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Campinas
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
Campinas
2021
“Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.”
(Vício na Fala, Oswald de Andrade)
O objetivo deste trabalho é expor, desenvolver e refletir acerca do que Darcy Ribeiro entende
por desenvolvimento. Para isto, propomos realizar um detalhamento de seu escopo teórico,
desenvolvido principalmente na obra O Processo Civilizatório (1968). Portanto, realizamos o
esforço de expor as principais categorias apropriadas, reformuladas e desenvolvidas pelo autor,
a fim de compreender a dinâmica do que ele chama de Evolução Sociocultural. Tratamos, então,
brevemente, de todas as Revoluções Tecnológicas categorizadas pelo autor, com ênfase na
Revolução Pastoril, na Revolução Mercantil e na Revolução Industrial, especialmente
importante para entendermos o que o autor chama de Civilizações Mundiais, principalmente
com a expansão europeia às Américas, região onde se desenvolverão boa parte dos povos
subdesenvolvidos. Neste escopo, demos centralidade a dois processos complementares
fundamentais na dinâmica do processo civilizatório – a aceleração evolutiva e a atualização
histórica -, responsáveis pela diferenciação e, ao mesmo tempo, a homogeneização do fazer
humano. Argumentamos, portanto, que o tema do desenvolvimento em Darcy Ribeiro assume
uma outra dimensão - uma dimensão civilizatória, que se encontra na própria raiz da dinâmica
de conformação das sociedades humanas – iniciada, aqui, com a Revolução Agrícola. Assim,
tentamos expor com rigor a proposta do autor de formular uma antropologia dialética, de base
evolucionista, visando enriquecer o que comumente se compreende por desenvolvimento.
The objective of this work is to expose, develop and reflect upon what Darcy Ribeiro means by
development. For this, we proposed a detailing of his theoretical scope, mainly developed in the work
O Processo Civilizatório (1968). Therefore, we made the effort of expose the main appropriate
categories, reformulated and developed by the author, to comprehend the dynamics of what he calls
Sociocultural Evolution. We covered, then, briefly, all the Technological Revolutions categorized by
the author, with emphasis on the Pastoral Revolution, the Mercantile Revolution and the Industrial
Revolution, especially important to understand what is the Worldwide Civilizations, mainly with the
European expansion to the Americas, region where will be developed a good part of the underdeveloped
people. In this scope, we gave centrality to two complementary and fundamental processes in the
dynamics of the civilizing process – the evolutionary acceleration and the historical actualization -,
responsible to the differentiation and, at the same time, the homogenization of the human way. We
argue, therefore, that the development theme in Darcy Ribeiro takes another dimension – a civilizing
dimension –, that is at the very root of the human society formation dynamics – started, here, with the
Agricultural Revolution. So, we tried to expose with rigor the author’s proposal of formulate
an evolutionary-based Dialectical Anthropology, aiming to flourish what is commonly
understood by development.
1 APRESENTAÇÃO........................................................................................................6
2 O PROCESSO CIVILIZATÓRIO..............................................................................7
2.1 INTRODUÇÃO: UMA ANTROPOLOGIA DIALÉTICA............................................7
2.2 A EVOLUÇÃO SOCIOCULTURAL E O IMPERATIVO DA NATUREZA...............9
2.3 AS REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E SEUS CORRESPONDENTES
PROCESSOS CIVILIZATÓRIOS............................................................................................13
2.4 A ACELERAÇÃO EVOLUTIVA E A ATUALIZAÇÃO HISTÓRICA.....................17
3 A CIVILIZAÇÃO MUNDIAL, AS AMÉRICAS E O DESENVOLVIMENTO NO
PROCESSO CIVILIZATÓRIO............................................................................................21
3.1 A REVOLUÇÃO PASTORIL E OS IMPÉRIOS DESPÓTICOS
SALVACIONISTAS.................................................................................................................21
3.2 A REVOLUÇÃO MERCANTIL..................................................................................24
3.3 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E OS POVOS SUBDESENVOLVIDOS................29
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................37
6
1 APRESENTAÇÃO
Logo na abertura do prefácio à primeira edição da obra O Processo Civilizatório (1968),
Darcy Ribeiro apresenta sua proposta ao elaborar este trabalho:
Iniciamos com este livro a publicação de uma série de estudos sobre o processo de
formação dos povos americanos, sobre as causas do seu desenvolvimento desigual e
sobre as perspectivas de autossuperação que se abem aos mais atrasados. O objetivo
deste primeiro estudo é proceder a uma revisão crítica das teorias da evolução
sociocultural e propor um novo esquema do desenvolvimento humano. (RIBEIRO,
1997, p. 7)
Desta introdução, destacaremos dois pontos que consideramos fundamentais para este
trabalho – primeiro, notar que o que é proposto é um esquema do desenvolvimento humano, ou
seja, logo já nos deparamos com a dimensão que o autor trata ao falar em desenvolvimento
neste trabalho. Segundo, é sua proposta de realizar uma revisão crítica nas ciências sociais
quanto ao tema da evolução sociocultural. A respeito de nosso primeiro destaque, já a partir
deste trecho do prefácio escrito pelo autor em questão que podemos pensar em uma dimensão
civilizatória do desenvolvimento – isto é, se buscamos compreender a amplitude que o conceito
adquire no trabalho de Darcy Ribeiro, partimos de suas próprias palavras para olharmos sobre
o processo de desenvolvimento das sociedades, isto é, do fazer humano.
