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Universidade Federal De Sergipe

Departamento De Ciências Sociais DCS


Introdução a Sociologia 1

Aluno: ANDREY VINÍCIUS GARCEZ PINTO

Fichamento de Sociologia 1
Tema: "O que é sociologia?"
Autor: Anthony Giddens

SERGIPE
Outubro/2022
Introdução a Sociologia 1

Aluno: ANDREY VINÍCIUS GARCEZ PINTO

Fichamento de Sociologia 1
Tema: "O que é sociologia?"
Autor: Anthony Giddens

Fichamento apresentado em cumprimento


das exigências da disciplina sociologia I,
do curso de ciências sociais da
Universidade Federal de Sergipe (UFS),
apresentado como requisito para obtenção
de nota.
Sob a supervisão do Prof. Dr. Marcelo
Alario Ennes

SERGIPE
Outubro/2022
Informações sobre o autor:
Anthony Giddens nascido em 18 de janeiro de 1938, em Londres, é um sociólogo britânico,
Doutor em Sociologia pela Universidade de Cambridge. Giddens possui mais de vinte obras
publicadas, sendo um dos primeiros autores a trabalhar o conceito de globalização, Terceira
Via, e também, o novo trabalhismo britânico. Renomado por sua Teoria da Estruturação, no
livro "Constituição da Sociedade", é considerado por muitos o mais importante filósofo social
inglês contemporâneo. Academicamente, o seu interesse centra-se em reformular a teoria
social e reexaminar a compreensão do desenvolvimento e da modernidade. As suas ideias
tiveram uma enorme influência na teoria e no ensino da sociologia e teoria social em todo o
mundo. A sua obra abarca diversas temáticas, entre as quais a história do pensamento social, a
estrutura de classes, elites e poder, nações e nacionalismos, identidade pessoal e social, a
família, relações e sexualidade, podendo dividir-se em três fases: A primeira, ele redefine a
nova visão sociológica apontando uma abordagem teórica e metodológica baseada em uma
interpretação crítica dos clássicos da sociologia, entre eles, Marx, Weber e Durkheim. São
dessa fase: “O Capitalismo e a Moderna Teoria Social” = (1971) e “As Novas Regras do
Método Sociológico” = (1976). Na segunda fase, Giddens desenvolveu a “Teoria da
Especulação” = que definiu como a forma da dependência mútua entre o “agente humano” =
(capacidade de realizar coisas) e a estrutura social. Seus trabalhos desse período são:
“Problemas Centrais da Teoria Social” = (1979) e “Contribuição da Sociedade” = (1984),
obra esta responsável por sua popularização em todo mundo. A terceira fase compreende os
trabalhos mais recentes, em que destaca a modernidade, a globalização e a política,
principalmente o impacto da modernidade sobre o social e a vida pessoal dos indivíduos.
Define os postulados da Terceira Via entre o Capitalismo Liberal e o Socialismo, com o
objetivo de estabelecer os melhores aspectos dos dois sistemas. Entre as obras destacam-se:
“Consequências da Modernidade” = (1990), “Modernidade e Identidade” = (1991), “A
Terceira Via: A Revolução da Social Democracia” = (1998). Giddens coleciona prêmios ao
longo de sua carreira, em 2002, recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Ciência Sociais.
Nesse mesmo ano, publicou “Mundo em Descontrole” = (1999), onde fez uma análise das
mudanças pelas quais passam as culturas tradicionais, do choque entre a busca de integração e
o fundamentalismo, as intolerâncias religiosas e as identidades étnicas e nacionais e as
incertezas criadas pelo processo de unificação global. Em 2004 recebeu o título de Baron
Guiddens de Southgate em The London Borough of Enfield and sites in the House of Lords
for Labour. Em junho de 2020 recebeu a Cátedra e o Prêmio Ame Naess da Universidade de
Oslo, Noruega, em reconhecimento por suas contribuições para o estudo das questões
ambientais e mudanças climáticas.

