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Direito da Insolvência – Teste

Direito da Insolvência

O Direito da Insolvência constitui um setor normativo-jurídico que disciplina as situações de pré-


insolvência e de insolvência, através de instrumentos recuperatórios de natureza extrajudicial,
mas também de “esquemas de preservação e de agressão patrimoniais, o reconhecimento e a
graduação das dívidas, a execução patrimonial e o pagamento aos credores, eventuais
esquemas de manutenção da capacidade produtiva do devedor, a própria situação do devedor
insolvente”.

A revisão do CIRE operada pela Lei nº16/2012 de 20 de abril, introduziu um novo processo
concursal, com uma feição própria, sendo esta o Processo Especial de Revitalização (PER).

3 órgãos da insolvência

- Administrador de insolvência

- Comissão de credores

- Assembleia de credores

5 características do processo de insolvência

- Processo concursal: todos os credores têm que concorrer ao processo (para todos os credores)

- Processo universal: tem de concorrer todo o património (apreensão de todo o património-


formando a massa insolvente)

- Processo de natureza mista: porque este é declarativo até à instância (declaração de


insolvência) e depois executivo porque há uma execução universal de todo o património
(apreensão + liquidação)

- Processo especial autónomo: disciplina substantiva e processual regulada em diploma


autónomo (CIRE)

- Feição multidisciplinar: na fronteira entre o direito civil, comercial, trabalho, penal, processual
civil, etc..

Processo de insolvência

O principal objetivo do processo de insolvência é a satisfação dos créditos dos credores, tal
como consta do art.1º, nº1. Outro dos objetivos é a liquidação do património do devedor e
consequente repartição do produto.

O processo de insolvência é um processo universal e concursal destinado a obter a liquidação,


respetivamente, de todo o património do devedor insolvente, por todos os seus credores.

▪ Processo concursal: uma vez que todos os credores são chamados a intervir no processo,
independentemente da natureza do seu crédito. É também porque está imbuído do princípio
da proporcionalidade das perdas dos credores, de forma a que, perante a insuficiência do
património do devedor, por todos sejam repartidas de modo proporcional as perdas.
▪ Processo universal: à partida, todos os bens do devedor podem ser apreendidos para futura
liquidação, desde que penhoráveis, ou, se não forem absolutamente impenhoráveis, desde
que tenham sido voluntariamente apresentados pelo devedor (art.46º CIRE).
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▪ Processo de natureza mista: inicialmente surge como processo declarativo (visa a apreciação
e declaração da situação de insolvência), para, depois da declaração de insolvência, surgir
com uma feição executiva (apreensão e liquidação do ativo para pagamento dos credores).
▪ Carácter urgente: gozando de precedência sobre o serviço ordinário do tribunal (art.9º, nº1
CIRE), e está sujeito ao princípio do inquisitório, podendo a decisão do juiz ser fundada em
factos que não tenham sido alegados pelas partes (art.11º CIRE).

Pressupostos da Declaração de Insolvência (art.2º)

- Pressuposto subjetivo: o nº1 refere quem pode ser objeto do processo de insolvência. O nº2
do mesmo artigo apresenta as respetivas exceções ao nº1.

- Pressuposto objetivo (quando é que alguém é considerado numa situação de insolvência): a


declaração de insolvência depende ainda da verificação de um pressuposto objetivo, sendo esta,
a insolvência do devedor (art.1º, nº1). De acordo com o art.3º, nº1, está em situação de
insolvência “(…) o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações
vencidas”. Para além disso, por força do art.3º, nº2 "as pessoas coletivas e os patrimónios
autónomos por cujas dívidas nenhuma pessoa singular responda pessoal e ilimitadamente, por
forma direta ou indireta, são também consideradas insolventes quando o seu passivo seja
manifestamente superior ao ativo, avaliados segundo as normas contabilísticas aplicáveis".

