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ANÁLISE DO LIVRO

GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 ed. - Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,


2008. Capítulo 1, pp. 2-18.

ntrod uç ão p révia
C o nteú do do livro
Te ma I: Que é a soc io logia?
Informações sobre o autor:
Anthony Giddens nascido em 18 de janeiro de 1938, em Londres, é um sociólogo britânico,
Doutor em Sociologia pela Universidade de Cambridge. Giddens possui mais de vinte obras
publicadas, sendo um dos primeiros autores a trabalhar o conceito de globalização, Terceira
Via, e também, o novo trabalhismo britânico. Renomado por sua Teoria da Estruturação, no
livro "Constituição da Sociedade", é considerado por muitos o mais importante filósofo social
inglês contemporâneo.

§ 1-2 O Autor inicia o capítulo levantando aspectos da sociedade contemporânea


necessários para contextualização das reflexões que virão a seguir: “um mundo
inundado pela mudança, marcado por graves conflitos, tensões e divisões sociais,
bem como pelo assalto destrutivo ao meio ambiente natural promovido pela tecnologia
moderna. Não obstante, temos mais possibilidades de controlar melhor os nossos
destinos e de dar um outro rumo às nossas vidas do que era imaginável pelas
gerações anteriores”. Em seguida, o autor incentiva a reflexão do leito ao provocá-lo
através de questionamentos que, para ele, são os principais questionamentos da
Sociologia: “Como se desenvolveu este mundo? Porque são as nossas condições de
vida tão diferentes das dos nossos pais e avós?”. A partir disto, afirma-se a
importância da Sociologia para a cultura intelectual moderna. (pág. 2)
§ 3-4 Para Gidden, “a Sociologia é o estudo da vida social humana, grupos e
sociedades”, podendo acontecer a partir da análise das mais simples ações cotidianas
à análises de comportamentos e estruturas globais, sendo necessário então – para
uma análise sociológica - a ruptura da perspectiva individual, adotando assim, uma
análise conjuntural, cultural e histórica, aceitando que “o que consideramos natural,
inevitável, bom ou verdadeiro pode não o ser, e que o que tomamos como “dado” nas
nossas vidas é fortemente influenciado por forças históricas e sociais. Compreender
as maneiras ao mesmo tempo subtis, complexas e profundas, pelas quais as nossas
vidas individuais refletem os contextos da nossa experiência social é essencial à
perspectiva sociológica.” (pág. 2)
§ 5-6 “Um sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias
pessoais e pensar as coisas num contexto mais abrangente”, fica implícito nesta parte
do texto a necessidade do sociólogo desafiar-se a romper com as barreiras das
concepções individuais, utilizando seu conhecimento histórico e cultural a favor da sua
imaginação sociológica, termo desenvolvido pelo autor americano C. Wright Mills,
citado por Gidden no texto. A imaginação sociológica “implica, acima de tudo.
abstrairmo-nos das rotinas familiares da vida quotidiana de maneira a poder olhá-las
de forma diferente”, onde, sem tal habilidade, a concepção sociológica do analista
estará comprometida. Para ilustrar tal qualidade sociológica Gidden utiliza como
exemplo um dos costumes culturais mais comuns no ocidente “o simples acto de
beber uma chávena de café”. (pág. 2)
§ 7 “Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporcionam ocasiões
para a interacção social e o desempenho de rituais - e tal fornece temáticas ricas para
o estudo sociológico”. Neste parágrafo o autor traz o conceito da simbologia - valor
simbólico – onde, os rituais sociais transparecem, para além do ato em si (convidar
alguém para um café, como citado pelo autor), uma necessidade de conexão e
espaço para comunicação entre os envolvidos: “Duas pessoas que combinam
encontrar-se para tomar café estarão provavelmente mais interessadas em estarem
juntas e conversarem do que em beber, de facto, café”. (pág. 2)
§ 8 Continuando sua exemplificação da imaginação sociológica o autor parte para o
segundo ponto abordado em sua análise: os dogmas, preconceitos e leis que regem a
civilização analisada em relação a utilização de substâncias químicas, as drogas.
