobre a cidade e a
região circundante. O rei era o principal detentor do poder político e militar da cidade, e
possivelmente supervisionava a construção de projetos públicos, como templos, palácios e
muralhas.
3 – CONCLUSÃO
Com base nessa análise das ideias de Gordon Childe e Mario Liverani sobre a Revolução
Urbana, bem como na descrição da cidade de Uruque feita por Gwendolyn Leick, podemos concluir
que há fortes evidências da presença de elementos característicos dessa revolução na cidade
mesopotâmica.
Tanto Childe quanto Liverani destacam a importância da urbanização como um processo de
transformação social, em que a cidade se torna o centro da vida econômica, política e cultural. De
acordo com eles, a revolução urbana marca uma transição significativa da sociedade nômade para a
sedentária, da economia baseada no pastoreio para a agricultura e da organização social baseada na
igualdade para a hierarquia.
A descrição de Uruque feita por Leick demonstra que a cidade apresentava características
que corroboram essas ideias, como o tamanho e a densidade populacional, as muralhas de proteção,
a presença de templos como centros de poder e produção, a economia baseada na agricultura e no
comércio, e a organização política centrada templária/palaciana.
Assim, podemos concluir que as ideias de Childe e Liverani são úteis para compreendermos
a complexidade e a importância da revolução urbana na história da humanidade, e que Uruque é um
exemplo ilustrativo das mudanças sociais, econômicas e políticas que ocorreram nesse processo de
transformação.
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4 - REFERÊNCIAS
CHILDE, Vere Gordon. A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
LIVERANI, Mario. The Ancient Near East: History, Society and Economy. Tradução de Soraia