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10360 – Processo de Insolvência

Informações gerais
> Qual a finalidade do processo de insolvência?
O processo de insolvência tem como objetivo a satisfação, pela forma mais eficiente
possível, dos direitos dos credores. De acordo com o artigo 1.º do Código de Insolvência e
Recuperação de Empresas (CIRE), trata-se de um processo de execução universal (uma vez que
todo o património do devedor insolvente responde pelas suas dívidas), que tem como finalidade
a satisfação dos credores. Essa satisfação alcança-se pela forma prevista num plano de
insolvência, que se baseará na recuperação do devedor ou na liquidação do seu património e
repartição do seu produto pelos credores.

> Que tipo de processo é?


Todo o processo de insolvência tem carácter urgente (artigo 9.º do CIRE). Assim, por
exemplo, estes processos continuam a correr em férias judiciais, ao contrário do que acontece
com outro tipo de processos.

Além disso, goza de precedência face ao trabalho ordinário do tribunal. Aliás, o seu
carácter urgente é notório ainda pelo facto de o juiz ter apenas três dias úteis para fazer a
apreciação liminar do pedido (artigo 27.º do CIRE) e, igualmente, três dias úteis para declarar a
insolvência, quando a apresentação seja feita pelo devedor (artigo 28.º do CIRE).

> Que sujeitos podem ser declarados insolventes?


Qualquer pessoa, singular ou coletiva, pode ser declarada insolvente (artigo 2.º, n. º1, al.
a).

Além destes, também outros sujeitos podem ser declarados insolventes: as heranças
jacentes, sociedades civis, estabelecimento individual de responsabilidade limitada, entre outras.

No entanto, as pessoas coletivas públicas e as entidades públicas empresariais não


podem ser declaradas insolventes, bem como as empresas de seguros, as instituições de crédito,
as sociedades financeiras, as empresas de investimento que prestem serviços que impliquem a
detenção de fundos ou de valores mobiliários de terceiros e de organismos de investimento
coletivo, na medida em que a sujeição a este processo seja incompatível com os regimes
específicos previstos para tais entidades (artigo 2.º, n.º2 do CIRE).
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> Quando se verifica a situação de insolvência?


Os devedores que se encontrem impossibilitados de cumprir a generalidade das suas
obrigações já vencidas (artigo 3.º do CIRE). Tratando-se de pessoas coletivas ou patrimónios
autónomos, se nenhuma pessoa singular responder pelas suas dívidas, pessoal e ilimitadamente,
também se consideram em situação de insolvência quando o seu passivo for manifestamente
superior ao seu ativo.

Além disso, é equiparada à situação de insolvência a que seja meramente iminente. A


situação de insolvência meramente iminente verifica-se quando haja uma convicção de que
praticamente se encontrem esgotadas as possibilidades daquele devedor vir a cumprir com as
suas obrigações.

> Quem tem legitimidade para requerer a declaração de


insolvência?
O devedor em situação de insolvência (isto é, quando impossibilitado de cumprir as
suas obrigações vencidas), deve requerer a declaração da sua insolvência, nos trinta dias que se
seguem à data do conhecimento da sua situação (artigo 18.º, n.º 1 do CIRE), sob pena de, por
sentença, vir a ser declarada uma insolvência culposa (artigo 186.º, n.º 3 a) do CIRE).

Notar que este dever não se aplica aos devedores singulares não titulares de empresa
(artigo 18.º, n.º 2 do CIRE). E

Este dever de apresentação não existe nos casos de insolvência meramente iminente,
uma vez que aí não se está perante uma situação consumada e não se deve excluir a
possibilidade de os dados se virem a alterar. Além disso, quanto aos devedores titulares de
empresa, existe uma presunção absoluta de que conhecia a situação de insolvência após três
meses de incumprimento generalizado das suas obrigações (artigo 18.º, n.º 3 do CIRE).

Para além do devedor, pode ainda requerer a declaração de insolvência o responsável


pelas suas dívidas, qualquer credor, independentemente da natureza do seu crédito, e o
Ministério Público, em representação das entidades cujos interesses lhe estão legalmente
confiados (artigo 20.º, n.º 1 do CIRE).
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Que tipos de insolvência existem?


A insolvência pode ser culposa ou fortuita (artigo 185.º do CIRE).

É culposa a situação que tiver sido criada ou agravada em virtude de uma atuação
dolosa ou com culpa grave o devedor ou dos seus administradores, nos três anos anteriores ao
início do processo de insolvência (artigo 186.º, n.º 1 do CIRE), sendo fortuita quando assim não
tiver sido originada.

Ora, existe uma presunção inilidível (isto é, não afastável por prova em contrário),
quando o devedor não seja pessoa singular e os seus administradores pratiquem certos atos
(artigo 186.º, n.º 2), nomeadamente, quando tenham destruído, danificado, inutilizado, ocultado
ou feito desaparecer todo ou parte considerável do património do devedor; quando tenham
disposto dos bens do devedor em proveito pessoal ou de terceiros; quando hajam comprado
mercadorias a crédito, revendendo-as ou entregando-as em pagamento por preço sensivelmente
inferior ao corrente, antes de satisfeita a obrigação; quando tenham criado ou agravado
artificialmente passivos ou prejuízos ou reduzidos lucros, causando, por exemplo, a celebração
pelo devedor de negócios ruinosos em seu proveito ou no de pessoas com sejam especialmente
relacionadas com aqueles.

Presume-se, aqui já salvo prova em contrário, que houve culpa grave se os


administradores do devedor não tenham requerido a declaração de insolvência, estando a tal
obrigados, ou quando não tenham elaborado as contas anuais, de submetê-las a fiscalização ou
de as depositar na conservatória do registo comercial.

> Quem é, e que atividade desempenha, o administrador de


insolvência?
O Administrador da insolvência é nomeado pelo juiz (artigo 52.º, n.º 1), podendo
atender as indicações dadas pelo devedor ou pela comissão de credores. Assim que seja
notificado de que foi nomeado, assume imediatamente as suas funções (artigo 54.º).

O Administrador da insolvência acaba por ser quem rege e dá o devido andamento ao


processo de insolvência, sendo uma figura central do mesmo.

Assim, compete ao Administrador da insolvência preparar o pagamento da dívida do


insolvente às custas da massa insolvente; promover a venda dos bens que integrem a massa
insolvente, com vista á distribuição do produto pelos credores; prover à conservação e
frutificação dos direitos do insolvente e à continuação da exploração da empresa, se existir,
evitando tanto quanto possível o agravamento da situação económica (artigo 55.º, n.º 1).
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> Como e porquê pode ser destituído o administrador de


insolvência?
O Administrador pode ser afastado quando ocorra alguma justa causa que o justifique,
cabendo ao juiz fazê-lo (artigo 56.º do CIRE). Existe justa causa quando as atuações, pela sua
gravidade e consequências sobre a massa, revelam a inaptidão ou incompetência para o
exercício do cargo tornando inexigível que, razoavelmente, o juiz mantenha o administrador em
funções.

> Como se inicia o processo de insolvência?


O processo de insolvência inicia-se com a entrega no tribunal da petição inicial.

Desta peça deve constar as razões que conduziram à situação de insolvência, oferecendo
os meios de prova necessários, além dos demais documentos, que a lei exige.

Se o requerente não for o próprio devedor (por exemplo, um credor), da petição inicial
deve constar a verificação de algum fator indicativo do artigo 20.º do CIRE, além de ter que
justificar a sua posição de credor ou responsável pelos créditos sobre a insolvência. Do artigo
20.º do CIRE, resultam, enquanto factos indicativos da situação de insolvência de um devedor,
por exemplo, a suspensão generalizada do pagamento das obrigações vencidas; fuga do titular
da empresa ou dos administradores do devedor ou abandono do local em que a empresa tem as
sede ou exerce a sua principal atividade, relacionados com a falta de solvabilidade do devedor e
sem designação de substituto idóneo; dissipação, abandono, liquidação apressada ou ruinosa de
bens e constituição fictícia de créditos.

> Depois de iniciar o processo de insolvência, devo continuar a


pagar aos meus credores?
Não! Com o processo de insolvência, o devedor não deve fazer mais nenhum
pagamento aos credores. Todos os pagamentos são feitos no âmbito do processo de insolvência,
com a intervenção do administrador de insolvência.

> O que é a massa insolvente?


A sentença de insolvência irá decretar que sejam apreendidos todos os bens do devedor,
devendo o administrador de insolvência agir no sentido de esses bens lhe serem imediatamente
entregues, ficando então seu depositário (artigo 36.º, n.º 1, al. g) do CIRE). Pode não ser assim,
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se o devedor tiver requerido que a administração lhe fique confiada (artigos 36.º, n.º 1, al. e),
223.º e 224.º CIRE).

Ora, a massa insolvente será constituída por todo o património do devedor, na data em
que for declarada a sua insolvência (artigo 46.º, n.º 1) do CIRE). Além desse património,
também fazem parte da massa insolvente os bens e direitos de carácter patrimonial e que
possam ser convertidos em dinheiro, adquiridos na pendência do processo de insolvência. Por
isso, podem fazer parte da massa insolvente direitos de propriedade, direitos de uso, reservas de
propriedade, entre outros. Notar que se o devedor insolvente for casado em regime de
comunhão de bens, a massa insolvente compreende, igualmente, a sua meação nos bens
comuns.

Por outro lado, serão excluídos da massa insolvente os direitos do devedor que tenham
natureza não patrimonial, bem como os bens que sejam absolutamente impenhoráveis (artigo
46.º, n.º 2 do CIRE). Já os bens relativamente impenhoráveis só poderão integrar a massa
insolvente se forem voluntariamente os apresentar (artigo 46.º, n.º 2 do CIRE).

> E se a massa insolvente for insuficiente para satisfazer as


próprias dívidas?
Se a massa insolvente se mostrar insuficiente para enfrentar as suas próprias dívidas
(nomeadamente, as custas do processo e a remuneração do administrador de insolvência), o
processo é encerrado ou, se ainda não foi declarada a insolvência, não prossegue após esse
momento (artigo 39.º, n.º 1 e 7, al. b) do CIRE).

Isto porque a massa insolvente tem em vista o pagamento dos credores, depois de
satisfeitas as dívidas da massa – tendo estas prioridade em face dos credores. Não será assim, se
o devedor (pessoa singular) tiver requerido, antes da sentença, a exoneração do passivo restante
(artigo 39.º, n.º 8 do CIRE).

Quem são os credores da insolvência?


São credores da insolvência todos os titulares de créditos de natureza patrimonial que
existam sob o insolvente, ou que sejam garantidos por bens integrantes da massa insolvente,
cujo fundamento seja anterior à data dessa declaração.

> Quem pode fazer reclamação de créditos e em que prazo? E


verificação de créditos?
Devem reclamar créditos no processo de insolvência, no prazo indicado na sentença, até
30 dias (artigo 36.º, n.º 1, al. j) e 128.º, n.º 1 do CIRE), todos os credores do insolvente, mesmo
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que sejam autores ou exequentes em ações que corram contra o insolvente e exista ou não
sentença transitada em julgado nesses mesmos processos.

E porquê? Porque, uma vez declarada a insolvência, todos os pagamentos feitos aos
credores serão feitos no âmbito deste processo e aquela obsta à instauração e ao prosseguimento
de qualquer Acão executiva contra a massa insolvente. Além disso, se os credores tiveram
ganho aquelas ações, não podem exercer os seus direitos fora do processo.

Se o requerente da declaração de insolvência for um credor e tiver identificado


devidamente o seu crédito, não precisa de fazer a reclamação daquele no processo, uma vez que
já consta do processo, pelo que o administrador de insolvência deve reconhecê-lo.

> Qual o prazo de que o devedor dispõe para apresentar a


oposição à insolvência?
Quando o devedor não for o requerente, o juiz manda citá-lo pessoalmente, no prazo de
três dias úteis a contar da apresentação à insolvência (artigo 29.º, n.º 1 do CIRE), sendo
advertido, nesse momento, de que a não apresentação de oposição àquela, implicará a confissão
dos factos alegados e a sua declaração de insolvência. Para obstar a que tal aconteça deve,
portanto, deduzir oposição no prazo de 10 dias, oferecendo todos os meios de prova de que
disponha e apresentando testemunhas (artigo 30.º, n.º 1 e artigo 25.º, n.º 2 do CIRE).

> O que acontece se o devedor não deduzir oposição?


A não oposição do devedor implica que se considerem confessados os factos alegados
na petição inicial e, consequentemente, o reconhecimento da sua situação de insolvência,
cabendo ao tribunal apurar se se encontram preenchidos os requisitos para que seja declarada a
insolvência, e que consta do artigo 20.º, n.º 1 do CIRE. No caso de se verificarem aquelas
condições, a insolvência é declarada no primeiro dia útil seguinte ao termo do prazo para
deduzir oposição (artigo 30.º, n.º 5 do CIRE).

> Quais os deveres do devedor insolvente?


O devedor insolvente fica obrigado a fornecer todas as informações solicitadas pelo
administrador de insolvência, assembleia de credores, comissão de credores ou tribunal; a
apresentar-se pessoalmente no tribunal sempre que o seja requerido pelo juiz ou administrador
de insolvência, salvo legítimo impedimento ou expressa autorização para se fazer representar
por mandatário; e prestar colaboração requerida pelo administrador de insolvência, para o
exercício das suas funções.
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A obrigação de informação, apresentação e colaboração estende-se aos administradores


do devedor e aos membros do seu órgão de fiscalização, bem como aos que tenham
desempenhado esses cargos e aos empregados e prestadores de serviços do devedor.

> Que efeitos tem a declaração de insolvência sobre as ações


pendentes, nomeadamente as ações executivas?
Declarada a insolvência, todas as ações em que se apreciem questões relativas a bens
compreendidos na massa insolvente, intentadas contra o devedor, ou conta terceiros se o
resultado delas influenciar o valor da massa, bem como todas as ações que tenham carácter
exclusivamente patrimonial e que tenham sido intentadas pelo devedor, podem ser apensadas
(isto é, «juntas») ao processo de insolvência, se o administrador de insolvência o tiver
requerido, com fundamento na conveniência processual (artigo 85.º, n.º1 do CIRE).

Independentemente de ter havido apensação ou não, o administrador de insolvência


substitui o insolvente em todas as ações referidas, mesmo sem o acordo da parte contrária
(artigo 85.º, n.º 3 do CIRE).

São igualmente apensados os processos de insolvência daqueles em haja sido declarada


a insolvência das pessoas que legalmente respondam pelas dívidas do insolvente, bem como do
cônjuge com quem o devedor seja casado em regime de bens que não o da separação (artigo
86.º, n.º 1 do CIRE). Se o devedor for uma sociedade comercial, são apensados os processos de
insolvência de sociedades que ela domine ou que com ela se encontre em relação de grupo.

É muitas vezes o não ser capaz de liquidar, em devido tempo, uma dívida, o que leva os
devedores a se vincularem a um novo crédito. Assim, é muito comum, contra o devedor
insolvente ou em situação de insolvência iminente já correrem ações executivas, com vista ao
pagamento de dívidas que aquele contraiu e não conseguiu liquidar.

