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AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO NO INQUÉRITO POLICIAL

Mariana Vieira Brandão

Resumo: O direito ao contraditório e a ampla defesa, consagrado na Constituição da


República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), encontra-se denominado como direito
fundamental e representa para o Direito Processual Penal princípio de efetivação do devido
processo legal. Assim, no presente trabalho analisar-se-á aplicação desses princípios frente ao
instituto do inquérito policial. Diante da natureza do estudo, o procedimento metodológico foi
realizado de maneira descritiva e de caráter qualitativo; e, com relação à técnica de pesquisa,
utilizaram-se a bibliográfica e a documental. Compreendeu-se a evolução histórica do
inquérito policial, destacando sua quebra de paradigma, passando do sistema inquisitorial ao
acusatório, adotado hoje no ordenamento jurídico; conceituação e as nuances do
procedimento adotado. Analisou-se suas caracteristicas e princípios, dando ênfase ao
princípio do contraditório e da ampla defesa, que revelam -se no direito a confrontação da
prova, e os meios de defesa, respectivamente. Constatou-se as correntes favoráveis e as
desfavoráveis, no que tange a aplicação do princípio do contraditório e ampla defesa no
referido procedimento, analisando a importância da Súmula 14 do STF para o ordenamento
jurídico brasileiro, bem como a Lei nº13.245/16 que adveio com o intuito de salientar os
princípios acima elencados, por meio da atuação do advogado. Destaca-se, portanto, o longo
caminho tracejado pelo inquérito policial, até alcançar os moldes em que se insere hoje, de
sistema inquisitorial ao sistema acusatório, visando a máxima do Estado Democrático de
Direito, no que tange a aplicação do contraditório e da ampla defesa.

Palavras-Chave: Direito. Contraditório. Ampla defesa. Inquérito policial.

Introdução

O ordenamento jurídico brasileiro destaca o direito ao contraditório e a ampla defesa


como direitos fundamentais, consagrados na CRFB/88. O presente artigo buscará analisar a
aplicação dos referidos princípios no inquérito policial e sua efetividade considerando a
súmula vinculante nº 14 e a Lei nº 13.245/16.
Diante do exposto, surge o questionamento que o envolve, isto é, se a aplicação dos
princípios do conraditório e da ampla defesa são efetivos no inquérito policial ou se não há tal
aplicação por se tratar de um procedimento administrativo. Assim, apresentar-se-á tal
problemática, demonstrando as correntes favoráveis e contrárias, bem como a súmula
vinculante e a lei que fazem referência a esses princípios.
Dessa forma, analisar-se-á a evolução histórica do inquérito policial, destacando sua
quebra de paradigma, passando do sistema inquisitorial ao acusatório, adotado hoje no
ordenamento jurídico; conceituação e as nuances do procedimento adotado.
Dada a sua incipiciencia, analisar-se-á suas caracteristicas e princípios, dando ênfase ao
princípio do contraditório e da ampla defesa, que revelam -se no direito a confrontação da
prova, e os meios de defesa, respectivamente. Ressalta-se que esses princípios referem-se ao
ônus probatório e impedem que a omissão ou a inatividade do acusado possam ser utilizadas
em seu desfavor.
Nessa conjuntura, demonstrou as correntes favoráveis e as desfavoráveis, no que tange
a aplicação do princípio do contraditório e ampla defesa no referido procedimento, analisando
a importância da Súmula 14 do STF para o ordenamento jurídico brasileiro, bem como a Lei
nº13.245/16 que adveio com o intuito de salientar os princípios acima elencados, por meio da
atuação do advogado. Destacaou-se, portanto, o longo caminho tracejado pelo inquérito
policial, até alcançar os moldes em que se insere hoje, de sistema inquisitorial ao sistema
acusatório, visando a máxima do Estado Democrático de Direito, no que tange a aplicação do
contraditório e da ampla defesa.
Diante da natureza do estudo, o procedimento metodológico foi descritivo e de caráter
qualitativo. Com relação à técnica de pesquisa, utilizou-se a bibliográfica e a documental.

