Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
IMOBILIÁRIO
1
Sumário
NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................. 3
Introdução ........................................................................................................ 22
Separar e reinar: nasce o bairro residencial exclusivo ..................................... 24
Inclusão, exclusão e cidadania......................................................................... 27
O papel do Estado: serviços urbanos e os bairros populares .......................... 30
A crise dos anos 20 na cidade das multidões .................................................. 34
A ponta do iceberg: a questão do arruamento irregular ................................... 37
A cidade popular pode ser anistiada e a cidade burguesa se defende ............ 41
Conclusão ........................................................................................................ 43
DO ESTATUTO DA CIDADE AO CÓDIGO DE URBANISMO ......................... 54
Introdução ........................................................................................................ 54
Competência da União para legislar sobre direito urbanístico ......................... 54
A legislação urbanística federal........................................................................ 55
Deficiências da legislação federal .................................................................... 56
A Experiência internacional em direito urbanístico ........................................... 58
1
2
2
3
NOSSA HISTÓRIA
3
4
Dos pela visão do historismo, que tem no historiador alemão Leopold von
Ranke sua maior expressão. À história baseada unicamente nos grandes
acontecimentos e nas fontes documentais oficiais, restrita à política e feita
somente por historiadores profissionalizados, contrapõem a aproximação da
história a outras disciplinas e a ampliação dos objetos da história e do campo de
fontes documentais. Nessa busca de ampliação do território da história e da
interdisciplinaridade está implícito o questionamento à especialização do
historiador, que resultou da institucionalizatem um passado que pode ser
reconstruído, não se reconhecendo, portanto, a existência de uma história com
H maiúsculo. Assim, em contraposição a uma história referenciada em fatos que,
nas palavras de Braudel, não passam de “espumas nas ondas do mar da
história”, propõem a “história total”.2 Os fatos não existem isoladamente, mas
constituem um tecido, têm uma organização na qual desempenham o papel de
causa, fins, acasos etc., e cabe ao historiador “reencontrar essa organização”.3
Em termos metodológicos, a diretriz principal diz respeito à ampliação das fontes:
não apenas escritas, mas também orais, imagéticas, estatísticas, etnográficas
etc. A explicação histórica deve, nessa perspectiva, dar-se pela variedade de
4
5
5
6
6
7
dessa questão são diversas, com autores que consideram difícil, ainda hoje,
demarcar o que é um trabalho de história urbana, autores que apregoam um
campo específico para a história do urbanismo, e autores que entendem a
história urbana como o estudo da forma urbana como resultante de complexas
forças sociais, psicológicas e econômicas. Em The History of Urban and
Regional Planning – an annotated bibliography, publicado em 1981, Anthony
Sutcliffe faz um balanço dos trabalhos elaborados, em sua grande maioria, na
Europa e Estados Unidos. Em suas conclusões, podem-se observar algumas
semelhanças com a condição atual da história urbana no Brasil, principalmente
em relação ao universo de pesquisas vinculadas às idéias e às práticas
urbanísticas, tanto no que se refere ao perfil dos pesquisadores, como no que
se refere aos limites na utilização de recursos teórico-metodológicos. Cabe
destacar que a maioria absoluta dos trabalhos levantados por Sutcliffe são
elaborados no período pós-60, o que confirma esse momento como um marco
na expansão da área.
