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Introdução
Nessa perspectiva, conforme Garcia (1999), iniciou-se no século XIX durante o período
imperial as primeiras formas de atividade inquisitiva no momento em que juízes de paz
tinham a função de lavrar o auto do corpo de delito e de formar a culpa (sumário de culpa),
função essa que se consignou no primeiro Código de Processo Penal, de 1832, durante as
Ordenações Filipinas. A formação da culpa abarcava a inquirição de testemunhas, assim
como, o direito do acusado de contradizê-las.
Posteriormente, em meados de 1841, essa prerrogativa passou aos chefes de polícia,
aos delegados e aos subdelegados. Assim a preparação do sumário de culpa se acumulou as
funções policiais. Ao final, o delegado deveria se pronunciar, em substituição ao sumário de
culpa, cabendo ao juiz municipal a manutenção ou não da decisão, assim, as funções
começam a se separar. Em 1871, com a Lei nº 2.033, a formação da culpa passa a ser
atribução exclusiva dos juízes de direito e juízes municipais (CAPEZ, 2016).
Em consonância, Gavião (2015, p. 55), acrescenta que a Lei nº 2.033 de 1871, separou
a polícia e a judicatura, criando o inquérito policial , pois até então esse instituto não existia
em nosso ordenamento jurídico. Após a Lei nº 2.033 de 1871 veio o Decreto nº 4.824, de 22
de novembro de 1871, que regulou a mencionada lei e dedicou a seção 3 do Capítulo 3 ao
inquérito policial, que, até então, embora com dispositivos referentes à investigação em outras
leis, surgiu pela primeira vez com essa denominação.
Dado isso, Andrade (2010, p. 11), complementa que:
Por sua vez, Tavora e Alencar (2018) complementam que esse instituto vem a ser o
procedimento administrativo presidido pelo delegado de polícia, no intuito de identificar o
autor do ilícito e os elementos que atestem a sua materialidade (existência), contribuindo para
a opinião delitiva do titular da ação penal.
Da mesma maneira, Rangel (2010) conceitua o inquérito policial como: “[...] conjunto
de atos praticados pela função executiva do Estado com o escopo de apurar a autoria e a
materialidade […] de uma infração penal, dando ao Ministério Público elementos necessários
que viabilizem o exercício da ação penal”.
Feitas tais ponderações sobre a conceituação doutrinária do inquérito policial, cumpre
demonstrar o procedimento adotado, conforme prescrição do CPP/41.
Para iniciar o inquérito policial faz-se necessário a notitia criminis que consoante Capez
(2016, p.162) configura: “[..] o conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da
autoridade policial, de um fato aparentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que
a autoridade dá início às investigações”.
Ratificando o acima exposto, acrescenta-se que essa notitia criminis apresenta-se de
quatro formas: direta, espontânea ou de cognição imediata (se forma quando a autoridade
policial de forma direta toma ciência do crime); indireta, provocada ou de cognição mediata
(o fato é comunicado a autoridade policial por alguém que de alguma forma se envolve com o
caso); coercitiva (ocorre nos casos de prisão em flagrante) e por fim, delatio criminis (é a
possibilidade em que qualquer cidadão leva ao conhecimento da autoridade policial o fato,
em momento algum o aparelho estatal foi movido para que o fato fosse descoberto)
(BONFIM, 2010).
Logo após a instauração do inquérito policial diversas diligências são tomadas, assim,
assevera Bonfim (2010, p. 149) que:
Destarte, acerca do prazo para conclusão do inquérito, Lima (2020, p. 227), destaca:
Nessa seara, Capez (2016) complementa que quando o sujeito estiver solto, o § 3º do
mesmo artigo permite a prorrogação do prazo pelo juiz sempre que o inquérito não estiver
concluído dentro do prazo legal, desde que o caso seja de difícil elucidação.
Ademais, Lima (2020) complementa que recentemente, o art. 3ºB, §2º, do CPP/41,
incluído pela Lei n. 13.964/19, passou a prever que se o investigado estiver preso, o juiz das
garantias poderá, mediante representação da autoridade policial, e ouvido o Ministério
Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até quinze dias, após o que, se
ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. Portanto,
caso o indiciado esteja solto, é perfeitamente possível a sucessiva prorrogação do prazo para a
conclusão do inquérito policial.
Por conseguinte, acerca da finalização desse procedimento, Lopes Junior (2019, p. 175)
preceitua que:
O procedimento finalizará por meio de um relatório (art. 10, §§ 1º e 2º),
através do qual o delegado de polícia fará uma exposição – objetiva e
impessoal – do que foi investigado, remetendo-o ao foro para ser
distribuído. Acompanharão o IP os instrumentos utilizados para cometer o
delito e todos os demais objetos que possam servir para a instrução
definitiva (processual) e o julgamento. Tendo havido prevenção, será
encaminhado para o juiz correspondente. Recebido o IP pelo juiz, dará este
vista ao MP. Uma vez mais, a teor do art. 129, I, da CB, o melhor seria que o
inquérito fosse distribuído diretamente ao Ministério Público.