Considerações acerca do inquérito policial

Em um primeiro momento, buscar-se-á analisar a evolução histórica do inquérito


policial brasileiro, que perpassa por influências do sistema inquisitorial, adotado em Portugal;
ideais iluministas, em que o ser humano passa a ser detentor de direitos; ao modelo conhecido
hoje, em que há resquícios de ambos momentos apresentados acima.
Ao passo que, em um segundo momento destacar-se-á a conceituação do inquérito
policial, bem como o procedimento adotado do referido instituto, no ordenamento jurídico
brasileiro.
Nesse sentido, Gavião (2015, p. 57) aduz que: “[…] o inquérito policial tem suas raízes
no modelo inquisitorial, ocasião em que a inquisição representava o poder do príncipe e da
Igreja, bem como tal poder era justificado na vontade divina”.
Diante disso, Andrade (2010, p. 10) complementa que:

No século XIX o Brasil passou por dois processos históricos extremamente


relevantes do ponto de vista político e jurídico, a Independência de Portugal
em 1822 e a Proclamação da República em 1889, nesse contexto a influência
das idéias liberais e iluministas não se transformaram em direitos civis para
maior parte da população como nas revoluções européias impelidas pelos
mesmos ideais. Os escravos, os não-católicos, os analfabetos e aqueles com
renda inferior a 100 mil réis não eram considerados sujeitos da cidadania.

Nessa perspectiva, conforme Garcia (1999), iniciou-se no século XIX durante o período
imperial as primeiras formas de atividade inquisitiva no momento em que juízes de paz
tinham a função de lavrar o auto do corpo de delito e de formar a culpa (sumário de culpa),
função essa que se consignou no primeiro Código de Processo Penal, de 1832, durante as
Ordenações Filipinas. A formação da culpa abarcava a inquirição de testemunhas, assim
como, o direito do acusado de contradizê-las.
Posteriormente, em meados de 1841, essa prerrogativa passou aos chefes de polícia,
aos delegados e aos subdelegados. Assim a preparação do sumário de culpa se acumulou as
funções policiais. Ao final, o delegado deveria se pronunciar, em substituição ao sumário de
culpa, cabendo ao juiz municipal a manutenção ou não da decisão, assim, as funções
começam a se separar. Em 1871, com a Lei nº 2.033, a formação da culpa passa a ser
atribução exclusiva dos juízes de direito e juízes municipais (CAPEZ, 2016).
Em consonância, Gavião (2015, p. 55), acrescenta que a Lei nº 2.033 de 1871, separou
a polícia e a judicatura, criando o inquérito policial , pois até então esse instituto não existia
em nosso ordenamento jurídico. Após a Lei nº 2.033 de 1871 veio o Decreto nº 4.824, de 22
de novembro de 1871, que regulou a mencionada lei e dedicou a seção 3 do Capítulo 3 ao
inquérito policial, que, até então, embora com dispositivos referentes à investigação em outras
leis, surgiu pela primeira vez com essa denominação.
Dado isso, Andrade (2010, p. 11), complementa que:

Sete décadas depois, em 1941, através do Decreto-Lei nº 3.689 de 1941,


surge o Código de Processo Penal (CPP/41) com a formatação atual. Apesar
de unificar as legislações, pois cada estado tinha seus próprios sistemas
processuais penais, foi concebido sob a influência do facismo italiano e do
autoritarismo do Governo Vargas, tendo como principal pensador o então
Ministro da Justiça Francisco Campos. Ele foi o cérebro jurídico do Estado
Novo de Vargas, na exposição de motivos do código que elaborou. Justificou
que o inquérito policial deveria permanecer devido a realidade brasileira que
não seria restrita aos centros urbanos, mas aos distritos distantes do interior,
em seguida rejeita a figura do Juiz de Instrução devido a sua
incompatibilidade a esta realidade.

Feitas as considerações acima, acerca da origem histórica do inquérito policial no


ordenamento legal, passar-se-á a conceituação do referido instituto.
Desse modo, inicialmente, cumpre asseverar que o inquérito policial consiste em um
conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa com o fim de identificar as fontes
de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal,
objetivando o ingresso em juízo pelo o titular da ação penal (Lima, 2020).
Do mesmo modo, Capez (2016, p. 148), inserindo a fundamentação legal, dispõe que o
inquérito:

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração


de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal
possa ingressar em juízo (CPP, art. 4º). Trata-se de procedimento
persecutório de caráter administrativo instaurado pela autoridade policial.
Tem como destinatários imediatos o Ministério Público, titular exclusivo da
ação penal pública (CF, art. 129, I), e o ofendido, titular da ação penal
privada (CPP, art. 30); como destinatário mediato tem o juiz, que se utilizará
dos elementos de informação nele constantes, para o recebimento da peça
inicial e para a formação do seu convencimento quanto à necessidade de
decretação de medidas cautelares.

