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FACULDADE DE TEOLOGIA, FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS

GAMALIEL
CENTRO EDUCACIONAL E CULTURAL DA AMAZONIA
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
Reconhecido pela Portaria Ministerial (MEC) n° 64 de 28 de janeiro de 2015
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O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E A VIOLAÇÃO DESSE


PRINCÍPIO COM A PANDEMIA DO COVID-19

1. A PANDEMIA E SEUS REFLEXOS NO PODER JUDICIÁRIO

A pandemia gerou reflexos negativos em todos os poderes, inclusive no Judiciário.


De tal forma, por mais que o Poder legislativo e o Poder executivo tenham se
esforçado muito para tentar amenizar os problemas que a pandemia trouxe, nada mudou em
relação ao Poder Judiciário, pois mesmo na pandemia, houve uma avalanche de demandas,
tais como ações iniciais, bem como ações de execução, seja pra cobrar, seja pra rescindir ou
seja pra revisar contratos firmados antes e durante a pandemia, sob a justificativa de que
juntamente da pandemia veio o isolamento e a paralisação de todo o comércio, e também uma
imprevisibilidade e onerosidade excessiva advindas desses acontecimentos.
A exemplo do que fora mencionado anteriormente, bastamos lembrar de todos os
contratos bancários que não puderam ser cumpridos porque muitas pessoas foram demitidas,
muitas empresas foram fechadas, os contratos de plano de saúde que por muitas vezes não
previam cobertura em caso de doença pandêmica nos contratos, os contratos de transportes
em geral, os contratos de viagens com empresas aéreas que foram rescindidos por conta do
fechamento dos aeroportos e a proibição de aglomerações por todo o mundo, os contratos de
eventos, feiras, que também tiveram que ser rescindidos por conta da determinação dos órgãos
responsáveis de saúde para que o comércio fosse completamente fechado – lock down, a
quebra de acordo judiciais homologados, seja em ação de alimentos, ação de inventário ou
divórcio, por conta da instabilidade financeira que assolou o Brasil e o mundo. Todos esses
são exemplos de inexecução contratual causados pela pandemia.
Com destaque, em meio a todo esse caos judicial que a pandemia nos trouxe, cabe
ressaltar a desenvoltura do Tribunal de Justiça de São Paulo, que mesmo em meio a pandemia
conseguiu dar continuidade em todos os seus processos que tramitam de forma eletrônica, o
que corresponde a 75% dos processos existentes no Estado. Desta forma, o Poder Judiciário
Paulista, proferiu mais de 1 milhão de sentenças judiciais e pouco mais de 300 mil acórdãos,
em um espaço de tempo de pouco menos de 3 meses. O que se torno um exemplo aos demais
Estados.

2. O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

A Constituição Federal, em seu art. 37, caput, nos traz os princípios inerentes à
Administração Pública, entre eles, o princípio da eficiência de seus atos. Logo, tal princípio
também se aplica ao Poder Judiciário como um todo, inclusive nos processos judiciais
eletrônicos.
Ademais, ainda na própria Constituição, temos o disposto no art. 5º, LXXVIII, que
trata do princípio da duração razoável do processo como um direito de todos, seja em âmbito
administrativo ou judicial.
Como dito anteriormente, a pandemia trouxe consigo uma avalanche de demandas
processuais, ocorre que houve aí um fato que deixou ainda mais congestionado o sistema
judiciário, seja ele físico, seja ele eletrônico, pois com o advento da pandemia houve a
suspensão dos prazos processuais de forma geral, o que tornou por ineficaz o princípio da
razoável duração do processo.
O que ocorreu no Judiciário foi que, mesmo nos processos judiciais eletrônicos, alguns
atos judiciais ainda continuavam sendo de forma presencial, e tais atos processuais estavam
suspensos por conta da pandemia. Atos como audiências, interrogatórios, sessões do tribunal
do júri, entre outros, ainda se faziam necessários a presença das partes de forma física, e por
conta disso, houve a necessidade da violação ao princípio Constitucional da razoável duração
do processo.
3. INSTITUTOS PROCESSUAIS VOLTADOS À CELERIDADE PROCESSUAL

Como dito anteriormente, os prazos foram suspensos, alguns atos processuais foram
suspensos. Contudo, a possibilidade de ingressar com ações judiciais não foi, e nem poderia
ter sido suspensa, pois o acesso a justiça também é princípio constitucional, e esse havia de
ser respeitado. Tal fato fez com que o congestionamento de processos ficasse incontrolável.
Em face desse problema calamitoso no Poder Judiciário, começou a se pensar em
medidas que pudessem ajudar a voltar o fluxo do andamento normal dos processos. Passou
então a aumentar as possibilidades de as audiências ocorrerem de forma remota, por vídeo
conferência. O que antes ocorria apenas nos casos de réu preso, agora podia ser observado
também em audiências cíveis e trabalhistas, bem como em audiências mais simples, como as
de conciliação ou mediação.
Ademais, passou a se buscar ainda mais por acordos extrajudiciais, estimulando cada
vez mais as partes a entrarem em acordo sobre determinado tema que já esteja em litígio, ou
seja, a ferramenta da negociação/conciliação/mediação passou a ser vista pelo Poder
Judiciário como a válvula de escape para os processos congestionados no sistema, tais
acordos ou conciliações podem ocorrer na presença do Defensor Público ou do representante
do Ministério Público, inclusive. Com isso, processos que estavam parados aguardando o
retorno dos prazos processuais que estavam suspensos por conta da pandemia, puderam ser
rapidamente sentenciados, de forma a homologar o acordo firmado entre as partes.

CONCLUSÃO

Por todo o exposto, podemos concluir que a suspensão dos prazos processuais no
judiciário nacional foi medida necessária a se tomar, por mais que tal medida esteja ferindo o
princípio constitucional da duração razoável do processo, tal medida visa resguardar um
direito bem mais importante que é o direito à vida e o direito à saúde, pois em tempos de
pandemia todos estamos expostos e passíveis de contrair o vírus do COVID-19.
A medida de suspensão também atende a um outro princípio constitucional que é o da
ampla defesa e do contraditório, pois como é cediço, durante a suspensão dos prazos
processuais, todos os outros meios de transporte estavam também com o funcionamento
suspenso, por exemplo: os aeroportos e transportes públicos, o que tornaria impossível, por
exemplo, um Advogado viajar a um outro estado ou cidade para fazer uma sustentação oral ou
participar de uma sessão de Tribunal do Júri.
Diante dos conflitos entre princípios e direitos, devemos sempre resguardar o princípio
que melhor atenda as partes integrantes de um processo judicial. Diante de conflitos entre
direitos, deve-se sempre optar por aquele que vise garantir a vida e a saúde do cidadão.

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