Sucede que, com a declaração de insolvência, são suspensas todas as diligências


executivas ou providência requeridas pelos credores da insolvência que atinjam a massa
insolvente (isto é, o património do devedor), bem como obsta à instauração ou prosseguimento
de qualquer Acão executiva proposta pelos credores da insolvência (artigo 88.º, n.º 1 do CIRE).
Contudo, se existirem outros executados além do insolvente, prosseguira a Acão contra aqueles
(parte final do n.º 1, do artigo 88.º). Então, se o insolvente tinha uma penhora sobre o seu
vencimento, por exemplo, este será suspensa.

Ora, as ações suspensas extinguem-se, quanto ao executado insolvente, quando


declarada a sua insolvência e encerrado o processo, por rateio final ou insuficiência da massa
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(artigo 88.º, n.º 3 do CIRE). O administrador deve, então, comunicar aos agentes de execução
designados do encerramento dos processos.

Nos três meses que se seguem à declaração de insolvência, não podem ser propostas
execuções com vista ao pagamento de dívidas da massa insolvente (artigo 89.º, n.º 1 do CIRE).

> E o que acontece aos créditos do devedor insolvente?


Uma vez declarada a insolvência, vencem-se todas as obrigações do insolvente não
subordinadas a uma condição suspensiva (isto é, as obrigações que não se encontrem
dependentes da verificação de um evento para serem devidas).

Depois de declarada a insolvência, o direito de exigir alimentos ao insolvente só pode


ser exercido contra a massa e, ainda assim, apenas quando as demais pessoas obrigadas a
alimentos (artigo 2009.º do CC), nomeadamente, o cônjuge, ascendentes e descendentes, não os
puderem prestar (artigo 93.º do CIRE). Neste caso, em que os alimentos são devidos pelo
insolvente e é a massa que responde, deve o juiz fixar o seu montante.

Se o devedor tiver negócios pendentes, qual o efeito nestes da


declaração de insolvência?
A regra é a de que os contratos bilaterais (que geram obrigações, interdependentes entre
si, para ambas as partes) sejam cumpridos. Contudo, quando estes contratos não tenham sido
totalmente cumpridos, à data da declaração de insolvência, nem pelo insolvente nem pela outra
parte, o cumprimento fica suspenso até que o administrador de insolvência emita uma
declaração pela execução ou pela recusa do cumprimento (artigo 102.º, n.º 2 do CIRE). De
qualquer modo, a outra parte pode fixar um prazo razoável para que o administrador de
insolvência exerça a sua opção, findo o qual se considera recusado o cumprimento 8artigo 102-
º, n.º 2).

Assim, se o contrato não for cumprido, por opção do administrador de insolvência,


nenhuma das partes tem que restituir o que prestou; a massa insolvente pode exigir o que tiver
prestado na medida em que não tenha tido contraprestação pela outra parte; a outra parte pode
exigir, como crédito sobre a insolvência, o valor da prestação do devedor, na parte incumprida,
com a dedução do valor da contraprestação ainda não realizada (pode exigir se já tiver prestado
a sua parte e ainda não tiver a contraprestação por essa parte; tudo o resto, que ainda não foi
prestado por qualquer das partes ou a que já foi prestada contraprestação, é descontado),
conforme resulta das al. a) a c) do artigo 102.º, n.º 3.

Isto é, sendo cumprido o contrato, mantêm-se os termos acordados entre as partes; se


não for cumprido, a outra parte fica com um crédito sobre a insolvência. A contraparte tem
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ainda direito a ser indemnizado pelos prejuízos que haja sofrido, até ao valor ao valor da
contraprestação que a massa insolvente possa exigir à contraparte, abatido o quantitativo que a
outra parte tenha direito, e constitui um crédito sobre a insolvência.

Se estiver em causa a compra e venda com reserva de propriedade, sendo o vendedor o


insolvente, a outra parte pode exigir-lhe o cumprimento se a coisa já lhe tiver sido entregue na
data da declaração de insolvência (artigo104.º, n.º 1 do CIRE). E o mesmo se diga, caso o
insolvente seja o locador, face a contratos de locação financeira e a contratos de locação onde
tenha sido inserida uma cláusula de que a coisa se tornará propriedade do locatário, depois da
satisfeitas todas as rendas acordadas (artigo 104.º, n.º 2 do CIRE). Se o insolvente for, pelo
contrário, o comprador, a cláusula de reserva de propriedade só é oponível à massa se tiver sido
estipulada por escrito, até ao momento da entrega da coisa (n.º 4 do artigo 104.º).

No caso dos contratos-promessa, sendo o insolvente o promitente-vendedor, não pode


ser recusado o cumprimento do contrato com eficácia real se já tiver havido a tradição da coisa a
favor do promitente-comprador (a título de exemplo, quando nos contratos de promessa de
venda de um imóvel, o promitente-vendedor já tiver entregue a chave ao promitente-
comprador), conforme resulta do n.º 1 do artigo 106.º.

Nas situações em que o insolvente for o locatário, o contrato de locação não é suspenso
pela declaração de insolvência, mas o administrador pode denunciar esse contrato, a menos que
o locado se destine à habitação (casa arrendada) do insolvente. Mas se a coisa locada ainda não
tiver sido entregue ao locatário à data da declaração de insolvência deste, o locador ou
administrador de insolvência podem resolver o contrato (artigo 108.º, n.º 5 do CIRE).

Já quando o insolvente é o locador, o contrato não é suspenso pela declaração de


insolvência. E, também aqui, não tendo sido entregue a coisa ao locatário, podem o
administrador de insolvência ou aquele resolver o contrato.

> Se, antes de se apresentar à insolvência, o devedor realizou


negócios que diminuíram o seu património, é possível agora fazer
alguma coisa?
Muitas pessoas, vendo a sua situação económica a degradar-se, começam a dissipar o
seu património, por exemplo, ficcionando contratos de compra e venda de bens que tenha em
seu nome, de modo a evitar que venham a fazer parte da massa insolvente e responder pelas
suas dívidas. A pensar nessas situações, o legislador previu a possibilidade de resolução de atos
em benefício da massa insolvente (artigo 120.º e seguintes do CIRE).
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Deste modo, podem ser resolvidos os atos prejudiciais à massa, praticados dentro dos
dois anos anteriores à data do início do processo de insolvência (artigo 120.º, n.º 1 do CIRE).

E que atos podem ser prejudiciais para a massa? Todos aqueles que diminuam, frustrem,
dificultem, ponham em perigo ou retardem a satisfação dos credores (n.º 2 do artigo 120.º do
CIRE).

A resolução pressupõe má fé do terceiro. Entendendo-se por má fé o conhecimento de


que o devedor se encontrava em situação de insolvência; do carácter prejudicial do ato e de que,
naquela data, o devedor se encontrava numa situação de insolvência iminente; ou do início do
processo de insolvência (artigo 120.º, n.º 5). De qualquer forma, presume-se a má fé do terceiro
quando os atos praticados ou omitidos tenham ocorrido nos dois anos anteriores ao início do
processo de insolvência e em que tenham participado, ou de que tenham aproveitado, pessoas
especialmente relacionadas com o insolvente, como pais ou filhos (artigo 120.º, n.º 4).

Sucede que, em alguns casos, pode prescindir-se do requisito da má fé (artigo 121.º do


CIRE). Há, portanto, alguns atos que são resolúveis independentemente de qualquer requisito. A
título de exemplo, são, então, resolúveis: os atos celebrados pelo devedor a título gratuito, nos 2
anos que antecederam o início do processo de insolvência (incluindo o repúdio de herança ou
legado); a fiança, subfiança, aval, e mandatos de crédito que, naquele período, haja outorgado e
que não se tratem de operações ou negócios com real interesse para si; atos onerosos realizados
pelo insolvente no ano anterior ao início do processo de insolvência em que ele haja assumido
manifestamente mais obrigações do que contraparte.

> Como é feito o pagamento aos credores?


Antes de pagar aos credores, o administrador de insolvência paga as dívidas da própria
massa (como as custas processuais e a remuneração do administrador de insolvência) e só
depois procede ao pagamento dos credores cujos créditos estejam verificados na sentença
transitada em julgado (artigos 172.º e 173 do CIRE).

Quanto a estes, há uma ordem de pagamento: primeiro, paga-se aos credores que
tenham garantias reais (artigo 174.º), como a hipoteca ou o penhor; depois, paga-se aos credores
privilegiados (artigo 175.º), como sejam os créditos do Estado ou autarquias locais; em terceiro
lugar, pagam-se os credores comuns (artigo 176.º), isto é, todos os credores que não sejam
privilegiados ou garantidos; e, finalmente, paga-se aos credores subordinados (artigo 177.º),
definidos pelo artigo 48.º do CIRE: créditos detidos por pessoas especialmente relacionadas
com o devedor, créditos cuja subordinação haja sido convencionada, créditos sobre a
insolvência que, em virtude da resolução em benefício da massa, resultem para terceiro de má
fé, entre outros.
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Todos os pagamentos são realizados sem necessidade de requerimento, por via de


cheque sobre a conta da insolvência (artigo 183.º, n.º 1 do CIRE).

> O que é o plano de insolvência?


O pagamento dos créditos sobre a insolvência, a liquidação da massa insolvente (isto é,
a liquidação do património do insolvente) e a sua repartição pelos credores e pelo devedor, e a
responsabilidade do devedor depois de terminado do processo, pode ser regulado por um plano
de insolvência (art. 192.º, n.º 1 do CIRE). Este plano de insolvência tomará a designação de
plano de recuperação se tiver em vista a recuperação do devedor, devendo esta menção constar
de toda a documentação (art. 192.º, n.º 3 do CIRE).

O administrador de insolvência, o próprio devedor, quem responda legalmente pelas


dívidas da insolvência e qualquer credor com, pelo menos, 1/5 do total dos créditos não
subordinados (art. 48.º CIRE), podem apresentar um plano de insolvência (artigo 193.º, n.º 1),
que obedeça a um princípio de igualdade dos credores (artigo 194.º, n.º 1), ainda que possam
existir diferenças de tratamento devido ao tipo de crédito em causa.

O plano de insolvência indicará as alterações que implique para as posições jurídicas


dos credores, além de indicar também a sua finalidade, as medidas necessárias para o executar,
e os elementos necessários para que os credores o aprovem e para que o juiz o homologue,
nomeadamente, a descrição da situação patrimonial, financeira e reditícia do devedor e a
indicação acerca da forma como os credores serão satisfeitos.

O plano de insolvência é levado a discussão e votação, em assembleia de credores


convocada pelo juiz (artigo 209.º, n.º 1 do CIRE), podendo ser aí modificado, sendo posto a
votação com as alterações introduzidas (artigo 201.º do CIRE).

> Quais os seus efeitos?


O plano é homologado por sentença, produzindo-se as alterações sobre os créditos que o
plano previr. De resto, a sentença homologatória dá eficácia a todos os atos ou negócios
jurídicos previstos no plano de insolvência, desde que estejam no processo as declarações de
vontade de terceiros e dos credores que não o tenham votado favoravelmente ou que o devessem
fazer em momento posterior à aprovação.

> Como encerra o processo?


Se o processo de insolvência prosseguir após o devedor ser declarado insolvente, o juiz
declara o processo encerrado: após o rateio final; após a sentença que homologue o plano de
insolvência; a pedido do devedor, quando este deixe de se encontrar em situação de insolvência
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(artigo 231.º do CIRE); quando o administrador da insolvência conclua que a massa insolvente é
insuficiente para fazer face às suas dívidas (artigo 232.º do CIRE), quando não tenha sido
declarado encerrado aquando do despacho inicial referente ao pedido de exoneração do passivo
restante (artigo 230.º, n.º 1 do CIRE).

O encerramento do processo é notificado aos credores, devendo ser publicado e


registado, com a indicação da razão que conduziu ao encerramento.

> Quais são os efeitos do encerramento do processo?


Com o encerramento do processo, cessam todos os efeitos da declaração de insolvência
e o devedor recupera o direito de disposição dos seus bens, podendo vender ou doar o seu
património, por exemplo, além de que volta a ter a livre gestão dos seus negócios.

A comissão de credores e do administrador cessam as suas funções, exceto as referentes


à apresentação de contas e das que o plano de insolvência, eventualmente, lhes confira.

Para além disso, após o encerramento do processo, os credores da insolvência deixam


de ter restrições quanto ao exercício dos seus direitos contra o devedor, com a exceção das que
resultem de eventual plano de insolvência ou plano de pagamentos.

Finalmente, os credores poderão reclamar junto do devedor os seus direitos que não
hajam ficado satisfeitos com o processo de insolvência (porque os credores cujos créditos não
hajam sido inteiramente satisfeitos podem ainda vir a reclamar esses direitos, algumas pessoas
singulares insolventes requerem a exoneração do passivo restante que não for liquidado com o
processo).

O Processo Especial de Revitalização (PER)

> O que é?
O Processo Especial de Revitalização (PER) tem como finalidade permitir a uma
empresa que esteja numa situação economicamente difícil ou em situação de insolvência
iminente, mas que ainda seja passível de ser recuperada, negociar com os credores com vista a
um acordo (plano de recuperação) que leve a revitalização daquela (artigo 17.-A, n.º 1 do
CIRE).

Encontram-se em situação económica difícil as empresas que enfrentem sérias


dificuldades para cumprir pontualmente as suas obrigações (artigo 17.º-B do CIRE).
10360 – Processo de Insolvência

Plano de Recuperação.
O que é:
O plano de recuperação é um acordo entre os credores de um devedor - empresa - que
prevê o modo de pagamento dos respetivos créditos através da revitalização do devedor,
permitindo-lhe continuar a exercer a sua atividade económica.

Processo especial de revitalização (PER) ou processo de insolvência com plano de


insolvência:

O plano de recuperação pode ser aprovado no âmbito de um:

 processo especial de revitalização (PER), que é um processo especial dirigido a


empresas que se encontrem em situação económica difícil ou em situação de
insolvência meramente iminente, mas que ainda sejam suscetíveis de
recuperação por terem viabilidade económica, e que se destina a promover
negociações com os respetivos credores com vista à aprovação de um plano de
recuperação, conferindo-lhe a possibilidade de continuar a exercer a sua
atividade económica, e assim, evitar a insolvência de empresas; ou de um,
 processo de insolvência, com plano de insolvência, o qual é aplicável apenas a
processos de insolvência de empresas (sociedades por quotas, sociedades
unipessoais por quotas e sociedades anónimas) e de pessoas singulares que
explorem empresas. De facto, a Lei determina que o plano de insolvência que se
destine a prover à recuperação do devedor designa-se por plano de recuperação.

Plano de recuperação pode ser aplicado a pessoas singulares que não


explorem empresas?
Não.

 As pessoas singulares que não explorem empresas e que se encontrem em


situação de insolvência, poderão recorrer ao plano de pagamentos;
 Por sua vez, as pessoas singulares que não explorem empresas e que se
encontrem em situação económica difícil poderão recorrer ao processo especial
para acordo de pagamento (PEAP).
10360 – Processo de Insolvência

Conteúdo - reestruturação do passivo e outras medidas:


O plano de recuperação pode conter providências com implicação na estrutura do
passivo do devedor, designadamente: o perdão ou diminuição do montante dos créditos, quer
quanto ao capital, quer quanto aos juros (haircut); moratórias (alargamento dos prazos de
pagamento); o condicionamento do pagamento de todos os créditos às capacidades do devedor;
a alteração das taxas de juro; alteração dos prazos de vencimento das dívidas, etc...

