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O Inquérito

O que é o inquérito?

O inquérito compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de


um crime, determinar os seus agentes e a sua responsabilidade e descobrir e recolher as
provas, em ordem à decisão sobre a acusação.

A apresentação de uma queixa, caso contenha factos que integrem um crime, dá


origem a um inquérito, o mesmo acontecendo com a apresentação pelas autoridades policiais
ou pelo próprio Ministério Público de um auto de notícia.

A quem compete a direção do inquérito?

Compete ao Ministério Público (artigo 263.º n.º 1 do Código de Processo Penal - CPP)
dirigir o inquérito, podendo delegar a prática de atos nos Órgãos de Polícia Criminal (PSP, GNR,
PJ).

Quais as competências do Juiz de Instrução no inquérito?

Ao Juiz de Instrução (artigos 268.º e 269.º do CPP, respetivamente), compete,


designadamente, praticar os seguintes atos:

— Primeiro interrogatório judicial de arguido detido;

— Aplicação de uma medida de coação ou de garantia patrimonial, à exceção do termo


de identidade e residência, a qual pode ser aplicada pelo Ministério Público;

— Autorizar a efetivação de certas perícias e exames, buscas domiciliárias, apreensões


de correspondência e interceção, gravação ou registo de conversações ou comunicações;

— Proceder a buscas e apreensões em escritório de advogado, consultório médico ou


estabelecimento bancário;

— Tomar conhecimento, em primeiro lugar, do conteúdo da correspondência


apreendida;

— Declarar a perda, a favor do Estado, de bens apreendidos, quando o Ministério


Público proceder ao arquivamento do inquérito.

Qual é a duração máxima do inquérito (artigo 276º CPP)?

O inquérito deve terminar por despacho do Ministério Público (arquivando-o,


suspendendo o processo provisoriamente ou deduzindo acusação), nos prazos máximos de 6
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meses (se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação) ou de 8
meses (se os não houver), a contar do momento em que correr contra pessoa determinada ou
da data da sua constituição como arguido.

Em que consiste (o despacho de) a acusação (artigo 283º CPP)?

É a peça processual em que, aquando do encerramento do inquérito, formalmente se


imputam a uma pessoa os factos que integram um ou mais crimes.

A acusação pública é elaborada pelo Ministério Público. O assistente também pode


deduzir acusação, designadamente nos casos de crimes particulares (ver «O que é um crime
particular»), em que é obrigatoriamente deduzida por ele, sob pena de o processo não poder
prosseguir.

O que é o (despacho de) arquivamento (artigo 277º CPP)?

O Ministério Público procede, por despacho, ao arquivamento do inquérito (artigo 277


º CPP), logo que tiver recolhido prova bastante de se não ter verificado nenhum crime, de o
arguido não o(s) ter praticado ou de ser legalmente inadmissível o procedimento.

O Ministério Público também determina o arquivamento do inquérito se não tiver sido


possível obter indícios suficientes da verificação de crime ou de quem foram os seus autores.

Em que consiste a suspensão provisória do processo (artigo 281º CPP)?

É uma outra solução processual, respeitante a crimes de reduzida gravidade, em que o


Ministério Público, com o acordo do arguido e do assistente, determina, com a homologação
do juiz, a sujeição do arguido a regras de comportamento ou injunções durante um
determinado período de tempo. Caso as mesmas não sejam cumpridas pelo arguido, é
deduzida acusação.

Pode ser determinada pelo tribunal a intervenção da DGRSP para vigiar e apoiar o
arguido.

Findo o período de suspensão (regra geral até 2 anos e excecionalmente até 5 anos
para os crimes de violência doméstica e contra a liberdade e autodeterminação sexual de
menor), e desde que não tenham ocorrido anomalias, o processo judicial será definitivamente
arquivado.
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O que se pode fazer se for denunciante, for notificado do arquivamento do inquérito
e não concordar com a decisão?

Se não for assistente, deve requerer a constituição formal como tal e, uma vez
assistido por advogado (ou patrono nomeado pela Segurança Social, ao abrigo do regime de
Apoio Judiciário), pode requerer a abertura da instrução, fazendo assim intervir um juiz de
instrução, a fim de serem reapreciados os fundamentos do despacho de arquivamento.

