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À SUPERINTENDÊNCIA DO DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO

– DETRAN/BA

AIT (Auto de Infração de Trânsito): 0010585314

VALÉRIO ARBEX HERNANDES, brasileiro, casado, inscrito no CPF nº


104524168/76, RG nº 18.469310, Carteira nacional de habilitação nº 04118333136,
residente e domiciliado à Rua Praia da Espera, nº3, Rua Oceano Pacífico, 18CD, Praia
da Esper, Centro Itacimirim, Camaçari/BA; por seu advogado infra-assinado, conforme
procuração anexa, à presença de Vossa Senhoria, apresentar, consubstanciado na Lei
9.503/97

DEFESA PRÉVIA

Em face da Autuação de infração de trânsito realizada pelo agente de desta Autarquia,


no dia 09/04/2023, às 21h56min, à Av. Orlando Gomes, sentido Paralela, Salvador/BA,
conforme Auto de Infração de Trânsito em epígrafe, tendo em vista que, até a presente
data, não foi enviada qualquer Notificação de Infração de Trânsito (NAI), como deveria
ter sido conforme o trâmite processual de praxes.

Vem nessa oportunidade, data máxima vênia, não concordar com a referida autuação, e
requerendo, que seja elidida, conforme os fatos, fundamentos a seguir expostos.

II- DOS FATOS E FUNDAMENTOS

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O requerente, no dia 09/04/2023 – Domingo de Páscoa –, foi autuado, nos termos do art.
165- A do CTB, por ter se recusado a utilizar o etilômetro (bafômetro), conhecido
popularmente como teste do bafômetro.

Ocorre que no dia supramencionado, o Notificado estava voltando para casa, pois estava
na residência de sua mãe celebrando o almoço do domingo de Páscoa, e no caminho
deparou-se com a blitz da polícia de trânsito às 21h56min, na Av. Orlando Gomes,
sentido Paralela.

Sendo assim, o agente de trânsito mandou o recorrente encostar, pediu a CNH e o


documento do veículo, que foi apresentado sem oposição. Todavia, no momento da
abordagem, a autoridade policial perguntou se o condutor havia ingerido bebida
alcoólica nas últimas 24 horas, ele prontamente afirmou que tinha ingerido apenas
uma taça de vinho na hora do almoço, pois era um Domingo de Páscoa.

Neste momento, o Notificado questionou se haveria alguma alteração no equipamento,


mesmo o Notificado tendo ingerido apenas uma taça de vinho na hora do almoço (mais
de 06 horas antes de ser parado pelo agente).

A autoridade policial informou que seria bem provável, porém, com uma mínima
alteração que não haveria problema algum, não existe mais limite no bafômetro, mas, há
uma margem de tolerância de 0,04 mg/L devido a possíveis erros no equipamento.

Após a resposta duvidosa do Agente de trânsito, quanto possíveis erros no


equipamento, e principalmente em razão de ser conhecimento público de que saímos
há pouco menos de 02 meses de um estado de calamidade pública, em nível pandêmico,
inclusive publicado diante do Decreto 06/2020; o requerente viu-se inseguro e
temente à sua saúde e principalmente à sua vida – pois, é hipertenso, e não queria

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se contaminar com COVID-19 e com as novas CEPA do citado vírus.

Preocupado do referido cenário, o requerente, visando a integridade da sua saúde,


questionou o agente de trânsito, acerca da aferição do referido aparelho e se havia selo
do IMETRO, o que o agente de trânsito entendeu como uma afronta, afirmando que
estava ali em prol da sociedade.

No entanto, o defendente pediu desculpas, mas, respondeu-lhe educadamente e


tratando-o com urbanidade, que não havia afronta e sim um direito que lhe assistia.
Como não houve entendimento e a agente policial não quis apresentar o selo, o
defendente propôs ir para uma clínica ou hospital mais próximo. Todavia, negado pelo
agente de trânsito, o qual lavrou o auto de infração.

Insta consignar, que ainda que a recente modificação da legislação indique que a
simples recusa em efetuar o teste constitui infração, não deve prevalecer este
entendimento, uma vez que incompatível com a legislação vigente.

A norma extraída do artigo o em debate visa proteger o cidadão, e o próprio motorista


contra acidentes que gerem transtornos e acidentes com vítima fatal. Para tanto, é
necessário que haja combinação de determinados elementos para que seja configurada a
infração.

Não é razoável punir o condutor/recorrente se, após a verificação pessoal do agente de


trânsito, restar comprovado que o condutor não apresenta sinais de ter ingerido
bebida alcoólica ou está sob a influência do álcool ou substância psicoativa e para
tanto, o agente policial, se realmente percebesse que o condutor não estava apto a
conduzir o veículo, era dever poder/ dever do agente público encaminhar o infrator
para uma delegacia mais próxima, o que não ocorreu.

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É cediço que a interpretação literal, aplicada isoladamente, é insuficiente para atingir o
“espírito da Lei”. Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto
no art. 1º, § 2º, CTB c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o agente atuador,
através da fiscalização, um dos tripés que norteiam este ramo do Direito (educação –
engenharia – fiscalização), deve trabalhar para que haja a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio.

