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O que é a sociologia?

A sociologia é uma forma específica e cientificamente fundada de conhecimento sobre


o mundo e a realidade social

A Sociologia tem, assim, as seguintes características:


1 - É uma forma de conhecimento cientifico

2 - Estuda a vida das pessoas em sociedade e os fenómenos sociais que daí advêm (A
Sociologia analisa a realidade social, encara os fenómenos sociais como factos sociais
que envolvem relações entre os indivíduos e integra-os no seu contexto social)

3 - Procura entender o ser humano como uma construção social e compreender o sentido
que os indivíduos dão às suas ações (é o estudo das relações sociais e dos contextos em
que estas se formam e ocorrem);

4 - Tenta dar resposta aos fenómenos humanos;

5 - Tenta diminuir os problemas da sociedade bem como solucioná-los.

O facto de se encontrarem regularidades, com um caráter duradouro, nos fenómenos


sociais significa que as ações dos indivíduos não acontecem por acaso ou por
imprevisto. Com efeito, o comportamento dos indivíduos é condicionado pela
sociedade em que estão inseridos, pois existem regras e princípios que modelam de
forma regular e permanente as suas ações. Este conjunto de constrangimentos sociais
exercidos sobre a ação dos indivíduos costuma designar-se por estrutura social.

A perspetiva sociológica, a forma de ler a realidade social, incide particularmente sobre


as sociedades contemporâneas. É, então, um código de entendimento, de interpretação,
de tentativa de explicação e de compreensão de modernidade.

A Sociologia como desmitificação


A sociologia é também uma atitude perante o mundo e a realidade social. É uma
atitude que desafia as conceções gerais, desvenda o que é tido por “certo” e revela o que
habitualmente permanece invisível ou interdito. Ou seja, interroga o que de mais
profundo existe na nossa vida em comum.

Peter L. Berger:
“O facto de formular interrogações sociológicas pressupõe, portanto, que o sociólogo
esteja interessado em olhar para além das metas das ações humanas comummente
aceites ou oficialmente definidas. Pressupõe uma certa consciência de que os factos
humanos possuem diferentes níveis de significado, alguns dos quais ocultos à
consciência da vida quotidiana. Pode até pressupor uma certa dose de suspeita quanto
à maneira como os factos humanos são oficialmente interpretados pelas autoridades,
sejam factos de carácter político, jurídico ou religioso (..). Podemos, então, conceber a
"sociedade" também como a estrutura oculta de um edifício, cuja fachada exterior
esconde aquela estrutura (...). (...) a perspetiva sociológica pode assim ser
compreendida em termos de uma frase coloquial como "olhar por detrás dos
bastidores"
Imaginação sociológica (Wright Mills) - Procura constante do cruzamento entre as
histórias de vida individuais e as circunstancias históricas em que elas se
desenrolam (económicas, políticas, sociais e culturais)

Sociologia e conhecimento da realidade social

1. O objeto das ciências sociais – A realidade social


A realidade social é o conjunto de fenómenos que se produzem e reproduzem na
sociedade, ou seja, é o objeto real sobre o qual se debruçam as varias ciências sociais.

À medida que o ser humano muda, o ambiente também se altera, estabelecendo-se


Relações de Interdependência, entre ele e o meio - processo de mudança (processos
que alteram as nossas práticas sociais).

As distintas ciências sociais analisam o mesmo objeto real (a realidade social) embora
tenham diferentes interesses, pontos de vista ou perspetivas.

2. A unidade e a complexidade do social


A realidade social constitui uma unidade indivisível e complexa, cuja analise pode ser
efetuada segundo perspetivas disciplinares ou “Olhares” científicos diferentes.

Quando os cientistas sociais se referem à análise económica / histórica / etc., estão


apenas a usar um recurso linguístico que visa ajudar a compreender uma realidade vasta,
complexa e pluridimensional, dividindo-a artificialmente de acordo com os seus
interesses disciplinas próprias.