Considera-se que o devedor está em insolvência iminente (art.3º, nº4) quando existe a
probabilidade de o devedor não cumprir as presentes obrigações, no momento em que estas se
vencem. A insolvência térmica acontece quando o passivo é manifestamente superior ao ativo.
A insuficiência da massa insolvente dá-se quando o património do devedor não é suficiente
para ir até ao fim do processo de insolvência.

Os índices da situação de insolvência

O art.20º contém um elenco de factos indiciadores da situação de insolvência que legitimam o


requerimento da declaração de insolvência por quem for legalmente responsável pelas suas
dívidas, por qualquer credor (ainda que condicional) ou pelo Ministério Público (como
representante das entidades cujos interesses lhe estão legalmente confiados).

A Fase Declarativa do Processo de Insolvência

Aspetos gerais

O processo de insolvência é um processo especial, sujeito a uma tramitação com regras próprias,
definidas em detalhe no CIRE, e regido pelo Código de Processo Civil, como direito subsidiário
(art.17º, nº1).

Quanto à competência territorial, o pedido de declaração de insolvência deve ser apresentado


no tribunal da sede ou do domicílio do devedor ou do autor da herança à data da morte (art.7º,
nº1), podendo também ser apresentado no tribunal do lugar em que o devedor tenha o centro
dos seus principais interesses (isto é, o lugar onde ele os administra de forma habitual e
cognoscível por terceiros) (art.7º, nº2).

Quanto à competência em razão da estrutura do tribunal, é exclusivamente competente (para


a instrução e decisão, quer de todos os termos do processo de insolvência, quer de todos os
seus incidentes e apensos) o juiz singular, qualquer que seja o valor da causa (art.7º, nº3).
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Quanto à competência em razão da matéria, por força do art.128°, nº1, a) LOSJ, compete aos
juízos de comércio preparar e julgar os processos de insolvência e os processos especiais de
revitalização, independentemente da natureza jurídica do devedor (pessoa singular, pessoa
coletiva ou património autónomo; comerciante ou não; titular de uma empresa ou não).

O processo de insolvência (incluindo todos os seus incidentes, apensos e recursos) tem caráter
urgente, gozando de precedência sobre o serviço ordinário do tribunal (art.9º, nº1). Os atos
inseridos na tramitação dos processos qualificados como urgentes, cujos prazos terminem em
férias judiciais, são praticados no dia do termo do prazo, não se transferindo a sua prática para
o primeiro dia útil subsequente ao termo das férias judiciais.

Legitimidade ativa

▪ O devedor

O processo de insolvência pode, desde logo, ser desencadeado pelo próprio devedor, o qual tem
sempre o direito de se apresentar à insolvência. Se o devedor não for uma pessoa singular capaz,
a legitimidade para apresentar o pedido de declaração de insolvência cabe ao órgão social
incumbido da sua administração ou a qualquer dos seus administradores (art.19º). Para efeitos
do CIRE, se o devedor não for uma pessoa singular, os administradores são aqueles a quem
incumba a administração ou liquidação da entidade ou património em causa, designadamente
os titulares do órgão social que para o efeito for competente (art.6º, nº1, a)); se o devedor for
uma pessoa singular, serão os seus representantes legais e mandatários com poderes gerais de
administração (art.6º, nº1, b)).

Porém, em certos casos, sobre o devedor recai mesmo a obrigação de se apresentar à


insolvência. O art.18º, º1, prevê como regra a obrigatoriedade de o devedor se apresentar à
insolvência dentro do prazo de 30 dias a contar da data do conhecimento da situação de
insolvência ou da data em que deveria conhecê-la. Se o devedor é titular de uma empresa, a lei
presume inilidivelmente o conhecimento da situação de insolvência, quando forem decorridos
pelo menos três meses a contar do incumprimento generalizado de alguma das obrigações
referidas na g) do nº1 do art.20º.