Mirabete (2013, p. 60), desta forma preceitua o inquérito policial como:

Todo procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários à


apuração da prática de uma infração penal e de sua utoria. Trata-se de uma
instrução provisória, preparatória, informativa, em que se colhem elementos
por vezes dificeis de obter na instrução judiciária, como auto de flagrante,
exames periciais.

Por sua vez, Tavora e Alencar (2018) complementam que esse instituto vem a ser o
procedimento administrativo presidido pelo delegado de polícia, no intuito de identificar o
autor do ilícito e os elementos que atestem a sua materialidade (existência), contribuindo para
a opinião delitiva do titular da ação penal.
Da mesma maneira, Rangel (2010) conceitua o inquérito policial como: “[...] conjunto
de atos praticados pela função executiva do Estado com o escopo de apurar a autoria e a
materialidade […] de uma infração penal, dando ao Ministério Público elementos necessários
que viabilizem o exercício da ação penal”.
Feitas tais ponderações sobre a conceituação doutrinária do inquérito policial, cumpre
demonstrar o procedimento adotado, conforme prescrição do CPP/41.
Para iniciar o inquérito policial faz-se necessário a notitia criminis que consoante Capez
(2016, p.162) configura: “[..] o conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da
autoridade policial, de um fato aparentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que
a autoridade dá início às investigações”.
Ratificando o acima exposto, acrescenta-se que essa notitia criminis apresenta-se de
quatro formas: direta, espontânea ou de cognição imediata (se forma quando a autoridade
policial de forma direta toma ciência do crime); indireta, provocada ou de cognição mediata
(o fato é comunicado a autoridade policial por alguém que de alguma forma se envolve com o
caso); coercitiva (ocorre nos casos de prisão em flagrante) e por fim, delatio criminis (é a
possibilidade em que qualquer cidadão leva ao conhecimento da autoridade policial o fato,
em momento algum o aparelho estatal foi movido para que o fato fosse descoberto)
(BONFIM, 2010).
Logo após a instauração do inquérito policial diversas diligências são tomadas, assim,
assevera Bonfim (2010, p. 149) que:

[…] O CCP/41 determina algumas práticas que, se adequadas aos casos


concretamente apresentados, deverão ser adotadas, demonstrando a
complexidade do inquérito, na medida em que a autoridade policial realizara
várias medidas que configurarão o todo das investigações […] Deverá a
autoridade policial, portanto, realizar diligencias previstas no art. 6º do
CPP/41, evidentemente se pertinentes ao fato investigado, cabendo-lhe
livremente – dentro dos parâmetros legais - eleger outras que julgar
necessárias e eficientes para a elucidação do fato.

Nessa conjuntura, o CPP/41 dispõe que:

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que
não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem
para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto
no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser
assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo
processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de
vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e
estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e
caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa (BRASIL,
1941).
A despeito da forma de instauração desse instituto, após feitas as diligências acima,
destaca-se que é realizado de ofício - independe de provocação - por portaria da autoridade
policial, pela lavratura de flagrante, mediante representação do ofendido ou requisição do juiz
ou do Ministério Público, devendo todas as peças do inquérito serem, num só processadas,
reduzidas a escrito ou datilografadas (GRECO, 2010).
Após a instauração, compete ao delegado, de forma exclusiva, realizar o indiciamento
que consiste na:
[…] imputação a alguém, no inquérito policial, da prática do ilícito penal,
sempre que houver razoáveis indícios de sua autoria […] É a declaração do,
até então, mero suspeito como sendo o provável autor do fato infringente da
norma penal. Deve (ou deveria) resultar da concreta convergência de sinais
que atribuam a provável autoria do crime a determinado ou a determinados
suspeitos. Com o indiciamento, todas as investigações passam a se
concentrar sobre a pessoa do indiciado (CAPEZ, 2016, p.175).

Nesse mesmo sentido, acerca do instituto do indiciamento no inquerito policial Greco


Filho (2010, p. 82), aponta que:

O indiciamento é ato formal da autoridade policial que aponta alguém


envolvido como o autor da infração investigada segundo a convicção do
condutor do inquérito. O indiciamento inclui a colheita de dados sobre a
vida pregressa e identificação datiloscopica do suspeito se estiver presente e
não estiver identificado civilmente de maneira inequívoca. Se ausente, o
indiciamento se faz de maneira indireta, ou seja, mediante colheita de dados
de fontes diversas a que a autoridade possa recorrer.