“A Economia, a Psicologia ou a Sociologia distinguem-se, não porque na realidade


haja factos exclusivamente económicos, psicológicos ou sociológicos, mas porque
partem de perspetivas teóricas distintas e constroem distintos objetos científicos (...). É
capital perceber que o económico, o político ou o simbólico não constituem
compartimentos estanques - são dimensões inerentes a toda a ação social, estão nela
profundamente interligadas. Se designamos certas formas de conduta por económicas,
outras por políticas, outras por simbólicas, não é porque umas sejam na realidade
exclusivamente económicas, outras políticas e outras simbólicas - pelo contrário, a
ação humana, tomada na sua intrínseca complexidade, é ao mesmo tempo
económica, política e simbólica (...).”

3. A interdisciplinaridade
É impossível compreender qualquer fenómeno ao tomá-lo isoladamente e
desligando-o dos restantes factos sociais com os quais interage e do contexto que o
envolve e condiciona. Se procedermos desta forma, decerto perderemos o conjunto das
interdependências deste fenómeno e também o todo social de que ele faz parte.

Por outro lado, ao haver uma investigação conjugada e complementar das várias
ciências (ação interdisciplinar), produzir-se-ão conhecimentos integrados, completos e
profundos, ou seja, mais próximos da realidade social entendida como uma totalidade.

Todas as ciências sociais podem ser mobilizadas para analisar um certo fenómeno.
Génese e objeto da sociologia

4. Surgimento
Dupla Revolução - Revolução industrial e Revolução francesa (transformações sociais,
económicas e políticas)

Neste novo contexto, estavam criadas as condições para o aparecimento das ciências
sociais, pois estas, ao estudarem os fenómenos sociais de uma forma objetiva e
sistemática, permitiam um conhecimento da realidade social que facilitava a
intervenção social.

Pioneiros da Sociologia
- Auguste Comte (criou o termo “sociologia”)
- Karl Marx
- Herbert Spencer

- Émile Durkheim
- Max Weber

A Origem histórica da sociologia


“As origens da [Sociologia] (...) inserem-se no contexto de uma série de mudanças
radicais introduzidas pelas "duas grandes revoluções" da Europa dos séculos XVIII e
XIX. Estes acontecimentos profundos transformaram irreversivelmente o modo de vida
que os seres humanos levavam há milhares de anos. A Revolução Francesa de 1789
representou o triunfo das ideias e valores seculares, como a liberdade e a igualdade,
sobre a ordem social tradicional. Foi o início de um movimento dinâmico e intenso que
a partir de então se espalhou pelo globo, tornando-se algo inerente ao mundo moderno.
A segunda grande revolução teve início na Grã-Bretanha em finais do século XVIII,
antes de se verificar noutros locais da Europa, na América do Norte e noutros
continentes. Ficou conhecida como Revolução Industrial - o conjunto amplo de
transformações económicas e sociais que acompanharam o surgimento de novos
avanços tecnológicos como a máquina a vapor e a mecanização. O surgimento da
indústria conduziu a uma migração em grande escala de camponeses, que deixaram as
suas terras e se transformaram em trabalhadores industriais em fábricas, o que causou
uma rápida expansão das áreas urbanas e introduziu novas formas de
relacionamento social. (...) A destruição dos modos de vida tradicionais levou os
pensadores a desenvolver uma nova conceção dos mundos natural e social. Os
pioneiros da Sociologia confrontaram-se com os eventos que acompanharam essas
revoluções, tentando compreender tanto as razões da sua emergência como as suas
consequências potenciais.”
5. Émile Durkheim
Os factos sociais como objeto da sociologia
“Os factos sociais são as maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao
indivíduo, e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem”

Factos sociais são factos decorrentes da vida em sociedade e traduzem-se por maneiras
de agir, de pensar e de sentir que se generalizam, isto é, se repetem em todos os
membros de uma sociedade ou de uma comunidade específica.

Os factos sociais são:


- Exteriores (São exteriores aos indivíduos, como se a sociedade nos impusesse tais
modelos de comportamentos. Ex: Vestimo-nos de maneira semelhante,
cumprimentamo-nos de forma parecida, como se “do exterior” nos ordenassem tais
comportamentos)

- Coercivos (As maneiras de agir, de pensar e de sentir são detidas pelos indivíduos
através do processo da educação, de uma forma imperativa, isto é, existem sanções para
quem não as respeitar)

- Relativos (As diferentes formas de pensar ou sentir que determinam o nosso


comportamento e as nossas atitudes não são imutáveis no espaço e no tempo, pelo que
variam consoante as sociedades ou ao longo do tempo dentro da mesma sociedade)

Segundo Durkheim e baseado no seu estudo do suicídio como facto social, existem
forças sociais externas ao individuo que influenciam as taxas de suicídio, ou seja, são
produto de uma totalidade social e não se reduzem a atos meramente individuais.