ESTRUTURA DO TEXTO
Capítulo 1: O que é a Sociologia?
Parágrafos: 85
Citações: 5
ESTRUTURA ARGUMENTATIVA

1-2 O Autor inicia o capítulo levantando aspectos da sociedade contemporânea necessários


para contextualização das reflexões que virão a seguir: “um mundo inundado pela mudança,
marcado por graves conflitos, tensões e divisões sociais, bem como pelo assalto destrutivo ao
meio ambiente natural promovido pela tecnologia moderna. Não obstante, temos mais
possibilidades de controlar melhor os nossos destinos e de dar um outro rumo às nossas vidas
do que era imaginável pelas gerações anteriores”. Em seguida, o autor incentiva a reflexão do
leitor ao provocá-lo através de questionamentos que, para ele, são os principais
questionamentos da Sociologia: “Como se desenvolveu este mundo? Porque são as nossas
condições de vida tão diferentes das dos nossos pais e avós” =. A partir disto, afirma-se a
importância da Sociologia para a cultura intelectual moderna.
3-4 Para Giddens, “a Sociologia é o estudo da vida social humana, grupos e sociedades”,
podendo acontecer a partir da análise das mais simples ações cotidianas à análises de
comportamentos e estruturas globais, sendo necessário então – para uma análise sociológica -
a ruptura da perspectiva individual, adotando assim, uma análise conjuntural, cultural e
histórica, aceitando que “o que consideramos natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não
o ser, e que o que tomamos como «dado» nas nossas vidas é fortemente influenciado por
forças históricas e sociais. Compreender as maneiras ao mesmo tempo subtis, complexas e
profundas, pelas quais as nossas vidas individuais refletem os contextos da nossa experiência
social é essencial à perspectiva Sociológica".
5-6 “Um sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias pessoais e
pensar as coisas num contexto mais abrangente”, fica implícito nesta parte do texto a
necessidade do sociólogo desafiar-se a romper com as barreiras das concepções individuais,
utilizando seu conhecimento histórico e cultural a favor da sua imaginação sociológica, termo
desenvolvido pelo autor americano C. Wright Mills, citado por Giddens no presente texto. A
imaginação sociológica “implica, acima de tudo. abstrairmo-nos das rotinas familiares da vida
quotidiana de maneira a poder olhá-las de forma diferente”, onde, sem tal habilidade, a
concepção sociológica do analista estará comprometida. Para ilustrar tal qualidade sociológica
Giddens utiliza como exemplo um dos costumes culturais mais comuns no ocidente “o
simples ato de beber uma chávena de Café".
7 “Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporcionam ocasiões para a
interação social e o desempenho de rituais - e tal fornece temáticas ricas para o estudo
sociológico”. Neste parágrafo o autor traz o conceito da simbologia - valor simbólico – onde,
os rituais sociais transparecem, para além do ato em si (convidar alguém para um café, como
citado pelo autor), uma necessidade de conexão e espaço para comunicação entre os
envolvidos: “Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café estarão
provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de facto,
café”.
8 Continuando sua exemplificação da imaginação sociológica o autor parte para o segundo
ponto abordado em sua análise: os dogmas, preconceitos e leis que regem a civilização
analisada em relação a utilização de substâncias químicas, as drogas. Quais as razões para as
diferentes formas de abordagem desse tema em distintas regiões, países e culturas é essencial
para a análise sociológica. “O café, tal como o álcool, é uma droga socialmente aceitável,
enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedades que permitem o
consumo de marijuana e mesmo de cocaína, mas desaprovam tanto o café como o álcool. Os
sociólogos estão interessados nas razões pelas quais estes contrastes existem”.
9-10 O próximo ponto para o exercício da imaginação sociológica se dá através da análise de
relações sociais-econômicas, onde, as estruturas das classes sociais podem ser observadas em
escala internacional transpassadas desde o processo de cultivo, colheita, fabricação,
transporte, venda e consumo do material analisado. Quem cria, quais as condições de trabalho
