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LOPES, Luciano Santos. Dos Elementos Normativos do Tipo Penal: Entre a Agressão à
Legalidade e a Necessidade de Sua Utilização. Dissertação de mestrado
apresentada e defendida perante programa de Pós-graduação da Faculdade de
Direito da UFMG. Área de concentração: ciências penais. Orientador: prof. Dr.
Carlos Augusto Canedo Gonçalves da Silva. Belo Horizonte, 2004. Págs. 73 a
93.
4 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
4.1 Conceito de Legalidade
1
Alguns autores diferenciam o princípio da legalidade do princípio da reserva legal. SILVA assim anota
esta diferença: “a doutrina não raro confunde ou não distingue suficientemente o princípio da legalidade
e o da reserva da lei. O primeiro significa a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera
estabelecida pelo legislador. O segundo consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas
matérias há de fazer-se necessariamente por lei formal. Embora às vezes se diga que o princípio da
legalidade se revela como um caso de reserva relativa, ainda assim é de reconhecer-se diferença entre
ambos, pois que o legislador, no caso da reserva de lei, deve ditar uma disciplina mais específica do que
é necessário para satisfazer o princípio da legalidade.” (SILVA, José Afonso da. Curso de direito
constitucional positivo, p. 368.)
Nesta perspectiva de classificação, e como o Direito Penal somente pode surgir de lei formal, estar-se-
ia a afirmar que o princípio que rege a elaboração do tipo penal seria, para além da legalidade, o da
reserva legal. Curiosamente, na mesma obra (página 375) SILVA afirma pela legalidade penal, e não pela
reserva legal penal. Evidente que o autor anota, nesta ocasião, que há uma reserva absoluta, que se traduz
na necessidade imperiosa de lei formal para a criação de figuras típicas penais.
Outros autores, como BATISTA (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao estudo do direito penal
brasileiro, p. 65) e BITENCOURT (BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral,
p. 10) não formulam conceitos diferenciados para a questão. Anotam sempre legalidade como tendo o
mesmo significado da reserva legal. Todavia, é de se ressaltar que nenhum autor que utiliza um termo
pelo outro – legalidade significando a mesma coisa que reserva legal – é capaz de afirmar que se constrói
um tipo penal por lei que não seja em sentido formal.
Na verdade, a um juízo mais adequado que se fará neste capítulo, a reserva legal consiste em uma das
funções da legalidade. Nas palavras de ZAFFARONI e BATISTA, “legalidade e reserva legal constituem
dois indícios da própria garantia de legalidade, correspondentes a um único requerimento de
racionalidade no exercício do poder.” (ZAFFARONI, Eugênio Raúl et. al. Direito penal brasileiro I, p.
203).
Assim, adota-se neste trabalho a leitura última, acima destacada. O termo a ser utilizado será o da
legalidade, com a ressalva que acaba de ser feita no parágrafo anterior: quando se afirma pela legalidade
no Direito Penal, se está a afirmar que somente lei em sentido formal pode incriminar uma conduta. Por
reserva legal entender-se-á, como sendo uma das funções da legalidade.
2
O princípio foi destacado assim, nas sucessivas Constituições brasileiras anteriores à de 1988:
- Constituição do Império brasileiro, de 1824: “Artigo 179, XI: Ninguém será sentenciado, senão pela
autoridade competente, por virtude de Lei anterior e na forma por ela prescrita.” (NOGUEIRA,
Octaciano. Constituições brasileiras: volume I: 1824.).
- Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1891: “Artigo 72, § 15: ninguém será
sentenciado, senão pela autoridade competente, em virtude de lei anterior e na forma por ela regulada.”
(BALEEIRO, Aliomar. Constituições brasileiras: volume II: 1891.).
- Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1934: “Artigo 113, item 26: Ninguém será
processado, nem sentenciado, senão pela autoridade competente, em virtude de lei anterior ao fato, e na
forma por ela prescrita.” (POLETTI, Ronaldo. Constituições brasileiras: volume III: 1934.).
- Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1937: “Não haverá penas corpóreas
perpétuas. As penas estabelecidas ou agravadas na lei nova não se aplicam aos fatos anteriores. (...).”
No Código Penal brasileiro, vem o princípio inscrito com a seguinte leitura:
“Artigo 1º: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.”
(PORTO, Walter Costa. Constituições brasileiras: volume IV: 1937.). É de se perceber que esta
Constituição anota o princípio da legalidade com uma redação bem diferenciada da s outras versões.
- Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1946: “Artigo 141, § 27: Ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente e na forma de lei anterior.”
(BALEEIRO, Aliomar; SOBRINHO, Barbosa Lima. Constituições brasileiras: volume V: 1946.).