A sociedade tem primazia sobre o indivíduo.

6. Max Weber
A estrutura social e ação social

O comportamento dos indivíduos é condicionado pela sociedade em que estão inseridos,


existindo regras e princípios que modelam, de forma regular e permanente, as suas
ações. Este conjunto de constrangimentos sociais designa-se por estrutura social.

De facto, apesar da influência exercida pela estrutura social, não deixamos de ser
relativamente autónomos, pois fazemos escolhas acerca da nossa conduta, refletimos
criticamente sobre as regras que a sociedade tende a impor-nos, adaptamo-nos e
modificamos as normas e valores em função das circunstâncias. Numa palavra,
atribuímos um certo sentido às nossas ações individuais que desencadeamos
intencionalmente.
Max Weber
«Por "ação" deve entender-se um comportamento humano (quer consista num fazer
externo ou interno, quer num omitir ou permitir), sempre que o agente ou os agentes lhe
associem um sentido subjetivo. Mas deve chamar-se ação "social" aquela em que o
sentido intentado pelo agente ou pelos agentes está referido ao comportamento de
outros e por ele se orienta no seu decurso.»

A ação social corresponde a um comportamento humano ao qual o ator (indivíduo ou


grupo) atribui um significado e um sentido que resulta e interfere na estrutura social.

7. O desenvolvimento da Sociologia em Portugal


“Alguns anos atrás, em Portugal, poucos teriam ouvido falar em Sociologia. O assunto
não era estudado no ensino primário nem no secundário. Não havia cursos
universitários de Sociologia. Não se formavam, portanto, pessoas especificamente
preparadas para o exercício da atividade profissional de sociólogo. A investigação
científica em Sociologia era quase inexistente. A análise sociológica da realidade
social portuguesa era incómoda para o regime ditatorial derrubado em 1974. O
ensino dos conhecimentos teóricos e empíricos, produzidos pela Sociologia, sobre os
mecanismos do relacionamento humano e sobre as formas de organização social era
igualmente sentido, pelo poder autoritário instalado, como uma ameaça. A Sociologia
foi assim, durante esse longo período, sistematicamente impedida de se desenvolver.
(...) Hoje em dia já não é bem assim. Criaram-se várias licenciaturas em Sociologia. A
investigação sociológica sobre a realidade social portuguesa, depois de um pequeno
número de importantes trabalhos pioneiros, alargou-se significativamente. Criaram-se
centros de investigação, aumentou a quantidade de pessoas envolvidas, diversificaram-
se os temas analisados. Estão a reforçar-se as ligações entre as equipas de
investigadores portugueses e a comunidade sociológica internacional. A inserção
profissional dos sociólogos começou também a diversificar-se. Para além do núcleo de
profissionais da investigação científica e do ensino universitário, há já sociólogos a
trabalhar como técnicos, consultores, formadores, animadores e quadros dirigentes em
empresas, autarquias e serviços públicos, na administração central e na comunicação
social, em gabinetes de estudos e em projetos sociais variados. Fundou-se, em 1985, a
Associação Portuguesa de Editora Sociologia, principal organização científico-
profissional dos sociólogos portugueses. “
Construção do conhecimento científico em Sociologia

8. Conhecimento científico e conhecimento do senso comum


Senso comum – Conhecimento vulgar e prático com que no quotidiano orientamos as
nossas ações e damos sentido à nossa vida

Muitas descobertas provenientes do conhecimento cientifico integraram e fazem hoje


parte do senso comum (por exemplo, a situação da SIDA).

9. O conhecimento científico nas ciências sociais e na Sociologia


Enquanto nas ciências físicas e naturais os objetos de estudo são parcialmente ou
completamente exteriores ao cientista, nas ciências sociais e humanas o cientista faz
parte do seu objeto de estudo; ele próprio é um ser humano e um ser social.

A rutura com o senso comum


As perspetivas pessoais acerca de um certo ato, e a forma com lidamos com esse mesmo
ato podem ser estudadas, compreendidas e explicadas de forma cientifica, através
do recurso a determinados procedimentos. Esses procedimentos asseguram a
necessária rutura do sociólogo face às suas ideias preconcebidas.