Quais as razões para as diferentes formas de abordagem desse tema em distintas
regiões, países e culturas é essencial para a análise sociológica. “O café, tal como o
álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo,
não o é. No entanto, há sociedades que permitem o consumo de marijuana e
mesmo de cocaína, mas desaprovam tanto o café como o álcool. Os sociólogos estão
interessados nas razões pelas quais estes contrastes existem”. (pág.2)
§ 9-10 O próximo ponto para o exercício da imaginação sociológica se dá através da
análise de relações sociais-econômicas, onde, as estruturas das classes sociais
podem ser observadas em escala internacional transpassadas desde o processo de
cultivo, colheita, fabricação, transporte, venda e consumo do material analisado.
Quem cria, quais as condições de trabalho e vida, quem fornece, quem consome e
todas as demais camadas cabíveis para a reflexão e consequentemente a análise
completa e aprofundada do tema. “Estudar estas transacções globais é uma tarefa
importante da Sociologia, na medida em que muitos aspectos das nossas vidas são
hoje afectados por influências sociais e comunicações a nível mundial”. Neste ponto o
autor reforça o impacto da globalização em nosso cotidiano social, trazendo também o
conhecimento histórico como pilar para uma boa análise: “a herança colonial teve um
impacto enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café”, tal
conhecimento estrutural econômico, cultural, político e histórico, tornam-se
indispensáveis para a realização de uma análise sociológica completa. (pág. 3)
§ 11 Por último, o autor reforça a relevância da globalização no debate sociológico,
trazendo também questões ambientais e trabalhistas que envolvem os Direitos
Humanos, “o café é um produto que está no centro do debate actual em torno da
globalização, do comércio mundial, dos direitos humanos e da destruição ambiental”.
Ao citar as possibilidades de escolha no comércio capitalista o autor defende que
“para os sociólogos, é interessante perceber de que forma a globalização aumenta a
consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontos remotos
do planeta, incentivando-as a actuar no dia-a-dia em função desse novo
conhecimento”. (pág. 3)
§ 12 - 18 Neste ponto do texto o autor reflete acerca das possíveis situações
individuais que assumem aspectos relevantes socialmente ao passo que se observa
demais grupos que enfrentam situações iguais ou semelhantes, “o desemprego, para
dar outro exemplo, pode ser uma tragédia pessoal para quem foi despedido de um
emprego e não consegue arranjar outro. Contudo, é uma questão que vai além do
desespero privado, quando dez milhões de pessoas de uma sociedade estão nessa
mesma situação: é uma questão pública que expressa grandes tendências sociais”. A
exemplo também as camadas sociais que assumem os estudantes universitários
“embora todos sejamos influenciados pelo contexto social em que nos inserimos,
nenhum de nós tem o seu comportamento determinado unicamente por esses
contextos. Nós possuímos, e criamos, a nossa própria individualidade. É tarefa da
Sociologia investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que nós
fazemos de nós próprios. O que nós fazemos tanto estrutura - dá forma a - o mundo
social que nos rodeia como, simultaneamente, é estruturado por esse mesmo mundo
social” assumindo assim a estrutura social cujo a Sociologia é a principal designada a
compreender, onde os contextos sociais não tratam “apenas em acontecimentos e
acções ordenados aleatoriamente; eles estão estruturados, ou padronizados, de
diferentes maneiras”. O autor afirma que “as sociedades humanas nunca deixam de
estar em processo de estruturação”, trazendo mais uma vez a importância da análise
sociológica para compreensão de como se dão as relações sociais em sua
diversidade e complexidade. (pág. 4)
§ 19 - 22 Neste bloco, o autor discorre de forma mais aprofundada sobre a relevância
e a utilização da sociologia em auxílio à sociedade contemporânea de forma
aprofundada, como a consciência de diferenças culturais, “muito frequentemente, se
compreendermos correctamente o modo como os outros vivem, adquirimos
igualmente uma melhor compreensão dos seus problemas. As medidas políticas
que não se baseiam numa consciência informada dos modos de vida das pessoas
que afectam têm poucas hipóteses de sucesso”; A avaliação dos efeitos das políticas,
“a pesquisa sociológica fornece uma ajuda prática na avaliação dos resultados de
iniciativas políticas”; E, por fim, a Auto consciencialização, “a Sociologia pode permitir-
nos uma auto-consciencializaçâo - uma auto-compreensão cada vez maior. Quanto
