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HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3

A HISTORIOGRAFIA IMPERIAL: A CRIAÇÃO DO IHGB ....................... 4

Características sócias profissionais do IHGB .......................................... 5

Os Objetivos do IHGB.............................................................................. 6

A lógica do processo histórico nas origens do IHGB ............................... 7

Identidades do Brasil: Varnhagen e Capistrano de Abreu ....................... 9

Varnhagen: elogios à colonização portuguesa do Brasil. ...................... 11

A escrita da história dos anos de 1900: Capistrano de Abreu e o


aparecimento do povo brasileiro. ..................................................................... 12

A Independência do Brasil em perspectiva historiográfica .................... 13

A emancipação como processo ............................................................. 18

O Império como conquista ..................................................................... 23

Escravidão e Cidadania no Império do Brasil ........................................ 26

Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre equívocos e


tabus da historiografia brasileira....................................................................... 28

Referências:........................................................................................... 45

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO
A historiografia brasileira é uma disciplina que expressa a abrangência
da história em sua inserção nos contextos nacional e internacional.
Considerando a questão da historiografia e a educação como eixo norteador
da disciplina.
É manifestada a expansão da área de estudos e o trabalho do
professor/ historiador no mundo contemporâneo, a partir de elementos como
novas fontes de pesquisa, com uso das mídias digitais, criando espaço de
novas estratégias de estudo em novos campos de atuação e inserção em
projetos culturais e de preservação do patrimônio artístico.
Assim, a formação de docente é capaz de levar para a sala de aula
tanto as discussões sobre esses novos aspectos que estão sendo estudados
pelo historiador atual, como questões ligadas à cidadania e ética. A
reconstrução do estímulo à interdisciplinaridade dos conteúdos, bem como o
diálogo construtivo com as demais ciências.
Esperamos que o estudo desta disciplina resulte numa renovação do
conceito de pesquisa em história, considerando-a como uma atitude
investigativa a ser formada e na perspectiva de um ensino articulado à
pesquisa, possibilitando novas formas aos elementos curriculares, como a
não memorização dos conteúdos, e sim a apreensão compreensiva,
permitindo ao aluno uma caminhada como sujeito de sua própria história.

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A HISTORIOGRAFIA IMPERIAL: A CRIAÇÃO DO IHGB
A historiografia é o registro escrito que analisa os fatos da História do
passado e estudo crítico do que foi escrito. Como estamos falando de Império,
após a independência do Brasil em 07 de setembro de 1822 o país precisava
construir sua identidade e com isso foi criado o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro mais conhecido como IHGB, a sua criação era necessária como
relata Lilia Moritz Schwarcz:

Criado logo após a independência política do país, o estabelecimento


carioca cumpria o papel que lhe fora reservado, assim como aos
demais institutos históricos: construir uma história da nação, recriar um
passado, solidificar mitos de fundação, ordenar fatos buscando
homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos”. (
SCHWARCZ, 2005)

O IHGB teve seu início com o Marechal Raimundo José da Cunha


Matos e o cônego Januário da Cunha Barbosa, respectivamente primeiro-
secretário e secretário adjunto da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional
(SAIN), propuseram, na sessão de 18 de agosto de 1838, do Conselho
Administrativo, a fundação de um Instituto Histórico e Geográfico. Em sessão
do dia seguinte a proposta foi aprovada em assembleia geral da sociedade.
No dia 21 de outubro de 1838 o instituto foi instalado pelo presidente da SAIN,
Marechal Francisco Cordeiro da Silva Torres, presentes 27 membros,
convidados para sócios fundadores.

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A direção provisória do Instituto ficou constituída pelo Visconde de São
Leopoldo (presidente), cônego Januário da Cunha Barbosa (primeiro-
secretário) e Emílio Joaquim da Silva Maia (segundo-secretário); coube ao
presidente, ao primeiro-secretário e a Raimundo José da Cunha Matos a
redação do projeto dos estatutos. No dia 25 de novembro foram eles
aprovados, elegendo-se a primeira diretoria, composta pelo Visconde de São
Leopoldo (presidente). Cunha Matos (vice-presidente e diretor da seção de
geografia), Araújo Viana (vice-presidente e diretor da seção de história).
Cônego Januário da Cunha Barbosa (primeiro-secretário), Pedro de Alcântara
Bellegarde (orador) e José Lino de Moura (tesoureiro e diretor da comissão
de fundos).
Um ano após, na sessão comemorativa do primeiro aniversário da
instituição, presente o Regente Araújo Lima, puderam os fundadores de o
IHGB apresentar resultados satisfatórios, que atendiam às finalidades
definidas nos estatutos: estabeleceram-se contatos com as províncias, para o
recolhimento de documentos relativos à história e geografia do Brasil e
elevava-se a 175 o número de sócios correspondentes, membros de
instituições congêneres em Nápoles, Portugal, Prússia, Baviera, França, Peru,
Chile e Buenos Aires. Publicou-se, também, a revista.
Podemos citar Francisco Adolfo de Varnhagen que foi um dos pioneiros
da nossa história depois da criação do IHGB, segundo José Carlos Reis no
seu livro “As identidades do Brasil” e dá o título de Heródoto brasileiro e é
propicio a história criada por Varnhagen foi pioneiro pelo fato de ter tido grande
apoio do governo monárquico brasileiro, o mesmo produziu uma história do
ponto de vista do conquistador ou podemos observar história positivista,
exaltando seus feitos e heróis nacionais.

Características sócias profissionais do IHGB


Nascido sob os auspícios da Sociedade Auxiliadoras da Indústria
Nacional (SAIN), cuja finalidade era o fomento das atividades produtivas
(especialmente, nesta quadra, a agrícola) e tendo como membros da elite
política do império, homens da geração da independência, o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro visava atingir os objetivos político-administrativo e
intelectuais que transcendiam de muito qualquer rotina acadêmica, o que

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pode ser explicado com o auxílio de uma análise sócio profissionais de seus
filiados.
O status profissional de todos os 27 sócios fundadores e a importância
de política de pelo menos nove deles (senadores, ministros, conselheiros de
Estado) atesta a integração do Instituto ao establishment imperial.
Funcionalmente eram magistrados, advogados, funcionários públicos,
eclesiásticos e negociantes, quase todos pertencentes, assim, à alta
burocracia do Império.
Em 1839 o número de sócios efetivos subiu para 46, mais 12
honorários. Nos efetivos predominava a formação jurídica (41,3%) e a
atividade profissional no serviço público (71,7%), sendo 21,7% na
magistratura, 28,3% no ensino, 6,5% de militares e 15,2% em outros ramos
da administração pública. Eram parlamentares 19,6% dos sócios efetivos.
Enquanto os sócios efetivos predominavam a alta burocracia, o quadro de
sócios honorários brasileiros era nitidamente político, predominando
justamente os representantes regressistas que fundariam o partido
conservador.
A heterogeneidade funcional era compensada pela unidade ideológica.
Eram quase todos, homens de visão nacionalista e centralizadora que
caracterizou a elite política do Império. Repetem-se, no caso do IHGB, as
características gerais desta elite política imperial definida por José Murilo de
Carvalho:

“defesa da unidade nacional, consolidação do governo civil, redução


do conflito a nível nacional, limitação da mobilidade social e da
mobilização política, ao contrário da América Hispânica, onde a falta
de unidade ideológica da elite levou a balcanização, ao caudilhismo e
à instabilidade política”. (WEHLING, 2001)

Os Objetivos do IHGB
Formalmente, a principal finalidade do IHGB era o desenvolvimento dos
conhecimentos geográficos e históricos no Brasil, pelo estímulo à pesquisa
com recolhimento, nas províncias e no exterior, de documentos relativos à
formação brasileira, e pelo estímulo à produção de trabalhos monográficos e
gerais que permitissem o estudo da história brasileira. Neste aspecto, serviu
de incentivo ao nativismo dos fundadores do Instituto o fato de a única obra

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sobre o conjunto da história brasileira ser de um inglês, Robert Southey, além
de alegadas distorções sobre o movimento de independência.
Para além destes objetivos puramente “desinteressados” da pesquisa
cientifica, os documentos sobre a fundação do IHGB demonstraram
explicitamente a busca de outros fins: o “esclarecimento” da sociedade, pelo
desenvolvimento da “cultura literária”, levando a um aprimoramento das
relações sociais; o aperfeiçoamento da administração pública, com a
formação de melhores quadros funcionais; e o exercício mais aperfeiçoado
dos cargos eletivos.
Associam-se os estudos históricos á sorte da Monarquia constitucional,
conforme se diz na proposta de Cunha Matos e Januário da Cunha Barbosa.
Sintomaticamente, a monografia premiada sobre como se deve escrever a
História do Brasil(1843) afirma que o historiador “geral do país deveria redigi-
la” do ponto de vista da monarquia constitucional. A mesma ideia encontrou
no prefácio da História Geral por Varnhagem já nosso conhecido como
Heródoto brasileiro, primeira obra que se propôs cumprir o programa do
Instituto.

A lógica do processo histórico nas origens do IHGB


Os fundadores do IHGB falavam como os historiadores desde o final
do século XVIII, numa história tríplice, filosofia, ou seja, interpretativa, que
elucidasse o significado dos acontecimentos à luz das grandes tendências,
pragmática que servisse de orientação para a sociedade do presente e crítica
que, através de métodos confiáveis, restabelecesse a verdade objetiva,
ressalvadas as distorções partidárias, quer as políticas, quer religiosas, e os
excessos literários. Quando, com Ranke a partir dos anos 1820, se afirma a
cientificidade da história da história, já se trata de uma evolução em relação a
este ponto: o aspecto filosófico é retirado de qualquer fundamentação
transcendental ou metafísico para restringir-se a própria “compreensão”
histórica.
A aplicação do conhecimento histórico é uma consequência extra
científica, embora desejável, deste conhecimento; e os aspectos críticos

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expandem-se, a ponto de constituir uma área de saber próprio dentro da
história e sua metodologia.
No Brasil, e particularmente no IHGB, confundem-se as duas posições;
embora a formação intelectual de homens como Januário da Cunha Barbosa,
São Leopoldo ou o próprio Martius seja tipicamente iluminista - mas do
historicismo iluminista. O cônego Januário, por exemplo, entendia por história
filosófica aquela que iria desvelar as regularidades do mundo moral, a mesma
que Newton e Clarke descobriram as leis do mundo físico. Martius viu a
história do Brasil como fruto de um ‘’cruzamento de raças’’, segundo uma não
explicada ‘’lei particular das forças diagonais’’. Este autor chega a aplicar ao
caso brasileiro uma ‘’lei’’ histórica ou sociológica, segundo a qual o
desenvolvimento social ocorreria a partir das ‘’classes baixas’’, pois estas
forneceriam os elementos que aperfeiçoariam e vivificariam as ‘’classes
superiores’’ impedindo sua decadência, numa antecipação das aplicações
evolucionistas da seleção natural darwiniana.
Parece pacifico, pois, que as relações sociais ou morais eram
submetidas a regularidades e que estas poderiam ser traduzidas
cognitivamente por leis, na concepção dos fundadores do IHGB. Mais ainda:
Januário da Cunha Barbosa chega a afirmar que a interpretação da história
brasileira permitiria a previsão do futuro do país, preenchendo um dos
requisitos que Popper atribuiu ao historicismo mais cientificista, o da
previsibilidade histórica. Matius argumentou de maneira idêntica, pouco mais
tarde.
O conhecimento histórico, ademais, deveria ser aplicado ao
aperfeiçoamento da realidade social. Num momento em que apenas se
fundavam as novas ciências sociais, como a antropologia, a etnografia ou a
sociologia e em que não se falava em ‘’ciências sociais aplicadas’’, esperavam
os fundadores do IHGB da História o ‘’esclarecimento da sociedade’’ pelo
desenvolvimento da cultura literária e o aprimoramento das relações sociais,
a melhora dos quadros da administração pública e da representação política,
com o exercício mais responsável dos cargos públicos. Os instrumentos para
isso eram os próprios estudos monográficos sobre a história brasileira e as