Se considerarmos que o conhecimento do senso comum se baseia no aparente, no


subjetivo e em explicações simplistas, facilmente se percebe que qualquer cientista
social deve ultrapassar estas noções redutoras e procurar ver para além do óbvio,
das suas opiniões pessoais e das ideias preconcebidas que circulam na sociedade sobre
os fenómenos sociais. Para que o sociólogo possa observar e questionar a realidade
social numa perspetiva cientifica, não pode deixar de romper com o conhecimento
do senso comum.

O senso comum na perspetiva sociológica


“A Sociologia é o estudo da vida social humana, grupos e sociedades. É uma tarefa
fascinante e constrangedora, na medida em que o tema de estudo é o nosso próprio
comportamento enquanto seres sociais. A esfera de ação do estudo sociológico é
extremamente abrangente. podendo ir da análise de encontros casuais entre indivíduos
que se cruzam na rua até à investigação de processos sociais globais. A maior parte de
nós vê o mundo em termos das características das nossas próprias vidas, com as quais
estamos familiarizados.

A Sociologia mostra que é necessário adotar uma perspetiva mais abrangente do


modo como somos e das razões pelas quais agimos. Ensina-nos que o que
consideramos natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não o ser, e que o que
tomamos como "dado" nas nossas vidas é fortemente influenciado por forcas
históricas e sociais.

Compreender as maneiras ao mesmo tempo subtis, complexas e profundas pelas


quais as nossas vidas individuais refletem os contextos da nossa experiência social é
essencial à perspetiva sociológica.”
A rutura com o senso comum
“Mais do que um momento ou ato epistemológico fundador de uma investigação, a
rutura deve, pois, ser encarada como a própria atitude de vigilância crítica e
autocrítica que o método científico - modo peculiar de formular problemas e pôr à
prova interpretações sobre o real - tem incorporado. Não é dádiva da natureza nem
virtude intrínseca do espírito: é o resultado da aprendizagem de um conjunto de
saberes especializados, mas sobretudo de uma predisposição para pôr em suspenso
todas as "verdades" de que se alimenta a nossa relação de familiaridade com o
mundo (...).”

O sociólogo deve, portanto, manter uma atitude de vigilância constante e relativizar o


seu conhecimento prático sobre a realidade durante a produção do conhecimento
cientifico.

Conhecimento do senso comum Conhecimento científico


Subjetivo – É pessoal, baseia-se em Objetivo – Procura ser universal, válido para
opiniões. todos
Espontâneo – Surge da informação obtida Sistemático – É construído de forma
através dos nossos sentidos e do aparente sistemática e consciente pelos cientistas
Errático – É contruído aleatoriamente ao Metódico – É obtido recorrendo a métodos e
longo da vida de cada indivíduo técnicas de investigação que asseguram a sua
validade
Ingénuo – É assimilado sem sentido crítico Crítico – Procura questionar a realidade e
questionar-se a si próprio
Dogmático – Acreditamos nele como se Comprovável – Pode ser testado a qualquer
tratando de verdades inquestionáveis momento e, assim, confirmado ou infirmado

A Sociologia e o amor
“Terá a Sociologia algo a dizer sobre o amor? Se considerarmos que as relações
afetivas são uma das dimensões das relações sociais, o amor torna-se então suscetível
de ser objeto de análise sociológica. Dimensão particular das relações sociais, na
verdade o Amor evolui à medida que as sociedades se transformam e varia consoante
numerosos fatores, nomeadamente a pertença social.
Por outras palavras, esse sentimento não é vivido por todos da mesma forma, não se
refere a uma mesma simbologia social, não está codificado por um mesmo discurso,
não se perfila num mesmo futuro, não ativa os mesmos comportamentos e atitudes e
não é predeterminado: recompõe-se ao longo das experiências vividas.
Se, por um lado, o amor mantém uma dimensão mágica (o "apaixonar-se"), por
outro, são numerosos os elementos que testemunham o seu carácter profundamente
social, nomeadamente a homogamia - proximidade social e cultural dos parceiros.”
10. Dificuldades da produção do conhecimento científico na Sociologia
Obstáculos que o senso comum coloca ao trabalho científico:
- Familiaridade com o social;
- Explicações do tipo naturalista;
- Explicações de tipo individualista;
- Explicações de tipo etnocentrista

Familiaridade com o social


Sendo o sociólogo também um ator social, pode existir uma grande familiaridade com
o seu objeto de estudo e isso pode alterar a forma como ele conduz a sua pesquisa e,
consequentemente, os resultados obtidos.