mais sabemos acerca das razões pelas quais agimos como agimos e como funciona,
de uma forma global, a nossa sociedade, tanto mais provável é que sejamos capazes
de influenciar o nosso futuro”. (pág. 5 e 6)
§ 23 O desenvolvimento do pensamento sociológico se dá através de diversas
abordagens, mas com o único objeto de estudo: nós, os seres humanos. O autor
revela existir diversas abordagens das quais, não há um consenso sobre qual a mais
adequada, havendo debate constante entre o meio da sociologia, estando assim em
constante desenvolvimento. “A Sociologia debruça-se sobre as nossas vidas e o
nosso próprio comportamento, e estudar-nos a nós próprios é a mais difícil e
complexa tarefa que podemos empreender”. (pág. 6)
§ 24 - 26 Ao abordar o início dos estudos da Sociologia enquanto disciplina, o autor
nos revela que “o estudo objectivo e sistemático da sociedade e do comportamento
humano é uma coisa relativamente recente, cujos inícios remontam aos finais do
século XVIII”, ao passo que emergiam grandes revoluções na sociedade, atribuiu-se
a ciência sociológica a tarefa de compreender o mundo, essa necessidade se deu em
contraponto as explicações tradicionais baseadas na religião que não contemplavam
as demandas sociais da época, “um desenvolvimento-chave foi o uso da ciência
para se compreender o mundo - a emergência de uma abordagem científica teve
como consequência uma mudança radical nas formas de ver e entender as coisas.
As explicações tradicionais baseadas na religião foram suplantadas, em sucessivas
esferas, por tentativas de conhecimento racional e crítico”. Atribui-se as origens da
disciplina duas grandes revoluções da Europa dos séculos XVIII e XIX: a Revolução
Francesa (1789), “representou o triunfo das ideias e valores seculares, como a
liberdade e a igualdade, sobre a ordem social tradicional” e a Revolução Industrial
(1760 – 1840), “o conjunto amplo de transformações económicas e sociais que
acompanharam o surgimento de novos avanços tecnológicos como a máquina a vapor
e a mecanização”, que implicou em grandes mudanças nas relações de trabalho,
produção e comercialização, provocando uma ruptura irreversível na teia da história.
Os primeiros sociólogos tinham como missão responder a questionamentos dos quais
a sociologia contemporânea busca resolução até hoje: “O que é a natureza humana?
Por que é que a sociedade está estruturada assim? Como mudam as sociedades e
por que razão o fazem?”. (pág. 6 e 7)
§ 27 - 31 O primeiro sociólogo trazido por Gidden em seu texto é Auguste Comte
(1798-1857). Datada do período da Revolução Francesa, a obra de Comte, segundo
Gidden, refletia sobre tais acontecimentos turbulentos, buscando explicar as leis do
mundo social, assim como as ciências naturais explicavam as leis do mundo físico,
“tal como a descoberta das leis do mundo natural nos permite controlar e prever os
acontecimentos à nossa volta, também desvendar as leis que governam a sociedade
humana nos pode ajudar a configurar o nosso destino e a melhorar o bem-estar da
humanidade”, caracterizando-se assim, como uma ciência positivista. “A abordagem
positivista da Sociologia acredita na produção de conhecimento acerca da sociedade
com base em provas empíricas retiradas da observação, da comparação e da
experimentação”. Da obra de Comte, Gidden traz a seu texto a lei dos três estágios:
“No estágio teológico, as ideias religiosas e a crença que a sociedade era uma
expressão da vontade de Deus eram o guia do pensamento. No estágio metafísico,
que se afirmou pela época do Renascimento, a sociedade começou a ser vista em
termos naturais, e não sobrenaturais. O estágio positivo, desencadeado pelas
descobertas e feitos de Copérnico, Galileu e Newton, encorajou a aplicação de
técnicas científicas ao mundo social”. Para Gidden, “Comte estava perfeitamente
consciente do estado da sociedade em que vivia: estava preocupado com as
desigualdades que a industrialização produzia e a ameaça que elas constituíam para
a coesão social. A solução a longo prazo, de acordo com a sua perspectiva, consistia
na produção de um consenso moral que ajudaria a regular, ou unir, a sociedade,
apesar dos novos padrões de desigualdade”, sua proposta para reestruturação social
nunca foi aplicada, porém Comte tem uma grade contribuição para o reconhecimento
da Sociologia, e assim tenha se tornado uma disciplina acadêmica. (pág. 7 e 8)
§ 32 - 49 O segundo sociólogo apresentado por Gidden é Émile Durkheim (1858-
1917). “Durkheim via a Sociologia como uma nova ciência que podia ser usada para
elucidar questões filosóficas tradicionais, examinando-as de modo empírico.