Na realidade, este primeiro destaque vai de encontro com sua intenção de realizar uma
revisão crítica. Isto porque Darcy Ribeiro buscava compreender a verdadeira razão do
subdesenvolvimento dos povos latino-americanos – vendo-se, assim, na necessidade de
formular uma teoria geral da evolução, na qual o desenvolvimento cultural é fruto de uma ação
recíproca entre forças definidas, e que atuam sob condições específicas. Assim, este trabalho é
uma proposta de compreender estas forças definidas categorizadas por Darcy Ribeiro ao longo
de algumas obras. No fundo, então, nosso autor está confrontando dois esquemas conceituais,
ainda que distintos – e, talvez até opostos. -, no tocante aos estudos sobre o desenvolvimento
desigual dos povos americanos: a antropologia acadêmica e o marxismo.
No fundo, então, a antropologia acadêmica, segundo Darcy Ribeiro, acaba por elaborar
uma espécie de “etapismo”, o que leva a interpretação de que o atraso de algumas sociedades
(a América Latina, por exemplo) se dá pela carência de atributos que se encontram na sociedade
norte-americana, por exemplo, como certos corpos de valores, estratos sociais, instituições ou,
até mesmo, tipos de personalidade. Isto é, os povos subdesenvolvidos assim o são por falta de
inserção em uma estrutura moderna e industrializada, o que os impediu de desenvolver corpos
de valores igualmente modernos, ou seja, mais avançados. Assim, omite-se o fato de que os
povos da América Latina receberam o impacto da Revolução Industrial condicionando-os a
consumidores destes produtos industrializados, “introduzidos até os limites necessários para
tornar suas economias mais eficazes como produtores de matérias-primas, mas sempre com a
preocupação de mantê-las dependentes” (RIBEIRO, 1977, p. 17).
2 O PROCESSO CIVILIZATÓRIO
Introjetar-se na obra de Darcy Ribeiro consiste em entrar em contato com uma gama de
conceitos elaborados, ou até mesmo reelaborados, a fim de compreender a formação dos povos.
No conjunto de seu trabalho que parte de O Processo Civilizatório (1968) até a elaboração de
As Américas e a Civilização (1969), analisaremos como o autor elabora uma teoria geral de
formação dos povos e de sua relação entre si e com a natureza, para, posteriormente,
verificarmos como os povos se formam a partir desse escopo teórico que analisaremos aqui —
sendo o processo civilizatório “uma primeira esquematização dos passos da evolução
tecnológica, social e ideológica das sociedades humanas” (RIBEIRO, 1997, p. 9).
Para isso, porém, é preciso ter em mente sua intenção ao propor um esquema teórico
sobre as etapas da evolução sociocultural. Na verdade, Darcy Ribeiro pretendia preencher uma
lacuna significativa nas Ciências Sociais, a seu ver, fugindo tanto das microanálises
antropológicas no tocante à dinâmica cultural, carecendo de formular uma explicação teórica
complexa nos termos da interação entre os diversos conteúdos presentes em cada cultura ao
8
[...] refazer o materialismo histórico como uma antropologia dialética. Não pense que
desejo fazer um ecletismo. Isso foi o que tentaram muitos no esforço por melhorar a
sociologia e antropologia com pequenas doses de marxismo. Ou outros que queriam
9
Darcy Ribeiro, logo na introdução, abre sua obra inaugural de antropologia, datada de
1968, com o seguinte parágrafo:
Com isso, fica evidente sua crítica à antropologia de então e seus esquemas conceituais
muito baseados, segundo ele, em microanálises, sendo então insuficientes para se compreender
os processos pelos quais as transformações culturais se plasmam, dando origem às diversas
etnias. Isto é, os estudos do desenvolvimento e da modernização exigiriam um esquema teórico
mais amplo e que não privilegie apenas a interação entre os conteúdos verificados em cada
cultura a fim de evitar o risco de conceituações genéricas e equivocadas tanto do ponto de vista
evolutivo como do ponto de vista histórico. Darcy Ribeiro se propõe, dessa forma, a suprir a
carência de um desenvolvimento teórico mais amplo e sofisticado, elaborando uma
reformulação das concepções de evolução sociocultural a fim de se debruçar sobre o processo
de formação étnica e de desenvolvimento geral da civilização compreendido em etapas, dentro
de suas múltiplas possibilidades, mas que são marcadas principalmente pelo que o autor chama
de Revolução Tecnológica.
