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Escrito por: Leandro Carvalho Alencar, especialista em Direito e Processo do Trabalho pelo
Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP, professor e advogado trabalhista.
No entanto, não são destes efeitos que falarei no presente escrito, embora de ampla
relevância. Aqui, tratarei de outra consequência no Direito do Trabalho, relacionada à
possibilidade de suspensão do prazo prescricional para ajuizamento das reclamações
trabalhistas ante às restrições de acesso à Justiça durante o período de pandemia.
O art. 7º, XXIX da Constituição Federal prevê que os créditos trabalhistas devem
ser pleiteados (exigidos) no prazo máximo de 2 (dois) anos, a contar da extinção do
contrato de trabalho – é a chamada prescrição bienal, total.
Por outro lado, o(a) credor(a) fará jus ao recebimento dos direitos decorrentes dos
5 (cinco) anos que antecederem o ajuizamento da ação trabalhista, nos termos do mesmo
dispositivo constitucional e do Enunciado nº 308, I da Súmula do Tribunal Superior do
Trabalho – é a chamada prescrição quinquenal, parcial.
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(Delgado, Maurício Godinho; Curso de Direito do Trabalho; 5ª ed.; São Paulo; LTr, 2006 – pg. 250).
IG: @alencar_leandro
No mesmo sentido, caminha a redação atual do art. 11, “caput” da Consolidação
das Leis do Trabalho, dada pela Lei nº 13.467/2017, ao dispor que:
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No mesmo intuito, os Governos Estaduais e Distrital, seguindo as orientações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, têm determinado, por
meio de decretos, o fechamento de locais que facilitam a aglomeração de pessoas, tais
como: parques, restaurantes, bares, academias, estádios de futebol, boates etc.
No mais, a realidade tem nos mostrado que o melhor “remédio” para combater o
Novo Coronavírus, no momento, é a manutenção das pessoas em suas residências,
evitando ao máximo o contato com terceiros (inclusive familiares), por mais doloroso que
seja.
O art. 5º, XXXV da Constituição Federal, inserido no Título II, “Dos Direitos e
Garantias Fundamentais”, estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Significa dizer, portanto, em breves palavras, que
o Estado, a partir do momento em que assume o monopólio da solução dos conflitos
jurídicos, deve atuar quando provocado, sendo vedada sua recusa a qualquer tipo de
litígio.
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impedimento de exercer seu direito fundamental de acesso à Justiça, com limitações
relevantes para provocar o Poder Judiciário.
Contudo, não. Dentre outros motivos, pelo fato de que grande parte da população
brasileira sequer tem acesso aos meios digitais de conversa, do tipo: e-mail, whatsapp,
skype, telegram etc. Alguns, nem à internet.
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Deste modo, seja pela impossibilidade de se deslocar à Justiça para obter o
necessário suporte, seja pelas restrições impostas pelo CNJ e pelos Tribunais ou, ainda,
pela ausência de equipamentos tecnológicos mínimos, fica inviável a utilização do jus
postulandi.
Isso porque, ao fazer tal ressalva, o Tribunal Superior do Trabalho nada mais quis
do que valorizar, prestigiar, respeitar o direito fundamental de acesso à Justiça,
entendimento este que também deve ser transportado para o presente caso.
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poderiam sobrepor à necessidade do contato direto, pessoal, com outros profissionais
(advogados privados ou públicos, servidores da Justiça etc.).
Afinal, não seria justo e razoável tampouco atenderia aos princípios e objetivos
constitucionais concluir no sentido de que todos e todas têm ou deveriam ter, por conta
própria, contato com meios tecnológicos mínimos e necessários de acesso à Justiça. Do
contrário, por mais absurdo que fosse, restaria ao(à) trabalhador(a), desprovido(a) de
sistemas eletrônicos, apenas aguardar o manto da prescrição acobertar seus direitos dos
“pés à cabeça”, diante das restrições vividas nos dias atuais.
Neste ponto, desafiamos outra problemática: quais seriam os marcos inicial e final
da suspensão?
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Diante dos dizeres destacados nos “Considerando”, principalmente no que diz
respeito à “necessidade de se uniformizar, nacionalmente, o funcionamento do Poder
Judiciário” e de que “a existência de critérios conflitantes quanto à suspensão do
expediente forense gera insegurança jurídica”, o marco inicial a ser considerado é a data
de publicação da respectiva Resolução, logo, 19 de março de 2020. Não fosse assim,
equivocadamente, aceitar-se-ia marcos distintos para cada Tribunal, gerando total
insegurança jurídica.
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