Você está na página 1de 5

Faculdades Adamantinenses Integradas - FAI

Área Temática: Direito Processual Penal

INQUÉRITO POLICIAL E O TEMPO RAZOÁVEL DE EXECUÇÃO PARA


PRESERVAÇÃO DA PRIVACIDADE DO INVESTIGADO

(Autor: DIAS - 0014/21)¹

RESUMO

O presente resumo expandido serve como uma ferramenta de estudo para demonstrar a
importância de um processo de investigação bem feito e dentro dos prazos estipulados em lei,
pois em muitos casos, a lei acaba sendo contrariada e a privacidade é posta em risco, com a
alegação de que foi tudo feito para que a justiça fosse assegurada. Dessa forma, é importante
ter uma noção de como a norma funciona e em sua prática, como ela é aplicada.

INTRODUÇÃO

O inquérito policial é uma forte ferramenta na hora da apresentação de uma denúncia,


pois é com base no inquérito policial e na investigação realizado pela polícia judiciária que se
angaria provas que comprovem ou não a denúncia oferecida ao MP e que posteriormente será
formalizada em um processo. O inquérito policial está previsto nos artigos 4° a 23 do Código
de Processo Penal e, de acordo com o STJ, o inquérito policial tem por finalidade subsidiar o
oferecimento da denúncia ou da queixa pelo titular da ação penal e tem sido classificado como
peça de natureza administrativa.

Dessa forma, o inquérito é uma forma de se conseguir provas, pois como o delegado
de polícia e a própria força policial estão relativamente mais próximos do delito, isso facilita
na resolução dos casos, por isso a importância dessa ferramenta de investigação. Ainda de
acordo com o STJ, o inquérito policial passou por intensas transformações ao longo do tempo,

_____________________________ 1
¹Felipe de Paula Dias - Direito 2023 - fn23400@gmail.com
principalmente após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual concebeu nova
face ao direito penal e processual penal, à luz da dignidade da pessoa humana e do respeito
aos direitos e às garantias fundamentais. Com isso, o controle judicial da etapa investigativa
passou a considerar todas essas evoluções históricas, sociais e políticas. Duração do
procedimento, relevância desse instrumento para a apresentação da denúncia e validade da
pronúncia feita apenas com base no inquérito são alguns dos temas já analisados pelo STJ.

Com base nessa alteração que ocorreu em 1988, com a chegada de uma constituição
mais “humana” de certa forma, os processos penais receberam uma nova face perante os
direitos humanos e a luz das garantias fundamentais do ser humano, especialmente no tange o
tema central desse resumo, sendo o princípio de privacidade e a duração razoável do inquérito,
pois apesar desses dois temas serem completamente diferentes, um acaba influindo no outro,
já que em muitos casos, a demora para a resolução do inquérito ou o prolongamento excessivo
de seu prazo de investigação pode acabar gerando uma quebra da privacidade, ao menos do
mínimo necessário para o ser humano conseguir viver, bem como o princípio da duração
razoável do processo, onde busca preservar as partes e a solução mais rápida e efetiva do
processo. Em um Habeas Corpus julgado pelo STJ, a interpretação de deles desse fator se deu
pela seguinte redação: “No HC 653.299, a Sexta Turma do STJ decidiu pelo trancamento de
inquérito policial que já perdurava por mais de nove anos. O colegiado entendeu que a
situação violava o princípio da razoável duração do processo e impunha constrangimento
ilegal ao investigado, que, mesmo não tendo sido submetido à prisão preventiva ou outra
medida cautelar, conviveu durante todo esse tempo com o estigma de suspeito da prática de
crime.” No voto que prevaleceu no julgamento, o ministro Sebastião Reis Júnior afirmou que
sendo a razoável duração do processo uma cláusula pétrea no ordenamento jurídico brasileiro,
torna-se inadmissível que um cidadão seja "indefinidamente investigado, transmutando a
investigação do fato para a investigação da pessoa".

O ministro ainda destacou que o prazo para a conclusão do inquérito policial, em caso
de investigado solto, é impróprio, pois, como se dá na redação do Código de Processo Penal,
previsto no artigo 10°:

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o


indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
_____________________________ 2
¹Felipe de Paula Dias - Direito 2023 - fn23400@gmail.com
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias,
quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido


apurado e enviará autos ao juiz competente.

§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que


não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
encontradas.

§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver


solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos,
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo
marcado pelo juiz.