Assim, o autor estabelece como pressuposto três ordens de imperativos em que se
enquadram as variações da organização da vida social. Para ele, a organização do homem na
sociedade não se dá de forma arbitrária, por isso é possível se estabelecer caracteres evolutivos
gerais a partir destas três ordens: (i) o caráter acumulativo do progresso tecnológico, que se
desenvolve numa sequência evolutiva irreversível, ainda que diferenciada nos processos
civilizatórios; (ii) as relações geradas e difundidas a partir desse progresso tecnológico, seja
entre os membros de uma mesma sociedade, seja em relação a outras sociedades; (iii) a
interação entre os esforços de controle da natureza e a difusão na sociedade expressos pela
conduta social, revelando-se no conjunto de valores e de corpos de saber.
O exame das variedades do modo de ser das sociedades humanas, a respeito das quais
contamos com documentação adequada, revela que elas são classificáveis em
diferentes categorias, de acordo com o grau de eficácia que alcançaram no domínio
da natureza. Demonstra, também, que elas são ativadas por um processo de
desenvolvimento que, embora não opere simultaneamente com o mesmo vigor sobre
cada uma delas, não atua arbitrariamente, mas de forma regulada e direcional. Tal se
dá em virtude da atuação de uma série de forças causais uniformizadoras entre as quais
devemos incluir um imperativo geral e três condicionamentos básicos, de caráter
extracultural, bem como uma série de fatores causais de natureza propriamente
cultural (RIBEIRO, 1997, p. 43).
Sendo assim, pensar em evolução sociocultural é analisar o grau de eficácia com que
um grupo humano interage com a natureza, desenvolvendo e, simultaneamente, utilizando-se
dessas tecnologias desenvolvidas para tornar mais complexa essa interação, fazendo com que
ela se difunda não só entre o grupo, mas entre gerações, universalizando fazeres humanos
através da história de acordo com especificidades definidas por contingenciamentos culturais e
extraculturais.
Dentre esses últimos, Darcy Ribeiro aponta três principais: (i) a estrutura biológica do
ser humano, garantindo atributos uniformes do ponto de vista evolutivo, como inteligência,
socialização, individualização e flexibilidade; (ii) a vida associativa, consistindo em exigências
necessárias para a manutenção da convivência e da organização cultural — como a proibição
do incesto e a organização familiar —, e também elementos de organização socioeconômica,
como a divisão do trabalho e uma espécie de estratificação; (iii) os contingenciamentos de
natureza psicológica, responsáveis por uma unidade essencial na estrutura neuropsicológica,
dando aos seres humanos a possibilidade de encontrar as mesmas soluções mediante iguais
desafios causais.
A esses contingenciamentos extraculturais citados acresce um imperativo cultural
fundamental: a capacidade de comunicação simbólica, ou seja, a linguagem humana que se
universaliza, sendo a principal responsável pela transmissão de saberes entre gerações,
garantindo o enquadramento da vida social e a construção do patrimônio histórico dos grupos.
Portanto, ao se olhar para a evolução sociocultural, deve-se ter em conta, ao mesmo tempo, a
unidade e a diferenciação do ser humano com a natureza de acordo com uma série de categorias,
baseadas principalmente na relação tecnológica que se constrói com a natureza, sua difusão e
associação, e suas consequências culturais, éticas e ideológicas, garantindo, nesse sentido,
etapas evolutivas do fazer humano.
13
Enquanto a natureza, evoluindo por mutação genética, não pode voltar atrás e é regida
por um ritmo lento de transformação, a cultura, evoluindo por adições de corpos de
significado e de normas de ação e difundindo-se por meio da aprendizagem, pode
experimentar mudanças rápidas, propaga-las sem grandes limitações espaciais ou
temporais, e redefinir-se permanentemente, compondo configurações cada vez mais
inclusivas e uniformes. (Ibid., p. 45)
(ii) A Revolução Urbana desdobrou os processos civilizatórios, que até então eram dois, em
mais quatro. O terceiro corresponde ao surgimento das cidades e estados, estratificando as
sociedades em classes sociais. Além disso, vemos os primeiros passos da agricultura de regadio,
da metalurgia (cobre e bronze), do calendário e da numeração; temos então os estados rurais
artesanais. Esse conjunto de elementos permite o amadurecimento do quarto processo
civilizatório: a escravização da força de trabalho e o nascimento da propriedade privada em
alguns dos estados rurais artesanais, estabelecendo uma oposição com aqueles que
estabeleceram a propriedade estatal da terra. Aqui, diferente daqueles anteriores, a estratificação
social é baseada na exploração econômica e não na função para a organização social. Assim, os
estados rurais artesanais acabam por se desdobrar em dois modelos diferentes: o coletivista e o
privatista. Com o desenvolvimento da utilização do cobre, principalmente nas atividades
pastoris, temos o quinto processo civilizatório, dando origem às chefias pastoris nômades.
