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O termo modernidade reflexiva, proposto por Giddens, Beck e Lash no livro Modernização
Reflexiva visa se debruçar sobre as transformações do mundo atual, o processo de crise e as
consequências advindas delas. Acentua a ideia de que vivemos em um mundo cada vez mais
reflexivo, que estimula a crítica ativa e autoconfrontação. A modernidade reflexiva envolveria
um processo de individualização e de destradicionalização em que a tradição muda seu status
e é constantemente contestada.
Os autores remetem a ideia de que o mundo social e natural está totalmente influenciado pelo
conhecimento humano reflexivo, dando origem a uma ideia de crise ecológica, de
imprevisibilidade e de risco - noção que cada vez mais se torna importante na cultura
moderna. Pressupõe que a sensibilidade reflexiva se encontra na vida cotidiana e é derivada da
sensibilidade estética ou hermenêutica. Considera que a modernidade seria marcada tanto
pela penetração da visão de mundo analítica e científica nas grandes massas, como pressupõe,
mas é também configurada pela difusão da sensibilidade do modernismo estético pelo público
leigo. A teoria da modernização reflexiva considera que as decisões políticas de mais influência
sobre as vidas cotidianas não derivam mais da esfera ortodoxa da tomada de decisão - o
sistema político formal, mas adviria das esferas informais, da politização do não-político. Essa
teoria nega, portanto, a suposta paralisia da vontade política.
Índice
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4 Referência Bibliográfica
A Reflexividade em Ulrich Beck[editar | editar código-fonte]
Pouco a pouco, as ameaças produzem questionamentos que acabam por destruir as bases da
sociedade industrial. Ou seja, no momento em que a modernidade “se olha no espelho” e
reflete sobre suas próprias bases, surge a fase de modernização reflexiva. A tomada de
consciência das ameaças produzidas pela própria sociedade abala a crença na ordem social, ou
seja, abala a confiança nas instituições modernas, que não dão mais conta de resolver os
problemas. A sociedade de risco neste sentido é reflexiva, pois se torna um tema e um
problema para si própria.
No momento em que a incerteza invade todos os aspectos da vida social, o contexto torna-se
favorável para críticas. Na modernização reflexiva surge a base para a crítica autônoma, já que
não existe um objeto definido. Nesta nova fase da sociedade industrial, caracterizada pela
reflexividade, as condutas e situações cotidianas não são mais moldadas pela tradição
(Anthony Giddens, 1997). Neste contexto, o indivíduo emerge como ator, planejador e diretor
da sua própria vida. Desta forma é no momento de desintegração das certezas e na buscas por
encontrar e criar novas, que ocorre o processo de individualização. A individualização não é
livre decisão dos indivíduos. Jean Paul Sartre (apud Beck, 1997) afirma que “as pessoas são
condenadas a individualização”. Individualização implica na dependência em relação aos
processos decisórios.
Para Scott Lash, a reflexividade na modernidade não seria somente conceitual, como prevêem
os teóricos da reflexividade cognitiva, e nem mimética, como pressupõem os teóricos
da reflexividade estética, mas se tornaria evidente por meio de práticas compartilhadas, que
seriam as condições de existência das comunidades na alta modernidade. O sociólogo atribui
reflexão não às estruturas sociais ou às regras institucionais e aos sistemas de especialistas,
como faz a teoria da modernidade reflexiva, mas às categorias impensadas, que, para ele,
precisam ser hermeneuticamente interpretadas. Scott Lash tem sua teoria baseada em Pierre
Bourdieu.
Lash desenvolve uma teoria que reconheça nas práticas comunais o lugar a partir do qual o
sujeito individual se desenvolve. Com a hermenêutica da recuperação ele se contrapõe às
teses da individualização da reflexividade, tanto estética como cognitiva, e afirma que existe
uma ética situada nas práticas comunais. A verdade hermenêutica estaria envolvida na
revelação e na construção do intenso intercâmbio semântico compreendido nos
relacionamentos.
Ao situar a reflexividade nas práticas compartilhadas, Scott Lash faz uma crítica à Giddens e
Beck que colocam uma ênfase demasiada nas instituições. Segundo Lash, "Embora Beck seja,
em princípio, absolutamente contrário à racionalidade instrumental e à tecnocracia dos
sistemas de especialistas, esse foco mas instituições (alternativas e democráticas) carrega
consigo uma grande confiança nas fontes competitivas de especialização e nos sitemas
especialistas competitivos. Para Beck e Giddens, reflexividade envolve, digamos, a democracia
representativa inserida nas novas instituições, com o público leigo votando em formas de
especialização competitivas. Há pouco espaço nessa concepção para a democracia
participatória da política leiga e dos movimentos sociais do cotidiano informal"(LASH, 1997:
238).
A tradição está envolvida com o controle do tempo. Conforme Giddens (1997), a tradição é
uma orientação para o passado, de tal forma que o passado tem uma pesada influência sobre
o presente. Em certo sentido, ela diz respeito ao futuro, pois as práticas estabelecidas são
utilizadas como uma maneira de se organizar o tempo futuro. Além disso, a tradição também
está ligada à “memória coletiva”, preservada através do ritual, o qual está vinculado ao que o
autor denomina de “noção formular de verdade”. Ao contrário do costume, a tradição possui
uma força de união que combina conteúdo moral e emocional. O ritual reforça a experiência
cotidiana e refaz a liga que une a comunidade, mas ele tem esfera e linguagem próprias e uma
“verdade em si”, isto é, uma “verdade formular”. Em outras palavras, a tradição não pode ser
considerada inteiramente estática, porque, de forma reflexiva, ela é reinventada a cada
geração.
No período de modernidade reflexiva, há uma falsa tese de que o conhecimento sobre a vida
social levaria a um maior controle sobre nossos destinos, provocar o que se poderia chamar de
consequências inesperadas. O crescimento do conhecimento sobre a vida social não é
suficiente para prever todas as circunstâncias de sua implementação. Por outro lado, o
conhecimento não é apropriado de forma homogênea por todos os atores sociais, há o que se
poderia chamar de “poder diferencial” para aqueles que possuem status social superior. Neste
sentido, Giddens concorda com a visão de reflexividade em Scott Lash segundo o qual a
liberdade crescente de alguns pode implicar opressão de tantos outros. Ou seja, a
reflexividade pode ser emancipatória para alguns e excludente para tantos outros.
BECK, U. (1997). A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In:
BECK,U.; GIDDENS, A.; Lash, S. (orgs). Modernização reflexiva. São Paulo: Editora da Unesp,
cap.1, 11-68p.
GIDDENS, Anthony (1997). A vida em uma sociedade Pós-Tradicional. In: BECK, U.; GIDDENS,
A. ; LASH, S. (orgs). Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social
moderna. São Paulo: Editora Unesp.
LASH, S. (1997). A reflexividade e seus duplos: estrutura, estética, comunidade. In: BECK, U.;
GIDDENS, A. ; LASH, S. (orgs). Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem
social moderna. São Paulo: Editora da Unesp.