Quanto mais próximo está o sociólogo da realidade que pretende analisar, maior é
o risco de enviesamento da pesquisa e mais difícil é o processo de rutura com as
crenças do senso comum, porque mais forte é a ilusão de transparência do social.

A familiaridade com o social dificulta o seu questionamento e, logo, a sua análise


científica, na medida em que a realidade se nos apresenta de forma ilusoriamente
transparente e óbvia.

Explicações naturalistas
Por vezes, tentamos explicar certos fenómenos sociais recorrendo a explicações
naturais, ou seja, a fatores de ordem física ou biológica, o que nos leva a atribuir as suas
causas à suposta natureza das coisas: a natureza humana ou as características de um
povo, de uma raça ou de um dos sexos.

Ora, tais explicações são perigosas do ponto de vista científico porque tendem a
assumir-se como inquestionáveis e inevitáveis, dispensando um olhar crítico sobre
essas realidades.

Explicações individualistas
Outros dos recursos que habitualmente utilizamos para explicar os fenómenos sociais
são os de ordem individual ou psicológica. Tal acontece porque as causas sociais
dos fenómenos raramente são evidentes, pelo que se torna mais simples e cómodo
recorrer a este tipo de justificações. O já referido trabalho de Émile Durkheim sobre o
suicídio é uma ótima demonstração de como ultrapassar as explicações individualistas.

Explicações etnocentristas
á quando olhamos para outras sociedades, outras classes sociais, outros grupos ou
outras culturas e tomamos como referência a nossa própria realidade social e cultural
tendemos a explicar os fenómenos dessas sociedades, classes, grupos e culturas de uma
forma etnocentrista. Tais explicações pressupõem um sentimento de superioridade e
a sobrevalorização da própria cultura, levando à formulação de juízos de valor que
inferiorizam e desvalorizam a especificidade social e cultural da realidade
observada, razão pela qual não têm qualquer valor científico.
Uma definição de etnocentrismo
“As críticas sumárias a práticas ou conceções dos outros têm normalmente na base,
como uma das razões que preponderantemente as originam, o preconceito; e, muito em
especial, o preconceito etnocêntrico. As ciências sociais chamam "etnocentrismo" à
disposição espontânea para considerarmos negativamente, como inferiores ou
condenáveis, os modos de vida e as culturas diferentes das nossas.
Sem nos darmos conta, tendemos a tomar como absoluta a nossa própria maneira
de ver as coisas. Além disso, a mais teimosa e subtilmente enraizada forma de
etnocentrismo consiste em não querermos ou não sabermos reconhecer que vemos o
mundo e os outros - necessariamente - segundo um determinado tipo (o nosso) de
padrões culturais. Quer dizer, somos necessariamente preconceituosos e unilaterais,
não só nas maneiras como julgamos, mas também, mais profundamente ainda, nas
próprias formas como captamos cognitivamente as realidades sociais. Uma
observação e análise sociologicamente informada pretende, entre outros objetivos, ser
capaz de ver para além desse preconceito espontâneo, introduzir recuo crítico e
ceticismo cognitivo em relação ao que correntemente tomamos como certo,
reformular numa base mais conhecedora e esclarecida a interpretação dos
fenómenos sociais.”

Uma crítica do etnocentrismo


“As culturas podem ser extremamente difíceis de entender quando vistas de fora. Não é
possível compreender crenças e práticas se as separarmos das culturas de que elas
fazem parte. Uma cultura tem de ser estudada segundo os seus próprios significados e
valores - um pressuposto essencial da Sociologia.

Os sociólogos esforçam-se o mais possível por evitar o etnocentrismo, que consiste em


julgar as outras culturas tomando como medida de comparação a nossa. Dada a ampla
variação de culturas humanas, não é surpreendente que as pessoas provenientes de
uma cultura achem frequentemente difícil aceitar as ideias ou o modo de
comportamento das pessoas de uma diferente.”

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