Destarte, acerca do prazo para conclusão do inquérito, Lima (2020, p. 227), destaca:

[...] o inquérito deverá terminar no prazo de dez dias, se o indiciado tiver


sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo,
nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no
prazo de trinta dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

Nessa seara, Capez (2016) complementa que quando o sujeito estiver solto, o § 3º do
mesmo artigo permite a prorrogação do prazo pelo juiz sempre que o inquérito não estiver
concluído dentro do prazo legal, desde que o caso seja de difícil elucidação.
Ademais, Lima (2020) complementa que recentemente, o art. 3ºB, §2º, do CPP/41,
incluído pela Lei n. 13.964/19, passou a prever que se o investigado estiver preso, o juiz das
garantias poderá, mediante representação da autoridade policial, e ouvido o Ministério
Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até quinze dias, após o que, se
ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. Portanto,
caso o indiciado esteja solto, é perfeitamente possível a sucessiva prorrogação do prazo para a
conclusão do inquérito policial.
Por conseguinte, acerca da finalização desse procedimento, Lopes Junior (2019, p. 175)
preceitua que:
O procedimento finalizará por meio de um relatório (art. 10, §§ 1º e 2º),
através do qual o delegado de polícia fará uma exposição – objetiva e
impessoal – do que foi investigado, remetendo-o ao foro para ser
distribuído. Acompanharão o IP os instrumentos utilizados para cometer o
delito e todos os demais objetos que possam servir para a instrução
definitiva (processual) e o julgamento. Tendo havido prevenção, será
encaminhado para o juiz correspondente. Recebido o IP pelo juiz, dará este
vista ao MP. Uma vez mais, a teor do art. 129, I, da CB, o melhor seria que o
inquérito fosse distribuído diretamente ao Ministério Público.

Feitas essa exposição sintética do procedimento adotado no inquerito policial, resta-se


demonstrado, portanto, a relevância desse procedimento administrativo para a ação penal,
haja vista que a partir do mesmo é formada a convicção do delegado por meio do
indiciamento, que de forma direta ou indireta influencia todo o processo. Diante disso,
ressalta-se a importância da observancia de princípios como o contraditório e ampla defesa, a
fim de que seja alcançado a justiça de forma efetiva.

Características e princípios do inquérito policial

Mormente, cumpre desacar as caracteristicas do inquérito policial, a fim de que possa


ser consolidado o entendimento acerca do mesmo. Nesse sentido, constituem caracteristicas
desse instituto: escrito, dispensável, sigiloso, inquisitivo, discricionário, oficioso, bem como
oficial.
A finalidade do inquérito policial é a apuração de fato que configure infração penal e a
respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às providências cautelares. Dessa
forma, não se concebe a existência de uma investigação verbal. Assim, todas as peças do
inquérito policial devem ser num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste
caso, rubricadas pela autoridade competente (CAPEZ, 2016).
Acerca da dispensabilidade do referido procedimento Paz (2015, p. 5) infere que:

Apesar da grande importância para a colheita de provas o inquérito policial


não é o único instrumento capaz de oferecer elementos necessários para que
a ação penal seja proposta. A instauração da ação penal no poder judiciário
independe da existência de inquérito policial anterior. O autor da ação penal
poderá oferecer denúncia ou queixa-crime desde que tenha os elementos de
informação suficiente para a justa causa da ação.

No que se refere ao sigilo do inquérito policial, consoante disciplina o CPP/41, em seu


artigo 20: “a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade”
Destarte, a Súmula Vinculante 14, editada em 2009, elenca que: “É direito do defensor,
no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
Assim, essa súmula estabelece que o advogado pode examinar, até mesmo, sem
procuração, os autos do inquérito, contanto que o faça em nome de alguém que tenha legítimo
interesse. Todavia, não poderá realizar atos procedimentais, ou seja, participar das
investigações. Será possível ao defensor saber dos atos que foram realizados, porém, este não
saberá o futuro do procedimento (BRANDÃO; MAGALHÃES, 2016).
Dessarte, acerca da inquisitoriedade do aludido procedimento, Capez (2016. p. 157)
ressalta que:
Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades
persecutórias concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual, por
isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer que seja,
podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com discricionariedade,
as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da sua autoria. É
característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade da
ação penal.