e vida, quem fornece, quem consome e todas as demais camadas cabíveis para a reflexão e
consequentemente a análise completa e aprofundada do tema. “Estudar estas transações
globais é uma tarefa importante da Sociologia, na medida em que muitos aspectos das nossas
vidas são hoje afetados por influências sociais e comunicações a nível mundial”. Neste ponto
o autor reforça o impacto da globalização em nosso cotidiano social, trazendo também o
conhecimento histórico compilar para uma boa análise: “a herança colonial teve um impacto
enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café”, tal conhecimento estrutural
econômico, cultural, político e histórico, tornam-se indispensáveis para a realização de uma
análise sociológica completa.
11 Por último, o autor reforça a relevância da globalização no debate sociológico, trazendo
também questões ambientais e trabalhistas que envolvem os Direitos Humanos, “o café é um
produto que está no centro do debate atual em torno da globalização, do comércio mundial,
dos direitos humanos e da destruição ambiental”. Ao citar as possibilidades de escolha no
comércio capitalista o autor defende que “para os sociólogos, é interessante perceber de que
forma a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em
pontos remotos do planeta, incentivando-as a atuar no dia-a-dia em função desse novo
conhecimento”.
12 à 18 Neste ponto do texto o autor reflete acerca das possíveis situações individuais que
assumem aspectos relevantes socialmente ao passo que se observa demais grupos que
enfrentam situações iguais ou semelhantes, “o desemprego, para dar outro exemplo, pode ser
uma tragédia pessoal para quem foi despedido de um emprego e não consegue arranjar outro.
Contudo, é uma questão que vai além do desespero privado, quando dez milhões de pessoas
de uma sociedade estão nessa mesma situação: é uma questão pública que expressa grandes
tendências sociais”. A exemplo também as camadas sociais que assumem os estudantes
universitários “embora todos sejamos influenciados pelo contexto social em que nos
inserimos, nenhum de nós tem o seu comportamento determinado unicamente por esses
contextos. Nós possuímos, e criamos, a nossa própria individualidade. É tarefa da Sociologia
investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que nós fazemos de nós próprios.
O que nós fazemos tanto estrutura - dá forma a - o mundo social que nos rodeia como,
simultaneamente, é estruturado por esse mesmo mundo social” assumindo assim a estrutura
social cujo a Sociologia é a principal designada a compreender, onde os contextos sociais não
tratam “apenas em acontecimentos e ações ordenados aleatoriamente; eles estão estruturados,
ou padronizados, de diferentes maneiras=. O autor afirma que “as sociedades humanas nunca
deixam de estar em processo de estruturação”, trazendo mais uma vez a importância da
análise sociológica para compreensão de como se dão as relações sociais em sua diversidade e
complexidade.
19 à 22 Neste bloco, o autor discorre de forma mais aprofundada sobre a relevância e a
utilização da sociologia em auxílio à sociedade contemporânea de forma aprofundada, como a
consciência de diferenças culturais, “muito frequentemente, se compreendermos corretamente
o modo como os outros vivem, adquirimos igualmente uma melhor compreensão dos seus
problemas. As medidas políticas que não se baseiam numa consciência informada dos modos
de vida das pessoas que afetam têm poucas hipóteses de sucesso”; A avaliação dos efeitos das
políticas, <a pesquisa sociológica fornece uma ajuda prática na avaliação dos resultados de
iniciativas políticas=; E, por fim, a Auto – consciencialização, “a Sociologia pode permitir-
nos uma auto consciencialização - uma autocompreensão cada vez maior. Quanto mais
sabemos acerca das razões pelas quais agimos como agimos e como funciona, de uma forma
global, a nossa sociedade, tanto mais provável é que sejamos capazes de influenciar o nosso
futuro”.
23 O desenvolvimento do pensamento sociológico se dá através de diversas abordagens, mas
com o único objeto de estudo: nós, os seres humanos. O autor revela existir diversas