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Nesse sentido, torna-se mais evidente a metodologia utilizada pelo autor para a
exposição do movimento das etapas da evolução sociocultural. A mesma tecnologia
desenvolvida em uma Revolução Tecnológica específica pode ser apropriada, utilizada e
melhorada de diversas formas e em mais de uma etapa evolutiva, de acordo com as condições
já estabelecidas por um determinado grupo no que concerne a ação na natureza — isto dá origem
a diversas formações socioculturais por meio de diversos processos civilizatórios;
(viii) A Revolução Termonuclear, que, de acordo com a hipótese de Darcy Ribeiro, esta
revolução tecnológica viria transformar a vida material de “todos os povos da Terra” com suas
potencialidades imensas de transformação da vida social. Ela deverá, dessa forma, agir como
“um acelerador da evolução dos povos atrasados na história e como o configurador de novas
formações socioculturais que designamos como sociedades futuras [...]” (RIBEIRO, 1997, p.
64). Aqui, para o autor, a estratificação da sociedade em classes e a guerra enquanto
configurador de relação entre as nações já devem ser superados.
Nesse sentido, Darcy Ribeiro pensa alguns conceitos com significados novos. Por
exemplo, se pensarmos que as civilizações se plasmam e se cristalizam a partir da singularidade
de cada processo civilizatório, constituindo diferentes complexos socioculturais através da
história por meio da expansão e da dominação político-econômica, influenciando e moldando
diversas culturas de diferentes maneiras, pode-se dizer que as etnias são “unidades operativas
do processo civilizatório” (Ibid., p. 65). Isto é, sua exclusividade em relação às demais etnias
se dá de forma unificada através do convívio de determinados membros, universalizando
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caracteres culturais e organizativos através de gerações por meio da linguagem comum. Assim,
se essa identidade se constitui organizada politicamente dentro de um território — em um
Estado, por exemplo — podemos caracterizá-la como etnia nacional. Se essa organização se
expande a ponto de absorver características multiétnicas por meio da dominação, realizando o
que Darcy Ribeiro chama de transfiguração cultural, podemos caracterizá-la como uma
macroetnia.
Uma horda caçadora, composta de grupos familiais que se movem sobre um território,
ou uma minoria nacional unificada pela língua e pela tradição e aspirante à autonomia,
são etnias. Ou, ainda, uma coletividade que cultiva certas tradições comuns
integradoras, cujos membros se unificam pelo desenvolvimento de lealdades grupais
exclusivistas, como os ciganos ou os judeus. Um povo estruturado em nacionalidade,
com seu território e governo próprio, é uma etnia nacional. Um complexo multiétnico
unificado por uma dominação imperial que se exerça sobre seus povos, com propensão
a transfigurá-los culturalmente e a fundi-los em uma entidade mais inclusiva, é uma
macroetnia (macroetnia romana, incaica, colonial-hispânica etc.). (Ibid., p. 66)
Assim, Darcy Ribeiro coloca que a expansão de altas tradições culturais sobre
complexos mais atrasados culturalmente, estando mais avançadas na escala evolutiva, ocasiona
tanto a formação quanto a transfiguração (ou transformação) de etnias — a isto se dá o nome
de aculturação. Tal processo faz com que apenas após um longo período seja possível a
combinação de elementos culturais a ponto de se realizar uma homogeneização dentro da
sociedade formada a partir dele, enxugando as contradições particulares até gerar um complexo
cultural novo, ainda que sobre o processo de deculturação, que se caracteriza pela perda de
elementos culturais de um grupo étnico por conta da dominação sofrida no processo
civilizatório. Dessa maneira, aculturação e deculturação são dois processos conjugados que,
por fim, se realizam na transfiguração cultural. Isso faz com que se alterem tanto o sistema
adaptativo quanto o associativo e o ideológico das sociedades, expressando, em muitos casos,
uma relação de dependência e/ou inferioridade étnica, ainda que o processo se dê de maneira
integrada.
Aqui fica mais claro como o processo de evolução sociocultural é entendido por Darcy
Ribeiro enquanto não apenas uma sucessão de etapas evolutivas expressas numa sequência de
formações culturais, mas também como um movimento interativo de atualizações históricas e
acelerações evolutivas. Assim, a explicação da dinâmica social não deve ser buscada em meras
interações entre conteúdos arcaicos e modernos, pressupondo uma suposta modernização
tecnológica enquanto saída para condições de subdesenvolvimento ou dependência de um povo.
