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I -DAS ALEGAÇOES
A penalidade aplicada aos casos é demasiadamente onerosa e somente pode ser imposta
mediante prova inequívoca.
A rigor, tendo nos autos inúmeras provas que forçam concluir pela inexistência de
embriaguez, deve esse Emérito Julgador determinar a cessação de todas as restrições
administrativas como a apreensão da CNH, inclusão do nome no Cadastro Nacional de
Pessoas Impedidas de Dirigir e qualquer penalidade administrativa, como suspensão do
direito de dirigir veículo automotor ou freqüência em programa de reciclagem, em
virtude de ter sido flagrantemente desrespeitado os direitos constitucionais legítimos,
princípios norteadores de todo e qualquer direito.
II - DA ILEGALIDADE
A rigor, não havia bebido naquela hora ou momentos antes. O resultado do exame
causou estranheza ao condutor que não havia ingerido quantidade de álcoolde forma
alguma, de modo que é crível o equívoco da aferição do aparelho medidor de
alcoolemia, o que não é raro de acontecer.
O exame alcoólico foi realizado por insistência dos agentes envolvidos, de modo que o
recorrente tinha ampla e total convicção de seu estado de sobriedade, o que nos leva a
concluir pela existência de vício no equipamento utilizado.
Tem-se ouvido nos noticiários de rádio, televisão e jornal que passaria a ser obrigatório
que o condutor se submetesse ao “teste do bafômetro”. Discordo desta informação.
O art. 277 do CTB, encontra-se no Capítulo XVII, que trata das Medidas
Administrativas; não se encontrando no Capítulo XV, que é destinado a estabelecer os
deveres e as obrigações impostas aos condutores e proprietários de veículos. Assim, não
se constitui em norma dirigida a estes, mas sim em determinação de procedimento
funcional aos agentes fiscalizadores.
Entendo, assim, que a Lei criou um dever para o agente da autoridade de trânsito que,
ao atender a um acidente ou ao fiscalizar um veículo, suspeitar que alguém dos
condutores encontra-se em estado de embriaguez, deverá determinar ou providenciar
para que um dos exames enumerados no referido artigo seja realizado.
A disjuntiva “ou”, prevista na parte final do art. 277, revela uma enumeração de exames
que poderão ser realizados naquele que se encontrar sob a fundada suspeita de haver
ingerido bebida alcoólica.
Àqueles que entendem que a norma contida no art. 2º é dirigida aos condutores dos
veículos e não à vítima fatal, esclareço tratar-se de norma inconstitucional, ofendendo
direitos e garantias fundamentais, constitucionalmente resguardados. Aos que optaram
por direcionar a referida norma às vítimas fatais, terão recorrido à interpretação literal
do texto, da qual não há como desviar.
O legislador do Código de Trânsito não quis criar esta obrigação. Um ano após a
entrada em vigor do CTB, o CONTRAN, revogando uma resolução anterior, procurou
criar uma obrigação por meio de norma administrativa.
Ademais, como bem demonstrado acima, não paira dúvidas quando a arbitrariedade
cometida pela Polícia Militar, ao constranger o condutor do veículo a se submeter a esse
tipo de constrangimento, o que é vedado pelo art. 5º, inciso II da Constituição Federal
de 1988.
Contudo, no Código Brasileiro de Trânsito não há comando legal que determine que o
infrator esteja obrigado a abrir sua boca e permitir que se introduza nela – ou ele próprio
o faça – qualquer instrumento destinado a medir-lhe teor alcoólico.
O cidadão não está obrigado a colaborar com a autoridade policial no que poderá
reverter-lhe em evidente prejuízo processual: a produção antecipada de provas sem
defesa.
Dir-se-ia que o infrator poderia ser preso por desobediência (art.330 do Código Penal),
por recusar-se a submeter-se ao exame de bafômetro.
Mas não é o caso. O tipo penal citado tem como pressuposto que a ordem dada pela
autoridade seja legal, isto é, prevista no ordenamento jurídico. Conforme
supramencionado, esse comando legal inexiste no Código Brasileiro de Trânsito.
Além do que, é mais benéfico ser processado por desobidiência e defender-se
amplamente em juízo do que produzir prova antecipada e sem defesa na fase policial.
O princípio que embasa tal fundamento é o mesmo que se encontra estatuído no art. 5º,
LXIII, da Carta Federal: o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
“permanecer calado”, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.
Ora, se o preso tem o direito de permanecer calado, isto é, de boca fechada, quando
preso em flagrante delito, tanto mais terá direito de permanecer de boca fechada quando
lhe pedirem para soprar o famigerado e irregular bafômetro.
Trata-se se princípio constitucional derivado do direito natural do cidadão, o recusar-se
a introduzir o aparelho na própria boca e soprá-la, dessa forma, assinar sua própria
sentença condenatória.
A Carta Magna de 1988 estabelece no seu artigo 5º, XLIX, que é assegurado aos presos
o respeito à integridade física e moral.
O conceito de estar preso é suficientemente abrangente para incluir quem está privado
de seu direito de ir e vir, ainda que momentaneamente, como aquele que é “conduzido”
ao IML, por exemplo, para submeter-se a coleta de sangue para exame etílico.