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monografias biográficas, que tinham declaradamente cunho pedagógico, em
especial para o exercício de funções públicas.
Tanto quanto o romantismo e o nacionalismo, no plano ideológico, foi
o historicismo, no plano teórico-metodológico, o informado e racionalizado por
excelência da Weltanschauung dos fundadores da IHBG. Numa concepção
historicista da história foram buscar a estrutura velada das relações sociais,
as leis do desenvolvimento histórico, sua projeção para o futuro e o
conhecimento aplicado, para aperfeiçoar a administração pública
representação política do recente e combalido Império Associado, no plano
político, a ideologia liberal e no plano social ao ‘’regressismo’’ da elite
centralizadora do final dos anos 1830.
Realizaria sua obra, como apontaram Januário da Cunha Barbosa, o
Visconde de São Leopoldo e Martius, visando consolidar o sistema unitário e
a forma de governo, monarquia constitucional. A realização deste programa
nas décadas seguintes – cujo melhor exemplo foi a História Geral do Brasil,
de Varnhagen – deu o tom da aliança entre a intelectualidade e o poder no
Segundo Reinado, pelo menos até a Guerra do Paraguai e o ‘’bando de ideias
novas’’ de 1868, anunciadas por Silvio Romero.

Identidades do Brasil: Varnhagen e Capistrano de Abreu


Embasamento a este texto é o livro de José Carlos Reis: as Identidades
do Brasil. Nossa abordagem tem como objetivo tecer comentário alinhavando
as citações para que o acadêmico possa compreender como se deu o
processo de construção do pensamento historiográfico dos autores como
Francisco Adolfo de Varnhagem e Capistrano de Abreu, intelectuais que
figuram na historiografia brasileira dos anos de 1850 ao início do século XX.

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No campo das definições, tornam-se enriquecedor os conceitos de
historiografia dada por João Miguel Teixeira de Godoy:

A polissemia frequentemente apontada para o termo história transfere-


se, de certa forma, para historiografia. Além do meramente literal –
escrita da história -, dois outros sentidos acabaram por se impor:
reunião do escritos de história inicialmente, mas também ramo do
conhecimento histórico dedicado a recompor e a analisar a trajetória e
as condições de possibilidades do próprio conhecimento histórico
através de suas obras. Recompor ou reconstituir a trajetória de uma
forma de conhecimento exige uma abordagem que leve em conta sua
dimensão temporal. (GODOY, 2009)

O que nos interessa é sabermos que a palavra historiografia possui


vários significados, contudo, o mais adequado ao nosso estudo será de que a
historiografia se torna a investigação de como se escreveu a história do Brasil
desde a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ( IHGB) em 1838.
Para que nosso estudo possa acontecer, podemos dizer que há a
necessidade de conceituação de fonte, neste sentido acordamos com José
Amado Mendes quando afirma: “Os materiais de que o historiador se serve,
ao exercer o seu oficio, designam- se genericamente fontes’’. Essas matérias
anteriormente são vestígios materiais e imateriais que servem á produção do
conhecimento historiográfico, sendo desde documentos escritos estatais até
cantigas de roda e depoimentos memoriais.
A produção de conhecimento histórico praticamente requer a análise
desses vestígios do passado aos quais se denominam fontes, mas na

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trajetória intelectual que pretendemos comentar, ou seja, a historiografia
brasileira, suas definições e usos ganham sentidos diversos dependendo do
historiador e sua análise. Passaremos a considerar de maneira panorâmica
alguns historiadores que selecionamos, tendo como base teórica como
dissemos acima o livro de José Carlos Reis: ‘’As identidades do Brasil’’

Varnhagen: elogios à colonização portuguesa do Brasil.


Segundo José Carlos Reis (2006) considera Francisco Adolfo de
Varnhagen (1816-1878), o primeiro historiador que produz uma ‘’obra
independente mais completa, confiável, documentada, critica, com posição
explicitas: a história geral do Brasil refletia uma preocupação nova no Brasil
com a história, com a documentação sobre o passado brasileiro, que o recém-
fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro’’. Essa preocupação com a
história é justificada, pois havia a necessidade da construção de uma unidade
para o país. Entretanto, para Nilo Odália a História Geral do Brasil foi escrita
num estilo literário monótono, sem mostrar o dramático das tensões e opções.
Varnhagen teria, segundo Odália, “o estilo de um botânico descrevendo a
flora: árido e distante’’. (ODÁLIA, 1979) Para tal estudo temos que situar o
autor no seu tempo histórico, suas condições materiais e intelectuais.
As interpretações de Varnhagen, historiador da escola metódica, se
fundamentam em documentos e são carregadas de preconceitos próprios de
seu tempo. Os elogios que tece sobre a colonização portuguesa se justifica a
medida que sabemos quem é seu protetor, ‘’o imperador foi o protetor de
Varnhagem’’. (REIS, 2006) Vendo o império brasileiro como iluminado dotado
de civilização que salvou as terras tupiniquins.
Para Reis, o Visconde do Porto Seguro ‘’inicia a pesquisa metódica nos
arquivos estrangeiros, onde encontrou e elaborou inúmeros, documentos
relativos ao Brasil’’(REIS, 2007). É esta a maior contribuição de nosso
analisado: o compêndio de fontes que é o livro História Geral do Brasil. Essa
busca incansável pelo documento sugere uma preocupação exacerbada com
a fidelidade das fontes, como sugere Reis:
“‘Varnhagen representa o pensamento brasileiro dominante durante o
século XIX, e ele o expõe com rara clareza, com fartura de dados e
datas, nomes e fatos”. Deve ser lido como um grande depósito de
informações sobre o Brasil, um arquivo portátil, e como a interpretação

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do Brasil mais elaborada e historicamente eficaz do século XIX’’.
(REIS, 2007, p, 33)

A escrita da história dos anos de 1900: Capistrano de


Abreu e o aparecimento do povo brasileiro.
João Capistrano de Abreu nasceu em Maranguape, Ceará, em 1853,
no sitio de Columinjuba [...] Ali, Capistrano foi criado com rigidez, severidade
e austeridade, em um ambiente marcado pelo trabalho pesado e continuo e
pelo dogmatismo católico’’. ‘’No sitio se plantava cana, algodão, mandioca,
feijão, e milho. O trabalho era feito por escravos, por empregados e pela
própria família’’. (REIS, 2007, p. 85)
Reis o descreve como sendo um autêntico sertanejo, tanto no seu
modo de pensar e agir. Sua formação intelectual, sobretudo, autodidata
advém da insistência de um jovem que gostava de ler e se utilizou de seus
conhecimentos para se introduzir na corte, para isso, pediu ajuda a seu
contemporâneo José de Alencar, que o descreveu da seguinte maneira: ‘’Ao
chegar, ao ser apresentado a alguém ou a se apresentar, sua imagem
causava desgosto; ao sair seu espírito deixava encantamento’’. (REIS, 2007
p. 86)
Ao galgar espaço na corte, o jovem Capistrano de Abreu teria que viver
seus próprios rendimentos; ‘’foi professor no colégio Aquino, publicou vários
artigos em jornais, passou em concurso para o preenchimento de uma vaga
na Biblioteca Nacional, emprego público, estável e seguro, âncora de que ele
precisa para fixar-se na corte’’. (REIS, 2007 p. 87) Ele também exerceu o
cargo de professor de história do colégio Pedro II até o ano de 1899. “Sua
biografia interessa muito, quando se conhece o lugar inovador que ele teve
na historiografia brasileira’’”. (REIS, 2007 p. 87)
Aquele jovem cearense que se fixou na corte na última década do
século XIX escreveu um dos livros mais importantes da historiografia brasileira
daquele período, Capítulos de História Colonial (1907), ‘’é uma nova história
do Brasil, embora muito parecida com Capistrano fisicamente: modesta,
magra, quase silenciosa. Porém, ao mesmo tempo, extremamente eloquente.
É uma síntese que reúne muitos fatos esparsos, encadeados em uma
perspectiva inovadora’’(REIS, 2007 p. 96).

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Mas Reis faz uma comparação entre Capistrano e Varnhagen:
Capistrano se aproxima de Varnhagen na descrição do primeiro Brasil,
e Varnhagen é até mais informativo, minucioso. Capistrano diferencia
– se de Varnhagen na perspectiva que terá de tais dados. Para
Capistrano, alienígenas, exóticos são os europeus e africanos, e não o
indígena e a terra do Brasil, que veem chegar novos elementos. Ele
olha da praia para o oceano cheio de caravelas, enquanto que
Varnhagen olhava da caravela de Cabral para a praia, e via uma terra
exótica e povoada por alienígenas’’. (REIS, 2007 p. 98).
Sem dúvida Varnhagen e Capistrano foram de fundamental importância
para nossa História, com suas diferenças, Capistrano mostra um povo e sua
formação étnica, já diferente de Varnhagen que defendia o Estado Imperial.
Mas o que é mais interessante na História é a problemática, cada historiador
defendendo sua ideologia e buscando novos pontos de vista, entre a História
de Varnhagen defendendo o olhar do colonizador e Capistrano um novo olhar
da história social. Com estas problemáticas que foi construída a nossa
historiografia brasileira.

A Independência do Brasil em perspectiva historiográfica


O artigo “A independência do Brasil em perspectivas historiográfica” foi
escrito pela Sonia de Mendonça que traz a problemática sobre emancipação
do Brasil através de interesses do Sudeste sobre as demais províncias,
segundo a mesma, a emancipação do Brasil foi conquistada a partir do poder
militar, político e cultural. Para embasar sua tese traz citações de alguns
autores como Jurandir Malerba, Wilma Peres Costa e outros. Mendonça
dividiu seu artigo em a emancipação como processo, o império como
conquista, escravidão e cidadania no império do Brasil.

