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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR


UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE DIREITO

Arthur Goes Fuzaro R.A 1916074


Denise Christina de Araújo R.A 1901139
Elisandra Ap. Ribeiro dos Santos R.A 1925304
Gabriele Ribeiro de Souza R.A 1948101
Isadora Faustino R.A 1921488
Nayra Yasmim Rodrigues R.A 1910506
Adelino Brandt Filho R.A 1927142

INQUÉRITO POLICIAL

Marília- SP
2023

INQUÉRITO POLICIAL
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Produção textual apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito da Universidade de
Marília Unimar, como requisito para obtenção
de nota de DIREITO PROCESSUAL PENAL
I.

Orientador(a): Prof(a). Esp., Ms., Dr. José


Luiz Mansur Júnior

Marília- SP
2023

Resumo

Esse trabalho tem por finalidade primeiramente explicar o que é um inquérito


policial, e quais são suas principais características, e em sequência, adentrar
na questão de como funciona o arquivamento do inquérito policial, pois é um
tema que tem trazido uma repercussão ao ser alterada a redação do artigo 28,
do Código de Processo Penal pelo Pacote Anticrime, Lei 13.964/2019. Para
tanto, fez-se necessário à análise didática da supracitada Lei, enfocando tanto
do aspecto procedimental, quanto na fase processual. Por fim, tratou-se do
novo acordo de não persecução penal, o qual vem trazendo uma nova
modalidade a ser aplicada àqueles que preencham os requisitos impostos para
a oferta deste instituto. Para que o mesmo se pautasse do êxito esperado,
adotou-se uma metodologia de trabalho em que foram realizadas consultas em
obras literárias, doutrinas, artigos científicos, dissertações, teses e o teor de
diversas legislações que estiverem interligadas à temática .
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1 Introdução
A presente pesquisa visa mostrar como funciona um inquérito policial e quem
pode ter legitimidade para requerer o arquivamento com enfoque na Lei
13.964/2019, e a questão da persecução penal que trouxe a novidade do
acordo de não persecução penal, a quem pode ser ofertado, e como funcionam
todos com fundamento no Código de Processo Penal.

Uma importante alteração no modelo anterior está na nova redação do art. 28


do CPP e diz respeito à ingerência do juiz criminal sobre a decisão de
arquivamento de uma investigação criminal, seja uma mera notícia de fato, um
termo circunstanciado de ocorrência, uma apuração já formalizada no âmbito
de um inquérito policial, um procedimento investigatório criminal, um inquérito
judicial ou o relatório de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Eis o novo
texto comparado à redação original do art. 28 do CPP. O referido trabalho de
conclusão de curso possibilita uma leitura aprofundada no direito processual
penal e suas novidades apresentadas pelo novo pacote anticrime do Ex-
ministro Sérgio Moro, tendo a incumbência de apontar o que é um inquérito
policial, bem como quem é legítimo para manifestar pelo seu arquivamento e
da persecução penal, de sua evolução histórica e da novidade trazida sobre o
acordo de não persecução penal como é sua aplicabilidade.

Dar-se-á fundamento concluso do estudo a ideia que se propõe a defender, far-


se-á a análise de artigos, materiais afins e artigos, para averiguar como
funciona o arquivamento de um inquérito policial.

2 Problema

Finalizado o procedimento de inquérito policial para apurar a prática do delito de


homicídio em desfavor de Roberto, o Ministério Público requereu o seu arquivamento
por falta de justa causa, pois não conseguiu identificar o(s) autor(es) do delito, o que
restou devidamente homologado pelo juiz competente. Um mês após o arquivamento
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do inquérito policial, uma testemunha, que não havia sido anteriormente identificada,
compareceu à delegacia de polícia alegando possuir informações quanto ao autor do
homicídio de Roberto. Com base apenas nas informações narradas e no que concerne
o tema de inquérito policial da disciplina da Processo Penal, responda:  

a) Diante da notícia de existência de novas provas aptas a identificar o autor do crime,