Dessarte, Tourino Filho (2011, p. 65), questiona o porquê de não haver no inquerito
contraditório. Não obstante a Magna Carta disponha no art 5º, LV: “Aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”(BRASIL1988), o certo é que a
expressão processo administrativo, à qual classifica-se o inquerito, não se refere a fase do
inquérito policial, e sim ao processo instaurado pela Administração Pública para apuração de
ilícitos administrativos. E em que pese fosse processo administrativo, a CRFB/88 não faz
distinção para preservação do aludido princípio.
Nesse sentido, Feitosa (2010, p.145) complementa que:
Em relação a ampla defesa, e sua previsão nos tratados internacionais, Capez (2016)
assevera que é dever do Estado proporcionar ao acusado a mais completa defesa. Não
obstante a previsão constante no Pacto Internacional de Direitos Civis que garante a toda
pessoa acusada de infração penal o direito de se defender pessoalmente e por meio de um
defensor constituído ou nomeado pela Justiça.
Nessa mesmo sentido, Lopes Júnior (2019, p.114), complementa dizendo que:
Nesse mesmo sentido, Lopes Júnior (2019) considera erronea e infundada a afirmação
genérica e de que não existe direito de defesa e contraditório no inquérito policial, dado que,
existe, é exigível, mas sua eficácia é insuficiente e deve ser potencializada. É uma
potencialização por exigência constitucional.
Dessa forma, Lopes Júnior (2019, p. 203) acrescenta, ainda, que:
O ponto crucial nessa questão é o art. 5º, LV, da CB, que não pode ser objeto
de leitura restritiva. A postura do legislador foi claramente protetora, e a
confusão terminológica (falar em processo administrativo quando deveria
ser procedimento) não pode servir de obstáculo para sua aplicação no
inquérito policial, até porque o próprio legislador ordinário cometeu o
mesmo erro ao tratar como “Do Processo Comum”, “Do Processo Sumário”
etc., quando na verdade queria dizer “procedimento”. Tampouco pode ser
alegado que o fato de mencionar acusados, e não indiciados, seja um
impedimento para sua aplicação na investigação preliminar.
Verifica-se, ante o exposto, que os incisos acima visam a asseguração dos princípios
relatados, ante a preocupação do legislador na proteção de direitos em um Estado
Democrático de Direitos. Os parágrafos 10, 11, e 12, desse mesmo artigo, por sua vez,
elencam que:
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração
para o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV.
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a
diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade
das diligências.
§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o
fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve
a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do
responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o
exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente.
Portanto, não existe sigilo para o advogado no inquérito policial e não lhe pode ser
negado o acesso às suas peças nem ser negado o direito à extração de cópias ou fazer
apontamentos, sob o crivo de violação não só do contraditório e ampla defesa, como também
o do devido processo legal (LOPES JÚNIOR, 2019).
Pode-se, portanto, hodiernamente, vislumbrar o contraditório e a ampla defesa no
inquérito policial, em que pese entendimentos contrários que neguem sua existência. Destaca-
se que o ordenamento jurídico busca veemente atualizar-se para assegurar esses princípios,
seja, pela edição da Súmula Vinculante nº14, seja pelas atualizações trazidas pela Lei nº
13.245/16.
Assim, pode-se observar o longo caminho tracejado pelo inquérito policial, até alcançar
os moldes em que se insere hoje, de sistema inquisitorial ao sistema acusatório, visando a
máxima do Estado Democrático de Direito.
Considerações finais
Referências
ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TAVORA, Nestor. Curso de Direito processual Penal. Ed.
13. Salvador: Ed. Jus Podvm, 2018.
Andrade, Vinicius Lúcio de. Inquérito Policial: Um Modelo em Colapso. 2010. Disponível
em: <http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/6091/1/PDF%20-%20Vinicius
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GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 8. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2010
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. Ed. 8. Salvador: JusPodivm, 2020.
Lopes Jr., Aury. Direito processual penal. Ed.16. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
MIRABETE, Julio Fabrini. Processo Penal. 29. ed. São Paulo; Atlas 2013.
PAZ, César Ferreira Mariano da. Inquérito Policial: uma breve análise. 2015. Disponível
em:<https://www.fdcl.com.br/revista/site/download/fdcl_athenas_ano4_vol1_2015_artigo6.p
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RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.