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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

LEONEL VICTOR JARDIM DA CUNHA

O USO DE ALGEMAS: Aspecto jurídico do emprego de algemas pelos agentes de


segurança pública no Brasil.

Belém/Pa
2019
LEONEL VICTOR JARDIM DA CUNHA

O USO DE ALGEMAS: Aspecto jurídico do emprego de algemas pelos agentes de


segurança pública no Brasil.

Monografia submetida à Universidade


Cidade de São Paulo como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do
Grau de Bacharel em Direito.
Prof. Orientador:

Belém/Pa
2019
LEONEL VICTOR JARDIM DA CUNHA

O USO DE ALGEMAS: Aspecto jurídico do emprego de algemas pelos agentes de


segurança pública no Brasil.

Banca Examinadora:

_______________________________________
Prof. – Instituição
Orientador

_______________________________________
Prof. – Instituição
Banca

_______________________________________
Prof. – Instituição
Banca
RESUMO

Faz-se necessário um aprofundamento dos estudos voltados para a atividade policial, no que tange
ao uso de algemas e o aspecto jurídico do emprego de algemas pelos agentes de segurança pública
no Brasil, de acordo com a Constituição Federal, Código Penal Militar, Código Penal, Código de
Processo Penal, Código de Processo Penal Militar, dentre outros, que possibilitem entende o papel de
cada uma das Instituições Policiais: Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária
Federal e Polícia Rodoviária Federal. Principalmente no que concerne ao emprego legal da algema
na prática policial. Fato este que causa dúvidas quanto ao emprego do acessório (algema) por parte
dos agentes de segurança pública. Este trabalho inicia falando sobre: Introdução; 1 Dos agentes de
segurança pública; 2 Fatos e fatores que contribuíram à criação do Decreto Federal nº 8.858/16; 2.1
A interpretação do Supremo Tribunal Federal quanto ao uso de algemas; 3 O Código de Processo
Penal Militar e o Sistema de Privilégios contidos no art. 242 c/c art. 234, 1º, última parte; e
Considerações Finais.

Palavras-chave: Algemas, Agentes de Segurança Pública e leis.


ABSTRACT

It is necessary to deepen the studies focused on police activity, regarding the use of handcuffs and the
legal aspect of the use of handcuffs by public security agents in Brazil, according to the Federal
Constitution, Military Penal Code, Penal Code , Code of Criminal Procedure, Code of Military Criminal
Procedure, among others, that make possible understand the role of each of the Police Institutions:
Military Police, Civil Police, Federal Police, Federal Highway Police and Federal Highway Police.
Especially with regard to legal employment of handcuffs in police practice. This fact causes doubts as
to the use of the accessory (handcuff) by the public security agents. This paper begins by talking
about: Introduction; 1 Of public security agents; 2 Facts and factors that contributed to the creation of
Federal Decree 8.858 / 16; 2.1 The Federal Supreme Court's interpretation of the use of handcuffs; 3
The Code of Military Criminal Procedure and the System of Privileges contained in art. 242 c / c art.
234, 1st, last part; and Final Considerations.

Keywords: Handcuffs, Public Security Agents and laws.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................01

1 DOS AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA.......................................................03

2 FATOS E FATORES QUE CONTRIBUIRIAM À CRIAÇÃO DO DECRETO


8.858/2016.................................................................................................................05

2.1 A Interpretação do Supremo Tribunal Federal quanto ao uso de


algemas........................................................................................................................11

3 O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR E O SISTEMA DE PRIVILÉGIOS


CONTIDOS NO ART. 242 C/C ART. 234, 1º, ÚLTIMA PARTE................................14

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................17

REFERÊNCIAS..........................................................................................................19
1

INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso foi motivado graças aos


questionamentos e dúvidas sobre o emprego de algemas durante o trabalho prático
dos Agentes de Segurança Pública previstos no art. 144 da constituição Federal de
1988 (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal,
Polícias Civis, Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares) e das dúvidas por
estes quanto ao emprego de algemas no serviço, principalmente pelos Policiais
Militares do Estado do Pará, quando estes estão de serviço e a frente dos fatos em
que resulte o emprego de algemas em nacionais em decorrência da ação Policial
Militar nas formas preventiva e repressiva. Trata-se da discussão quanto ao uso de
algemas como medida de segurança ou abuso de autoridade. Sendo que o
processamento sobre o tema foi originado em função da falta de doutrina jurídica
específica sobre o tema, sendo que no art. 199 da Lei de execução Penal o tema
quanto ao emprego de algemas é conduzido e fomentado por meio de Decreto
Federal, ou seja, nada que cuide de fato do tema que possibilite ao agente de
segurança regular as suas ações quanto ao emprego das algemas.