abordagens das quais, não há um consenso sobre qual a mais adequada, havendo debate
constante entre o meio da sociologia, estando assim em constante desenvolvimento. “A
Sociologia debruça-se sobre as nossas vidas e o nosso próprio comportamento, e estudar-nos a
nós próprios é a mais difícil e complexa tarefa que podemos empreender”.
24 à 26 Ao abordar o início dos estudos da Sociologia enquanto disciplina, o autor nos revela
que “o estudo objetivo e sistemático da sociedade e do comportamento humano é uma coisa
relativamente recente, cujos inícios remontam aos finais do século XVIII”, ao passo que
emergiam grandes revoluções na sociedade, atribuiu-se a ciência sociológica a tarefa de
compreender o mundo, essa necessidade se deu em contraponto as explicações tradicionais
baseadas na religião que não contemplavam as demandas sociais da época, um
desenvolvimento-chave foi o uso da ciência para se compreender o mundo - a emergência de
uma abordagem científica teve como consequência uma mudança radical nas formas de ver e
entender as coisas. As explicações tradicionais baseadas na religião foram suplantadas, em
sucessivas esferas, por tentativas de conhecimento racional e crítico”. Atribui-se as origens da
disciplina duas grandes revoluções da Europa dos séculos XVIII e XIX: a Revolução Francesa
(1789), “representou o triunfo das ideias e valores seculares, como a liberdade e a igualdade,
sobre a ordem social tradicional” e a Revolução Industrial (1760 – 1840), “o conjunto amplo
de transformações econômicas e sociais que acompanharam o surgimento de novos avanços
tecnológicos como a máquina a vapor e a mecanização”, que implicou em grandes mudanças
nas relações de trabalho, produção e comercialização, provocando uma ruptura irreversível na
teia da história. Os primeiros sociólogos tinham como missão responder a questionamentos
dos quais a sociologia contemporânea busca resolução até hoje: “O que é a natureza humana?
Porque é que a sociedade está estruturada assim? Como mudam as sociedades e por que razão
o fazem?”.
27 à 31 O primeiro sociólogo trazido por Giddens em seu texto é Auguste Comte (1798-
1857). Datada do período da Revolução Francesa, a obra de Comte, segundo Giddens, refletia
sobre tais acontecimentos turbulentos, buscando explicar as leis do mundo social, assim como
as ciências naturais explicavam as leis do mundo físico, “tal como a descoberta das leis do
mundo natural nos permite controlar e prever os acontecimentos à nossa volta, também
desvendar as leis que governam a sociedade humana nos pode ajudar a configurar o nosso
destino e a melhorar o bem-estar da humanidade”, caracterizando-se assim, como uma ciência
positivista. “A abordagem positivista da Sociologia acredita na produção de conhecimento
acerca da sociedade com base em provas empíricas retiradas da observação, da comparação e
da experimentação”. Da obra de Comte, Giddens trás a seu texto a lei dos três estágios: “No
estádio teológico, as ideias religiosas e a crença que a sociedade era uma expressão da
vontade de Deus eram o guia do pensamento. No estádio metafísico, que se afirmou pela
época do Renascimento, a sociedade começou a ser vista em termos naturais, e não
sobrenaturais. O estádio positivo, desencadeado pelas descobertas e feitos de Copérnico,
Galileu e Newton, encorajou a aplicação de técnicas científicas ao mundo social”. Para
Giddens, “Comte estava perfeitamente consciente do estado da sociedade em que vivia: estava
preocupado com as desigualdades que a industrialização produzia e a ameaça que elas
constituíam para a coesão social. A solução a longo prazo, de acordo com a sua perspectiva,
consistia na produção de um consenso moral que ajudaria a regular, ou unir, a sociedade,
apesar dos novos padrões de desigualdade”, sua proposta para reestruturação social nunca foi
aplicada, porém Comte tem uma grade contribuição para o reconhecimento da Sociologia, e
assim tenha se tornado uma disciplina acadêmica.
32 à 49 O segundo sociólogo apresentado por Giddens é Émile Durkheim (1858-1917).
“Durkheim via a Sociologia como uma nova ciência que podia ser usada para elucidar
questões filosóficas tradicionais, examinando-as de modo empírico. Durkheim, como