Na verdade, o que está em jogo ao se pensar o desenvolvimento a partir desse escopo teórico
não é o nível de modernização que uma cultura atinge dentro de uma linha evolutiva estrita, que
parte do mais arcaico e termina no mais complexo com o nível tecnológico mais avançado. O
que está por trás aqui é a própria forma de realização dessa cultura a partir dos conflitos étnicos
que se dão no processo civilizatório, e suas possibilidades de realização autônoma. No fundo,
o problema não é ser mais atrasado — se fosse o caso, a resolução do problema seria avançar
tecnologicamente apenas —, mas sim a própria dinâmica de transfiguração étnica, impondo a
algumas culturas a posição de espúrias. É necessário buscar nas raízes históricas do processo
de formação sociocultural daquele povo, ou seja, em sua dinâmica de formação e sua mediação,
seja ela por aceleração evolutiva, seja por atualização histórica. Somente assim é possível
compreender as formas de perpetuação de atraso e progresso entre os povos, a partir das
possibilidades de uma etnia se fazer autônoma ou de sobreviver frente ao domínio de outra
macroetnia.
Portanto, o problema do desenvolvimento não é meramente de atraso tecnológico, ainda
que a formação das sociedades tenha como base esse fator, necessitando a inserção dos povos
em formas mais avançadas de domínio da natureza, mas sim da forma como sua configuração
20
A compreensão da vida social e dos fatores dinâmicos que nela operam exige,
portanto, que as análises em abstrato de cada um desses fatores se refiram sempre aos
complexos integrados em que eles coexistem e atuam conjugadamente. Estes
complexos, porém, não apenas combinam, mas também opõem, em cada momento,
certos conteúdos da tecnologia produtiva com determinadas formas de organização
social e com dados corpos de crenças e valores. Dentro deste campo de forças se geram
e se acumulam tensões pela introdução de inovações tecnológicas, pela oposição de
interesses de grupos e pelos efeitos das transformações ocorridas em um setor sobre
os demais. Estas inovações, oposições e redefinições são os fatores causais da
dinâmica social que atuam conjuntamente dentro de complexos que eles acionam mas
que, por sua vez, os condicionam (RIBEIRO, 1977, p. 32).
Foi por conta da apropriação e difusão dessa tecnologia que puderam atacar áreas
feudalizadas, passando a desenvolver uma organização humana segundo novos princípios
ordenadores, em que um conjunto de crenças religiosas de caráter messiânico representava um
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papel crucial em sua expansão e dominação de outros povos. Ou seja, foi a necessidade de
impor ao mundo a vontade divina sob a qual agiam que supostamente destinou, em geral, os
Impérios Despóticos Salvacionistas à expansão e conquista de novas áreas a partir de um
domínio técnico mais sofisticado.
A primeira grande expansão salvacionista, ainda que não fosse capaz de elaborar um
culto universalista de conquista, dinamizou um conjunto de povos irânicos, os persas
sassânidas, permitindo que instaurassem um vasto império que, por séculos, dominou o Irã e a
Mesopotâmia e, posteriormente, viria a se estender até Índia e em propagadores da religião
masdeísta, se alastrando até a China.
conquista militar típica dos Impérios Despóticos Salvacionistas, em poucas décadas o domínio
muçulmano se alastrou pelo globo, se expandindo por boa parte do Oriente Médio em direção
a Oeste, ao Norte da África, às ilhas mediterrâneas e à Península Ibérica. No Leste, atingiu a
Alta Ásia, a Índia, a Indonésia e a Indochina. Mais tarde, seu domínio viria a penetrar a África
Tropical, a Eurásia e outras regiões do Oriente — conquistas, agora, conduzidas por povos
islamizados, como por exemplo os turco-mongólicos.
Tal foi a Revolução Mercantil, fundada numa nova tecnologia da navegação oceânica,
baseada no aperfeiçoamento dos instrumentos de orientação (bússola magnética
montada em balancins, o quadrante, a balhestilha, o astrolábio, cartas celestes e
portolanos, cronômetros e outros) e de navegação (as naus e caravelas, a vela latina,
o leme fixo, as carretilhas e os barcos de guerra). Baseava-se, por igual, na descoberta
de procedimentos mecânicos, como as bielas-manivelas, os eixos-cardan etc., e numa
nova metalurgia revolucionada com a descoberta de processos industriais de fundição
do ferro, de laminação do aço, de trefilação de arames, de fusão de novas ligas
25
Essa nova tecnologia, desenvolvida em grande parte nas áreas de domínio dos Impérios
Despóticos Salvacionistas, possibilitou a primeira ruptura real com o feudalismo, não mais por
ataques a regiões pastoris, mas dentro das próprias áreas feudalizadas se realizaram
potencialidades de domínio tecnológico para mudar sua condição organizacional. Esse
processo, como já mencionado, deu origem a duas novas formações socioculturais, que viriam
a ser as primeiras de base mundial.