Segundo Pitombo (1984), a palavra algema é de origem árabe, al jamad ou a


pulseira, que faz referência a aprisionar, sendo que o vocábulo tornou-se comum
somente no século XVI. Utilizado geralmente no plural, o vocábulo algema, significa
ferro para prender os braços pelos pulsos, ou mesmo um par de argolas metálicas,
com fechaduras, e ligadas entre si, usadas para prender alguém pelo pulso. São
materiais de plástico ou de metal, que se destinam a manter pessoas presas pelo
pulso. Quando este instrumento passou a ser utilizado para o aprisionamento de
criminosos no Brasil, através das mãos e polegares. Mas seu uso com o tempo
passou por grande debate e reflexão, pois a depender do caso pode beirar no
desrespeito aos princípios fundamentais ou abuso de autoridade.

Neste processo de construção do conhecimento foi feito uma pesquisa


bibliográfica, que buscou na legislação constitucional subsídios para entender as
2

mudanças na lei quanto ao uso de algemas, buscando compreender por que o art.
199 da Lei de Execução Penal direciona que a regulamentação do instrumento
algema deve ser feito por meio de Decreto federal; além do posicionamento do
Supremo Tribunal Federal, quanto à regulamentação do uso de algemas, por meio
da Súmula Vinculante nº 11, fato que originou mais discursões em torno do tema,
pois o tema só veio a tona em virtude de ações da Polícia Federal e das ordens de
prisão contra pessoas abastadas e com influência política, ou seja, com alto poder
aquisitivo; Que tornaram reflexo no debate quanto ao uso de algemas durante a
ação policial, fato que poderia desembocar na desrespeito aos princípios
constitucionais, da pessoa humana e da presunção de inocência.

Os direitos do homem foram abordados de maneira a trazer ao debate a


importância dos movimentos sociais, no tocante à busca dos direitos, pois é comum
o Estado figurar como o detentor dos direitos que foram retirados do indivíduo. Neste
caso, o preso, que ao passar a ser tutelado pelo Estado, acaba restringindo os seus
direitos ainda mais, podendo ser encarado como um objeto.

A década de 1960 assistirá, portanto, ao crescimento de movimentos que


não criticam exclusivamente o modo de produção, mas, fundamentalmente,
o modo de vida. E o cotidiano emerge aí como categoria central nesse
questionamento. É claro que cotidiano e História não se excluem; todavia,
há um deslocamento de ênfase: enquanto o movimento operário em sua
vertente marxista dominante (social-democrata e lenista) insistia na “missão
histórica do proletariado” que, uma vez vitorioso sobre a burguesia
capitalista, resolveria então todos os problemas cotidianos, os movimentos
que emergem na década de 1960 partem da situação concreta de vida dos
jovens, das mulheres, das “minorias” étnicas, etc. para exigir a mudança
dessas condições. É como se observássemos um deslocamento do plano
temporal (História, futuro) para o espacial (o quadro de vida, o aqui e o
agora). (GONÇALVES, 2005, p. 11-12).

Este trabalho (TCC) faz uma análise sobre os principais aspectos


constitucionais que levam ao entendimento quanto ao emprego da algema durante a
ação do agente de segurança pública, em especial por Militares Estaduais (Policial
Militar), através dos seguintes pontos: Introdução; 1 Dos agentes de segurança
pública; 2 Fatos e fatores que contribuíram à criação do Decreto Federal nº
8.858/16; 2.1 A interpretação do Supremo Tribunal Federal quanto ao uso de
algemas; 3 O Código de Processo Penal Militar e o Sistema de Privilégios contidos
no art. 242 c/c art. 234, 1º, última parte; e Considerações Finais.
3

1 DOS AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA

As atribuições das Instituições Policiais (Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia


Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Rodoviária Federal) estão definidas na
Constituição Federal. Sendo que à Polícia Militar é competente para a manutenção
da ordem pública através do policiamento ostensivo (polícia administrativa),
conforme o artigo 144, §5º da Constituição Federal (CF), sendo esta força auxiliar e
reserva do Exército, estando a Polícia militar em nível estadual, distrital ou dos
territórios. enquanto que às Policias Federal e civil cabe segundo o art. 144, § §1º e
4º da CF, a apuração das infrações penais, através da Polícia Judiciária, ou seja, a
investigação e a apuração de infrações penais (exceto militares e as de competência
da polícia federal) pela Polícia Judiciária, no âmbito estadual cabe às Polícias civis,
sendo estas dirigidas por delegados de polícia de carreira. No caso da Polícia
Rodoviária Federal, esta é órgão permanente , organizado e mantido pela União,
não exercendo funções de polícia judiciária, assim como a Polícia Ferroviária
Federal, diante do papel exclusivo da Polícia Federal (art. 144, §1.º, IV).

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado


e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,


incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da


ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
(Constituição Federal on line www.constituição.online.com.br,
acessado em 01/02/2018, às 13hs)
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Assim como prevê a Lei nº 12.830 /13 que estabelece:

Art. 2º. (...)

§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a


condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei.