Ou seja, pode ser prorrogado conforme a complexidade das apurações. Entretanto,


afirmou, "é possível que se realize, por meio de habeas corpus, o controle acerca da
razoabilidade da duração da investigação, sendo cabível, até mesmo, o trancamento do
inquérito policial, caso demonstrada a excessiva demora para a sua conclusão".

De acordo com outro estudioso, Rafael Moraes Tavares, delegado de Polícia do Estado
do Paraná e especialista em Direito Público, Direito Constitucional, Direito Penal e
Processual Penal, esse prazo, segundo a melhor doutrina e jurisprudência pátria, é impróprio,
podendo ser sucessivamente renovado para o aprofundamento das investigações e feitura de
novas diligências imprescindíveis ao ver da autoridade policial ou do titular da ação penal.
Em contrapartida, como princípio norteador a ser observado pelo Delegado de Polícia, tem-se
o da razoável duração do processo, este preconizado no rol dos direitos e garantias
fundamentais previstos na Constituição (artigo 5º, LXXVIII), sendo preceito constitucional de
aplicabilidade direta e imediata (artigo 5º, §1º, da Carta Magna). Esse princípio norteador
também é previsto em outras cartas cuja redação faz um verdadeiro rol ainda mais amplo dos
direitos humanos. Disso se extrai que a investigação penal tardia não passa pelo filtro
constitucional e convencional, sendo essa conclusão cristalina na jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal que, de ofício, vem trancando inquéritos
policiais com prazo de tramitação desmedido, mas a mérito de ilustração, segue abaixo um
entendimento do relator ministro Sebastião Reis Júnior:

_____________________________ 3
¹Felipe de Paula Dias - Direito 2023 - fn23400@gmail.com
"1) Embora o prazo de conclusão do inquérito policial, em caso de investigado solto,
seja impróprio, ou seja, podendo ser prorrogado a depender da complexidade das
investigações, a delonga por aproximadamente 14 anos se mostra excessiva e ofensiva ao
princípio da razoável duração do processo. 2) Mostra-se inadmissível que, no panorama atual,
em que o ordenamento jurídico pátrio é norteado pela razoável duração do processo (no
âmbito judicial e administrativo) — cláusula pétrea instituída expressamente na Constituição
Federal pela Emenda Constitucional nº 45/2004 —, um cidadão seja indefinidamente
investigado, transmutando a investigação do fato para a investigação da pessoa. Precedente. 3)
(…). 4) Colocada a situação em análise, verifica-se que há direitos a serem ponderados. De
um lado, o direito de punir do Estado, que vem sendo exercido pela persecução criminal que
não se finda. E, do outro, da recorrente em se ver investigada em prazo razoável,
considerando-se as consequências de se figurar no polo passivo da investigação criminal e os
efeitos da estigmatização do processo. 5) (…)".

Uma consequência direta desse prolongamento do inquérito policial é o estigma


imposto ao acusado que ainda está sendo investigado por um crime. Partindo desse ponto,
vale ressaltar que durante a fase de investigação, o réu ainda não foi condenado, pois como
uma sentença ainda não foi dada, ele ainda não pode ser considerado um criminoso, seguindo
o mesmo princípio do In Dubio Pró Réu, mas o simples fato de estar sendo investigado por
um crime, trás uma série de marcas que o investigado não deveria ter e nos casos de
inquéritos prolongados, como ressalta Eugênio Pacelli de Oliveira: "aceitar a eternização da
investigação é ignorar os males — que não são poucos — que a só tramitação de um inquérito
policial pode causar naquele apontado como autor da infração penal em investigação".

Referências Bibliográficas

- PACELLI, Eugênio. Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência, 13ª ed.
São Paulo: Grupo GEN, 2021, p. 69.

_____________________________ 4
¹Felipe de Paula Dias - Direito 2023 - fn23400@gmail.com
- BRASIL, Código de Processo Penal. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm. Acesso em: 18
de Maio de 2023

- STF, Inq 4420/DF, relator ministro Gilmar Mendes, julgado em 21/8/2018.

- O INQUÉRITO policial segundo o STJ: respeito aos direitos e às garantias fundamentais. [S.
l.], 12 fev. 2023. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2023/12022023-O-
inquerito-policial-segundo-o-STJ-respeito-aos-direitos-e-as-garantias-fundamentais.aspx.
Acesso em: 18 maio 2023.

- IN)DISPONIBILIDADE do inquérito policial e a sua duração razoável. [S. l.], 18 out. 2022.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-out-18/rafael-tavares-inquerito-policial-
duracao-razoavel. Acesso em: 18 maio 2023.

_____________________________ 5
¹Felipe de Paula Dias - Direito 2023 - fn23400@gmail.com

Você também pode gostar