A primeira, os Impérios Mercantis Salvacionistas, surge em duas áreas marginais não
apenas geograficamente quanto culturalmente, entre os séculos XV e XVI: a Ibéria e a Rússia.
O surgimento dessas novas formações se deu pela reconquista de territórios ocupados por árabes
e tártaro-mongóis, uma vez que a base tecnológica nesse momento se difundiu a ponto desses
povos terem condições de partirem para um conflito com os conquistadores. Por um lado, o
domínio técnico da Ibéria permite sua partida à conquista no além-mar. Portugal avança em
Cabo Verde e na Costa do Ouro e, além disso, realiza a façanha de contornar o Cabo da Boa
Esperança, estabelecendo a rota marítima em direção à Índia. Se apodera também do
arquipélago de Sonda, da Indochina e do Brasil. A Espanha chega às Antilhas, se expandindo
por todo o continente americano, além de estabelecer domínios coloniais no Extremo Oriente.
Por outro lado, a Rússia se estende sobre a Eurásia Continental e sobre parte da América,
ocupando o Alasca. Com esse conjunto de expansões da região europeia, lança-se as bases da
primeira civilização mundial, com um amplo espaço de conquista devido, principalmente, ao
desenvolvimento da tecnologia marítima. No entanto, essa mesma Europa é herdeira do
patrimônio islâmico — tanto com relação às inovações tecnológicas, quanto aos princípios
institucionais e religiosos.
direção do papa e do rei, custou-lhe tantos sacrifícios que no seu decorrer toda a
sociedade se transfigurou para servir a esse propósito, tornado obsessivo. As ordens
religiosas se tornaram mais ricas e mais poderosas do que as da nobreza, diferenciaram
corpos especiais de sacerdotes guerreiros, e a Igreja Católica se fez herdeira de boa
parte da terra reconquistada aos infiéis. A associação das monarquias ibéricas com o
papado alcançou um nível de quase fusão quando se juntaram os recursos econômicos
e o salvacionismo de Madri com o empenho antirreformista de Roma. (Ibid., p. 168)
Com isso, se estabelece uma estrutura aristocrático-clerical de poder que passaria a reger
o destino dos povos ibéricos. No entanto, a guerra com os núcleos islâmicos destrói o sistema
agrário que havia, com base numa agricultura de regadio de alta tecnologia, permitindo manter
populações densas até mesmo em zonas extremamente áridas. Com a nova ocupação das terras
pelos novos senhores aristocrático-clericais, foram-se formando grandes áreas de pastagens
para a criação de ovelhas, o que não viria a permitir a fartura do antigo sistema agrário. A
população diminui no campo e nas cidades, e muitos camponeses foram reduzidos à
mendicância. A guerra de reconquista produziu, então, um enorme retrocesso tecnológico e,
portanto, sociocultural na Ibéria. Isso fez com que a região, apesar de se instrumentalizar e
absorver todo o arcabouço técnico da Revolução Mercantil, não conseguisse se configurar ela
própria como uma formação capitalista-mercantil — muito por conta da herança tecnológica e
burocrático-institucional dos Impérios Despóticos Salvacionistas e da devastação da Guerra de
Reconquista.
A Rússia moscovita, sob a pressão do império tártaro-mongólico, amadurece seu perfil
étnico-nacional em torno de um estágio de estado rural artesanal. Sua classe dominante
amadurece e enriquece pelo exercício de coleta de tributos para a Horda do Ouro. Após décadas
de luta, quando consegue a emancipação, configura-se de forma defasada por conta dos esforços
de guerra, impedida, também, de realizar um desenvolvimento plenamente capitalista. Portanto,
esses dois povos que foram configurados como impérios mercantis se viram profundamente
impregnados de tradições despóticas salvacionistas, que dominaram seus povos ao longo de
séculos. Nesse sentido, apresentam um fanatismo religioso comparável aos primeiros impulsos
muçulmanos.
A Rússia, ao expandir-se, assume uma feição mais despótica que salvacionista. Mas
é movida, igualmente, pelo elã cristalizador, expresso na assunção do papel de terceira
Roma, na integração do patriarcado de Moscou no czarismo, no esforço secular de
cristianização das populações do seu território, no caráter místico da religiosidade
russa, na expansão numérica do seu clero – só comparável ao da Ibéria -, na
intolerância religiosa que explodiria, mais tarde, nos pogroms1. (Ibid., p. 170)
1
Palavra russa que significa destruição maciça, destruir violentamente, referente aos violentos ataques contra a
população judia por conta da intolerância religiosa desenvolvida na formação russa.