Durkheim, como anteriormente Comte, acreditava que devemos estudar a vida social
com a mesma objectividade com que cientistas estudam o mundo natural. O seu
famoso princípio básico da Sociologia era <estudar os factos sociais como coisas>”,
sendo mais um sociólogo positivista. “A obra de Durkheim abrange um vasto espectro
de tópicos. Três dos principais temas que abordou foram: a importância da Sociologia
enquanto ciência empírica; a emergência do indivíduo e a formação de uma ordem
social; e as origens e carácter da autoridade moral na sociedade. Encontraremos as
ideias de Durkheim repetidas vezes nas nossas discussões teóricas acerca da
religião, do desvio e do crime, do trabalho e da vida económica. Para o autor, a
principal preocupação intelectual da Sociologia reside no estudo dos factos sociais.
Em vez de aplicar métodos sociológicos ao estudo de indivíduos, os sociólogos
deviam antes analisar factos sociais - aspectos da vida social que determinam a
nossa acção enquanto indivíduos, tais como o estado da economia ou a influência da
religião”. Um trabalho clássico de Durkheim, estudado, analisado e debatido até hoje é
sua obra “O Suicídio”, onde Durkheim levanta a hipótese de que por mais que o
suicídio pareça uma escolha exclusivamente pessoal, na realidade, trata-se de um
fato social, ou pode-se ser explicado por fatos sociais, onde observa-se características
padronizadas. Durkheim classificou o suicídio em 4 tipos (suicídios egoístas, suicídios
anómicos, suicídios altruístas e suicídios fatalistas), além de criar o conceito de
anomia - mal estar social ocorrido na modernidade. Desta forma, Émile Durkheim
mostrou que fatos sociais exercem grande influência sobre o comportamento humano
(sendo a anomia uma dessas influências) e que o estudo sociológico pode-se ocorrer
através de padrões regulares, como também, explicá-los. (pág. 9 a 11)
§ 50 - 55 Karl Marx (1818-1883), é o terceiro sociólogo apontado por Gidden em seu
texto. Para o autor, a obra de Marx, diverge radicalmente dos sociólogos anteriores,
embora se propusesse a analisar e explicar os mesmos acontecimentos históricos. “A
maior parte dos seus escritos centra-se em questões económicas, mas, como sempre
teve como preocupação relacionar os problemas económicos com as instituições
sociais, a sua obra era, e é, rica em reflexões sociológicas. Mesmo os seus críticos
mais implacáveis consideram a sua obra de importância para o desenvolvimento da
Sociologia”. Segundo Marx, “o capitalismo é inerentemente um sistema de classes,
sendo as relações entre as classes caracterizadas pelo conflito. Embora os
proprietários do capital e os trabalhadores dependam uns dos outros - os capitalistas
necessitam da mão-de-obra e os trabalhadores necessitam dos salários - a
dependência é extremamente desequilibrada. O relacionamento entre as classes
assenta na exploração, na medida em que os trabalhadores têm pouco ou nenhum
controle sobre o seu trabalho e os patrões têm a possibilidade de gerar lucro
apropriando-se do produto do esforço dos trabalhadores” a mais-valia. Marx
acreditava que o conflito de classes em torno dos recursos económicos se iria
acentuar com a passagem do tempo. Além disto, Marx foi responsável pela criação do
método de estudo conhecido como materialismo-histórico: de acordo com esta
perspectiva, não se encontram nas ideias ou nos valores humanos as principais fontes
de mudança social. Pelo contrário, a mudança social é promovida acima de tudo por
fatores económicos. Os conflitos entre classes fornecem a motivação para os