O plano de recuperação tem que descrever a situação económica, financeira e


patrimonial do devedor devendo, nomeadamente, conter: o resultado líquido, o volume de
negócios, o ativo (fixo e circulante), o passivo e os capitais próprios.

Devem ser fornecidos aos credores todos os elementos que permitam confirmar a
viabilidade económico-financeira da empresa. O plano de recuperação deve ainda descrever as
medidas adequadas à sua implementação e integrar todos os elementos importantes para a sua
aprovação pelos credores e para a homologação pelo Juiz.

Dívidas às Finanças à Segurança Social - possibilidade de pagamento em


prestações:
O plano de recuperação pode produzir efeitos em relação às dívidas às Finanças e à
Segurança Social:

 quer seja aprovado no âmbito de um processo especial de revitalização (PER);


 quer seja aprovado no âmbito de um processo de insolvência de empresas com
plano de recuperação.

Com efeito, as dívidas fiscais e à Segurança Social podem ser pagas em prestações
mensais e iguais, até ao limite máximo de 150 prestações. Se a dívida exceder 51.000,00€
nenhuma das prestações pode ser inferior a 1020,00€.

Princípio da igualdade entre os credores (par conditio creditorum):


O plano de recuperação deve respeitar o princípio da igualdade entre os credores ou par
conditio creditorum, sem prejuízo das diferenciações justificadas por razões objetivas.

Permitem-se diferenciações de tratamento entre os credores, tendo em conta,


nomeadamente:

 a diferente categoria ou classe dos créditos e, consequente, ordem de


pagamentos. Ora, tendo em conta a sua graduação, os créditos podem ser:
créditos garantidos (1.º lugar), créditos privilegiados (2.º lugar), créditos
comuns (3.º lugar) e créditos subordinados (4.º lugar); e,
10360 – Processo de Insolvência

 o diferente grau hierárquico dentro da mesma classe de créditos; entre outros


fatores.

Sobre esta matéria ver: par conditio creditorum e graduação de créditos.

Aprovação:
Para que o plano de recuperação possa ser aprovado é necessário que seja votado
favoravelmente pelos credores. A regra na contagem dos votos é 1 Euro, 1 voto, ou seja, é
atribuído um voto por cada Euro de crédito.

1) Para que o plano de recuperação possa ser aprovado é necessário que:

 estejam presentes ou representados na votação credores que representem, pelo


menos, 1/3 dos votos (quórum constitutivo); para além disso, é necessário que o
plano obtenha o voto favorável de, pelo menos, 2/3 da totalidade dos votos
efetivamente emitidos (quórum deliberativo), sendo que, pelo menos, 1/2 desses
votos devem corresponder a créditos não subordinados (sobre os créditos
subordinados ver: créditos subordinados).

2) O plano de recuperação negociado no âmbito de um processo especial de


revitalização (PER), também pode ser aprovado sem a verificação de qualquer quórum
constitutivo (percentagem de credores cuja presença é necessária para que o plano de
recuperação possa ser admitido à votação), desde que, recolha o voto favorável de credores que
representem mais de ½ (metade) dos votos, sendo que, mais de metade destes votos favoráveis
devem corresponder a créditos não subordinados.

> Que devedores podem recorrer ao PER?


Qualquer empresa (sociedades por quotas, sociedades unipessoais por quotas,
sociedades anónimas, empresários em nome individual, etc…) que emita declaração escrita e
assinada onde ateste reunir as condições necessárias para a sua recuperação (artigo 17.º-A, n.º 2
do CIRE).

Deve ainda apresentar declaração subscrita, há não mais de 30 dias, por contabilista
certificado ou por revisor oficial de contas, sempre que a revisão de contas seja legalmente
exigida, atestando que não se encontra em situação de insolvência atual.

A empresa não poderá encontrar-se em incumprimento da generalidade das suas


obrigações, uma vez que tal situação já consubstanciaria uma situação de insolvência.
10360 – Processo de Insolvência

Requisitos; como se inicia:


O processo especial de revitalização (PER) é um processo judicial, uma vez que corre
os seus termos no Tribunal. Por conseguinte, nos termos da Lei, só os Advogados, devidamente
mandatados pelos seus clientes, é que podem dar início a estes processos.

Para iniciar um processo especial de revitalização (PER) é necessário entregar no


Tribunal, nomeadamente:

1) um requerimento subscrito e assinado pela empresa (respetivos administradores) e


por um credor ou credores que, não sendo especialmente relacionados com a empresa, sejam
titulares de, pelo menos, 10% de créditos não subordinados (sobre quais é que são os créditos
subordinados e respetivo regime, consultar o nosso artigo: créditos subordinados), a manifestar
a vontade em iniciar o processo especial de revitalização (PER) e de iniciar negociações com
todos os credores com vista à aprovação de um plano de recuperação;

2) uma declaração escrita e assinada, há não mais de 30 dias, por um contabilista


certificado ou por um revisor oficial de contas, sempre que a revisão de contas for legalmente
exigida, a atestar que a empresa não se encontra em situação de insolvência atual;

3) uma proposta de plano de recuperação; e,

4) a descrição da situação patrimonial, financeira e reditícia da empresa; entre outros


documentos.

> Como se requer e quais as formalidades a observar?


O processo inicia-se pela manifestação de vontade, por declaração escrita, do devedor e
de, no mínimo, um credor, de virem a negociar a revitalização daquele, por meio de um plano
de recuperação, que terão de aprovar. O devedor e todos os credores que queiram participar nas
negociações devem assinar, devendo contar a data em que foi assinada.

Posteriormente, e munido da declaração assinada por todos, o devedor deve: comunicar


ao tribunal competente para declarar a sua insolvência, que pretende dar início às negociações
com vista à sua revitalização, devendo aquele nomear um administrador judicial provisório;
remeter cópias dos documentos que devem instruir um processo de insolvência, que ficam na
secretaria do tribunal para consulta dos credores, durante todo o processo.

> Como se processa?


Quando a empresa for notificada da nomeação do administrador judicial provisório, fica
obrigada a comunicar, de imediato, a todos os credores que não subscreveram a declaração
10360 – Processo de Insolvência

inicial, convidando-os a participar nas mesmas e informando-os da documentação entregue na


secretaria do tribunal, para consulta (artigo 17.º-D, n.º 1 do CIRE).

Os credores gozam de 20 dias para reclamar créditos, junto do administrador judicial


provisório, a contar da publicação do despacho de nomeação daquele no portal CITIUS (portal
de apoio ao funcionamento dos tribunais), nos termos do n.º do artigo 17.º-D do CIRE.

A lista provisória de créditos é imediatamente apresentada e publicada e, se não for


impugnada em cinco dias úteis, converte-se em definitiva.

Após este momento, as partes declarantes dispõem de 2 meses, que pode ser prorrogado
por mais um, para concluírem as negociações (artigo 17.º-D, n.º 5 do CIRE).

> Até que momento podem os credores aderir às negociações?


Durante todo o tempo em que decorrerem as negociações, os credores que não
subscreveram a declaração inicialmente, podem vir a declarar que pretendem participar nas
mesmas. Essas declarações são, então, juntas ao processo.

> Que efeitos resultam do PER?


Pelo início do PER, consagra-se o chamado período de stand still. Assim, o processo
especial de revitalização obsta à instauração de quaisquer ações para a cobrança de dívidas
contra o devedor e faz suspender as ações em curso com idêntica finalidade, que serão extintas
assim que o plano de recuperação seja aprovado e homologado, a menos que este preveja coisa
diversa (artigo 17.º-E, n.º 1 do CIRE).

Do mesmo modo, se tiver sido requerida a declaração de insolvência do devedor, este


processo também será suspenso, salvo se já tiver sido declarada a sua insolvência. Da mesma
forma, se tiver sido suspenso o processo de insolvência durante as negociações, será extinto
com a aprovação e homologação do plano de recuperação (artigo 17.º-E, n.º 6 do CIRE)

Por fim, se o juiz nomear administrador judicial provisório, o devedor fica impedido
praticar atos de especial relevo sem a autorização daquele (artigo 17.º-E, n.º 2 do CIRE).

> Como se conclui o PER?


As negociações podem concluir-se com a aprovação do plano de recuperação (artigo
17.º-F do CIRE) ou sem a aprovação deste (artigo 17.º-G do CIRE).
10360 – Processo de Insolvência

Sendo o plano de recuperação aprovado por unanimidade, deve ser assinado por todos,
sendo remetido ao processo, para a homologação ou recusa deste pelo juiz. Se não houver
aprovação unânime, o plano é remetido ao tribunal, considerando-se aprovado se:

sendo votado por credores cujos créditos representem, pelo menos, um terço do total
dos créditos relacionados com direito de voto, recolha o voto favorável de mais de dois terços
da totalidade dos votos emitidos e mais de metade dos votos emitidos correspondentes a
créditos não subordinados, não se considerando como tal as abstenções; ou

recolha o voto favorável de credores cujos créditos representem mais de metade da


totalidade dos créditos relacionados com direito de voto, e mais de metade destes votos
correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando como tal as abstenções.

O processo pode terminar, ou porque os declarantes concluam não ser possível chegar a
um acordo, ou pelo decurso do tempo para concluírem as negociações (2 ou 3 meses).

Se a empresa não estiver em situação de insolvência, cessam todos os efeitos do PER.

Contudo, se a empresa já se encontrar em situação de insolvência, o encerramento do


PER acarreta a declaração de insolvência da empresa, declarada no prazo de 3 dias úteis a
contar da comunicação ao tribunal do encerramento das negociações.

A empresa que queira lançar mão do PER, deve ter em atenção o facto de o
encerramento do processo a impedir de recorrer ao mesmo durante os dois anos que seguintes.

Aprovação:
Para que o plano de recuperação possa ser aprovado é necessário que seja votado
favoravelmente pelos credores. A regra na contagem dos votos é 1 Euro, 1 voto, ou seja, é
atribuído um voto por cada Euro de crédito.

1) Para que o plano de recuperação possa ter aprovação é necessário que:

 estejam presentes ou representados na votação credores que representem, pelo


menos, 1/3 dos votos (quórum constitutivo); e,
 que o plano obtenha o voto favorável de, pelo menos, 2/3 da totalidade dos
votos efetivamente emitidos (quórum deliberativo), sendo que, pelo menos, ½
(metade) desses votos efetivamente emitidos devem corresponder a créditos não
subordinados.

2) Em alternativa, o plano também pode ser aprovado sem a verificação de qualquer


quórum constitutivo (percentagem de credores cuja presença é necessária para que o plano de
10360 – Processo de Insolvência

recuperação possa ser admitido à votação), desde que, recolha o voto favorável de credores que
representem mais de ½ (metade) dos votos, sendo que, mais de metade destes votos favoráveis
devem corresponder a créditos não subordinados.

Efeitos:
O início do processo especial de revitalização (PER) tem os seguintes efeitos:

 são suspensas todas as penhoras e diligências executivas que corram contra a


empresa; por outro lado, deixa de poder ser possível aos credores intentar novas
ações para cobrança coerciva de dívidas (declarativas e executivas);
 os prestadores de serviços essenciais tais como eletricidade, gás natural, água,
telecomunicações, ficam impossibilitados de suspender o respetivo
fornecimento por não pagamento, durante todo o tempo em que decorrerem as
negociações.

Créditos tributários e créditos da Segurança Social - possibilidade de


pagamento em prestações:
O plano de recuperação que venha a ser aprovado pode produzir efeitos em relação às
dívidas às Finanças e à Segurança Social.

Com efeito, as dívidas fiscais e à Segurança Social podem ser pagas em prestações
mensais e iguais, até ao limite máximo de 150 prestações. Se a dívida exceder 51.000,00€
nenhuma das prestações pode ser inferior a 1020,00€.

Por outro lado, pode igualmente ser invocada a prescrição das dívidas correspondentes,
a qual pode ser decretada diretamente pelo juiz do tribunal do comércio onde corre o processo
especial de revitalização (PER).

Prazo para conclusão:


As negociações para a aprovação do plano de recuperação no âmbito do processo
especial de revitalização (PER) têm de estar concluídas no prazo de 2 meses; esse prazo pode
ser prorrogado por uma só vez e por 1 mês.

O Regime Extrajudicial de Recuperação de Empresas (RERE)

> O que é?
É um processo extrajudicial, que corre termos junto da Conservatória do Registo
Comercial, e que permite a um devedor, que se encontre em situação económica difícil ou em
10360 – Processo de Insolvência

situação de insolvência eminente, negociar e obter um acordo de reestruturação com um ou mais


dos seus credores, estando previsto na Lei n.º 8/2018, de 2 de março.

Este acordo de reestruturação permite a alteração da composição, das condições ou da


estrutura do ativo ou do passivo de um devedor, ou de qualquer outra parte da estrutura de
capital do devedor, incluindo o capital social, ou uma combinação destes elementos, incluindo a
venda de ativos ou de partes de atividade, com o objetivo de permitir que a empresa sobreviva
na totalidade ou em parte.

Ao contrário do PER, que se destina a empresas, o RERE tem os mesmos destinatários


que o processo de insolvência, com a exceção das pessoas singulares que não sejam titulares de
empresa.

É, portanto, um procedimento alternativo aos que estão previstos do Código da


Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), tendo por base a negociação extrajudicial,
com vista à melhoria das condições de funcionamento da empresa e a continuidade da sua
atividade.

O RERE veio assim substituir o anterior processo extrajudicial conhecido como


SIREVE (Sistema Extrajudicial de Recuperação de Empresas).

Quem pode recorrer:


Podem recorrer ao RERE - regime extrajudicial de recuperação de empresas, se
estiverem em situação económica difícil ou em situação de insolvência meramente iminente:

 empresas - sociedades por quotas, sociedades unipessoais por quotas,


sociedades anónimas (S.A.);
 empresários em nome individual;
 outras pessoas coletivas, como associações, fundações, sociedades civis,
cooperativas;
 herança jacente; etc…

As pessoas singulares que não sejam empresárias em nome individual não podem
recorrer ao RERE - regime extrajudicial de recuperação de empresas. Em alternativa, as pessoas
singulares que não explorem nenhuma empresa podem recorrer ao processo especial para
acordo de pagamento (PEAP), que é um processo destinado a permitir a sua recuperação e
reestruturação e, assim, evitar a insolvência pessoal.
10360 – Processo de Insolvência

Finalidade:
O RERE - regime extrajudicial de recuperação de empresas - destina-se a promover
negociações por via extrajudicial entre o devedor e todos ou alguns dos seus credores com vista
à aprovação de um acordo de reestruturação que preveja uma alteração da composição, das
condições ou da estrutura do passivo e/ou do ativo do devedor, incluindo o capital social, ou
uma combinação destes elementos, incluindo a venda de ativos ou de partes de atividade, com o
objetivo de que a empresa sobreviva, na totalidade ou em parte.

Assim, trata-se de um procedimento extrajudicial que se destina essencialmente a


reestruturar o passivo das empresas que se encontrem em situação económica difícil ou em
situação de insolvência iminente; funciona, pois, como um mecanismo alternativo à insolvência
de empresas, mas também alternativo ao processo especial de revitalização (PER).