Diante do exposto resta claro que o agente de segurança pública é


responsável pela segurança e promoção da ordem, mas para este fim é necessário
o uso da força em determinados casos, através do emprego da arma de fogo, e o
uso de algemas pelos mesmos, que é praticamente indispensável, pois
independente do crime ou contravenção penal, a necessidade do emprego da
algema durante a ação policial pode ser inevitável, sendo que a primeira Lei que
tratou sobre o uso de algemas no Brasil foi a Lei nº 7.210/84 (Lei de Execuções
Penais), sendo que a mesma direcionou no seu art. 199 que o tema (uso de
algemas) deveria ser tratado e conduzido por meio de decreto federal, sendo que
até 2016 o decreto que deveria disciplina o assunto sobre o uso de algemas ainda
não havia sido editado.
Destarte, que o uso de algemas pelos agente de segurança pública é
bastante complexo, pois de 1984 à 2016 há um lapso temporal no qual os
causídicos juízes, doutrinadores, especialistas, dentre outros, não conseguiram
definir o emprego da algema. Para tanto, em junho do ano de 2008, foi editado
uma Lei de nº 11.689/2008, que tratava justamente do uso de algemas, sendo que
apenas no plenário do júri, ou seja, a legislação continuava omissa quanto ao
disciplinamento do uso de algemas.
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2 FATOS E FATORES QUE CONTRIBUIRIAM À CRIAÇÃO DO DECRETO


8.858/2016

Segundo Gonçalves (2005), ao analisar sobre o “[...] século XX, em alguns


países do mundo, ocorrem revoluções que se proclamam socialistas e que vão
tentar pôr em prática outros princípios de organização social”, nas últimas décadas,
o processo histórico quanto às conquistas de direitos civis, políticos, econômicos,
culturais e sociais, ganhou maior expressão no século XX, dada as pressões dos
mais variados grupos e movimentos sociais em caráter nacional e internacional que
contribuíram para a ampliação da noção de cidadania e para os novos sujeitos que
foram incorporados a esta noção, em especial as pessoas que foram condenadas,
presas ou que estão sendo julgadas, pois as mesmas passaram a ser encaradas na
dinâmica do modo de produção capitalista como pessoas com direitos fundamentais
e consequentemente figura fundamental para a própria manutenção do Estado
Democrático de Direitos.

Vários são os movimentos sociais que se apresentam: são os operários, os


camponeses, os indígenas, as mulheres, os negros, os homossexuais, os
jovens, etc. que se organizam e lutam... Há um traço comum a esses
movimentos: todos eles emergem a partir de determinadas condições
sociais de existência que lhe dão substância. (GONÇALVES, 2005, p. 18).

Segundo Bobbio (1994), a simples criação e expansão de direitos não é


garantia efetiva dos direitos criados através da Lei, bem como não asseguram o
exercício da cidadania efetiva. Por isso, a comunidade internacional passou a dar
grande relevância aos problemas que envolviam ao emprego de algemas, em
especial nas convenções que tratam dos direitos dos presos, por conta dos mais
diferentes movimentos sociais nacionais e internacionais que pressionavam o Brasil,
enquanto membro signatário das leis internacionais e o qual é obrigado a cumprir
com os acordos firmados entre os países que fazem parte convenção
interamericana de direitos humanos, para que a cidadania ativa possa efetivamente
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ser exercida, principalmente pelos que estão na condição de presos ou sob a tutela
do estado.

[...] estamos cada vez mais convencidos de que o ideal da paz perpétua só
pode ser perseguido através de uma democratização progressiva do
sistema internacional e que essa democratização não pode estar separada
da gradual e cada vez mais efetiva proteção dos direitos do homem,
democracia e paz são três momentos necessários do mesmo movimento
histórico: sem direitos do homem reconhecidos e efetivamente protegidos
não existe democracia, sem democracia não existem as condições mínimas
para a solução pacífica dos conflitos que surgem entre os indivíduos, entre
grupos e entre as grandes coletividades tradicionalmente indóceis e
tendencialmente autocráticas que são os Estados, apesar de serem
democráticas com os próprios cidadãos. (BOBBIO, 1992, p. 93).

Segundo Arendt (1994), “a cidadania ativa decorre do agrupamento de


cidadãos em espaços públicos onde as ações por meio do discurso e as mais
variadas formas de pressões faz com que a cidadania possa ser fomentada.”

A cidadania ativa (...) se baseia na suposição de uma prática crítica capaz


de exigir o cumprimento de normas jurídicas preestabelecidas, de nomear
as carências daquelas pessoas que não têm sido definidas como sujeitos de
direitos e de formular novos direitos que surgem com a complexidade
crescente das problemáticas da vida contemporânea. Com essa
perspectiva, a história das lutas sociais das mulheres, assim como de outros
movimentos sociais, pode ser interpretada como uma tendência para o
incremento do exercício futuro da cidadania, destacando-se papel
protagônico das lutas e das ações das mulheres para ampliar seus direitos,
cuja única constante é, segundo Arendt “o direito de ter direitos. (ARENDT,
1994)