anteriormente Comte, acreditava que devemos estudar a vida social com a mesma
objetividade com que cientistas estudam o mundo natural. O seu famoso princípio básico da
Sociologia era «estudar os fatos sociais como coisas»”, sendo mais um sociólogo positivista.
“A obra de Durkheim abrange um vasto espectro de tópicos. Três dos principais temas que
abordou foram: a importância da Sociologia enquanto ciência empírica; a emergência do
indivíduo e a formação de uma ordem social; e as origens e carácter da autoridade moral na
sociedade. Encontraremos as ideias de Durkheim repetidas vezes nas nossas discussões
teóricas acerca da religião, do desvio e do crime, do trabalho e da vida econômica. Para o
autor, a principal preocupação intelectual da Sociologia reside no estudo dos fatos sociais. Em
vez de aplicar métodos sociológicos ao estudo de indivíduos, os sociólogos deviam antes
analisar fatos sociais - aspectos da vida social que determinam a nossa ação enquanto
indivíduos, tais como o estado da economia ou a influência da religião”. Um trabalho clássico
de Durkheim, estudado, analisado e debatido até hoje é sua obra “O Suicídio”, onde
Durkheim levanta a hipótese de que por mais que o suicido pareça uma escolha
exclusivamente pessoal, na realidade, trata-se de um fato social, ou pode-se ser explicado por
fatos sociais, onde observa-se características padronizadas. Durkheim classificou o suicídio
em 4 tipos (suicídios egoístas, suicídios anímicos, suicídios altruístas e suicídios fatalistas),
além de criar o conceito de anomia - mal estar social ocorrido na modernidade. Desta forma,
Émile Durkheim mostrou que fatos sociais exercem grande influência sobre o comportamento
humano (sendo a anomia uma dessas influências) e que o estudo sociológico pode-se ocorrer
através de padrões regulares, como também, explicá-los.
50 à 55 Karl Marx (1818-1883), é o terceiro sociólogo apontado por Giddens em seu texto.
Para o autor, a obra de Marx, diverge radicalmente dos sociólogos anteriores, embora se
propôs-se a analisar e explicar os mesmos acontecimentos históricos. “A maior parte dos seus
escritos centra-se em questões económicas, mas, como sempre teve como preocupação
relacionar os problemas económicos com as instituições sociais, a sua obra era, e é, rica em
reflexões sociológicas. Mesmo os seus críticos mais implacáveis consideram a sua obra de
importância para o desenvolvimento da Sociologia”. Segundo Marx, “o capitalismo é
inerentemente um sistema de classes, sendo as relações entre as classes caracterizadas pelo
conflito. Embora os proprietários do capital e os trabalhadores dependam uns dos outros - os
capitalistas necessitam da mão-de-obra e os trabalhadores necessitam dos salários - a
dependência é extremamente desequilibrada. O relacionamento entre as classes assenta na
exploração, na medida em que os trabalhadores têm pouco ou nenhum controle sobre o seu
trabalho e os patrões têm a possibilidade de gerar lucro apropriando-se do produto do esforço
dos trabalhadores" a mais-valia. Marx acreditava que o conflito de classes em torno dos
recursos económicos se iria acentuar com a passagem do tempo. Além disto, Marx foi
responsável pela criação do método de estudo conhecido como materialismo-histórico: de
acordo com esta perspectiva, não se encontram nas ideias ou nos valores humanos as
principais fontes de mudança social. Pelo contrário, a mudança social é promovida acima de
tudo por fatores económicos. Os conflitos entre classes fornecem a motivação para os
desenvolvimentos históricos, são eles o <motor da história”. Segundo Marx, os sistemas
sociais transitam de um modo de produção para outro - às vezes de forma gradual, outras
vezes por via de uma revolução - em resultado das contradições dos seus sistemas
económicos. “O autor identificou dois elementos cruciais nas empresas capitalistas. O
primeiro é o capital - qualquer ativo, incluindo dinheiro, máquinas, ou mesmo fábricas, que
possa ser usado ou investido para realizar futuros bens. A acumulação do capital está
intimamente ligada ao segundo elemento, o trabalho assalariado - portal entende-se o conjunto
de trabalhadores que não detém a propriedade dos meios de produção, mas que tem de
