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Medidas de coacção

1- A entidade policial após a descoberta de um crime apresenta os suspeitos ao


Ministério Público que decide, após diligências, uns ficarem com medida preventiva de
liberdade e outros não. Porque?
R- Em cada crime, tanto as circunstâncias, como a sua gravidade, são diferentes. Por isso,
para assegurar o curso normal do processo penal, o magistrado do MP determina ou promove,
no termos legais, a aplicação ao arguido da medida de coacção adequada consoante as
circunstâncias concretas. Se ao arguido for aplicada a prisão preventiva, ficará o mesmo preso
preventivamente a aguardar os ulteriores trâmites processuais.
2- O que se entende por medidas de coacção?
R- As medidas de coacção são medidas processuais que, aplicadas em sede do processo
penal, impõem limitações adequadas à liberdade do arguido nos termos da lei. Existem 6 tipos
de medidas de coacção, devendo, seja qual for a medida, ser aplicada de forma adequada e só
quando forem preenchidas as condições legais.
3- Quais são as condições de que depende a aplicação de medida de coacção?
R- As medidas de coacção apenas são aplicáveis ao arguido. Atendendo a que a aplicação de
medidas de coacção implica limitações à liberdade do arguido e influencia, de diversas formas,
a sua vida quotidiana, a sua aplicação só é possível quando a lei expressamente o permitir e
quando seja feita em estrita conformidade com o procedimento legal. A medida de coacção
mais fundamental é a de termo de identidade e residência (que visa identificar o arguido,
assegurar a sua comparência a qualquer acto processual e obriga-lo à comunicação à
autoridade judiciária quando mudar de residência ou ausentar-se por mais de 5 dias). O
magistrado do Ministério Público só promove a aplicação de uma medida de coacção mais
gravosa quando entender que existam indícios de se revelar perigo de fuga do arguido ou
quando considerar que a natureza do crime ponha em perigo a tranquilidade social.
4- Quais são as consequências jurídicas resultantes da violação da medida de coacção?
R- Em caso de violação por parte do arguido das obrigações impostas por aplicação de medida
de coacção, a autoridade judiciária, tendo em consideração as circunstâncias concretas, pode
aplicar-lhe outras medidas mais gravosas. Quando a obrigação violada for a de prestação de
caução, a respectiva caução poderá ser confiscada.
5- Para assegurar a eficácia do procedimento no processo penal, a liberdade do arguido
pode ser limitada com a aplicação de medidas de coacção. Quantos tipos de medidas de
coacção existem?
R- O Código de Processo Penal determina 6 tipos de medida de coacção, que são:
(1) Termo de identidade e residência;
(2) Caução;
(3) Obrigação de apresentação periódica;
(4) Proibição de ausência e de contactos;
(5) Suspensão do exercício de funções, profissão ou direitos;
(6) Prisão preventiva.
6- As 6 medidas de coacção podem ser cumulativamente aplicadas?
R- Todas as medidas de coacção, à excepção da prisão preventiva, podem ser
cumulativamente aplicadas. Por exemplo, na medida em que se sujeita o arguido à prestação
de caução, pode se obrigar o mesmo à apresentação periódica e proibição de ausência.
7- As medidas de coacção já aplicadas são susceptíveis de revogação?
R- As medidas de coacção devem ser revogadas sempre que se verificar terem sido aplicadas
fora das hipóteses ou das condições previstas na lei ou terem deixado de subsistir as
circunstâncias que justificaram a sua aplicação.
8- A quem compete determinar a aplicação de medida de coacção?
R- O Ministério Público tem competência para, por iniciativa própria, aplicar o termo de
identidade e residência. Quanto à aplicação das outras medidas de coacção, o MP tem
competência para a sua promoção e o juiz para a sua determinação.
9- Das 6 medidas de coacção qual é a mais gravosa?
R- A medida de coacção mais gravosa é a de prisão preventiva, dada a sua natureza privativa
da liberdade ao arguido antes da sua condenação. Em Macau, a medida de prisão preventiva
consiste em colocar o arguido em prisão a aguardar os ulteriores trâmites processuais.
10- Quando é que o magistrado do Ministério Público promove junto do juiz ¬a aplicação
ao arguido de prisão preventiva?
R- O magistrado do Ministério Público só promove a aplicação ao arguido de prisão preventiva,
quando considerar que se mostrem insuficientes as outras medidas de coacção,