Neste sentido, diante da ratificação do Brasil quanto a prevenção, punição e


erradicação da violência, no cenário internacional – Convenção Interamericana -
este acabou garantindo e implementado os direitos humanos dos presos, vítimas de
violência, considerando que violência, segundo a interpretação do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF): “é uma das disseminadas formas de
violação de direitos humanos, negando aos presos, adultos, dignidade, autoestima,
e seus direitos de desfrutar de direitos fundamentais”.
Todavia, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, abrangeu
“todos os seres humanos” nesta declaração e não somente o homem, diante das
mudanças que ocorreram no cenário mundial e nacional.
A Constituição Federal de 1988, intitulada como Constituição Cidadã,
determina que no seu artigo 5º, inciso XLIX: “é assegurado aos presos o respeito à
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integridade física e moral”. Desse modo, o texto constitucional interpreta que o


estado e a sociedade tem o dever de desempenhar seu papel social e jurídico na
luta contra qualquer tipo de violência.
O uso de algemas no momento da prisão legal, iniciou com o Brasil, no
período imperial no seu Código de Processo Criminal de Primeira Instância no seu
art. 180. Sendo que somente 30 anos depois, através da Lei nº 2.033, de 20 de
setembro de 1871 que houve uma reorganização no processo penal do Brasil.
Sendo que neste mesmo ano, houve a regulamentação do Decreto nº 4.824, de 22
de novembro, que dispôs sobre a execução e condução do preso.

Art. 28. Além do que está disposto nos arts. 12 e 13 da lei, a autoridade
que ordenar ou requisitar a prisão e o executor dela observarão o
seguinte:

O preso não será conduzido com ferros, algemas ou cordas, salvo o caso
extremo de segurança, que deverá ser justificado pelo condutor; e quando
não o justificante, além das penas em que incorrer, será multado na
quantia de 10.000 a 50.000 mil réis pela autoridade a quem for
apresentado o mesmo preso.

Já o Decreto de nº 19.903/50, regrou o uso de algemas da seguinte forma:

Art. 1º. O emprego de algemas far-se-á na Polícia do estado, de regra, nas


seguintes diligências:

1º. Condução à presença de autoridade dos delinquentes detidos em


flagrante, em virtude de pronúncia ou nos demais casos previstos em lei,
desde que ofereçam resistência ou tentem a fuga.

2º. Condução à presença da autoridade dos ébrios, viciosos e turbulentos,


recolhidos na prática de infração e que devam ser postos em custódia, nos
termos do regulamento Policial do estado, desde que o seu estado externo
de exaltação torne indispensável o emprego da força.

3º Transporte, de uma para outra dependência, ou remoção, de um para


outro presídio, dos presos que, pela sua conhecida periculosidade,
possam tentar a fuga, durante diligência, ou a tenham tentado, ou
oferecido resistência quando de sua detenção.

No ano de 1984 a Lei nº 7.210 – Lei de execuções Penais, em seu artigo


199, apenas criou uma norma quanto ao emprego de algemas, ou seja, que o
mesmo seria disciplinado por meio de decreto federal. Já que a discussão e
entendimento sobre ´tema é necessário, pois para alguns, quando o uso de
algemas é desnecessário diante do não oferecimento de resistência pelo acusado,
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esta ação pode ser caracterizada como o crime de constrangimento ilegal, ferindo
consequentemente o princípio constitucional da presunção de inocência.
Segundo Barroso (2004), o Código penal brasileiro faz referência ao uso de
algemas de forma indireta quando veda de maneira expressa o emprego da força,
salvo se somente indispensável nos casos de resistência ou tentativa de fuga do
preso (art. 284). Quando o agente de segurança pública vai além destes casos, o
mesmo pode agir criminosamente, pois o uso indiscriminado desse instrumento
(algema) pode caracterizar abuso de autoridade e /ou crime de tortura quando o
instrumento caracteriza satisfação de prazer ao condutor da ação ao impor
sofrimento físico ou mental da pessoa.
Diante da discussão acalorada sobre o uso de algemas, o Supremo Tribunal
Federal (STF) se manifestou acerca do assunto e editou a súmula vinculante nº 11
que impõe sobre o uso de algemas somente quando:

(...) é lícito no caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de


perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de
nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado. (www.stf.jus.br, acessado em
01/02/2019, às 13hs).

A edição da súmula vinculante gerou outro debate na seara jurídica e


política sobre a função do STF, pois as críticas incidiram sobre o ato de legislar
que não seria competência do tribunal. Para tanto, novamente ocorreu avanço nos
debates sobre o assunto e o STF foi instado a se posicionar sobre o assunto, o que
originou o Informativo 437 do STF, durante o julgamento do HC 89429/RO, que
trouxe informações de cunho explicativo e dados relevantes sobre a conduta
policial.
No Informativo do STF, o instrumento de algemas deve ser adotado nos
casos e com o intuito de: impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou a reação indevida
do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto
venha a ocorrer; e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais,
contra terceiros ou contra si mesmo.
De acordo com Barroso (2004), no binômio uso de algemas e abuso de
autoridade, o direito fundamental é quebrado com a restrição da liberdade, que a
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algema não é instrumento abusivo de força, mas mecanismo de preservação do


