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ILUSTRE SENHOR(A) DIRETOR(A) DO DEPARTAMENTO DE

FISCALIZAÇÃO - SMU - COMARCA DE CURITIBA – PR

Auto de infração nº 1273

MUNIKI FRANCYELLY NORONHA GONÇALVES,


brasileira, casada, portadora da cédula de identidade 8472284-7, CPF
048.873.299-97, residente na Avenida Dorival Caimi nº 19433, bairro Itapuã,
município de Salvador – BA. Não conformada com o auto de infração acima
referido, vem, respeitosamente apresentar recurso administrativo, pelos motivos
de fato e direito a seguir expostos.

I. Dos fatos

Na data do dia 27 de maio de 2021, no final de período


vespertino na localidade da rua Baltazar Carrasco dos Reis no bairro Rebouças
em Curitiba, ocorria em ambiente fechado e controlado a realização de bingo,
local no qual se encontrava Muniki Noronha como simples participante e usuária
do serviço prestado no local.

No referido lugar, muito embora não fosse devidamente


registrado a realização da atividade, em vista das ocorrências sanitárias mundiais
o local contava com espaçamento entre as mesas e distribuição de álcool em gel
espalhados no ambiente, todo em prol da segurança das pessoas presentes e em
razão de adoção de medidas de combate a covid-19.
Ocorre que para a surpresa de todos, a polícia militar adentrou
o local para realização de diligência em combate a covid-19 alegando
aglomeração, deixando todos os presentes detidos até a identificação pessoal de
todos ser concluída além da aplicação de multas generalizadas. Procedimento
esse que se traduziu na detenção de todos os presentes por horas até a conclusão
da diligência.

Ocasião essa que ocorreu a lavratura do auto de infração aqui


questionado em desfavor da autuada que não contribui em nada para qualquer
ato que efetivamente gerasse risco a saúde pública.

II. Do Direito

1. Preliminar

A presente defesa é tempestiva, vez que se encontra


interposta dentro do prazo estipulado nos autos de infração, fundamentado na
legislação municipal nº 15.799 de 2021.

Em primeiro lugar deve-se pontuar que o embasamento para


a estipulação de medidas restritivas nas atuais legislações, frente a necessidade
de combate ao vírus covid-19, se traduz na retirada de atividades de seu devido
funcionamento com alegação de evitar aglomeração de pessoas, entretanto sem
planejamento de impacto econômico ou psicológico a longo prazo. Não sendo
levanto pontualmente os danos que a restrição excessiva causa nos cidadãos.
Quando do contrário, há limitação e imposição de medidas que a ciência prova
relação com a redução dos riscos de contaminação do referido vírus, com o
distanciamento social, usos de máscaras e contínua utilização de álcool em gel
como higienizador

Vale pontuar que aqui não se discute os sérios danos


comprovados que a circulação que o vírus traz a sociedade, mas o ato impugnado
na realização pratica daquilo que se alega defender.
Portanto, o ato de contenção com controle de pessoas, o
distanciamento e uso de máscaras está além de comprovado cientificamente e
exigido através de decretos e legislações afins, posto em prática pela sociedade
em geral, incluindo no local citado, onde o ocorrido aconteceu e não houve
qualquer observância dos agentes no local que empreenderam multas.

Em segundo lugar há que se apontar a ausência de nexo de


causalidade entre os riscos da exposição de pessoas a contaminação do vírus
com a presença da autuada aqui defendida no local que em nada fez para gerar
grave risco a saúde pública bem como também não possuía qualquer tipo de
relação com a gerência do local.

2. Do Mérito

Imperioso destacar que a presença da autuada no local se


restringia apenas como usuária da atividade do local, não configurando, portanto,
como fornecedora ou exploradora da atividade de jogo de azar tipificada no art.
50 da LCP. Dessa forma, bem como não haveria possibilidade de enquadrar a
usuária como praticante da contravenção penal, também não há fundamento em
atribuir e exigir multa por descumprimento de decreto municipal senão ao
responsável legal do local.

Vale destacar ainda que muito embora a atividade praticada


no espaço não esteja devidamente regulamentada, havia total uso das medidas
de segurança e contenção da disseminação do vírus. Tanto que o local contava
com distanciamento entre mesas, distribuição de álcool em gel, exigência do uso
de máscaras, controle de pessoas e uso de medidor de temperatura corporal para
vedar entrada de indivíduos que apresentasse sintomas, quer segue abaixo fotos
do local como prova:
Portanto, descabível atribuição de multa por aglomeração a
pessoa que não se trata de responsável pelo ambiente e não gerou qualquer tipo
de risco à saúde pública, visto que a autuada apenas se encontrava no local e
seguiu todos os protocolos de segurança que ali se faziam presentes.

Outro assim, é totalmente inválido o auto de infração que é


exatamente igual aos demais aplicados sem qualquer distinção, destinados de
igual modo a todos os presentes. Destacado por fim, total descabimento de
princípios de atos da administração pública com ausência de razoabilidade,
deixando de considerar cada caso separadamente, além da proporcionalidade
inexistente, havendo, portanto, lesão a legislação pátria com previsão no art. 2,
VI e IX da lei n 9.784/99, conforme texto:

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros,


aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público
e eficiência.
(..)
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de
obrigações, restrições e sanções em medida superior
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;
(..)
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar
adequado grau de certeza, segurança e respeito aos
direitos dos administrados;

Dessa forma, como resultado da desproporção na aplicação


das multas pelas autoridades que se fizeram presentes, se fez na lavratura
idêntica dos autos de infração a todos os presentes, com valor aviltante de
5.000,00 (cinco mil reais). Não havendo anteriormente qualquer tipo de
orientação ou ainda alguma desobediência da autuada antes do receber o ato de
infração em mãos com valor acima de qualquer possibilidade fática de ser pago,
fugindo da realidade econômica pessoal da mesma considerando ainda a atual
situação econômica de todos os cidadãos presentes, bem como o resto da
sociedade que sentem os impactos econômicos da pandemia. Sendo dessa
forma, a atitude discricionária totalmente desconexa com os princípios que
limitam a atuação da administração pública em quaisquer de seus atos.
Como prova da aplicação de multas idênticas e todos os
presentes sem qualquer tipo de apuração de responsabilidade senão a pura
tentativa de impor valores para arrecadação de forma inválida, conforme as
próprias autoridades informaram a impressa local, segue:

(https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2021/05/27/fiscaliza
cao-flagra-120-idosos-em-bingo-clandestino-em-curitiba.ghtml)
Por fim, seguindo todo o fundamento de direito acima
exposto. Ressalta-se que conforme se mostrou ausente nos autos de infração
qualquer prova de nexo de causalidade entre a presença da autuada em
aglomeração no local e risco a saúde pública, assim como a mesma não se trata
de responsável do local, assim, infundado os autos aqui enfrentados.
A autuada em nada contribuiu para danos ao interesse
público, bem como também não se mostra reincidente nesse tipo de prática,
sendo apenas uma usuária que teve sua liberdade restringida por horas enquanto
as autoridades realizavam diligências no local para ao final haver entrega de
multa aviltante que foge totalmente da possibilidade econômica da mesma.

III. Conclusão

Diante de todo exposto, espera e requer que seja acolhida a


presente defesa, cancelando-se o auto de infração lavrado.

Termos em que
Pede deferimento.

Curitiba, 05 de junho de 2021.

Muniki Francyelly Noronha Gonçalves

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