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O texto contextualiza as especificidades do processo de emancipação
política do Brasil, partindo de três pressupostos básicos: que ela consistiu de
um processo razoavelmente longo sobre determinado pela imposição da
hegemonia dos grupos de interesse do Sudeste sobre as demais regiões; que
a construção da sintonia entre Território e Estado Nacional somente adquiriu
contornos a partir de uma “expansão para dentro” e que sua consolidação foi
fruto de uma conquista militar, política e cultural tendo por alicerce a
escravidão.
Em tempos de celebração dos dois séculos da independência dos
países latino-americanos, velhas questões ressurgem como pauta quase
obrigatória das discussões encetadas. A construção do Estado, a questão
nacional, identidade, povo e revolução, reintroduzem-se no círculo dos
debates, até mesmo para que possamos, histórica e historiograficamente,
refletir sobre seus desdobramentos no presente e –por que não?– inferir
projeções futuras, aí incluindo-se o próprio devir da prática historiadoras. No
caso específico da emancipação política do Brasil cujo bicentenário “formal”
somente se completa em 2022– é de todo importante retomar alguns
questionamentos acerca de sua especificidade, mormente no concerto das
experiências latino-americanas como um todo.
Outras tantas problemáticas, não tão explicitas, subjazem à analise
deste tema, dentre elas a questão da democracia e da participação política
popular, bem como a da efetividade das formas representativas estatais em
nosso continente. Questões de todo presentes no processo histórico vivido
antanho, questões ainda mal resolvidas na contemporaneidade. Por certo não
se está aqui advogando a busca de origens históricas daquilo que muitos
chamam de “o caráter nacional brasileiro” (Leite 2003), a não ser que
compartilhasse da defesa de procedimentos teleológicos, o que não é o caso.
Mas, de fato, muitas das tramas de interesses que informaram o processo de
independência do Brasil tiveram resultados passiveis de encontrar ecos em
nossa atualidade político-social, bem como – e principalmente - no imaginário
dos “cidadãos” brasileiros e do mundo, particularmente sob a influência das
inúmeras vertentes interpretativas que marcaram a historiografia brasileira até
hoje.

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A este respeito vale a pena verificar os “picos” de concentração das
publicações sobre a independência na historiografia brasileira, marcadas por
distinto teor político, teórico e metodológico, ao sabor de seus “emissores” e
respectivos “públicos” a serem atingidos. Para tanto, nos valemos do quadro
elaborado por Malerba (2006, p. 21) contendo toda a produção historiográfica
publicada no país até 2002.

A despeito de englobar materiais bastante heterogêneos, como o sinaliza o


próprio autor, os dados revelam que a bibliografia do século XIX mantém-se
enquanto tendência historiográfica até 1908, quando da publicação de D. João
VI no Brasil, de Oliveira Lima. Ao mesmo tempo é clara a concentração dessa
produção em dois momentos-chave do século XX: o período imediatamente
anterior e posterior às celebrações do centenário (1922) e sesquicentenário
(1972), bem como a segunda metade da década de 1990 quando, segundo o
autor, o tema voltaria a ocupar lugar de relevo nas pesquisas históricas,
mormente no tocante à chamada “questão nacional” (Malerba 2006, p. 22-23)
A renovação historiográfica desta última fase foi também marcada, como
certeiramente o aponta Costa, pelo declínio do monopólio dos Institutos
Históricos como espaços de produção de interpretações da “história pátria”
(Costa 2005, p. 74), abrindo novas frentes de reflexão e abordagem da
problemática.
Não é minha intenção - e nem o poderia, por dever de oficio - dar
respostas a essas questões, mas apenas retrabalhá-las visando elucidar
alguns dos extremos a partir dos quais costuma ser analisada: ora seus
aspectos mais simplistas, tornados senso comum nas mentes de leigos; ora
os mais complexos e controverso-erigidos como autenticas querelas
historiográficas intramuros da academia.

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Começando pelos primeiros, nunca é demais pontuar alguns “mitos”
construídos sobre a independência do Brasil que são, até hoje, apropriados
pelos discursos oficiais, não raro inundando manuais didáticos utilizados por
estudantes do Ensino Fundamental e Médio (ALBUQUERQUE, 1986). Um
deles reside na associação imediata que se estabelece entre o episódio do
“grito do Ipiranga” proferido por Pedro I em 7 de setembro de 1822 e a
emancipação nacional, como se tal fora possível. Outro talvez mais pernicioso
em seus efeitos, relaciona-se ao ocultamento da violência presente na história
do Brasil em geral, e naquela sobre a independência em particular, marcado
pela secundarização atribuída às guerras da independência ocorridas entre
1822- 1824 em inúmeras províncias.
No entanto, tal postura deriva da total ausência de uma visão de
conjunto da história daquele contexto, que deixa de lado as circunstâncias
específicas e/ou regionais da emancipação política brasileira, cuja solução -
manu militari- longe esteve de pacífica ou amigável, haja vista a complexa
conjuntura nacional e internacional que cercou o próprio reconhecimento do
processo.
Duas outras “mitologias” merecem figurar nessas considerações
preliminares. Uma, tem sua origem nas tentativas de revisão historiográfica
inserida no contexto da comemoração do Centenário de 1922, que
redundaram na consagração de uma leitura idealizada de um Império, liberal
e ordeiro, fruto de um pressuposto bastante equivocado: o da permanência no
poder dos mesmos grupos dominantes por eles herdados, implicando, uma
vez mais, em minimizar a dimensão violenta do processo de consolidação da
Independência, face à multiplicidade de interesses junto a ela imbricados.
Justamente por isso causam estranheza indagações como a de McFarlane
(2006, p. 407) ao perguntar-se “por que o Brasil passou relativamente com
tanta suavidade de colônia a Estado independente?”, inferindo da mera
continuidade da Soberania real - já que desde seu retorno a Portugal, D. João
VI aqui deixara seu filho como monarca legítimo - um pacifismo que jamais
existiu.
A segunda afirma a existência generalizada de soluções “republicanas”
no decorrer da emancipação, as quais pouco tinha em comum, por exemplo,

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com o paradigma que referenciaria o regime republicano instaurado em 1889
o qual, por sua vez, derivara da decadência do Império do Brasil e não dos
momentos decisivos de sua construção, deixando entrever a confusão
estabelecida entre descentralização política e república. Isso posto, um
pequeno elenco de grandes questões pode servir como ponto de partida para
um approach historiográfico que, espero, possa contribuir para iluminar as
peculiaridades do processo de independência do Brasil, dentre as quais
destaco:
A emancipação foi um processo razoavelmente longo, iniciado em
1808, porém complementado, de fato, em 1831, com a abdicação do
Imperador D.Pedro I e seu retorno a Portugal neste sentido, 1822 não passaria
de uma data “canônica”, cristalizada e perpetuada por uma certa
historiografia;
Os artífices do processo de independência, longe da simplória oposição
que costuma antagonizar “brasileiros” e “portugueses”, constituíram um grupo
dotado de uma trama complexa de interesses econômicos e políticos comuns,
para além da questão das “nacionalidades”, artífices esses que foram,
simultaneamente, “construtores” e “herdeiros” (Mattos, 2005 p. 8),
evidenciando as contradições que marcaram a afirmação nacional;
A construção da sintonia entre Território e Estado Nacional somente
adquiriu contornos claros enquanto projeto em ação – ou “expansão para
dentro” também nos termos de (Mattos 1987, p. 86-87) - após o período
regencial (1831-40), em plena década de 1850, sendo prematuro e
equivocado a eles referir-se no imediato pós-emancipação;
A construção do Império do Brasil foi uma conquista, sendo esta, talvez,
a maior singularidade do caso brasileiro, posto ter-se verificado em meio a
uma sociedade profundamente matizada e portadora de projetos políticos
distintos. Como o afirma Oliveira (2005, p. 51) “a hegemonia alcançada pelo
projeto conservador de Estado, em meados do século XIX, foi construída por
meio de guerras e conflitos [...] que envolveram desde a luta armada e
manifestações de rebeldia de escravos, libertos e homens livres pobres, até a
luta por espaços de representação parlamentar”; o papel da escravidão como
fundamentos da cidadania e da nação brasileira.

17
A emancipação como processo
A rigor, a emancipação política do Brasil tem como marco o ano de
1810 quando, após a instalar a Corte portuguesa no Rio de Janeiro, D. João
VI proclama a chamada “Abertura dos Portos às Nações Amigas”,
necessidade imperiosa já que Lisboa deixara, face aos conflitos napoleônicos,
de ser o entreposto entre Brasil-Europa. Tal fato não é carente de importância,
na medida em que atingiu o ponto nevrálgico de todo o sistema colonial com
relação à terra brasileira: o exclusivo colonial, de pronto destruído. O monarca
também descobriu de pronto, a existência no Rio de Janeiro, de um grupo
organizado na defesa de seus interesses e que soube muito bem tirar partido
da necessidade de recursos por parte da Coroa.
Eram eles os Negociantes, definidos como proprietários de capital que,
além da esfera da circulação, atuavam no abastecimento e no
financiamento e investem no tráfico de escravos, o que permite que
controlem setores chave da economia, inclusive na produção
escravista, face ao papel que desempenham no crédito e no
fornecimento de mão de obra. Uma de suas características é a
multiplicidade de suas atividades, o que permite que detenham uma
posição privilegiada na sociedade brasileira e seja capaz de influir
decisivamente tanto nos rumos da economia e na política do país
(PIÑEIRO, 2003, p. 72-73)
Este seleto grupo de agentes sociais havia se fortalecido bem antes da
chagada da Corte, em função de um processo denominado de “interiorização
da Metrópole”, expressão cunhada por Maria Odila de Souza Dias (DIAS,
1972), cuja grande e inovadora contribuição, abrindo caminhos para inúmeras
pesquisas dela derivadas (Lenharo, 1992; Martinho, 1977; Gorestein, 1978)
consistiu em analisar a construção de toda a trama de interesses comuns
entre “elites” portuguesas e luso-brasileiras, desde o século XVIII, consolidada
pela implementação de um “movimento interno de colonização” promovido
pela chegada da Corte que, igualmente, incentivara a estrutura do comércio
atlântico, notadamente através do tráfico negreiro procedente de Angola.
Neste processo, a cidade do Rio de Janeiro adquiriria centralidade
ímpar, voltando-se para ela tanto os olhares das demais províncias do Reino,
quanto o de algumas regiões da América hispânica. Ao mesmo tempo,
tornado o novo centro político e administrativo da Monarquia, criava-se uma
dualidade geradora de uma ambiguidade, que somente seria sanada com a
criação, em 1815, do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, formalização

18
da antiga ideia de um Império Luso-brasileiro (NEVES, 1995). A medida
cristalizaria a trama dos interesses já enraizados no Brasil, não apenas os de
negociantes, como também os de proprietários de terras e escravos,
provocando um outro desdobramento: a crescente diferenciação da área da
Corte com relação ao conjunto das demais regiões brasileiras. O Rio de
Janeiro passou a figurar como sinônimo da “cabeça da Monarquia”,
alimentando o projeto de um novo império (MATTOS, 1987). Todavia, ao
mesmo tempo, tudo conspirava para a negação de um dos princípios
definidores do conjunto representado pela monarquia: o Império Português,
irreversivelmente comprometido.
Grandes proprietários de terras e escravos e grandes negociantes do
Sudeste em geral além de artífices da emancipação disputariam a imposição
de projetos distintos, já sob a pressão das Cortes de Lisboa que, convocadas
em 1820 como desesperadas manobras para evitar a perda da mais
importante parte do Império Ultramarino, tentariam regenerar o velho Reino,
por meio de medidas centralizadoras extremadas. Suas reações seriam as
mais diversas no reino do Brasil. Por certo, a trama dos interesses
cristalizados no Rio de Janeiro as repudiaria veementemente, insubmissas a
qualquer tentativa de reedição do exclusivo colonial, por eles já redefinido. Já
as províncias do “Norte”, por seu turno, ameaçadas pela nova “cabeça do
Reino”, adeririam ao sistema das Cortes, em nome do princípio da autonomia
e de uma almejada redefinição de suas relações com a Corte do Rio de
Janeiro.
A necessidade do retorno de D. João a Portugal, em 1822, fez com que
deixasse seu filho, o príncipe D. Pedro no Rio de Janeiro, deixando antever
toda a potencialidade de ruptura vindoura. Nesse sentido, o Dia do Fico
simbolizou, segundo alguns autores (Matos 2005, p. 16) não apenas o
momento da fundação do Império do Brasil, mas também uma alteração na
própria significação de “brasileiros”. Se, até então, o termo designara os
portugueses que, vivendo em terras americanas, ali enriqueceram e muitas
vezes retornavam à terra de seus pais, agora, seria objeto de uma disputa de
significações, incluindo desde a adjetivação do partido constituído pelos
interesses dos grupos prósperos do Rio de Janeiro -cujos privilégios as Cortes