- Constituição da República Federativa do Brasil, de 1967: “Artigo 153, § 16: A instrução criminal será
contraditória , observada a lei anterior, no relativo ao crime e à pena, salvo quando agravar a situação
do réu.” (CAVALCANTI, Themístocles Brandão; BRITO, Luiz Navarro de; BALEEIRO, Aliomar.
Constituições brasileiras: volume VI: 1967.). Verifica-se que também esta Constituição, como a de 1937,
anota o princípio da legalidade com uma redação bem diferenciada das outras versões.
3
ZAFFARONI, Eugênio Raúl et. al. Direito penal brasileiro I, p. 201.
O respeito à legalidade ainda fica condicionado à interpretação do Direito
no plano da sua concretização. É de se concordar realmente que a contribuição decisiva
se dá com o respeito do princípio na aplicação da norma ao caso real.
4
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao estudo do direito penal brasileiro, p. 68.
5
Assim também pensa VARGAS: “a inserção do princípio da legalidade no Capítulo dos direitos e
garantias individuais, para além de evocar sua origem política, possui uma significação que não pode
ser desprezada pelo intérprete, o qual deve recriar os instrumentos que viabilizem a autolimitação pelo
Estado de seu poder punitivo.“ (VARGAS, José Cirilo de. Direitos e garantias individuais no processo
penal, p. 80.)
6
LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípios políticos do direito penal, p. 76.
“ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.”);
princípio do estado de inocência (CF, art. 5º, LVII: “ninguém será considerado culpado
até o trânsito da sentença condenatória.); entre outros.
Ora, o magistrado, que também faz parte da sociedade, não pode com
justiça infligir a outro membro dessa sociedade uma pena que não seja
estatuída pela lei; e, a partir do momento em que o juiz é mais severo
do que a lei, ele é injusto, pois acrescenta um castigo novo ao que já
está determinado. Segue-se que nenhum magistrado pode mesmo sob
o pretexto do bem público, aumentar a pena pronunciada contra o
crime de um cidadão.8
7
BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte geral, tomo. 1, 5. ed., p. 124.
8
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas, p. 18.
realização da conduta exista lei penal a definir o delito e a cominar uma pena em
abstrato correspondente.
9
Código Penal brasileiro:
“artigo 97: Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato
previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
§ 1º: A internação, ou o tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto
não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser
de 1 (um) a 3 (três) anos.”
É evidente que também as medidas de segurança devem respeito à
legalidade. O Estado não pode interferir na esfera de liberdade das pessoas por tempo
indeterminado, por ocasião do seu exercício punitivo delimitado pelo Direito Penal.
Nem a pretexto de efetivar tratamento médico, como ocorre nas medidas de segurança,
tal situação pode ter validade. A legalidade deve ser verificada também em sede de
medidas de segurança, no sentido de se delimitar o tempo máximo de privação da
liberdade daquele inimputável que está a sofrer a referida internação. A pessoa
internada deve poder saber qual a medida de segurança que lhe foi aplicada e,
principalmente, qual a sua duração. Ninguém pode perder sua liberdade
indeterminadamente.
10
Neste sentido: GOMES, Luiz Flávio. Duração das medidas de segurança. Revista dos Tribunais n. 665,
jan. 1991, p. 259/267.
11
VARGAS, José Cirilo de. Direitos e garantias individuais no processo penal, p. 77.
12
FRANCO, Alberto Silva. Temas de direito penal, p. 09/10.
Os referidos postulados do princípio da legalidade são assim elaborados nas
expressões latinas que os definem habitualmente na doutrina: nullum crimen, nulla
poena sine lege praevia (irretroatividade da lei penal); nullum crimen, nulla poena sine
lege scripta (proibição dos costumes e reserva legal, ou o uso de lei formal para
incriminar condutas); nullum crimen, nulla poena sine lege stricta (proibição da
analogia in malam partem); e nullum crimen, nulla poena sine lege certa (taxatividade).
A lei penal incriminadora não pode retroagir. Vale afirmar que deve existir
uma lei anterior à conduta delituosa de uma pessoa. O cidadão não pode ser incriminado
por uma norma que surgiu posteriormente à realização de sua ação/omissão penalmente
relevante. Tudo o que se referir à pena ou ao crime cometido deve ser normativizado
anteriormente à prática delituosa, não podendo norma posterior retroagir e incriminar ou
agravar responsabilidade do acusado.
13
PALAZZO, Francesco C. Valores constitucionais e direito penal, p. 43.
Artigo 2º: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
de considerar crime, cessando em virtude dele a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.
