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AIT Nº A000859572
ARTIGO 165 CTB
SENHOR PRESIDENTE,
I. DOS FATOS
No dia 09/06/2018, fui abordado por um agente do Detran Acre para realizar exame
de alcoolemia.
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II. DO DIREITO
Porém, a respectiva tipificação não abarca minha conduta no fatídico dia. Nada mais
preciso do que logo na frase inaugural do referido artigo, delimitarmos a conduta
típica com os seguintes dizeres:
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Eis aqui a configuração do que se constitui no Direito como conduta atípica, eivada de
vício insanável, pois não há nexo de causalidade, uma vez que não recusei
absolutamente a nada, tampouco foi solicitado a realização do teste tratado. Pelo
contrário, cumpri com todos os procedimentos solicitados pelo Senhor Agente.
Em que pese o nobre saber jurídico do Agente da Autoridade de Trânsito que elaborou
o Auto de Infração e da Autoridade de Trânsito que expediu a Notificação de
Autuação, tal não pode e não deve prosperar, senão vejamos:
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Após a lavratura do auto de infração pelo agente, por ter, em princípio, cometido uma
infração de trânsito, o cidadão dispõe de alguns remédios administrativos para exercer
sua defesa contra a aplicação das penalidades previstas.
Dispõe o CTB, da possibilidade de recurso em segunda instância, conhecidamente via
de Recurso a JARI. Nessa fase o Código estabelece que se o recurso não for julgado
em 30 dias, poderá ser concedido o efeito suspensivo.
Na prática significa que se a pessoa optou por recorrer à J.A.R.I. sem pagar, não
poderá ter cobrada a multa enquanto pendente o julgamento.
Portanto, requer-se a aplicabilidade do efeito suspensivo na autuação aplicada em
desfavor , conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro.
Eis aqui a configuração do que se constitui no Direito como conduta atípica, eivada de
vício insanável, pois não há nexo de causalidade, uma vez que e não me recusei a
nada, tampouco foi solicitado a realização do teste tratado. Pelo contrário, cumpri
com todos os procedimentos solicitados pelo Agente.
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Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece em breves linhas sobre tais princípios,
mostrando que:
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José Afonso da Silva em brilhantes linhas nos ensina que o devido processo legal está
baseado em três princípios, quais sejam: o acesso à justiça, o contraditório e a
plenitude de defesa.
Caso tratar-se de mero procedimento fica afastada por simples dedução a observância
do devido processo legal.
Demais disso, na Constituição Federal do Brasil em seu Art. 5o, resta consignado
ainda que:
É válido, relembrar o que diz os termos do artigo 8°, no (com destaque para a alínea
“g”), da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969), também conhecida
por “Pacto de São José da Costa Rica”, onde:
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A lei é clara, com respeito, ao desfazimento dos atos eivados de ilegalidade dá-se o
nome de invalidação ou anulação. Esta nada mais é que a restauração da ordem
jurídica, tendo em mira o princípio da legalidade e a indisponibilidade do interesse
público. Conveniente, nesse lanço, darmos a palavra à insigne professora da
Universidade de Fortaleza, CLARISSA SAMPAIO SILVA (27), para que reforce
nosso pensamento:
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Destarte, a expressão latina “In dubio pro reo” que significa literalmente na dúvida,
fica-se a favor do réu, é um dos pilares do Direito e está intimamente ligada ao
princípio da legalidade.
Portanto na dúvida não é a causa/motivo de se absolver o réu (nesse caso o ‘suposto’
infrator de trânsito) mas, ao contrário, é a falta elementos de convicção que
demonstrem ligação do acusado com o fato delituoso é que geram, no julgador, a
dúvida acerca do nexum entre materialidade e autoria.
Nesse passo, solicito que Vossa Senhoria, se imagine no meu lugar, como cidadão
recorrendo desta punição injusta e eu, como Julgador.
Qual atitude você acha que eu tomaria como Julgador? Com certeza, a da Justiça, a da
legalidade, a de não punir um inocente que demonstra com sua limitada capacidade de
produzir provas que não estava embriagado e dirigindo veículo automotor.
Agora que Vossa Senhoria conhece a realidade dos fatos e, tem provas suficientes do
não cometimento da presente infração de trânsito, o mais justo a ser feito é não deixar
prosperar a presente e injusta acusação a que se submete.
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condutor aos testes e exames de alcoolemia e, por esta razão, não seria
lícito autuar alguém pela infringência do art. 165 do CTB
simplesmente porque ele se recusou a fazer o teste.” Grifo nosso.
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Desta feita, resta claro que não há de se considerar a materialidade da minha conduta
na referida Autuação. Não há que se falar em aplicação de sanção em tais condições,
por contrariar todas as disposições legais de referência, razão pela qual não se opera
outra medida necessária senão o cancelamento da autuação ora aqui tratada.
(…) Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma
qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.
É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme
o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra
todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”.
(2000, pp. 747 e 748).