Diante da recusa do “preso” de emprestar seu braço ao médico para coleta de sangue,
fico a imaginar se este ou agente da autoridade policial irá segurá-lo e, agarrado, forçá-
lo a fazer algo que não quer!
Assim, Emérito Julgador, não pairam dúvidas, quanto à inexistência de previsão legal
que obrigue o cidadão a este procedimento e nem se pode esperar dele que contribua
com a autoridade na produção de provas contra si. O próprio Código de Ética Médica
impediria o profissional de saúde de compartilhar dessa agressão aos direitos humanos
do cidadão.
Nesse mesmo sentido é a lição do ilustre Prof. Antônio Magalhães Gomes Filho: “[...]
um verdadeiro modelo cognitivo de justiça penal pressupõe não apenas que a acusação
seja confirmada por provas (nulla accusatio sine probatione), mas também o
reconhecimento de poderes à defesa do acusado no procedimento probatório,
especialmente o de produzir provas contrárias às da acusação (nulla probatio sine
defensione) [...]” (Op. cit., p.55).
Nos termos do artigo 8º, nº (com destaque para a alínea “g”), da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (1969), também conhecida por “Pacto de São José da Costa
Rica”, “Toda pessoa acusada de delito tem o direito a que se presuma sua inocência
enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem
direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas [...] direito de não ser
obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.
Assim, como bem explanado acima, não pairam dúvidas quanto a não obrigatoriedade a
submissão ao teste do famigerado bafômetro e aos exames de sangue e urina. É que tais
exames contrariam a regra de que o suspeito da prática de infração não é obrigado a
fazer prova contra si mesmo. O princípio do nemo tenetur se detegere, constante do
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque e do Pacto de São
José da Costa Rica, dos quais o Brasil é signatário e cujas regras foram incorporadas ao
ordenamento jurídico brasileiro pelos Decretos nº 592, de 06.07.92 e 678, de 06.11.92,
respectivamente, tem status de norma constitucional por força do art. 5º, parágrafo 2, da
Constituição Federal.
Com efeito, o art. 14, inciso 3, letra “g” do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos estabelece a garantia de não obrigação da pessoa acusada de “depor contra si
mesma, nem de confessar-se culpada”. E o art. 8, inciso 2, letra “g” do Pacto de São
José da Costa Rica estabelece a garantia do direito de o acusado “não ser obrigado a
depor contra si mesmo, nem declarar-se culpado”.
Decorre daí que, embora o princípio não se encontra encartado na CF, está ele inserido
dentro da categoria de norma constitucional por força do parágrafo 2º, do art. 5º da CF,
eis que, segundo prelecionamento de Ada P. Grinover et alii “todas as garantias
processuais penais da Convenção Americana integram, hoje, o sistema constitucional
brasileiro, tendo o mesmo nível hierárquico das normas inscritas na Lei Maior. Isto que
dizer que as garantias constitucionais e as da Convenção Americana “(e também do
Pacto de Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque) interagem e se completam: e, na
hipótese de uma ser mais ampla que outra, prevalecerá a que melhor assegure os direitos
fundamentais” (As Nulidades no Processo Penal, RT, 6º ed., p. 76).
Na jurisprudência, como destacam Walter Cruz Swensson e Renato Swensson Neto
(Procedimentos e prática de trânsito, Oliveira Mendes, 1998, pp. 80-81), prevalece o
ponto de vista de que nenhum exame que implique intervenção corporal pode ser feito
sem a concordância explícita da pessoa(O CONDUTOR NÃO CONCORDOU COM
TAL TESTE, MAS FOI IMPELIDO A REALIZÁ-LO). Nesse sentido de que ninguém
pode ser compelido a fazer qualquer exame que exija intervenção corporal já decidiu o
STF no HC 71371-RS, Rel. Min. Marco Aurélio.
Por essas razões, entendemos que o motorista não é obrigado a submeter-se aos testes
de alcoolemia (bafômetro, extração de sangue, exame de urina ou DNA e.g) em face do
princípio de que ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo.
V - DO REQUERIMENTO.
Isto posto, requer ao Ilmo. Sr. Diretor da JARI do Departamento de Policia Rodoviário
federal do Estado da Bahia, para que CANCELE TAL INFRAÇÃO, e a multa (cópia
em anexo) julgado insubsistente conforme preceitua o art. 281, inciso I do C.B.T, e em
razão do principio constitucional da ampla defesa e do contraditório como determina o
art. 5º, inciso LX da CF/88, bem como ninguém é obrigado a produzir prova contra si
mesmo, ainda em decorrência da ausência de previsão legal no Código de Trânsito
Brasileiro que determine que o condutor se submeta ao famigerado e irregular “teste do
bafômetro”, bem como seja carreado aos autos à copia do Certificado de Conformidade
do “ bafômetro”, como determina a Resolução do Contran de nº 81/98 e a 109/99.
Por derradeiro, seja ainda concedido o EFEITO SUSPENSIVO, na forma do artigo 285,
parágrafo terceiro da Lei Federal 9.503, de 23 de setembro de 1997.
Nestes termos
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