Constituição Federal:
Artigo 5º, XL: “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Tal afirmação não quer significar que os costumes não têm função no
Direito Penal, especialmente no campo da tipicidade. Com TOLEDO, a seguinte leitura
desta premissa:
14
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro, p. 69.
não se deve, entretanto, cometer o equívoco de supor que o direito
costumeiro esteja totalmente abolido do âmbito penal. Tem ele grande
importância para elucidação do conteúdo do tipo. Além disso, quando
opera como causa de exclusão de ilicitude (causa supralegal), de
atenuação da pena ou da culpa, constitui verdadeira fonte do direito
penal.15
O que se está a impedir, neste segundo postulado, é que uma norma que não
é retirada da lei escrita possa incriminar condutas. A questão da fonte de produção
(material) do Direito aqui é verificada. No caso do Direito Penal, exclusivamente o
Congresso Nacional pode criar normas neste sentido, posto que é a única fonte de
produção das normas deste ramo jurídico.
Embora seja claro que existem fontes secundárias a orientar o Direito Penal
– tais como os costumes e os princípios gerais do Direito -, somente a lei em seu sentido
formal pode criar leis penais incriminadoras. É o que se afirma ser Reserva Legal: não
se pode criar norma penal que incrimine condutas e comine penas senão por meio de
Lei promulgada pelo Congresso Nacional, depois de passar pelo devido processo
legislativo.
15
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal, p. 25.
Os costumes socialmente aceitos pelo Direito devem respeitar duas premissas: devem ser aceitos por
toda a coletividade – ou pela grande maioria de seus membros -, para ter um caráter de generalidade; e
deve perdurar no tempo a sua vigência.
16
“A adequação social é de certo modo uma espécie de pauta para os tipos penais: representa o âmbito
„normal‟ da liberdade de atuação social, que lhes serve de base e é considerada (tacitamente) por eles.
Por isso ficam também excluídas dos tipos penais as ações socialmente adequadas, ainda que possam ser
a eles subsumidas – segundo seu conteúdo literal.” (WELZEL, Hans. O novo sistema jurídico penal: uma
introdução à doutrina da ação finalista, p. 60.).
Percebe-se que WELZEL sistematiza o conceito de adequação social como limitação do tipo material,
respeitando os costumes sociais.
CANOTILHO, por ocasião de conceituar a reserva de lei, assim se expressa:
17
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 718.
18
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 722.
SILVA também elabora distinção neste sentido:
“É absoluta a reserva legal constitucional de lei quando a disciplina da matéria é reservada pela
Constituição à lei, com exclusão, portanto, de qualquer outra fonte infralegal, (...)
É relativa a reserva constitucional de lei quando a disciplina da matéria é em parte admissível a outra
fonte diversa da lei, sob a condição de que esta indique as bases em que aquela deva produzir-se
validamente.” (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, p. 370.).
19
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro, p. 73.
não está totalmente descrita em seus detalhes. Se o complemento vem de outro
dispositivo de lei hierarquicamente idêntico, denomina-se norma penal em branco em
sentido lato. Se o complemento vem de disposição normativa hierarquicamente inferior
à lei em sentido formal, dá-se o nome de norma penal em branco em sentido estrito.20
20
Exemplo desta segunda espécie está contido no artigo 12 da Lei 6368/76. Para se definir o que seja
substância entorpecente proibida, é necessário que exista uma portaria do Ministério da Saúde assim
anunciando.
21
Assim: TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal, p. 24. Também no mesmo
sentido: VARGAS, José Cirilo de. Direitos e garantias individuais no processo penal, p. 82.
22
Constituição Federal/1988:
“art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
4.2.3 Proibição do uso de analogia in malam partem
A lei regula uma hipótese semelhante ao caso não tratado pelo legislador.
Em sendo possível, deve o operador do Direito usar a regra legislada, do caso igual,
para aquela outra situação não regulada. Todavia, o uso da analogia no Direito Penal
somente é autorizado quando beneficiar o acusado. Não se pode incriminar novas
condutas utilizando-se da estratégia da analogia in malam partem.
a) (...)
b) direito penal, processual penal e processual civil;
(...)”
23
HUNGRIA não concorda com tal entendimento, entendendo não caber, igualmente, a analogia in
bonam partem no Direito Penal. (HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal , v. I, tomo I, p. 91.).
24
CARVALHO, Márcia Dometila de. Fundamentação constitucional do direito penal, p. 60.
analogia in malam partem que agredia a segurança jurídica. Tal garantia era violada
pela submissão total do magistrado à vontade do Fuhrer.
Ressalve-se, por fim, que não se admite analogia, mesmo in bonam partem,
quando se tratar de norma excepcional.
25
Veja-se um exemplo de interpretação analógica no ordenamento jurídico pátrio, constante do art. 157
do Código Penal brasileiro: “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer outro meio, reduzido à impossibilidade de
resistência.”. Este qualquer outro meio enseja uma interpretação analógica, porque existem formas não
previstas em lei, mas autorizadas pelo legislador, de incriminar condutas.