é possível o Ministério Público promover o desarquivamento dos autos?  
Sim. Poderá promover o desarquivamento do inquérito, pois a decisão de
arquivamento fez apenas coisa julgada formal no caso concreto. 

b) Na hipótese narrada o juiz homologou o arquivamento do inquérito, todavia, caso o


magistrado não concordasse com o arquivamento, qual (is) medida (as) poderia
tomar? 
Pelo sistema anterior (ainda em vigor por conta de liminar concedida pelo Ministro
Luiz Fux), o juiz discordante deve remeter os autos do inquérito ao Procurador-Geral
do Ministério Público. Este, por sua vez, pode: (a) oferecer denúncia; (b) nomear outro
Promotor para oferecer denúncia em seu nome ; ou (c) insistir no pedido de
arquivamento. 

3 Sistema Processual Penal


Para aprofundarmos no estudo da nossa investigação preliminar, que falará de
INQUÉRITO POLICIAL, é necessário fazermos menção de dois tipos de sistema
processuais penais, mesmo tendo conhecimento que o modelo que adotado pelo
ordenamento jurídico reflete diretamente nas investigações policiais.
A partir da evolução doutrinária é possível citar 3 tipos de sistemas que darão
andamento ao processo penal e são chamados de inquisitivo, acusatório e misto.

3.1 O modelo adotado pelo Brasil

O sistema processual brasileiro é classificado como misto, porém deveria ser


classificado como neo inquisitório. O ponto de partida para isso seria identificar que
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a fase processual não seria acusatória, deixando a gestão da prova nas mãos dos
magistrados.
Como podemos observar na Constituição de 1988 o sistema adotado pelo Brasil era
misto, norteando para sistema tipicamente acusatório,porém é apenas uma
indicação.

Como bem destaca Nucci (p. 27, 2020), as recentes


alterações legislativas mudaram um pouco este
entendimento:
De outra parte, encontram-se na Constituição as normas
prevendo a existência da polícia judiciária, encarregada da
investigação criminal. Para essa fase, por óbvio, os postulados
acusatórios não se aplicavam. Porém, com a reforma trazida
pela Lei 13.964/2019, muita coisa foi alterada na captação de
provas durante a investigação criminal.

Com as alterações com pacote anti crime, o art 3 do CPP demonstrou de forma mais
clara, uma estrutura acusatória, vedando a iniciativa do juiz na fase de investigação
e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.
 Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas
a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da
atuação probatória do órgão de acusação.

Neste sentido, o magistrado afastado na fase pré-processual, sem poder ter acesso
aos autos do inquérito policial, após recebida a denúncia pelo Juiz de garantias, o
processo norteia pelo sistema acusatório.Não há sistema plenamente puro, o juiz,
poderá agir de ofício.

4 INQUÉRITO POLICIAL

O Inquérito é uma prática adotada pelo processo penal brasileiro, não podendo ser
confundida com uma investigação criminal.Na verdade, este termo é gênero, do qual
o inquérito policial é espécie, ou seja, umas das formas de produzir e materializar a
investigação no âmbito criminal (CHOUKR, 2001).
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Podemos então entender que inquérito tem por objetivo servir de base para que
Ministério Público para que possa representar o Estado,visando à opinio delicti.
Nada mais é como um instrumento para colher provas entendidas como urgentes e
irrepetíveis, após o cometimento do delito.
Para termos maior entendimento, devemos nos perguntar por que a existência de
uma investigação preliminar sobre a forma de inquérito policial antes de um
processo-crime.
Primeiramente, devemos entender que a necessidade de buscar o fato oculto, ajuda
a atingir indícios suficientes de autoria e materialidade para o oferecimento de
denúncia. Segundo tem a função simbólica que a investigação está sendo feita pelo
Estado, afastando o sentimento de impunidade.Terceiro, é um filtro processual a
investigação preliminar serve como filtro se tratando à persecução criminal que visa
evitar acusações infundadas, quando a conduta do agente não se pautar em
aparente ação criminosa.
Inquérito Policial trata-se de procedimento administrativo, preparatório e
inquisitivo criado pelo decreto imperial 4.824/1871, e previsto no Código de
Processo Penal Brasileiro como fundamental procedimento investigativo da
polícia judiciária brasileira, tendo por finalidade subsidiar o oferecimento da
denúncia ou da queixa pelo titular da ação penal, ou seja, provas da
materialidade do crime e indício de autoria (fumus comissi delicti). O I.P tem
como caracteristicas, quais sejam:

A. Procedimento inquisitivo: significa dizer que o sujeito sob investigação,


possível autor do crime, é um objeto de investigação. Não há contraditório, nem
ampla defesa. Há somente os atos de investigação.