19
ameaçavam frontalmente- até aquela defendida por José Bonifácio para quem
“brasileiro” seria “todo homem que segue a nossa causa, tudo o que jurou a
nossa independência” (apud Nogueira, 1973, p.86). Em síntese, os
acontecimentos compreendidos entre 1821 e 1822 tornaram uma parte da
Monarquia lusitana em corpo político independente: o Império do Brasil, numa
fratura irremediável.
A convocação pelo príncipe regente de uma Assembleia Geral
Constituinte em junho de 1822, integrada por deputados de todas as
províncias do Brasil faria aflorar distintos projetos de soberania, muitas vezes
confundindo-se, perigosamente, as concepções de liberdade e igualdade,
como conclamaria o redator de um dos jornais em circulação na cidade: “bem
dirigir a opinião pública a fim de atachar os desacertos populares e as
efervescências frenéticas, de alguns compatriotas mais zelosos que discretos”
(apud Morel e Barros 2003, p. 28). O temor da anarquia instaurava-se face à
ameaça de fracionamento do território, derivada das tensões que presidiam a
relação entre as províncias e o Rio, como o funcionamento da própria
Constituinte o demonstraria.
Para reforçar a autoridade príncipe e ratificar o Rio de Janeiro como
“cabeça” do corpo unido, algumas medidas administrativas foram tomadas,
sobretudo a que obrigava a não ser executada nenhuma decisão das Cortes
de Lisboa sem o “Cumpra-se” de D. Pedro. Além dessa, merecem destaque
a criação de um escudo de armas e de uma Guarda de Honra formada por
três esquadrões: os do Rio, São Paulo e Minas, não por acaso base dos
interesses “enraizados” e francamente emancipacionistas, além da elevação
ao status de cidade para todas as vilas capitais de província e da concessão
de títulos honoríficos às povoações que se posicionaram contrariamente às
Cortes Portuguesas. O estopim da tensão interprovincial estava prestes a ser
aceso.
Por certo o teor dessas medidas consistia em fazer coincidir o novo
corpo político com o vasto território, sendo importante destacar a convocação
militar para promover a expulsão das tropas portuguesas ainda presentes em
certos pontos do litoral das províncias rebeladas e favoráveis à Lisboa. Esse
seria um dos aspectos das Guerras de Independência, mas não o único: ele

20
igualmente revelava o primeiro ensaio de fazer expandir o Império do Brasil
de modo a subordinar as províncias partidárias da proposta federativa a um
projeto gestado pelos grupos dominantes no Rio de Janeiro. Seria essa a
correlação de forças que permitiu o rompimento com as Cortes. Nas palavras
de Matos,
A independência política criara a liberdade frente à dominação
metropolitana; mas não fora capaz de gerar uma unidade, do ponto de vista
de uma nação moderna constituída por indivíduos livres e iguais perante a lei
(...). Elementos de fundo racial, social e cultural combinavam-se, de modo
original, aos atributos de liberdade e propriedade no estabelecimento de
fronteiras entre a boa sociedade, o povo mais ou menos miúdo e a massa de
escravos (Matos 2005, p. 21).
Ou seja: a liberdade política não se traduzira em unidade, além de ser
também incompatível com o princípio da igualdade, subsumido a um
sentimento aristocrático compartilhado por todos aqueles que
produziram/reproduziam as hierarquias definidoras da sociedade. Mesmo os
atores mais radicais deste processo - chamados “democratas”- consideravam
a convocação da Assembleia Constituinte uma vitória da iniciativa de trazer o
Povo à cena política. Por povo, entretanto, definiam a representação da “boa
sociedade”, isto, é, dos que eram livres e proprietários de terras e escravos,
que se viam como brancos e longe estavam da plebe (Mattos 1987, p. 97),
deixando claro o viés altamente hierarquizante e excludente de seu projeto e
das forças nele empenhadas.
A ausência de unidade logo perpassaria as próprias bases de
sustentação do primeiro Imperador, explicitada nas discussões da Assembleia
Constituinte. Refiro- -me, basicamente, ao grupo dos negociantes - fiadores
econômicos da Corte - pouco representados neste foro. Desde seu início, a
disputa entre projetos diversos de poder deu o tom aos trabalhos. Quando,
afinal, o projeto de Constituição foi lido, a surpresa marcou a reação dos donos
de capital, sobretudo pelo fato de propor, como base organizativa do Império,
as Comarcas e não as Províncias, o que significava depositar o poder político
diretamente em mãos dos grandes proprietários de terras e escravos
regionais. Desagrava-lhes também o sistema eleitoral previsto, não pelo fato

21
de ser censitário, mas por definir como eleitores e elegíveis apenas os donos
de “bens de raiz” (PIÑEIRO 2003, p. 78-79)
A discussão do projeto fraturou a Assembleia em campos antagônicos,
esvaziando o poder do Imperador e consagrando os proprietários de terras,
sobretudo do Sudeste. Nesse mesmo momento as Cortes de Lisboa enviavam
negociadores em prol da reunificação, deflagrando profunda crise, resolvida,
uma vez mais, pela força das armas. A Constituinte seria dissolvida e um
Conselho de Estado, nomeado por Pedro I, foi incumbido de redigir o novo
texto constitucional, aprovado em 1824.
Paralelamente, as negociações pelo reconhecimento da independência
por parte de Portugal, mediadas pela Inglaterra, resultariam em desvantagem
para algumas das forças que compunham a trama de interesses do Centro-
Sul. Em primeiro lugar porque o Império teria que pagar polpuda indenização
a Portugal que, somente em 1825, reconheceria a emancipação, mediante
promessa de que o governo brasileiro jamais incorporaria qualquer colônia
lusitana e, em segundo, porque a Inglaterra - que desde 1810 pressionava
pelo fim do tráfico de escravos - voltaria à carga com renovada intensidade.
Em novembro de 1826 foi assinada convenção sobre o tráfico, estabelecendo
o prazo de três anos para seu término, além de novo tratado comercial
concedendo tarifas preferenciais para aos produtos ingleses entrados no país
(Neves e Machado 1999). A extinção efetiva do tráfico, no entanto, somente
se concretizaria em 1850, quando os grandes proprietários brasileiros além
de sobejamente abastecidos de escravos, se encontrariam endividados junto
aos negociantes.
Quando a nova Carta Outorgada foi promulgada, em 1824,
preservando a estrutura unitária e estabelecendo que os presidentes das
Províncias fossem nomeados diretamente pelo Imperador, este enfrentaria
uma dupla oposição: de um lado, aquela movida pela Câmara dos Deputados,
dominada por proprietários de terra e de escravos de todo o Reino e, de outro,
o afastamento progressivo do grupo dos negociantes descontentes com as
concessões feitas a Portugal e a ameaça ao fim do tráfico, uma das fontes
primordiais de suas fortunas. Imediatamente, reações eclodiriam por todo o
“Império”, entre 1824 (com a Confederação do Equador) e 1848 (com a

22
Revolta Praieira), ambas as mobilizações nordestinas contra a centralização
monárquica e o Rio de Janeiro. Neste interregno, a abdicação de Pedro I seria
inevitável, dando início ao Período das Regências.

O Império como conquista


A emancipação política do Brasil foi conduzida pela correlação de
forças presidida pelos negociantes do Rio de Janeiro e grandes proprietários
de terras e escravos do Sudeste ainda que, em seu transcurso, ambos os
segmentos tenham se confrontado. Já o Nordeste, cujo centro regional mais
destacado era Pernambuco, dominado pelos grandes proprietários ligados ao
complexo açucareiro, se insubordinaria em inúmeros momentos do processo
que acabamos de discutir. Desde 1817, a província pegaria em armas em
nome de “princípios liberais”, contra a hegemonia da nova “cabeça” do ainda
Reino. Vale lembrar que a produção oriunda de Pernambuco e do Nordeste
ainda detinham posição chave na pauta das exportações brasileiras de açúcar
e algodão (Mota, 1972).
No entanto, em 1824, nova mobilização eclodiria na Província, a
Confederação do Equador, em defesa da autonomia provincial e contrária à
tendência unitarista inscrita na Carta de 1824, desta vez somando-se aos
protestos da Bahia. Tanto num caso, como no outro, a resposta da Corte foi a
guerra, o envio de esquadra imperial para conter os movimentos. Os grupos
dominantes locais, contrários à Constituição e defensores do federalismo
resistiram, alastrando a mobilização para as províncias vizinhas da Paraíba,
Rio Grande do Norte e Ceará, todas elas áreas dependentes do centro de
dominação regional pernambucano (Albuquerque 1986, p. 348).
Contrariando as representações mitológicas acerca da emancipação
política “pacifica e harmoniosa”, a reação da Corte do Rio seria ainda mais
radical: suspendendo as garantias constitucionais nas províncias rebeldes,
enviaria tropas do Exército, coadjuvadas por esquadra comandada por
ingleses. Não poucos foram dizimados pela repressão, tanto em Pernambuco
quanto nas demais províncias, chegando-se mesmo a impor a pena capital às
principais lideranças do movimento.

23
Vale lembrar que estes não foram os primeiros episódios violentos
derivados do processo de emancipação política como um todo. Quando das
tentativas recolonizadoras das Cortes de Lisboa, iniciadas em 1820, muitas
regiões nordestinas sublevaram-se contra a preponderância de D. Pedro,
sendo focos desta resistência às províncias da Bahia, Piauí, Maranhão e
Grão-Pará, igualmente dizimados pela repressão militar do Rio de Janeiro.
Neste contexto especifico, outros fatores devem ser levados em conta,
sobretudo a subordinação dos proprietários de terras e escravos regionais aos
grandes negociantes portugueses que, uma vez expulsos, os privaria de
recursos (FREITAS, 1976).
O caráter abertamente belicoso da consolidação da independência não
deve ser relegado a segundo plano, mas sim articulado a uma estrutura mais
complexa que incluía até mesmo as difíceis condições do reconhecimento
internacional da soberania do Brasil, os conflitos oriundos da hegemonia do
Sudeste e a luta contra a manutenção de certos interesses lusitanos. Dessa
perspectiva ressaltaria a necessidade de imposição da hegemonia do Sudeste
sobre as demais regiões, bem como a da reprodução do funcionamento de
um Estado autoritário ou de um projeto autoritário de Império. Até 1850,
quando a hegemonia política e ideológica do Sudeste encontraria na produção
cafeeira as condições econômicas para reproduzir-se e fortalecer-se, as
contradições inerentes ao processo de emancipação de um Império integrado
por um vasto território, manifestaram-se de modo significativo. Os movimentos
provinciais contestatórios se arrastaram por todo o período Regencial (1831-
40), muito embora nenhumas das forças dissidentes inscrevesse em seus
programas, por exemplo, o fim da escravidão ou da própria monarquia.
A adoção de princípios federalistas por parte de movimentos como a
Sabinada (Bahia, 1837-38) ou a Farroupilha (Rio Grande do Sul, 1835-45) foi
a tradução liberal do descontentamento dos grupos dominantes locais ao
centralismo imperial em construção. Já no movimento da Cabanada
(Pernambuco, Alagoas e Pará – 1832-35) outros elementos somaram-se à
rejeição unitarismo, com a participação de setores populares, mormente
camponeses pobres e livres.