> Como devo proceder para requer o RERE?


O procedimento inicia-se com a assinatura de um protocolo de negociação entre
devedor e credores, devendo os credores subscritores representar pelo menos 15% do passivo do
devedor que seja considerado não subordinado nos termos do CIRE, e promover o seu depósito
na Conservatória do Registo Comercial.

O conteúdo do protocolo de negociação é estabelecido livremente entre as partes,


devendo, contudo, conter pelo menos os seguintes elementos:

 Identificação completa do devedor, dos credores participantes, dos


representantes do devedor e dos representantes dos credores para efeitos do
RERE;
 Prazo máximo acordado para as negociações, com o limite de 3 meses;
 Passivo total do devedor;
 Responsabilidade pelos custos inerentes ao processo negocial, incluindo o custo
com a assessoria técnica, financeira e legal, e modo de repartição dos mesmos;
 Acordo relativo à não instauração pelas partes, contra o devedor no decurso do
prazo acordado para as negociações, de processos judiciais de natureza
executiva, de processos judiciais que visem privar o devedor da livre disposição
dos seus bens ou direitos, bem como de processo relativo à declaração da
insolvência do devedor;
 Data e assinaturas reconhecidas.

As negociações e o conteúdo do protocolo de negociação são confidenciais, exceto se


as partes acordarem por unanimidade em dar-lhes publicidade, no todo ou em parte
10360 – Processo de Insolvência

Conteúdo do acordo de reestruturação:


O acordo de reestruturação cuja aprovação se pretende irá comtemplar uma alteração da
composição, das condições ou da estrutura do passivo e/ou do ativo do devedor, incluindo o
capital social, ou uma combinação destes elementos, incluindo a venda de ativos ou de partes de
atividade, com o objetivo de que a empresa sobreviva, na totalidade ou em parte.

Assim, o acordo de reestruturação consiste essencialmente numa proposta de


reestruturação do passivo da empresa, podendo nomeadamente prever: um alargamento dos
prazos de pagamento (moratórias), uma redução de juros, um perdão de parte do capital das
dívidas (haircut), a conversão de créditos em participações sociais (quotas ou ações), bem como
a apresentação de um novo modelo de negócio.

> De que documentos preciso?


Além do protocolo de negociação, é necessário que o requerente do RERE junte, pelo
menos, os seguintes documentos:

 Certidão do registo comercial do devedor ou código de acesso à respetiva


certidão eletrónica e estatutos, se aplicável;
 Documentos de prestação de contas do devedor relativos aos três últimos
exercícios;
 Declaração do devedor a indicar o detalhe do seu passivo, designadamente,
nome de todos os credores, proveniência, montante e natureza dos créditos, e
garantias associadas;
 Lista de todos os processos judiciais e arbitrais nos quais o devedor seja parte;
 Justificação para a não apresentação de algum destes documentos, se não forem
apresentados com o protocolo de negociação.

Aprovação:
Ao contrário do que acontece com o processo especial de revitalização (PER) o acordo
de reestruturação não precisa de ser votado. Como se trata de um procedimento voluntário cada
um dos credores vota favoravelmente o acordo apenas se aceitar a reestruturação do respetivo
crédito. Se não aceitar o acordo de reestruturação o seu crédito permanecerá inalterado.

Assim, o acordo de reestruturação que eventualmente for aprovado só vai produzir


efeitos em relação aos credores que tiverem aderido ao RERE e que tenham aprovado o acordo.
Deste modo, o acordo não vincula os credores que não tenham aderido ao RERE nem os
credores que não tenham aprovado o acordo, pelo que, para estes os respetivos créditos
permanecerão inalterados, sem qualquer perdão.
10360 – Processo de Insolvência

> E quais os efeitos que resultam da instauração do RERE?


Após o devedor proceder ao depósito do protocolo de negociação, os credores não
podem desvincular-se dos compromissos aí assumidos antes de decorrido o prazo máximo para
as negociações (embora possam cessar a participação ativa nas mesmas).

Ainda, a participação no protocolo de negociação ou a adesão a este por credor que


tenha requerido a insolvência do devedor, determina a imediata suspensão do processo de
insolvência, caso esta não tenha ainda sido declarada.

De igual forma, e salvo quanto o protocolo preveja diferentemente, extinguem-se


automaticamente as ações executivas para pagamento de quantia certa instauradas, e, salvo
transação, mantêm-se suspensas as ações destinadas a exigir o cumprimento de ações
pecuniárias instauradas contra a empresa.

Ainda, os prestadores de serviços essenciais (água, luz, gás, etc.) ficam impedidos de
interromper o fornecimento dos mesmos por dívidas relativas a serviços prestados em momento
anterior ao depósito

Se, após o depósito do protocolo de negociação, o devedor ficar em situação de


insolvência, a contagem do prazo de apresentação do devedor à insolvência apenas se inicia
após o encerramento das negociações.

Créditos tributários e da Segurança Social:


Sempre que as Finanças (Autoridade Tributária) e a Segurança Social forem credoras do
devedor ou mantenham com este um acordo de pagamento em prestações têm obrigatoriamente
que participar nas negociações que se realizarem ao abrigo do RERE, mesmo que não tenham
subscrito o protocolo de negociação.

Contudo, o acordo de reestruturação aprovado não pode, em qualquer caso, produzir


efeitos em relação aos créditos tributários.

> Quando é que não possível recorrer ao RERE?

Em algumas circunstâncias não é possível recorrer ao RERE.

Assim, impede à utilização do RERE a apresentação à insolvência por parte da empresa


no caso de esta já ter sido declarada judicialmente e a pendência do Processo Especial de
Revitalização (PER).
10360 – Processo de Insolvência

> Neste momento já não consigo pagar aos credores da empresa.


Posso recorrer ao RERE?
Nesta situação, já se encontra em situação de insolvência atual, pelo que não pode
recorrer ao RERE, que se destina apenas a empresas em situação económica difícil ou em
situação de insolvência eminente.

É por isso que se recomenda que, logo que a sua empresa se encontre numa situação
económica difícil, e o quanto antes, deve recorrer ao RERE, com vista á obtenção de acordo
com os principais credores e, assim, encontrar uma solução que possibilite a revitalização da
mesma. Isto é, quanto mais cedo procurar negociar com os credores no sentido de encontrar
uma solução benéfica para todos, maior será a probabilidade de vir a ser bem-sucedido. Atacar o
problema desde o início pode ser crucial para garantir a continuidade da empresa.

> Como se processam as negociações?


O prazo máximo das negociações é de 3 meses, contados da data em for requerido o
depósito do protocolo de negociação na CRC. O protocolo só pode ser alterado através de
protocolo de alterações e requer o consentimento de todas as partes que o subscreveram
inicialmente e das que ulteriormente a ele tenham aderido.

O devedor pode ainda solicitar, no decurso das negociações, a nomeação de um


mediador de recuperação de empresas (que é requerido ao IAPMEI).

O devedor pode ainda designar um credor líder, que será o interlocutor preferencial dos
credores no contacto com o devedor, ou mais do que um credor líder, na medida em que os
credores considerem que a tutela dos seus interesses justifica essa pluralidade, ou acordar na
nomeação de um comité de credores, para acompanhar a atividade do devedor no decurso das
negociações.

Sempre que forem credoras do devedor ou que com este mantenham acordo
prestacional, a segurança social e a AT, os trabalhadores e as organizações representativas dos
trabalhadores, participam obrigatoriamente nas negociações a realizar ao abrigo do RERE,
mesmo que não subscrevam o protocolo de negociação.

No decorrer das negociações, o devedor, deve apresentar o diagnóstico económico e


financeiro que permita aos credores conhecer os pressupostos nos quais se baseia o acordo de
reestruturação.

Encerram com o depósito do acordo de reestruturação na CRC ou com o depósito de


declaração de que não existem condições para prosseguir com as negociações.
10360 – Processo de Insolvência

Não tendo havido depósito do acordo de reestruturação, encerram decorrido o prazo


previsto no protocolo de negociação ou na sua extensão caso tenha existido acordo, ou
decorrido o prazo máximo regulamentar de 3 meses.

Ainda, se no decurso das negociações o devedor ficar insolvente o prazo não é


suscetível de prorrogação; além disso se o devedor se apresentar à insolvência ou esta for
declarada em processo de insolvência requerido por um credor, as negociações encerram-se
automaticamente.

O encerramento do processo RERE está sujeito a registo na CRC e publicidade,


conforme regras legais e regras acordados entre as partes.

> E se não chegarem a acordo ou não o cumpram, podem


requerer o RERE novamente?
Apesar de o devedor não poder sujeitar ao RERE mais do que um processo de
negociação em simultâneo, após a conclusão das negociações, tenha ou não sido alcançado
acordo de reestruturação, este é livre de sujeitar novas negociações, iniciadas com os mesmos
ou com diferentes credores, ao RERE, desde que não viole os termos específicos de acordo
anteriormente alcançado ao abrigo deste mesmo regime.

De notar que o incumprimento de alguma das obrigações previstas no acordo de


reestruturação não determina a invalidade das demais obrigações dele decorrentes perante o
mesmo ou outros credores, nem afeta a validade dos atos que hajam sido praticados em sua
execução, designadamente os atos societários.

O acordo de reestruturação constitui ainda título executivo relativamente às obrigações


pecuniárias nele assumidas pelo devedor.

O Processo Especial para Acordo de Pagamento (PEAP)

> O que é?
Trata-se de um processo especial para acordo de pagamento, destinado ao devedor
pessoa singular (isto é, que não seja empresa), e que se encontre em situação económica difícil
ou em situação de insolvência meramente iminente, permitindo ao devedor estabelecer
negociações com os seus credores.

Quem pode recorrer:


O processo especial para acordo de pagamento (PEAP) dirige-se a pessoas singulares e
a pessoas coletivas sem finalidades lucrativas (como por exemplo, associações, fundações,
10360 – Processo de Insolvência

misericórdias, etc...) que se encontrem em situação económica difícil ou em situação de


insolvência meramente iminente.

Finalidade:
O processo especial para acordo de pagamento (PEAP) destina-se a permitir a
recuperação e revitalização das pessoas singulares através da aprovação de um acordo de
pagamento, que preveja uma reestruturação do seu passivo, evitando-se assim, a sua insolvência
pessoal.

Por sua vez, o processo especial de revitalização (PER) passou a ser um mecanismo de
recuperação destinado exclusivamente a empresas.

> Como se requer e quais as formalidades a observar?


O PEAP inicia-se pela manifestação de vontade do devedor e de pelo menos um dos
seus credores, por meio de declaração escrita, de encetar negociações conducentes à elaboração
de acordo de pagamento.

Para iniciar o PEAP, o devedor deve entregar junto do Tribunal competente para
declarar a sua insolvência requerimento comunicando a manifestação de vontade, juntando
ainda:

 A declaração escrita assinada pelo devedor e pelo menos um dos seus credores;
 Lista de todas as ações de cobrança de dívida pendentes contra o devedor;
 Comprovativo da declaração de rendimentos do devedor;
 Comprovativo da sua situação profissional ou, se aplicável, situação de
desemprego,
 Relação de todos os credores, com indicação dos respetivos domicílios, dos
montantes dos seus créditos, datas de vencimento, natureza e garantias de que
beneficiem, e da eventual existência de relações especiais;
 Relação de bens que o devedor detenha em regime de arrendamento, aluguer ou
locação financeira ou venda com reserva de propriedade, e de todos os demais
bens e direitos de que seja titular, com indicação da sua natureza, lugar em que
se encontrem, dados de identificação registral, se for o caso, valor de aquisição
e estimativa do seu valor atual.

> Como se processa?


Após receção do requerimento, o juiz nomeia o administrador judicial provisório. Com
esta nomeação, o devedor deve comunicar, de imediato e através de carta registada, a todos os
10360 – Processo de Insolvência

credores que não tenham subscrito a declaração que deu início ao processo, que deu início a
negociações com vista à elaboração de acordo de pagamento, convidando-os a participar.

Qualquer credor dispõe do prazo de 20 dias, contados da nomeação do administrador,


para reclamar os seus créditos, com vista à elaboração da lista provisória de créditos no prazo de
5 dias após o término do prazo.

Se esta, após publicação, não for impugnada no prazo de cinco dias úteis, converte-se
de imediato em lista definitiva.

A partir deste momento, o devedor e respetivos credores dispõem do prazo de dois


meses para concluir as negociações. Este prazo pode ser prorrogado apenas uma vez, por um
mês, mediante acordo.

> Até que momento podem os credores aderir às negociações?


Durante todo o tempo em que decorrerem as negociações, os credores que não
subscreveram a declaração inicialmente, podem vir a declarar que pretendem participar nas
mesmas. Essas declarações são, então, juntas ao processo.

> Que efeitos resultam do PEAP?

O PEAP obsta, antes de mais, à instauração de quaisquer ações para cobrança de dívidas
contra o devedor. Ainda, e durante todo o tempo que em decorrerem as negociações, suspende,
quanto ao devedor, as ações em curso com idêntica finalidade, extinguindo-se aquelas logo que
seja aprovado e homologado acordo de pagamento.

Caso tenha sido previamente requerida a insolvência de devedor, desde que ainda não
tenha sido proferida sentença de insolvência, o processo é suspenso, extinguindo-se logo que
aprovado e homologado acordo de pagamento.

O PEAP tem ainda como efeito a suspensão de todos os prazos de prescrição e de


caducidade oponíveis pelo devedor, durante todo o tempo em que perdurarem as negociações e
até ao encerramento do processo.

Um dos efeitos benéficos para o devedor é ainda a proibição de suspensão da prestação


de determinados serviços públicos essenciais, tais como água, luz, gás, etc.

Por fim, fica o devedor impedido de praticar atos de especial relevo a nível patrimonial,
sem que previamente tenha obtido autorização por parte do administrador judicial provisório.
10360 – Processo de Insolvência

> Como se conclui o PEAP?


As negociações podem concluir-se com a aprovação do acordo de pagamento (artigo
222.º-F do CIRE) ou sem a aprovação deste (artigo 222.º-G do CIRE).

Sendo o acordo de pagamento aprovado por unanimidade, deve ser assinado por todos,
sendo remetido ao processo, para a homologação ou recusa deste pelo juiz.

Se não houver aprovação unânime, o acordo é remetido ao tribunal, considerando-se


aprovado se:

 sendo votado por credores cujos créditos representem, pelo menos, um terço do
total dos créditos relacionados com direito de voto, recolha o voto favorável de
mais de dois terços da totalidade dos votos emitidos e mais de metade dos votos
emitidos correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando
como tal as abstenções; ou
 recolha o voto favorável de credores cujos créditos representem mais de metade
da totalidade dos créditos relacionados com direito de voto, e mais de metade
destes votos correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando
como tal as abstenções.

O processo pode terminar, ou porque os declarantes concluam não ser possível chegar a
um acordo, ou pelo decurso do tempo para concluírem as negociações (2 ou 3 meses).

Se o devedor não estiver em situação de insolvência, cessam todos os efeitos do PEAP.

Contudo, se o devedor já se encontrar em situação de insolvência, o encerramento do


PEAP acarreta a declaração de insolvência do devedor, declarada no prazo de 3 dias úteis a
contar da comunicação ao tribunal do encerramento das negociações.