B. Realizado pela Polícia Judiciária: incumbe ao Delegado de Polícia (Civil ou


Federal) a presidência do inquérito policial. Vê-se, portanto, que o inquérito fica
a cargo de órgão oficial do Estado (art. 144, §1º, I, e §4º, da Constituição
Federal).

"Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a
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preservação da ordem pública e da incolumidade das


pessoas e do patrimônio, sob a égide dos valores da
cidadania e dos direitos humanos, através dos órgãos
instituídos pela União e pelos Estados.

§ 1o A União, pela Polícia Federal ou por outro órgão de


segurança pública federal, exercerá:

I – a apuração das infrações penais contra a ordem


política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja
prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repreensão uniforme, inclusive
crimes contra os direitos humanos, observado o
procedimento estabelecido em lei;

§ 4o Lei estadual disciplinará limite de idade, estabilidade,


condições de transferência para a inatividade, direitos,
deveres, remuneração, prerrogativas e demais situações
especiais de seus integrantes, consideradas as
peculiaridades de suas atividades, organização e
funcionamento estabelecidos em regime disciplinar
próprio.

C. Sigiloso (art. 20, CPP): o sigilo visa assegurar a elucidação dos fatos e o


interesse da sociedade na solução do caso em exame. O sigilo característico
dos inquéritos não se aplica aos advogados, independentemente de
procuração. Com exceção aos casos em segredo de justiça legal ou
determinado pelo juiz, hipóteses em que o advogado precisa estar constituído
nos autos do inquérito.

Art. 20.  A autoridade assegurará no inquérito o sigilo


necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse
da sociedade.

D. Escrito (art. 9º, CPP): significar dizer que todas as peças em um só


processado serão reduzidas a termo. Isto é, tudo que ocorre no inquérito será
escrito e juntado aos autos do inquérito.
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Art. 9.  Todas as peças do inquérito policial serão, num


só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e,
neste caso, rubricadas pela autoridade

E. Dispensável (art. 12, CPP): o inquérito policial é peça auxiliar e não


obrigatória, pois acompanhará a denúncia ou a queixa sempre que servir de
base para seu oferecimento. Caso não sirva de base, em razão de já haver
provas ou qualquer outro motivo, poderá ser dispensado.

Art. 12.  O inquérito policial acompanhará a denúncia ou


queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.

F. Requerimento de diligências: apesar do caráter inquisitivo, a própria vítima


da infração penal pode requerer diligências. Com efeito, estabelece o art. 14 do
CPP, que:

“o ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado


poderão requerer qualquer diligência, que será realizada
ou não, a juízo da autoridade”.

Em caso de indeferimento, a parte poderá posteriormente requerer a


providência ao juiz ou ao promotor de justiça, vez que a autoridade policial é
obrigada a cumprir as determinações dessas autoridades.

G. Procedimento discricionário: ao contrário da fase judicia (em que há um rigor


procedimental a ser observado), a fase preliminar de investigações é conduzida
de maneira discricionária pela autoridade policial, que deve determinar o rumo
das diligências de acordo com as peculiaridades do caso concreto.
Discricionariedade, todavia, não implica em liberdade fora dos limites legais.
Assim, apesar do delegado de polícia ter discricionariedade para avaliar a
necessidade de interceptação telefônica, não poderá fazê-lo sem autorização
judicial.

H. Procedimento oficioso (obrigatoriedade): desde que a autoridade policial, por


qualquer meio, venha a tomar conhecimento da potencial prática de um delito
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de ação penal pública incondicionada, estará obrigada a instaurar, de ofício, o


inquérito policial.