Se já for assistente, pode requerer a abertura de instrução, o que só pode fazer no


prazo de 20 dias a contar da notificação do despacho de arquivamento.

Também pode solicitar a intervenção do superior hierárquico do Magistrado do


Ministério Público que proferiu o despacho de arquivamento que analisará o referido
despacho, mantendo-o ou revogando-o.

Pode ainda, se dispuser de novos elementos que invalidem os fundamentos invocados


pelo Ministério Público no despacho de arquivamento, solicitar a reabertura do Inquérito.

Arquivamento em caso de dispensa de pena – artigo 280º CPP

O Ministério Público pode, em determinados casos previstos na lei, decidir-se pelo


arquivamento em caso de dispensa de pena ou decidir-se pela suspensão provisória do
processo, mediante a imposição ao arguido de injunções e regras de conduta, em ambos os
casos com a concordância do juiz de instrução.

Ou seja, é uma medida pré-sentencial que visa evitar o prosseguimento do processo


penal e que é aplicada por iniciativa do Ministério Público com a concordância do juiz de
instrução criminal nos casos de suspeitos de crimes puníveis com pena de prisão não superior
a 6 meses ou multa não superior a 120 dias se à aplicação da medida não se opuserem razões
de prevenção.

JURISDIÇÃO PENAL

Na estrutura do Código de Processo Penal/CPP, o Ministério Público é o titular da ação


penal. A notícia do crime é sempre transmitida ao Ministério Público/MP, a quem compete a
direção do inquérito, assistido pelos órgãos de polícia criminal, estando apenas, reservada ao
juiz a prática de atos que se prendem com a direta observância das garantias e direitos
fundamentais dos cidadãos.
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O MP intervém em todas as fases do processo penal, competindo-lhe, nos termos do
artigo 53.º do CPP, «colaborar com o tribunal na descoberta da verdade e na realização do
direito, obedecendo em todas as intervenções processuais a critérios de estrita objetividade»

Constituem funções específicas do MP: a recepção de denúncias, queixas e


participações e apreciação do respectivo seguimento; a direção do inquérito; a prolação de
despacho final que termine o inquérito por acusação, por arquivamento ou por qualquer meio
legalmente consagrado de consensualização; a sustentação da acusação na instrução e no
julgamento; a interposição de recursos, ainda que no exclusivo interesse da defesa; e a
promoção da execução das penas e das medidas de segurança.

Findo o inquérito, se concluir pela existência de indícios probatórios suficientes da


prática de crime e da identidade do seu autor, o MP profere acusação.

Nesta sede, além do processo comum, o MP pode fazer uso de formas de processo
especial, designadamente, do processo sumário, do processo abreviado e do processo
sumaríssimo; pode ainda optar, em alternativa à acusação, por institutos de consensualização
e de diversão legalmente consagrados: a suspensão provisória do processo, a dispensa de pena
e a mediação penal.

O MP pode ainda fixar a competência do tribunal singular nos crimes da competência


do tribunal colectivo, quando entender que não deve ser aplicada, em concreto, pena de
prisão superior a cinco anos, não podendo, então, o tribunal aplicar pena superior.

Mais pode o MP deduzir pedido de indemnização civil em representação do Estado e


de outras pessoas e interesses cuja representação lhe seja atribuída por lei.

O MP profere despacho de arquivamento se tiver recolhido prova bastante de se não


ter verificado crime, de o arguido não o ter praticado ou de ser legalmente inadmissível o
procedimento, bem como se não tiver sido possível obter indícios suficientes da verificação do
crime ou de quem foram os seus agentes.

Proferida acusação, o MP deve sustentá-la nas fases de instrução e de julgamento, sem


perder de vista o primordial objectivo de colaboração com o tribunal na descoberta da
verdade e na realização do direito, em observância a critérios de estrita objectividade.

O MP pode recorrer da sentença e dos demais atos que admitam recurso, mesmo que
no exclusivo interesse da defesa, e pode interpor recursos extraordinários para fixação de
jurisprudência e para revisão de sentença.
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