uso da força policial, com risco desnecessário de terceiros e do preso. Sendo que
o direito de locomoção é restringido, assim como os incompatíveis com a prisão,
dentre estes o sufrágio.
Segundo Capez (2016) a súmula vinculante nº 11 foi editada a partir do
constante debate sobre o uso de algemas, mas sobretudo por conta do efeito
mediático que o tema gerou, pois a ação da Polícia Federal, que resultou na prisão
de pessoas abastadas e personalidades políticas no ano de 2008 acabou trazendo
no cenário nacional o emprego da algema, pois mesmo com a presença da
súmula, é possível notar que houve certa omissão sobre o próprio direito de
preservação da vida, da incolumidade física do policial e de terceiros, e o da
igualdade, ou da isonomia, onde o tratamento deve ser igual a todos que estejam
na mesma situação.
Mas, após 32 anos, é editado o Decreto Federal nº 8.858/2016 que é
disposto pelo art. 199 da lei de execução penal (LEP) que disciplina o emprego de
algemas a partir das diretrizes: a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da
CF/88); a proibição de que qualquer pessoa seja submetida a tortura, tratamento
desumano ou degradante (art. 5º, III, da CF/88); a Resolução nº 2010/16, de 22 de
julho de 2010, das Nações Unidas sobre o tratamento de mulheres presas e
medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de
Bangkok); e o Pacto de San José da Costa Rica, que determina o tratamento
humanitário dos presos e, em especial, das mulheres em condição de
vulnerabilidade. Trata-se de um conjunto de direitos do homem, que requerem um
entendimento mais profundo sobre o seu significado, que vai dos direitos naturais
aos positivos, mas que remontam sempre ao homem, enquanto ser transformador
da sua realidade. Não havendo proteção desses direitos pelo estado não há,
segundo, Bobbio (2004), lugar para a democracia, pois em suas palavras “sem
direitos do homem reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem
democracia, não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos
conflitos”.
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No que se refere ao significado da palavra direito Na expressão “direitos do


homem” o debate é permanente e confuso. Contribuiu, para aumentar a
confusão, o encontro cada vez mais frequente entre juristas de tradição e
cultura continental e Juristas de tradição anglo-saxônica, que usam
frequentemente palavras diversas para dizer a mesma coisa e, por vezes,
acreditam dizer coisas diversas usando as mesmas palavras. A distinção
clássica na linguagem dos juristas da Europa continental é entre “direitos
naturais” e “direitos positivos”. Da Inglaterra e dos Estados Unidos – por
influência, creio sobretudo de Dworkin – chega-nos a distinção entre moral
rights, e legal rights, que é intraduzível e, o que é pior, numa tradição onde o
direito e moral são duas esferas bem diferenciadas da vida prática,
incompreensível: em italiano, a expressão “direitos legais” ou “ jurídicos ”
soa redundante, enquanto a expressão “direitos morais” soa contraditória.
Não tenho dúvidas de que um jurista francês teria a mesma relutância em
falar de droits moraux e um alemão de moralische Rechte. E então?
Devemos renunciar a nos entender? O único modo para nos entender é
reconhecer a comparabilidade entre as duas distinções, em função da qual
“direitos morais” enquanto algo contraposto a “direitos legais” ocupa o
mesmo espaço ocupado por “direitos naturais” enquanto algo contraposto a
“direitos positivos”. Trata-se, em ambos os casos, de uma contraposição
entre dois diversos sistemas normativos, onde o que muda é o critério de
distinção. Na distinção entre moral rights e legal rights, o critério é o
fundamento; na distinção entre “direitos naturais” e “direitos positivos”, é a
origem. Mas, em todos os quatro casos, a palavra “direito”, no sentido de
direito subjetivo (uma precisão supérflua em inglês, porque right tem
somente o sentido de direito subjetivo) faz referência a um sistema
normativo, seja ele chamado de moral ou natural, jurídico ou ositivo. Assim
como não é concebível um direito natural fora do sistema das leis naturais,
também não há outro modo de conceber o significado de moral rights a não
ser referindo-os a um conjunto ou sistema de leis que costumam ser
chamadas de morais, ainda que nunca fique claro qual é o seu estatuto (do
mesmo modo como, de resto, nunca ficou claro qual é o estatuto das leis
naturais). (BOBBIO, NORBERTO, 2004, p. 10).

Contudo, segundo Freitag (2007), a criação de uma norma específica que


garante a integridade das pessoas que são presas, é sinônimo de avanços quanto à
garantia de condições plenas de viver, e participando do processo produtivo
baseado na igualdade e respeito, bem como a valorização do acesso aos bens
sociais, por meio da ação do Estado, Fato que ocorreu com o surgimento da súmula
vinculante nº 11, onde o Brasil passou a atuar frente a violência no emprego do uso
de algemas, de maneira legal, ou seja, escrita.
Desse modo, para Cavalcanti (2007), o Estado deveria implementar nas mais
diversas formas os direitos humanos, garantido assistência social para todos e o
acesso aos bens indispensáveis à vida digna, de acordo com a Carta das Nações
Unidas. Logo problematiza-se quais os principais instrumentos de políticas públicas
que de fato, vão contribuir para a erradicação da violência quanto ao emprego de
algemas pelos agentes de segurança pública ?.
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Pois, além da criação de Leis que visam resguardar os presos é necessário