desenvolvimentos históricos, são eles o “motor da história”. Segundo Marx, os
sistemas transitam de um modo de produção para outro - às vezes de forma gradual,
outras vezes por via de uma revolução - em resultado das contradições dos seus
sistemas económicos. “O autor identificou dois elementos cruciais nas empresas
capitalistas. O primeiro é o capital - qualquer activo, incluindo dinheiro, máquinas, ou
mesmo fábricas, que possa ser usado ou investido para realizar futuros bens. A
acumulação do capital está intimamente ligada ao segundo elemento, o trabalho
assalariado - por tal entende-se o conjunto de trabalhadores que não detém a
propriedade dos meios de produção, mas que tem de procurar emprego, fornecido
pelos que detêm o capital. Marx acreditava que aqueles que detêm o capital, ou
capitalistas, constituem uma classe dominante, enquanto a grande massa da
população constitui uma classe de trabalhadores assalariados, ou classe operária.
(...) Marx acreditava na inevitabilidade de uma revolução da classe trabalhadora que
derrubaria o sistema capitalista e abriria portas a uma nova sociedade onde não
existissem classes - sem grandes divisões entre ricos e pobres. Marx não queria dizer
que todas as desigualdades entre os indivíduos iriam desaparecer, mas que as
sociedades não mais iriam ser divididas entre uma pequena classe que monopoliza o
poder político e económico por um lado, e, do outro, uma grande massa de indivíduos
que pouco benefício retiram da riqueza gerada pelo seu trabalho. O sistema
económico assentaria na posse comum, sendo estabelecida uma forma de sociedade
mais justa do que a que conhecemos hoje. Marx acreditava que na sociedade do
futuro a produção seria mais evoluída e eficaz do que na sociedade capitalista”. A
influência das obras de Marx foi gritante no século XX, sendo um dos autores mais
debatidos da modernidade, Marx até os dias de hoje é tido como grade teórico e
revolucionário. (pág. 12)
§ 56 - 68 Max Weber (1864-1920), é próximo sociólogo apresentado no texto. “Suas
obras cobrem os campos da Economia, do Direito, da Filosofia e da História
Comparada, bem como da Sociologia”. Através de um conjunto de estudos empíricos,
Weber explicitou algumas das características básicas das sociedades industriais
modernas e identificou debates sociológicos fundamentais, que ainda hoje
permanecem centrais para os debates sociológicos. “Na perspectiva de Weber, os
factores económicos eram importantes, mas as ideias e os valores tinham o mesmo
impacto sobre a mudança social. Ao contrário dos primeiros pensadores sociológicos,
Weber defendeu que a Sociologia devia centrar-se na acção social, e não nas
estruturas. Argumentava que as ideias e as motivações humanas eram as forças que
estavam por detrás da mudança - as ideias, valores e crenças tinham o poder de
originar transformações. Segundo o autor, os indivíduos têm a capacidade de agir
livremente e configurar o futuro. Ao contrário de Durkheim ou Marx, Weber não
acreditava que as estruturas existiam externamente aos indivíduos ou que eram
independentes destes. Pelo contrário, as estruturas da sociedade eram formadas por
uma complexa rede de acções recíprocas”, para Weber era função e principal missão
da Sociologia entender o que motiva essas ações, aquilo que estar por trás delas, o
seu sentido. “Comparando os principais sistemas religiosos da China e índia com os
do Ocidente, Weber concluiu que alguns aspectos das crenças cristãs influenciaram
grandemente o aparecimento do capitalismo. Este não emergira, como Marx