Por outro lado, o nº2 do art.18º prevê duas exceções ao dever de apresentação. Desde logo, a
sua alínea a excetua do dever de apresentação a insolvência "as empresas que se tenham
apresentado a processo especial de revitalização durante o período de suspensão das medidas
de execução previsto nos nº1 e 2 do art.17º-E. Depois, a b) excetua da obrigatoriedade de
apresentação à insolvência todos os devedores pessoas singulares que não sejam titulares de
uma empresa na data em que incorrem em situação de insolvência.

A violação do dever de apresentação à insolvência importa as seguintes consequências:

- Presunção de culpa grave no âmbito do incidente de qualificação da insolvência (art.186º, nº3,


a), e nº4);

- Eventual preclusão da possibilidade de concessão da exoneração do passivo restante (art.238º,


nº1, d));

- Relevante ainda para efeitos de responsabilidade penal;

▪ Os responsáveis legais, os credores e o Ministério Público


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Por força do art.20º, nº1, têm legitimidade ativa para desencadear a ação de insolvência o
responsável legal pelas dívidas do insolvente, qualquer credor, e também o Ministério Público,
desde que se preencha algum dos factos elencados nas suas várias alíneas. Assim, podemos
afirmar que a legitimidade ativa de quem não seja devedor depende do preenchimento de dois
requisitos em simultâneo: um requisito de natureza subjetiva e um requisito de natureza
objetiva.

▪ O administrador judicial provisório

Segundo o art.17º-G, nº3, se o processo especial de revitalização encerrar sem aprovação de


acordo (ou sem homologação de plano aprovado – art.17º-F, n.°9), o administrador judicial
provisório, após ouvir a empresa e os credores, emite parecer sobre se a empresa se encontra
em situação de insolvência. Se parecer for no sentido da insolvência da empresa e se esta não
se opuser ao mesmo, a insolvência da empresa deve ser declarada no prazo de três dias úteis,
sendo o processo especial de revitalização apenso ao processo de insolvência (art.17º-G, nº7).

Petição inicial

Nos termos do art.23º, a apresentação à insolvência pelo devedor ou o pedido de declaração de


insolvência através de outros legitimados fazem-se através de petição escrita, na qual se
apresentam os factos respeitantes aos pressupostos da declaração de insolvência e se formula
o respetivo pedido.

De realçar que o devedor não pode desistir do pedido ou da instância e que os outros
legitimados poderão fazê-lo até ao momento da prolação da sentença (declarativa de
insolvência ou de indeferimento da mesma) (art.21º).

A petição deve conter as seguintes referências obrigatórias:

- Identificação dos administradores do devedor, de direito ou de factos e dos seus cinco maiores
credores (excluindo-se o credor requerente) (art.6º, nº1 e nº2, a));

- Identificação do cônjuge do devedor e respetivo regime de bens do casamento (nº2, c));

- Junção de certidão do registo civil, do registo comercial ou de outro registo público a que o
devedor se encontre sujeito (nº2, d)).

A petição deverá ser oferecida em duplicado, em número que permita o depósito de um


exemplar para efeitos de arquivo do tribunal, e a sua entrega aos cinco maiores credores
conhecidos, e, se for caso disso, à comissão de trabalhadores e ao devedor (art.26º, nº1).

Os documentos juntos a petição, deverão ser acompanhados de duas cópias: uma destinada ao
arquivo do tribunal, e outra destinada à secretaria do tribunal para efeitos de consulta dos
interessados (art.26º, nº2).

Requisitos

- Pedido apresentado pelo devedor: caso o pedido de declaração de insolvência tenha sido
apresentado pelo devedor, deve conter os factos elencados no art.24º, com especial enfase nas
alíenas c), f) e j) pois o administrador de insolvência vai ter de se manifestar sobre estes.