O devedor que queira lançar mão do PEAP, deve ter em atenção o facto de o
encerramento do processo o impedir de recorrer ao mesmo durante os dois anos que seguintes.

Insolvência de pessoas singulares

Conheça o essencial dos requisitos de apresentação à insolvência de pessoas singulares,


nomeadamente o que é necessário para que uma pessoa se apresente à insolvência, o que é a
exoneração do passivo restante, como é que uma família pode demonstrar que está numa
situação económica difícil, quais são as consequências de pedir a insolvência ou o que fazer no
âmbito de um agregado familiar.
10360 – Processo de Insolvência

> As pessoas singulares têm o dever de se apresentar à


insolvência?
As pessoas singulares que não sejam titulares de empresa, não têm o dever de se
apresentar à insolvência.

De qualquer modo, se pretenderem vir a beneficiar do regime de “exoneração do


passivo restante” (artigo 238.º, n.º 1, al. d) do CIRE), devem apresentar-se à insolvência no
prazo de seis meses a contar da data em que tomam conhecimento da sua situação de
insolvência.

> Se eu e a meu cônjuge estivermos insolventes, podemos fazer


uma só apresentação à insolvência?
Depende. Se o regime de bens não for o da separação, os cônjuges podem apresentar-se
à insolvência conjuntamente ou, se o requerente não forem os cônjuges, pode ser instaurado
contra ambos, salvo se, perante o requerente, apenas um for responsável (artigo 264.º, n.º 1 do
CIRE).

De qualquer modo, se o processo for instaurado apenas contra um dos cônjuges, o outro
cônjuge, com a anuência do outro e independentemente do acordo do requerente, pode
apresentar-se à insolvência no âmbito do mesmo processo.

> De que documentos preciso para me apresentar à insolvência?


Se for o próprio devedor a apresentar-se à insolvência, deve juntar os seguintes
documentos, juntamente com a petição inicial (que deverá indicar: se a situação de insolvência é
atual ou iminente; os cinco maiores credores; o cônjuge, se for casado, indicando o regime de
bens; devendo juntar certidão do registo civil): a relação de todos os credores; a relação de todas
as ações e execuções pendentes contra si; um documento onde conste a atividade ou atividades a
que se tenha dedicado nos últimos três anos, os estabelecimentos de que tenha sido titular e as
razões que entenda terem conduzido à situação de insolvência; a relação de bens que detenha
em regime de arrendamento, aluguer ou locação financeira, bem como todos os outros bens e
direitos de que seja titular.

Se quer der entrada do pedido de insolvência for um dos credores ou o responsável legal
pelas dívidas do devedor, deve justificar, na petição inicial, a origem, a natureza e o montante
do seu crédito ou a sua responsabilidade pelos créditos sobre a insolvência, respetivamente, bem
como oferecer os elementos que possua quanto ao ativo e passivo do devedor. Além disso, deve
oferecer todos os meios de prova de que disponha e indicar testemunhas. Neste caso, o devedor
10360 – Processo de Insolvência

é depois citado pessoalmente, sendo alertado de que, se não se opuser, têm-se por confessados
os factos alegados, e de que deve ter os documentos acima enumerados disponíveis para
entregar ao administrador de insolvência.

> Como reagir à declaração de insolvência?

É possível reagir à sentença que declare a insolvência mediante oposição de embargos


(artigo 40.º do CIRE) ou por via de recurso.

Podem opor embargos as seguintes pessoas:

 o devedor, quando se encontre em situação de revelia absoluta por não ter sido
pessoalmente citado;
 o cônjuge, os ascendentes, descendentes e afins em 1.º grau da linha reta da
pessoa insolvente, se tiver fundamento na fuga do devedor relacionada com a
sua falta de liquidez;
 o cônjuge, herdeiro, legatário ou representante do devedor, quando este faleça
antes de o deduzir oposição;
 os credores;
 os responsáveis legais pelas dívidas da insolvência.

Estes mesmos sujeitos, e mesmo o devedor que não se pudesse opor por embargos,
cumulativa ou alternativamente, podem interpor recurso da sentença de declaração de
insolvência, se entenderem que aquela nunca deveria ter sido proferida (artigo 42.º do CIRE).

> Quais os efeitos da declaração de insolvência sobre o insolvente


e outras pessoas?
Assim que seja declarado insolvente, o devedor ficará privado dos poderes de
administração e disposição dos seus bens que integrem a massa insolvente, uma vez que esses
poderes passarão para as mãos do administrador de insolvência.

A partir desse momento, o administrador de insolvência representa o devedor para todos


os efeitos de cariz patrimonial que interessem à insolvência, com exceção da intervenção no
próprio processo de insolvência, seus incidentes e apensos (artigo 81.º, n.ºs 4 e 5 do CIRE).

E porque é assim? Porque se procura impedir o devedor de praticar atos que diminuam
o seu ativo, ou que aumente o seu passivo. Assim, defende-se o seu património, por forma a
melhor poder garantir aos credores o seu direito a serem ressarcidos pelos seus créditos. Então,
10360 – Processo de Insolvência

com a declaração de insolvência, o devedor não pode gerir os seus bens, até os credores serem
pagos ou até que a massa insolvente deixe de existir.

> Comprei uma casa, por recurso a empréstimo bancário. Depois


de me apresentar à insolvência, posso continuar a viver nessa casa?
Em princípio, não, uma vez que todos os bens do devedor serão apreendidos para a
massa insolvente. O mesmo se diga quanto ao carro que eventualmente possua.

> E se viver numa casa arrendada, posso continuar a viver nessa


casa?
Sim, o seu património será apreendido para a massa insolvente e administrado pelo
administrador de insolvência. Mas terá de viver em algum lado! Por isso, pode continuar a viver
em casa arrendada ou até arrendar uma outra casa, porventura mais barata.

> Posso apresentar um plano de pagamentos em vez de um plano


de insolvência?
Sim. As pessoas singulares não titulares de uma empresa nos três anos que antecederam
o início do processo de insolvência ou que, à data do início do processo, não tivessem dívidas
laborais, até 20 credores e até € 300.000,00 de passivo global, podem apresentar um plano de
pagamentos em vez de um plano de insolvência, funcionando como uma proposta de
recuperação do devedor insolvente, no interesse dos seus credores. Constitui um incidente do
processo de insolvência, tramitando por apenso.

Deste plano, deve constar uma proposta de satisfação dos credores, acautelando os seus
interesses. A apresentação deste plano de pagamento comporta a confissão de que se encontra
em situação de insolvência, pelos menos iminente, pelo devedor.

Devem acompanhar o plano de pagamentos os seguintes documentos (artigo 252.º, n.º 5


do CIRE):

 a declaração de que reúne os requisitos para apresentar plano de insolvência;


 a relação de bens e de rendimentos;
 um resumo do ativo (sumário do conteúdo essencial dos bens e rendimentos);
 a relação de todos os credores;
 uma declaração de que todas as informações prestadas correspondem à verdade.
10360 – Processo de Insolvência

Se os credores não recusarem o plano ou se a recusa for suprida, o plano é tido por
aprovado (artigo 257.º, n.º 1 do CIRE), podendo a aceitação ser tácita. No caso de o plano de
pagamentos tiver sido aceite por credores que detenham 2/3 do valor total dos créditos, o
tribunal pode suprir a aprovação dos restantes.

Notar, contudo, que se o devedor pretender beneficiar da exoneração do passivo restante


no caso de o plano de pagamentos não vier a ser aprovado, deve de isto mesmo dar conta
aquando da apresentação do plano, sob pena de não o poder fazer posteriormente (artigo 254.º
do CIRE).

> O que é e quem pode requerer a exoneração do passivo


restante?
Na insolvência pessoal com exoneração do passivo restante o devedor pode obter um
perdão das dívidas que não forem integralmente pagas no processo de insolvência e nos 3 anos
seguintes ao seu encerramento. Pretende-se, pois, conceder ao devedor pessoa singular uma
verdadeira segunda oportunidade (fresh start) de recomeçar a sua vida económica.

Este instituto visa a proteção dos devedores que sejam pessoas singulares, bem como,
de algum modo, responsabilizar as empresas que durante anos tenham concedido créditos
fáceis, contribuindo para o endividamento das famílias. O que se pretende é possibilitar às
pessoas singulares o chamado fresh restart, possibilitando-lhes um recomeço de uma vida livre
de dívidas, que, não fora este instituto, manteriam para sempre! Assim concilia-se a necessidade
de ajudar as pessoas singulares a terem um novo começo, com o perdão das dívidas que não
fiquem pagas, com o dever de ressarcir os credores pelos seus direitos.

O pedido de exoneração do passivo restante deve ser feito pelo devedor juntamente com
a petição inicial, ou nos dez dias que se sigam à citação, nos casos em que contra si foi
instaurado o processo de insolvência (artigo 236.º, n.º 1 do CIRE).

Ora, após a declaração de insolvência pelo Tribunal é nomeado um administrador de


insolvência que vai proceder à liquidação de todo o património do devedor (casa, carro, etc) e
repartir o correspondente saldo líquido pelos credores do insolvente, de acordo com a sua
graduação e prioridade de pagamento.

Depois, se não se verificar nenhuma causa para o indeferimento liminar da exoneração


do passivo restante, o Juiz deve proferir o despacho inicial (de exoneração do passivo restante),
que determina:
10360 – Processo de Insolvência

 o encerramento do processo de insolvência, mesmo que ainda hajam bens por


liquidar; e,
 o início de um período de 3 anos, designado por período de cessão, durante o
qual o devedor fica obrigado a ceder o seu rendimento disponível a um
fiduciário (administrador judicial) que irá destiná-lo ao pagamento dos custos
do processo e ao pagamento aos credores.

No final desse período, se o devedor cumprir todos os seus deveres o Juiz profere
despacho final de exoneração (perdão) dos créditos que ainda subsistam. Após o despacho de
exoneração ou despacho final, o devedor fica totalmente liberto das dívidas da insolvência,
incluindo a dívida relativa ao crédito à habitação.

> Quando é recusado o pedido de exoneração do passivo


restante?
O pedido de exoneração do passivo restante é indeferido quando (artigo 238.º, n.º 1 do
CIRE):

 o devedor tiver, com dolo ou culpa grave, fornecido informações falsas ou


incompletas sobre a sua situação económica, para obter crédito ou subsídios de
instituições públicas ou para evitar pagamentos a essas instituições;
 se já tiver beneficiado do instituto, nos 10 anos anteriores ao início do processo
de insolvência;
 se não se tiver apresentado à insolvência nos 3 ou 6 meses que se seguiram a
verificação da sua situação de insolvência, conforme estejam obrigados ou não
a fazê-lo, sabendo não existir perspetivas sérias de a sua situação vir a
melhorar;
 se constar do processo que o devedor contribuiu para a criação ou agravamento
da situação de insolvência,
 se tiver praticado os crimes de insolvência dolosa (artigo 227.º do Código
Penal), insolvência negligente (artigo 228.º do CP) ou favorecimento de
credores (artigo 229.º do CP), nos 10 anos que antecederam o pedido de
declaração de insolvência ou depois desta data;
 se o devedor violar, com dolo ou culpa grave, os seus deveres de informação,
apresentação e colaboração, que resultem do CIRE.
10360 – Processo de Insolvência

> E se o juiz não indeferir o pedido de exoneração?


Não sendo indeferido o pedido de exoneração do passivo restante, é proferido o
chamado despacho inicial (artigo 239.º, n.º 1 do CIRE), determinando este que, nos três anos
que se seguem ao encerramento do processo de insolvência, todo o rendimento disponível que o
devedor venha a auferir deve ser cedido ao fiduciário.

Este período de três anos designa-se o período de cessão, uma vez que o tribunal fixa o
rendimento mínimo que o devedor nunca entregará e que lhe permite ter uma vida digna, sendo
tudo o resto cedido ao fiduciário. É com estes valores que os credores da insolvência serão
pagos.

> O que faz parte deste rendimento que deve ser entregue ao
Fiduciário?
Do rendimento disponível fazem partes todos os rendimentos que advenham a qualquer
título ao devedor, excluindo-se os créditos futuros emergentes de contratos de trabalho ou de
prestação de serviços, cedidos a terceiros, pelo período em que a cessão se mantenha eficaz,
bem como o que seja razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno do devedor
e do seu agregado familiar (salvo decisão fundamentada em contrário, nunca mais de três vezes
o salário mínimo), para o exercício da atividade profissional do devedor e para outras despesas
ressalvadas pelo juiz (artigo 239.º, n.º 3 do CIRE).

Portanto, todos os rendimentos do insolvente deverão ser entregues, durante os cincos


anos do período de cessão, para pagar as dívidas da insolvência, mas o juiz fixará um montante
inatacável, para que o devedor possa ter uma vida minimamente digna. Isto significa que poderá
nunca ter que entregar qualquer quantia, se os seus rendimentos nunca ultrapassarem em
mínimo correspondente ao fixado pelo juiz para enfrentar as despesas do dia-a-dia.

> Quem é o Fiduciário e que funções desempenha?


Por norma, não sendo indeferido o pedido de exoneração do passivo restante, e
proferido o despacho inicial, o até agora administrador de insolvência toma o papel de
fiduciário.

É ao fiduciário que o devedor deve entregar todas as quantias referentes ao rendimento


disponível, bem como prestar informações relevantes (alteração de domicílio ou da situação
patrimonial, por exemplo). Também é ao fiduciário que compete pagar aos credores, com as
quantias cedidas pelo devedor.
10360 – Processo de Insolvência

> Quais os deveres do insolvente, durante o período de cessão?


Durante o período de cinco anos após o encerramento do processo, o devedor tem que
cumprir com algumas obrigações, sob pena de o juiz, no final, não lhe conceder a exoneração
das dívidas não pagas com o processo (artigo 239.º, n.º 4 do CIRE).

Então, o devedor não poderá esconder ou dissimular os rendimentos que aufira, seja a
que título for, além de ter que informar o tribunal e o fiduciário sobre os seus rendimentos e
bens, quando isso lhe seja solicitado.

Além disso, o devedor é obrigado a exercer uma profissão remunerada e a não


abandonar injustificadamente a que tenha, devendo, caso se encontre em situação de
desemprego, esforçar-se para encontrar um trabalho, não podendo recusar qualquer emprego
para o qual tenha aptidão.

O devedor deve, ainda, entregar ao fiduciário todas as quantias que não tenham sido
excluídas da cessão, isto é, se o juiz fixou a quantia de € 600 euros como o mínimo para a
sobrevivência digna do devedor, mas este aufira a título de salário € 700, deverá entregar os €
100 remanescentes ao fiduciário (valor com que este pagará as dívidas da insolvência e,
posteriormente, aos credores).

O devedor deve manter o tribunal e o fiduciário informado sobre qualquer alteração de


residência ou de condições de trabalho (como por exemplo, se lhe foi reduzido o número de
horas de trabalho, se sofreu um aumento salarial, se foi despedido). Para o efeito, o devedor
dispõe de 10 dias a contar da alteração para proceder à informação.