I. Procedimento indisponível: o inquérito, após sua instauração, não poderá ser


arquivado pela autoridade policial (art. 17 do CPP).

“Diante da notícia de uma infração penal, o Delegado de


Polícia não está obrigado a instaurar o inquérito policial,
devendo antes verificar a procedência das informações,
assim como aferir a própria tipicidade da conduta
noticiada. Porém, uma vez determinada a instauração do
inquérito policial, o arquivamento dos autos somente
será possível a partir de pedido formulado pelo titular da
ação penal, com ulterior apreciação pela autoridade
judiciária competente. Logo, uma vez instaurado o
inquérito policial, mesmo que a autoridade policial
conclua pela atipicidade da conduta investigativa, não
poderá determinar o arquivamento do inquérito policial”
(RENATO BRASILEIRO, CURSO DE PROCESSO
PENAL, 2013, P. 87).

J. Procedimento informativo: o inquérito policial, conquanto tenha por finalidade


última possibilitar a punição daqueles que infringem a ordem penal, não se
presta, em si mesmo, como instrumento punitivo, vez que não é idôneo a
provocar manifestação jurisdicional. A pretensão punitiva pode apenas ser
veiculada pela ação penal.

4.1 Diligências investigatórias

Como já foi explicado em nosso trabalho, o inquérito policial tem início com a
notitia criminis. O inquérito policial pode começar de ofício, por portaria ou auto
de prisão em flagrante; requisição do Ministério Público ou do Juiz; por
requerimento da vítima; mediante representação do ofendido. Art 5º do CPP:

Art. 5º
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Nos crimes de ação pública o inquérito policial será


iniciado:

I - de ofício;

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do


Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de
quem tiver qualidade para representá-lo.

A sua formalidade, é iniciado por um ato administrativo feito pela autoridade policial,
ao qual determinou sua instauração por meio de uma portaria. A investigação se
concentra no esclarecimento sobre o fato e autoria, não sendo necessária a
identificação prévia de uma pessoa determinada. Esta identificação será feita no
curso da investigação preliminar.
Após o delegado de polícia saber do possível fato, se dirige até o local, visando a
preservação das coisas e do estado que se encontram, aguardando a chegada dos
peritos criminais. Deve-se também, realizar apreensão de objetos que estiverem
relacionados com o fato, liberando, apenas, após a perícia realizada pelos peritos
criminais.
Caminhando, tem que se colher as provas que servem para esclarecer os fatos e
suas circunstâncias.
Deve ouvir o ofendido, por mais que vítima esteja com seu emocional abalado,
quando possível, é extremamente relevante, pois a vítima pode fornecer
informações relevantes para investigação.
A autoridade policial poderá ouvir o indiciado naquilo em que for aplicável o Capítulo
III do Título VII da lei processual, o qual será reduzido a termo e assinado por suas
testemunhas que ouviram a leitura.
O investigado só assume o papel de indiciado, quando após as investigações se
junta elementos suficientes para indícios de princípio de materialidade, por razão a
isso ocorre o indiciamento.

4.2 Prazo para conclusão do inquérito policial


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O código de Processo Penal, prevê que inquérito policial tem o prazo deve ser
concluído em 30 dias, caso o investigado esteja em liberdade, e em 10 dias, se ele
estiver preso em razão de constrição cautelar.
Devido a demanda e acúmulo de serviço, faz com que este prazos não sejam
cumpridos. Quando o investigado está em liberdade normalmente, o delegado de
polícia solicita dilação ao Juiz. Tem- se um controle judicial sobre o andamento, mas
não existe prazo certo para terminar uma investigação criminal.
Quando o investigado ou indiciado é preso em flagrante ou preventivamente, o prazo
de 10 dias para a conclusão do inquérito deve ser seguido à risca, pois trata-se de
privação de um direito fundamental que é o de restrição de liberdade. Mesmo
havendo necessidade de promover outras diligências por parte da acusação, os 10
dias são improrrogáveis. O juiz, deverá verificar a necessidade, deferir a realização
e fazer a remessa dos autos à Polícia Civil, relaxar a prisão e colocar o indivíduo em
liberdade. Caso seja necessário sustentar a prisão, a acusação poderá oferecer a
denúncia, desde que haja indícios plausíveis de autoria e materialidade e,
posteriormente, será formado os autos complementares do inquérito policial, o qual
deverá retornar à autoridade policial (NUCCI, 2020).