- Pedido apresentado por outros legitimados: quando o pedido de declaração de insolvência


tenha sido apresentado por algum credor, o requerente deverá justificar na petição a origem, a
natureza e o montante do seu crédito e oferecer os elementos respeitantes ao ativo e ao passivo
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do devedor que possua (art.25º, nº1). Caso o pedido tenha sido apresentado por algum
responsável legal, o requerente deverá na petição justificar a sua responsabilidade pelos
créditos sobre a insolvência e oferecer os elementos respeitantes ao ativo e ao passivo do
devedor que possua (art.25º, nº1). Qualquer requerente para além do devedor deverá ainda
oferecer com a petição todos os meios de prova de que disponha, devendo inclusivamente
juntar o rol de testemunhas, o qual não poderá, todavia, exceder os limites previstos no art.511º
CPC (art.25º, nº2).

Apreciação liminar do pedido de declaração de insolvência

No próprio dia da distribuição ou, não sendo tal viável, até ao 3° dia útil subsequente, deve o
juiz proferir despacho liminar, o qual pode assumir um dos seguintes conteúdos: despacho de
indeferimento liminar, despacho de correção, declaração imediata de insolvência ou despacho
de citação.

▪ Indeferimento liminar do pedido: no próprio dia da distribuição, ou, não sendo tal possível,
até ao terceiro dia útil subsequente, o juiz indefere liminarmente o pedido, com os seguintes
fundamentos (art.27º, nº1, a))

- manifesta improcedência do pedido de declaração de insolvência;

OU

- evidência de exceções dilatórias insupríveis de que deva conhecer oficiosamente;

Se o pedido de insolvência tiver sido apresentado pelo devedor, deve o despacho de


indeferimento, que não se fundamente total ou parcialmente na falta de junção dos
documentos devidos por força do art.24º, nº2, a), ser objeto de publicação no Portal Citius, no
prazo previsto no art.38º, nº8, contendo as referências indicadas no art.37º, nº8.

▪ Despacho de correção de vícios: no próprio dia da distribuição, ou, não sendo tal possível,
até ao terceiro dia útil subsequente, o juiz, caso não haja motivo para indeferimento liminar,
e caso encontre vícios sanáveis na petição (Ex:. falta dos documentos que devem instruir a
petição), convida o requerente a, no prazo máximo de 5 dias, corrigir esses vícios, sob pena
de indeferimento liminar da petição (art.27º, nº1, b)).
▪ Declaração imediata de insolvência: caso o pedido de declaração de insolvência tenha sido
apresentado pelo próprio devedor, a lei considera existir um reconhecimento da situação de
insolvência, que importa a sua declaração imediata até ao terceiro dia útil seguinte ao da
distribuição da petição ou, caso existam vícios corrigíveis, ao da sua correção (art.28º). Com
esta solução, pretendeu o legislador conferir celeridade ao processo de insolvência. Repare-
se que, nesta hipótese, é declarada a insolvência sem que tenham intervindo e sem que
tenham sido ouvidos no processo outros sujeitos para além do próprio devedor e o tribunal
(como, por exemplo, os credores, o Ministério Público). Nesse caso, o processo de insolvência
será, nesta fase inicial, um processo sem partes.

Despacho de citação

Caso o pedido de declaração de insolvência não tenha sido apresentado pelo devedor, e caso
não exista motivo para indeferimento liminar, sem prejuízo do disposto no art.31º, nº3, o juiz
manda citar pessoalmente o devedor (art.29º, nº1) até ao terceiro dia útil seguinte à data da
distribuição ou, havendo vícios corrigíveis, até ao terceiro dia útil seguinte à data do respetivo
suprimento (art.28º ex vi art.29º, nº1).
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Com o despacho de citação, pode o juiz ordenar, oficiosamente ou a pedido do requerente, com
fundamento no justificado receio da prática de atos de má gestão, as medidas cautelares que
se mostrem necessárias ou convenientes para impedir o agravamento da situação patrimonial
do devedor, até ao momento da prolação da sentença (art.31º, nº1). As medidas cautelares
podem ser ordenadas previamente ao despacho de citação, desde que tal antecipação seja
considera indispensável para não perigar o efeito útil do processo de insolvência e a citação não
seja adiada mais de 10 dias (art.31º, nº3).