27
Com relação à Ibéria, nessas condições, apesar de não se configurar internamente como
um capitalismo mercantil pleno, pôde se lançar ao mar para estabelecer o novo colonialismo
escravista. Isto é, através do mecanismo de atualização histórica, o colonialismo nesse
momento estabeleceu partes complementares a seu processo de formação sociocultural por
meio da dominação militar e econômica de outras regiões, estabelecendo o trabalho escravo.
Esse processo de colonização realizado por Espanha e Portugal foi, segundo Darcy
Ribeiro (1997), o maior movimento de atualização histórica de povos, ocasionando a
deculturação — contingentes humanos desgarrados de sua sociedade — de uma enorme
população de negros e índios, forçados a se engajar em novos sistemas econômicos e, portanto,
a uma nova organização social que viria a se configurar de maneira extremamente violenta, no
geral. Dessa forma, através da destruição de etnias, do desgaste de uma mão de obra escravizada
e da desqualificação de um sistema técnico e especializado — bastante determinado pelas
consequências da reconquista na Ibéria e pelos resquícios da formação sociocultural anterior —
, os neoamericanos foram incorporados às etnias hispânica e lusitana. Soma-se a isso a enorme
influência da igreja no processo civilizatório, dificultando a formação de uma classe capitalista
estritamente dominante e a configuração de um capitalismo mercantil propriamente dito.
O novo colonialismo escravista, através da dinâmica da atualização histórica, configura
um sistema econômico unificado e interativo, fazendo das colônias partes complementares de
um mesmo complexo, tendo como centro dinâmico as potências ibéricas. Aqui, pode-se ver
mais claramente as razões pelas quais Darcy Ribeiro menciona o termo civilizações mundiais,
uma vez que a própria civilização ibérica vai sendo desenvolvida junto da complementaridade
de seus núcleos coloniais externos. Através da colonização escravista e do despotismo
salvacionista enraizado nos povos ibéricos, criaram um sistema opressivo de compulsão
aculturativa, destruindo milhares de etnias na incorporação dos neoamericanos às macroetnias
hispânica e lusitana enquanto meros trabalhadores braçais, destituídos de suas raízes
socioculturais.
Assim avança o capitalismo mercantil, com a expansão de diversas regiões da Europa a
núcleos coloniais escravistas — principalmente em núcleos que não foram intensamente
28
dominados por Impérios Despóticos Salvacionistas que puderam desenvolver em suas classes
dominantes uma estrutura mais apropriada para a organização dessa nova formação
sociocultural. No entanto, a expansão ibérica foi pioneira nesse processo de configuração da
civilização mundial, ainda que com fortes resquícios de sua formação despótica.
A expansão oceânica europeia, iniciada pelos ibéricos, torna-se, nesse passo, uma
empresa coletiva que multiplica colônias escravistas, mercantis e de povoamento por
todo o mundo, acelerando a ação do processo civilizatório capitalista mercantil, já
agora como o mais vasto dos movimentos de atualização histórica. Com o seu
desencadeamento, milhões de homens foram transladados de um continente a outro.
As matrizes raciais mais díspares foram caldeadas e os patrimônios culturais mais
divergentes foram afetados e remodelados. As conquistas culturais, principalmente
tecnológicas, de todos esses povos começaram a confluir, lançando as primeiras bases
de uma reordenação unificadora do patrimônio cultural humano. Nesse processo,
milhares de povos atados a formações tribais, aldeãs, pastoris, rural-artesanais, bem
como antigas civilizações, tanto as vigorosas como as já estagnadas em regressões
feudais, foram integrados num sistema econômico de base mundial, como sociedades
subalternas e culturas espúrias. Sua razão de existência deixara de constituir a natural
reprodução do seu modo de ser, para se converter no fator de existência e no
instrumento de prosperidade dos centros metropolitanos que geriam os seus destinos.
(Ibid., p. 184)
Com a espoliação desses povos, a Europa retoma seu brilho comparável ao Império
Romano, configurando metrópoles suntuosas e opulentas. Além disso, possibilitou aos
nórdicos, que até então eram marginais no processo civilizatório, um sentimento generalizado
de superioridade e de destinação civilizatória, justificando toda a devastação colonial enquanto
um exercício civilizatório necessário, convictos de que representavam uma ordem moral
superior, agindo como suposto motor do progresso humano. Cada vez mais, as massas são
lançadas ao mercado de trabalho e as antigas camadas patronais conservadoras vão se
substituindo por um empresariado de mentalidade capitalista. Assim, a Europa pós-medieval
redescobriu o mundo grego assumindo sua postura mercantil e sua atitude especulativa,
podendo ampliar o saber das artes e a política da democracia, enquanto empreendia modelos
mercantis escravistas de destruição étnica nas colônias.
