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Resumo: Este artigo visa analisar como a teoria marxista debateu o conceito de
identidade no contexto da globalização, especificamente, dentro da ótica pós-
moderna. Discutiu-se nesse estudo as transformações do mundo, verificando como
essas mudanças afetaram as identidades das populações entorno do globo, buscando
entender de que forma a identidade é discutida e visualizada pela pós-modernidade,
e como a crítica marxista compreende tal fenômeno. A metodologia utilizada no
estudo foi analise bibliográfica dos principais estudiosos da teoria marxista, da
concepção de identidade e da questão da pós-modernidade. Por fim, sabe-se que na
sociedade contemporânea capitalista, a realidade não é a ideal, longe disso. A
destacada socialização da informação apresentada muitas vezes como beneficio do
mundo globalizado, fica cada vez mais distante da população com menor capital.
Assim, a abrangência deste novo sistema de informação dirigida, torna-se cada vez
maior devido à sua política de acúmulo e relação estreita e dependente de um modo
de capital global e fragmenta a grande maioria da população (JAMESON, 1996).
Desenvolvendo um condicionamento massivo por parte da indústria cultural vigente e
os valores da acumulação de capital se sobressaindo aos de igualdade. Contudo,
mesmo ainda vivendo os efeitos de um sistema conservador, a teoria marxista
apresenta-se como notável ponto de partida para a crítica necessária a pós-
modernidade ou a identidade pós-moderna. O debate está dado, e propor a
superação do sistema capitalista e de suas formas de manifestação é um grande
desafio para os pesquisadores marxistas.
INTRODUÇÃO
Neste sentido adota-se como ponto de partida, a proposta aprimorada por Lênin
(1979), na qual o proletário é educado pelo próprio capitalismo, compreende-se a
contingência, a fragmentação do individuo, a descentralização, propostas por
estudiosos do pós-modernismo, como um elemento justificador de contradições
sociais e mantenedor do sistema capitalista Eangleton (1993)[5].
1. A IDENTIDADE PÓS-MODERNA
“Quando digo "sou brasileiro" parece que estou fazendo referência a uma identidade
que se esgota em si mesma. "Sou brasileiro" – ponto. Entretanto, eu só preciso fazer essa
afirmação porque existem outros seres humanos que não são brasileiros.” (SILVA, 2000,
p. 35)
Ambas, identidade e diferença, não se esgotam em si mesmas. Não são coisas dadas
naturalmente, eternizadas pela natureza, mas sim construções simbólicas em
constante processo de transformação. A identidade, portanto, não é apenas um
conceito senão um produto, que nasce e se desenvolve em um contexto social
específico, determinante para sua definição. Quer dizer, a identidade não pode ser
concebida fora das relações sociais, pois desta forma perde o seu significado. Indo um
pouco além, Silva (2000) afirma que “na disputa pela identidade está envolvida uma
disputa mais ampla por outros recursos simbólicos e materiais da sociedade”. É o que
afirma Quijano (1992):
Em sua analise Giddens (1991, p.150) aponta que a pós-modernidade apresenta uma
série de concepções dentre elas, “enfoca as tendências centrífugas das transformações
sociais correntes e de seu caráter de deslocamento; afirma a contextualidade das
reivindicações de verdade ou as vê como histórica; visualiza o eu como dissolvido ou
desfragmentado pela fragmentação da experiência; ao mesmo tempo teoriza a falta de
poder que os indivíduos sentem em face das tendências globalizantes”. A pós-
modernidade, como vimos, instaura uma mudança de hábitos e costumes nos
indivíduos. A sociedade, desta forma, entra em um processo de mudança constante,
acompanhado pelas novas identidades surgidas a partir da ressocialização dos
sujeitos.
“A assim chamada ‘crise de identidade’, é vista como parte de um processo mais amplo
de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades
modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma
ancoragem estável no mundo social” (HALL: 2000, P. 7)
Ou seja, como afirma Hall, “as identidades culturais provêm de alguma parte, têm
histórias. Mas como tudo o que é histórico, sofre transformação constante. Longe de
um passado essencializado, estão sujeitas ao contínuo jogo da história, da cultura e
do poder” (HALL, 2000). Segundo o autor, no contexto pós-moderno os próprios
sujeitos estão mudando, fruto, inclusive, de transformações estruturais e
institucionais. Assim, a forma como os indivíduos representam-se e são representados
também muda, fazendo com que a identidade torne-se “uma celebração móvel:
formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (p. 13).