24
O fundamental para os grupos de interesse hegemônicos do Sudeste
era demonstrar que o rompimento com o poder Metropolitano não devia ser
confundido com o aniquilamento ou enfraquecimento de todo poder
centralizado, herdado do período colonial e reforçado ao longo da
permanência da Corte no Rio de Janeiro, o que implicava na construção das
“instituições públicas”. Por isso era preciso deter o “carro da revolução”
(Mattos 1987, p. 154), palavra de ordem da política imperial, particularmente
entre os anos 1840-1850.
Isso significa que o estabelecimento da associação entre Império do
Brasil e Nação Brasileira vinculava a noção de império a uma concepção
nacional. E a trajetória dessa nova associação seria longa e tortuosa,
estendendo-se, como apontamos, bem além do momento da emancipação
política, uma vez que implicou na própria construção do Estado imperial, por
ser esta era a condição de existência da Nação. Daí a elaboração de
instrumentos que promoveriam essa “conquista” ou “expansão pra dentro”, na
feliz expressão de Mattos acima citada. Dentre eles se destacou o próprio
constitucionalismo, que permitia que fossem solapadas as bases tradicionais
do poder soberano à lá Antigo Regime e a política externa que, sob a regência
da Inglaterra, afastaria o novo império da África, inviabilizando a
independência de Angola e sua incorporação ao Império do Brasil.
Como afirma Oliveira (2005, p. 50) a associação entre Império e Nação,
em permanente construção, não implicou apenas numa alternância de
sentido, ou seja, a mudança da concepção dinástica de Império para a
concepção nacional. Ela implicou também no fortalecimento de uma direção
política: impossibilitado de um domínio ilimitado em termos espaciais, o
Estado perpetrou uma “expansão para dentro”, destinada a configurar a nação
e a cidadania, com todas as hierarquias e distinções que marcaram a
existência de várias “nações” dentro da nação brasileira, implicando numa
obra de conquista. E não conquista de territórios – muito embora o centro
hegemônico se tivesse empenhado em preservar sua indivisibilidade, como
vimos acima – mas conquista no sentido de reconhecer e fazer reconhecer
que o Império do Brasil foi gerado no seio de uma sociedade matizada que
incluía distintos projetos políticos.

25
Essa obra de conquista não pararia por aí, implicando em instrumentos
bem mais sutis, capazes de ratificar a associação entre Império e Nação
brasileiros. Ela incluiria a fratura das identidades gestadas pela colonização,
por intermédio da vulgarização de valores, signos e símbolos imperiais, da
elaboração de uma língua e de uma literatura e histórias nacionais. Nisso se
empenharam os construtores do Estado Imperial, assumindo seu papel de
dirigentes, na acepção gramsciana do termo, difundindo um projeto
“civilizatório” que ultrapassaria a coerção física. Eles seriam os produtores de
um consenso em torno da própria nova noção de Império.
Os dirigentes imperiais perpetraram uma “expansão para dentro” em
duplo registro: horizontalmente, confundindo-se com a própria constituição da
classe dominante senhorial, progressivamente incorporando o seu projeto
plantadores, negociantes, donos do crédito de quase todas as regiões do
Império; verticalmente, confundindo-se com a própria consolidação da
materialidade do Estado, atraindo para sua órbita médicos, advogados,
tabeliães, jornalistas e o sempre crescente contingente de funcionários
públicos. Tratou-se de uma expansão que, partindo do Rio de Janeiro
reproduziu a hierarquia presente no interior de cada região e entre regiões
(Mattos 1987, p. 167) A construção do Estado pressupôs iniciativas
integradoras das mais diversas, desde a construção de estradas, pontes –
que ademais de signos de progresso estreitariam alianças entre as frações da
classe dominante – até uma obra de “esquadrinhamento” do vasto território e
dos homens que ele continha. Mapas, cartas topográficas, plantas das
distintas circunscrições administrativas seriam encomendadas, de modo a
promover o conhecimento mais refinado das potencialidades territoriais. Tudo
isso sem negar a conflitividade social latente. Afinal, tratava-se, mais que tudo,
de uma sociedade de base escravista.

Escravidão e Cidadania no Império do Brasil


Propositalmente, deixamos para o final considerações acerca do
efetivo nexo integrador do Brasil: a escravidão. Seria ele o fio condutor
principal da unidade, na medida em que toda a estrutura produtiva
agroexportadora nela baseou-se até sua total extinção em 1888. Malgrado os
distintos projetos políticos em disputa no decorrer do processo de

26
emancipação política, raros foram aqueles contrários à assim chamada
“instituição servil” ou mesmo ao fim do tráfico negreiro, responsável por sua
reprodução. Isso significa afirmar que, para além dos mecanismos de ordem
política, ideológica e cultural, eram os escravos - definidos como “bens
semoventes”, mercadorias, enfim - o principal sustentáculo da economia
nacional, a despeito de hierarquizações e dependências porventura
estabelecidas entre os proprietários de terra e grandes negociantes
fornecedores dessa mão de obra essencial.

A despeito de sua importância fulcral, tampouco seria a escravidão um


obstáculo à construção nacional. Afinal, a figura do escravo desdobraria, até
as últimas consequências, a concepção de propriedade individual e de
mercado, bem como as relações de dominação e desigualdade vigentes entre
os cidadãos e os totalmente excluídos da sociedade (OLIVEIRA, 2003). Logo,
de modo apenas aparentemente paradoxal, cidadania e nação estiveram
inextrincavelmente vinculados à escravidão, ela mesma definidora do caráter
da própria sociedade.
Que isso possa ter gerado reconfigurações na própria noção de
cidadania durante a primeira metade do século XIX, parece-nos óbvio,
mormente considerando que o grupo hegemônico sediado na “nova cabeça”
do Império, delas dependeria para a imposição de seu projeto. Na verdade, a
associação verificada entre Império e Nação ocorreu numa sociedade
escravista que herdara da experiência colonizadora a convivência obrigatória
entre três grupos étnicos. A hierarquização entre o que se convencionou
chamar de “boa sociedade” - os livres, brancos e proprietários de escravos,
de “plebe”- integrada pelos livres, mas não proprietários de escravos e
tampouco autor e apresentados como brancos e os escravos - propriedades

27
de outrem e não brancos em absoluto, foi construída a partir dos atributos de
liberdade e propriedade (de escravos e terras), o que não deixava de pôr em
questão o conceito moderno de nação (ANDERSON, 1989).
A despeito disso, a nação brasileira seria forjada com outras “nações”
no interior do território unificado, não sendo casual, como o aponta Karasch
(2000, p. 35- 40) que no Rio de Janeiro do período se utilizasse a expressão
“nação” para identificar os escravos negros e ameríndios, discriminando-se,
igualmente, “nações de cor” (escravos nascidos no Brasil) e “nações
africanas”, cujos membros, casos libertos, não poderiam tornar-se cidadãos
brasileiros de acordo com a Constituição, o mesmo não acontecendo com os
escravos aqui nascido. Era claríssima, sob essa ótica, a concepção de Ordem
defendida pelos artífices da emancipação e do Império.

Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre


equívocos e tabus da historiografia brasileira
O artigo “Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre
equívocos e tabus da historiografia brasileira” foram escritos pelo professor
Titular de História Moderna da Universidade Federal Fluminense. Desenvolve-
se a partir das notas sobre equívocos e tabus da historiografia brasileira no
que tange à colonização, miscigenação e questão racial para embasar sua
tese traz citações de alguns estudiosos brasileiros e estrangeiros tais como
Varnahagen, Capistrano de Abreu, Gilberto Freyre, Charles Boxer, Florestan
Fernandes e Líllia Schwarcz, dentre outros.
A importante necessidade de estudar as problemáticas de alguns
autores da época do Brasil colônia e realçar alguns equívocos e tabus da
historiografia brasileira em relação à colonização, à miscigenação e questões
raciais, pois é primordial repensar as contribuições de todos os estudiosos.
Brasil, quinhentos anos de história, se adotarmos a periodização de
Varnhagen, ou sabe-se lá quantos séculos, se optarmos pelo seguidor e rival
do Visconde de Porto Seguro, mestre Capistrano de Abreu, cujo primeiro
capítulo do livro Capítulos de História Colonial tem por título “Antecedentes
indígenas”, embora deles o capítulo pouco trate na verdade. De todo modo,
se deixarmos de lado as idealizações indigenistas ou indianistas, seja à moda

28
romântica, seja na versão mais atual de uma “história politicamente correta”,
é caso de realçar o extraordinário encontro de povos posto em cena pelo
descobrimento e pela colonização efetuada pelos portugueses na “sua
América” – a que lhes reservou o Tratado de Tordesilhas. Encontro de certo
conflitivo, muitas vezes trágico, haja vista o extermínio de milhares de índios
e o cativeiro destes e dos africanos, como se sabe, desde o primeiro século.
Mas encontro que pôs em contato culturas radicalmente distintas de três
continentes, refazendo valores, recriando códigos de comportamento e
sistemas de crenças, sem falar na “miscigenação étnica”, outrora chamada de
“miscigenação racial”.
Miscigenação étnica e mescla cultural são problemáticas afins, embora
não idênticas, que atualmente estão na ordem do dia na historiografia
ocidental produzida sobre a colonização ibérica nas Américas. No entanto, é
questão que, entre nós, vem de longe, modificando-se ao longo do tempo os
termos, a valoração e o sentido das interpretações.
A problemática da mescla cultural na história do Brasil foi colocada em
nossos horizontes de investigação desde o começo da historiografia nacional.
Apareceu pela primeira vez, sob o rótulo da “miscigenação racial”, como
proposta vencedora do concurso promovido na década de 1840 pelo recém-
fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Formulou-a o alemão Karl
Von Martius, naturalista, botânico, viajante que deixou preciosos registros
sobre a natureza e as gentes do Brasil no século XIX. Em como se deve
escrever a história do Brasil, Martius afirmou que a chave para se
compreender a história brasileira residia no estudo do cruzamento das três
raças formadoras de nossa nacionalidade – a branca, a indígena, a negra –,
esboçando a questão da mescla cultural sem contudo desenvolvê-la. Martius,
como naturalista ilustrado, pensava o “hibridismo racial” do mesmo modo
como pensava o cruzamento de plantas ou animais, porém sua relativa
sensibilidade etnológica fê-lo ao menos rascunhar o que já se chamou de
“sincretismo” cultural e atualmente se formula como circularidades ou
hibridismos culturais.
É verdade que o naturalista alemão priorizou a contribuição portuguesa
na formação da nacionalidade brasileira e praticamente silenciou sobre o