que o campo de pressão social, que se faz nacionalmente e internacionalmente, seja
capaz de ampliar efetivamente o acesso e a constituição de direitos, bem como a
comunicação com outros movimentos sociais que possibilitem a efetivação dos
direitos dos cidadãos, capaz de gerar e construir um novo paradigma político-cultural
que possa cobrar do Estado a plena cidadania das pessoas, quanto aos serviços
que são ofertados pelo mesmo, tais como: saúde, educação e segurança, e também
na efetivação dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, que
fazem parte dos Tratados e Convenções aos quais o Brasil é signatário.
Em regra, as pessoas que são presas não podem ser algemadas segundo o
decreto federal 8.858/16, mas que há três exceções que permitem o uso de
algemas: 1º no caso de resistência; 2º fundado receio de fuga e/ou perigo à
integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros. Sendo
que no caso destas circunstâncias se fizerem presentes durante a ação policial,
estas devem ser justificadas por escrito. Há a necessidade de se comentar que é
proibido usar algemas em mulheres presas: durante o trabalho de parto; no trajeto
da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar; e após o parto,
durante o período em que se encontrar hospitalizada.
Via de regra, a proibição do uso de algemas vale para todas as situações,
incidindo tanto na prisão (em flagrante ou por ordem judicial), quanto nas situações
em que o réu preso comparecer em juízo para participar de um ato processual
(audiência do réu), ou seja, a pessoa que foi presa em qualquer momento não
pode ser algemada, bem como durante o seu deslocamento à delegacia ou ao seu
interrogatório.

2.1 A interpretação do Supremo Tribunal Federal quanto ao uso de algemas

Para Meirelles (1987) é necessário que toda autoridade policial tenha o


conhecimento das leis e atue de acordo com os limites desta, a capacitação e
especialização são possibilidades de promover o cumprimento dos princípios dos
direitos humanos (vida, liberdade, dentre outros), pois muito ainda precisa ser feito
de maneira a evitar que o emprego das algemas seja tratada com violência. A
autora analisa que:
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A legalidade, como princípio da administração, (CF/88) art. 37, caput,


significa que o administrador público está em toda a sua atividade funcional,
sujeito aos mandamentos da lei, e as exigências do bem comum, e deles
não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se
à responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. [...]
(MEIRELLES, 1987).

A interpretação do Supremo tribunal Federal (STF) através da edição da


Súmula Vinculante nº 11 é baseada em precedentes representativos levando em
conta o princípio da não culpabilidade. É o caso do Tribunal do Júri, onde a pessoa
a qual é acusada ou assenta acusação de crime doloso contra a vida, mas que de
acordo com os Tratados Internacionais e Convenções sobre os Direitos humanos
dos quais o Brasil é signatário, a pessoa que está sendo julgada pela prática de
crime doloso contra a vida merece tratamento digno de pessoa humana e mantê-la
com algemas durante o julgamento afastam o tratamento humanitário do cidadão e
significa colocar o acusado em posição inferior ao da acusação, além da situação
de todo degradante.

O uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de natureza


excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir,
prevenir ou dificultar a fuga ou reação indevida do preso, desde que haja
fundada suspeita ou justificado receio de que tanto venha a ocorrer, e para
evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou
contra si mesmo. [HC 89.429, re. Min. Cármen Lúcia, 1ª T, j. 22-8-2006,
DJ de 2-2-2007.]. (www.stf.jus.br, acessado em 01/02/2019, às 13hs).

Mesmo com o advento do decreto 8.858/16 a Súmula Vinculante nº 11


continua em vigor. Apesar do Decreto nº 8.858/16 referenciar os mesmos pontos e
debates acerca do emprego de algemas, com acréscimo quanto à proibição para o
uso nas mulheres que estiverem em trabalho de parto. A súmula vinculante nº 11
continua apresentando um destaque de grande importância, pois no final do seu
texto está previsto as consequências quando ao uso inadequado do emprego de
algemas; sem a devida justificativa por escrito ou fora dos casos previstos no
Decreto 8.858/16. Nestes casos são previstas as seguintes consequências:
nulidade da prisão; nulidade do ato processual no qual participou o preso;
responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade responsável
pela utilização das algemas.
13

Há de se destacar que a recusa do juiz durante a audiência de instrução e


julgamento quanto ao pedido para que sejam retiradas as algemas do acusado,
não é motivo para nulidade processual, de acordo com o entendimento do Superior
tribunal de Justiça.
14

3 O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR E O SISTEMA DE PRIVILÉGIOS


CONTIDOS NO ART. 242 C/C ART. 234, 1º, ÚLTIMA PARTE.