7
8
8
9
9
1
0
1966, e o livro de Nestor Goulart Reis Filho, de 1968. Embora Andrade coloque
que não visa a “história”, seu trabalho pode ser considerado pioneiro, pois
fornece um quadro abrangente da legislação brasileira, desde o Império até a
primeira metade do século XX, apontando suas relações com a legislação
urbana portuguesa. Reis Filho, ao estudar a evolução urbana do Brasil nos
séculos XVI e XVII, aponta os princípios reguladores e as instituições
responsáveis por sua implementação, no âmbito da política urbanizadora no
Brasil-colônia. Da análise dos trabalhos publicados em livros, anais de encontros
e seminários, dissertações de mestrado e teses de doutorado, no período pós-
80, podem ser identificadas três vertentes dominantes nas pesquisas voltadas
para a historiografia da legislação urbanística no Brasil. Uma primeira vertente
enfoca os aspectos normativos referentes à propriedade fundiária, emanados
pelo poder eclesiástico até a promulgação da Lei de Terras, em 1850, quando a
terra adquire o estatuto de mercadoria. Os trabalhos de Marx (1991), Fridman &
Ramos (1992) e Fridman (1994) mostram como entre o regime jurídico do
sistema de sesmarias do período colonial e a separação entre Igreja e Estado
estrutura-se a propriedade fundiária no Brasil. Da distribuição gratuita de terras,
passa-se à aquisição onerosa, o que define os limites da propriedade em favor
do interesse público. Marx (op. cit.) mostra, de forma minuciosa, como persistem,
por décadas, os privilégios dos grandes detentores de terra e os procedimentos
do antigo sistema de distribuição de terras, e como, de forma tímida, os
municípios se adaptam à nova realidade político-administrativa, a partir da lei de
1850 e sua regulamentação em 1854, mediante a prática dos loteamentos e dos
códigos de posturas, atos e resoluções.
10
1
1
se por estudos que têm como marco temporal a Primeira República, nos quais
prevalece a interpretação da legislação como instrumento de dominação e
normatização da vida das classes populares e de atividades que se incluem na
esfera das ilegalidades urbanas, referenciadas nos pressupostos higienistas
(Rolnik, 1983; Feldman, 1987; Lira, 1991; Marins, 1998). Nesses trabalhos, a
lógica disciplinadora de um urbanismo saneador – expressão de um projeto
político de intervenção do Estado na questão social nas cidades – é desvendada,
tanto nas formas de habitação (Rolnik, 1983; Lira, 1991; Marins, 1998) como nos
territórios de prostituição (Feldman, 1987). A questão da segregação espacial,
por meio da análise das primeiras normas que extrapolam a construção de
edifícios contidas nos Códigos de Posturas aprovados na última década do
século XIX, em inúmeras cidades, constitui o eixo direcionador de tais análises.
11
1
2
12
1
3
13
1
4
A visão legalista consiste no enfoque da lei como uma meta em si, e não
como um instrumento, entre outros, para se atingir metas, o que leva à
preferência por leis antecipatórias em lugar da experimentação, e à crença de
que nada pode ser assumido sem prévia legislação ou regulação. A ênfase na
lei é, segundo Graham, vista como um ideal, ao invés de algo a ser aplicado a
circunstâncias presentes com o máximo de precisão. Para o autor, uma
expressão da experiência legal no Brasil é a ênfase e valorização da codificação
das leis.
14
1
5
15
1
6
16
1
7
17
1
8
18
1
9
19
2
0
20
2
1
21
2
2
propostas modernistas, e foi, sem dúvida, formulada por arquitetos, uma vez que
a categoria vem, há décadas, assumindo a função de legisladores, no Brasil. No
entanto, a peça legal de 1960 foi, assim como grande parte da legislação
urbanística no Brasil, aprovada por decreto, ou seja, ocorrem mudanças que
atendem aos requisitos formais, os arquitetos conquistam um espaço como
formuladores de leis, mas tudo isso se incorpora ao sistema legal preexistente
no Brasil.
ESTUDO DE CASO
22
2
3
23
2
4
24
2
5
arvoredos e um espaço não menos do que dois metros de cada lado. A estas
leis, definindo a especificidade do modo de construir nos bairros de elite,
corresponde uma característica absolutamente marcante na construção da
legalidade urbana na cidade de São Paulo: a lei como garantia de perenidade do
espaço das elites.