As medidas cautelares contempladas na lei não têm caráter exaustivo. A título de exemplo, o
legislador prevê a nomeação de um administrador judicial provisório com poderes exclusivos
para a administração do património do devedor ou para assistir o devedor nessa administração
(art.31º, nº2). O administrador judicial provisório deve desempenhar as suas funções até à
prolação da sentença, podendo, no entanto, por um lado, ser substituído ou removido em
momento anterior, ou, por outro lado, ser reconduzido, na sentença, como administrador da
insolvência (art.32º, nº2).

Finalmente, o art.34º, através de remissão expressa para outros preceitos do Código, regula a
publicidade e o registo da nomeação do administrador judicial provisório e dos poderes que lhe
são atribuídos, assim como a fiscalização do exercício do cargo e responsabilidade em que possa
incorrer, bem como a eficácia dos atos jurídicos celebrados sem a sua intervenção, quando
exigível.

Oposição do devedor

O devedor tem um prazo de 10 dias, a contar do momento em que se considera citado, para
deduzir oposição (art.30º, nº1). O devedor deve juntar, sob pena de inadmissibilidade da
oposição, lista dos seus cinco maiores credores para além do credor requerente, indicando o
respetivo domicílio (art.30º, nº2). Depois, na oposição, deve o devedor oferecer todos os meios
de prova de que disponha, nos termos do art.25º, nº2, ex vi art.30º, nº1.

Relativamente ao conteúdo da oposição, o devedor pode opor-se ao pedido de declaração de


insolvência, com fundamento na inexistência do facto em que o requerente baseou o seu pedido
ou com base na inexistência da situação de insolvência, não obstante a verificação do facto
índice, assim ilidindo a presunção legal que lhe corresponde (art.30º, nº3). De qualquer modo,
é sobre o devedor que recai o ónus de provar a sua solvência, devendo para tal basear-se na
escrituração legalmente obrigatória para o seu caso, devidamente organizada e arrumada,
ressalvado o disposto no art.3º, nº3 (art.30º, nº4).

Caso o devedor não deduza qualquer oposição, tendo sido citado para o efeito ainda que
editalmente e se encontre, simultaneamente, numa situação de revelia absoluta (art.40º, nº1,
a)), consideram-se confessados os factos alegados na petição inicial, sendo a declaração de
insolvência declarada automaticamente, no dia útil seguinte ao termo do prazo de oposição,
desde que os factos constantes da petição inicial preencham alguma das hipóteses em que a
insolvência pode ser requerida por pessoa distinta do devedor.

Audiência de discussão e julgamento

Se o devedor tiver deduzido oposição, ou se a sua audiência tiver sido dispensada (art.35º, nº5),
o juiz deve marcar a data da audiência de discussão e julgamento para um dos cinco dias
posteriores, devendo ser notificados o requerente, o devedor e todos os administradores de
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direito ou de facto identificados na petição inicial para que compareçam pessoalmente ou se


façam representar por intermédio de mandatário com poderes especiais para transigir.

Se a audiência do devedor não tiver sido dispensada nos termos do art.12º, a não comparência
do devedor, pessoalmente ou por intermédio do mandatário referido, equivale à confissão dos
factos alegados na petição inicial (art.35º, nº2). Se os factos alegados pelo requerente na petição
inicial estiverem compreendidos em alguma das alíneas art.20º, nº1, o juiz deve ditar logo para
a ata sentença de declaração de insolvência (art.35º, nº4).

A não comparência do requerente ou do seu mandatário com poderes especiais para transigir,
vale como desistência do pedido (art.31º, nº3), devendo, neste caso, o juiz ditar logo para a ata
a sentença homologatória da desistência do pedido (art.35º, nº4).