29
papel da “raça” negra, para usar o seu vocabulário, reservando ao índio – um
tanto idealizado, vale dizer – papel secundário. Mas não resta dúvida de que,
já com Von Martius, a questão da miscigenação étnica e cultural estava posta.
Seria mesmo caso de ressaltar a paradoxal abertura intelectual do IHGB ao
premiar proposta que, malgré o conservadorismo do autor, apontava para
questão desafiadora, admitindo, ao menos em tese, o papel do negro na
formação do povo brasileiro – e isto num tempo em que os africanos e seus
descendentes eram escravos, sem direito à cidadania no nascente império
brasileiro.
Tão inovadora era a proposta de Von Martius que ninguém na verdade
a seguiu ao longo do século XIX e nas décadas após a Abolição e a
proclamação da República. No século XIX, a grande história do Brasil foi a de
Francisco Adolpho de Varnhagen, a quem já mencionei, paulista de Sorocaba,
descendente de alemães, homem de confiança do imperador Pedro II e autor
da portentosa História geral do Brasil, em cinco volumes, publicada entre 1854
e 1857 sob o patrocínio imperial.
Varnhagen não seguiu em nada os conselhos de seu quase
conterrâneo Von Martius e produziu obra factual, no estilo do historismo ou
historicismo, começando pelo Descobrimento de 1500 e terminando em 1808,
com a chegada da família real, fugitiva dos franceses sob a proteção dos
ingleses. Cinco volumes que desfiam múltiplos fatos, as expedições de
reconhecimento, as capitanias, a instalação do Governo Geral, os diversos
governos, as “invasões estrangeiras” – que, para Varnhagen, o Brasil devia
ser mesmo português, como rezava o Tratado de 1494. História muitíssimo
bem documentada, utilíssima em vários aspectos, porém lusófila e brigantina,
a louvar a Restauração dos Bragança, a mesma dinastia do imperador
brasileiro, seu mecenas, sem aspas. História branca, elitista e imperial que,
se deu contribuição surpreendente ao informar sobre os costumes e crenças
dos tupis, chamaram-nos quase sempre de bárbaros e selvagens e
praticamente silenciou sobre os negros. Com Varnhagen, a “miscigenação”
permaneceu oculta, seja racial, étnica ou cultural.
Capistrano de Abreu foi nosso grande historiador da virada do século,
pois de fato inovou em diversos aspectos a interpretação da história colonial

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do Brasil. Em seus Capítulos de história colonial, publicado em 1907, fez
questão de abrir nossa história com os “Antecedentes indígenas”, no lugar do
descobrimento; concebeu o futuro Brasil como área de disputa entre Portugal
e outros países europeus, no lugar de sacramentar o Tratado de Tordesilhas;
iluminou as diversidades territoriais da América portuguesa, como se vê no
magistral capítulo “O sertão”. Com Capistrano de Abreu, deu-se verdadeiro
deslocamento do objeto de investigação, que em Varnhagen era a
colonização portuguesa, suas instituições e motivações e nos Capítulos
passou a ser a colônia, a sociedade colonial com todos os seus desequilíbrios
e contrastes.
Talvez neste último ponto, a ênfase que deu às diversidades regionais,
resida a inovação principal da interpretação de Capistrano que, longe de
festejar, como Varnhagen, o êxito da colonização portuguesa e de sua
vocação para manter a unidade do Brasil, acentuou a fragmentação, as
incomunicabilidades, a ausência de qualquer consciência nacional, mesmo
que em esboço, ao final de três séculos de colonização.
No entanto, no tocante ao tema da miscigenação, que Von Martius
apontara como chave para se compreender o Brasil, Capistrano avançou
muito pouco. Entre seus raros comentários sobre o assunto, reiterou
estereótipos sobre negros e mestiços, relacionando o primeiro às “danças
lascivas” que alegravam o cotidiano da colônia (a compensar “o português
taciturno e o índio sorumbático”) (Abreu, 1976 p. 18) e vendo os mulatos como
indóceis e rixentos: “podiam ser contidos a intervalos por atos de prepotência,
mas reassumiam logo a rebeldia originária”. Ainda que de forma atenuada,
Capistrano revelou-se afinado, neste ponto, com certa “raciologia cientificista”
( SCHWARCZ , 1995), concebida na Europa e assimilada pela
intelectualidade brasileira, a qual via na mestiçagem um perigo para a
sobrevivência das civilizações. A mesma raciologia que inspirava intelectuais
do porte de Nina Rodrigues, Euclides da Cunha, Silvio Romero, Mello Moraes,
Oliveira Vianna e outros que, como já se disse certa vez, eram “racistas por
ofício”.
É verdade que, com Capistrano de Abreu, pode parecer injusto emitir
juízo aparentemente tão rigoroso, ele que, em sua rica correspondência,

31
polemizou com João Lúcio de Azevedo, seu amigo e interlocutor, sobre a
questão judaica no Antigo Regime português, criticando a intolerância
inquisitorial e racista então vigente contra os cristãos novos. Mas no que toca
ao Brasil, ao encontro sexual entre portugueses, índios e africanos e à mescla
cultural derivada do convívio plurissecular, Capistrano tratou pouco e não
deixou de pensá-la como um dos vários fenômenos que, a seu ver,
esgarçavam o Brasil, funcionando antes como fator desagregador do que
como agente de coesão.
Seguiu lhe a trilha Paulo Prado, autor do célebre e polêmico Retrato do
Brasil, publicado em 1928, autor que fez da luxúria, da cobiça, da tristeza e
do romantismo os grandes males da formação brasileira desde o
descobrimento até o século XIX. Mas, à diferença de Capistrano, Paulo Prado
foi mais explícito em tudo, seja quanto à embriaguez sexual e multirracial
deflagrada na colônia, seja quanto às consequências da miscigenação racial
dela resultante. No tocante à embriagues sexual, Paulo Prado até que
avançou um pouco, ao romper os constrangimentos que cercavam o
tratamento do assunto, embora de seu texto extravase um moralismo quase
jesuítico, condenatório das supostas liberdades sexuais do trópico, as quais
considerava verdadeiramente patológicas. A culpa de tanta luxúria – porque
disso se trata em Paulo Prado – era responsabilidade dos portugueses
degenerados que para cá vieram sob degredo, dos índios naturalmente
lascivos e dos africanos igualmente libidinosos, disso resultando um “retrato
do Brasil” tremendamente orgiástico.
Da condenação da orgia colonial à execração da miscigenação o passo
foi curto. É no Post-scriptum que a posição de Paulo Prado se descortina com
mais nitidez em meio a considerações raciológicas típicas do fim do século
XIX e das primeiras décadas do século XX. Apesar de dizer que “todas raças
parecem essencialmente iguais em capacidade mental e adaptação à
civilização”, o autor não se escusa de afirmar “a inferioridade social” do negro
nas aglomerações civilizadas, ao contrário do que costuma ser nos “centros
primitivos da vida africana”. Elogia o conselho de Von Martius quanto à
necessidade de se estudar o negro na história do Brasil, mas propõe conhecê-
lo “nos seus costumes, preconceitos e superstições, defeitos e virtudes,

32
máquina de trabalho e vício para substituir o índio mais fraco e rebelde”.
(PRADO, 1996, p. 187-188).
O problema racial do Brasil residia, segundo Paulo Prado, porém, nem
tanto no negro, mas na miscigenação. De um lado, observa que a
“arianização” do brasileiro avançava diariamente e “já com um oitavo de
sangue negro, a aparência africana se apaga por completo [...] E assim o
negro desaparece aos poucos, dissolvendo-se até a aparência de ariano puro
[...] Não temos ainda perspectiva suficiente para um juízo imparcial. A
arianização aparente eliminou diferenças somáticas e psíquicas: já não se
sabe quem é branco e quem é preto [...]”. De sorte que, apesar de reconhecer
que o mestiço brasileiro dava exemplos notáveis de inteligência, cultura e
valor moral, Paulo Prado se perguntava, à luz de “organismos tão indefesos
contra doenças e vícios”, “se esse estado de cousas não provém do intenso
cruzamento de raças e sub-raças”. (PRADO, 1996, p. 191-193).
Até o limiar dos anos de 1930 o que se poderia chamar de historiografia
brasileira tratava, pois, a miscigenação, não como problema de investigação,
mas como problema moral ou patológico que cabia resolver para o bem da
Nação. Poderíamos multiplicar os exemplos de historiadores que trataram do
tema com este cariz “raciológico” ou mesmo racista, temperando com a
herança colonial as novidades científicas de um Gobineau e outros: João
Ribeiro, Pedro Calmon, Pandiá Calógeras – a lista seria vasta e monótona.
Ao tratarem da “miscigenação racial”, evitavam adentrar o domínio da
sexualidade – campo fértil para entender os fenômenos culturais e o próprio
fenômeno da miscigenação – e quando o faziam, como no caso de Paulo
Prado, era para execrar a libido desenfreada de antanho. E quando
rascunhavam a mescla cultural de que a miscigenação étnica é parte
inseparável, mal disfarçavam o desalento em constatar que o Brasil era
diferente da Europa, isso quando não afirmavam terem sido os índios e,
sobretudo os negros elementos corruptores de um projeto de civilização
compatível com os “anseios nacionais”.
Se houve uma solitária exceção ao semelhante quadro, esta foi a obra
de Manuel Bomfim, médico de ofício e historiador por opção, intelectual que,
desde 1902, com seu América Latina: males de origem, esforçou-se por

33
condenar, antes de Capistrano, a colonização portuguesa e a reconhecer na
miscigenação racial um aspecto positivo da formação brasileira – pioneirismo
que lhe renderia forte polêmica, interrupção do trabalho de historiador por
quase trinta anos e um virtual “ostracismo” que até hoje grava sua obra.
No entanto, a obra vasta e complexa de Bomfim, retomada entre 1929
e 1931, é reveladora de paroxismos que mereceriam estudos mais
aprofundados. No mínimo porque, se em 1902 Bomfim condenava os
portugueses que colonizaram o Brasil, e voltaria a fazê-lo no Brasil Nação,
publicado em 1931, neste caso condenando o “Império dos Braganças”, no
livro O Brasil na América, este de 1929, vê-los-ia como empreendedores,
intrépidos aventureiros, excelentes colonos, enfim, esforçando-se por
contestar a visão de que o Brasil fora desde o início povoado por criminosos.
Este livro de Bomfim é, neste ponto, quase um antídoto ao veneno destilado
por Paulo Prado, no livro contemporâneo que mencionei linhas atrás,
divulgador-mor do caráter degenerado dos colonos portugueses aqui
desembarcados (BOMFIM, 1996).
Talvez não haja autor, dentre nossos historiadores antigos, que tanto
se tenha esmerado, como o Bomfim deste livro citado, em defender a
excelência dos portugueses que protagonizaram a história do Brasil nos
primeiros séculos. E talvez não exista autor, entre os brasileiros, tão
empenhado em defender a miscigenação como traço positivo de nossa
formação como povo e como cultura. O problema desconcertante é que
Bomfim o faz por meio de um raciocínio genuinamente raciológico, naturalista,
para não dizer medicalizado – assunto que por ofício conhecia bem. Assim
compara cruzamentos entre insetos, plantas, mamíferos, seres humanos,
discutindo autores clássicos na matéria, tudo a serviço da ideia de que o
“cruzamento de raças ou espécies distintas” não é necessariamente mau, pelo
contrário. Manuel Bomfim é por tudo isto, uma exceção e um caso-limite, autor
de obra contraditória em que o cientificismo raciológico é criticado nas suas
conclusões, porém não na linguagem e nos referenciais teóricos da reflexão.
O resultado é uma apologia da mestiçagem concebida em termos de
“cruzamento” positivo de espécies, em detrimento das dimensões étnicas e
culturais pertinentes à discussão.