25
2
6
26
2
7
27
2
8
28
2
9
29
3
0
O voto popular, quando existia, era mediado por uma relação hierárquica
baseada em laços de obediência, lealdade e proteção. Assim, não existia
propriamente uma relação com as demandas populares; a participação popular
nas eleições era atravessada não por direitos, mas por redes de relacionamentos
pessoais, a partir dos quais se poderia obter favores e oportunidades.
Finalmente, a garantia de sucesso de uma eleição definida a priori, nos
gabinetes, se dava através do processo de reconhecimento dos resultados do
pleito, que deveria ser feito pelo Senado e Câmara. Eram eleitos, diplomados e
reconhecidos os candidatos que as comissões executivas dos partidos
houvessem indicado em seus boletins. No dia das eleições, seções eleitorais
inteiras poderiam não funcionar, os livros e atas ficavam na mão de juízes ligados
ao grupo que dirigia a política municipal, mortos e ausentes, às vezes, votavam.
Com estes procedimentos se garantia a chamada degola de eleitos indesejados.
As eleições eram o preenchimento de uma formalidade com a qual se mantinha
a ilusão de que se cumpria a Constituição, e assim, prescindia de um debate
sobre as questões da cidade, Estado ou País e girava em torno de figuras
políticas, os figurões e seus círculos.
30
3
1
31
3
2
32
3
3
33
3
4
34
3
5
35
3
6
36
3
7
Para poder atender à cidade popular era preciso reconhecê-la. Mas, para
isso, faltava um elemento essencial: "que estatuto jurídico urbanístico teria esta
cidade autoconstruída, para além dos parâmetros oficiais e controlados pelos
códigos, que agora seria viável aconselhável ocupar?" A resposta sem dúvida
nenhuma não estava no Código de 1929. E tardou os anos turbulentos que
separam o golpe de 1930 da Constituinte de 1934 para ser formulada. Nesse
ínterim, sucederam-se dez prefeitos nomeados por interventores federais que
duraram cada qual poucos meses no poder abalados pela rebeldia de São Paulo
diante dos poderes ditatoriais de Getúlio e pela perda crescente de espaço
político da oligarquia paulista. Nestes anos rebeldes se ensaiou o que estaria por
vir plenamente com as definições de rumo em 1930 e 1934.
37
3
8
38
3
9
está sentado na cadeira do poder e que do alto desta poderá conceder. Inaugura-
se assim a era da cidadania consentida: a condição de legalidade urbana,
fundamenta para a incorporação de vastas massas urbanas como objeto das
políticas públicas é uma concessão, seletiva, do Estado. Qualquer semelhança
com a formulação dos direitos trabalhistas da era getulista não é mera
coincidência.
39
4
0
40
4
1
41
4
2
42
4
3
Conclusão
Ao findar o século XX, São Paulo, metrópole de 10 milhões de habitantes,
tem sua organização espacial regulada por uma ordem jurídico-urbanística
fortemente enraizada nos princípios formulados no início do século. Um retratista
que necessitasse captar, através de uma imagem instantânea, esta organização
espacial, descobriria, para além das peças de um caleidoscópio de difícil leitura,
a inércia de um desenho de cidade marcado pela contraposição entre um espaço
contido no interior da minuciosa moldura da legislação urbanística e outro, três
vezes maior, eternamente situado numa zona intermediária entre o legal e o
ilegal. Esta contraposição não é absoluta: a ordem jurídica formal ou estatal
nunca está totalmente ausente, mesmo no mais ilícito dos espaços. No mínimo,
se apresenta como referente e é frequentemente mobilizada nas negociações
que se estabelecem entre moradores/ocupantes destes espaços e as
autoridades estatais, que são geralmente as encarregadas pela aplicação das
normas. Da mesma forma, no interior dos espaços construídos de acordo com
as regulamentações urbanísticas, existe uma infinidade de transgressões, fruto
muitas vezes da própria atratividade e valorização que as regiões ultra
regulamentadas têm na cidade.