Finalmente, muito importante, é o facto de o devedor não dever fazer quaisquer


pagamentos aos credores da insolvência nem criar quaisquer vantagens para algum deles! Isto é,
se algum credor, durante o período de cessão, lhe pedir o pagamento do seu crédito, não deverá
fazê-lo! Todos os pagamentos, durante estes cinco anos, são feitos pelo fiduciário, até aos
limites das forças do rendimento cedido.

O devedor deverá cumprir os seus deveres sob pena de o procedimento de exoneração


do passivo restante vir a recusar a exoneração antes de decorridos os cinco anos (artigo 243.º,
n.º 1, al. a) do CIRE).
10360 – Processo de Insolvência

> Durante o período de cessão os meus credores podem executar-


me?
Não! Durante os cincos anos referentes ao período de cessão, não são permitidas
quaisquer execuções sobre os bens do devedor com vista à satisfação de créditos sobre a
insolvência.

Neste período, os credores são pagos exclusivamente pelo fiduciário, não devendo o
devedor pagar absolutamente nada fora do processo.

Por isso, se algum credor o contactar para efetuar um pagamento sob pena de moverem
uma execução contra si, não receie vir a ser executado ou vir a ter o seu salário penhorado, pois
durante este período não poderão atacar o seu património.

> Quais os efeitos da exoneração do passivo restante?


Se não tiver ocorrido nenhuma razão para a cessão antecipada do procedimento, nos 10
dias subsequentes aos 5 anos do período de cessão, o juiz decide sob a concessão ou não da
exoneração do passivo restante do devedor, depois de o ouvir, bem como ao fiduciário e aos
credores (artigo 244.º, n.º 1 do CIRE).

A exoneração é recusada se o devedor tiver violado os seus deveres; se se tiver


concluído, por decisão do incidente de qualificação da insolvência, pela culpa do devedor na
criação ou agravamento da situação de insolvência; e, ainda, se se tiver apurado a existência de
uma das seguintes circunstâncias, só conhecidas após o despacho inicial: o devedor, com dolo
ou culpa grave, tiver prestado, por escrito e nos três anos anteriores ao início do processo de
insolvência, informações falsas ou incompletas sobre a sua situação económica para aceder ao
crédito ou a subsídios públicos ou para evitar pagamentos a instituições públicas; constarem do
processo elementos que indiciem com toda a probabilidade a existência de culpa do devedor na
criação ou agravamento da situação de insolvência; e se devedor tiver sido condenado pelos
crimes de insolvência dolosa, insolvência negligente ou favorecimento de credores (artigo 244.º,
n.º 2, artigo 243.º e n.º 1, al. b), e) e f) do artigo 238.º do CIRE).

Não verificadas nenhuma daquelas circunstâncias, o juiz concederá a exoneração do


passivo restante do que não for pago no processo de insolvência (artigo 245.º, n.º 1 do CIRE).

Portanto, a exoneração importa a extinção de todos os créditos sobre a insolvência e que


ainda subsistam findos os cinco anos, mesmo aquelas que não tenham sido reclamados ou
verificados. Isto é, se no final dos cinco anos ainda não tiver pago todos as dívidas de que era
10360 – Processo de Insolvência

titular, não terá de se preocupar mais com isso, uma vez que a exoneração funciona com um
perdão dessas dívidas.

No entanto, há dívidas que são excluídas da exoneração, pelo que após os cinco anos os
credores poderão (e deverão) voltar a exigir-lhe o seu cumprimento. Assim, a exoneração não
abrange (artigo 245.º, n.º 2 do CIRE) os créditos por alimentos; as indemnizações por factos
ilícitos dolosos praticados pelo devedor, os créditos por multas, coimas e outras sanções
pecuniárias por crimes ou multas; e os créditos tributários (dívidas ás finanças, por exemplo).

> Quais as principais vantagens que retiro se me apresentar à


insolvência?
Quando já não se encontra capaz de fazer face ao pagamento de todas as suas dívidas e
despesas quotidianas, se se apresentar á insolvência todas as ações prejudiciais à massa
insolvente são suspensas. Logo, se tiver penhoras sob o seu salário, estas têm que ser suspensas.

Além disso, como se trata de uma pessoa e não de uma empresa, que pode ser encerrada
quando se encontre mergulhada em dívidas, poderá pedir a exoneração do passivo restante.
Neste caso, cumprindo os seus deveres, ao fim de cinco anos fica liberto dos seus créditos,
mesmo aqueles que não hajam sido inteiramente liquidados. Se, por exemplo, tiver feito um
crédito no valor de 10 mil euros e, findos os cinco anos, apenas 7 mil tiverem sido pagos, não
terá de pagar o remanescente (3 mil euros)!

Plano de pagamentos:
Em alternativa, na insolvência pessoal, a Lei admite que o devedor possa também pedir
a insolvência com a apresentação de um plano de pagamentos aos credores. Trata-se
substancialmente de uma proposta de reestruturação do passivo do devedor. Assim, pode
nomeadamente, prever um alargamento dos prazos de cumprimento, redução das taxas de juro,
perdão de parte do capital, constituição de garantias, etc.

O plano de pagamentos terá que ser negociado com os credores de modo a salvaguardar
os seus interesses, uma vez que está sujeito à sua aprovação e à homologação pelo Juiz.

Consequências / efeitos da insolvência pessoal:


Sobre esta matéria ver, em especial, o nosso artigo: efeitos da declaração de insolvência.

1) Suspensão das penhoras:


10360 – Processo de Insolvência

A declaração de insolvência faz suspender todas as penhoras e outras diligências


executivas que corram contra o devedor e obsta à instauração ou ao prosseguimento de qualquer
ação executiva intentada pelos respetivos credores.

Assim, por exemplo, se o devedor estiver a ser alvo de uma penhora de vencimento a
declaração de insolvência tem como consequência, por força da Lei, o seu levantamento
imediato.

Por outro lado, deixa de ser permitido aos credores a instauração de novas ações
judiciais (declarativas ou executivas) para a cobrança coerciva dos respetivos créditos.

2) Perda de todo o património:

Com a declaração da insolvência, o insolvente vai perder a propriedade de todos os seus


bens suscetíveis de penhora (sobre os bens que são impenhoráveis, consultar o nosso artigo:
bens impenhoráveis).

Esses bens vão integrar a massa insolvente, ficando o administrador de insolvência


encarregue de proceder à respetiva apreensão, liquidação (venda, preferencialmente através de
leilão eletrónico), e repartição do correspondente produto pelos credores.

Dívidas fiscais e dívidas à Segurança Social:


É muito frequente a apresentação à insolvência pessoal por parte de pessoas singulares e
Famílias por causa de dívidas às Finanças (Autoridade Tributária) e à Segurança Social.

Ora, com o início do regime da exoneração do passivo restante e durante os 3 anos do


período de cessão, as Finanças e a Segurança Social não podem promover nenhuma penhora
(por exemplo, penhora de vencimento) sobre o insolvente.

A exoneração final (isto é, no final dos três anos do período de cessão) não opera em
relação aos créditos tributários nem aos créditos da Segurança Social, o que significa que não
haverá perdão dessas dívidas decorridos os três anos do período de cessão. Contudo, durante os
três anos do período de cessão, pelo menos, uma parte do produto dos pagamentos que o
insolvente fizer à fidúcia será afeto ao pagamento das dívidas às Finanças e à Segurança Social.

Insolvência de empresas

Tome conhecimento do que é necessário para que uma empresa se apresente à


insolvência, bem como de quais as custas a pagar com o requerimento inicial, no ato de
10360 – Processo de Insolvência

reclamar créditos ou na verificação e graduação de créditos. Saiba quais as consequências da


declaração de insolvência, as circunstâncias em que poderá ser encerrado o processo, ou o que é
um plano de insolvência.

> São obrigadas a apresentar-se à insolvência?

As pessoas colectivas estão obrigadas a apresentar-se à insolvência, nos trintas dias que
se sigam à constatação de se encontrarem em tal situação, isto é, quando se encontrarem
impossibilitadas de cumprir as suas obrigações vencidas (art. 18.º, n.º 1 do CIRE).

Sobre as pessoas colectivas impende uma presunção inilidível (que não admite prova
em contrário) de que a situação de insolvência era conhecida quando tenham decorrido, pelo
menos, três meses sobre o incumprimento generalizados de obrigações de algum deste tipo:
tributárias; de contribuições e quotizações para a segurança social; dívidas emergentes do
contrato de trabalho ou da violação ou cessação deste contrato; rendas de qualquer tipo de
locação, prestações do preço da compra ou de empréstimo garantido pela respectiva hipoteca,
relativamente ao local onde o devedor realize a sua actividade (artigo 20.º, n.º 1, al. g) ex vi do
artigo 18.º, n.º 3 do CIRE).

A iniciativa da apresentação à insolvência cabe ao órgão social da sua admnistração ou,


se não for caso disso, a qualquer um dos seus administradores.

> Quem decide se a opção é liquidar ou recuperar?


Esta é uma decisão inteiramente nas mãos dos credores, como claramente resulta do
preâmbulo do DL n.º 53/2004, de 16 de Março, que aprovou o CIRE.

São estes que decidem se o pagamento dos seus créditos será feito por recurso à
liquidação integral do património do devedor ou nos termos previstos no plano de insolvência
que venha a ser aprovado, ou, pelo contrário, se se mantém a actividade e a reestruturação da
empresa, na titularidade do devedor ou de terceiros, nos moldes do plano de reestruturação, para
assim fazer gerar a receita necessária para “salvar” a empresa e pagar aos seus credores.

> O sócio não gerente integra o conceito de administrador para


efeitos do CIRE?
Não. O CIRE apenas se refere à figura do “administrador” e dos “responsáveis legais
pelas dívidas do insolvente” (n.º 1 do artigo 6.º), excluindo os meros sócios das sociedades por
10360 – Processo de Insolvência

quotas, que têm responsabilidade limitada, se não acumularem outros poderes de


administração/gestão nem se tenham constituído garantes.

Isto porque são considerados “responsáveis legais” as pessoas que, nos termos da lei,
respondam pessoal e ilimitadamente pela generalidade das dívidas do insolvente, ainda que a
título subsidiário.

> Que documentos devem instruir o pedido de declaração de


insolvência?
Juntamente com a petição inicial (que deverá indicar se a situação de insolvência é
actual ou iminente; os cinco maiores credores; os administradores e juntar a certidão de registo
comercial), devem seguir, essencialmente, os seguintes documentos:

 relação de todos os credores;


 relação de todas as acções/execuções pendentes contra si;
 documento em que se explicite a actividade(s) a que se tenha dedicado nos
últimos três anos;
 documento em que se identifiquem os sócios, associados ou membros da pessoa
colectiva;
 relação de bens que detenha em regime de arrendamento, aluguer ou locação
financeira ou venda com serva de propriedade, bem como os demais bens e
direitos;
 as contas anuais dos últimos três exercícios, bem como respectivos relatórios de
gestão, de fiscalização e de auditoria, pareceres do órgão de fiscalização e
documentos de certificação legal (se obrigatórios ou existentes), e informações
sobre alterações relevantes do património ocorridas após a data das últimas
contas ou operações que estravasem a actividade do devedor;
 mapa do pessoal que o devedor tenha ao serviço;
 documento comprovativo dos poderes dos administradores que o representem e
cópia da acta que documente a deliberação da iniciativa do pedido (se
aplicável);

Se o devedor não apresentar algum dos documentos elencados, ou se estes não


estiverem em conformidade com o exigido, terá de o justificar.
10360 – Processo de Insolvência

> A que meios se pode recorrer para reagir à declaração de


insolvência?
Além dos credores e dos responsáveis legais pelas dívidas da insolvência, também os
sócios, associados e membros do devedor poderão opor-se à declaração de insolvência por
embargos (artigo 40.º, n.º 1 do CIRE), no prazo regra de 5 dias, a contar da notificação da
sentença.

Estes mesmos sujeitos podem recorrer da sentença de declaração de insolvência do


devedor, caso entendam que, com os elementos apurados, os mesmos não a sustentam (artigo
42.º, n.º 1 do CIRE).

> Quais os efeitos da declaração de insolvência?


Pela declaração de insolvência da pessoa colectiva, o devedor perde os poderes sobre os
bens que integrem a massa insolvente, ficando, igualmente, privado dos poderes de disposição
também dos bens futuros.

Além disso, os órgãos sociais do devedor mantêm-se em funcionamento após a


declaração de insolvência, mas os seus titulares perdem o direito a ser remunerados. Estes
podem renunciar aos cargos quando procedam ao depósito das contas anuais com referência à
data de decisão de liquidação em processo de insolvência.

Enquanto o processo de insolvência estiver pendente, existem funções que


habitualmente caberiam aos administradores da pessoa colectiva e que passam para as mãos do
administrador de insolvência. Deste modo, apenas este tem legitimidade para propor e dar
andamento a (artigo 82.º, n.º 3 do CIRE):

 acções de responsabilidade contra fundadores, administradores de direito e de facto,


membros do órgão de fiscalização do devedor e sócios, associados ou membros;
 acções destinadas à indemnização dos prejuízos causados à generalidade dos credores
da insolvência, pela diminuição do património que integre a massa insolvente;
 acções contra responsáveis legais por dívidas do insolvente.

> Se uma sociedade for declarada insolvente, como podem os


trabalhadores receber os seus créditos salariais?
Os trabalhadores de uma sociedade declarada insolvente que tenham salários em atraso,
são credores daquela.
10360 – Processo de Insolvência

Neste sentido, tal como os demais credores, deverão fazer uma reclamação de créditos.
De qualquer modo, se não forem pagos pela massa insolvente, podem ainda recorrer ao fundo
de garantia salarial.

> A declaração de insolvência afasta a possibilidade de


recuperação da empresa insolvente?
Não! O processo de insolvência tem como finalidade a satisfação dos credores, que
tanto pode ser alcançada pela liquidação do património do devedor como pela recuperação da
empresa (artigo 1.º do CIRE).

Administrador de insolvência
O que é:
O administrador de insolvência é um órgão muito importante no processo de
insolvência pessoal e de insolvência de empresas.

De facto, o administrador de insolvência é o órgão a quem são conferidos os poderes de


administração da massa insolvente, que assim, no decorrer do processo, deixam de pertencer ao
insolvente.

Os administradores de insolvência não têm, porém, o poder de dar início ao processo de


insolvência. Esse é um poder exclusivo do Advogado: só o Advogado pode dar entrada do
respetivo processo.

Funções:
Essencialmente, o administrador de insolvência tem como funções assumir o controlo
da massa insolvente, proceder à sua administração e liquidação e repartir o produto final pelos
credores.

Deste modo, compete aos administradores de insolvência preparar o pagamento das


dívidas do insolvente à custa das quantias existentes na massa insolvente, nomeadamente das
que são produto da alienação dos bens que a integram; providenciar à conservação e frutificação
dos direitos do insolvente; continuar a exploração da empresa se for o caso, evitando quanto
possível a deterioração da sua situação financeira.

Os administradores de insolvência têm também que elaborar um inventário dos bens e


direitos que integram a massa insolvente, elaborar uma lista provisória dos credores e um
relatório destinado a ser examinado pela assembleia de credores.
10360 – Processo de Insolvência

Os administradores de insolvência podem pedir ao Juiz a convocação da assembleia de


credores, têm o direito e o dever de participar nas reuniões da assembleia de credores e podem
reclamar para o Juiz das suas deliberações.