procurar emprego, fornecido pelos que detêm o capital. Marx acreditava que aqueles que
detêm o capital, ou capitalistas, constituem uma classe dominante, enquanto a grande massa
da população constitui uma classe de trabalhadores assalariados, ou classe operária. (...) Marx
acreditava na inevitabilidade de uma revolução da classe trabalhadora que derrubaria o
sistema capitalista e abriria portas a uma nova sociedade onde não existissem classes -sem
grandes divisões entre ricos e pobres. Marx não queria dizer que todas as desigualdades entre
os indivíduos iriam desaparecer, mas que as sociedades não mais iriam ser divididas entre
uma pequena classe que monopoliza o poder político e econômico, por um lado, e, do outro,
uma grande massa de indivíduos que pouco benefício retiram da riqueza gerada pelo seu
trabalho. O sistema económico assentaria na posse comum, sendo estabelecida uma forma de
sociedade mais justa do que a que conhecemos hoje. Marx acreditava que na sociedade do
futuro a produção seria mais evoluída e eficaz do que na sociedade capitalista”. A influência
das obras de Marx foi gritante no século XX, sendo um dos autores mais debatidos da
modernidade, Marx até os dias de hoje é tido como grade teórico e revolucionário.
56 à 68 Max Weber (1864-1920), é o próximo sociólogo apresentado no texto. “Suas obras
cobrem os campos da Economia, do Direito, da Filosofia e da História Comparada, bem como
da Sociologia.”, através de um conjunto de estudos empíricos, Weber explicitou algumas das
características básicas das sociedades industriais modernas e identificou debates sociológicos
fundamentais, que ainda hoje permanecem centrais para os debates sociológicos. “Na
perspectiva de Weber, os fatores económicos eram importantes, mas as ideias e os valores
tinham o mesmo impacto sobre a mudança social. Ao contrário dos primeiros pensadores
sociológicos, Weber defendeu que a Sociologia devia centrar-se na ação social, e não nas
estruturas. Argumentava que as ideias e as motivações humanas eram as forças que estavam
por detrás da mudança - as ideias, valores e crenças tinham o poder de originar
transformações. Segundo o autor, os indivíduos têm a capacidade de agir livremente e
configurar o futuro. Ao contrário de Durkheim ou Marx, Weber não acreditava que as
estruturas existiam externamente aos indivíduos ou que eram independentes destes. Pelo
contrário, as estruturas da sociedade eram formadas por uma complexa rede de ações
recíprocas”, para Weber era função e principal missão da Sociologia entender o que motiva
essas ações, aquilo que estar por trás delas, o seu sentido. “Comparando os principais sistemas
religiosos da China e índia com os do Ocidente, Weber concluiu que alguns aspectos das
crenças cristãs influenciaram grandemente o aparecimento do capitalismo. Este não emergira,
como Marx acreditava, apenas graças às mudanças económicas. Segundo Weber, os valores e
as ideias culturais contribuem para moldar a sociedade e as nossas ações individuais”, o autor
também criou a teoria de “tipos ideais”, segundo Giddens, “modelos conceptuais ou analíticos
que podem ser usados para compreender os mundos - muitas vezes existem apenas algumas
das suas características”. Weber teve grande contribuição em suas obras sobre burocracia e
mercado, além de ser conhecido por buscar a racionalização em suas obras, onde, para ele, “a
organização da vida económica e social segundo princípios de eficiência e tendo por base o
conhecimento técnico. Se nas sociedades tradicionais a religião e os hábitos enraizados
definiam os valores e as atitudes das pessoas, a sociedade moderna caracterizava-se pela
racionalização de cada vez mais campos, da política à religião, passando pela atividade
económica”. Weber temia os efeitos desumanizantes da burocracia e as suas implicações no
destino da democracia. Em uma caixa aparte do texto, o autor abre espaço para uma reflexão
histórica e sociológica onde discorre sobre as impossibilidades de mulheres e minorias étnicas
terem acesso à títulos e reconhecimento dentro da Sociologia. “A Sociologia, como muitas
outras áreas académicas, nem sempre teve a postura ideal de reconhecer a importância de cada