43
4
4
44
4
5
45
4
6
46
4
7
47
4
8
48
4
9
49
5
0
50
5
1
51
5
2
52
5
3
Este pacto territorial, esboçado, como vimos, desde os anos 30, mas
definido mais claramente no contexto da redemocratização e populismo, nunca
mais foi desmontado. Através dele se permite construir redes de sustentação
política a partir de investimentos públicos nos territórios irregulares. A legalidade
urbanística, sob a justificativa da isonomia e igualdade, exige a aplicação de um
único modelo de agenciamento territorial, que com raras exceções corresponde
aos contratos praticados no interior do território formal. Ali se estabelece uma
regra milimétrica de uso e ocupação, garantindo reservas de mercado e
inscrevendo contratos econômicos em lei. Ali se concentram os potenciais de
edificabilidade e as grandes obras públicas, os grandes equipamentos culturais
e educacionais, os maiores centros de diversão e consumo. Para além do canal
do Tamanduateí começa outra cidade, construída por uma infinidade de micro
investimentos pessoais e coletivos, que foi se consolidando sob a égide da
provisoriedade. Ali partidos políticos e lideranças negociaram ao longo de
décadas uma legitimidade que garantiu sua consolidação, perpetuando ad
eternum. Um modelo de desenvolvimento urbano excludente e perverso. E
contra este modelo, que um movimento pela reforma urbana se articulou no final
53
5
4
dos anos 80, mas esta é outra história que nestas breves linhas já não cabe
contar.
54
5
5
55
5
6
56
5
7
tratar os planos diretores, cada vez mais, como peças de retórica política e não
como documentos técnicos de urbanismo, capazes de efetivamente orientar o
crescimento das cidades.
57
5
8
58
5
9
Sugestão de agenda
A harmonização das leis federais pode ser feita por meio de sua
consolidação, conforme previsto na Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro
de 1998, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação
das leis. A consolidação consiste na integração de todas as leis pertinentes a
determinada matéria num único diploma legal, revogando-se formalmente as leis
59
6
0
REGISTRO DE IMÓVEIS
Princípio da continuidade
Serve para evitar que um imóvel seja alienado por quem não seja o seu
dono (Alyne Yumi Konno - Registro de Imóveis, Memória Jurídica Editora, p. 35).
Assim, quem transfere um direito tem de constar do registro como titular desse
direito (Narciso Orlandi Neto, Retificação do Registro de Imóveis, Juarez de
Oliveira, pág. 55/56). Exemplo: para que a escritura pública por meio da qual "A"
vende um imóvel a "B" seja registrada no registro de imóveis, é preciso que "A"
conste na matrícula como titular de domínio do imóvel vendido. Afrânio de
Carvalho explica o princípio da continuidade da seguinte forma: "em relação a
cada imóvel, adequadamente individuado, deve existir uma cadeia de
60
6
1
61
6
2
62
6
3
Art. 237 - Ainda que o imóvel esteja matriculado, não se fará registro que
dependa da apresentação de título anterior, a fim de que se preserve a
continuidade do registro.
63
6
4
Esse entendimento tem sido prestigiado e até ampliado pelo CSM e pela
Corregedoria Geral da Justiça, podendo-se citar a Apelação Cível nº 9000002-
16.2011.8.26.02961 , em que o CSM admitiu o registro mesmo no caso em que
a descrição deficiente constava da matrícula e não de transcrição. O que importa
é que a descrição do título, ainda que precária, coincida com a do registro e seja
suficiente para identificar o imóvel.
64
6
5
65
6
6
Aliás, é por isso que se diz que ambos os princípios estão intimamente
ligados. É por meio da preservação da especialidade subjetiva que se assegura
que a continuidade não será quebrada, transmitindo-se a propriedade apenas
através daquele que possuir, de fato, tal direito. Vale dizer, garante-se que a
pessoa que transmite um direito dele figure como titular no registro imobiliário,
seja a transmissão decorrente de ato voluntário ou não.