Se comparecerem ambas as partes ou, na hipótese de dispensa de audiência do devedor, se só


comparecer o requerente (ou um seu mandatário com poderes especiais), o juiz profere
despacho destinado a identificar o objeto do litígio e a enunciar os temas da prova (art.35º, nº5),
decidindo de imediato qualquer reclamação que seja apresentada, para que se produza, de
seguida, a prova (art.35º, nº6). Depois de produzida a prova, serão feitas as alegações orais,
após o que o tribunal profere a sentença final (art.35º, nº7). Porém, se tal não for possível, o
tribunal deve proferir a sentença final no prazo máximo de 5 dias (art.35º, nº8).

Sentença de declaração de insolvência

Na sentença que declare a insolvência - seja na sequência do art.28º (apresentação do devedor


à insolvência), seja na sequência do art.30º, nº5 (falta de oposição do devedor após a sua
citação), seja no âmbito do art.85º, nº4 (falta de comparência do devedor à audiência), seja no
âmbito do art.35º, nº7 e 8 (na sequência da audiência de julgamento), ou seja, ainda, na
sequência de PER ou PEAP (art.17º-G, nº7, e 222º-G, nº7), o juiz, por força do art.36º, nº1,
preenche esses mesmo requisitos.

Casos especiais

- A insuficiência da massa insolvente

Se, no momento da prolação da sentença declarativa de insolvência, o juiz constata que o


património do devedor não é previsivelmente suficiente para a satisfação das custas do processo
e das dívidas previsíveis da massa insolvente e não existir qualquer garantia dessa satisfação,
profere sentença declarativa da insolvência apenas com as referências constantes do art.36º,
nº1, a) a d) e h) desde que, antes da prolação da sentença, não tenha sido requerida a
exoneração do passivo restante (art.39º, nº8). Se dispuser de elementos suficientes que
justifiquem a abertura do incidente de qualificação, o mesmo terá caráter limitado (art.39º, nº1
e art.36º, nº1, i).

Julgado procedente o requerimento (depois de preenchidos os nº2 e 3), o juiz deve


complementar a sentença com as referências inicialmente omissas e impostas pelo art.36º, nº1,
deve notificar-se, publicitar-se e registar-se a sentença nos termos dos art.37º e 38º, e o
incidente de qualificação passa a prosseguir os seus termos como incidente pleno, sempre que
ao mesmo haja lugar (art.39º, nº4).

Notificação e citação
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São notificados da sentença declaratória da insolvência os seguintes sujeitos: o devedor, os


administradores do devedor a quem tenha sido fixada residência, o requerente da declaração
de insolvência, o Ministério Público e a comissão de trabalhadores.

Os administradores do devedor a quem tenha sido fixada residência são notificados


pessoalmente, de acordo com as regras gerais do CPC para a citação, devendo a notificação ser
acompanhada de cópias da petição inicial (art.37º, nº1).

O devedor é notificado nos termos gerais das notificações em processos pendentes se já tiver
sido citado pessoalmente para o processo. Caso contrário, será notificado pessoalmente, nos
termos previstos na lei processual para a citação, sendo-lhe igualmente enviadas cópias da
petição inicial (art.37º, nº2).

A sentença é ainda notificada ao requerente da declaração de insolvência, ao Ministério Público,


ao Instituto de Segurança Social e, caso o devedor seja titular de uma empresa, também à
comissão de trabalhadores (art.37º, nº2).

Os cinco maiores credores conhecidos, para além do requerente, que tenham residência
habitual, sede ou domicílio em Portugal são citados nos termos das regras gerais do CPC
previstas para a citação pessoal, devendo receber cópia da petição inicial (art.37º, nº1 e 3). Se
tiverem residência habitual, domicílio ou sede fora de Portugal serão citados por carta registada
(art.37º, nº3). Porém, os credores conhecidos que tenham residência habitual, domicílio ou sede
em outro Estado-Membro da União Europeia são citados por carta registada.