Neste processo, vida societária foi completamente tomada e saturada “por todo o tipo
de imagens que permeiam o conjunto das relações sociais e são uma mediação
necessária da sociabilidade humana no mundo contemporâneo” (EVANGELISTA, 2001,
p. 36) fazendo com que “o pensamento pós-moderno seja a expressão teórica e cultural
de uma nova situação sócio histórica: a condição pós-moderna (EVANGELISTA, 2001, p.
30)”. Percebe-se uma enorme dificuldade de sentir e representar o mundo
contemporâneo, pois a sensação vigente é de irrealidade, de vazio e de confusão o
pensamento coletivo não faz parte da agenda pós-moderna. No novo paradigma
pós-moderno, como destaca João Emanuel Evangelista:
Stuart Hall parte do pressuposto que “as sociedades modernas, são portanto, por
definição, sociedades de mudança constante, rápida e permanente (HALL, 2005, p.14)”,
mudanças que como aponta João Emanuel Evangelista (2006, p. 273) se processaram
“atingindo todas as dimensões da vida social, ocorreram dentro de um ambiente político
e ideológico profundamente conservador”.
Neste sentido, uma colocação interessante de Cuchê (1999, p. 192) parece bastante
esclarecedora:
“Na medida em que a identidade resulta de uma construção social, ela faz parte da
complexidade do social. Querer reduzir cada identidade cultural a uma definição
simples, “pura”, seria não levar em conta a heterogeneidade de todo grupo social”
(CUCHÊ, 1999, p.192).
“Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e
imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelo sistema de
comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas-
desalojadas- de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem flutuar
livremente” (HALL, 2005, p.75).
Manuel Castells remete que para os atores sociais excluídos ou resistentes é a rede
global de riqueza que individualiza a identidade. Em sua interpretação, as
transformações da sociedade em rede[10] está relacionada principalmente a falta de
força, ou melhor, de uma ligação, entre o estado e a sociedade. Acrescenta-se, que
para ele as novas tecnologias de informação está presente nas discussões políticas e
na busca pelo poder (CASTELLS, 2001).
Como destacado anteriormente, deixando de ser alvo preferencial das críticas teóricas
de pós-modernismo, o marxismo demonstrou vitalidade intelectual suficiente para
virar a mesa. Assumindo assim o pós-modernismo como objeto da sua reflexão crítica
tornando-o como ponto para pensar a contemporaneidade capitalista e as relações
sociais[12].
A sociedade em que vivemos está “enredada numa trama cultural marcada por um
amálgama de elementos aparentemente dispares”, onde o indivíduo cada vez mais
sente dificuldades de se firmar em algo que seja minimamente estável e lhe assegure
“alguma sensação de tranquilidade e bem-estar íntimos”. Estamos imersos num tempo
em que “os valores dominantes estão polarizados em torno do consumismo, do
individualismo (EVANGELISTA, 2001, p. 35)”. O referido autor defende que:
Boaventura de Sousa Santos (1997), em sua obra Pela mão de Alice: o Social e o
Político da pós-modernidade, destaca pontos importantes, como a concepção de uma
identidade não rígida e sendo resultado de um processo segundo ele fugaz, ideia
próxima ao que Stuart Hall e Denis Cuchê apresentam:
“Sabemos hoje que as identidades culturais não são rígidas nem, muito menos,
imutáveis. São resultados sempre transitórios e fugazes de processos de identificação.
Mesmo as identidades aparentemente mais sólidas, como a da mulher, homem, país
africano, país latino-americano ou país europeu, escondem negociações de sentido,
jogos de polissemia, choques de temporalidades em constante processo de
transformação, responsáveis em última instância pela sucessão de configurações
hermenêuticas que de época para época dão corpo e vida a tais identidades.