acreditava, apenas graças às mudanças económicas. Segundo Weber, os valores e
as ideias culturais contribuem para moldar a sociedade e as nossas acções
individuais”, o autor também criou a teoria de “tipos ideiais”, segundo Gidden,
“modelos conceptuais ou analíticos que podem ser usados para compreender o
mundos - muitas vezes existem apenas algumas das suas características”. Weber
teve grande contribuição em suas obras sobre burocracia e mercado, além de ser
conhecido por buscar a racionalização em suas obras, onde, para ele, “a organização
da vida económica e social segundo princípios de eficiência e tendo por base o
conhecimento técnico. Se nas sociedades tradicionais a religião e os hábitos
enraizados definiam os valores e as atitudes das pessoas, a sociedade moderna
caracterizava-se pela racionalização de cada vez mais campos, da política à religião,
passando pela actividade económica”. Weber temia os efeitos desumanizantes da
burocracia e as suas implicações no destino da democracia. Gidden abre espaço para
resgate de uma das autoras esquecidas pelos meios acadêmicos da Sociologia:
Harriet Martâneau (1802-1876). Conhecida como “a primeira mulher socióloga”,
Harriet produziu uma obra de mais de cinquenta livros, traduziu uma obra de Comte,
tornando-se conhecida por implantar a sociologia na Grã-Bretanha. “A autora tem
importância para os sociólogos de hoje em dia por diversas razões. Em primeiro lugar,
defendia que quando alguém estuda uma sociedade deve centrar-se em todos os seu
s aspectos, incluindo a s principais instituições políticas, religiosas ou sociais. Em
segundo lugar, insistia em que a análise de uma sociedade deve incluir a vida das
mulheres. Em terceiro, foi a primeira a olhar de uma forma sociológica para assuntos
anteriormente ignorados, como o casamento, as crianças, a vida pessoal e religiosa, e
as relações raciais (...) por último, a autora defendia que os sociólogos não devem
limitar-se apenas a observar, mas devem igualmente agir em prol de uma sociedade.
Consequentemente, Martineau foi uma figura activa tanto na defesa dos direitos das
mulheres como na luta pela emancipação dos escravos”. (pág. 13 e 14)
§ 69 - 78 “Olhares sociológicos mais recentes”, neste trecho, Gidden reforça o fato de
que os primeiros sociólogos foram responsáveis pela busca de conferir sentido às
mudanças sociais e, mais que isso, buscavam explicar o funcionamento das
sociedades em escala mundial, cada um apresentando ao mundo uma abordagem
diferente. Gidden cita, o que para ele, seriam as três mais importantes correntes
teóricas presentes na sociologia moderna: “o funcionalismo, a perspectiva do conflito,
e o interacionismo simbólico” sendo estas diretamente relacionadas com Durkheim,
Marx e Weber, respectivamente. No Funcionalismo “defende que a sociedade é um
sistema complexo cujas partes se conjugam para garantir estabilidade e
solidariedade. Segundo esta perspectiva, a Sociologia, enquanto disciplina, deve
investigar o relacionamento das partes da sociedade entre si e para com a sociedade
enquanto um todo. Podemos analisar as crenças religiosas e costumes de uma
sociedade, por exemplo, ilustrando a forma como se relacionam com outras
instituições, pois as diferentes partes de uma sociedade estão intimamente
relacionadas entre si”, o funcionalismo enfatiza a importância do consenso moral na
manutenção da ordem e da estabilidade na sociedade. O consenso moral verifica-se
quando a maior parte das pessoas de uma sociedade partilham os mesmos valores.