um dos autores cuja obra tenha um mérito intrínseco”, dito isto, Giddens abre espaço para
resgate de uma das autoras esquecidas pelos meios acadêmicos da Sociologia: Harriet
Martâneau (1802-1876). Conhecida como “a primeira mulher socióloga”, Harriet produziu
uma obra de mais de cinquenta livros, traduziu uma obra de Comte, tornando-se conhecida
por implantar a sociologia na Grã-Bretanha. “A autora tem importância para os sociólogos de
hoje em dia por diversas razões. Em primeiro lugar, defendia que quando alguém estuda uma
sociedade deve centrar-se em todos os seus aspectos, incluindo as principais instituições
políticas, religiosas ou sociais. Em segundo lugar, insistia em que a análise de uma sociedade
deve incluir a vida das mulheres. Em terceiro, foi a primeira a olhar de uma forma sociológica
para assuntos anteriormente ignorados, como o casamento, as crianças, a vida pessoal e
religiosa, e as relações raciais (...). Por último, a autora defendia que os sociólogos não devem
limitar-se apenas a observar, mas devem igualmente agir em prol de uma sociedade.
Consequentemente, Martineau foi uma figura cativa tanto na defesa dos direitos das mulheres
como na luta pela emancipação dos escravos”.
69 à 78 “Olhares sociológicos mais recentes”, neste trecho, Giddens reforça o fato de que os
primeiros sociólogos foram responsáveis pela busca de conferir sentido às mudanças sociais e,
mais que isso, buscavam explicar o funcionamento das sociedades em escala mundial, cada
um apresentando ao mundo uma abordagem diferente. Esse leque de abordagens causa
conflitos e divergências no meio sociológico até os dias atuais. Giddens cita, o que para ele,
tratam-se das três mais importantes correntes teóricas presentes na sociologia moderna: “o
funcionalismo, a perspectiva do conflito, e o interacionismo simbólico” sendo estas
diretamente relacionadas com Durkheim, Marx e Weber, respectivamente. No Funcionalismo
“defende que a sociedade é um sistema complexo cujas partes se conjugam para garantir
estabilidade e solidariedade. Segundo esta perspectiva, a Sociologia, enquanto disciplina,
deve investigar o relacionamento das partes da sociedade entre si e para com a sociedade
enquanto um todo. Podemos analisar as crenças religiosas e costumes de uma sociedade, por
exemplo, ilustrando a forma como se relacionam com outras instituições, pois as diferentes
partes de uma sociedade estão intimamente relacionadas entre si=, o funcionalismo enfatiza a
importância do consenso moral na manutenção da ordem e da estabilidade na sociedade. O
consenso moral verifica-se quando a maior parte das pessoas de uma sociedade partilham os
mesmos valores. Uma crítica feita recorrentemente ao funcionalismo é a de que este realça
excessivamente o papel de fatores que conduzem à coesão social, em detrimento de fatores
que produzem conflito e divisão. A ênfase na estabilidade e na ordem significa que as
divisões ou as desigualdades - com base em fatores como a classe social, a raça ou o género -
são minimizadas. O funcionalismo confere também uma ênfase menor ao papel da ação social
criativa na sociedade. Para muitos críticos, este tipo de análise atribui às sociedades atributos
que estas não possuem; Na Perspectiva do Conflito, “os sociólogos que adoptaram as teorias
de conflito sublinham a importância das estruturas na sociedade. Defendem também um
«modelo» abrangente para explicar a forma como a sociedade funciona. Os teóricos do
conflito rejeitam, no entanto, a ênfase que os funcionalistas dão ao consenso. Pelo contrário,
preferem sublinhar a importância das divisões na sociedade. Ao fazê-lo, centram a análise em
questões de poder, na desigualdade e na luta. Tendem a ver a sociedade como algo que é
composto por diferentes grupos que lutam pelos seus próprios interesses. A existência desta
diferença de interesses significa que o potencial para o conflito está sempre presente e que
determinados grupos irão tirar mais benefício do que outros. Os teóricos do conflito analisam
as tensões existentes entre grupos dominantes e desfavorecidos da sociedade, procurando
compreender como se estabelecem e perpetuam as relações de controle; Na Perspectivas da