26
De acordo com PALAZZO (PALAZZO, Francesco C. Valores constitucionais e direito penal, p. 49),
há pouca sensibilidade da jurisprudência quanto à exigência da taxatividade. Afirma, ainda, que a
Alemanha foi o berço de tal criação principiológica e tem a sua mais profunda elaboração.
27
VARGAS, José Cirilo de. Direitos e garantias individuais no processo penal, p. 88.
A eficaz função garantidora do tipo penal fica na dependência da descrição
das normas incriminadoras e dos bens jurídicos valorados. Daí decorre que a técnica
legislativa pode vir a ferir tal princípio, usando cláusulas genéricas, elementos
normativos em demasia e sanções punitivas totalmente indeterminadas no tempo.28
BATISTA29 considera que criar tipos tão genéricos eqüivale a nada criar, posto o vazio
interpretativo que se instala em leituras de modelos incriminadores desta ordem.
Todavia, continua o autor, é muito mais perigosa tal atitude, em um Estado
Democrático de Direito. Isto porque a função de garantia que deve exercer o tipo penal
ficaria prejudicada.
28
CARVALHO, Márcia Dometila Lima de. Fundamentação constitucional do direito penal, p. 55.
Assim também analisa a situação JESCHECK: “El grado de vinculación del juez a la ley se determina
por el grado de exactitud com que la voluntad común consigue expresarse en la ley. De aquí se deduce
que la eficacia de la función de garantia de la ley penal depende esencialmente de la técnica legislativa.”
(JESCHECK, H. H. Tratado de derecho penal: parte geral, p. 173.)
29
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro, p. 78.
30
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro, p. 78 e ss.
Completa, distinguindo as modalidades mais freqüentes de violação do princípio da
legalidade pela criação de incriminações vagas e indeterminadas. Entre estas
modalidades estão: a ocultação do núcleo do tipo penal (verbo que define a
ação/omissão a ser verificada)31; as tipificações abertas e exemplificativas (bem
ilustradas nos crimes omissivos, omissivos impróprios e culposos); e o emprego de
expressões (elementos) sem precisão semântica no tipo penal.
33
REALE Jr., Miguel. Teoria do delito, p. 28.
34
ANÍBAL BRUNO cita o artigo 6º do Código Penal soviético: “Reputa-se perigosa toda ação ou
omissão dirigida contra a estrutura do Estado soviético ou que ofenda a ordem jurídica criada pelo
regime dos trabalhadores e camponeses para a época de transição à organização social comunista.”
(BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte geral, tomo 1, 5 ed., p. 124.).
no passado. Estes são apenas alguns exemplos da agressão à legalidade na leitura penal
socialista da União Soviética.35
35
ZAFFARONI, Eugênio Raúl et. al. Direito penal brasileiro I, p. 615.
36
ZAFFARONI, Eugênio Raúl et. al. Direito penal brasileiro I, p. 615.
37
REALE Jr., Miguel. Teoria do delito, p. 29.
a justiça é, nessa concepção, um critério que serve para justificar o
direito como instrumento da exploração e da manutenção da luta de
classes, ou melhor, para disfarçar o predomínio da classe dominante.38
Por sua vez, também o Direito Penal nazista, representado pela escola de
Kiel, entendia que devia haver uma superação da vontade individual, em benefício da
coletividade. A questão do enaltecimento da raça, pela nação alemã, foi fundamental à
compreensão de sua estrutura jurídica. O Führer era a personificação desta vontade
popular. Ele, representando e direcionando a coletividade, tinha o poder de dizer o
Direito. Na verdade, como alerta BONNARD, “a lei é a vontade do Führer, pois sendo
um ato do Fürhung (poder do Führer) e este constituindo uma atribuição pessoal do
Führer, acaba sendo poder pessoal do chefe ditar a lei como fonte de direito.”39
É punível aquele que comete um ato que a lei declara punível ou que,
conforme a idéia fundamental de uma lei penal e ao sentimento do
povo, merece ser punido. Se nenhuma lei penal é diretamente
aplicável ao ato, este será sancionado conforme a lei em que mais
adequadamente se aplique a idéia fundamental.
38
REALE Jr., Miguel. Teoria do delito, p. 27.
39
BONNARD, Roger. Le droit et l‟état dans la doctrine national socialiste, p. 74 et. seq. Apud REALE
Jr., Miguel. Teoria do delito, p. 24)
representado pela figura central do Führer, passou a ser a figura principal na proteção
do Estado, via punição penal.40
O Führer tinha o poder de definir o que era crime. Havia o uso da analogia e
a verificação do dever de obediência. A violação do dever de lealdade ao Estado, à raça
ariana e, por conseqüência ao Führer, era de fundamental investigação na configuração
da atividade criminosa.
40
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro, p. 335.