O administrador de insolvência tem ainda competências relativamente à verificação e


graduação de créditos, cabendo-lhe receber a reclamação de créditos, elaborar a lista de créditos
reconhecidos e não reconhecidos, responder às impugnações e ser ouvido na audiência.

No âmbito da liquidação do património do insolvente, compete aos administradores de


insolvência proceder à venda dos bens, preferencialmente através de venda em leilão eletrónico.
Podem ainda, neste domínio, proceder à venda antecipada de bens suscetíveis de perecimento
ou deterioração.

Deve igualmente o administrador de insolvência proceder ao pagamento das dívidas da


massa insolvente e dos créditos sobre a insolvência.

No que concerne ao plano de insolvência, os administradores de insolvência devem


apresentar a proposta de plano em prazo razoável, quanto tal lhes for pedido pela assembleia de
credores; pode também o administrador de insolvência pronunciar-se sobre quaisquer outras
propostas de plano que venham a ser apresentadas, bem como rejeitar a proposta de plano de
insolvência feita pelo devedor.

Nomeação:
O administrador de insolvência é nomeado pelo Juiz, de entre os administradores de
insolvência inscritos na lista oficial. Caso o processo de recrutamento assuma grande
complexidade, o juiz pode, a requerimento de qualquer interessado, nomear mais do que um
administrador da insolvência, cabendo nesse caso ao interessado propor a pessoa a nomear, e
pagar a sua remuneração, caso a massa insolvente não seja suficiente.

Na primeira assembleia de credores realizada após a designação efetuada pelo Juiz, por
maioria de votos e votantes, podem os credores eleger outra pessoa para o cargo de
administrador de insolvência, desde que previamente e à votação se junte aos autos a aceitação
do proposto.

Responsabilidade:
A Lei estabelece ainda a responsabilidade civil, disciplinar e fiscal dos administradores
de insolvência pelos danos causados ao devedor e aos credores.

Massa insolvente
10360 – Processo de Insolvência

O que é?
A massa insolvente é um património autónomo composto por todos os bens e direitos
(ativo) que integram o património do devedor à data da declaração de insolvência, bem como
pelos bens e direitos que este adquira na pendência do processo de insolvência.

Finalidade:
A massa insolvente destina-se a ser liquidada (vendida) para que o respetivo produto
possa ser afeto ao pagamento aos credores do processo de insolvência, depois de pagas as suas
próprias dívidas (as dívidas da massa insolvente, como por exemplo: os custos do processo de
insolvência, os honorários do administrador de insolvência, despesas com a apreensão e venda
dos bens, etc...).

Assim, o dinheiro obtido com a liquidação da massa insolvente será afeto, em primeira
linha, ao pagamento das dívidas (ou dos créditos) da massa insolvente e, no remanescente, ao
pagamento dos créditos sobre a insolvência.

Âmbito - quais os bens e rendimentos que integram a massa


insolvente:
A massa insolvente abrange a totalidade do património do devedor à data da declaração
de insolvência.

1) Casamento:
No caso de o insolvente ser casado em regime de comunhão de adquiridos ou em
regime de comunhão geral de bens, a massa insolvente compreende, não apenas os bens
próprios do devedor como ainda a sua meação nos bens comuns (ver os nossos artigos: bens
próprios no regime de comunhão de adquiridos e bens comuns do casal: quais são, meação e
partilha).

Nessa eventualidade, e se ambos os cônjuges se encontrarem em situação de


insolvência, ou seja, em situação de impossibilidade de pagar todas as suas dívidas, podem
apresentar-se conjuntamente à insolvência ou esta ser requerida contra ambos (ver os nossos
artigos: insolvência familiar e insolvência pessoal do casal).

2) Bens impenhoráveis:
Não se integram na massa insolvente, porém, os bens absolutamente impenhoráveis. Já
os bens relativamente penhoráveis e os bens parcialmente penhoráveis apenas podem ser
integrados na massa insolvente se forem voluntariamente apresentados pelo devedor.
10360 – Processo de Insolvência

3) Outros:
A massa insolvente compreende ainda os bens que o devedor for adquirindo na
pendência do processo de insolvência e, bem assim, aqueles que forem sendo reintegrados no
processo, através do exercício pelo administrador de insolvência da resolução em benefício da
massa insolvente.

Também se devem considerar integrados os bens dos sujeitos que respondem


legalmente pelas dívidas do insolvente, ou seja, das pessoas que respondem pela generalidade
das suas dívidas, ainda que a título subsidiário.

Dívidas da massa insolvente e créditos sobre a massa insolvente:


Constituem, nomeadamente, dívidas da massa insolvente as custas do próprio processo
de insolvência, a remuneração do administrador de insolvência bem como as despesas deste e da
comissão de credores no âmbito do processo; as dívidas emergentes dos atos de administração,
liquidação e partilha; as dívidas resultantes da atuação do administrador de insolvência no
exercício das suas funções; qualquer dívida resultante de contrato bilateral cujo cumprimento
não possa ser recusado pelo administrador, salvo na medida em que se reporte a período anterior
à sentença de declaração de insolvência, etc...

Os créditos correspondentes a dívidas da massa insolvente designam-se por créditos


sobre a massa insolvente ou "créditos da massa insolvente". As dívidas da massa insolvente são
pagas com prioridade face aos créditos sobre a insolvência.

Insuficiência da massa insolvente:


Presume-se a insuficiência da massa insolvente quando o património do devedor é
inferior a 5.000,00€. Nesse caso, o Juiz determina o encerramento do processo sem que se
proceda à liquidação do património do devedor, entre outros efeitos. Assim, dispensando-se a
liquidação do património do insolvente, este não perde os poderes de administração e disposição
do seu património nem se produzem quaisquer dos efeitos que normalmente correspondem à
declaração de insolvência (ver: efeitos da declaração de insolvência).

Contudo, este regime da insuficiência da massa insolvente não se aplica no processo de


insolvência pessoal com exoneração do passivo restante.

Perguntas frequentes:
1) A massa insolvente tem NIF (número de identificação fiscal)?
R: Não.
10360 – Processo de Insolvência

2) A massa insolvente pode ter dívidas fiscais?


R: Não, a massa insolvente não pode ter dívidas fiscais. A responsabilidade pelas
obrigações fiscais entre a declaração de insolvência e o encerramento de atividade do
estabelecimento é do administrador de insolvência. Caso não seja deliberado o encerramento do
estabelecimento as obrigações fiscais passam também a ser responsabilidade do administrador
de insolvência.

3) A massa insolvente tem personalidade jurídica?


R: Não, a massa insolvente não é um sujeito de Direito (pessoa singular ou pessoa
coletiva) dotado de personalidade jurídica, mas tão-somente um património autónomo.

4) A massa insolvente tem isenção de custas?


R: A massa insolvente tem isenção de custas apenas no processo de insolvência a que se
reporta. Mas se a massa insolvente for autor ou ré em qualquer outra ação judicial já terá que
pagar custas, como qualquer outro sujeito processual.

5) A massa insolvente é um património autónomo?


R: Sim, trata-se de uma unidade transitoriamente sem sujeito, titular de bens e de
dívidas próprias, mas que não é um verdadeiro sujeito de Direito dotado de personalidade
jurídica.

6) A massa insolvente pode requerer apoio judiciário?


R: Sim, uma vez que apesar de não ter personalidade jurídica tem, ainda assim,
personalidade judiciária, ou seja, tem a capacidade de ser parte em juízo (autor ou réu).

7) A massa insolvente tem personalidade judiciária?


R: Sim, apesar de não ter personalidade jurídica a massa insolvente tem personalidade
judiciária, que consiste na suscetibilidade de ser parte em juízo (autor ou réu).

8) A massa insolvente paga taxa de Justiça?


R: Sim, se a massa insolvente intentar uma qualquer ação judicial (declarativa ou
executiva) terá que pagar taxa de Justiça.

Insolvência familiar
10360 – Processo de Insolvência

O que é a insolvência familiar:


A insolvência familiar acontece quando os dois cônjuges - marido e mulher - se
encontram em situação de insolvência, e se inicia um processo de insolvência em que ambos são
os sujeitos passivos (insolventes) desse processo.

Consequências da insolvência familiar:


 perda de todo o património dos cônjuges, sejam bens próprios de cada um dos
cônjuges (sobre estes consultar o nosso artigo: bens próprios no regime de
comunhão de adquiridos), sejam bens comuns do casal. Assim, os dois cônjuges
vão perder a propriedade de todos os seus bens, móveis e imóveis, suscetíveis
de penhora.
 outra consequência da insolvência familiar é a suspensão e levantamento por
força da Lei de todas as penhoras que recaiam sobre os devedores insolventes,
sejam penhora de vencimento, penhora de bens, penhora de contas bancárias,
etc…
 se for requerida e aceite pelo Tribunal a exoneração do passivo restante os
cônjuges ficam sujeitos, durante um período de 3 anos, ao pagamento mensal de
todos os valores que ultrapassem o montante fixado pelo Tribunal, como sendo
o necessário para uma vida minimamente condigna do insolvente e do seu
agregado familiar. Consultar o nosso artigo: exoneração do passivo restante.

Processo judicial. Necessidade de Advogado:


O processo de insolvência familiar é um processo judicial, ou seja, é um processo que é
iniciado e tramitado nos Tribunais judiciais. Pelo que, o Advogado é o único profissional
habilitado a iniciar e tramitar este processo.

Apresentação à insolvência ou insolvência requerida:


O Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE) permite a possibilidade
de ambos os cônjuges se apresentarem em conjunto à insolvência. Por outro lado, também é
possível que um credor possa instaurar um processo de insolvência contra ambos os cônjuges.

Requisitos / pressupostos da insolvência familiar:


1) Regime de comunhão de adquiridos ou regime de comunhão geral:

Os cônjuges podem apresentar-se em conjunto à insolvência se o regime de bens do


respetivo casamento for o regime de comunhão de adquiridos ou o regime de comunhão geral.
Inversamente, não será possível a apresentação à insolvência conjunta de ambos os cônjuges se
o regime de bens do casamento for o regime da separação de bens.
10360 – Processo de Insolvência

Efetivamente, no regime da separação de bens há uma separação total entre o


património do marido e o património da mulher, pelo que, cada cônjuge tem apenas os seus
bens próprios; não existem bens comuns do casal: cada bem ou é da exclusiva propriedade de
um dos cônjuges ou é da exclusiva propriedade do outro.

2) Ambos têm que estar em situação de insolvência:

Por outro lado, para que ambos os cônjuges possam apresentar-se em conjunto à
insolvência é necessário que em relação a ambos se verifique uma situação de insolvência, ou
seja, que em relação a ambos se verifique a impossibilidade de cumprimento de todas as
obrigações vencidas.

Ora, se a impossibilidade de cumprimento ocorrer em relação a dívidas da


responsabilidade de ambos os cônjuges (sobre estas e sobre as dívidas que são da
responsabilidade exclusiva de cada um dos cônjuges, consultar o nosso artigo: dívidas dos
cônjuges: comunicabilidade), naturalmente que ambos estarão em situação de insolvência
familiar.

Exoneração do passivo restante ou plano de pagamentos:


As famílias podem beneficiar da exoneração do passivo restante, e assim obter um fresh
start com o perdão de todas as obrigações que subsistirem depois de decorridos 3 anos da data
do encerramento do processo.

Pode também, no âmbito do processo de insolvência familiar ser apresentado um plano


de pagamentos com uma renegociação do passivo com os credores (montante, juros,
maturidade, garantias, etc….).

Assembleia de credores
Assembleia de credores para apreciação do relatório (1.º) e órgão
assembleia de credores (2.º):
A expressão “assembleia de credores” pode querer designar uma audiência importante
no processo de insolvência: a assembleia de credores de apreciação do relatório.

Por outro lado, a assembleia de credores é também um órgão importante no processo de


insolvência, a par de outros órgãos como o administrador de insolvência e a comissão de
credores.
10360 – Processo de Insolvência

1) Assembleia de credores para apreciação do relatório:


A assembleia de credores de apreciação de relatório é uma audiência que se destina a
apreciar o relatório elaborado pelo administrador de insolvência.

Hoje, a assembleia de credores de apreciação de relatório não é obrigatória, podendo o


juiz, na sentença que declarar a insolvência, dispensar a sua realização, em despacho
fundamentado. Porém, se o Juiz não dispensar a realização de assembleia de credores de
apreciação de relatório deve, na sentença de declaração de insolvência, afixar data e hora, entre
os 45 e os 60 dias subsequentes, para a sua realização.

O relatório apresentado pelo administrador de insolvência inclui um inventário dos bens


e direitos que integram o património do devedor e uma lista provisória de credores. Na
audiência deve ser dada oportunidade ao devedor, à comissão de credores e à comissão de
trabalhadores (se existir) para se pronunciarem sobre o relatório.

Na assembleia de credores de apreciação de relatório é ainda dada oportunidade aos


credores e ao administrador da insolvência para se pronunciarem sobre o pedido de exoneração
do passivo restante.

2) Assembleia de credores (órgão):


Como órgão, a assembleia de credores tem como objetivo coordenar as pretensões dos
diferentes credores, uma vez que o processo de insolvência, por se tratar de um processo de
execução universal, abrange todos os credores de um devedor. Essa coordenação realiza-se
através de deliberações da assembleia de credores, em que cada credor vota com base no
montante dos seus créditos.

Competências:
A assembleia de credores tem muitas competências no processo de insolvência. Assim,
compete designadamente a este órgão:

 apreciar o relatório elaborado pelo administrador de insolvência;


 deliberar sobre o encerramento ou manutenção em atividade do estabelecimento
compreendido na massa insolvente;
 incumbir o administrador do encargo de elaborar um plano de insolvência,
podendo nesse caso determinar a suspensão da liquidação e partilha da massa
insolvente;
10360 – Processo de Insolvência

 aprovar o plano de insolvência apresentado, podendo efetuar alterações ao


mesmo;
 consentir, em caso de inexistência da comissão de credores, na prática de atos
que assumam especial relevo para o processo de insolvência;
 pronunciar-se sobre o pedido de exoneração do passivo restante e atribuir ao
fiduciário a tarefa de fiscalizar o cumprimento das obrigações pelo devedor,
com o dever de informar a assembleia de credores.

Convocação e Participação:
A assembleia de credores é convocada pelo Juiz, por iniciativa própria ou a pedido do
administrador de insolvência, da comissão de credores ou de um credor ou grupo de credores
cujos créditos representem, na estimativa do juiz, pelo menos um quinto do total de créditos não
subordinados (ver: créditos subordinados).

Têm o direito de nela participar todos os credores, podendo, para isso, fazer-se
representar por mandatário, com poderes especiais para o efeito.

Para além dos credores, têm o direito e o dever de participar o administrador de


insolvência, os membros da comissão de credores, o devedor e os respetivos administradores,
no caso de o devedor ser uma pessoa coletiva, sobretudo uma sociedade comercial (sociedade
unipessoal por quotas, sociedade por quotas ou sociedade anónima). Têm ainda a faculdade de
participar os representantes da comissão de trabalhadores ou, caso não haja este órgão, até três
representantes dos trabalhadores.