Em relação a discricionariedade do inquerito Brandão e Magalhães (2016, p. 10)


explicam que: “O inquérito é um procedimento discricionário, ou seja, praticado com
liberdade de escolha dentro dos limites da lei. O delegado de polícia direciona a investigação
e, diante de caso concreto, ele a conduz da forma que achar mais conveniente e oportuna”.
Assim, frente a notícia do crime, cabe a autoridade competente agir de ofício,
independentemente de provocação - ressalvadas as ações penais privadas e as ações penais
públicas condicionadas à representação - o que caracteriza a sua oficiosidade.
Por fim, cumpre asseverar sobre a caracteristica da oficialidade que: “O inquérito
policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não podendo ficar a cargo do
particular, ainda que a titularidade da ação penal seja atribuída ao ofendido” (Capez, 2016,
p.156).
Noutro giro, cabe destacar que o inquérito policial, como todo instituto de direito é
regido por princípios. Assim, neste momento, discorrer-se-á acerca deles, a saber, o princípio
da verdade real, da publicidade, da presunção da inocência, do direito ao silêncio, da não auto
incriminação, e do contraditório e ampla defesa; em que pese estes ultimos serem aplicados
ao processo penal em curso; mas não serem aplicados no inquérito, que o antecede.
Inicialmente, cumpre destacar que o princípio da verdade real, conhecido como
princípio da verdade material ou verdade substancial, determina que a investigação deve
corresponder ao que está fora dela de forma plena, sem quaisquer tipos de artifícios ou
presunções. Na esfera processual penal, em regra, predomina a indisponibilidade de
interesses, tal prevalência não se faz suficiente para que se chegue à verdade, motivo pelo
qual o processo deve traduzir o retrato que mais se aproxime da realidade dos fatos. Bonfim
(2010, p.80) complementa dizendo que: “ O conjunto instrutório deve refletir, no maior grau
de fidelidade possível, aos acontecimentos pertinentes ao fato investigado”.
Segundo Nucci (2014) a verdade real pode ser definida como a reconstrução atingível
de fato relevante e metaprocessual, inquisitivamente perquerida para deslinde da causa penal.
O julgamento prolatado no processo penal deve refletir, na medida do possível, a
realidade. Logo, a pesquisa do que efetivamente aconteceu deve sere plena e ampla, a fim de
que a realidade transmita a absoluta fidelidade dos autos.
Nesse sentido, Mirabete (2013, p. 44), aduz que o princípio da verdade real exclui “ os
limites artificiais da verdade formal, eventualmente criados por atos ou omissões das partes,
presunções, ficções, transações [..]”. Reproduzir a veerdade no processo penal é tarefa que
deve ser feita através da busca das melhores provas em matéria criminal, sendo que o
magistrado não pode se furtar em apenas se contentar com aquelas fornecidas pelas partes,
salvo se forem as melhores.
O princípio da publicidade, por sua vez, encontra-se inserido no artigo 5º, LX, da
CRFB/88, segundo o qual “ a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem” (BRASIL, 1988). No prisma
infraconstitucional, o artigo 792 do CPP/41 expressa a publicidade e, de igual forma, impõe a
restrição da publicidade quando ofensiva a intimidade das partes.
Nessa perspectiva, acerca da fase da coleta de provas, é possível inferir que não se
coaduna com a publicidade, frente ao artigo 20 do CPP/41, que assim dispõe: “ A autoridade
assegurará no inquerito o sigilo necessário à elucidação do fato exigido pelo interesse da
sociedade” (BRASIL, 1941).
No que tange ao princípio da presunção da inocência, cabe destacar a discussão
jurisprudencial que o envolve frente a execução provisória da pena. É cediço que a CRFB/88
dispõe que: “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal
condenatória” (BRASIL/1988). Assim, ao longo dos anos ocorreram várias transições de
entendimento, ora apontando como momento de execução da pena após esgotadas todas as
instâncias, ora entendendo a execução da pena após julgamento em primeira instância.
Por oportuno, atualmente, prevalece o entendimento da execução da pena após
esgotadas todas as instâncias, em consonância ao princípio da presunção da inocencia.
Complementarmente, ressalta-se que Lopes Junior (2019) refere-se a esse princípio a
partir de duas dimensões, a saber, interna e externa. A dimensão interna, é um dever de
tratamento imposto ao juiz, determinando que a carga da prova seja inteiramente do acusador
e que a dúvida conduza inexoravelmente à absolvição; implica severas restrições ao (ab)uso
das prisões cautelares. Assim, remete-se a presunção de inocência, impondo regras de
tratamento e regras de julgamento para o juiz. Externamente ao processo, a presunção de
inocência exige uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do réu.
Significa dizer que a presunção de inocência deve ser utilizada como verdadeiros limites
democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio
processo judicial.
O princípio direito ao silêncio e não autoincriminação, consagram-se no artigo 5º, LXIII
da CRFB/88 que assim prevê: o preso será informado de seus direitos entre os quais o de
permanecer calado, sendo lhe assegurado a assistencia da família e do advogado”
(BRASIL/1988). Bem como na Convenção Americana de Direitos Humanos, em seu artigo
8º, II, g, que garante à pessoa o direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, muito
menos de declarar-se culpada.
Cumpre salientar, que para Oliveira (2011) esses princípios referem-se ao ônus
probatório e impedem que a omissão ou a inatividade do acusado possa ser utilizada em seu
desfavor, assim, o onus da prova, em regra, é da acusação.
Por conseguinte, no que se refere ao princípio do contraditório e sua relevância, Lopes
Júnior (2019, p. 108) ensina que:

O contraditório pode ser inicialmente tratado como um método de


confrontação da prova e comprovação da verdade, fundando-se não mais
sobre um juízo potestativo, mas sobre o conflito, disciplinado e ritualizado,
entre partes contrapostas: a acusação (expressão do interesse punitivo do
Estado) e a defesa (expressão do interesse do acusado [e da sociedade] em
ficar livre de acusações infundadas e imune a penas arbitrárias e
desproporcionadas).

Dessarte, Tourino Filho (2011, p. 65), questiona o porquê de não haver no inquerito
contraditório. Não obstante a Magna Carta disponha no art 5º, LV: “Aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”(BRASIL1988), o certo é que a
expressão processo administrativo, à qual classifica-se o inquerito, não se refere a fase do
inquérito policial, e sim ao processo instaurado pela Administração Pública para apuração de
ilícitos administrativos. E em que pese fosse processo administrativo, a CRFB/88 não faz
distinção para preservação do aludido princípio.
Nesse sentido, Feitosa (2010, p.145) complementa que:

Há um projeto de lei no Congresso Nacional que procura introduzir algum


contraditório no inquérito policial, especialmente quanto às perícias, que são
verdadeiras provas para o futuro do processo penal. Nos processos penais
italiano e português, há vários atos, durante a investigação criminal, que
estão sujeitos a um início de contraditório.

Em relação a ampla defesa, e sua previsão nos tratados internacionais, Capez (2016)
assevera que é dever do Estado proporcionar ao acusado a mais completa defesa. Não
obstante a previsão constante no Pacto Internacional de Direitos Civis que garante a toda
pessoa acusada de infração penal o direito de se defender pessoalmente e por meio de um
defensor constituído ou nomeado pela Justiça.
Nessa mesmo sentido, Lopes Júnior (2019, p.114), complementa dizendo que:

Mesmo no interrogatório policial, o imputado tem o direito de saber em que


qualidade presta as declarações, de estar acompanhado de advogado e,
ainda, de reservar-se o direito de só declarar em juízo, sem qualquer
prejuízo. O art. 5º, LV, da CRFB/88 é inteiramente aplicável ao inquérito
policial. O direito de silêncio, ademais de estar contido na ampla defesa
(autodefesa negativa), encontra abrigo no art. 5º, LXIII, da CB, que ao
tutelar o estado mais grave (preso) obviamente abrange e é aplicável ao
sujeito passivo em liberdade.

O interrogatório, portanto, deve ser um ato espontâneo, livre de pressões ou torturas.


Nesse procedimento, faz-se necessário estabelecer um limite máximo para a busca da verdade
e para isso estão os direitos fundamentais elencados na CRFB/88 (LIMA, 2019).
Isto posto, verifica-se a necessidade do respeito à constituição nos inquéritos policiais,
em que pese o contraditório e a ampla defesa serem resguardados sem distintinção ao
processo judicial ou administrativo.