Identidades são, pois, identificações em curso” (SANTOS, 1997, p.135).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, a abrangência deste novo sistema de informação dirigida, torna-se cada vez
maior devido à sua política de acúmulo e relação estreita e dependente de um modo
de capital global e fragmenta a grande maioria da população (JAMESON, 1996).
Desenvolvendo um condicionamento massivo por parte da indústria cultural vigente e
os valores da acumulação de capital se sobressaindo aos de igualdade.
Referências
ANDERSON, Perry. As origens da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
CATELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo:
Paz e Terra, 2001.
COSTA, Iná Camargo. & CEVASCO, Maria Elisa. Terry Eagleton: Uma Apresentação.
Revista Critica Marxista, São Paulo, v.1, n.2, p. 53-59, 1996.
CUCHÊ, Denys. A Noção de Cultura em Ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999.
EAGLETON, Terry. As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
EAGLETON, Terry. De onde vêm os pós-modernistas? In: WOOD, Ellen Meiksins. &
FOSTER, John Bellamy (Orgs). Em defesa da história: marxismo e pós-marxismo.
Rio de Janeiro: Zahar, 1999. P. 23-32.
EVANGELISTA, João Emanuel. Elementos para uma Crítica da Cultura Pós-
moderna. Revista Novos Rumos, São Paulo, ano 15, n. 34, 2001.
EVANGELISTA, João Emanuel. Teoria social e pós-modernismo: a resposta do
marxismo aos enigmas teóricos contemporâneos. Revista Cronos, Natal, v. 7, p.
271-281, 2006.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Ed. UNESP, 1991.
GIDDENS, Anthony, BECK, Ulrich, LASH, Scott. Modernização reflexiva. São Paulo:
Editora UNESP, 1997.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. DP&A Editora, 2005.
HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da
mudança cultural. São Paulo: Edições: Loyola, 1992.
JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São
Paulo: Ática, 1996.
LÊNIN, Vladimir Ilichy. Obras escolhidas. São Paulo, Alfa-ômega, 1979.
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro, José Olympio,
1998.
PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e Social-Democracia. São Paulo, Companhia das
Letras, 1989.
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice: O social e o político na pós-
modernidade. São Paulo: Cortez,1997.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2001.
WOOD, Ellen Meiksins. & FOSTER, John Bellamy (Orgs.). Em defesa da história:
marxismo e pós-modernismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
Notas:
[1] É importante considerar que as modificações sociais não ficariam somente ligadas
às esferas política e socioeconômica. Como aponta João Emanuel Evangelista “poucas
vezes em sua história, as sociedades modernas sofreram transformações tão rápidas e
profundas (EVANGELISTA, 2006, p. 273)”.
[2] Considerando que: “o marxismo é uma teoria que toma como ponto de partida para
a compreensão da história as relações sociais “objetivas”, ou seja, relações que são, nas
palavras de Marx indispensáveis e independentes da vontade de qualquer pessoa
(PRZEWORSKI, 1989, p. 114)”.
[3] Como aponta Perry Anderson, consideramos que o alvo da crítica pós-moderna é
o marxismo e a esquerda (ANDERSON, 1999).
[6]Considera-se aqui a proposição de Perry Anderson na qual “não podia haver nada
mais que o capitalismo. O pós-moderno foi uma sentença contra as ilusões
alternativas (ANDERSON, 1999, p. 54)”.
[7]O próprio Castells afirma que o capitalismo continua existindo, o que muda é a
relevância e o papel que a informação assume como matéria prima das
transformações.
[8]O autor analisa a relação entre a identidade de um povo com o Estado, exemplifica
utilizando o caso dos Curdos, os catalães na Espanha, o Estado fundamentalista no
Islã, a URRSS (CASTELLS, 2001).
[12]Adam Przeworski define: As relações sociais são dadas para um sujeito histórico,
individual ou coletivo, como esferas de possibilidades, estruturas de escolhas
(PRZEWORSKI, 1989, p.92). Ainda “As relações sociais constituem as estruturas base nas
quais os agentes, individuais e coletivos, deliberam sobre objetivos, percebem e avaliam
alternativas e selecionam linhas de ação (PRZEWORSKI, 1989, p.118)”.
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