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Ainda que se considerasse que o nemo tenetur se detegere não tem aplicação no
campo administrativo, o que não se sustenta a partir da solar constatação de que nossa
Constituição estende o Devido Processo Legal, no bojo do qual se encontra o referido
princípio, aos processos administrativos (art. 5º, LV, CF), não se poderia esquecer que
para além da infração administrativa em casos de embriaguez ao volante, estamos ante
a real possibilidade de responsabilização criminal do suposto infrator (artigo 306,
CTB, sem falar do novo artigo 291, § 1º, I, CTB).
Este princípio é um instituto previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal
de 1988 e refere-se a um tipo de garantia processual que se atribui ao acusado,
oferecendo a ele a prerrogativa de não ser considerado culpado por qualquer ato
delituoso até que a sentença penal condenatória transite em julgado, garantindo ainda
ao acusado um julgamento justo que respeite à dignidade da pessoa humana.
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De tal forma, o condutor não poderá sofrer quaisquer sanções administrativas por
causa da recusa em realizar testes e exames, tendo em vista que na ausência de prova
da sua efetiva utilização de substância psicoativa, há de prevalecer a presunção de
inocente.
Nenhum indivíduo pode ser obrigado, por qualquer autoridade ou mesmo por um
particular, a fornecer involuntariamente qualquer tipo de informação ou declaração ou
dado ou objeto ou prova que o incrimine direta ou indiretamente.
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Vejamos o que dispõe Convenção Americana de Direitos Humanos – CADH (art. 8º,
2, “g”) :
[…]
E o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos – PIDCP (art. 14, 3, “g”):
Artigo 14:
[…]
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Não obstante, todo exposto conclamado, trazemos algumas decisões judiciais que
demonstram como o judiciário tem decidido nestes casos:
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Estas decisões judiciais já têm sido acolhidas também na esfera administrativa, onde
se tem conseguido anular um número cada vez maior de infrações onde não há
qualquer registro de sinal ou sintoma de embriaguez. Tais decisões têm sido
embasadas também em um princípio válido no direito brasileiro que é chamado de
Nemo tenetur se detegere (nome em latim), ou também conhecido como princípio da
não autoincriminação. Este princípio é consagrado em nossa Constituição Federal no
art. 5º, mas sua previsão é feita de forma expressa no Pacto de São José da Costa Rica,
no artigo 8º, inciso 2, alínea g.
Assim, podemos concluir que a matéria sobre a lei seca apresenta várias nuances que a
tornam um dos pontos de nossa legislação que mais sofreu alterações nos últimos
anos. Não só isso, apesar das inúmeras reformas ainda pairam muitas dúvidas sobre
sua aplicabilidade.
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dispositivo não dispõe quantas recusas devem ocorrer para a configuração da infração,
não existindo nem na doutrina um entendimento consolidado sobre o tema.
Veja, não me recusei a realizar qualquer exame clínico ou outro procedimento que
atestasse meu suposto estado de embriaguez, este se recusou apenas em ser submetido
ao exame do etilômetro. É sabido que os agentes administrativos devem pautar seus
atos segundo os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Dessa forma, se
torna desproporcional me responsabilizar de forma tão gravosa por uma conduta que a
própria legislação deixa margem a dúvidas e que para uma parte dos doutrinadores vai
de encontro contra a Constituição Federal.
Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º,
do Código de Trânsito Brasileiro c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituição Federal, o
agente autuador, através da fiscalização, deve trabalhar para que haja a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio. Todavia, não se
pode chegar ao exagero de punir quem não oferece nenhum risco, como no caso em
tela.
Por esse motivo, e seguindo o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade,
pautado pelos prejuízos que posso sofrer caso seja imputado a infração prevista no art.
165. Entretanto, requeiro a anulação e arquivamento do auto de infração.
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e) Caso não seja esse entendimento desta Junta de Recurso de Infrações, que seja
acolhida a presente defesa em desfavor da notificação da autuação de infração de
trânsito, na forma das razões apresentadas, juntamente com as documentações anexas,
com o seu regular processamento, apreciação, e ao final o acolhimento das
preliminares nesta peças aventadas, de acordo com Código de Transito Brasileiro,
para julgar inconsistente o AIT de número A000859572 , gerando a correta e legal
anulação do Auto de Infração ora recorrido, com a consequentemente determinação de
cancelamento da penalidade e, posterior arquivamento do mesmo;
f) Requer também que seja respeitada a Constituição Federal e o Pacto de São José da
Costa Rica, onde Vossa Senhoria apresente uma decisão legalmente fundamentada;
para que, no caso de não acolhimento do pedido mencionado na alínea “A”, esta servir
de subsídios para uma ‘possível’ correção da ilegalidade e dos atos de quem
administrativamente tem obrigação de corrigi-los (SÚMULA 473 STF), via Poder
Judiciário, de maneira a fundamentar o não acolhimento de maneira técnica e
precisa.
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AVERALDO AZEVEDO DE OLIVEIRA
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