A aplicação dos princípios do contraditório e ampla defesa no inquérito policial


considerando a súmula vinculante 14/STF e a Lei nº 13.245/16

Ante o exposto acima, feitas as considerações acerca do inquérito policial, cumpre


analisar as correntes favoráveis e as desfavoráveis, no que tange a aplicação do princípio do
contraditório e ampla defesa no referido procedimento. Não obstante, destacar-se-á a
importância da Súmula 14 do STF para o ordenamento jurídico brasileiro, bem como a Lei
nº13.245/16 que adveio com o intuito de salientar os princípios acima elencados, por meio da
atuação do advogado.
Nessa seara, destacando o posicionamento contrário a aplicação do contraditório e
ampla defesa, Bellinello e Feguri (2019) destacam que o inquérito policial por não se tratar de
processo administrativo e sim procedimento administrativo, por não existir acusado e sim
investigado, não se aplicam os princípios já citados e elencados no artigo 5º, LV, da CRFB/88.
Assim, não se estendem ao indiciado o contraditório e ampla defesa.
Nesse sentido, para Mirabete (2013) o inquérito constitui um dos poucos poderes de
autodefesa que são reservados ao Estado a esfera da repressão ao crime, com caráter
inquisitivo, isto é, inexiste a igualdade e liberdade processuais, o processo é normalmente
escrito e sigiloso, se desenvolvendo em fases por impulso oficial; em que o réu é simples
objeto de um procedimento administrativo.
Noutro giro, em que pese a afirmação de que não há contraditório e ampla defesa nesse
procedimento administrativo, Castro (2016, p. 10), destaca que:

Tal proposição baseia-se numa interpretação literal da CRFB/88, que em seu


artigo 5º, LV garante o contraditório e a ampla defesa aos litigantes em
processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral. Daí se conclui
que não estão incluídos os investigados em inquérito policial, por não serem
litigantes ou acusados e por não constituir o procedimento policial um
processo.

Nesse mesmo sentido, Lopes Júnior (2019) considera erronea e infundada a afirmação
genérica e de que não existe direito de defesa e contraditório no inquérito policial, dado que,
existe, é exigível, mas sua eficácia é insuficiente e deve ser potencializada. É uma
potencialização por exigência constitucional.
Dessa forma, Lopes Júnior (2019, p. 203) acrescenta, ainda, que:

O ponto crucial nessa questão é o art. 5º, LV, da CB, que não pode ser objeto
de leitura restritiva. A postura do legislador foi claramente protetora, e a
confusão terminológica (falar em processo administrativo quando deveria
ser procedimento) não pode servir de obstáculo para sua aplicação no
inquérito policial, até porque o próprio legislador ordinário cometeu o
mesmo erro ao tratar como “Do Processo Comum”, “Do Processo Sumário”
etc., quando na verdade queria dizer “procedimento”. Tampouco pode ser
alegado que o fato de mencionar acusados, e não indiciados, seja um
impedimento para sua aplicação na investigação preliminar.

Nessa perspectiva, salienta-se que a ausência do contraditório e ampla defesa no


inquérito policial, possibilita uma eventual acusação precoce pelo Ministério Público e por
conseguinte ocorre o mesmo com o julgamento, podendo influenciar na formação e aplicação
da sentença. Portanto, seja para ser preservado a imparcialidade dos agentes responsáveis por
cada órgão jurídico, incumbidos na missão da aplicação das normas juridicas, desde a fase
pré-processual sobre o indivíduo que incorrer no desvio de conduta tipificado como infração
penal, seja para garantir e dar eficácia a Constituição Cidadã e tornála eficiente é necessário
que se façam prevalecer os direitos inerentes à dignidade da pessoa humana, e nesse caso em
tela lhe seja oferecido as garantias do artigo 5º, LV ( BELLINELLO; FEGURI, 2019).
“Com efeito, é preciso reconhecer o contraditório e a ampla defesa como características
básicas do inquérito policial, evitando a equivocada mensagem de que a defesa é algo a ser
colocada em segundo plano na investigação preliminar” (CASTRO, 2019, p. 7).
Isto posto, consubstancia necessária e indispensável a aplicação dos princípios em tela,
assim, nessa seara é o que expõe a Súmula Vinculante nº14: “É direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
Dessarte, sendo negado esse direito ao advogado, Lopes Júnior (2019, p. 209)
exemplifica o remédio processual cabível:

Por se tratar de decisão que nega eficácia à Súmula Vinculante, o remédio


processual adequado é a Reclamação, feita diretamente ao STF, nos termos
dos arts. 102, I, “l”, e 103-A, § 3º, da Constituição. Mas nada impede que o
defensor interponha, primeiramente, Mandado de Segurança junto ao juízo
de primeiro grau (quando a negativa de acesso for da autoridade policial) ou
ao respectivo tribunal (quando o ato coator emana de juiz). Ainda que
historicamente o STF e o STJ tenham (felizmente) admitido o habeas corpus
para uma tutela dessa natureza, entendemos que o desrespeito às
prerrogativas profissionais do advogado deve ser remediado por meio de
mandado de segurança, instrumento mais adequado para tutelar tal
pretensão.