Os restantes credores e os demais interessados serão citados por edital, com prazo de dilação
de cinco dias, afixado na sede ou na residência do devedor, nos seus estabelecimentos e
também no tribunal, e por anúncio publicado no portal Citius (art.37º, nº7). O conteúdo dos
anúncios e editais deve respeitar o disposto no art.37º, nº8.

Registo

A sentença de declaração de insolvência, assim como a nomeação do administrador da


insolvência, devem ser objeto de registo, oficiosamente, com base na respetiva certidão, para o
efeito remetida pela secretaria (art.38º, nº2).

Por força do art.38º, nº3, deve a declaração de insolvência ser ainda inscrita no registo predial,
comercial e automóvel relativamente aos bens ou direitos que integrem a massa insolvente,
com base em certidão judicial da declaração de insolvência transitada em julgado, se o serviço
de registo não conseguir aceder à informação necessária por meios eletrónicos, e em declaração
do administrador da insolvência que identifique os bens

Meios de reação

São dois os meios possíveis de impugnação da sentença declaratória de insolvência, os quais


podem funcionar cumulativa ou alternativamente: a oposição de embargos e o recurso.

▪ Oposição de embargos (só acontece quando não há oposição já deduzida)

Legitimidade ativa

Podem opor embargos à sentença, os sujeitos previstos nos termos do art.40º.

Processamento
Direito da Insolvência – Teste

Os embargos devem ser apresentados dentro de um prazo de 5 dias a contar da data da


notificação da sentença ao embargante ou, havendo dilação, a contar do termo do prazo
dilatório respetivo (art.40º, nº2).

Os embargos têm como finalidade o afastamento dos fundamentos da declaração de


insolvência (a lei não permite a dedução de embargos à sentença que indefira o pedido de
declaração de insolvência - art.45º), mediante a alegação de factos ou o requerimento de
meios de prova que não tenham sido tidos em conta pelo tribunal (art.40º, nº2) e suspendem
a liquidação bem como a partilha do ativo, salvo o disposto no art.158º, nº2, o qual regula a
venda imediata de bens depreciáveis ou deterioráveis (art.40º, nº3).

A petição de embargos é autuada por apenso, de imediato, e conclusa ao juiz, para que este
profira despacho liminar, no dia seguinte ao termo do prazo para a apresentação dos
embargos (art.41º, nº1).

Se não existir motivo para indeferir liminarmente a petição, o juiz ordena a notificação do
administrador da insolvência, bem como da parte contrária, para que, no prazo de cinco dias,
apresentem a sua contestação. Após a contestação e dentro dos cinco dias posteriores a
produção das provas antecipadas (momento que não deverá durar mais de(10 dias) tem lugar
a audiência de julgamento, à qual se aplica o disposto nos art.41º, nº1 e 35º, nº5 a 8 (art.41,
nº4).

▪ Recurso

Por força do art.42º, nº1 tem legitimidade ativa para a interposição de recurso de sentença
declarativa de insolvência quem tem legitimidade para deduzir embargos. Por isso, estes entes
têm legitimidade para, cumulativa ou alternativamente, lançar mão destes dois meios de
impugnação da sentença.

A lei prevê apenas uma exceção a este princípio fundamental de equivalência:

- Mesmo que o devedor declarado insolvente não tenha legitimidade para deduzir embargos,
é-lhe sempre facultada a possibilidade de interpor recurso da decisão declaratória de
insolvência (art.42º, nº2).

A interposição de recurso só pode ter como fundamento a alegação de que, perante os factos
apurados, não deveria ter sido proferida a sentença (art.42º, nº1).

O recurso da sentença declaratória de insolvência suspende a liquidação e a partilha do ativo,


ressalvado sempre o disposto no art.158º, nº2, ou seja, a venda imediata de bens da massa
insolvente sujeitos a deterioração ou depreciação (art.40º, nº3, ex vi art.42º, nº3).