ação social, “as teorias da ação social dão uma atenção muito maior ao papel desempenhado
pela ação e pela interação dos membros da sociedade na formação dessas estruturas. Aqui, o
papel da Sociologia é visto como sendo mais o da procura do significado da ação e da
interação social, do que o da explicação das forças externas aos indivíduos que os compelem a
agir da forma que agem. Se o funcionalismo e as perspectivas do conflito desenvolvem
modelos relativos ao modo de funcionamento global da sociedade, as teorias da ação social
centram-se na análise da maneira como os atores sociais se comportam uns com os outros e
para com a sociedade.
79 à 81 O interacionismo simbólico nasce de uma preocupação com a linguagem e o sentido.
Neste processo o elemento-chave reside no símbolo. Um símbolo é algo que representa algo.
“O interacionismo simbólico dirige a nossa atenção para os detalhes da interação interpessoal,
e para a forma como esses detalhes são usados para conferir sentido ao que os outros dizem e
fazem. Os sociólogos influenciados por esta corrente teórica centram muitas vezes a sua
atenção na interação face-a-face e nos contextos da vida quotidiana, realçando a importância
do papel dessas interações na criação da sociedade e das suas instituições. Muito embora a
perspectiva interacionista simbólica possa incluir muitas reflexões em torno da natureza das
nossas ações na vida social quotidiana, já foi criticada por ignorar questões mais amplas
relacionadas com o poder e a estrutura na sociedade e a forma como ambos servem para
constranger a ação individual”.
82-85 Na conclusão do texto Giddens reforça a importância da Sociologia como disciplina
fundamental para o entendimento e desenvolvimento social. Afirma que tais divergências
teóricas apresentadas no presente texto contribuem para o crescimento e consolidação do
pensamento sociológico. “Todos os sociólogos concordam que a Sociologia é uma disciplina
em que nós pomos de lado os nossos próprios modos de ver o mundo, para observarmos
cuidadosamente as influências que dão forma às nossas vidas e às dos outros. A Sociologia
emergiu, como um esforço intelectual distinto, com o desenvolvimento das sociedades
modernas, e o estudo desse tipo de sociedades permanece a sua principal preocupação. Mas os
sociólogos estão igualmente interessados num leque mais vasto de assuntos acerca da
natureza da interação social e das sociedades humanas em geral. A Sociologia não é apenas
um campo intelectual abstrato, mas algo que pode ter implicações práticas importantes na
vida das pessoas. Aprender a tornarmo-nos sociólogos não devia ser um esforço académico
aborrecido. A melhor maneira de nos assegurarmos que tal não acontece é abordar a disciplina
de uma forma imaginativa e relacionar ideias e conclusões com situações da nossa própria
vida. Uma maneira de fazermos isso é tornarmo-nos conscientes das diferenças entre os
modos de vida que nós nas sociedades modernas consideramos como normais e os dos outros
grupos humanos. Embora os seres humanos tenham muito em comum, existem muitas
variações entre diferentes sociedades e culturas”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O texto de Giddens apresenta de forma lúdica e objetiva as atribuições e qualidades
pertinentes a um sociólogo para a realização da análise sociológica. Nos ensina a refinar o
olhar, a imaginação e a sensibilidade ao trazer novos significados às mais simples ações
cotidianas. Incentiva-nos a buscar conhecimentos plurais: história, economia, geografia,
direito, entre outros, para que possamos assim, romper com a comodidade das nossas certezas
– condicionadas pelos padrões sociais aos quais fazemos parte. Nos ensina a relevância da
Sociologia, ao discorrer sobre sua utilização nos tempos modernos e no caminhar da história,
aonde a diversidade de abordagens provoca debates até hoje. Por fim, a Sociologia aparece no
texto como a ciência de compreendermos a nós mesmos, nossa história e nosso futuro, em

todas as camadas que isto representa.

Referência:
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 ed. - Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
Capítulo 1, pp. 2-18.

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