4.3 Fase Final

A investigação chega ao fim, seja em face do prazo previsto em lei ou pelo


exaurimento, haja vista a conclusão das diligências realizadas que visavam à
apuração do delito, o delegado de polícia produzirá relatório minucioso contendo
todas as informações importantes e destinadas a embasar o indiciamento ou não do
investigado.
O encerramento do inquérito policial traz por si só, a certeza que todas as dúvidas
acerca da infração penal tenham sido resolvidas. Podendo ser considerado ou não
como um delito.
O delegado de polícia irá realizar um relatório final sobre tudo que foi apurado, com
uma narrativa objetiva dos fatos, não podendo realizar nenhum juízo de valor sobre
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a culpabilidade do investigado e antijuridicidade da conduta, anexando instrumentos


e objetos relacionados como prova, que ficaram a disposição das partes e do Juiz
competente.

4.4 A figura do juiz de garantias do curso da investigação criminal

O Poder Judiciário atua como garantidor dos direitos fundamentais inseridos na


Constituição Federal. Depende de sua atividade para acompanhar quando as tutelas
são violadas. O ordenamento jurídico recentemente ganhou garantias por meio da
Lei 12.964/19, incluindo o art. 3-C ao CPP. Antigamente o juiz instrutor tinha uma
postura muito ativa, mas isso já foi superado. Na verdade, o juiz de garantias não
tem uma diretriz inquisitorial, ou seja, não produz prova e não investiga, mas atua
como assegurador das garantias fundamentais.
………

4.5 Possibilidade de trancamento do inquérito policial

O Estado possui autoridade suficiente para investigar situações que não se


adequam ao pacto social firmado, e comprovando a conduta reprovável, exerça o ius
puniendi.
É certo que, o Estado possui a competência exclusiva para investigar situações que
não se adequam ao pacto social firmado e, ao final, caso comprovada a conduta
reprovável, exerça o ius puniendi. Porém, nem sempre o Estado atua com
qualidades sobre investigações realizadas sobre indivíduos suspeitos, isso acontece
por falta de provas e elementos que evidencie uma conduta típica. Não tendo
nenhuma base que possa indicar que a pessoa foi autora de uma infração penal não
se pode determinar que pessoa foi autora.
Como já vimos ao longo do trabalho investigar um indivíduo já traz problemas, fica
registrado na folha de antecedentes abertura de inquérito policial onde é feito toda
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averiguação, onde se constata o criminoso. Após isso, com objetivo de frear uma
possível investigação abusiva que esteja sendo realizada, se pode se usar o
remédio constitucional chamado Habeas Corpus, visando o trancamento da
persecução investigativa do Estado.
É uma medida de caráter excepcional, haja vista que, esta atividade não entra
necessariamente no mérito, mas em elementos que evidenciem justa causa
para propositura de ação penal. Portanto, o trancamento destina-se a coibir o
abuso e não a atividade essencial de polícia judiciária (NUCCI, 2020).

5 Lei
No caso concreto, vimos que um mês após o arquivamento do inquérito
policial, uma testemunha, que não havia sido anteriormente identificada,
compareceu à delegacia de polícia alegando possuir informações quanto ao
autor do homicídio de Roberto. Nesse caso, surgindo fatos novos, deve a
autoridade policial representar neste sentido, mostrando-lhe que existem fatos
novos que podem dar ensejo a nova investigação. (Sumula 524 STF). 