Malgrado, não se pode chegar ao exagero de punir quem não oferece nenhum
risco, como no caso em tela, pois, se oferecesse, não seria liberado e teria sido
enviada a notificação referente a conduta a qual o requerente está se defendendo.
Em que pese a autuação constituir um ato administrativo vinculado, é necessário que
seja observado o caso concreto para determinar a presença ou não do risco que o
condutor ofereça naquele determinado momento.

A jurisprudência já se pronunciou no sentido de que a quantidade irrelevante de álcool,


incapaz de atingir a capacidade psicomotora do indivíduo, não devem ser punidas. Neste
sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. INFRAÇÃO DE


TRÂNSITO. RECUSA EM REALIZAR TESTE DE ALCOOLEMIA
(BAFÔMETRO). APLICAÇÃO DE MULTA E DE SUSPENSÃO DO
DIREITO DE DIRIGIR. SENTENÇA QUE DENEGOU A SEGURANÇA.
IRRESIGNAÇÃO DO IMPETRANTE. O impetrante foi autuado em
fiscalização conhecida como Lei Seca por estar conduzindo veículo e ter-se
negado à realização do teste de alcoolemia. Denegada a segurança, sob o
fundamento de falta de provas capazes de elidir a presunção de legalidade e
legitimidade de que gozam os atos administrativos, apelou o autor. A recusa
em submeter-se ao teste do bafômetro não implica, por si só, em inexorável
reconhecimento de estado de embriaguez, sob pena de violação da vedação a
autoincriminação, do direito ao silêncio, da ampla defesa e do princípio da
presunção de inocência. Se o indivíduo não pode ser compelido a se
autoincriminar, nemo tenetur se detegere, não pode ser obrigado a efetuar o
referido teste do bafômetro, competindo à autoridade fiscalizadora provar a
embriaguez por outros meios de modo a aplicar as sanções previstas pelo

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artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro. Não há qualquer menção sequer
sobre a tentativa de realização de prova indireta que pudesse atestar o estado
de ebriedade do condutor no momento da abordagem. Concessão da
segurança ao impetrante, ora recorrente, para que o impetrado se
abstenha de apreender a sua carteira de habilitação, devolvendo-lhe o
prazo legal para apresentação de recurso, com o devido contraditório e
ampla defesa. CONCESSÃO DA ORDEM. RECURSO CONHECIDO e
PROVIDO (0417843-17.2014.8.19.0001 – APELAÇÃO; Des (a). CEZAR
AUGUSTO RODRIGUES COSTA - Julgamento: 14/02/2017 - OITAVA
CÂMARA CÍVEL).

Importante à observação de que a não autoincriminação está prevista no Pacto de


São José da Costa Rica, que possui status de supralegalidade, devendo prevalecer
sobre legislação ordinária que o contrarie.

Por fim, não se pode esquecer que o requerente JAMAIS colocaria a sua vida e saúde
em risco, assoprando um equipamento que pode contaminá-lo e inclusive tirar até a sua
vida com transmissão de um vírus, especificamente do COVI-19 e as suas variantes.

Ademais, não houve, no momento da abordagem e realização do teste, a


apresentação do certificado de calibração do etilômetro ou qualquer selo do
INMETRO, sendo impossível verificar seu exato funcionamento. A preocupação
merece guarida, tanto que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º., assim
estabelece:
Art. 4º. O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:

I - ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;

II - ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em serviço e


anual realizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia - INMETRO ou por órgão da Rede Brasileira de Metrologia
Legal e Qualidade - RBMLQ;

Parágrafo único: do resultado do etilômetro (medição realizada) deverá ser


descontada margem de tolerância, que será o erro máximo admissível,
conforme legislação metrológica, de acordo com a “Tabela de Valores
Referenciais para Etilômetro” constante no Anexo I.

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De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do exame
não preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o
comportamento negativo por parte do motorista.

É de bom alvitre que, para haver consonância entre cidadão e à administração, esta
última tem o poder/ dever de informar ao cidadão a clareza dos seus atos dentro da
proporcionalidade assim como preceitua a LIMPE (Legalidade, Impessoalidade,
Moralidade, Publicidade e Eficiência) com supedâneo artigo 37 caputs da CF/88; ou
seja, publicizando seus atos, com eficiência, dentro da moralidade e legalidade em
estricto sensu, fazendo tudo aquilo que a lei determina.

III – DOS PEDIDOS

Assim, diante dos fatos narrados, percebe-se que não houve a verificação indubitável de
que o Notificado estava sob efeito de álcool que ensejasse na autuação do art. 165-A.
Logo, requer o deferimento da presente defesa com a consequente revogação dos pontos
na carteira do Notificado e a nulidade do auto de infração em epígrafe.

Protesta, ainda, pela produção de todos os meios de provas admitidos em direito e


cabíveis à espécie, em especial a pericial e testemunhal.

Termos em que,
Pede Deferimento.

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Salvador/BA, 23 de maio 2023.

Eladio Lasserre Ianna Duques


OAB/BA 15.906 OAB/BA 62.351

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