Para Bobbio (2004) os fundamentos dos Direitos fundamentais do homem, é


algo que necessita ser conquistado e alcançado. O Estado representa a restrição
dos direitos fundamentais que foram retirados das pessoas, mas que diante do
Estado moderno há uma mudança profunda na relação entre Estado e cidadãos,
ou seja, que os indivíduos possuem direitos diante e dentro da organização estatal
para que se possa viver em sociedade. É a predominância do indivíduo sobre o
soberano, favorecendo principalmente os direitos do cidadão, a partir de uma nova
relação política.

Não há dúvida de que, quando, num seminário de filósofos e não de juristas


(como é o nosso), colocamos o problema do fundamento dos direitos do
homem, pretendemos enfrentar um problema do segundo tipo, ou seja, não
um problema de direito positivo, mas de direito racional ou critico (ou, se se
quiser, de direito natural, no sentido restrito, que é para mim o único
aceitável, da palavra). Partimos do pressuposto de que os direitos humanos
são coisas desejáveis, isto é, fins que merecem ser perseguidos, e de que,
apesar de sua desejabilidade, não foram ainda todos eles (por toda a parte
e em igual medida) reconhecidos; e estamos convencidos de que lhes
encontrar um fundamento, ou seja, aduzir motivos para justificar a escolha
que fizemos e que gostaríamos fosse feita também pelos outros, é um meio
adequado para obter para eles um mais amplo reconhecimento. (BOBBIO,
NORBERTO, 2004, p. 12).

O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso de


desobediência, resistência ou tentativa de fuga (...) essa é a taxatividade do art.
234 prevista no Código de Processo Penal Militar (CPPM), que traz indiretamente
preceituado o emprego da força em casos extremos. No caso das algemas, o
parágrafo 1º deste artigo categoriza que estas devem ser usadas, desde que
excepcionalmente nos casos de perigo de fuga ou de agressão por parte do preso
e que de modo algum será permitida nos presos previstos no art. 242 do CPPM
(ministros, parlamentares e outras autoridades). Desta forma, o uso de algemas é
permitido no caso de fuga, resistência, desobediência ou de agressão, mas que
15

acaba indo de encontro ao princípio da isonomia quando veda o uso desse


instrumento (algemas) aos ministros e demais autoridades.
Segundo Barroso (2004), o emprego da algema é considerado ação
vexatória, e por isso a discussão sobre o tema e demasiadamente polêmica, pois o
decreto federal 8.858/16a cria diversos mecanismos de restrição ao seu emprego.
Algemar sem a devida necessidade e justificação é pura demonstração de abuso
de autoridade prevista na Lei nº 4.898/65 (Lei de Abuso de Autoridade) e sua ação
deve ser reprimida pelos órgãos de correção dos agentes de segurança pública,
pois o uso de algemas deve ficar restrito aos casos de extrema resistência e
oferecimento de real perigo por parte do preso.
A Constituição Federal expressa no seu art. 5º, inciso XLIX, no seu
ordenamento jurídico o respeito à integridade física e moral dos presos, bem como
a proibição ao tratamento desumano e degradante, de maneira a respeitar a
dignidade da pessoa humana e a presunção de inocência, sendo que o emprego
da algema deve ser feito quando devidamente demonstrada a necessidade e seu
uso justificado por escrito de acordo com cada caso, pois não se pode deduzir o
emprego desse instrumento a partir da gravidade dos crimes ou da presunção da
periculosidade do detento, podendo incorrer nestes casos na ilegalidade do uso da
algema nestas pessoas. Segundo Bobbio (2004), trata-se da dignidade da pessoa
humana:

Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor


do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
explicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato
de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar
e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da
própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
(BOBBIO, NORBERTO. 2004),

Para Barroso (2004), na contemporaneidade a luta pela busca dos direitos e


o reconhecimento dos direitos fundamentais é incessante, mas a crise do Estado
acabou se tornando mais um obstáculo diante dessa busca, pois o mesmo não
permite o avanço dos movimentos sociais. Essa luta é evidenciada sobretudo na
esfera do Direito Penal, pois a violência é mais evidente e latente através das
penas e das prisões que acabam configurando como a principal forma de
manutenção da ordem e do próprio estado, o poder.
16