66
6
7
67
6
8
Princípio da Legalidade
Na esfera registraria, o princípio da legalidade assume a função atribuída
ao registrador de exercer o controle de legalidade sobre os títulos que ingressam
para registro na serventia imobiliária. Como destaca Narciso Orlandi Neto,
“estabelece a lei, pois, um filtro de legalidade para os títulos, sujeitando-os, antes
do registro, à qualificação” (ORLANDI NETO, Narciso. Retificação do registro de
imóveis. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, p. 74).
68
6
9
69
7
0
Princípio da prioridade
O princípio da prioridade tem a principal finalidade de evitar conflitos de
títulos contraditórios, que são aqueles incompatíveis entre si ou reciprocamente
excludentes, referentes ao mesmo imóvel. A prioridade se apura no protocolo do
Registro de Imóveis, de acordo com a ordem de seu ingresso. A Lei de Registros
Públicos disciplina a matéria e estabelece regras que devem ser observadas
pelos Oficiais. De acordo com a lição de Afrânio de Carvalho - “O princípio da
prioridade significa que, num concurso de direitos reais sobre um imóvel, estes
não ocupam todos o mesmo posto, mas se graduam ou classificam por uma
relação de precedência fundada na ordem cronológica do seu aparecimento:
prior tempore potior jure. Conforme o tempo em que surgirem, os direitos tomam
posição no registro, prevalecendo os anteriormente estabelecidos sobre os que
vierem depois.” (4ª ed., Editora Forense, 1998, p.181).
70
7
1
oneração dos imóveis. Afrânio de Carvalho, na mesma obra citada, diz que “A
sua caracterização é originariamente registral, pois se funda na ordem
cronológica de apresentação e prenotação dos títulos no protocolo, sendo
irrelevante a ordem cronológica de sua feitura ou instrumentalização, vale dizer,
a seqüência da data dos títulos. A ordem de apresentação , comprovada pela
numeração sucessiva do protocolo, firma, pois, a posição registral do título
relativamente a qualquer outro que já esteja ou venha a apresentar-se no
registro. Se essa posição lhe assegurar prioridade, correlatamente lhe
assegurará a inscrição, contanto que o resultado final do exame da legalidade
lhe seja favorável.” (p.182 e 183).
71
7
2
72
7
3
73
7
4
Como bem notou Ricardo Luiz Lorensetti, a “idéia do homem como centro
do ordenamento, afirmada de forma absoluta, não é um princípio incontestado.
O homem não pode ser o único e excludente ponto de referência da lei, já que
isso poderia conduzir a um individualismo exacerbado ou a uma
desconsideração prejudicial de outros bens”.18 Em outras palavras, absolutizar
o princípio da dignidade da pessoa humana, desconsiderando os demais
direitos, como o da propriedade, teria a nefasta conseqüência de retorno ao
individualismo e abandono do bem estar coletivo, passando-se, eventualmente,
do individualismo que privilegia o economicamente mais forte, vigente no
liberalismo, para um individualismo que privilegie o economicamente mais fraco.
O ser humano, como ente social, não existe sem os bens.19 A apropriação dos
bens da vida é necessária ao desenvolvimento e ao crescimento do ser humano
e, nesse sentido, desde que o homem é homem tem a idéia de apreensão dos
bens físicos, por mais rústica que fosse.20 A humanidade seguramente não teria
atingido o ponto de evolução que atingiu não fosse a idéia de propriedade.21 O
nível de organização social, o nível de evolução tecnológica, o nível cultural,
dentre outros, têm íntima ligação com o direito de propriedade. Até mesmo a
fixação das relações familiares tem vínculo estreito com o direito de propriedade,
uma vez que a formação da família se dá em torno de um lugar seu, cujo
ancoradouro baseia-se em um direito real imobiliário. Onde o direito de
propriedade é fraco (uma vez que a inexistência de tal conceito não nos parece
possível), por não receber a devida tutela estatal ou por estar fora da formalidade
imposta pelo Estado, fracas são as relações familiares.