Sentença de indeferimento do pedido de declaração de insolvência

Notificação, publicação e registo

A sentença de indeferimento do pedido de declaração de insolvência deve ser notificada


apenas ao requerente e ao devedor (art.44º, nº1), não sendo objeto de qualquer publicidade
ou registo. No entanto, se tiver sido nomeado um administrador judicial provisório, a sentença
será objeto de publicação e registo nos termos dos art.37º e 38º, aplicados com as necessárias
adaptações (art.44º, nº2). Com isto pretende-se salvaguardar a reputação, eventualmente
comercial, daquele contra quem foi indevidamente proposto um processo de insolvência.

Impugnação
Direito da Insolvência – Teste

A sentença de indeferimento do pedido de declaração de insolvência apenas pode ser


impugnada por via de recurso (estão excluídos, por isso, os embargos) e apenas pelo próprio
requerente (art.45º). A lei não prevê qualquer disciplina especial para o recurso da sentença
de indeferimento, parecendo, por isso, de aplicar, ressalvadas as devidas adaptações, o regime
do recurso da sentença declarativa da insolvência. Assim, e aplicável o regime do recurso de
apelação (art.644º CPC) em tudo o que não contrarie o disposto no art.14º CIRE.

Responsabilidade por pedido infundado

O art.22º regula as consequências da dedução de pedido infundado de insolvência: "a dedução


de pedido infundado de declaração de insolvência, ou a indevida apresentação por parte do
devedor, gera responsabilidade civil pelos prejuízos causados ao devedor ou aos credores, mas
apenas em caso de dolo".

De acordo com este preceito, serão responsabilizados o devedor, pelos danos que cause aos
credores, bem como o requerente da insolvência, pelos danos que cause aos credores e ao
devedor.

Em segundo lugar, é necessário que esses danos resultem de requerimento infundado.

Em terceiro lugar, a letra da lei exige uma atuação com dolo. Porém, alguma doutrina vai mais
longe e, com base no princípio culpa lata dolo aequiparaturi, defende a sua aplicação, pelo
menos, à negligência grosseira.
Direito da Insolvência – Teste

Questão 1. [1 valor]

Se ao devedor estiver vedada a oposição de embargos, o mesmo já não pode interpor recurso
da sentença declaratória da insolvência:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 2. [1 valor]

Compete sempre ao juiz singular a instrução e decisão de todos os termos do processo de


insolvência:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 3. [1 valor]

O Administrador da Insolvência não pode em nenhum caso substabelecer as suas funções:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 4. [1 valor]

É possível ser declarada uma insolvência à revelia do devedor:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 5. [1 valor]

Desde que fundamente, o juiz pode não designar na sentença de insolvência uma data para a
realização da assembleia de credores de apreciação do relatório:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 6. [1 valor]

As pessoas coletivas e as pessoas singulares têm o dever de requerer a declaração de


insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento da sua situação de
insolvência:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 7. [1 valor]

Nos embargos o insolvente pode apresentar outros factos ou indicar outros meios de prova
que não tenham constado da sua oposição à insolvência:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE


Direito da Insolvência – Teste

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 8. [1 valor]

O devedor pode basear a sua oposição, não negando o facto que fundamenta o pedido, mas
apenas na inexistência da sua situação de insolvência:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo ________________________________________ do CIRE

Questão 9. [1 valor]

No processo de insolvência o juiz não pode livremente averiguar os factos alegados pelas
partes:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 10. [1 valor]

O requerente da declaração de insolvência pode desistir do pedido ou da instância até à data


da realização da primeira Assembleia de Credores:

a) Verdadeiro – artigo ____________________________________ do CIRE

b) Falso – artigo _________________________________________ do CIRE

Questão 11. [6 valores]

Apresente a definição de processo de insolvência e desenvolva sobre as suas cinco principais


características.

Questão 12. [4 valores]

Identifique o pressuposto objetivo de que depende a declaração de insolvência e desenvolva


sobre os três conceitos de insolvência.

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