A ideia básica de Foucault é de demonstrar que as relações de poder não


se passam fundamentalmente nem ao nível do direito, nem da violência:
nem são basicamente contratuais nem unicamente repressivas. Ninguém
conhece, por exemplo, que a difícil questão da repressão está sempre
polemicamente presente em livros como Vigiar e Punir e A Vontade de
Saber, onde ele está constantemente querendo demonstrar que é falso
definir o poder como algo que diz não, que impõe limites, que castiga. A
uma concepção negativa, que identifica o poder com o Estado e o
considera essencialmente como aparelho repressivo, no sentido em que
seu modo básico de intervenção sobre os cidadãos se daria em forma de
violência, coerção, opressão, ele opõe, ou acrescenta, uma concepção
positiva que pretende dissociar os termos dominação e repressão. O que
suas análises querem mostrar é que a dominação capitalista não
conseguiria se manter se fosse exclusivamente baseada na repressão.
Sabemos que não existe em Foucault uma pesquisa específica sobre a
ação do Estado nas sociedades modernas. Mas o que a consideração dos
micro-poderes mostra, em todo caso, é que o aspecto negativo do poder –
sua força destrutiva – não é tudo e talvez não seja o mais fundamental, ou
que , ao menos, é preciso refletir sobre seu lado positivo, isto é, produtivo,
transformador. “é preciso parar de sempre descrever os efeitos do poder
em termos negativos: ele ‘exclui’, ele ‘reprime’, ele ‘recalca’, ele ‘censura’,
ele ‘abstrai’, ele ‘mascara, ele ‘esconde’. De fato, o poder produz; ele
produz real; produz domínios de objetos e rituais de verdade”. O poder
possui uma eficácia produtiva, uma riqueza estratégica, uma positividade.
E é justamente esse aspecto que explica o fato de que tem como alvo o
corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo,
adestrá-lo. (BARROSO, luís Roberto. Fundamentos Teóricos e Filosóficos
do Novo Direito Constitucional Brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e
pós-positivismo). In: BARROSO, Luís Roberto (org). A Nova Interpretação
Constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio
de Janeiro: Renovar, p. 1-48, 2003. (www.stf.jus.br, acessado em
01/02/2019, às 13hs).

Para Barroso (2004), o tratamento desumano é algo a ser combatido e


desconstruído no cotidiano, e a principal força para combatê-lo está nos direitos
fundamentais, pois o processo penal é torturador por natureza quanto ao
julgamento pelo juiz dito neutro e pela sociedade bombardeada de entendimentos
e condenações midiáticas, neste caso, o réu passa a ser visto como coisa, objeto
distante de tudo e de todos. Esse é o caso do preso, que deixa de ser visto como
cidadão, que passa a ter a sua liberdade tolhida. Nesse caso, há a necessidade de
reconhecimento do preso, como cidadão, dotado de todos os direitos fundamentais
e dignidade da pessoa humana, direitos inerentes à pessoa humana.
17

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desta forma, este trabalho de conclusão de curso não visa finalizar o


entendimento e estudos sobre esta temática, mas enriquecer a discussão sobre o
emprego de algemas pelos agentes de segurança pública, uma vez que, o assunto
e bastante vasto, pois a restrição feita pelo decreto federal 8.858/16 quanto ao uso
das algemas durante a prisão, é uma visão distorcida do Estado Democrático de
Direitos, pois o policial é a representatividade do estado, e quando esse não se
reportar por escrito quanto ao uso do instrumento algema no preso acaba criando
um obstáculo ao próprio processo democrático, pois coloca o preso na condição de
liberto e o policial na condição de preso, uma vez que que as algemas só podem
ser usadas quando das reações violentas ou de perigo iminente ao agente ou de
terceiros. Trata-se da judicialização do uso de algemas, ou seja, tanto o legislador
quanto o Supremo tribunal Federal, insistem em normatizar sobre o assunto, sem
de fato discutir a realidade englobando o cotidiano do policial.
Há a necessidade de viabilizar um procedimento operacional padrão sobre o
uso de algemas a partir do cotidiano policial (instituições policiais); pois a ideia
básica do emprego de algemas é a segurança de todos os envolvidos na
ocorrência policial, respeitando antes de tudo a vida dos agentes do estado
envolvidos na prisão das pessoas que vão de encontro ao poder do estado.
Além da normatização padrão quanto ao uso de algemas, é necessário que
o policial possua maior proteção do Estado através de leis mais rígidas direcionada
aos que atentam contra a vida e integridade física dos agentes de segurança
pública, para que esses possam trabalhar, pois somente em casos excepcionais o
policial brasileiro deve fazer uso da algema quando em ocorrência, que para
alguns doutrinadores e legisladores é considerada objeto de tortura e pena
antecipada do réu.
A algema deve ser considerada instrumento de segurança, pois aquele que
tem função de proteger, deve sempre estar protegido, e no caso de qualquer
ameaça que possa ser vislumbrada no futuro, o agente de segurança pública tem o
18

dever de se prevenir e fazer uso da algema visando não sofrer qualquer tipo de
ação que resulte na perda da sua vida ou de terceiros, bem como violência contra
o mesmo, terceiros ou pelo preso.
Diante do estudo feito neste trabalho (TCC) é possível afirmar que
constitucionalmente o uso de algemas: Aspecto jurídico do emprego de algemas
pelos agentes de segurança pública no Brasil. Há a necessidade do debate
constante, estudo e respeito às instituições policiais, pois a judicialização do uso de
algemas e a falta de compreensão prática dos legisladores e operadores do direito
para editar leis sobre o assunto é clara, baseada sobre tudo em efeitos políticos e
midiáticos que remontam à súmula vinculante nº11 do Supremo Tribunal Federal, e
que colocam em dúvida o trabalho de policiais que são responsáveis por manter a
ordem; quanto ao abuso de autoridade quando do emprego das algemas, cabe aos
órgãos correcionais zelar pela manutenção da legalidade durante a atuação policial,
e sobretudo pelo estado democrático de direito.
19

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