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Nas décadas 1930 e 1940 mudaria sensivelmente a maneira de lidar
com a miscigenação racial e cultural que Von Martius sugerira estudar havia
quase cem anos. Foi o tempo em que apareceram as três grandes sínteses
de nossa historiografia, obras que Antônio Cândido destacou como livros-
chave para se compreender o Brasil depois da Revolução de 30 e que, no seu
entender, funcionam até hoje como referências do pensamento social
brasileiro.
Para os objetivos deste artigo, o grande livro a destacar é, sem dúvida,
o Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre, publicado em 1933, sobre o qual
já muito se escreveu. Foi este livro que produziu verdadeira inflexão no modo
de tratar o assunto porque, de um lado, encarou sem pejo a questão da
sexualidade inerente à miscigenação racial e o fez de modo distinto do de
Paulo Prado, sem associá-la “jesuiticamente” ao pecado da luxúria, evitando
“criminalizar” os degredados e associar a embriaguez sexual do primeiro
século a perversões de qualquer tipo, relativizando, enfim, com muito brilho a
libidinagem desenfreada que nossos intelectuais costumavam atribuir ao índio
e, sobretudo ao africano. Por outro lado, ultrapassou o conceito de “raça” até
então em voga, ainda que não o tenha negado de todo, e adotou o de cultura
(fruto de sua formação na antropologia culturalista de Franz Boas, nos
Estados Unidos), o que lhe permitiu entrelaçar o fenômeno da miscigenação
étnica e da mescla cultural.
É conhecida – e foi muito criticada posteriormente – a posição de Freyre
quanto à ausência de preconceito racial entre os portugueses ou, mais
nitidamente, a característica da miscibilidade, vocação lusitana que, ao lado
da mobilidade e da adaptabilidade, faria dos portugueses colonizadores
excelentes. Mas não é tanto isto o que nos interessa por ora frisar na obra
deste autor, senão o fato de que valorizou a fusão das três raças ou a
interpenetração das culturas portuguesa, indígenas e africanas na formação
do Brasil e seu povo. Se for certo que Freyre atribuiu ao português (ao caráter
português e à sua formação histórico-cultural) a iniciativa pela construção de
uma sociedade “amolengada” e cotidianamente frouxa quanto aos rigores do
preconceito racial, ressaltou igualmente a contribuição da África, chegando
mesmo a falar do negro como o “colonizador africano do Brasil”. Sua obra foi

35
sem dúvida uma novidade, seja quanto ao método de análise, seja quanto às
interpretações de fundo que, no limite, positivaram a miscigenação herdada
do período colonial. Daria muito que falar e escrever nas décadas seguintes,
fosse contra, fosse a favor. (ARAÚJO, 1994).
O Sérgio Buarque de Raízes do Brasil, publicado em 1936, embora
tenha dado enorme contribuição à nossa historiografia em diversos aspectos,
a exemplo da comparação entre América Portuguesa e a Espanhola, avançou
pouco em relação ao problema da miscigenação. Tendeu, no conjunto, a
adotar posição similar à de Freyre ao constatar, entre os portugueses, a
“ausência completa, ou praticamente completa [...] de qualquer orgulho de
raça”, diferentemente dos europeus do norte, frisando a frouxidão dos
preconceitos, inclusive institucionais, dos portugueses em relação aos “povos
de cor”, para usar as palavras de Sérgio Buarque. (HOLANDA, 1976. p. 22) E
se de fato rascunhou alguns aspectos da mescla cultural na formação do
Brasil, como no caso da língua ou do predomínio da passionalidade no caráter
do povo, não se deteve, como Freyre, na questão da mestiçagem. Na
verdade, insistiu sempre no caráter nostálgico e insatisfeito do português
transmigrado ao Brasil, “fronteira da Europa”, à diferença de Freyre que frisava
sempre a adaptalidade como característica marcante da atuação lusitana no
ultramar.
Se há um contraste importante entre Freyre e Sérgio Buarque, maior é
o que se dá entre eles e o Caio Prado Jr. de Formação do Brasil
contemporâneo, publicado em 1942. Sem querer desmerecer a importância
desta primeira grande síntese marxista de nossa historiografia, cujas
inovações já foram louvadas à farta, e com razão, nela se encontram páginas
de um racismo virulento, sobretudo na seção intitulada “Organização social”.
É verdade que Caio Prado atribui em boa parte o aviltamento e
degradação de índios e negros no Brasil, sobretudo à escravidão,
denunciando, pois o racismo da sociedade colonial – no que faria escola –,
mas é inegável que seu marxismo convive com a “raciologia científica” típica
do século XIX.
Não pode ser outra a conclusão sobre Caio Prado ao lermos seu juízo
de que a escravidão “incorporou à colônia, ainda em seus primeiros instantes,

36
e em proporções esmagadoras, um contingente estranho e heterogêneo de
raças que beiravam ainda o estado de barbárie, e que no contato com a
cultura superior de seus dominadores, se abastardaram por completo”
(PRADO, 1977 p. 275). Caio Prado é reiterativo: índios e negros eram povos
“de nível cultural ínfimo”, o que aviltou ainda mais a escravidão brasileira, ao
contrário da escravidão antiga, que recrutou seus cativos “em todas as partes
do mundo conhecido”, alguns de nível cultural superior ao dos seus amos. “O
escravo não foi nela – na Antiguidade – a simples máquina de trabalho bruto
e inconsciente que é o seu sucessor americano”, afirmou Caio Prado,
acrescentando adiante que “a contribuição do escravo preto ou índio para a
formação brasileira é, além daquela energia motriz, quase nula”.
Desnecessário citar mais trechos que, na verdade, rivalizam entre si na
eloquência da desqualificação dos povos submetidos à escravidão: povos que
Caio Prado desqualifica um pouco por causa da escravidão, outro tanto pela
inferioridade cultural e racial que lhes atribui de antemão.
O contraste entre Caio Prado e Gilberto Freyre é, portanto, radical e
desconcertante, se lembrarmos ter sido o primeiro, um militante de esquerda
dos mais lúcidos e notáveis e o segundo, um homem de posições políticas
muito discutíveis, para dizer o mínimo. Mas não resta dúvida de que, política
à parte, enquanto Gilberto Freyre abriu caminho para se pensar a
originalidade da cultura brasileira, Caio Prado não fez senão reiterar
preconceitos antigos. Suas posições, exceto pelo fato de se combinarem com
uma posição crítica de inspiração marxista, não constituem novidade alguma
em relação ao que se escrevia, desde o século XIX, sobre a má progênie do
povo brasileiro – posto que mestiça.
O reconhecimento do pioneirismo de Gilberto Freyre, sua sensibilidade
e acuidade na interpretação da cultura brasileira em perspectiva histórica, não
implicam em isentá-lo de críticas. Não que eu vá cansar o leitor com a
repetição de que Freyre criou o mito da democracia racial, de que seu método
era intuitivo, de que deduziu da escravidão doméstica da casa-grande o
padrão adocicado do escravismo colonial – o que muitos já fizeram, muitas
vezes com razão, outras nem tanto. Haveria críticas mais pertinentes a fazer
no que toca ao interesse deste artigo em particular.

37
Uma delas provém do que escreveu o brasilianista inglês Charles Boxer
– autor, dentre outros livros, de O império colonial português –, que forneceu
modelo totalmente oposto ao de Freyre no tocante à tolerância racial.
Examinando os estatutos portugueses de “limpeza de sangue” entre os
séculos XVI e XVIII, bem como as ideias dos letrados portugueses no Antigo
Regime, Boxer insistiu em que os portugueses figuravam entre os povos mais
racistas da época, produzindo inabilitações e estigmas de variada sorte contra
os descendentes de judeus, mouros, índios, negros e “outras raças infectas”,
como então se dizia. É certo que Boxer se debruçou sobre os aspectos
institucionais e ideológicos da antiga sociedade portuguesa, ao passo que
Freyre se dedicou à vida cotidiana, afetividades, sociabilidades – o que explica
em boa parte a diferença entre as interpretações.
Além disso, é preciso lembrar que as “raças infectas” que aparecem
estigmatizadas no Antigo Regime português estudado por Boxer se referem a
um conceito de raça diferente do trabalhado por Freyre. No Antigo Regime se
tratava de um conceito de raça associado à linhagem, à ancestralidade, ao
sangue, ao passo que o conceito de raça a que por vezes se refere Freyre é
já um conceito biológico, herdeiro do cientificismo do século XIX. Conceito
que, por sinal, em Casa grande e senzala nunca aparece de modo absoluto,
senão articulado ou subordinado ao conceito de cultura.
Mas não resta dúvida de que, à luz dos estudos de Boxer, a
caracterização do português como vocacionalmente infenso aos preconceitos
raciais não se pode sustentar como princípio geral, como quiseram Freyre e
o próprio Sérgio Buarque.
Assim, embora Freyre tivesse razão ao insistir na importância da
miscigenação étnica para o povoamento do território luso-brasileiro, isto nada
deveu a uma suposta propensão lusa à “miscibilidade com outras raças”, mas
a um projeto português de ocupação e exploração territorial até certo ponto
definidos. Projeto que não se podia efetivar com base na imigração reinol,
consideradas as limitações demográficas do pequeno Portugal, e que
procuraria, de todo modo, implantar a exploração agrária voltada para o
mercado atlântico. A fragilidade da ideia de miscibilidade vocacional atribuída
aos portugueses esbarraria, definitivamente, na experiência de outras partes

38
do império português, regiões onde nenhuma miscigenação expressiva de
fato ocorreu, a exemplo da Índia ou da África.
Por fim, o grande problema de Casa-grande e senzala parece ser a
relação direta que Freyre estabelece entre atração sexual e tolerância racial,
como se a presença da primeira – matéria muito ligada às subjetividades –,
fosse garantia da segunda – dimensão que tem a mais ver com a cultura e
com a ideologia. É por constatar que os portugueses se sentiram sexualmente
atraídos por índias, negras e mulatas que Freyre deduz, equivocadamente, a
ausência de preconceito racial entre estes colonizadores.
Seja como for, em Freyre o africano é portador de cultura que irriga a
religião, a culinária, a linguagem, os sentimentos e tudo o mais na sociedade
colonial. O mesmo se pode dizer do índio, embora em menor escala.
O contrário, portanto, do que afirmou Caio Prado, para quem a
contribuição de um e de outro foi literalmente nula.
É sabido, no entanto, que foi esta visão de Caio Prado que, direta ou
indiretamente, prosperou na historiografia brasileira, mormente aquela
dedicada ao estudo da escravidão e do negro no Brasil. Vemo-la nos estudos
sobre a rebelião escrava dos anos de 1950-60, a exemplo de Clóvis Moura e
de Décio Freitas, autores que concebem a escravidão como absolutamente
retificadora do africano, que só readquire identidade e subjetividade na fuga e
na revolta, isto é, negando a escravidão. Encontramos aquele mesmo ponto
de vista nos estudos da chamada histórico-sociológica paulista publicados nas
décadas de 1960 e 1970, em Florestan Fernandes e seus seguidores, todos
concordes em afirmar que a escravidão reduzia o africano a um estado de
completa anomia social. (FERNANDES, 1978).
É certo que nenhum dos autores acima citados assinaria os juízos
implacáveis de Caio Prado quanto “ao nível ínfimo e bárbaro” das culturas
africanas e indígenas, empenhados que estavam em denunciar a violência da
escravidão e acentuar o racismo dela derivado. Aqueles juízos foram
suprimidos, esquecidos, como se Caio Prado não os tivesse emitido,
adotando-se apenas a ideia retificadora da escravidão, derivada do sentido
mercantil da colonização. O alvo de todos eles era sempre Gilberto Freyre
com sua visão adocicada da escravidão sem preconceitos raciais. E o