Por conseguinte, frente a preservação do princípio do contraditório e da ampla defesa


no inquérito policial, a Lei nº 13.245/16 altera o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Lei nº 8.906/94, prevê algumas prerrogativas concedidas ao
defensor para fiel execução dos referidos princípios. Nesse sentido, corrobora o artigo 133 da
CRFB/88: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.
Assim, em um primeiro momento cabe destacar a alteração feita no artigo 7º, em dois
de seus incisos, da Lei nº 8.906/94, em que prevê os direitos do advogado:

XIV- examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir


investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações
de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou
digital;
[…]
XXI- assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações,
sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele
decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no
curso da respectiva apuração:
a) apresentar razões e quesitos;

Verifica-se, ante o exposto, que os incisos acima visam a asseguração dos princípios
relatados, ante a preocupação do legislador na proteção de direitos em um Estado
Democrático de Direitos. Os parágrafos 10, 11, e 12, desse mesmo artigo, por sua vez,
elencam que:
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração
para o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV.
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a
diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade
das diligências.
§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o
fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve
a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do
responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o
exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente.

Portanto, não existe sigilo para o advogado no inquérito policial e não lhe pode ser
negado o acesso às suas peças nem ser negado o direito à extração de cópias ou fazer
apontamentos, sob o crivo de violação não só do contraditório e ampla defesa, como também
o do devido processo legal (LOPES JÚNIOR, 2019).
Pode-se, portanto, hodiernamente, vislumbrar o contraditório e a ampla defesa no
inquérito policial, em que pese entendimentos contrários que neguem sua existência. Destaca-
se que o ordenamento jurídico busca veemente atualizar-se para assegurar esses princípios,
seja, pela edição da Súmula Vinculante nº14, seja pelas atualizações trazidas pela Lei nº
13.245/16.
Assim, pode-se observar o longo caminho tracejado pelo inquérito policial, até alcançar
os moldes em que se insere hoje, de sistema inquisitorial ao sistema acusatório, visando a
máxima do Estado Democrático de Direito.

Considerações finais

Os princípios do contraditório e da ampla defesa encontram-se consubstanciados no


inquérito policial, em que pese corrente doutrinária que negue a sua existencia no referido
procedimento. Desse modo, restou-se demonstrado que o ordenamento jurídico, como um
todo, busca veemente atualizar-se para assegurar esses princípios, seja, pela edição da Súmula
Vinculante nº14, seja pelas atualizações trazidas pela Lei nº 13.245/16.
A princípio, teceu-se considerações acerca da evolução historica do inquerito
policial, que possui raízes advindas do modelo inquisitorial, adotado em Portugal, passando,
depois, por influencias iluministas e a separação dos sistemas processuais penais, com o
advento do sistema acusatório. Restaram demonstradas, também, a conceituação e
procedimento adotado nesse instituto.
As caracteristicas do inquérito policial, por sua vez, foram salientadas, destacando-se
seu caráter sigiloso, modo escrito, sua dispensabilidade, seu carater inquisitivo, sua
discricionariedade, sua oficiosidade e sua oficialidade. Analisou-se, ainda, seus princípios,
especialmente, o princípio do contraditório e da ampla defesa, ressaltando-se que os mesmos
referem-se ao ônus probatório e impedem que a omissão ou a inatividade do acusado possam
ser utilizadas em seu desfavor.
Por conseguinte, destacou-se as as correntes favoráveis e as desfavoráveis, frente a
aplicação do princípio do contraditório e ampla defesa no referido procedimento. Analisou-se
a Súmula Vinculante nº14, bem como a Lei nº13.245/16 que adveio com o intuito de salientar
os princípios acima elencados, por meio da atuação do advogado.
Demonstrou-se, portanto, a evolução em que se insere o instituto do inquérito policial,
até alcançar os moldes em que se insere hoje, visando a máxima do Estado Democrático de
Direito, no que tange a aplicação do contraditório e da ampla defesa.

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