Voto:
A regra na contagem dos votos é 1 Euro, 1 voto, ou seja, é atribuído um voto por cada
Euro de crédito. Os créditos subordinados não conferem direito de voto, exceto quando a
deliberação da assembleia de credores incida sobre a aprovação de um plano de insolvência.

Via de regra, as deliberações da assembleia de credores são tomadas pela maioria dos
votos emitidos, não se considerando como tal as abstenções, seja qual for o número de credores
presentes ou representados (quórum constitutivo), ou a percentagem dos créditos de que sejam
titulares (quórum deliberativo).

Direção:
A assembleia de credores é presidida pelo Juiz, cabendo a este, por conseguinte, a
direção dos trabalhos.
10360 – Processo de Insolvência

Comissão de credores
O que é:
A comissão de credores é um órgão do processo de insolvência pessoal ou de
insolvência de empresas que tem como funções fiscalizar a atividade do administrador de
insolvência e prestar-lhe colaboração.

A comissão de credores não é, porém, um órgão obrigatório, uma vez que a assembleia
de credores pode prescindir da sua existência, podendo também o Juiz proceder à sua não
nomeação quando o considere justificado, atenta a reduzida dimensão da massa insolvente.

Nomeação e composição:
A comissão de credores é nomeada pelo Juiz, podendo nesse caso ser composta por três
ou cinco membros efetivos e dois suplentes, devendo o encargo da presidência recair
preferencialmente sobre o maior credor da empresa.

A opção pelos restantes membros da comissão de credores deve garantir uma adequada
representação das várias classes de credores (banca, fornecedores, trabalhadores, etc…), exceto
quanto aos titulares de créditos subordinados. Para esse efeito, quando haja trabalhadores, e
estes detenham créditos sobre a empresa é necessário que, pelo menos, um dos seus membros
seja seu representante.

Funções:
Para além de exercer funções de fiscalização e colaboração em relação ao administrador
de insolvência, a comissão de credores pode ainda desempenhar outras funções que lhe forem
especialmente atribuídas bem como funções consultivas relativamente a decisões do Tribunal.

1) Funções de fiscalização:
No que respeita às funções de fiscalização, a comissão de credores tem, entre outras, as
seguintes competências:

 receber do administrador de insolvência todas as informações necessárias sobre


a administração e a liquidação da massa insolvente;
 examinar livremente os elementos da contabilidade do devedor e solicitar ao
administrador de insolvência as informações e a apresentação dos elementos
que considere necessários;
10360 – Processo de Insolvência

 examinar a reclamação de créditos, os documentos que as instruam e os


documentos de escrituração do insolvente;
 pronunciar-se sobre o relatório apresentado pelo administrador de insolvência à
assembleia de credores;
 receber informação de que o administrador de insolvência pretende proceder à
venda antecipada de bens;
 emitir parecer sobre o plano de pagamento aos credores e sobre o mapa de
rateio apresentado pelo administrador de insolvência;
 consentir na prática de atos jurídicos que assumam especial relevo no processo.
 dar parecer favorável à aplicação financeira dos fundos depositados e intervir,
através da assinatura de um dos seus membros, na movimentação dos depósitos.

2) Funções de colaboração:
No que concerne às funções de colaboração com o administrador judicial compete-lhe,
nomeadamente:

 colaborar na apreensão de bens para a massa insolvente;


 colaborar na elaboração do plano de insolvência.

Funcionamento e deliberações:
A comissão de credores reúne sempre que for convocada, quer pelo respetivo presidente
quer por, pelo menos, dois dos seus membros. Por se tratar de um órgão colegial (composto por
uma pluralidade de membros), a comissão forma a sua vontade através de deliberações.

A comissão de credores não pode deliberar sem a presença da maioria dos seus
membros (quórum constitutivo); as deliberações são tomadas por maioria relativa de votos dos
membros presentes (quórum deliberativo).

Ao contrário do que acontece na assembleia de credores, o voto na comissão de


credores é um voto pessoal e não um voto capitalista. Assim, cada um dos membros da
comissão (em princípio, serão credores) tem direito a apenas um voto, independentemente do
valor do respetivo crédito (voto por cabeça). Em caso de empate, o presidente da comissão tem
voto de qualidade.

Bens impenhoráveis
Nos termos da Lei, há efetivamente, bens impenhoráveis, ou seja, bens que não podem
ser penhorados.

Há, portanto, na penhora, que distinguir entre bens penhoráveis e bens impenhoráveis.
10360 – Processo de Insolvência

Bens impenhoráveis em geral:


1) Bens imprescindíveis à economia doméstica:
São bens impenhoráveis, em todos os processos executivos (promovidos por credores
privados) ou processos de execução fiscal (promovidos pela Autoridade Tributária ou
Segurança Social) os bens que forem imprescindíveis a qualquer economia doméstica (recheio)
e que se encontrarem efetivamente na casa do executado como, por exemplo, mesas, cadeiras,
camas, cómodas, armários, fogão, frigorífico, etc... (Já houve decisões judiciais proferidas por
Tribunais Superiores que entenderam que a televisão e o computador não podiam ser
penhorados).

Porém, esta impenhorabilidade aplica-se apenas às pessoas singulares e não às


sociedades comerciais (empresas). Esta regra tem apenas uma exceção: pode haver lugar à
penhora destes bens se a ação executiva se destinar ao pagamento do preço da sua aquisição ou
reparação.

2) Saldo bancário correspondente ao valor do salário mínimo nacional:


Na penhora de contas bancárias é impenhorável o saldo bancário correspondente ao
valor do salário mínimo nacional (SMN 2023 = 760,00€). Deste modo, após a penhora, o
devedor terá que ficar com um saldo de conta bancária sempre equivalente a, pelo menos,
760,00€. A violação deste limite de valor impenhorável constitui fundamento para apresentação
de oposição à penhora.

3) Bens de reduzido valor económico:


São também bens impenhoráveis os bens de reduzido valor económico, o que abrange
uma boa parte dos bens que se encontrem em qualquer habitação, mesmo que não sejam
considerados indispensáveis ao agregado familiar.

4) Bens cujo valor não compense as despesas com a respetiva liquidação:


Devem também ser considerados bens impenhoráveis os bens com algum valor
económico, mas cujo valor não seja suficiente para cobrir todas as despesas necessárias à sua
liquidação (apreensão, depósito e venda executiva).

5) Bens imprescindíveis ao exercício da profissão ou atividade:


São impenhoráveis os bens que forem instrumentos de trabalho do devedor e os objetos
imprescindíveis ao exercício da sua profissão ou atividade, salvo algumas exceções. Esta
impenhorabilidade aplica-se apenas a pessoas singulares.
10360 – Processo de Insolvência

6) Bens em compropriedade; e bens em contitularidade ou comunhão de


bens (comunhão conjugal e comunhão hereditária):
Existe compropriedade quando a propriedade sobre um bem pretencer a mais do que
uma pessoa. Por sua vez, na contitularidade ou comunhão de bens, como a comunhão conjugal,
constituída pelos bens comuns do casal (no regime de comunhão de adquiridos e no regime de
comunhão geral), ou a comunhão hereditária, constituída pelos bens que integram a herança, o
direito dos contitulares incide não sobre cada um dos bens que integram a comunhão, mas sim
sobre a comunhão como um todo.

Nos termos da Lei, são impenhoráveis os concretos bens que estiverem em


compropriedade ou em comunhão, se a execução for movida apenas contra algum ou alguns dos
comproprietários ou contitulares de património autónomo ou bem indiviso.

Contudo, no caso de o bem estar em compropriedade, o que pode ser objeto de penhora
é o direito de compropriedade sobre o bem. Por sua vez, se os bens integrarem uma comunhão
de bens, como a comunhão hereditária (herança), o que pode ser objeto de penhora é o quinhão
hereditário, que é a fração ou quota da herança a que tem direito o herdeiro. Ver o nosso artigo:
penhora de quinhão hereditário. No caso da comunhão conjugal, admite-se, em certos termos, a
penhora de bens comuns do casal. Ver o nosso artigo: penhora de bens comuns do casal.

7) Bens do domínio público:


São ainda impenhoráveis, entre outros, os bens que forem do domínio público do
Estado, como por exemplo, ruas, monumentos, estátuas, etc...

Proteção da casa de morada de Família contra penhoras das


Finanças e da Segurança Social:
Após a alteração legislativa operada pela Lei n.º 13/2016, de 23 de Maio deixou de ser
possível à Autoridade Tributária e à Segurança Social proceder à venda executiva da habitação
própria e permanente do devedor e/ou do seu agregado familiar em sede de processo de
execução fiscal.

Ou seja, para efeitos de processo de execução fiscal a habitação própria e permanente


do contribuinte e/ou do seu agregado familiar continua a ser um bem penhorável; contudo, as
Finanças e a Segurança Social não podem, depois da penhora, prosseguir para a venda executiva
do imóvel com vista à cobrança coerciva dos respetivos créditos.
10360 – Processo de Insolvência

Pelo que, a habitação própria e permanente do executado e/ou do seu agregado familiar
continuará a ser sua propriedade; porém, o imóvel passará a ter um ónus, que é a penhora que
incide sobre o imóvel (estando sujeita a registo predial) e que se destina a assegurar:

 a ineficácia contra o credor exequente (Finanças ou Segurança Social) de


eventuais vendas ou doações do imóvel por parte do devedor proprietário a
terceiros após a penhora; e a,
 assegurar a preferência, prevalência ou prioridade no pagamento do crédito
exequendo face a quaisquer outros credores titulares de direitos reais de
garantia (por ex. emergentes de hipoteca) constituídos em data posterior à
penhora.

A impossibilidade de venda executiva da habitação própria do executado e/ou do seu


agregado familiar apenas se verifica em relação aos processos de execução fiscal. Pelo que, em
relação aos processos executivos instaurados por credores privados (por ex. bancos), a casa de
morada de Família continua a poder ser penhorada e vendida judicialmente:

 quer a venda seja destinada a pagar ao credor exequente (privado);


 quer a venda seja destinada a pagar às Finanças ou à Segurança Social por estas
terem vindo ao processo executivo reclamar créditos munidos com o respetivo
direito real de garantia emergente da penhora de habitação própria e permanente
(a penhora também é uma garantia real, ainda que de natureza processual) que
lhes permite obter a satisfação do seu crédito com prioridade face a todos os
credores cuja garantia real tenha sido constituída depois da penhora.

O que fazer? Como reagir:


Se forem apreendidos bens impenhoráveis pode ser apresentada oposição à penhora. Se
forem ilegais os fundamentos da execução pode ser apresentada oposição à execução mediante
embargos de executado.

» Legislação
Legislação mais importante no que concerne à apresentação à insolvência de pessoas
singulares e empresas:

1. Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE):


2. Decreto-Lei n.º 53/2004, de 18 de Março, alterado por:
 Decreto-Lei n.º 200/2004, de 18 de Agosto;
 Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março;
 Decreto-Lei n.º 282/2007, de 7 de Agosto;
10360 – Processo de Insolvência

 Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho;


 Decreto-Lei n.º 185/2009, de 12 de Agosto;
 Lei n.º 16/2012, de 20 de Abril – com entrada em vigor em 20 de Maio de
2012; A redação dada pela Lei n.º 16/2012, de 20 de Abril, trouxe algumas
alterações significativas ao CIRE. *
 - Lei n.º 66-B/2012, de 31 de Dezembro - com entrada em vigor em 1 de
Janeiro de 2013;
3. Resolução do Conselho de Ministros n.º 43/2011
4. Decreto-Lei n.º 178/2012, de 3 de Agosto - (Institui o SIREVE - Sistema de
Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial)
5. Regulamento (CE) n.º 1346/2000, do Conselho de 29 de Maio

» As novas regras da apresentação à insolvência *

A redação dada pela Lei n.º 16/2012, de 20 de Abril, trouxe algumas alterações
significativas ao Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE).

A primeira grande alteração consta no seu artigo 1º e respeita à finalidade do processo


de insolvência: até aqui a finalidade do processo de insolvência era liquidar o património do
devedor insolvente para, então, proceder à repartição do produto obtido pelos credores, ou o
pagamento destes através de um plano de insolvência. Agora, a finalidade primeira do processo
é a satisfação dos credores, como previsto num plano de insolvência (baseado, nomeadamente,
na recuperação da empresa compreendida na massa insolvente) e, apenas quando tal se mostre
impossível, a satisfação dos credores por via da liquidação do património do devedor insolvente.

O n.º 2 do artigo 1º é inteiramente novo e refere o novo Processo Especial de


Revitalização (PER) bem como, em termos gerais, a legitimidade e requisitos para que seja
requerido. O PER apresenta-se como sistema alternativo ao processo de insolvência, sendo
menos burocrático e tendo uma intervenção diminuta do Tribunal, e visa evitar que a empresa
tenha que se apresentar à insolvência e, em última instância, à liquidação. Este processo urgente
promove uma maior eficiência e celeridade do sistema judicial e dele podem lançar mão todos
os devedores que se encontrem em situação económica comprovadamente difícil ou em situação
de insolvência iminente, quando ainda seja suscetível de recuperação.

Em matéria de garantias, o artigo 17º-H, aditado pela lei citada supra, prevê que os
credores que proporcionem financiamento ao devedor durante o processo, gozam de especial
10360 – Processo de Insolvência

proteção no tocante às respetivas garantias e na graduação dos respetivos créditos (privilégio


creditório mobiliário geral, graduado com prioridade perante o privilégio creditório mobiliário
geral concedido aos trabalhadores).

No que respeita ao regime e à tramitação subjacente ao incidente de qualificação da


insolvência, a nova redação vem permitir atualmente que, não dispondo o juiz de elementos que
justifiquem a abertura do incidente de qualificação, não haja lugar à respetiva abertura. Verifica-
se, na prática, que não se justifica a imperiosa abertura do incidente quando a insolvência de um
agente é declarada, só se justificando quando existam indícios de culpa do agente na situação de
insolvência.

Ainda quanto à qualificação da insolvência, quando tanto o Administrador de


Insolvência como o Ministério Público propuseram a qualificação da insolvência como fortuita,
o novo CIRE deixa de prever a obrigatoriedade de o juiz proferir sentença no mesmo sentido.

Finalmente, quando a insolvência é qualificada como culposa, deve o juiz, na sentença,


condenar as pessoas afetadas a indemnizarem os credores do devedor insolvente no montante
dos créditos não satisfeitos, até às forças dos respetivos patrimónios, vindo efetivar a
responsabilidade civil de quem contribuiu para a insolvência.

Sendo o processo de insolvência de caráter urgente, foi também simplificado o


procedimento respeitante à venda antecipada de bens. De acordo com a nova redação do artigo
158º, n.º 2, o administrador da insolvência passa a poder promover a venda antecipada dos bens
da massa insolvente que não possam ou não se devam conservar por estarem sujeitos a
deterioração ou depreciação.

Quanto a atos que podem ser resolvidos em benefício da massa insolvente, apenas o
podem ser os praticados dentro dos dois anos que antecedem a data de início do processo de
insolvência, ao invés dos anteriores 4 anos. Além disso, o direito de impugnar a resolução passa
a caducar no prazo de três meses, tendo vigorado até aqui o prazo de 6 meses.

Nos casos de maior complexidade, passa ainda a ser possível o juiz nomear mais do que
um administrador de insolvência, a pedido de qualquer interessado.

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