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resultado foi, no plano historiográfico, uma interpretação completamente
míope da própria escravidão e a omissão dos cruzamentos culturais
ensejados pela colonização. A miscigenação étnica ou racial ficou, como
tema, condenada ao ostracismo e ao estigma, identificada às malsinadas
posições de Freyre, que apesar de “reacionárias” politicamente não deixavam
de ser absoluta vanguarda em termos intelectuais desde os anos de 1930. O
conselho de Von Martius – que na verdade era bom conselho e foi seguido
com brilho por Gilberto Freyre – acabaria virtualmente sepultado.
Seria preciso esperar meados da década de 1980 para que nossa
historiografia mostra de que o tema da mestiçagem cultural não era em vão.
Nem tanto em relação ao índio, que praticamente não foi objeto dos
historiadores, exceto como alvo da catequese, mão-de-obra da colonização
ou inspiração do imaginário europeu. Exceto em raros trabalhos sobre guerras
indígenas contra o colonizador, o índio quase nunca foi tratado como sujeito
de nossa história, em franco contraste com a atenção que lhe dedicaram
etnólogos e outros cientistas sociais, a exemplo de Métraux, Schaden, Maria
Isaura, Manuela Carneiro da Cunha, Eduardo Viveiros de Castro e mesmo
Florestan Fernandes – mais “antropológico” ao tratar deles, nos anos de 1940,
do que dos negros, décadas depois. A miscigenação étnica ou cultural, no
entanto, permaneceu silenciada, com a única exceção, talvez, de Sérgio
Buarque de Holanda, historiador que em Caminhos e fronteiras, elaborou
texto definitivo sobre a importância da cultura indígena na formação do Brasil
– estudo que muito inspirou meu próprio estudo sobre a Santidade indígena
de Jaguaripe, irrompida no século XVI.
No tocante aos negros, os anos de 1980 trouxeram novidades. Em
franca reação à visão retificadora do africano sugerida pelos estudos das
décadas de 1960 e 1970, os historiadores buscaram mostrar o negro como
sujeito da história, protagonista da escravidão, ainda que não aquilombado,
quando não cúmplice do cativeiro. Avançou-se muito nesta linha de
investigação, a começar pelo livro de Kátia Mattoso, Ser escravo no Brasil,
que recolocou a importância do paternalismo como mecanismo de poder
senhorial e, por meio disso, negou a quase exclusividade do fator violência
como explicação do sistema escravista. (MATTOSO,1982) Indicou também a

40
importância de se estudar a África, o tráfico, as etnias, os mores, as religiões,
para se entender a conformação da cultura negra no Brasil – cultura a que
muitos chamaram de afro-brasileira.
A valorização ou descoberta da África para o estudo da escravidão e
da formação da cultura brasileira é um dos méritos da recente historiografia
sobre o assunto, o que de certo modo reabilita a obra de Gilberto Freyre,
embora as motivações e inspirações sejam hoje distintas, aparentemente, das
do mestre dos Apicucos. Mas é fato que Rebelião escrava no Brasil, de João
Reis, livro sobre a Revolta dos Malês na Bahia de 1834, praticamente
inaugura nossa moderna historiografia que, para pensar a escravidão negra
no Brasil, recorre também à história da África. O mesmo se poderia dizer de
A paz das senzalas, de Manolo Florentino e José Roberto Góes.
(FLORENTINO; GÓEZ, 1997). E ainda mais de Robert Slenes, norte-
americano e “brasileiro” a um só tempo que, em Na senzala, uma flor, decifrou
no detalhe a presença da cultura banto no cotidiano da escravidão do sudeste
brasileiro novecentista. Poderia, de fato, alongar a lista de historiadores
lançados à descoberta de nossas “africanidades”, prova inequívoca da
maturidade de nossa historiografia, neste ponto muito inspirada pelos
sofisticados estudos da bibliografia norte-americana.
O único problema é que a comparação do Brasil com os Estados
Unidos, se já rendeu e rende brilhantes estudos historiográficos, deve se
cercar sempre da maior cautela. Trata-se de uma comparação inevitável,
como sugere o autor de o Espelho do próspero – e já o título do livro sugere
o porquê –, e, sobretudo quanto à “questão racial” são histórias realmente
comparáveis. Mas é comparação mais “ideológica” do que histórica, do ponto
de vista metodológico, muito inspirada na questão das desigualdades, dos
destinos disparatados e do imperialismo do que em problemas específicos
que se prestem à comparação, sendo tantas as diferenças em relação às
semelhanças.
De todo modo, é certo que se avança muitíssimo quando a pesquisa
histórica antropológica sobre o Brasil se lança sobre o mundo dos tupinambás,
dos bantos ou dos nagôs. Mas a compartimentação, em nosso caso, oculta,
queira-se ou não, a miscigenação étnica, racial ou cultural que caracteriza

41
nossa formação histórica. Nisto, ainda hoje, nossos historiadores se afastam
de Gilberto Freyre, que estudou índios e, sobretudo africanos não para
salientar as incomunicabilidades, intocabilidades, sobrevivências ou
especificidades, “à moda norte-americana”, senão para destacar as mesclas
e metamorfoses. Mesclas culturais, metamorfoses raciais.
Nossa historiografia atual avança, é certo, no tocante à mescla cultural,
e nessa busca nossas originalidades, mas evita o tema da miscigenação
racial. Outrora, a miscigenação era abordada sem sexo, “asséptica”, como se
isto fosse possível. Hoje busca-se a mescla cultural, quando muito; a
sexualidade, um pouco. Mas predomina o silêncio sobre a mestiçagem, no
sentido o mais amplo possível, incluindo o racial. Na realidade, a ênfase nas
mesclas ou hibridismos culturais convive com a busca dos particularismos,
rivaliza com ela, à procura das recriações ou sobrevivências, sobretudo
d’África, na cultura brasileira.
Em resumo, e numa visão de conjunto, nossa historiografia avançou
muito em relação ao que propunha Martius nos anos de 1840, o que não é de
surpreender. Nas últimas décadas, pôs em cena a problemática dos
hibridismos culturais, refinando o conceito de miscigenação, introduzindo os
estudos sobre intermediários culturais ou fenômenos de mestiçagem cultural
perfeitamente afinado com o que se tem produzido na historiografia
internacional especializada. Avançou também na dimensão étnica dos
encontros e conflitos da colonização, (re) valorizando criticamente o trabalho
de antigos e modernos etnólogos, desvendando recriações de culturas na
diáspora, o que resulta em grande parte da aproximação com a antropologia
e com a historiografia norte-americana.
Persiste, no entanto, certa dívida de nossos historiadores em relação à
problemática da miscigenação racial deflagrada desde nosso primeiro século.
Dívida ou omissão derivada, como disse de certo mal-estar causado pela ideia
de “democracia racial” sugerida por Gilberto Freyre, ao que se poderia
acrescentar a carga estigmatizante que pesa sobre o conceito de raça, tão em
voga nas primeiras décadas do atual século, cuja aplicação histórica em
políticas de segregação ou mesmo extermínio é por demais conhecidas em
várias partes do mundo. Dívida ou omissão causada pela convicção oposta à

42
de Freyre, ou seja, a de que a escravidão colonial “criou” o racismo que existe
entre nós até hoje, camuflado ou explícito, sem que seja ele estudado nas
suas origens e sem que se eleja a miscigenação racial como tema legítimo de
investigação. O constrangimento maior, entre os historiadores, parece residir
na problematização do conceito de raça.
Mas se o conceito de raça for tomado não como fundamentalmente
biológico, à moda do século XIX e inícios do XX, senão como social e
ideologicamente construído. Conforme nos sugere Lilia Schwarcz, “talvez seja
possível superar os constrangimentos que a matéria tem causado no âmbito
dos historiadores”. (SCHWARCZ, 2005 p.17)
Uma tal opção implicaria retomar, antes de tudo, a problemática do
racismo ou dos racismos construídos e vulgarizados na sociedade colonial.
Não o racismo ingenuamente associado à escravidão e ao “preconceito de
cor”, como muitos outrora afirmaram, na esteira de Caio Prado Jr. (ele, que
denunciava o racismo colonialista, mas afirmava a inferioridade das culturas
não europeias). Nem seria o caso de pensar o racismo dos séculos XVI ou
XVII à luz do racismo biologizante do século XIX, pelo evidente anacronismo
que implicaria semelhante opção. Devo dizer, aliás, que a impertinência óbvia
do conceito biológico de raça no Antigo Regime não significa jamais admitir a
ausência de racismo nos tempos coloniais, nem deve inibir estudos e
reflexões sobre o assunto. Basta relembrar os estudos de Boxer, entre outros,
que apontam para a existência de um conceito de raça ligado ao sangue e à
ascendência, conceito consagrado nos estatutos ibéricos de “limpeza de
sangue”, que só foram abolidos no Brasil em 1824, para que se confirme a
relevância da questão nos estudos sobre a sociedade colonial. Diria mesmo
que nisso deve residir a principal objeção à interpretação de Gilberto Freyre
sobre nossa antiga sociedade escravocrata, sem prejuízo da miscigenação
cultural e racial que Casa-grande e senzala tão bem realçou em nossa
história.
A revalorização da questão racial na história da colonização portuguesa
do Brasil permitiria, ainda, discutir aspectos importantíssimos da estratificação
social e de suas representações nos primeiros séculos de nossa história. Isto
porque, se não chegamos a possuir uma estratificação racial à moda do

43
México, por exemplo – onde no século XVIII filho de castiga com espanhol
tornava a ser espanhol, dentre quatorze tipos de mestiçagem que jogavam
papel importante na escala de privilégios e estigmas da época –,não foi
desprovida de significado, entre nós, a classificação dos indivíduos conforme
sua ascendência: mamelucos, pardos, mulatos, pardos, crioulos, boçais,
mouriscos, cristãos novos. A ascendência de sangue, mais do que a cor,
possuía importância capital na vida cotidiana da colônia, embora a cor e as
posses do indivíduo, maiores ou nenhumas, jogassem também o seu papel.
Da longevidade de tais representações dá testemunho nossa vasta
bibliografia sociológica. E das transformações que sofreu ao longo do século
XIX, para retornarmos à história, basta ler o livro de Hebe Mattos, que põe em
xeque o papel decisivo da cor na sociedade brasileira de fins do século XIX,
sem deixar de problematizá-la – e muito – em As cores do silêncio.
É caso de repensar, portanto, na virada do milênio que se aproxima, a
contribuição de Gilberto Freyre. Autor que, a despeito de generalizações
abusivas, intuições subjetivas e outros falsetes, pôs em cena a miscigenação.
Miscigenação sexualizada, racial e cultural a um só tempo, questão chave da
história do Brasil. Mas é caso de retomar também o seu oposto exato, o inglês
Charles Boxer que, sem negar a miscigenação racial, étnica ou cultural, pôs
em cena os preconceitos raciais d’outrora, suas regras, protocolos e etiquetas.
Não há porque fugir o tema tão crucial, refugiando - se os historiadores no
estudo de culturas étnicas e nos fenômenos de mescla cultural, temáticas de
suma relevância, mas que não esgotam o assunto. Temática proposta, talvez
sem querer – e mal posta que seja – por von Martius, há mais de um século.

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