A tecnologia dessa revolução tecnológica se expande situando os povos que viriam a ser
pioneiros na industrialização, se consolidando em posição de riqueza e domínio, conduzindo
todos os demais à exploração dentro de sistemas de relações dependentes. Na realidade, os
processos civilizatórios que emergem da Revolução Industrial estruturam-se, desde os
primeiros passos — ainda definidos pela consolidada Revolução Mercantil — dentro de um
sistema econômico universal, com uma capacidade de realização de atualizações históricas que
viria a atingir todos os povos da Terra, “envolvendo cada nação e até mesmo cada indivíduo
em suas formas compulsórias de integração” (RIBEIRO, 1997, p. 191). Dessa maneira, como
já mencionado, os povos que ainda não haviam sido atualizados historicamente com a
Revolução Mercantil foram forçados a engajar-se na nova ordem econômica e social como
proletariados externos, cuja função principal seria a de provedores de matérias-primas agrícolas
e, simultaneamente, consumidores de produtos industriais de povos tecnologicamente
autônomos. A estrutura específica de domínio dessa etapa da história humana vinha se
fortalecendo desde a Revolução Mercantil, com a apropriação dos bens eclesiásticos tornada
possível pela Reforma, além do confisco dos baronatos feudais e da retirada dos direitos
comunitários do campesinato. A isso se acrescentaria a riqueza acumulada com o saque colonial
permitido pelo escravismo. Estaria se formando, então, uma burguesia urbana que, com a
tecnologia industrial, poderia garantir enormes taxas de lucro com um risco muito menor do
que a expansão marítima do capitalismo mercantil. O desenvolvimento de sistemas fabris de
produção em massa e a intensificação da proletarização da força de trabalho viria a produzir
uma transformação radical na estrutura social dos povos.
mais os capitais gerados em nações pobres, uma vez que detêm o controle inclusive do mercado
interno.
Aparentemente, nessa última etapa, trata-se de uma aceleração evolutiva que atua
através da difusão da tecnologia industrial. Processando-se, porém, como uma
atualização histórica, essa implantação de indústrias, em lugar de gerar os efeitos de
progresso que produziria nas nações autonomamente industrializadas, dá lugar a uma
crescente dependência das nações periféricas e um processo de modernização reflexa
gerador de deformações tão profundas que, na realizada representam sua condenação
ao atraso e a penúria. Nessas condições de industrialização recolonizadora, as
populações crescem para marginalizar-se, porque não se lhes oferecem perspectivas
de integrar-se no sistema produtivo modernizado. Tampouco surge uma cultura
erudita capaz de dominar os princípios científicos da nova tecnologia produtiva e
muito menos uma elite dominante autonomista, empenhada em estancar a espoliação
externa e em reformar a ordenação social arcaica. (Ibid., p. 201)
da industrialização, mas pelo controle que umas nações passam a exercer sobre outras com a
breve menção que o autor faz ao imperialismo.
A aceleração evolutiva avança nas regiões industrializadas justamente pela realização
da aceleração histórica de povos que se constituem, na dinâmica civilizatória, enquanto
subdesenvolvidos. E é nesse sentido que a noção de desenvolvimento aqui não se realizaria por
uma mera modernização técnica. Na verdade, a modernização técnica de todas as revoluções
tecnológicas promoveu uma dinâmica civilizatória contraditória na interação entre os povos —
na qual a evolução de uns se realiza ao mesmo tempo que a atualização de outros. Ou seja, o
próprio desenvolvimento cultural, técnico e, portanto, civilizatório de algumas nações
pressupõe a dizimação de matrizes étnicas e culturais de outras, subjugando-as à condição de
subdesenvolvimento, que alguns países possuem melhores condições de superar, enquanto
outros são mais intensamente fundados nela.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso tema é o óbvio. Acho mesmo que os cientistas trabalham é com o óbvio.
Aparentemente, Deus é muito treteiro, faz as coisas de forma tão recôndita e
disfarçada que se precisa desta categoria de gente – os cientistas – para ir tirando os
véus, desvendando, a fim de revelar a obviedade do óbvio. O ruim deste procedimento
é que parece um jogo sem fim. De fato, só conseguimos desmascarar as obviedades
para descobrir outras, mais óbvias ainda. (RIBEIRO, 2019, p. 31)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2
MARX, Karl. Formações econômicas pré-capitalistas. 4. ed. Tradução João Maia. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1985.
2
Revisão gramatical, formatação ABNT e organização de referências bibliográficas feitas por Paula Garcia e
Lucas Bernardes (contato@dezenove.org).