Uma crítica feita recorrentemente ao funcionalismo é a de que este realça
excessivamente o papel de fatores que conduzem à coesão social, em detrimento de
fatores que produzem conflito e divisão. A ênfase na estabilidade e na ordem significa
que as divisões ou as desigualdades - com base em fatores como a classe social, a
raça ou o género – são minimizadas. O funcionalismo confere também uma ênfase
menor ao papel da acção social criativa na sociedade. Para muitos críticos, este tipo
de análise atribui às sociedades atributos que estas não possuem; Na Perspectiva do
Conflito, “os sociólogos que adoptaram as teorias de conflito sublinham a importância
das estruturas na sociedade. Defendem também um “modelo” abrangente para
explicar a forma como a sociedade funciona. Os teóricos do conflito rejeitam, no
entanto, a ênfase que os funcionalistas dão ao consenso. Pelo contrário, preferem
sublinhar a importância das divisões na sociedade. Ao fazê-lo, centram a análise em
questões de poder, na desigualdade e na luta. Tendem a ver a sociedade como algo
que é composto por diferentes grupos que lutam pelos seus próprios interesses. A
existência desta diferença de interesses significa que o potencial para o conflito está
sempre presente e que determinados grupos irão tirar mais benefício do que outros.
Os teóricos do conflito analisam as tensões existentes entre grupos dominantes e
desfavorecidos da sociedade, procurando compreender como se estabelecem e
perpetuam as relações de controle; Na Perspectivas da ação social, “as teorias da
acção social dão uma atenção muito maior ao papel desempenhado pela acção e pela
interacção dos membros da sociedade na formação dessas estruturas. Aqui, o papel
da Sociologia é visto como sendo mais o da procura do significado da acção e da
interacção social, do que o da explicação das forças externas aos indivíduos que os
compelem a agir da forma que agem. Se o funcionalismo e as perspectivas do conflito
desenvolvem modelos relativos ao modo de funcionamento global da sociedade, as
teorias da acção social centram-se na análise da maneira como os actores sociais se
comportam uns com os outros e para com a sociedade.” (pág. 16 e 17)
§ 79 - 81 O interaccionismo simbólico nasce de uma preocupação com a linguagem e
o sentido. Neste processo o elemento chave reside no símbolo. Um símbolo é algo
que representa algo. “O interaccionismo simbólico dirige a nossa atenção para os
detalhes da interacção interpessoal, e para a forma como esses detalhes são usados
para conferir sentido ao que os outros dizem e fazem. Os sociólogos influenciados por
esta corrente teórica centram muitas vezes a sua atenção na interacção face-a-face e
nos contextos da vida quotidiana, realçando a importância do papel dessas
interacções na criação da sociedade e das suas instituições. Muito embora a
perspectiva interaccionista simbólica possa incluir muitas reflexões em torno da
natureza das nossas acções na vida social quotidiana, já foi criticada por ignorar
questões mais amplas relacionadas com o poder e a estrutura na sociedade e a forma
como ambos servem para constranger a acção individual.” (pág. 18)
§ 82-85 Na conclusão do texto Gidden reforça a importância da Sociologia como
disciplina fundamental para o entendimento e desenvolvimento social. Afirma que tais
divergências teóricas apresentadas no presente texto contribuem para o crescimento
e consolidação do pensamento sociológico. “Todos os sociólogos concordam que a
Sociologia é uma disciplina em que nós pomos de lado os nossos próprios modos de
ver o mundo, para observarmos cuidadosamente as influências que dão forma às
nossas vidas e às dos outros. A Sociologia emergiu, como um esforço intelectual
distinto, com o desenvolvimento das sociedades modernas, e o estudo desse tipo de
sociedades permanece a sua principal preocupação. Mas os sociólogos estão
igualmente interessados num leque mais vasto de assuntos acerca da natureza da
interacção social e das sociedades humanas em geral. A Sociologia não é apenas um
campo intelectual abstracto, mas algo que pode ter implicações práticas importantes
na vida das pessoas. Aprender a tornarmo-nos sociólogos não devia ser um esforço
académico aborrecido. A melhor maneira de nos assegurarmos que tal não acontece
é abordar a disciplina de uma forma imaginativa e relacionar ideias e conclusões com
situações da nossa própria vida. Uma maneira de fazermos isso é tornarmo-nos
conscientes das diferenças entre os modos de vida que nós nas sociedades
modernas consideramos como normais e os dos outros grupos humanos. Embora os
seres humanos tenham muito em comum, existem muitas variações entre diferentes
sociedades e culturas.” (pág. 18)

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