74
7
5
75
7
6
Nesse quadro, dizer que o homem pode dispor naturalmente dos bens e
dos seres exteriores representa poder dispor deles segundo a finalidade,
sine poenitentia. Sem nenhum arrependimento ou constrangimento.
Essa é a ordem, essa, a harmonia, essa, a finalidade estabelecida desde
sempre. [...]
76
7
7
77
7
8
78
7
9
79
8
0
80
8
1
81
8
2
pode parecer contrário ao interesse social definido pelo Direito, mas, que é com
ele perfeitamente concatenável, pois, como bem observou Darcy Bessone, no
interesse do progresso a concentração de riquezas “é imprescindível, como
forma de poupança que se converte em estoque de capital. Qualquer
empreendimento, principalmente os de maior vulto, somente é factível sob o
pressuposto da existência da quantidade de capital bastante para a sua
implementação. Sem o suficiente estoque de dinheiro não se pode projetar um
empreendimento, menos ainda o cronograma dos desembolsos necessários. A
União Soviética teve de admitir o capitalismo de Estado para que pudesse
realizar suas obras”.
82
8
3
83
8
4
84
8
5
principais motivos, que por vezes acarretam um excessivo rigor registral, e que
precisam ser manejados com cautela, procurando-se adequá-los ao necessário
à realidade do país, são a legislação, muitas vezes em descompasso com a
realidade social, e a crescente atuação do Oficial de Registro como guardião de
uma série de interesses fiscais, urbanísticos e administrativos.49 É preciso ter
em mente os fundamentos basilares da instituição registral, para bem manejar
(seja o legislador, seja o registrador) os interesses que são postos sob a batuta
do oficial de registro, evitandose o rigorismo inútil e exagerado, que poderá
conduzir o registro de imóveis ao distanciamento da sua função econômica e
social, e, portanto, afastando-o igualmente da concreção do princípio
constitucional da dignidade humana. Tome-se, nesse ponto,
exemplificativamente, o caso brasileiro do registro da penhora. A penhora sobre
bem imóvel, constituída judicialmente, em processo de execução, precisa ser
levada ao Registro Imobiliário para que possa ser oponível a terceiros, com
presunção iure et de iure de conhecimento. Todavia, em muitos casos, tem-se
negado o registro de tal penhora por problemas registrais menores, e que em
absoluto colocariam em perigo a higidez do sistema, como no caso, por exemplo,
da falta de um dos elementos de qualificação das partes, elencados na Lei de
Registros Públicos, mas que em nada afetam a certeza da identificação da parte,
ou ainda a desconformidade de algum elemento da descrição do imóvel, em
cotejo com a descrição tabular, mas que igualmente em nada interfere na
identificação do imóvel. Este proceder, ancorado em uma interpretação literal da
legislação registral, coloca em cheque os próprios valores que animam o registro,
pois, uma vez que a penhora está perfectibilizada no processo (e é lá que ela é
constituída), e uma vez que o registro tem, neste caso, apenas eficácia
declarativa, não registrar, por um excessivo rigor, tal qual nos parece que ocorre
nos exemplos acima apresentados, significa gerar insegurança e incerteza
jurídica, econômica e social, porquanto a penhora continuará existindo, sem
publicidade contudo. Há, aqui, um procedimento desconforme com os preceitos
constitucionais, na medida que a atividade registral se afasta do princípio
máximo da dignidade da pessoa humana, em seu aspecto patrimonial, ao gerar
insegurança e incerteza nas relações patrimoniais. Na análise do registro da
penhora, deve haver uma mitigação compatível com a situação jurídica com a
85
8
6
86
8
7
87
8
8
88
8
9
89
9
0
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, F. de P. D. de. Subsídios para o estudo da influência da legislação
na ordenação e na arquitetura das cidades brasileiras. São Paulo, 1966. Tese
(Doutorado) – EPUSP.
FRIDMAN, F. “Os donos da terra carioca”. Espaço e Debates. São Paulo, Ano
XIV, n. 37, 1994.
90
9
1
91