designadamente as de prestação de caução, apresentação periódica, proibição de ausência,
suspensão de exercício de profissão, etc.. A título exemplificativo, quando houver fortes
indícios da prática de crime doloso punível com pena de prisão de limite máximo superior a 3
anos, pode ser imposta ao arguido a prisão preventiva. De salientar que é ainda possível a
aplicação de prisão preventiva, quando se tratar de arguido que tiver penetrado ou permaneça
irregularmente na RAEM, ou contra o qual estiver em curso processo de entrega a outro
Território ou Estado ou de expulsão.
11- Existem situações legalmente previstas em que é obrigatória a aplicação de prisão
preventiva?
R- A aplicação de prisão preventiva é obrigatória quando se tratar da prática de crime que
tenha sido cometido com violência e seja punível com pena de limite máximo superior a 8 anos,
tais como o crime de homicídio, de ofensa grave à integridade física, entre outros. Também se
aplica a medida de prisão preventiva quando a prática do crime imputado seja punível com
pena de prisão de limite máximo superior a 8 anos, como por exemplo, furto de veículos ou de
falsificação de documentos a eles respeitantes ou de elementos identificadores de veículos, de
falsificação de moeda, títulos de crédito, valores selados, selos e equiparados ou da respectiva
passagem, ou de produção ou tráfico ilícito de droga.
12- Os prazos de duração máxima da prisão preventiva encontram-se previstos na lei?
R- Dependendo da fase em que o processo se encontra e a natureza do crime em questão,
variam os prazos de duração máxima da prisão preventiva. Por exemplo, quando for aplicada
no decurso do inquérito de um crime menos gravoso, a prisão preventiva extingue-se quando
tiverem decorrido 6 meses sem que tenha sido deduzida acusação, se tiver havido condenação
em primeira instância, a prisão preventiva extingue-se quando tiverem decorrido 2 anos sem
que tenha havido condenação com trânsito em julgado. Se se tratar de crimes graves os
especialmente previstos pela lei e o processo penal tenha sido suspenso para julgamento em
separado de questão prejudicial, o prazo de duração máxima da prisão preventiva é de 3 anos
e 6 meses.
13- Qual é a diferença entre “detenção” e “prisão preventiva”?
R- A detenção não se confunde com a prisão preventiva. A diferença entre elas reside no facto
de a prisão preventiva ser uma medida de coacção que se aplica apenas ao arguido, ao passo
que a detenção não é medida de coacção e, por isso, o detido não tem necessariamente que
ser arguido. Por exemplo, pode o juiz ordenar a detenção da testemunha que, devidamente
notificada, tenha faltado injustificadamente à audiência de julgamento, por forma a assegurar
que os respectivos trâmites processuais corram bem. Só o juiz tem competência para ordenar a
aplicação de prisão preventiva, enquanto os Tribunais, o Ministério Público e a Polícia têm
competência para a emissão de mandado de detenção. Além do mais, no que respeita ao limite
temporal, verifica-se uma grande diferença entre a prisão preventiva e a detenção, uma vez
que o prazo de duração máxima da primeira é de 3 anos e 6 meses e o da última é de 48
horas.
14- Em relação ao arguido detido, o que é que a autoridade fará durante as 48 horas da
detenção?
R- Pode a autoridade judiciária decidir submeter o arguido detido a julgamento sob forma
sumária, apresentar o mesmo ao juiz competente para primeiro interrogatório judicial ou
aplicar-lhe uma medida de coacção.
15- Para além do Juiz e do Ministério Público, pode também a entidade policial ordenar,
por iniciativa própria, a detenção de certas pessoas. Quais são os limites legais
impostos à entidade policial no exercício da sua competência de detenção?
R- Em caso de flagrante delito, a entidade policial, pode ordenar a detenção imediata do
suspeito, e, se esta não estiver presente, nem puder ser chamada em tempo útil, pode
qualquer pessoa proceder à detenção. Na detenção fora de flagrante delito, a entidade policial
está condicionada, uma vez que é necessário um mandado de detenção emitido pelo juiz ou
Ministério Público, podendo, apenas, a entidade policial ordenar a detenção quando se tratar
de caso em que é admissível a prisão preventiva, existirem elementos que tornem fundado o
receio de fuga e não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora, esperar
pela intervenção da autoridade judiciária.

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