Súmula 524 e artigo 18 do CPP: diferença entre


as regras de desarquivamento de inquérito e
exercício da ação penal baseada em inquérito
arquivado 

Com efeito, a Súmula 524 desta Suprema Corte


estabelece que, "arquivado o inquérito policial, por
despacho do juiz, a requerimento do promotor de
justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas" 

Em regra, o arquivamento do I.P faz apenas coisa julgada Formal. Pode ser


desarquivado e rediscutir o assunto, desde que surjam novas provas (requisito
obrigatório) segundo ART 18 CPP: 

Art. 18.  Depois de ordenado o arquivamento do


inquérito pela autoridade judiciária, por falta de
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base para a denúncia, a autoridade policial poderá


proceder a novas pesquisas, se de outras provas
tiver notícia.  

No caso de discordância do juiz quanto ao pedido de arquivamento, o juiz


discordante deve remeter os autos do inquérito ao Procurador-Geral do
Ministério Público. Este, por sua vez, pode: (a) oferecer denúncia; (b) nomear
outro Promotor para oferecer denúncia em seu nome; ou (c) insistir no pedido
de arquivamento segundo art. 28, do CPP, antes da Lei nº 13.964/19: 

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés


de apresentar a denúncia, requerer o
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação, o juiz, no caso de
considerar improcedentes as razões invocadas,
fará remessa do inquérito ou peças de informação
ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia,
designará outro órgão do Ministério Público para
oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento,
ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. 

6 Doutrina
A doutrina classifica o inquérito policial como mera peça informativa, sem valor
probatório e totalmente dispensável para o oferecimento de ação penal, seja ela a
denúncia ou queixa-crime. Por sua vez, a doutrina moderna considera o inquérito
policial um processo administrativo, apuratório (e não inquisitivo), informativo e
também probatório, com função preparatória, mas também conservadora. Sendo
um procedimento necessário e eficaz para o início de processo-crime e age como
filtro processual contra acusações infundadas.

7 Jurisprudência
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EMENTA: Penal e Processual Penal. 2. Compartilhamento de provas e acordo de


leniência. 3. A possibilidade de compartilhamento de provas produzidas
consensualmente para outras investigações não incluídas na abrangência do
negócio jurídico pode colocar em risco a sua efetividade e a esfera de direitos dos
imputados que consentirem em colaborar com a persecução estatal. 4. No caso em
concreto, o inquérito civil investiga possível prática de ato que envolve imputado que
não é abrangido pelo acordo de leniência em questão. 5. Contudo, deverão ser
respeitados os termos do acordo em relação à agravante e aos demais aderentes,
em caso de eventual prejuízo a tais pessoas. 6. Nego provimento ao agravo,
mantendo a decisão impugnada e o compartilhamento de provas, observados os
limites estabelecidos no acordo de leniência em relação à agravante e aos demais
aderentes.

(Inq 4420 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
28/08/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-192 DIVULG 12-09-2018 PUBLIC 13-
09-2018)

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL EM MANDADO DE SEGURANÇA - PEDIDO DE


DESARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL - AUSÊNCIA DE PROVAS
NOVAS - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. - O desarquivamento de
Inquérito policial somente é possível diante do surgimento de provas novas, cabendo
a análise da existência de lastro probatório mínimo para a deflagração da ação penal
somente ao titular da ação penal pública. VV. APELAÇÃO CRIMINAL EM
MANDADO DE SEGURANÇA - IMPEDIMENTO DA PROMOTORA DE JUSTIÇA
QUE SE PRONUNCIOU SOBRE A MESMA QUESTÃO EM FEITOS ANTERIORES -
NULIDADE DE TODOS OS ATOS PROCESSUAIS DESDE A PRIMEIRA
MANIFESTAÇÃO DA 2° PROMOTORIA - POSSIBILIDADE - DESIGNAÇÃO DE
OUTRA PROMOTORIA PARA ATUAR NO FEITO - NECESSIDADE - RECURSO
PROVIDO. Nos termos do artigos 258 e 252, inciso lll, ambos do CPP, está impedido
de atuar no feito o Promotor de Justiça que tenha se pronunciado anteriormente, de
fato ou de direito, sobre a questão. Deste modo, por prudência e visando assegurar
a imparcialidade que o procedimento requer, imperiosa a decretação da nulidade de
todos os atos praticados desde a primeira manifestação da ilustre representante do
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Ministério Público que é impedida, bem como a remessa dos autos à Procuradoria-
Geral de Justiça para que designe outro órgão do Ministério Público para atuar
naquele procedimento.
O inquérito policial tem por finalidade subsidiar o oferecimento da denúncia ou da
queixa pelo titular da ação penal e tem sido classificado como peça de natureza
administrativa.
Em que pese essa classificação, os procedimentos realizados no inquérito
costumam receber bastante atenção, visto que o delegado de polícia está mais
próximo ao ambiente do delito, o que, consequentemente, facilita a resolução dos
crimes.
É descabido o desarquivamento do inquérito policial sem novas provas. O art. 18 do
Código de Processo Penal ( CPP) dispõe que “depois de ordenado o arquivamento
do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a
autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver
notícia.” Em uma interpretação “a contrario sensu”, não são possíveis novas
pesquisas se não houver notícia de outras provas, ou seja, não cabe à autoridade
policial continuar investigando, após o arquivamento do inquérito policial, com o
desiderato de subsidiar o desarquivamento, se não surgirem indicativos de outras
provas.
Na mesma linha do art. 18 do CPP, a súmula nº 524 do STF esclarece que,
“arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de
justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.”Mas o que seriam as
novas provas que fundamentariam o desarquivamento do inquérito policial e
eventual oferecimento da denúncia? Sobre essa questão, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ):
HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. CONTINUIDADE DA PERSECUÇÃO PENAL.
ARQUIVAMENTO PROMOVIDO A PEDIDO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, EM
RAZÃO DA AUSÊNCIA DE PROVA DA MATERIALIDADE DELITIVA.
DESARQUIVAMENTO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA. NECESSIDADE DE
NOVAS PROVAS. INEXISTÊNCIA. ENUNCIADO 524 DA SÚMULA DO STF.
ORDEM CONCEDIDA.1. Arquivado o inquérito por falta de indicativos da
materialidade delitiva, a persecução penal somente pode ter seu curso retomado
com o surgimento de novas provas. Enunciado 524 da Súmula do STF. Precedentes
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do STJ.2. Por novas provas, há de se entender aquelas já existentes, mas não


trazidas à investigação ao tempo em que realizada, ou aquelas franqueadas ao
investigador ou ao Ministério Público após o desfecho do inquérito policial.(…) 4.
Recurso provido. Extinção da ação penal.(RHC 27.449/SP, Rel. Ministro Marco
Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 28/02/2012, DJe 16/03/2012).
Apesar desse importante precedente, o STJ, no final de 2016, considerou como
novas provas a realização de interceptações telefônicas e busca e apreensão de
armas de fogo , Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 17/11/2016,
DJe 29/11/2016).
Considero este entendimento claramente distinto da tese adotada em 2012, pois as
interceptações e a busca e apreensão não existiam durante a investigação
inicialmente arquivada. Também em 2016, o STJ entendeu que “por novas provas
entendem-se aquelas que produzem alteração no panorama probatório da época do
requerimento do arquivamento, não se tratando de um mero reexame de provas
antigas” (RHC 63.510/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 20/09/2016, DJe 28/09/2016).
Assim, é inconcebível o desarquivamento do inquérito policial com base em mero
reexame de provas que já integravam a investigação preliminar. Os elementos
devem ser novos, e não apenas uma nova interpretação sobre documentos ou
depoimentos anteriores. Por outro lado, o STJ tem o entendimento de que a
existência de novas provas é requisito somente para o desarquivamento do inquérito
policial arquivado a pedido do Ministério Público ao Juízo, não sendo necessárias
novas provas para que o órgão acusador, a qualquer tempo antes da sentença,
ofereça aditamento à denúncia.
Como se percebe, o tema das “novas provas” para fins de desarquivamento do
inquérito policial ainda não é pacífico – tampouco acertado – na jurisprudência
brasileira. Ora se admite uma prova ainda não existente, ora se afirma que é exigida
uma prova já existente, mas não trazida à investigação. Trata-se de tema que
merece uma adequada e profunda análise, sob pena de que o arquivamento do
inquérito policial não diminua o temor dos investigados em relação a uma futura
persecução penal.
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Caso se conceda uma abertura interpretativa maior do que as expressões “novas


provas” (súmula nº 524 do STF) e “outras provas” (art.18 do CPP) mereçam,
teríamos uma indevida supressão dos limites que esses termos pretendem garantir.

8 Citação

Grande parte da doutrina entende de outra maneira, conforme Nucci (p. 206, 2020):
Inquérito é, por sua própria natureza, inquisitivo, ou seja, não permite ao
indiciado ou suspeito a ampla oportunidade de defesa, produzindo e
indicando provas, oferecendo recursos, apresentando alegações, entre outras
atividades que, como regra, possui durante a instrução judicial. Não fosse
assim, teríamos duas instruções idênticas: uma realizada sob a presidência
do delegado; outra, sob a presidência do juiz. Tal não se dá e é, realmente,
desnecessário.

Conclusão
Pudemos verificar neste trabalho o problema apresentado pelo orientador, no qual
houve um inquérito policial para averiguar o homicídio de Roberto, havendo o
arquivamento pela não identificação do autores do crime, quando apareceu uma
nova testemunha afirmando ter informações do autor. Logo após, nós pontuamos a
existência de três tipos de sistemas processuais penais, na qual são chamados de
inquisitivo, acusatório e misto, na qual o Brasil adota o modelo misto que seria mais
voltada ao acusatório.
Nota-se também o inquérito policial, onde seu início vem da notícia criminis, e seu
objetivo é servir de base ao Ministério Público para representar o Estado, visando a
investigação sendo feita pelo Estado, a sua opinião a respeito ao delito, ajuda a
atingir indícios suficientes de autoria e investigação para o oferecimento da
denúncia, e é um filtro processual a investigação para que não hajam precursões
penais sem fundamentos, este inquérito vem antes do processo-crime e trata-se de
um procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo.
O mesmo deve ser de caráter escrito, dispensável, sigiloso, deve ser realizado pela
Polícia Judiciária e é um procedimento inquisitivo. A vítima da infração penal pode
requerer diligências, a fase preliminar de investigações é conduzida de maneira
discricionária pela autoridade policial, que determina o rumo das diligências de
acordo com as peculiariedades do caso. O procedimento oficial é de
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responsabilidade do Delegado de Polícia (Civil ou Federal), e desde que a


autoridade policial venha tomar conhecimento da potencial prática de um delito de
ação penal pública incondicionada, será obrigada a instaurar, de oficio, o inquérito
policial. O inquérito após sua instauração não poderá ser arquivado pela autoridade
policial, devendo antes verificar a procedência das informações, porém, uma vez
instaurado o inquérito policial, o arquivamento doas autos só será possível com um
pedido formulado pelo titular da ação penal.
O prazo descrito para a conclusão do inquérito policial é de 30 dias, e caso o
investigado estiver em liberdade, e em dez dias se ele estiver preso em razão de
constrição cautelar. Devido a demanda grande, os prazos na maioria das vezes não
são cumpridos, e quando o investigado está em liberdade normalmente o delegado
solicita delação de prazo ao juiz, tem-se o controle judicial sobre o andamento,
porém não existe prazo certo para terminar uma invesgação criminal. Quando o
investigado é preso em flagrante, deverá ser seguido a risca o prazo de 10 dias, já
que se trata de privação de liberdade, sendo assim, o prazo não pode ser
prorrogado.
A investigação chega ao fim em face do prazo previsto em lei ou pelo exaurimento,
em vista da conclusão das diligências realizadas que visavam a apuração do delito,
a qual o delegado produzirá relatório minucioso contento todas as informações
importantes e destinadas a embasar o indiciamento ou não do investigado.
O Poder Judiciário nestes casos atua como garantidor dos direitos fundamentais
inseridos na Consituição Feral, depende deste poder para acompanhar quando as
tutelas são violadas, e este poder não produz provas ou as investiga.

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https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm, Acesso em: 30
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